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21 DE NOVEMBRO DE 2016

080ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO AOS 50 ANOS DA ECA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

 

Presidente: ROBERTO MASSAFERA

 

RESUMO

 

1 - ROBERTO MASSAFERA

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia a composição da Mesa, e demais autoridades presentes. Informa que a Presidência Efetiva convocara a presente sessão solene, a pedido do deputado Roberto Massafera, ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de "Comemorar os 50 anos da Eca - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo". Convida os presentes a ouvirem, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Lê breve histórico do Coro de Câmara Comunicantus. Anuncia a apresentação musical do coral, sob a regência do professor doutor Marco Antônio da Silva Ramos e exibe um vídeo institucional da ECA-USP.

 

2 - ETHEVALDO SIQUEIRA

Escritor e jornalista, comentarista da rádio CBN, representando os ex-alunos da área de Comunicação da ECA-USP, saúda o deputado Roberto Massafera e as autoridades presentes. Discorre sobre os objetivos da escola na sua fundação, em 1966. Cita o desafio de profissionalizar e criar visões acadêmicas para as diversas áreas estudadas na ECA. Ressalta que sua fundação ocorreu durante o Regime Militar e houve grande resistência ao mesmo. Lembra os grandes períodos sem aulas, em razão da ocupação de faculdades e a promulgação do Ato Institucional nº 5. Recorda seus primeiros trabalhos, a entrada na universidade e o início das atividades no jornal "O Estado de S. Paulo", onde trabalhou durante 45 anos. Demonstra sua gratidão ao corpo docente da ECA. Cita professores da universidade que considera exemplos de pessoas. Ressalta o seu convívio com parte das personalidades mais importantes do País. Diz ter sido testemunha de grandes acontecimentos, ocorridos em função das oportunidades oferecidas pela escola. Discorre sobre a importância da ECA.

 

3 - DOMINGOS TADEU CHIARELLI

Diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, representando os ex-alunos da área de Artes da ECA-USP, agradece o convite para participar desta homenagem. Informa ser professor do Departamento de Artes Plásticas. Discorre sobre o projeto educacional para o estado de São Paulo, discutido no final do século XIX, que incluía a criação do Instituto de Artes. Informa que o mesmo não foi prioritário e que esperou quase um século para ser criada, no final da década de 60, com o nome de Escola de Comunicações e Artes, na USP. Comenta a respeito das dificuldades para o departamento impor-se dentro da USP. Ressalta que a ECA contribuiu para a arte e a cultura do Brasil e que formou grande parte dos profissionais mais representativos do País. Destaca a sólida formação oferecida pela universidade. Lamenta que a ECA corre o risco de deixar de existir, em razão da falta de investimento e da não renovação do quadro docente. Pede auxílio aos deputados.

 

4 - MARGARIDA MARIA KROHLING KUNSCH

Diretora da Escola de Comunicações e Artes da USP, agradece a homenagem do deputado Roberto Massafera. Cumprimenta as autoridades presentes. Lembra que a ECA foi palco de resistência contra o Regime Militar e o Ato Institucional nº 5, estabilizando somente no final dos anos 70. Discorre sobre todas as áreas abrangidas pela escola. Diz ser a mesma pioneira na Comunicação, Turismo e Artes no Brasil. Cita o número de alunos inscritos na graduação e na pós-graduação. Ressalta o contingente expressivo de docentes, estudantes, profissionais, artistas entre outros, ocupando significativas posições na sociedade. Lembra personalidades formadas pela universidade, como jornalistas, atores, editores que colaboram com periódicos de grande circulação nacional e internacional, e produtores de filmes e produções teatrais. Informa que a ECA tornou-se uma escola internacional, celebrando diversos convênios com universidades do mundo. Destaca a importância da pesquisa na escola. Menciona que a universidade possui diversos projetos voltados para a área de cultura, para todas as idades, e com caráter social. Anuncia homenagem, com entrega de placa, aos Srs. Ethevaldo Siqueira e Domingos Tadeu Chiarelli, que considerou um grande orgulho para a escola ter participado da formação acadêmica destes profissionais. Diz estarem os mesmos representando muito bem os ex-alunos da escola.

 

5 - ANTONIO CARLOS HERNANDES

Pró-reitor de graduação da Universidade de São Paulo, cumprimenta as autoridades presentes. Destaca o importante papel exercido pelo deputado Roberto Massafera na cidade de São Carlos e no campus da universidade. Agradece o convite, em nome do reitor da USP, para participar desta sessão solene. Afirma que a ECA tem cumprido o seu papel fundamental, estabelecido no decreto de formação da mesma, que busca formar pessoas para atender de forma profissional a população paulista. Destaca o investimento do estado de São Paulo na Educação. Discorre sobre as dificuldades enfrentadas pelo País e pelas universidades e a necessidade de reposição de professores. Diz ser a universidade atuante em todas as suas frentes, com um ensino diferenciado, de qualidade e com o objetivo de formar líderes para desenvolver o Estado. Agradece e parabeniza o deputado Roberto Massafera.

 

6 - PRESIDENTE ROBERTO MASSAFERA

Menciona a criação da ECA em 1966, durante o período da Ditadura Militar, sofrendo com o Ato Institucional nº 5 e a reforma universitária de 1969. Diz ser engenheiro civil, formado em 1967 em São Carlos. Discorre sobre sua atuação na política universitária e sua prisão em um congresso de estudantes. Cita sua proposta de incluir, no currículo da faculdade matérias optativas relacionadas à Cultura, entre elas música. Menciona sua atuação na Secretaria de Ciência e Tecnologia no governo Orestes Quércia. Sugere alteração no nome da ECA, que a seu ver deveria chamar-se Escola da Arte da Comunicação. Destaca a importância da universidade na nossa sociedade, em São Paulo e no País. Ressalta que a ECA deveria assumir o papel de divulgação da produção tecnológica da universidade. Comenta sobre o desenvolvimento da pílula do câncer. Informa que o Instituto do Câncer fará diversas pesquisas para avaliar o uso desta pílula pelos doentes. Diz acreditar que algum pesquisador da USP pode ganhar um prêmio Nobel. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Roberto Massafera.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MASSAFERA - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Bom dia a todos. Iniciamos esta sessão solene com a finalidade de comemorar os 50 anos da ECA - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Convido para fazer parte da Mesa o professor Dr. Antonio Carlos Hernandes, pró-reitor de graduação da USP, representando o professor Dr. Marco Antonio Zago, reitor da Universidade de São Paulo; a professora Dra. Margarida Kunsch, diretora da Escola de Comunicações e Artes da USP; o professor Dr. Eduardo Henrique Monteiro, vice-diretor da Escola de Comunicações e Artes da USP.

