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30 DE OUTUBRO DE 2017

 

071ª SESSÃO SOLENE EM comemoraÇÃO Aos 500 anos da Reforma Protestante

 

Presidente: CARLOS BEZERRA JR.

 

RESUMO

 

1 - CARLOS BEZERRA JR.

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia a composição da Mesa; e demais autoridades presentes. Informa que a Presidência Efetiva convocara a presente sessão solene, a pedido deste deputado, na direção dos trabalhos, para "Comemorar os 500 anos da Reforma Protestante". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro", executado pela Seção da Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

2 - LUIS VIRGÍLIO

Faz leitura bíblica de Ação de Graças.

 

3 - PATRÍCIA BEZERRA

Vereadora por São Paulo, cumprimenta as autoridades presentes. Faz questionamento sobre os próximos 500 anos. Ressalta a conquista trazida, naquela época, para todas as mulheres através da palavra libertária de Lutero. Destaca que era uma mensagem da salvação pela fé e graça, em uma época na qual a maioria das mulheres vivia em confinamento, em conventos. Lembra Catarina Von Bora, uma destas mulheres, inteligente, estudiosa, que em contato com esta mensagem teve uma atitude subversiva. Afirma que a mesma fugiu do convento com outras companheiras e acabou casando-se com Lutero. Relata que as mulheres deram voz ao movimento reformista, com a implantação de novas igrejas e a construção de escolas, uma nova forma de concepção da vida. Pede que nos próximos 500 anos sejamos reformistas e possamos trazer os questionamentos do momento da Reforma, devolvendo à mulher o espaço que lhe é devido.

 

4 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Anuncia a apresentação do Coral da Igreja Batista em Perdizes, com a regência de Edenir Carrasco, de "Castelo Forte", de Martinho Lutero.

 

5 - SÉRGIO RENATO FLOR

Pastor conselheiro da IELB - Igreja Evangélica Luterana do Brasil, cumprimenta as autoridades presentes. Diz estar orgulhoso em representar sua igreja. Saúda todos os presentes, em nome do presidente nacional. Cita frase de Lutero. Ressalta a força e a motivação de Lutero em seus feitos, assim como sua esposa Catarina. Menciona a pregação de teses como a salvação das pessoas. Destaca a aproximação da Palavra de Deus, descobrindo um Deus justo e que perdoa. Cita nova frase de Lutero. Lembra o trabalho de tradução da Bíblia, hoje publicada em três mil línguas, permitindo a leitura da mesma pela maioria das pessoas. Afirma que a base para a Reforma Luterana é a Palavra de Deus. Agradece por este momento.

 

6 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Anuncia a apresentação do Coral da Igreja Batista em Perdizes, com "Andai com Deus", de R. Rodgers e O. Hammerstein.

 

7 - LOURENÇO STÉLIO REGA

Faz intercessão a Deus pela Nação brasileira, com um agradecimento pela reforma ocorrida há 500 anos e um pedido para que ocorra uma grande reforma em nosso País.

 

8 - LEONILDO SILVEIRA CAMPOS

Reverendo, responsável pelo Programa de Pós Graduação do Mackenzie, dá uma visão histórica da Reforma Protestante. Lembra as festividades em todo o mundo quando, em 1983, completou-se 500 anos do nascimento de Lutero. Discorre sobre as reformas do século XVI. Menciona a comemoração hoje dos 500 anos da Reforma. Discorre sobre o momento histórico escolhido por Lutero para fixar suas teses e ser o dia da Reforma Protestante. Afirma que esta reforma começou antes destes 500 anos, com a insatisfação com a igreja. Ressalta que a hierarquia religiosa não soube interpretar os sinais do tempo, permitindo que Lutero iniciasse a tentativa de reformar a igreja. Diz ser o dia 31 de outubro o ponto de partida para uma nova visão da igreja. Afirma que Lutero representou para todos novos tempos e novas tendências. Questiona o futuro do protestantismo, já que o mesmo vem perdendo espaço para grupos que não conhecem Lutero e nem a Reforma Protestante. Pede que os impactos dos caminhos trilhados por ele sejam valorizados.

 

9 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Anuncia o Coral da Igreja Batista em Perdizes, com "Sicut Cervus", de G.P. Palestrina e "Nunc Dimittis", de Karl Jenkins.

