http://www.al.sp.gov.br/web/images/LogoDTT.gif

 

 

28 DE NOVEMBRO DE 2016

085ª SESSÃO SOLENE em COMEMORAÇÃO AO DIA INTERNACIONAL EM SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO

 

Presidente: LUIZ TURCO

 

RESUMO

 

1 - LUIZ TURCO

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia a composição da Mesa e demais autoridades presentes. Informa que a Presidência Efetiva convocara a presente sessão solene, a pedido do deputado Luiz Turco, ora na Presidência, em "Comemoração do Dia Internacional em Solidariedade ao Povo Palestino". Convida os presentes a ouvirem, de pé, o "Hino da Palestina" e o "Hino Nacional Brasileiro". Anuncia uma apresentação cultural da Palestina.

 

2 - MUAZ JAMAL

Representante do Comitê Central da Frente Democrática para a Libertação da Palestina, faz discurso em língua estrangeira.

 

3 - PEDRO CHARBEL

Representante do BDS - Movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções, faz coro ao discurso de Muaz Jamal. Discorre sobre o que considera o aparthaid contra os palestinos, que gostariam de voltar para sua terra, hoje ocupada por Israel. Afirma serem os mesmos cidadãos de segunda classe em Israel. Pede o apoio do Brasil na luta deles, por meio de boicote. Ressalta que este movimento tem crescido muito. Menciona o boicote de armas e tecnologias israelenses, que diz serem hoje testadas nos palestinos. Cita algumas empresas que devem ser boicotadas. Destaca que a resistência deve ser internacionalizada. Esclarece que é necessário fortalecer a solidariedade ao povo palestino. Informa que Israel está tentando barrar este movimento, devido ao impacto econômico causado sobre Israel. Agradece o convite para participar desta sessão solene.

 

4 - DJACIRA MARIA

Representante da Brigada Ghassan Kanafani da Via Campesina, agradece o deputado Luiz Turco pela oportunidade de estar nesta homenagem. Informa que organiza os camponeses do Brasil e que prestaram solidariedade na colheita da azeitona na Palestina. Afirma que os camponeses são a população mais sacrificada. Destaca a violação e a agressão que priva os palestinos do direito de existência da Palestina como sociedade. Menciona a parceria com as tecnologias desenvolvidas na Palestina. Diz ser fundamental manter a solidariedade na campanha dos ativistas e dos prisioneiros palestinos, em especial às crianças. Cita que existem crianças de 12 anos enfrentando o tribunal militar. Informa que, apesar do muro construído em Israel ser maior que o antigo muro de Berlim, as autoridades mundiais permanecem caladas. Pede uma pátria livre para a Palestina.

 

5 - MARIA JÚLIA

Representante da Marcha Mundial das Mulheres, agradece a organização deste evento e o deputado Luiz Turco. Diz ser este evento de solidariedade internacional essencial. Afirma que os palestinos sofrem com o imperialismo mundial e o avanço da miséria. Cita a resistência histórica, com mulheres participando ativamente, garantindo a sobrevivência de suas famílias e sofrendo violência sexual. Discorre sobre mobilizações realizadas por mulheres na Argentina, contra o assassinato das mesmas, na Polônia, pelo direito ao aborto e na Islândia, a favor da igualdade salarial. Ressalta que onde tiverem mulheres livres teremos povos soberanos.

 

6 - SOCORRO GOMES

Representante do Cebrapás - Centro Brasileiro de Solidariedade e luta pela Paz, discursa em nome dos pacifistas de todos os continentes. Informa que foi eleita uma nova direção. Ressalta o novo compromisso com a solidariedade com o povo palestino. Diz ser a questão dos palestinos de toda a humanidade, por ser um crime contra a paz. Relata ser Israel uma potência armada, que conta com apoio dos Estados Unidos para manter a ocupação deste território desde o século passado, em 1948. Menciona a construção do "muro do aparthaid". Menciona sua luta pelo estabelecimento do Estado Palestino, com a capital em Jerusalém Leste. Destaca o seu apoio e o compromisso com esta causa, com o direito de justiça e da soberania de um povo. Afirma que as resoluções da ONU nunca foram respeitadas por Israel. Cita mais de 197 crianças presas em Israel. Esclarece que a homenagem de hoje mostra que os palestinos contam com o apoio de todos os povos do mundo, e que querem a paz e justiça.

 

7 - MARCELO BUZETTO

Representante do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, agradece o deputado Luiz Turco por assumir esta luta do povo palestino. Pede o apoio dos parlamentares para o povo palestino, que considerou heroico, exemplo de resistência e coragem. Cita a ousadia, a persistência e a coragem dos mesmos. Diz ser este um dos mais importantes movimentos de liberdade do século XX. Lembra da história da Palestina, na qual o povo foi combatido e caluniado, enfrentando o imperialismo, o sionismo e também os governos árabes que traíram a causa. Diz que é um modelo para se aprender a capacidade de resistência. Informa que, em parceria com o deputado Luiz Turco, irão construir no próximo ano um movimento de solidariedade no interior dos parlamentos, com a criação da Frente Parlamentar em Defesa do Povo Palestino nesta Casa. Menciona o objetivo de criar esta frente também em Brasília. Cita um encontro, no próximo ano, de parlamentares em defesa do povo palestino. Destaca a semelhança do MST com os palestinos, já que ambos lutam pela terra e por transformações sociais. Destaca a campanha pela libertação dos mais de sete mil prisioneiros palestinos. Esclarece que a Palestina será livre, e que ninguém pode impedir um povo de conquistar a independência.

 

8 - EDMILSON COSTA

Representando o Partido Comunista Brasileiro, saúda os presentes em nome do PCB. Demonstra sua indignação com a violência e as atrocidades causadas ao povo palestino pelas forças sionistas. Destaca a firme resistência deste povo. Compara as atrocidades dos sionistas com a que os nazistas faziam nos campos de concentração. Afirma que quando os palestinos conquistarem a sua independência será feita uma enorme comemoração.

 

9 - KHALAD MAHSSIN

Representante do Campo Progressista Árabe, cumprimenta as autoridades presentes. Lembra de sua juventude no sul do Líbano, onde fez treinamento militar para defender a Palestina contra Israel. Demonstra sua solidariedade aos palestinos. Saúda e homenageia Fidel Castro, que disse ser um grande amigo da causa palestina. Ressalta a necessidade de união das forças palestinas para reconquistar a terra no sul do Líbano, entre outras locais. Lembra o tratado de Oslo, de Camp David, entre outros. Esclarece que a revolução árabe deve continuar em todos os países. Comunica que há projetos israelenses em curso para conquistar toda a terra palestina. Declama poema "A terra".