Quero anunciar também a presença de todos os alunos, ex-alunos, professores e funcionários da USP, em especial da Escola de Comunicação e Artes. Também a presença do escritor, jornalista e comentarista da Rádio CBN, nosso amigo Ethevaldo Siqueira, ex-aluno da área de Comunicação da ECA - USP; e o professor Dr. Domingos Tadeu Chiarelli, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, ex-aluno da área de Artes da ECA-USP.

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa, deputado Fernando Capez, atendendo a solicitação desse deputado com a finalidade de comemorar os 50 anos da ECA - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Convido todos os presentes para, em posição de respeito, cantarmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MASSAFERA - PSDB - Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web e será transmitida pela TV Assembleia nesse sábado, dia 26 de novembro, às 21 horas pela NET - canal 7; Vivo - canal 9 e pela TV Digital - canal 61.2.

Neste momento, assistiremos à apresentação musical do Coro de Câmara Comunicantus, do Departamento de Música da ECA-USP, sob a regência do professor doutor Marco Antônio da Silva Ramos. O Coro de Câmara Comunicantus, fundado em 2013, do Departamento de Música da ECA-USP, é formado por alunos dos cursos de música e por estudantes de outras unidades de ensino da USP com formação musical e experiência no coral. Todos são bolsistas do Programa Unificado de Bolsas da USP. Seu principal objetivo artístico é divulgar o repertório da música brasileira para coro de câmara, além do trabalho pedagógico e de pesquisa.

Tem sido regido por maestros internacionais, convidados ao menos uma vez por ano, já tendo recebido dois maestros do Reino Unido, Hungria, Alemanha e Holanda. Seu regente titular é o professor Dr. Marco Antonio da Silva Ramos, professor titular de Regência Coral do Departamento de Música da ECA-USP. Tem larga experiência internacional como maestro, professor e pesquisador.

Nesta sessão solene o grupo apresenta o seguinte repertório: “Pai Tietê”, “Vamos a Loanda” e “No Cordão da Saideira”.

 

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- É realizada a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MASSAFERA - PSDB - Agradecemos ao professor Dr. Marco Antonio da Silva Ramos e ao Coro de Câmara Comunicantus por sua apresentação. Parabéns e muito obrigado.

Neste momento, ofereço a palavra aos deputados estaduais presentes. Quem quiser fazer uso da palavra está convidado. Ninguém quer falar.

Assistiremos agora ao vídeo institucional da ECA-USP, com duração de três minutos.

 

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- É exibido o vídeo institucional.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MASSAFERA - PSDB - Com a palavra, o Sr. Ethevaldo Siqueira, escritor e jornalista, comentarista da Rádio CBN, representando os ex-alunos da área de Comunicação da ECA-USP.

 

O SR. ETHEVALDO SIQUEIRA - Excelentíssimo Sr. Deputado Roberto Massafera, pelo qual saúdo toda a Mesa. Gostaria de dizer que este é um momento de grande alegria e felicidade para mim, por estar homenageando a escola que me deu o curso de Jornalismo, a Escola de Comunicações e Artes, que marcou minha vida em vários aspectos. A segunda honra que tenho é de falar em nome dos ex-alunos. Posso dizer que a escola que nasceu em 1966 tinha propostas muito além de todas as nossas expectativas.

Era muito difícil, no âmbito universitário, entender uma escola que tinha tantas áreas a serem cobertas, como Jornalismo, Cinema, Teatro, Televisão, Relações Públicas, que encarnou essa visão de profissionalizar e criar uma visão acadêmica em todas essas áreas sem que houvesse uma experiência anterior. Esse aspecto globalizante da cultura e das artes era, para nós, um desafio. Além disso, vivemos uma época que foi muito difícil, estávamos em pleno regime militar. A única coisa unânime entre nós era a resistência democrática contra aquele regime.

Isso levou ao fenômeno não só brasileiro, mas que nasceu na França, o movimento de protestos de 1968, talvez os mais prolongados e dramáticos no meio universitário brasileiro e particularmente na USP. Ficamos sem aula por praticamente seis meses, ocupando as faculdades com uma única bandeira, a da democracia. Não sabíamos que em 1968 viria o Ato Institucional 5, que sepultou as liberdades democráticas e cassou centenas de mandatos, com um clima desafiante e difícil para todos nós.

Quero relembrar rapidamente que, do ponto de vista pessoal, como aluno - e muitos alunos também devem ter vivido uma experiência muito parecida com a minha. O curso de Jornalismo abriu perspectivas que jamais poderiam encontrar. Até 1964 eu era professor, já fui maduro para a faculdade, era professor de História em colégios de segundo grau e era bancário, trabalhava no Banco do Brasil para financiar meus estudos universitários.

Em 64 foi um tsunami na vida de todos nós. Fui demitido do Banco do Brasil, simplesmente por ser dirigente sindical no banco e por ter alfabetizado brasileiros pelo método Paulo Freire. Durante algum tempo vendi livros, de porta em porta, para sobreviver e descobri que ganhava quatro ou cinco vezes mais vendendo livros do que trabalhando no Banco do Brasil. Nunca posso me queixar desse problema. Eu vendia enciclopédia britânica e a Barsa, elas me ajudaram muito, porque eu lia compulsivamente determinados artigos.

Quando chegou 67, eu soube da criação da escola e me candidatei. Já dava aula em cursinhos, então foi relativamente fácil passar no vestibular, tanto que fui classificado em primeiro lugar, o que me levou para o jornal “O Estado de S. Paulo” a convite do professor Flávio Galvão, que era professor e ao mesmo tempo jornalista no “Estadão”. Com a observação do Ruy Mesquita: “Você tem seis meses de estágio aqui e depois avaliaremos se você tem competência e vocação”. Acabei ficando 45 anos no “O Estado de S. Paulo”.