 

10 - ALDERI SOUZA DE MATOS

Reverendo da Igreja Presbiteriana do Brasil, diz ser esta uma noite memorável, um momento especial e significativo. Saúda o deputado Carlos Bezerra Jr. e demais integrantes da Mesa. Agradece pela iniciativa desta sessão. Discorre sobre as origens da Reforma Protestante e seus primórdios, juntamente com as 95 teses de Lutero. Ressalta o extraordinário legado da reforma do século XVI, causando desdobramentos para toda a vida da sociedade. Discorre sobre as influências e as implicações políticas, intelectuais e sociais da Reforma. Destaca a celebração do legado da Reforma Protestante e os frutos nestes 500 anos. Afirma que um dos legados mais importantes foi a grande preocupação com a educação, já que a Reforma começou na universidade onde Lutero dava aulas. Recorda as teses de Lutero. Cita o princípio "somente a Escritura", com ênfase na Bíblia e na Palavra de Deus, para que ela fosse estudada e interpretada corretamente. Menciona o princípio do "livre exame das Escrituras", para que o povo de Deus tivesse condições para ler e estudar por si mesmos a palavra Dele. Cita o "sacerdócio de todos os crentes", no qual todo cristão é um sacerdote de Deus. Comenta a respeito dos documentos escritos por Lutero para que as escolas cristãs fossem mantidas, permitindo que todas as crianças estivessem na escola. Relata a preocupação de João Calvino também com a educação e a fundação, em 1559, da Universidade de Genebra. Afirma que as universidades de Harvard e Yale, entre as mais famosas e influentes no mundo e com mais recebedores do prêmio Nobel, foram fundadas pelos herdeiros da Reforma. Lembra a fundação em 1870, no Brasil, da Universidade Presbiteriana Mackenzie e a reforma no sistema educacional do estado de São Paulo em 1890. Considera uma alegria a celebração do legado extraordinário da Reforma, destacando as ideias, convicções e os valores bíblicos. Recorda o que considera o maior de todos os mandamentos, aquele que expressa seu amor a Deus.

 

11 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Anuncia o Coral da Igreja Batista em Perdizes, com a música "We believe", de Dan Forrest.

 

12 - SINODAL GERALDO GRAF

Pastor, representante da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, saúda os presentes com o salmo 133. Cumprimenta as autoridades e os presentes. Menciona a grande quantidade de comemorações e eventos ecumênicos, todos com respeito e comunhão. Destaca o compromisso de construção de canais de diálogo, buscando a superação em razão da violência e desigualdades sociais. Afirma que o mundo anseia pela paz com justiça. Menciona Martinho Lutero e a publicação de 95 teses. Ressalta a participação das mulheres nas reformas. Cita obras e documentos publicados por Lutero.

 

13 - MANOEL RAMIRES

Pastor, presidente da Convenção Batista Brasileira, cumprimenta as autoridades presentes. Destaca a redescoberta do evangelho e a luz da Palavra de Deus. Considera necessária uma reflexão para que seja feita uma reforma no Brasil. Destaca frase de Lutero. Ressalta a participação de homens e mulheres reformados espiritualmente na grande reforma em nosso País.

 

14 - ROBINSON JACINTO

Pastor, da Fraternidade Teológica Latino Americana, cumprimenta as autoridades presentes. Faz questionamentos a respeito da Reforma e o significado destes 500 anos. Afirma que a mesma significa um novo tempo, do espírito como fonte autêntica de vida e espiritualidade. Destaca a democratização das relações a partir do poder que oprime, a cidadania universal e o redescobrimento da igreja como força frente às injustiças.

 

15 - JOSÉ BRUNO

Pastor, de A Casa da Rocha, saúda as autoridades presentes. Afirma que o espírito do Lutero reformador atravessa a história. Relata que quando pensa em Lutero, pensa em morte e coragem, em alguém que está disposto a dizer não, mesmo que isto custe o seu pescoço. Cita frase de Lutero. Considera que o Brasil precisa de mais Luteros, pessoas prontas para morrer por aquilo em que acreditam.