 

10 - AMJAD ABU HASNA

Representante do Centro Cultural Árabe Palestino de São Paulo, cumprimenta as autoridades presentes. Diz ter sido o Centro Cultural fundado para preservar a cultura árabe e ser um instrumento para reorganizar a sociedade, contribuindo para o futuro e garantindo a sociedade árabe no Brasil. Afirma que Israel tenta apagar a existência do povo palestino. Defende o direito ao retorno às terras e ao estado independente.

 

11 - PRESIDENTE LUIZ TURCO

Presta homenagem aos Srs. Marcelo Buzzeto, do MST; Moara Crivelente, ativista solidária a causa palestina; Benedito Cintra, ex-deputado e criador da lei que homenageia esta data; Claude Hajar, ativista solidária a causa palestina; e Hilau Shrif, ex-presidente da Sociedade Árabe Palestina em São Paulo.

 

12 - BENEDITO CINTRA

Ex-deputado, criador da lei que fez esta homenagem, cumprimenta as autoridades presentes. Informa que em 1983 tomou posse como deputado desta Casa com a intenção de fortalecer a causa palestina. Ressalta que, junto com entidades democráticas e os representantes dos palestinos, foram às ruas e a outros parlamentos para prestar solidariedade ao povo palestino. Lembra que desde 1983 até hoje, houve muitas mudanças no mapa mundial, assim como também a situação do povo palestino. Esclarece que a Palestina tornou-se membro observador na ONU. Relata que Israel teve muito mais apoio do que os palestinos em suas ações, consideradas terroristas. Relata que Israel é um grande exportador de armas. Menciona que, apesar dos avanços e lutas democráticas, ainda há prisões arbitrárias de crianças e mulheres, assentamentos forçados e um muro de 800 km na Cisjordânia. Destaca o fortalecimento de Israel entre 2009 e 2018, com o apoio dos Estados Unidos. Pede a ampliação dos atos de solidariedade ao povo palestino nos parlamentos e na sociedade como um todo.

 

13 - MARCELO BUZZETO

Presta homenagem ao deputado Luiz Turco, com a entrega de uma lembrança do Líbano, onde participou de um encontro da campanha global para o direito de retorno dos palestinos, de acordo com a Resolução 194 da ONU.

 

14 - PRESIDENTE LUIZ TURCO

Anuncia uma apresentação cultural dos palestinos. Presta homenagem a Fidel Castro, que disse sempre ter apoiado a causa palestina. Ressalta que são 68 anos de ocupação israelense. Menciona o que considera o aparthaid contra o povo palestino. Destaca a importância do retorno dos mesmos para sua terra natal, apoiados por resoluções internacionais, como a 194 da ONU. Informa que Israel nunca cumpriu nenhuma destas determinações. Lembra a fundação do Estado de Israel, em 1948. Esclarece que o problema são os sionistas, e não os judeus. Destaca a necessidade de um estado onde todas as religiões possam viver em paz. Destaca o compromisso moral em prestar apoio ao povo palestino. Menciona a grande quantidade de palestinos espalhados pelo mundo, que gostariam de voltar para suas casas, e os sete mil prisioneiros palestinos, entre eles quase 500 crianças. Pede que Israel se retire de Jerusalém, reconhecida como capital do Estado Palestino. Cita a criação em todos os parlamentos brasileiros da Frente Parlamentar em apoio à causa palestina. Compara a repressão aos negros pobres no Brasil aos palestinos. Afirma que a parceria da Polícia Militar com Israel faz a PM de São Paulo a mais violenta do mundo. Diz que os judeus foram reprimidos pelo nazismo, enquanto os palestinos são reprimidos pelos sionistas. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Luiz Turco.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Gostaria de convidar para compor a Mesa principal o Sr. Amjad Abu Hasna, do Centro Cultural Árabe Palestino de São Paulo; Kháled Fayez Mahassen, do Centro de Pesquisa da Cultura Libanesa; Benedito Cintra, ex-deputado e criador da lei que homenageia esta data.

Sras. Deputadas e Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa, deputado Fernando Capez, atendendo à solicitação deste deputado, com a finalidade de comemorar o “Dia Internacional em Solidariedade ao Povo Palestino”.

Convido todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino da Palestina e o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

- São executados o Hino da Palestina e o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web e será transmitida pela TV Assembleia nesse sábado, dia 3, às 22 horas pela NET, canal 7; pela Vivo, canal 9; e pela TV Digital Aberta, canal 61.2.

Representando o deputado estadual Antonio Salim Curiati, o Sr. Alexandre Curiati; Sra. Soraya Misleh, da Frente em Defesa do Povo Palestino; Sr. Jadallah Safa, do Comitê Democrático Palestino; Claude Hajjar, ativista solidária da causa palestina; Hilau Shrif, ex-presidente da Sociedade Árabe Palestina em São Paulo; Socorro Gomes, do Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz; Sr. Marcelo Buzetto, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; Maria Júlia, da Marcha Mundial das Mulheres; Djacira Maria, da Brigada Ghassan Kanafani da Via Campesina; Tiago Soares, coordenador da Juventude da Prefeitura de Guarulhos; Iara Bento, representando o deputado estadual Teonilio Barba; Muaz Jamal, do Comitê Central da Frente Democrática para a Libertação da Palestina; Luis Carvalho, da Casa do Hip Hop de São Bernardo; Pedro Charbel, do Movimento de Boicote, Desinvestimentos e Sanções; Sra. Arwa Abu Hashhash, da União de Comitês de Trabalhadores Agrícolas; Ana Nice, vereadora eleita por São Bernardo do Campo, e do Comitê do Grande ABC de Solidariedade ao Povo Palestino; André Dutra, da Campanha Global pelo Direito ao Retorno.

Assistiremos agora a uma apresentação cultural.

 

* * *

 

- É feita a apresentação.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Agradeço ao grupo, e, imediatamente passo a palavra para o Sr. Muaz Jamal, do Comitê Central da Frente Democrática para a Libertação da Palestina.

 

O SR. MUAZ JAMAL - (Pronunciamento em língua estrangeira).