O curso para mim foi uma abertura de horizontes não só profissionais, mas geográficos do Brasil e do mundo. Em 68 fiz a cobertura do Projeto Apollo, da Nasa e, durante mais de 20 anos, acompanhei todos os grandes projetos. Isso me levou a participar de eventos. Além da conquista do espaço nos Estados Unidos, fui enviado à União Soviética. Em uma época de regime militar, vocês não sabem o que significava isso. Não havia representação diplomática soviética no Brasil, tive que obter um visto na embaixada da União Soviética em Paris e lá me disseram que eu só poderia viajar se eu fosse membro do Partido Comunista.

Eu, que nunca tive muita simpatia pela ideologia, consegui uma carteirinha e sou membro do Partido Comunista no exílio. Quem me ajudou foi um jornalista chamado Reali Júnior. Na União Soviética fui tratado como o camarada Siqueira. Fui muito bem tratado, me abriram todas as portas, cheguei a entrevistar a cosmonauta Valentina Tereshkova e fui à base onde se lançam até hoje os foguetes da União Soviética, no Cazaquistão, mas hoje o país é independente.

Não contarei minha vida, mas lembrarei de alguns momentos marcantes. Eu sempre me lembrava dos grandes professores que tive. A professora Margarida sabe o que era aquela seleção intelectual que tínhamos no início da década. Quero homenagear, em nome de todos - não me lembraria de todos - mas acho que representam muito bem aquilo que tenho como gratidão e homenagem a esse corpo docente, que foi o professor Freitas Nobre, um grande jornalista e político brasileiro, um exemplo de dignidade e luta - também já falecido -, e a professora Lupe Cotrim, que era um exemplo do conhecimento e cultura no mundo das artes. Ela morreu durante nosso curso de graduação.

A escola me deu a oportunidade não só de conviver com luminares da cultura, como enfrentar uma luta política em defesa da democracia e deu também o convívio com as personalidades mais importante que tivemos no país a partir de 1970, ano em que me formei. Tive a oportunidade de voltar a um curso de pós-graduação e também ser professor durante mais de dez anos sobre tecnologia no jornalismo.

Gostaria de lembrar por último que acabei sendo testemunha de grandes acontecimentos que marcaram o século 20, em função de tudo aquilo que a escola me abriu de oportunidades. Evidentemente, uma escola de Jornalismo não forma em sua integridade um jornalista, ela lhe dá um alicerce. Felizmente, eu tive um dos melhores alicerces culturais, o entendimento e a compreensão dos valores que devem nortear a vida no mundo das comunicações. O que prevalece é o interesse público, não os privados e específicos.

Um dos momentos que mais me lembrei da importância dessa escola foi quando assisti a luta contra a ditadura, no dia 11 de novembro de 1989. Eu estava em Berlim assistindo à queda do muro e me lembro de ter dito que nós, simbolicamente, tínhamos um muro no Brasil para derrubarmos durante a época da ditadura. Eu me lembro de que nunca me senti parte de uma humanidade tão feliz, dançando nas ruas. Eu dançava com pessoas que eu nunca tinha visto, passei uma madrugada inteira festejando junto ao muro, subindo em escadarias e olhando. Eu havia estado lá em 1985 e visto o que era um país dividido, o cenário quase que assustador no outro lado do muro.

Eu subi na escada em que os turistas subiam, na Potsdamer Platz, que hoje é um lugar maravilhoso, mas na época era exatamente ali que passava o muro. Ainda existem sinais. Nós víamos do outro lado prédios totalmente fechados, janelas inteiras soldadas com cimento armado e, geralmente, soldados com metralhadoras apontadas para o nosso lado. A festa que foi isso, me sinto profundamente grato e sei que a maioria dos alunos da ECA-USP, que se chamava Escola de Comunicações Culturais nos primeiros momentos - depois descobrimos que comunicações culturais é uma redundância, porque todas nossas comunicações são culturais. Ela trazia o objetivo de ressaltar as artes, além das comunicações que podem ter vários sentidos.

Quero colocar nesse agradecimento mais do que um papel resumindo o que estou dizendo, quero colocar o meu coração e minha alma como agradecimento e, principalmente na presença da professora Margarida e seu sucessor, o próximo diretor da Escola de Comunicações. Eu gostaria que eles recebessem como testemunho de gratidão profunda e reconhecimento pelo trabalho dessa escola. Muito obrigado a vocês.

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MASSAFERA - PSDB - Com a palavra, o professor Dr. Domingos Tadeu Chiarelli, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, representando os ex-alunos da área de Artes da ECA-USP.

 

O SR. DOMINGOS TADEU CHIARELLI - Só um adendo: além de ex-aluno, sou professor do Departamento de Artes Plásticas há 35 anos. Bom dia a todos, Srs. Deputados, senhoras e senhores... Vou ler, porque é mais fácil para mim.

“Agradeço por estar aqui hoje celebrando os 50 anos da Escola de Comunicações e Artes da USP, embora esteja certo de que outros ex-alunos da ECA poderiam estar em meu lugar representando com maior brilho aqueles que já passaram por suas carteiras. No entanto, como coube a mim representar todos os que já estudaram no Departamento de Artes da ECA-USP, tentarei estabelecer algumas considerações a respeito desses 50 anos da escola e também do seu dever, tendo o Departamento de Artes Plásticas, a qual pertenço, como ponto de maior interesse.

Para refletir sobre a instituição seria necessário retroceder ao final do século XIX, momento em que o Brasil recém ingressou em sua experiência republicana. Naquele início de um novo regime, os políticos de São Paulo criaram um ambicioso projeto educacional para o estado, que possuía como foco todas as etapas do ensino do pré-primário à universidade. Um ensino laico, gratuito e pautado nas propostas pedagógicas mais atuais.