 

16 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Destaca as diversas contribuições da Reforma Protestante, depois de 500 anos, nos campos da Educação, eclesiástico, social, política, entre outras. Questiona o porquê das reformas. Afirma que hoje vivemos tempos sombrios. Critica as ações no Congresso Nacional. Cita a não investigação do presidente da República e a mudança no conceito brasileiro de trabalho escravo. Considera o Brasil uma vergonha internacional no combate ao trabalho escravo. Discorre sobre os números da violência no País, com mais de 61 mil mortes violentas por ano. Diz ser este o momento de voltarmos às raízes, às Escrituras e retomar as velhas bandeiras para enfrentarmos as mazelas da nossa Nação. Pede que o espírito que moveu os reformadores, mova os atuais líderes cristãos deste País nestes tempos sombrios. Convida todos os presentes para a Convenção Batista Brasileira, a ser realizada no dia dois de novembro, na Sala São Paulo, com um concerto em homenagem à Reforma Protestante. Informa que serão distribuídos certificados a todos os presentes nesta sessão solene. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência abre a sessão o Sr. Carlos Bezerra Jr.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Neste momento então, vou convidar as autoridades aqui presentes para que componham a Mesa, nossa Mesa de trabalhos nesta noite. Eu quero convidar o Sérgio Renato Flor, pastor conselheiro da Igreja Evangélica Luterana no Brasil para que componha a Mesa.

Também convido aqui para que componham a Mesa o pastor Sinodal Geraldo Graf, representando neste ato a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil; convido também o reverendo Alderi Souza de Matos, que representa oficialmente neste ato a Igreja Presbiteriana do Brasil, grande historiador, grande Alderi. Convido também para que componha a Mesa conosco, neste momento, o pastor Manoel Ramires, presidente da Convenção Batista Brasileira do Estado de São Paulo.

E a ilustríssima presença feminina, que não poderia deixar de ser, vereadora por São Paulo, Patrícia Bezerra, ex-secretária municipal de Direitos Humanos, eu solicito que também componha a Mesa conosco nesta noite, neste ato solene pelos 500 anos da Reforma Protestante aqui na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata da sessão anterior.

Senhoras deputadas, senhores deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente efetivo desta Casa, atendendo à solicitação desse deputado com a finalidade de comemorarmos os 500 anos da Reforma Protestante.

Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web, e será retransmitida pela TV Assembleia; pela NET- canal 7; TV Vivo - canal 9; e TV Digital - canal 61.2.

Convido a todos os presentes para que, em pé, ouçamos o Hino Nacional Brasileiro executado pela Seção da Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do maestro subtenente Brizola.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Vamos nos sentar, agradeço a Banda da Polícia Militar sob a regência do maestro subtenente Brizola, muito obrigado.

Quero aqui, neste momento, fazer o registro da extensão dos componentes desta Mesa: bispo Luiz Vergílio Batista da Rosa, presidente da Igreja Metodista do Brasil; bispo Stanley da Silva Moraes, da Igreja Metodista; reverendo Jorge de França Souza, representando neste ato Dom Flávio da Igreja Anglicana; reverendo Leonildo Silveira Campos, do programa de pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, representante da Igreja Presbiteriana Independente; Dr. Jean Regina, diretor de Relações Institucionais da Anajure a quem eu faço uma menção especial pelo belíssimo trabalho que vem realizando e especialmente no campo de acolhimento de refugiados cristãos em nosso País.

E, também o registro da extensão de Mesa ao pastor Robson Jacinto, representando, neste ato, a Fraternidade Teológica Latino-Americana e a IBAB - Igreja Batista de Água Branca; pastor Ricardo Wesley Borges, amigo de tantos anos e que nos prestigia nesta noite, secretário associado para o engajamento com as escrituras da IFIS, nossa queridíssima ABU Internacional; queridíssimo professor Lourenço Stélio Rega, representante e diretor da Faculdade Teológica Batista aqui em São Paulo; o pastor José Bruno que dispensa maiores apresentações, aliás, já foi membro efetivo desta Casa, onde fez um grande trabalho, músico brilhante e cristão reconhecido nesta Nação, que abrilhanta a nossa sessão nesta noite, obrigado pela presença e por fazer parte da extensão da Mesa nesta noite.

Bom, eu quero convidar então, neste momento, sem mais delongas o bispo Luiz Vergílio para que faça a leitura bíblica de ação de graças nesta cerimônia.

 

O SR. LUIZ VERGÍLIO - Boa noite, a Palavra de Deus nos recomenda que sempre é tempo de celebrar. Com júbilo ao Senhor a todas as terras, servir ao Senhor com alegria e apresentar diante Dele com o cântico. Saber que o senhor é Deus e foi Ele quem nos fez e Dele somos, somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio, entrai por suas portas com as suas ações de graças.

E, nos seus átrios com hinos de louvor, rendei-lhe graças e bendizer-lhe o nome porque o Senhor é bom e a sua misericórdia dura para sempre, e de geração em geração a sua fidelidade, amém.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Neste momento passo a palavra à nossa queridíssima vereadora Patrícia Bezerra para que faça o uso da palavra, eu a convido para que faça o uso da palavra na tribuna.