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Obrigado, Muaz, por sua participação. Muaz que está residindo na Venezuela.

Passo agora a palavra para o Sr. Pedro Charbel, do BDS - Movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções.

 

O SR. PEDRO CHARBEL - Boa noite a todos e todas. O companheiro que me antecedeu descreveu muito bem o que está se passando hoje contra o povo palestino. Estamos falando não só da ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, mas de um sistema de apartheid contra todos os palestinos e palestinas pelo mundo. São milhões de refugiados esperando pelo dia em que poderão exercer seu direito inalienável de voltar às suas terras, de onde foram expulsos com a criação do Estado de Israel e a ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

São 20% de palestinos que vivem hoje dentro do que é Israel e não têm os mesmos direitos que os israelenses e os judeus, são cidadãos de segunda classe. Depois de décadas de apartheid, colonização, limpeza étnica e ocupação militar, os palestinos e palestinas fizeram um chamado a todos nós. Um chamado para que nós, do Brasil, fizéssemos parte da luta deles através de boicote, desinvestimentos e sanções - fazer pressão para que nosso governo deixe de ser o quinto maior comprador de armas de Israel.

Esse movimento só tem crescido e efetivado o que é importante recordarmos nesse Dia Internacional em Solidariedade ao Povo Palestino, que é a verdadeira solidariedade. Ela não é só retórica, colocamos em prática rompendo nossos vínculos com a ocupação, o apartheid e a colonização. A verdadeira solidariedade é colocada em prática conectando as lutas de muitos movimentos sociais, que estão aqui hoje. Nossos movimentos sociais, no Brasil, sofrem repressão - que é feita utilizando armas e tecnologias que são compradas de Israel e suas empresas, que testam essas armas e tecnologias no povo palestino, que hoje é um laboratório de repressão e opressão.

As armas israelenses, a tecnologia de repressão e os “caveirões” são, sim, os melhores - isso porque existem laboratórios confinados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e toda a Palestina histórica a serviço dessas tecnologias. E por isso temos que pressionar nossos governos e entidades, até mesmo os locais, para que não contratem empresas como G4S, a maior empresa de segurança privada do mundo. Uma empresa britânica que administra as prisões onde estão os prisioneiros políticos que o companheiro mencionava.

Há nessa semana um chamado internacional de ação contra a HP - Hewlett-Packard, a empresa de computadores e impressoras que faz com que os serviços de bloqueio à Gaza continuem, com a informatização dessas prisões, que distinguem os palestinos por critérios étnico-raciais com biometria nos postos de controle. Esses sistemas estão aqui, na Assembleia, na Câmara, na Prefeitura, no Estado, no governo federal, em nossas universidades. Então, é contra esses objetivos específicos que o movimento tem avançado e sido muito bem-sucedido.

Esse é um movimento de todos nós, estou aqui apenas representando o Comitê Nacional Palestino do Movimento BDS, que reúne uma ampla coalizão de forças da sociedade civil palestina, algumas delas aqui presentes. Faço esse chamado a vocês para que ecoemos os chamados dos palestinos, para essa pressão pelos direitos humanos, por direitos internacionais, por liberdade, igualdade e justiça. Se os estados e empresas globalizam a barbárie, é nosso dever internacionalizar, cada vez mais, nossa resistência, conectando nossas lutas em uma solidariedade efetiva com o povo palestino. Nosso movimento é efetivo e vitorioso, por isso Israel está tentando barrar esse movimento. Tem orçamento internacional para combatê-lo, tem leis para barrá-lo, está tentando nos criminalizar e barrar a todo custo esse movimento, que tem impacto econômico e simbólico sobre o apartheid israelense.

Eu convido a todos para se somarem a esse movimento. Agradeço ao deputado pela disposição deste evento e espero que consigamos, cada vez mais, avançar com todos os movimentos sociais, organizações e com todos vocês nos seus espaços - sindicatos, universidades e empresas. Podem ver, quais são os vínculos institucionais com a ocupação, apartheid e colonização - e vamos, juntos, lutar com o povo palestino por liberdade, igualdade e justiça. Viva a luta palestina!

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT – Obrigado, Pedro. Gostaria de passar a palavra para a Sra. Djacira Maria, da Brigada Ghassan Kanafani da Via Campesina.

 

A SRA. DJACIRA MARIA - Boa noite a todos e todas, quero agradecer o deputado Luiz Turco pela oportunidade de estar aqui em nome da Via Campesina e da Brigada Ghassan Kanafani, que organiza camponeses brasileiros e latino-americanos. Recentemente, estivemos na Palestina durante um mês, prestando solidariedade na colheita de azeitonas - embora haja um bloqueio para que os palestinos não retornem e para que organizações como a nossa não façam o trabalho dessa forma. Mas a solidariedade entre os camponeses do mundo não pode ser bloqueada.

Com essa convivência nós podemos perceber a dimensão e, por isso, a identidade de nós, campesinos. E também a solidariedade que nós estamos prestando há alguns anos, indo às brigadas e colheitas onde os camponeses são a população mais sacrificada - embora na Palestina não tenha essa separação muito nítida, porque o laço com a terra, a defesa do território, é condição fundamental de reprodução e organização da sociedade palestina. O que acontece na Palestina é uma completa violação e agressão, uma política expansionista e colonialista, que priva o povo palestino do direito à sua reprodução enquanto sociedade.

O Estado tira as condições dos camponeses de produzir na terra, tiram as condições da comunidade palestina de acesso à água, acesso aos portos, ao comércio, gerando uma competição desleal e agressiva, que viola as condições de reprodução da comunidade palestina.

A Brigada Ghassan Kanafani, da Via Campesina, voltou mais imbuída em manter a nossa solidariedade e parceria, inclusive nas tecnologias que vêm sendo desenvolvidas pelos agricultores e camponeses da Palestina. Tecnologia de ponta, reproduzida em larga escala, que, inclusive, tem recebido Prêmio Nobel de diversos governos e países aqui da América do Sul.

Isso é importante registrar e dizer. Para nós, é fundamental manter nossa solidariedade pela campanha de libertação dos lutadores, ativistas e todos os prisioneiros palestinos, em especial as crianças. É um absurdo que crianças de 12 anos estejam enfrentando tribunal militar, sendo encarceradas, e o mundo calado sobre isso. É um absurdo que tenhamos, ainda nesse século, um muro de apartheid três vezes maior do que o muro de Berlim, duas vezes mais alto, e o mundo e as autoridades calados diante disso.