Nesse grandioso projeto, que começou a ser implantado na sequência, já constava a criação de um Instituto de Artes. Era esse o nome original. O projeto inicial deveria agregar a formação nos campi das áreas visuais e da música. Como tal o instituto acabou não se mostrando prioritário, teve que esperar quase um século para efetivar-se e, quando isso ocorreu, no final da triste década de 1960, surgiu adaptado às circunstâncias da época, transformado na Escola de Comunicações, a qual foi colocado um apêndice mais tarde, as Artes, tornando-se assim a nossa Escola de Comunicações e Artes sediada na Universidade de São Paulo.

O pouco interesse que a USP sempre manifestou em relação às humanidades e artes, refletindo uma tendência presente em nossa sociedade, agiu durante esses 50 anos de história da escola. A ECA luta com dificuldades até hoje para impor-se no interior da USP. Dentro da ECA, o Departamento de Artes Plásticas é um dos melhores, senão o melhor de todos os departamentos daquela unidade. Mesmo dentro desse quadro geral pouco feliz para a arte e cultura dentro da universidade, creio que existam sim motivos para comemorar essa trajetória de 50 anos da escola, isso porque muitas vezes, a despeito da própria USP, a ECA contribuiu enormemente para os campos da arte e da cultura no Brasil.

Restringindo minhas considerações apenas à área das artes visuais, que não está limitada apenas à formação de artistas, mas também a formação de arte-educadores, historiadores da arte, críticos e curadores, é importante comemorarmos o fato de que, apesar de todas as dificuldades, a ECA, por meio de seus cursos de graduação e pós-graduação, formou e vem formando alguns dos profissionais mais representativos dessas áreas. Profissionais com sólida formação prática e teórica, fincadas em uma compreensão crítica de seus respectivos papéis, quer como artistas, professores e gestores e que, na maioria dos casos, fazem uma real diferença no quadro geral da cultura e da arte no Brasil.

Poderia, sem esforços, elencar uma série de nomes que comprovariam minhas palavras, nomes de profissionais que hoje são referências tanto no campo da pintura, gravura, escultura e outras modalidades artísticas, assim como também no campo da história da arte, da crítica, da arte-educação e da curadoria, todos formados pela ECA. No entanto, prefiro não mencionar seus nomes para não pecar por algum esquecimento involuntário.

Prefiro terminar essas palavras com um alerta quanto ao futuro do Departamento de Artes Plásticas da ECA e também da ECA, igualmente com um apelo a todos os nobres deputados desta Casa. Primeiro alerta: o Departamento de Artes Plásticas, que tanto renome vem dando a ECA e a USP, corre o sério risco de, nos próximos anos deixar de existir enquanto tal. A falta de investimento e a não renovação do seu quadro docente coloca em risco a continuidade do trabalho do departamento e de toda a ECA, borrando qualquer expectativa de real continuidade na formação de novos artistas, arte-educadores, docentes e demais profissionais.

Tal constatação me leva ao apelo a que me referi, para que os atuais deputados se mirem naqueles deputados republicanos de São Paulo, que no início do novo regime, ao pensarem um projeto educacional para o estado, não se esqueceram do Instituto de Artes como elemento essencial do projeto. Hoje no lugar do instituto concebido no final do século XIX temos a ECA, que apesar de todas as dificuldades, completa 50 anos. Dentro dela, temos o Departamento de Artes Plásticas, uma das principais molas para o reconhecimento nacional e internacional da ECA-USP.

Por favor, não deixem agonizar e morrer por falta de incentivos. Mirem-se naquele antigo projeto educacional pensado para o estado de São Paulo, na qual a cultura e arte não eram negligenciadas porque possuíam um lugar garantido para a conquista de uma sociedade laica e efetivamente republicana. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MASSAFERA - PSDB - Com a palavra, a professora Dra. Margarida Maria Krohling Kunsch, diretora da Escola de Comunicações e Artes da USP.

 

A SRA. MARGARIDA MARIA KROHLING KUNSCH - Excelentíssimo deputado Roberto Massafera, em nome do qual agradecemos muito por esta homenagem; professor Dr. Antonio Carlos Hernandes, pró-reitor de graduação, representando nesse ato o professor Antonio Zago, magnífico reitor; professor Eduardo Monteiro, nosso colega parceiro e vice-diretor, futuro diretor; nossos homenageados, Ethevaldo Siqueira e Tadeu Chiarelli; todos aqui presentes, funcionários, professores, alunos, convidados especiais, deputados, minhas falas vão em direção de mostrar um pouco do que é nossa escola e suas principais contribuições públicas. A partir de 1960 começam os primeiros cursos de graduação das áreas de Comunicação e Artes no Brasil, em uma conjuntura muito difícil, sobre os ditames da ditadura militar. Apesar disso, a Escola de Comunicações e Artes foi palco de resistência e se institucionalizou por meio de um pensamento de vanguarda. Foi nela que surgiu o primeiro Movimento Nacional Contra o Regimento Militar, após o AI-5. A situação só se estabilizaria no final dos anos 70, já em clima de abertura política.

Fundada em 16 de junho de 1966 como Escola de Comunicações Culturais, ela veio a se consagrar como Escola de Comunicações e Artes em 1969. Desde sua criação vem cumprindo sua missão por meio de um amplo e diversificado universo de atividades de ensino, pesquisa, cultura e extensão de serviços. Compõe-se hoje de oito departamentos: Artes Cênicas; Artes Plásticas; Informação e Cultura; Cinema, Rádio e Televisão; Comunicações e Artes; Jornalismo e Editoração; Música; Relações Públicas e Turismo.

Por meio deles, oferece três bacharelados em Artes Cênicas, Visuais e Música; quatro bacharelados em Comunicação Social, Editoração, Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas; um bacharel em superior do Áudio Visual; um bacharelado em Biblioteconomia e um bacharelado em Turismo. Três licenciaturas em Educação Artística, com habilitação em Artes Visuais, Artes Cênicas e Música; uma licenciatura em Educomunicação. Conta também com seis programas de pós-graduação stricto sensu, 13 cursos em lato sensu, 19 de Difusão, e a Escola de Arte Dramática, que oferece curso técnico de formação de atores.