 

A SRA. PATRÍCIA BEZERRA - Boa noite a todos e a todas. Quero cumprimentar todas as autoridades presentes aqui neste plenário e na pessoa do proponente desta sessão de homenagem aos 500 anos da Reforma, que é o presidente Carlos Bezerra Jr.

 Eu vou fazer uma homenagem aos 500 anos da Reforma, é claro que na perspectiva de que temos que fazer um questionamento sobre os 500 anos que virão. Pensar nos próximos 500 anos e que agora serão outros 500, mas, eu não poderia fazer um questionamento que não fosse pelo viés da conquista que naquela época, 500 anos atrás, foi trazida para todas as mulheres através da palavra libertária de Lutero.

E quando se trouxe a mensagem da salvação pela fé, pela graça, para a maioria das mulheres que ali viviam, que se encontravam em confinamentos e viviam em conventos. Catarina Von Bora foi uma dessas mulheres e uma mulher muito especial e inteligente, que fazia o uso de escritos e estudiosa do Latim. Quando teve contato com essa mensagem, que era sim libertária, ela teve uma atitude que também era subversiva: fugiu do convento onde esteve com mais 11 companheiras. E ela teve um outro ato que era completamente inaceitável, era extremamente vanguardista para aquele tempo e era um comportamento de uma mulher à frente de seu tempo. De uma mulher de atitude, ela escolheu com quem se casaria, e escolheu se casar com ninguém menos que Lutero.

Eu fiz uma brincadeira que Lutero só escreveu cinco teses e as outras 90, foram Catarina que escreveu, claro, que com muita negociação. Dizendo: “Eu deixo sua mãe passar todos os Natais aqui em casa, mas, me dá essas 90 teses para concluir 90 assim”. E como todos os maridos sabem fazer muito bem nessas negociações, ainda mais de Natal e festas de finais de ano.

Mas, brincadeiras à parte, ela não foi uma mulher que ficou à parte do Movimento Reformista. Assim como muitas mulheres daquela época, que tão não ficaram a parte como ao contrário, foram elas quem deram voz e capilaridade ao Movimento Reformista, que implantaram igrejas em outros locais e que começaram, inclusive, a construir escolas porque também trouxeram uma nova forma de concepção da vida e da participação social.

Porque toda a revelação da Palavra de Deus traz também consigo uma libertação e um aprimoramento social. Ela traz, em si, uma mensagem completa. Então eu queria trazer a contribuição do Movimento Reformista, para a libertação, crescimento, para o fortalecimento e para o protagonismo feminino. E, dizer que muito do que vemos acontecendo nos dias de hoje, como o crescimento da voz feminina, que muita gente critica do chamado movimento feminista e que tem muito exagero sim, é verdade. Porém, também traz consigo muito do que já veio no Movimento Reformista.

Esse movimento traz consigo muito do que veio na própria vida de Jesus. Ele dizia que não havia judeu e nem grego, nem preto e nem branco, nem homem e nem mulher. Quando ele dava voz a uma mulher com fluxo hemorrágico que não podia tocar em um homem público e que não podia dirigir a palavra a um homem público, mas, que ele parou tudo e perguntou: “Quem me tocou?” E o “quem”, em hebraico, já era dirigido ao feminino.

Então, nesses 500 anos que seguirão, que nós também sejamos reformistas e tragamos, de novo, os questionamentos daquele momento da Reforma. Também devolvamos à mulher o espaço da Igreja, o espaço eclesiástico, e também na sociedade, o espaço que lhe é devido. Obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Neste momento ouviremos o Coral da Igreja Batista em Perdizes, com a regência de Edenir Carrasco, com o clássico “Castelo Forte”, de Martinho Lutero.

 

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- É feita apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Gostaria aqui também de fazer algumas outras citações importantes e registrar a presença do amigo e querido pastor Miraídes Penha, presidente do Conselho de Pastores da Cidade de Mogi das Cruzes, também do Maruilson Souza, secretário nacional de Educação do Exército da Salvação. Aliás, fiquei orgulhosíssimo, semana passada eu estive no show da Banda U2 no estádio do Morumbi e a homenagem que o Bono Vox fez ao legado histórico e espiritual do Exército da Salvação foi coisa de encher os nossos olhos de alegria e de santo orgulho.