Quero dizer da importância desta Casa promover esse debate. Nós, da Brigada Ghassan Kanafani, e os militantes dos movimentos populares que estão aqui presentes e que têm participado dessa luta, continuamos com a tarefa e o desafio de manter nossa solidariedade.

Quero agradecer especialmente a solidariedade que o povo palestino prestou à Escola Nacional Florestan Fernandes e ao MST durante nossa passagem por lá. Os movimentos também estão sendo criminalizados. Tivemos, por parte dos nossos irmãos campesinos da Palestina e diversas organizações sociais e políticas, toda a solidariedade em moções de apoio.

Para nós, não é apenas prestar solidariedade, mas agradecer ao povo palestino por sua luta, porque nos sentimos irmanados em muitos objetivos, e nessa caminhada de conquista da dignidade dos camponeses e do povo no mundo. Por uma soberania alimentar, por pátria livre e território. O povo tem direito de lutar por isso, é condição fundamental para o povo palestino. Palestina livre. Viva a Palestina. Free Palestine.

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Agradeço pelas palavras da Djacira, obrigada pela presença. Passo a palavra para a Maria Júlia, da Marcha Mundial das Mulheres.

 

A SRA. MARIA JÚLIA - Boa noite, companheiros e companheiras. Gostaria de agradecer à organização desse evento e ao deputado. É muito importante a realização de um evento como este, de solidariedade internacional, ainda mais em um momento de avanço do individualismo e da ideia de que nossos problemas não devem ser resolvidos através de organização coletiva. Um evento de solidariedade internacional como este é de extrema importância, hoje, para sermos solidários com nossas irmãs e irmãos palestinos, que estão sofrendo com o avanço do imperialismo - o mundo todo, mas, sobretudo, a Palestina, com avanço da guerra e miséria. Sabemos que o povo palestino tem uma resistência histórica, e as mulheres participam dessa resistência.

As mulheres estão lá com suas pedras e pedaços de pau, lidando diretamente com a escassez de recursos e garantindo a sobrevivência de suas famílias. Estão sofrendo com a violência sexual por parte dos soldados israelenses e de países que toleram o uso da violência sexual como arma de guerra. Se a guerra não é algo que deva ser tolerado, a violação do corpo das mulheres deve ser tolerada menos ainda, por qualquer cidadão que considere a dignidade humana como algo essencial em nosso exercício da cidadania.

Outubro desse ano foi o mês das mulheres. Tivemos uma grande mobilização das mulheres na Argentina contra o feminicídio. Tivemos na Polônia, também, a organização de uma paralisação dos trabalhos pelo direito ao aborto. Tivemos as mulheres islandesas se mobilizando em defesa da igualdade salarial no país. No fim de outubro, também tivemos uma grande marcha de mulheres palestinas em prol da paz. Todas as mulheres, desde as argentinas até as palestinas, estão em luta, pelo mundo todo, em defesa do seu trabalho, do seu corpo e de seus territórios, colocando em prática uma palavra de ordem que, para nós, da Marcha, é muito cara.

Nós queremos mudar o mundo para mudar a vida das mulheres, e mudar a vida das mulheres para mudar o mundo. Para nós, quando temos mulheres livres, temos povos soberanos. Muito obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Obrigado, Maria Júlia, pela presença, representando a Marcha Mundial das Mulheres. Agora, passo a palavra para nossa amiga, Socorro Gomes, do Conselho Mundial da Paz.

 

A SRA. SOCORRO GOMES - Obrigada, presidente, pela palavra. Boa noite a todos. Para nós do Conselho Mundial da Paz é uma honra vir aqui, em nome dos pacifistas de vários continentes. Há uma semana realizamos nossa Assembleia Mundial da Paz, em São Luiz do Maranhão, e elegemos uma nova direção para o Conselho Mundial da Paz. Ali, estabelecemos, como questão sagrada, reafirmar o compromisso com a solidariedade militante, com a causa do povo palestino.

Compreendemos que essa é uma questão não do Oriente Médio e do povo palestino, mas de toda a humanidade. Para todos nós, é injusto - e um crime contra a paz, contra o direito internacional - uma potência extremamente armada - uma das mais poderosas do planeta, que conta com apoio diário dos Estados Unidos - manter um sistema de ocupação que já vem desde o século passado. Desde 1948, quando, pela força bruta e intimidação, pelo terror, assassinato e perseguição, expulsaram os palestinos de suas terras e ali dominam pela força.

Até hoje, o que ocorre é o muro do apartheid, o colonato militarizado, e a imposição de um estado racista e fascista que impõe o terror. É, portanto, um governo sionista contra um povo. Então, para nós, é uma questão essencial a luta pelo estabelecimento do Estado Palestino livre, soberano, independente, com sua capital em Jerusalém Leste.

Por esse motivo, o Conselho Mundial da Paz vem, nesta sessão, trazer seu apoio e compromisso, e dizer que não é possível que no século 21 nós ainda não tenhamos resolvido uma questão que é de direito e da justiça, que é a soberania de um povo que estava ali e foi usurpado.

Com várias declarações e resoluções da ONU, de lá até hoje, em nenhum momento, a soberania foi respeitada pelo Estado de Israel. Tampouco as resoluções a respeito da soberania, da sua capital, do direito de retorno dos refugiados, resoluções sobre a questão dos prisioneiros. O que vimos é o que a companheira nos falou, são mais de 197 crianças presas esse ano nos cárceres de Israel. Estivemos em algumas reuniões, inclusive com ex-presos, e ali vimos uma garota de 14 anos denunciando que foi presa, sem direito a advogado, ficando distante de seus pais e condenada a meses de prisão. Ali havia várias outras crianças e adolescentes em solitárias, isolados. Qual foi o crime? Jogar pedra num tanque de soldados israelenses, armados até os dentes.

Essa tem sido a forma com que o Estado de Israel trata o povo que a própria Organização das Nações Unidas garante sua resistência e busca por soberania e independência, como direito de um povo oprimido e massacrado. É por isso que eu digo que esta homenagem, hoje, é um direito e dever. Significa que o povo palestino conta com a solidariedade dos líderes, das vanguardas, dos movimentos, dos povos e de todos aqueles que, consciente e sinceramente, querem a paz e a justiça.