Não se pode ignorar o notório pioneirismo e empreendedorismo na ECA na institucionalização dos campos das comunicações, informação, das artes e do turismo no Brasil. Dados atuais registram: alunos matriculados na graduação: 2080; alunos matriculados na pós-graduação stricto sensu: 764; alunos matriculados nos cursos de especialização, pós-graduação lato sensu: 672; nos cursos de Difusão: 350; e apresentações da Escola de Arte Dramática: 66. O acervo da biblioteca com livros periódicos, partituras, peças de teatro, filmes, CDs, fotografias possuem cerca de 241.568.

Em 50 anos formou cerca de dez mil estudantes de graduação e mais de quatro mil mestres e doutores. Suas iniciativas paradigmáticas têm servido de espelho para a constituição de muitos cursos dessas áreas no País. Já passou por ela um contingente muito expressivo de docentes, pesquisadores, professores, visitantes, estudantes, profissionais e artistas, muitos deles ilustres brasileiros e de outras nações. Professores e ex-alunos da ECA lideraram e lideram os campos de comunicações e artes em significativas posições em nossa sociedade.

Apenas para ilustrar alguns exemplos: No caso de ex-alunos, temos no Jornalismo o William Bonner e o professor Ethevaldo Siqueira, escritor aqui presente e homenageado. Nas Artes, temos as artistas plásticas Carmela Gross, Regina Silveira, e as atrizes Lília Cabral e Rosi Campos, entre outros muitos atores e atrizes. Em cargos de direção em museus, temos o professor Tadeu Chiarelli, da Pinacoteca do Estado, aqui presente e homenageado; o professor Martin Grossmann, do Centro Cultural de São Paulo; a professora Lisbeth Rebollo, na direção do MAC. Muitos tiveram lugar de destaque nas Secretarias de Cultura em âmbito municipal, estadual e federal, como é o caso do professor Carlos Augusto Calil, há pouco à frente da Biblioteca Mário de Andrade. São muitos outros exemplos que poderíamos registrar aqui.

Muitos editores colaboraram e colaboram com periódicos científicos de grande circulação nacional e internacional. Participaram e participam da produção de filmes e grupos teatrais, foram e são cronistas e críticos de arte. A institucionalização da pós-graduação da ECA foi fator decisivo para o desenvolvimento dos campos que ela atua, dos quais são oriundos também os primeiros doutores formados no país. Atualmente a pós-graduação constitui-se em seis programas, dois de comunicação: Ciências da Comunicação e Meios e Processos Audiovisuais. Três de Artes: Artes Visuais, Artes Cênicas e Música. E um de Ciências da Informação.

Em 50 anos a ECA se tornou uma escola internacional. Atualmente a escola conta com 43 convênios com universidades de todo o mundo, são muitos alunos estrangeiros vindos da África, Europa e América que aqui estudam. A área de pesquisa em Comunicações e Artes apresentou significativo crescimento nos últimos anos, seja no gerenciamento dos grupos de pesquisa, que hoje somam 51, dos projetos de iniciação científica, projetos de pós-doutoramento e pré-iniciação, ou no número de bolsistas em diferentes níveis, da pré-indicação científica ao pós-doutoramento.

Publicações atestam a crescente importância da pesquisa que se desenvolve de forma ampla e restrita, indo da investigação teórica à pesquisa aplicada, da pesquisa tecnológica à investigação da linguagem, estética, etc... A ECA tem também uma vocação natural para a área de cultura e extensão de serviços. A escola conta com projetos voltados para crianças, jovens, adultos e idosos, envolvendo diversas áreas com caráter social evidente. São oferecidos à comunidade de forma gratuita cursos de graduação, eventos especiais, espetáculos teatrais e de dança, apresentações musicais, orquestras de câmara, grupos de música erudita, popular e contemporânea, exposições de artes visuais em vídeos.

Atualmente possui 13 cursos de especialização e recebe aproximadamente 600 alunos vindos de cursos de ensino médio e pré-vestibulares no evento USP e as Profissões. Em comunicação e educação ela já atendeu aproximadamente 30 mil pessoas em projetos presenciais e à distância, contribuindo para instituir políticas públicas de formação em nível federal, estadual e municipal. Na área de cultura e extensão, a ECA-USP tem um espaço de troca de conhecimento, levando para fora os resultados do ensino e da pesquisa por ela desenvolvida e trazendo para dentro o conhecimento gerado na sociedade que contribui para a reflexão de seus pesquisadores, professores e alunos.

Sua singularidade e diversidade de campos do saber no âmbito das diversas áreas de conhecimento da universidade expressa uma amplitude de possíveis visões diferenciadas por parte da própria comunidade uspiana, como da sociedade sobre sua produção midiática, artística e cultural. É uma unidade de ensino que conta com reconhecimento público do seu papel como formadora e produtora da cultura, artes e comunicações, áreas imprescindíveis para pensar a complexidade do mundo contemporâneo. Muito obrigada.

Nesse momento, vamos prestar uma homenagem muito especial a dois de nossos ilustres ex-alunos, ambos escritores. Poderíamos dizer que são dois ícones em suas áreas. É um orgulho para a nossa escola contar com todo o brilhantismo desses dois profissionais que estão aqui: o professor Tadeu, professor 35 anos do Departamento de Artes Plásticas da ECA; o Ethevaldo Siqueira, que todos nós conhecemos por sua batalha do pioneirismo nas novas tecnologias. Representa para nós como ele pôde mostrar, por sua fala, como a ECA foi importante em sua trajetória. Para nós é um orgulho prestar essa homenagem para vocês dois neste momento e, com certeza, representam muito bem todos os ex-alunos da escola e são um exemplo para as novas gerações.

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MASSAFERA - PSDB - Com a palavra, o professor Dr. Antonio Carlos Hernandes, pró-reitor de graduação da Universidade de São Paulo, nesse momento representando seu reitor.

 

O SR. ANTONIO CARLOS HERNANDES - Bom dia a todos. Inicialmente, quero cumprimentar o Sr. Deputado Roberto Massafera. Nós já tivemos a oportunidade de estarmos juntos em outros momentos, quando ocupei a diretoria do Instituto de Física em São Carlos. Ele é deputado pela cidade de Araraquara e toda a região, tem um papel importante na cidade de São Carlos, especialmente na implantação da área II do campus em que esteve sempre presente. Quando estava na diretoria, nos ajudou muito para o avanço das áreas tecnológicas do campus, que têm feito um trabalho sempre muito distinto.