Agradeço a presença do reverendo Leontino Farias dos Santos, representando a Fatipe - Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente; do César Moraes Barreto, representando o deputado Gil Lancaster; do reverendo Martin Santos Barcala, da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista; do reverendo Tarcis Prado, da Igreja Metodista; José da Silva, vereador em Mauá; Pastor Bruce Mcalpine, Igreja Light House Church em Joanesburgo; pastor Cláudio Modesto da Comunidade Cristã do Alto da Lapa.

Agradeço também a presença dos líderes da Jubesp - Juventude Batista do Estado de São Paulo. E, também a presença honrosa aqui em nosso evento do pastor Dr. Rolf Schünemann, ex-pastor Sinodal do Sínodo Sudeste e da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil e dos demais pastores luteranos aqui presentes.

Passo então, neste momento, a palavra para a saudação do pastor Sérgio Renato Flor, pastor conselheiro da IELB - Igreja Evangélica Luterana do Brasil, por favor.

 

O SR. SÉRGIO RENATO FLOR - Caro Sr. Presidente e ilustre Mesa, demais autoridades e convidados aqui presentes, eu estou muito satisfeito e orgulhoso em estar aqui representando a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, e, em nome do nosso presidente nacional, reverendo pastor Egon Kopereck, eu trago a saudação para todos aqui.

 Eu vou iniciar este momento com uma frase do próprio Lutero, que é o que direcionou todo o seu trabalho: “A Palavra de Deus é a relíquia das relíquias, a única, na verdade, que nós cristãos reconhecemos e temos. A Palavra de Deus é o tesouro que a tudo santifica, todo o nosso viver e agir para chamar-se agradável a Deus ou santo, deve nortear-se pela Palavra de Deus. Por isso, é necessário que tenhamos a Palavra de Deus continuamente no coração, nos lábios e ouvidos”.

É natural que neste quinto centenário com celebrações e comemorações falemos muito do homem e da pessoa, mas, é preciso que falemos especialmente do que motivou e da força que tinha aquele homem para fazer o que fez.

Como também muito bem lembrado a sua esposa, a Catarina, pela vereadora, e por todos os seus amigos e colegas que o ajudaram na sua grande obra. Justamente foi a Palavra de Deus que transformou a mente e o coração de Lutero. Sabemos que a sua grande preocupação ao pregar aquelas teses naquela porta, era a salvação das pessoas, e a salvação das pessoas depende da Palavra de Deus, que oferece milagres e que opera essa transformação.

E, naquele momento, o próprio Lutero também sentia que a Palavra de Deus não estava sendo o objeto principal de tudo, ou melhor, pelo menos não nas pregações e no modo como se ensinavam. Por isso, ao se aproximar da Palavra de Deus, Lutero descobriu que aquele Deus, do qual ele tinha medo, e ele tinha muito medo, era um Deus justo.

Deus, para ele sempre, foi colocado como um juiz severo, que condenava e destruía a menor das falhas. E, ao ler realmente a Palavra de Deus, ao se aprofundar na leitura da Palavra de Deus, ele descobriu um Deus justo, um Deus que não deixa de ser severo com os pecados é lógico, mas um Deus que perdoa.

E, ele descobriu algo fantástico, um Deus que é injustamente justo. Um Deus que faz justiça sendo injusto com o seu próprio filho. Então, Lutero começou a estudar mais e descobriu a famosa passagem de Romanos 1:17, onde diz: “A justiça de Deus ela se revela de fé em fé. E por isso que o justo vive pela fé”.

Então só mais frase do Lutero, porque ao descobrir isso, ele escreveu o seguinte: “Eu odiava essa expressão ‘justiça de Deus’, pois aprendi a entendê-la filosoficamente como a justiça segunda a qual Deus é justo e que castiga os pecadores injustos. Eu não amava o Deus justo que pune os pecadores, ao contrário, eu o odiava, e mesmo quando um monge, eu vivia de forma irrepreensível perante Deus e me sentia pecador e minha consciência me torturava muito. Eu andava furioso e de consciência confusa e, não obstante, teimava impertinentemente em bater à porta dessa passagem e desejava com ardor saber o que o apóstolo Paulo queria falar com ela. E Deus teve pena de mim, dia e noite eu andava meditativo e até que por fim eu observei a relação entre as palavras, a justiça de Deus é nele revelada e como está escrito, o justo viverá por fé, e aí eu passei a compreender a justiça de Deus como sendo uma justiça pela qual o justo não vive pela sua própria justiça, mas, pelas dádivas de Deus. Especialmente pela famosa e mais preciosa dádiva que é a fé, então eu me senti renascido e entrei pelos portões abertos do próprio paraíso. E aí toda a escritura me mostrou uma face completamente diferente, e aí eu encontrei esse Deus que me ama”.