O povo palestino tem seu direito garantido pela ONU de ser um estado não com direito pleno, mas observador. Isso não é o suficiente, mas cada vez mais o Estado sionista de Israel está se isolando, porque a humanidade não aceita mais tanta opressão e injustiça.

Pelo Estado soberano, livre e independente do povo palestino. Pelo direito de retorno de todos os refugiados e pela libertação imediata dos prisioneiros políticos. Viva o povo palestino livre e independente! Obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Obrigado, Socorro, parabéns pelo trabalho no Conselho Mundial da Paz. Vamos ouvir agora a palavra do Sr. Buzetto, do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra.

 

O SR. MARCELO BUZETTO - Boa noite a todos e todas, quero agradecer nosso companheiro e deputado estadual Luiz Turco, por ter a coragem de assumir essa luta em defesa de uma causa justa, que é a causa do povo palestino e de toda a humanidade, como já foi dito aqui. Estamos cada vez mais, no Brasil, precisando de parlamentares como o companheiro Luiz Turco, para que assumam essa tarefa de fortalecer a solidariedade com um povo heroico, que tem sofrido muito, mas que dá um exemplo para toda a humanidade de resistência, coragem, dignidade e ousadia.

Esse é o povo palestino: ousadia, persistência, dignidade e coragem. O povo palestino teve a coragem de desencadear um dos mais importantes movimentos de libertação nacional do século 20, e continua fazendo a resistência popular neste início de século 21. Se olharmos para a história da Palestina de 69 a 88 veremos como esse povo heroico foi caluniado, combatido e reprimido nesse período. Enfrentou o imperialismo estadunidense e europeu, sionismo, governos árabes que traíram a causa dos povos árabes e muitas vezes se esqueceram da importância estratégica que tem a luta palestina.

A revolução palestina nunca esteve desvinculada das lutas sociais e políticas dos povos árabes pela justiça, democracia e liberdade. O povo palestino representa, hoje, um dos mais importantes movimentos de libertação nacional que a história recente conhece. Temos que aprender com os palestinos sobre sua capacidade de resistência.

Portanto, no Brasil, são muito importantes iniciativas como esta. Estamos dialogando com o Luiz Turco e outros deputados estaduais e federais para construirmos no Brasil, no próximo ano, um poderoso movimento de solidariedade no interior dos parlamentos.

Com essa iniciativa, queremos fomentar e estimular a criação da Frente Parlamentar em Defesa do Povo Palestino, aqui nesta Assembleia. O Luiz Turco já assumiu essa tarefa desde o ano passado, de construir as condições para que exista, nesta plenária, uma frente como essa. Que ano que vem lancemos como um desafio para todos nós construir em Brasília, já estamos conversando com vários deputados federais solidários a causa palestina, para criar uma frente dessas.

Ano que vem também queremos construir um encontro nacional e internacional de parlamentares em defesa do povo palestino. Nós, do MST, temos uma identidade muito forte com a Palestina. Eles lutam pela terra, por justiça e transformações sociais, por isso nos identificamos com eles.

Quero terminar lembrando que deveríamos firmar um compromisso para fortalecer, no Brasil, as campanhas de solidariedade. Seja por boicote, como já foi falado sobre o BDS, mas também por uma campanha pela libertação dos prisioneiros palestinos. São mais de sete mil pessoas em cárceres israelenses.

É nossa tarefa fortalecer, a partir de agora, essas campanhas, para que os palestinos possam viver livres e, assim, sair das prisões para se juntarem a seu povo e fortalecer ainda mais essa luta justa, que um dia vencerá. Nós acreditamos que nada, nem ninguém, pode impedir a marcha de um povo por sua libertação - nem os aviões e bombas que Israel joga em Gaza, nem a violência praticada por eles contra crianças e mulheres, nem a prisão, assassinatos, genocídio e limpeza étnica que Israel pratica.

Nós temos certeza que um dia nos reuniremos aqui para comemorar a libertação do povo palestino e de sua pátria. A Palestina será livre, porque ninguém pode impedir um povo de conquistar a justiça, liberdade e independência nacional. Sabemos que um dia os palestinos viverão em paz num Estado único, laico e democrático em toda a Palestina histórica, onde judeus, cristão, muçulmanos e ateus terão os mesmos direitos, independentemente de sua religião e posição política.

Quero agradecer essa iniciativa do companheiro Luiz Turco e firmar mais uma vez o compromisso do MST em conjunto com todas as organizações que estão aqui, para levarmos adiante essa luta e fortalecer a solidariedade brasileira ao povo palestino. Viva a Palestina livre.

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Obrigado, Marcelo, e parabéns pelo trabalho frente ao MST. Gostaria de agradecer, também, a presença e convidar para fazer sua saudação o Edmilson Costa, representando o Partido Comunista Brasileiro.

 

O SR. EDMILSON COSTA - Boa noite a todos. Camaradas palestinos, recebam uma saudação fraterna, combativa, internacional e revolucionária da militância e da direção nacional do Partido Comunista Brasileiro. Queremos dizer que assistimos indignados à violência e às atrocidades que, diariamente, as forças sionistas cometem contra os palestinos. São bombardeios de hospitais, destruição de casas, prisões arbitrárias, tortura. Tudo isso contra uma luta justa de um povo que vem apresentando sua resistência de maneira firme, e que é um exemplo para toda a história de resistência dos povos.

Queremos dizer, também, que essas atrocidades que os sionistas cometem contra os palestinos se assemelham muito àquilo que os nazistas cometiam contra os judeus nos campos de concentração. Nós gostaríamos de dizer, também, que vemos com orgulho, alegria e esperança a resistência do povo palestino, que enche de orgulho todos os revolucionários e lutadores do mundo. Nós temos a confiança de que muito mais cedo do que os sionistas pensam, os palestinos conquistarão sua independência e libertação. Nesse dia, iremos fazer uma enorme comemoração em todas as partes do mundo que desejam a liberdade e emancipação dos povos. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Obrigado pela presença e apoio, Edmilson. Ouviremos, agora, o Sr. Khalad Mahsin, do Campo Progressista Árabe.

 

O SR. KHÁLED FAYEZ MAHASSEN - Deputado Luiz Turco, presidente desta sessão; Marcelo; Socorro Gomes, camarada do Conselho Mundial da Paz; José Reinaldo, do PCdoB; Edmilson Costa, do PCB; Benedito Cintra, autor deste projeto; todos os camaradas, companheiros e companheiras aqui presentes. Vindo para cá, comecei a rabiscar algumas palavras, porque não tive tempo de fazer o discurso hoje.