Quero agradecer em nome do reitor o empenho para que esta sessão solene acontecesse em prol de uma de nossas principais escolas, a Escola de Comunicações e Artes. Muito obrigado, deputado. Aos deputados presentes, nosso cumprimento. Quero inicialmente cumprimentar a professora Margarida Maria Kunsch, nossa colega e diretora da Escola de Comunicações e Artes, que está passando o bastão para o professor Eduardo Henrique Monteiro, que assume a escola. Ao professor Ethevaldo, o qual tive o prazer de conhecer; ao professor Tadeu, prazer em conhecê-lo.

Quero dizer algumas palavras às senhoras e senhores, professores, servidores e aos alunos aqui presentes, meu colega Marcos Antonio, parabéns pela apresentação mais uma vez, é uma satisfação sempre ver nossos alunos com uma apresentação como essa. Gostaria de dizer algumas coisas específicas sobre o que foi falado, pretendo dizer muito pouco no momento da comemoração, sempre é importante ressaltar o que tem realizado de principal por todas as unidades de ensino da Universidade de São Paulo.

A USP, nesses 84 anos, é uma universidade recente, se compararmos com as outras universidades do mundo. Dentro disso, temos escolas, como a Escola de Comunicações e Artes que completa 50 anos. É tudo muito jovem e dinâmico e isso faz com que muitos desses problemas que surgem nessa juventude toda dessas unidades apareça em diferentes momentos. Passamos por um processo de ebulição dentro da universidade. A universidade tem cumprido seu papel fundamental, estabelecido em seu decreto de criação, que é a formação de pessoas para cumprir um dos primeiros itens do decreto, formar pessoas para atender, do ponto de vista profissional e também para o bem da alma, a sociedade paulista.

Mais do que isso, a Universidade de São Paulo tem formado pessoas que atingem e fazem com que o ensino superior no Brasil cresça graças a todo o trabalho realizado. Hoje, temos alunos formados, em torno de oito mil alunos são formados no ensino de graduação, uma quantidade quase igual ao que é formado na pós-graduação. Esses alunos formados é que têm dado sustentação ao ensino superior brasileiro. É através dessa formação qualificada diferenciada que todo esse processo de avanço no país tem acontecido.

Naturalmente o estado de São Paulo se diferencia pelo investimento que é feito na educação. Já tivemos aqui não só o reitor, como todos nós, para falar sobre a dificuldade que se passa o país e as universidades, nesse sentido, estivemos na Comissão de Ciência e Tecnologia, na Comissão de Finanças e outras para que a universidade pudesse esclarecer e também mostrar o papel que ela tem desenvolvido ao longo desses anos. Nesse sentido faz todo jus a fala do professor, quando ele diz da necessidade que temos de fazer a reposição de professores. Esse é um problema em pauta, nós todos temos consciência disso e queremos fazer com que isso aconteça, por outro lado temos que ter responsabilidade. O que temos feito é trabalhar para que saiamos dessa condição e seguramente a questão dos novos professores deve aparecer.

Não devemos ficar presos a isso, a universidade não parou nesse processo. Muito pelo contrário, a universidade segue atuante em todas as suas frentes e áreas, seja ensino, pesquisa, cultura e extensão. Nesse caso é sempre bom uma cerimônia quando você encontra um aluno USP com toda uma experiência, como o professor Ethevaldo, que é uma pessoa que batalhou, porque para estarmos aqui hoje batalhou para ter naquele momento, como muitos batalharam para que houvesse democracia neste país, mas principalmente batalhou por um ensino de qualidade que prevalecesse. O que a universidade tem feito é um ensino diferenciado, é trabalhar para que todos os professores de todas as áreas formem líderes que possam desenvolver cada vez mais o estado, mas principalmente atender o item um do decreto, que é ter cidadãos que possam fazer a diferença em todo o País.

Quero destacar outro ponto extremamente importante, a Escola de Comunicações e Artes; a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas; a Escola Politécnica; a Faculdade de Medicina; a Escola de Engenharia em São Carlos, do qual o senhor é oriundo; a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; a Faculdade de Direito; a Escola de Artes, Ciências e Humanidades e a Escola Superior de Agricultura são o que chamamos de grandes escolas da USP. O número de alunos inscritos hoje na graduação é o principal ponto chave dessa universidade. Hoje, a Escola de Comunicações e Artes tem mais de dois mil alunos. Temos 60 mil alunos matriculados nos cursos de graduação da USP.

A primeira fase do vestibular da Fuvest acontece agora no próximo domingo, são 177 cursos nas três áreas - humanidades, exatas e biológicas, com diferentes cursos para atender não só nossos alunos oriundos do ensino médio de São Paulo, mas de todo o País. Isso tem sido um ponto chave que a universidade tem trabalhado, para que não percamos a qualidade na formação de nossos alunos.

Quero novamente agradecer em meu nome e em nome do reitor, e parabenizar a iniciativa e a todos da Escola de Comunicações e Artes pelo trabalho que vêm desenvolvendo com todas as dificuldades para que a escola continue sendo o que tem sido desde sua origem pioneira em transformar e formar pessoas que façam a diferença. É isso, muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MASSAFERA - PSDB - Para encerrar, vocês também terão que escutar meu discurso. Eu aprendi com meu professor e mestre espiritual Osvaldo Milantone que o político fala de improviso, mas em uma cerimônia temos que ter por escrito o que vai falar, para mostrarmos que pensamos no assunto, um roteiro para seguir e não nos perdermos, então aqui está o meu roteiro.

Hoje estamos aqui comemorando 50 anos da Escola de Comunicações e Artes da USP. Essa escola foi criada em 1966 pelo reitor Júlio Garcia Morejon e o governador Laudo Natel com a denominação de Escola de Comunicações Culturais, e hoje Escola de Comunicações e Artes. Ela foi criada em um período de ditadura militar, um período de convulsões e contestações, e sofreu muito com o Ato Institucional 5 e com a Reforma Universitária de 1969, que chamamos de Lei Suplicy.