E não ficou só nessa passagem ou nessa explicação de como a Bíblia foi importante para ele, nessas comemorações todas é preciso lembrar também do trabalho que Lutero fez. Ele estava preocupado que as pessoas também soubessem disso, também aprendessem essas verdades maravilhosas em sua própria língua, na época em alemão. Deus fez com que Lutero empreendesse o famoso trabalho de produção da Bíblia e até hoje vemos esse trabalho muito sendo efetivado pelas sociedades bíblicas do Brasil e do mundo inteiro.

Atualmente cerca de sete mil dialetos e línguas são faladas pelo mundo afora. E partes da Escritura ou toda ela, já estão aí mais ou menos em três mil línguas. Essa é uma benção muito grande: quase metade da população do mundo ou das línguas faladas já tem a Bíblia em sua própria língua, as pessoas podem ler a Bíblia. E Deus fez com que tudo isso tivesse um início e podemos louvar a Deus por toda a história em que ele usa instrumentos e, naquele momento, Deus precisava de um instrumento chamado Martinho Lutero.

Então, graças ao amor de Deus por nós, os seus filhos, instrumentos humanos são utilizados para realizar as obras. Um desses instrumentos foi, na época, Martinho Lutero amando o ser humano e a Palavra de Deus, preocupado com a sua salvação e com o ensino claro e puro, deixou para a posteridade da qual fazemos parte hoje, esse exemplo e esse legado. Há um só caminho para o perdão dos pecados e para a salvação: o Senhor e salvador Jesus Cristo.

 Por isso, a base da Reforma Protestante com muito orgulho não é um homem e um grupo de pessoas, a base para a Reforma Luterana é a Palavra de Deus, e isso Lutero resume em sua Tese 62: “O verdadeiro tesouro da igreja é o evangelho da graça do Senhor Jesus Cristo”. Pois é com muita alegria e emoção que eu estou vivendo essa época, por isso eu louvo a Deus por estar vivendo este momento de quinto centenário e por honrar a Deus de fazer parte de uma família que se chama cristã, uma família que adora Deus, estuda a Bíblia e procura especialmente passar para as outras pessoas o que Jesus é para o nosso coração, o Salvador Senhor.

Agradecemos muito a Deus por este momento, agradecemos a quem motivou essa reunião e essas comemorações todas que estamos vivendo, isso para que possamos deixar para as outras pessoas também esse mesmo legado. E o importante da nossa vida é o Senhor Jesus Cristo revelado em sua Escritura. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Agradecemos as palavras do pastor Sérgio Renato Flor. Relembramos que nesta noite comemoramos especialmente e celebramos juntos o legado dos 500 anos da Reforma Protestante aqui na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Quero registrar especialmente a presença do cônego José Bizon, representando neste ato o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer. Também registro a presença do vereador do município de Santo André, André Scarpino.

teste momento, aliás, ouviremos o Coral da Igreja Batista em Perdizes, que nos trará a música “Andai com Deus”, de autoria de R. Rodgers e O. Hammerstein.

O solo será interpretado por Esperança Luzolo.

 

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- É feita apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Convido neste instante o diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, pastor Lourenço Stélio Rega para o momento de intercessão a Deus pela Nação brasileira, a ser feito da tribuna desta Casa.

 

O SR. LOURENÇO STÉLIO REGA - Convido aos presentes a ficarem de pé neste momento em que estaremos falando com nosso rei supremo, o criador e Senhor, nosso Deus e Pai Nosso. Queremos agradecer por este momento em que estamos relembrando e comemorando os 500 anos da Reforma, que foi um movimento que trouxe grande progresso para o ser humano em si na redescoberta do seu acesso direto à Deus, à palavra e à fé, o seu acesso à graça, e em poder viver para a tua glória.

Neste momento, ó Pai, diante do País em que vivemos, diante da realidade que nós vemos em praticamente toda a tessitura da sociedade brasileira, não apenas no âmbito político e empresarial, nós rogamos a ti uma comoção geral nesta Nação, Pai, pela verdade, pela honestidade, pelas virtudes cristãs, e rogamos a ti também neste momento, Pai, que os governantes tenham os seus corações comovidos em busca da verdade e não pelos interesses próprios.