Ouvindo todos falando da Palestina e do extermínio de seu povo, da sua luta e do abuso israelense contra os palestinos, lembrei-me da minha juventude, quando, no sul do Líbano, fui fazer treinamento militar para defender a Palestina e o sul do Líbano contra a invasão israelense, que era ameaça constante ao Líbano. Portanto, falamos em solidariedade e aprendemos a fazer isso nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, e muitos outros lugares em Beirut e sul do Líbano. Assim, a luta dos povos não se restringe a uma nação, a Terra é um povo só. Onde um ser humano é atingido, vamos sentir onde quer que estivermos - no Brasil, no Oriente Médio, nos Estados Unidos, na Rússia. Não importa onde, porque o corpo humano é um só.

Entrei falando exatamente desse extermínio, mas, antes de seguir, quero saudar e homenagear um grande amigo da Palestina, dos palestinos e de sua causa, o grande revolucionário e comandante Fidel Castro. Ele sempre terminava seu discurso dizendo: “hasta la vitoria, siempre”.

Falo aos meus irmãos palestinos hoje que é necessário unir forças palestinas em uma só plataforma de luta, em todos os campos, para reconquistar a terra palestina do sul do Líbano, do Mar Mediterrâneo ao Mar Morto e ao Mar Vermelho. Nenhum milímetro da terra palestina será deixado de lado. O mapa completo é parte integrante do mundo árabe, do Oriente Médio, e símbolo de luta de todos os povos. O grande líder Nasser dizia que o que foi tomado pela força não será retomado sem ser pela força. O profeta Mohamed também dizia que a manutenção da paz exige uma espada. Negociar a paz com quem tem uma espada grande na mão e impõe suas vontades, praticando o extermínio contra o povo palestino e outros povos?

No Iraque recentemente, recebemos um vídeo em que o Mossad, junto com Isis e outras forças de extrema direita mundial, têm destruído aldeias cristãs e expulsando os mesmos do Iraque. Assim eles fizeram na Palestina nos anos 20, 30 e 40. Por causa disso, estamos de olhos abertos, tanto na Síria quanto no Iêmen, uma terra que os sionistas reivindicam não pela terra em si, mas pela riqueza que lá consta, o mesmo é feito no Iraque e na Síria. Esse Estado israelense e o Tratado de Oslo estrangularam a luta do povo palestino.

Camp David e tantos outros tratados são rejeitados por nós. A luta e revolução árabe devem continuar em todos os países árabes - Tunísia, Egito, Iêmen, na região do Golfo, onde há repressão às mulheres, aos movimentos políticos, às crianças e ao estudo, a tudo. Somos privados de tudo no Golfo. Essa luta deve se estender até lá.

Em Bahrein, por exemplo, 70% da população é xiita e governada por um rei tirano, que priva seu povo de seus direitos - não porque são xiitas, mas por lutarem por seus direitos humanos, direito à escola e à vida digna. Um país rico de petróleo, explorado pelos americanos e pela Inglaterra, onde há a maior base aérea dos Estados Unidos no Golfo.

Essa luta é muito grande, deputado Luiz Turco. Há dezenas de projetos israelenses em curso para conquistar a Palestina inteira. Há um movimento no deserto de Neguev de sionistas agindo para expulsar os beduínos de suas terras. Tudo isso é inaceitável. Nós agradecemos por esta solidariedade de hoje, mas juntos temos que trabalhar para dar continuidade em todos os estados e na Câmara federal.

Não vou estender muito, mas quero declamar um poema.

“A terra. O grito da terra. Terra do (expressão em língua estrangeira). Grito da terra e grito do (expressão em língua estrangeira). É grito do faminto, da liberdade, da cidadania. É grito da (expressão em língua estrangeira). É grito da terra que (expressão em língua estrangeira) não verá mais. É grito da terra roubada e abusada, e gritos dos samurais partindo dos corações das crianças palestinas ao atirarem uma pedra, ou amaldiçoar um traidor, ou enfrentar um soldado frio e sangrento. Quantos os gritos. É grito da mãe ao enterrar o filho mártir, grito do pai nas masmorras sionistas pela liberdade. É grito da casa caída. Gritos, gritos e mais gritos. A terra não perdoa, a lágrima voa e o corpo sua, sua, sua. Luta, luta pela Palestina. As oliveiras? Mataram as oliveiras, ficou a terra. Mataram o homem, ficou a terra. A criança brota do ventre da terra, se torna homem, se torna mulher, se torna mártir e fica a terra. O deserto? Macularam o deserto, abusaram das pedras, mancharam (expressão em língua estrangeira). Macularam a natividade e riram, riram e riram da nossa luta. Terra? Não há terra, não há liberdade, não há justiça, não, não há dignidade sem luta. Não há terra sem luta. Não há justiça sem luta. Pedra, pedra, casa, pedra, pau, cerca, pau, planta, morte, parto, morte, grito, luta, força, força, terra, terra, retomada pela luta, pela força, pelo sangue que jorra, jorra da terra.” Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Muito obrigado, Kháled, lindo poema. Passo a palavra agora para o Sr. Amjad Abu Hasna, do Centro Cultural Árabe Palestino de São Paulo.

 

O SR. AMJAD ABU HASNA - Boa noite a todos, agradeço ao Sr. Luiz Turco pelo convite; agradeço ao companheiro Kháled Mahassen; ao Sr. Benedito Cintra, autor do projeto de solidariedade com o povo palestino aqui na Alesp; ao Centro Cultural Árabe Palestino de São Paulo, que foi fundado com o intuito de ajudar e preservar a cultura árabe palestina no Brasil inteiro e ser um instrumento importante para reorganizar nossa comunidade em conjunto com outras entidades palestinas já resistentes.

Vamos contribuir e trabalhar para o futuro, garantindo a presença da comunidade árabe palestina aqui no Brasil em todas as ações referentes à questão palestina, interagindo e estreitando laços com as demais comunidades residentes em São Paulo, divulgando nossa cultura e nossa história, que o estado sionista tenta apagar. Tentam apagar nossa cultura todos os dias, em vários lugares, a cada momento. Eles mostram para todos que nossa comida árabe e palestina é israelense, mostram nossa música como sendo deles, nossas roupas como deles.