Sou engenheiro civil formado nos anos de 63 a 67, na Escola de Engenharia de São Carlos, que naquela época tinham 500 alunos. Hoje são cinco mil na graduação e outros tantos na pós-graduação. Eu vivi as fases da pré e pós Revolução de 64, eu fazia política universitária em uma época em que eram proibidos reuniões e aglomerados estudantis. Fui líder universitário, tesoureiro, presidente acadêmico. Fui enquadrado e preso na Lei de Segurança Nacional, em um congresso de estudantes de engenharia em 1966, onde fomos discutir currículo do curso de engenharia. Foi um aparato policial dizendo que havia distribuição de amplo material subversivo e de armas entre os estudantes. Ficamos presos uma semana, e durante dez anos respondi a um processo.

Na época São Carlos tinha 50 mil habitantes e não oferecia grandes oportunidades culturais ou artísticas aos estudantes. O diretor da Escola de Engenharia na época, professor Dr. Theodureto de Arruda Souto, que era engenheiro politécnico propôs ao Conselho Universitário da USP a criação de matérias optativas com finalidade culturais para que os alunos pudessem ter aulas de Música, Psicologia, Inglês, Sociologia. O conselho universitário na época, debochando do diretor da Escola de Engenharia, falou que ele estava querendo afinar o espírito dos estudantes de São Carlos. Mas graças aos engenheiros da Politécnica e da Faculdade de Filosofia foi aprovado.

Eu sempre digo que conheci grandes professores que foram dar aula nas cadeiras optativas, de Psicologia, Sociologia, História, e que essas matérias fazem parte da formação humanística que o engenheiro não tem. Na mesma época, isso se alastrou para outros campi, em Ribeirão Preto, Piracicaba, São Paulo. As cadeiras culturais foram incluídas como matérias optativas. Mais ou menos nessa época o professor Paulo Duarte, discutindo no conselho universitário, falou que lá tinha muito rinoceronte, um animal com visão curta. Ele respondeu a um processo. No ano seguinte, em nossa formatura, convidamos o professor Paulo Duarte para que fosse nosso paraninfo, em homenagem ao processo dos rinocerontes.

Eu me lembro que em 1964 estudei Linguagem Fortran e tinha que perfurar cartão e vim rodar em um único computador que a USP tinha, no Instituto de Energia Atômica - um computador com 8 gigas, tinha menos memória do que um celular. Para vocês terem ideia de como a tecnologia evoluiu ao longo desse tempo, mas não evoluiu o ser humano. Eu, como engenheiro, trabalhei muito em projetos, obras e administração, mas minha formação lá de trás, humanística e espírito refinada, me levou para o social. Fui secretário adjunto de Ciência e Tecnologia em 1987, no governo Quércia.

Naquela época convivia com o professor Goldemberg da USP, Paulo Renato da Unicamp, Jorge Nagle da Unesp. Desse convívio recebemos instruções do governador para fazer um projeto de lei, que esta Casa fez e aprovou, da autonomia universitária. A partir de 1988 as universidades públicas de São Paulo têm autonomia administrativa, pedagógica e financeira, recebendo um número “x” do orçamento do Estado. Isso é bom à medida que a economia cresce e aumenta a arrecadação, mas agora nessa crise em que vivemos, há três que temos queda de receita, é muito difícil você trabalhar com orçamento equilibrado, porque orçamento público é feito de receitas, que é igual a despesa, que deve ser zero. Mas se cai a receita, cai a despesa. Uma hora cai a receita, mas não cai a despesa, é o momento em que vivemos hoje. Todos os estados e municípios passam por esse momento de crise, em que é fundamental sairmos disso. Fica sua reclamação. Tenho certeza que todos os departamentos da Escola de Comunicações são importantes. Todas as escolas da USP são importantes. Tenho certeza de que não faz parte do espírito da USP, do conselho, do reitor perseguir ou querer diminuir, mas faz parte da conjuntura em que passamos hoje, que é muito difícil. Essa é a situação que vivemos.

Já fui prefeito na minha cidade em Araraquara, tinha escritório de engenharia em São Carlos. Tenho lá meus amigos e bastante raiz. Quando estudei em São Carlos eram 500 alunos, hoje são dois campi, são mais de cinco mil alunos na graduação e uns quatro mil na pós-graduação. Então, se tornou um grande centro para a Escola de Engenharia, o Instituto de Física, Instituto de Química. Enfim, houve um crescimento muito grande, cumprindo o papel da universidade.

O maior comunicador da história foi Jesus Cristo, porque ele só falava e até hoje seguimos o que ele falou. Com o tempo inventamos a escrita, os jornais e a comunicação mudou e melhorou. Eu sou da geração que lê jornal e revista, ainda meio distante desse mundo moderno e rápido. Os atuais meios eletrônicos, a chamada mídia social com a telefonia móvel faz termos uma grande revolução no sistema de comunicação. Eu estava até discutindo com o Ethevaldo sobre isso, o que vai acontecer com isso tudo? Lembrando a questão da neurolinguística desenvolvida atualmente, que a comunicação se faz pelo visual, auditivo e sinestésico.

Lembrando disso temos que saber que a Escola de Comunicações cumpre seus deveres de formar cidadãos e professores à medida que ela se dilui. Fica aqui para vocês a minha sugestão, vocês sabem que as palavras na língua viva como o português mudam de sentido. Em 1970 se você falasse que tal moça é fera, diria que era brava. Hoje, falamos que a moça é fera por ser bonita. As palavras vão mudando de sentido ao longo do tempo. Quero dar uma sugestão, a Escola de Comunicações e Artes deveria se chamar Escola da Arte e Comunicação, porque Arte é muito mais ampla. Ela é feita do artista que intui uma realidade, faz a introspecção dessa realidade e expressa. É assim com o pintor, escritor, o escultor, artista. Mas é assim também com jornalistas, o comunicador. Ele vê uma realidade e a expressa.

Fica a sugestão ao nosso futuro diretor da ECA, para que medite, o nome correto, atualizado e mais moderno. O primeiro nome foi Escola de Comunicações Culturais, hoje é Escola de Comunicações e Artes, e que no futuro seja Escola da Arte e Comunicação, porque hoje em dia tudo é comunicação, e esses meios de comunicação estão avançando e evoluindo. Eu me sinto atropelado pelas mudanças.