Rogamos a ti que os empresários consigam, Pai, acordar para a realidade de que, praticando aquilo que é honesto, que é verdadeiro e justo estarão contribuindo para o futuro da Nação ao invés de reagirem pelo imediatismo dessa hipermodernidade. Rogamos também Deus por esta Nação em relação à família, que tem sido minada e destruída, implodida pelos meios massivos de comunicação. Nós, neste momento, Pai, estamos necessitando de uma reforma moral neste País, de uma reforma ética, e de uma busca por aquilo que realmente irá construir o futuro desta Nação.

Rogamos aqui, neste momento, que o teu espírito possa atuar na vida de toda a população brasileira, Pai, que não está sabendo como reagir. E rogamos também antecipadamente pelas eleições do próximo ano e levante homens e mulheres que possam trazer esperança a esta Nação. E, que possam ser instrumentos teus para que esta Nação possa progredir e construir uma história bonita, uma história bela em que nossas futuras gerações tenham condições de escrever com tintas de ouro, Pai.

É confiando em ti que, neste momento, nós oramos agradecendo que há 500 anos tivemos uma grande reforma na história da igreja e que hoje precisamos de uma grande reforma na história do nosso País e da Igreja Evangélica no Brasil. Em nome de Jesus, amém.

 

TODOS - Amém.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Neste momento então convido a que faça o uso da palavra e a nos dar um brevíssimo panorama da Reforma, o reverendo Leonildo Silveira Campos, que coordena o Programa de Pós-Graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 

O SR. LEONILDO SILVEIRA CAMPOS - Boa noite a todos e todas. Na pessoa do deputado Carlos Bezerra, eu cumprimento todas as autoridades da Mesa aqui presentes nesta noite.

Havia preparado alguns slides para poder disciplinar melhor o tempo, mas terei que dispensá-los, agradecendo aos nossos assessores, e também para poder disciplinar ainda mais o tempo dado a esta palavra e breve visão histórica.

É difícil falar de Lutero e da Reforma em muito pouco tempo. São 500 anos em dez ou 15 minutos, e é muito difícil. Mas, também é muito importante pensarmos nesta noite. A Reforma, do ponto de vista da história, da sociologia, enfim, diárias e um pouco distante da teologia, mas que também os eventos ocorridos ao longo da história podem ser melhor compreendidos também quando focamos a partir da perspectiva das ciências humanas, das ciências sociais.

Em 1983, houve festividades em quase todo o mundo quando Lutero completou 500 anos, o quinto centenário de nascimento de Lutero. Muito material foi publicado naquela época e muitos livros circulam ainda fazendo referência àquele período histórico. Nos dias em que vivemos hoje, muito mais tem sido publicado a respeito desses 500 anos da Reforma Luterana e que prenuncia no século XVI um conjunto de reformas que ocorrem desde a Reforma de Calvino, a Reforma Anglicana, a Reforma de Zuínglio, a Reforma Radical, os Anabatistas, e enfim, a Reforma Católica também através do Concílio de Trento.

O século XVI foi um século de reformas e tentativas de reformas. Após 34 anos do quinto centenário de Lutero, nós estamos aqui e muitos herdeiros de Lutero através do mundo todo estão comemorando nesta virada do mês de outubro para o mês de novembro os 500 anos da Reforma. Nessa massa enorme de herdeiros de Lutero e um conjunto de herdeiros que passam pelos luteranos, calvinistas, e todos os outros grupos religiosos surgidos posteriormente - alguns de discutível surgimento posterior ou anterior - os batistas, os metodistas, e outros grupos mais.

Naquele 31 de outubro de 1517, multidões se dirigiam para a cidade de Wittenberg, para as festas de Todos os Santos no dia 01 de novembro. E ali estavam relíquias, que haviam sido adquiridas pelo príncipe da região, as pessoas vivem a procura de uma legitimidade para a sua fé, milhares de peregrinos. Então, o momento que Lutero escolhe para fixar as suas teses e desafiar alguém para disputar com ele, não foi um momento ao acaso, mas foi um momento estudado e se fosse nos dias de hoje diríamos que foi marcado do ponto de vista marqueteiro.

Ao fixar as teses, ele estava contando com a presença de milhares de peregrinos que ali estavam e esses peregrinos também levariam para os seus pontos de origem, através da invenção da imprensa, os impressos que foram feitos nas semanas seguintes com as 95 teses de Lutero. Naquele ato simbólico, um monge e doutor em teologia desafiava quem com ele quisesse discutir, a compra da salvação ou o perdão dos pecados em troca de dinheiro, por meio de papéis semelhantes às ações que compramos hoje de uma determinada empresa na Bolsa de Valores, que seria uma versão do “terreninho no céu”.