Estamos aqui para mostrar a todos que o povo palestino e sua terra existem. O estado sionista, através de seu domínio dos principais meios de comunicação mundiais, tentam apagar da memória mundial a existência do povo palestino e sua terra. Nós queremos, através do CCap, fazer, dentro de nossa capacidade, a defesa da cultura e da história milenar do nosso povo. Nossa tarefa é ajudar a desmascarar as propagandas sionistas que utilizam de mentira como meio para justificar que a terra palestina era sem povo.

A cidade de Jericó, por exemplo, tem 11 mil anos nessa história. Nossa história tem raízes profundas, tanto quanto a idade dessa cidade. A Palestina e seu povo existem. A limpeza étnica que o estado sionista pratica não alterará isso, porque o povo palestino manterá sua luta por seus legítimos direitos de retorno, de estado independente e pela autodeterminação. Viva o Brasil, viva a Palestina.

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Em nome do Centro Cultural Árabe Palestino de São Paulo e em meu nome, gostaríamos de chamar o Sr. Marcelo Buzetto, do MST; Sr. Benedito Cintra, ex-deputado e criador da lei que homenageia esta data; Sra. Claude Hajjar, ativista solidária à causa palestina; e Hilau Shrif, ex-presidente da Sociedade Árabe Palestina em São Paulo, para receberem uma homenagem.

 

* * *

 

- São entregues as homenagens.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Gostaria de passar a palavra e agradecer a presença do ex-deputado Benedito Cintra. Para nós é uma alegria muito grande receber o deputado desta Casa, de 1983 a 1987. Em 84, criou a lei que homenageia essa data. Com a palavra.

 

O SR. BENEDITO CINTRA - Sr. Presidente desta sessão, deputado Luiz Turco; companheiros e companheiras das entidades. Boa noite. Em 1983 eu tomei posse como deputado nesta Casa, já com a intenção deliberada de articular algo que visasse o fortalecimento da causa e luta do povo palestino. Isso em função que num momento anterior a minha posse eu ocupava a vereança em São Paulo.

Junto com as entidades populares e democráticas daquele período e as entidades que representavam os árabes palestinos, nós fomos às ruas, universidades e outros parlamentos para prestar solidariedade ao povo palestino, em função da ocupação do sul do Líbano pelo exército israelense. Exatamente naquele momento ocorreram os massacres de Sabra e Chatila.

Isso causou uma comoção em São Paulo, e, portanto, o fortalecimento dessa convicção de que eu não poderia passar por esta Casa sem ser um agente ativo na solidariedade ao povo palestino. Em função disso apresentamos um projeto de lei que demorou mais de um ano para ser aprovado. Essa demora não foi por um problema burocrático ou porque a tramitação foi lenta, foi por injunção de interesseiros vinculados aos interesses do governo de Israel, que acabaram prorrogando a aprovação desse projeto, senão ele teria sido aprovado em 83.

Daquele período para cá, quando olhamos o mapa geopolítico do mundo, percebemos muitas mudanças. Era um período em que havia o campo de socialismo real, o apartheid estava em vigência na África do Sul, vivíamos sob ditadura no Brasil, no Uruguai, na Argentina, muitas colônias africanas não tinham terminado seu processo de reestabelecimento da identidade nacional. Hoje muitas dessas situações já mudaram, mas também mudou a situação do povo palestino.

De qualquer forma a invasão do Líbano, se tinha como pretexto expulsar o OLP do sul do libado ou do Líbano - se eu não me engano a OLP teve que se instalar na Tunísia naquele período - nós temos, hoje, uma representação institucional, que é a Np, que comanda pelo menos a Cisjordânia e Faixa de Gaza. E temos a Autoridade Nacional Palestina como membro observador das Nações Unidas. Naquela época a propaganda toda dizia que a OLP era uma entidade terrorista, e outras que depois vieram aparecendo nesse processo todo.

Eu peguei esse panorama da década de 80 e houve algum avanço. O problema é que o lado contrário teve muito mais apoio para continuar suas ações terroristas contra as populações árabes e palestinas do que tiveram os palestinos. Coloco isso porque não podemos admitir. Quando analisamos a situação de Israel, pensamos economicamente. É o quinto ou sexto exportador de armas do mundo - tem um PIB absolutamente artificial, porque não é pela produção nacional, mas por ajuda estrangeira do imperialismo americano e seus cachorrinhos de estimação da Europa. É uma desproporção nesse avanço todo.

O fato que percebemos é que apesar dos avanços das lutas democráticas, populares e progressistas no mundo, nós ainda nos defrontamos com essa situação que as companheiras e companheiros já situaram - das prisões arbitrárias, do encarceramento de crianças e mulheres, da instalação de assentamentos forçados em todas as regiões dentro e fora da Palestina, da construção de um muro de quase 800 quilômetros na Cisjordânia e do massacre diário para uma população praticamente indefesa.

Aliás, há estudos da ONU que dizem que esses problemas todos provocados pelas ações israelenses, e por um certo boicote branco das potências, faz com que a Palestina perca oxigênio econômico, e isso pode gerar uma crise maior do que essa que temos aqui, em função de que a população não pode respirar, não pode sair de casa, gerar economia. E isso traz consequências absolutamente traumatizantes.

Para finalizar, de 2009 a 2018, do ponto de vista financeiro dirigido ao fortalecimento da máquina militar israelense, os americanos, através do seu programa de financiamento militar estrangeiro, enviará para Israel mais de 30 bilhões de dólares. Mas recentemente, em uma conversa entre o primeiro ministro israelense e o presidente Obama, parece que essa quantia pode chegar a 40 bilhões a partir de 2018, o que significa que essa situação tende a perdurar.

Se levarmos em conta que o novo presidente dos Estados Unidos é portador de uma imprevisibilidade em certas ações, precisamos entender que as ações que alguns levantaram aqui - de ampliar os laços de solidariedade, não só nos parlamentos, mas em universidades, sindicatos e sociedade como um todo - é essencial para que possamos reverter esse quadro e dar às outras populações o exemplo que recebemos dos palestinos, do heroico povo. Exemplo que é a luta até que a vitória seja concretizada em cima daqueles pontos que levantamos aqui.

Foi com essa intenção que elaboramos a lei. Hoje, esta sessão é parte da realidade daquele antigo objetivo. Estamos aqui, vamos ampliar a solidariedade, a luta e continuar nessa guerra para que saiamos vitoriosos um dia. Viva a luta do povo palestino. Viva a Palestina.