Também queria dizer que a coincidência e a sincronicidade nos dão uma nova realidade e compreensão no mundo físico, nos fazendo perceber a energia invisível como ampliada a sensibilidade e a beleza. Eu digo isso para justificar minha presença aqui hoje. Essa solenidade de homenagem à ECA foi concebida por meu colega, deputado Roberto Engler, que não pôde estar presente. Ele pediu que eu viesse representá-lo porque ele não poderia. Eu passei a assumir o cargo de organizador desse evento aqui na Assembleia, mas com prazer, porque tenho origem na USP, conheço a USP e luto por ela. O maior problema nesse quadro atual que tenho lutado é a questão da diferença de salário dos docentes com as outras universidades.

As federais têm um salário e as estaduais têm outra. As federais seguem uma legislação que acompanha o Supremo Tribunal e São Paulo acompanha o salário do governador. Estudando isso, chegamos a um consenso de que temos que mudar um artigo da Constituição do Estado, e isso depende do nosso governador. Então, peço que vocês também foquem nesse assunto na direção do governador, porque ele precisa fazer essa emenda constitucional, e nós aqui estamos prontos para aprovar. Esta é a Casa do Povo, vocês na universidade representam o templo do saber, o templo do conhecimento da nossa sociedade. Cada um de vocês é um sacerdote dentro desse tema.

Nesse simbolismo vemos a importância da universidade em nossa sociedade, mostra a importância da universidade para São Paulo e para o País. Por isso quero dizer a vocês que no momento que passamos por uma crise e dificuldades, que a própria Universidade de São Paulo tem seus problemas, no momento crucial eu diria que o maior problema para nós deputados é a comunicação da universidade. Nós não acompanhamos no dia a dia tudo que ela produz e faz, a comunicação da universidade é deficiente para chegar até o povo e nos deputados.

Fica minha sugestão para que a ECA assuma esse papel e a essa liderança na questão da divulgação da produção científica e tecnológica da universidade. Estava conversando há pouco com o professor Mascharenhas, de São Carlos, 82 anos aposentado. Ele teve um AVC, foi a um hospital fazer uma medição de pressão intracraniana. Falou que estava tudo errado. Ele mesmo desenvolveu um aparelho baseado na geosísmica, onde, no ensaio não destrutivo, você mede essa pressão. Ele já patenteou e está vendendo. Vejam as coisas que acontecem e ficamos sabendo, e que dentro da universidade se tem e temos dificuldade.

Outro caso que vou falar rapidamente é que os 94 deputados aqui estão querendo resolver a questão da chamada pílula do câncer. Foi desenvolvida por um pesquisador em 1995, quando levaram um convênio a USP para desenvolver, fizeram pesquisas com animais e o primeiro nível tóxico foi aprovado. Depois não levaram para frente. O assunto ficou meio esquecido, mas o pesquisador de química em São Carlos fazia umas 200 pílulas por dia e dava para as pessoas. O custo era levar meio quilo de fosfato natural, ele fazia um processo químico com amina e álcool, passava em um redutor e tinha a transformação. Ao longo de 20 anos não tivemos grandes coisas, mas muita gente que faz quimioterapia, radioterapia ou até cirurgia, têm alguns que não resolvem nada, e 30% dos doentes chegam à fase terminal e que falamos compassíveis, ou sejam, que têm compaixão.

Muitos que experimentaram essa pílula tiveram efeito positivo. Então, nosso governador determinou que o Instituto do Câncer de São Paulo faça todos os estudos e ensaios preconizados pela Anvisa, no sentido de verificar a eficiência. Esse estudo já passou pelos testes iniciais de toxidade humana sem nenhum problema de rejeição, e agora está sendo usado nos pacientes para verificação de efeitos. O grande problema é que você tem mais de 100 tipos de câncer, e cada um requer um tipo de medicamento. Os medicamentos, tanto quimioterápicos assim como a radioterapia destroem as células boas e as doentes, afetando o sistema imunológico.

Essa pesquisa mostra o contrário, ele reforça o sistema imunológico. Muita gente que fez quimioterapia, ou radioterapia, que virou paciente compassível e que não tem mais chances vai tomar chá de casca de ipê, vai tomar cura, fazer reza e no fim alguns tiveram reação. Por que alguns têm reação e outros não? Porque aqueles que o sistema imunológico não foi muito afetado tem chance de ser útil.

Eu pesquisei e vi que o reitor da USP, professor Zago, médico, em sua tese de doutoramento em 1975 tratou exatamente do estudo sobre mieloma múltiplo, estudo citogenético em monoquíminca, muito interessante.

Neste ano o Prêmio Nobel de Química foi para um japonês, Dr. Yoshinori Ohsumi de 71 anos, sobre o estudo do processo de reciclagem de células. Em resumo, avançando nos estudos os pesquisadores do Instituto Butantã chegaram à conclusão de que toda célula cancerosa é anaeróbica, e toda célula normal é aeróbica. A célula normal transpira oxigênio eliminando água, e a cancerosa não. Quando você reforça o sistema imunológico da pessoa, a célula boa ataca a doente, fazendo com que ela absorva uma oxídrila formando água e desmanchando.

Vejam bem: eu, engenheiro civil e deputado fazendo discurso sobre isso. A grande falha e erro é na área da comunicação, porque talvez tenhamos dentro da USP um caso de uma pessoa merecedora de um Prêmio Nobel. Eu credito isso a vocês, à ECA. Que vocês respondam o seguinte: O que significa estar vivo? Quem somos nós? O que significa a espiritualidade? Nós não somos seres materiais em uma experiência espiritual, somos seres espirituais passando por uma experiência material, daí acredito na eternidade do espírito.

Cabe à ECA nesse mundo moderno e de transformações, nesse mundo em que, eu como engenheiro e político, não acompanho tanto. Cabem a vocês apresentarem a comunicação e toda a divulgação da USP e suas inovações. Muito obrigado.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência agradece às autoridades, à Mesa, à minha equipe, aos funcionários, aos serviços de Som, da Taquigrafia, de Atas, do Cerimonial, da Imprensa, à TV Legislativa, às assessorias das Polícias Civil e Militar, bem como a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 01 minuto.

 

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