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Chamo agora nosso amigo e companheiro Marcelo Buzetto, para também fazer uma homenagem.

 

O SR. MARCELO BUZETTO - Gostaríamos de entregar para nosso companheiro Luiz Turco uma pequena lembrança que trouxemos do Líbano. Ao final do ano estivemos no sul de Beirut, no Encontro da Campanha Global para o Direito de Retorno, que luta no mundo inteiro, junto com outras iniciativas, para que os palestinos tenham direito de retorno, pelo cumprimento da Resolução 194 da ONU. Trouxemos aqui uma pequena lembrança, me disseram para entregar essa quefir para um lutador brasileiro e amigo dos palestinos.

 

* * *

 

- É entregue a homenagem.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Agradeço ao Marcelo e, em nome dele, a toda a comunidade palestina. Assistiremos agora a uma apresentação cultural dos palestinos.

 

* * *

 

- É feita a apresentação.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - LUIZ TURCO - PT - Agradeço a manifestação do povo palestino e essa atividade cultural. Quero agradecer todos os presentes, homens e mulheres, que vieram aqui hoje movidos pelo mais belo sentimento que existe, a solidariedade. Gostaria também de prestar uma justa homenagem a um grande amigo da causa palestina que faleceu na última sexta-feira, Fidel Castro. Ele e o povo de Cuba sempre apoiaram a causa palestina, e para ele peço uma grande salva de palmas.

De 1948 a 2016 são 68 anos de ocupação israelense, de genocídio, limpeza étnica e apartheid praticados pelo governo de Israel contra o povo da Palestina. Os palestinos chamam de Nakba a catástrofe que lhes expulsou de suas casas, vilas e cidades. Nossos irmãos palestinos são apoiados por resoluções internacionais emitidas pela própria ONU, como a célebre Resolução 194, em que sustenta para fim do próprio conflito a importância do retorno dos refugiados palestinos à sua terra natal. Entretanto, Israel nunca cumpriu essa e nem outras determinações.

Como sabem, consideramos que a origem do conflito está na divisão da Palestina em dois estados, feita ilegalmente pela ONU em 29 de novembro de 1947. Foi o chamado Plano de Partilha da Palestina, sem consultar o povo e nenhum tipo de referendo. A ONU nasceu cometendo esse grave erro. O diplomata brasileiro na ONU, Sr. Osvaldo Aranha, comandou a sessão que aprovou tal medida. Grupos armados sionistas se aproveitaram da situação e se uniram para dar um golpe de Estado, fundando o chamado Estado de Israel. Esta é a origem do conflito.

Não temos e nunca teremos nada contra os judeus, nossa crítica é ao sionismo, movimento político colonialista que governa Israel desde seu nascimento. Queremos ver um dia o estado palestino único em toda a Palestina histórica, onde judeus, cristãos, muçulmanos, drusos, ateus e pessoas de qualquer religião ou posição política possam viver em paz e com direitos iguais em um ambiente de coexistência, fraternidade e união. Temos o compromisso moral de, não só nesta data de hoje, mas em todos os dias do ano, prestarmos nosso apoio e solidariedade ao povo palestino.

Será preciso esperar mais quantos anos para que os refugiados palestinos, que segundo a agência da ONU, que presta assistência a eles possam voltar para suas casas e viver em paz? Estima-se atualmente em mais de sete milhões espalhados pelo mundo. Por isso, apoiamos a Campanha Global Pelo Retorno à Palestina e outras iniciativas que exigem o cumprimento da Resolução 194 - Direito ao Retorno, um passo fundamental para a paz.

Também exigimos a liberdade dos cerca de sete mil prisioneiros políticos palestinos em cárceres israelenses, sendo quase 500 crianças. Exigimos que Israel se retire de Jerusalém, reconhecida internacionalmente como capital do Estado Palestino. Nós, aqui no Brasil, através dos partidos políticos, movimentos populares, intelectuais, parlamentares, sindicatos, estudantes e sociedade civil como um todo, também continuaremos, dia após dia, impulsionando a solidariedade concreta a essa causa de toda a humanidade.

Defender o povo palestino é defender o direito à soberania, independência e autodeterminação nacional, direitos assegurados pela carta de fundação da ONU. Para ter paz no mundo é preciso acabar com o colonialismo, com as intervenções de potências imperialistas no mundo árabe e do Oriente Médio. Como deputado estadual e unidade com setores populares e progressistas do Brasil, aproveito este movimento para convocar as diferentes forças políticas desta Casa e Estado para construirmos a Frente Parlamentar em Solidariedade ao Povo Palestino, pois é instrumento fundamental para fazer cumprir nossa constituição cidadã, que prega justiça social e solidariedade com os povos oprimidos.

Criar em todo o Brasil, nos parlamentos municipais, estaduais e nacionais frentes de solidariedade ao povo palestino. Em São Paulo, o governo do estado gasta milhões comprando armas, equipamentos e carros blindados israelenses usados no genocídio contra o povo palestino. Sobra dinheiro para repressão e criminalização dos movimentos populares, e a falta de dinheiro para Educação e Saúde. Os mesmos métodos que estão matando a juventude negra e pobre da periferia de São Paulo, são os métodos usados por Israel na repressão do povo palestino.

A PM de São Paulo gasta milhões treinando, em parceria com empresas e polícias israelenses, e o resultado dessa aproximação foi o aumento da letalidade nas operações policiais. A parceria que Israel faz com a PM de São Paulo é a mais violenta do mundo. Defender o povo palestino é defender o nosso próprio povo. Que setores democráticos e progressistas da comunidade judaica possam se somar a essa luta de justiça, paz e solidariedade. Os judeus foram duramente reprimidos pelo nazismo, os palestinos são duramente reprimidos pelo sionismo. O povo brasileiro está com o povo palestino. Basta de violência e massacre por uma Palestina livre. Muito obrigado.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência agradece às autoridades, à Mesa, à minha equipe, aos funcionários dos serviços de Som, da Taquigrafia, de Atas, do Cerimonial, da Imprensa, à TV Legislativa, às assessorias das Polícias Civil e Militar, bem como a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.

 

* * *

 

- Encerra-se a sessão às 21 horas 42 minutos.

 

* * *

 

Republicada por ter saído com incorreções.