Em 2017 convencionou-se chamar de 500 anos da Reforma, porém, a Reforma começou muito antes disso. Aliás, neste ano de 2017, no contexto brasileiro tivemos várias comemorações: os 100 anos da Nossa Senhora de Fátima, padre Bizon está aqui, 300 anos da localização da imagem de Nossa Senhora de Aparecida, e, para os protestantes, os 500 anos da herança de Lutero. E retomamos Lutero 500 anos depois, isso é um grande desafio. E por que é um desafio?

Ontem aqui pudemos colocar o marco zero da Reforma Protestante e ela realmente pode ser colocada a este marco zero para que não seja de uma forma convencional. Em 31 de outubro, porque a insatisfação com a situação da igreja já vinha de longe e desde os séculos XII e XIII, com o surgimento do movimento do Franciscanismo, do movimento dos Dominicanos, dos Valdenses, e de outros pré-reformadores. Havia uma insatisfação longa com respeito à igreja, foi a hierarquia religiosa daquele momento que não soube interpretar os sinais dos tempos.

Para promover uma reforma profunda na igreja, Lutero começa a reforma não com a intenção de abandonar a igreja, mas, com a intenção de reformá-la. Porém, ela não quis ser reformada e acabou excluindo Lutero. Em 31 de outubro é, portanto, o ponto de chegada de toda uma movimentação histórica e social que vinha desde os tempos medievais, mas passa a ser também o ponto de partida para uma nova visão do cristianismo e da sociedade ocidental. Podemos dizer também que Lutero não foi o único a perceber e a experimentar na sua vida de fé que havia necessidade de se redescobrirem novos valores, novos eixos ao redor de onde haveria de se articular a fé cristã. Lutero passa, portanto, a representar para nós como se em um mar revolto algumas boias fixadas indicam os pontos importantes: a profundidade, a presença de rochedos ou outras coisas mais.

A história tem disso, e é por isso que devemos ter certo cuidado para não endeusar excessivamente as lideranças históricas, porque são pessoas que surgem naquele momento e porque se não surgisse um Lutero, surgiria outra pessoa. Ele foi o homem da ocasião e aqui relembramos uma palavra muito significativa de um filósofo alemão, Hegel, que dizia: “Um homem é muito mais filho do seu tempo, do que filho dos seus pais”.

Lutero foi o filho do seu tempo, que soube naquele tempo e naquele momento histórico, de uma forma consciente ou não, representar um papel. Um papel de uma boia indicando novos tempos e novos rumos, novas tendências que as pessoas indo atrás dele conseguiram fazer. E, se fosse fazer uma apresentação teológica, eu iria me referir àquele belo texto de Lamentações, capítulo três, versículo 21: “Quero trazer à memória o que me pode me dar esperança”.

E, esse versículo veio mais uma vez em minha mente no momento da fala da nossa querida vereadora. Quando ela faz referência não somente a reforma do passado, mas também do futuro. O passado sabemos bem o que foi e o presente sabemos bem o que é, mas o futuro é insondável e imprevisível. Para onde caminha o protestantismo? Não é um mero acaso que 70% do protestantismo brasileiro é pentecostal, e justamente nos meios pentecostais é que não há relevância nenhuma se a Reforma tem 500 anos, 300 anos, ou se Lutero existiu algum dia.

Participei, na semana passada, de um evento no interior de São Paulo e, naquela cidade, o pastor, presidente do Conselho de Pastores levou a necessidade de se fazer uma sessão solene da Câmara Municipal para comemorar a Reforma iniciada por Lutero. E dos oito pastores presentes, somente dois deles sabiam quem era Lutero e o que era a Reforma Protestante. E os outros seis, evangélicos, nunca tinham ouvido falar de Lutero e nem da Reforma, porque dentro da perspectiva de certos grupos religiosos o importante é a experiência que eu tenho com Deus e a história que passa a contar a partir da minha experiência e não de uma experiência histórica. Isto é, a minha igreja é reformada porque vivemos os princípios reformados, mas pouco nos interessa em saber de onde vieram e qual herança, quem são os herdeiros. É preciso redescobrir, portanto, a riqueza que Lutero e o movimento do século XVI representam para todos os evangélicos, não somente do Brasil, mas, para os 500 ou 600 milhões de evangélicos carismáticos em toda a face da terra.

Não quero prolongar mais, porém, as ciências sociais não permitem que tenhamos uma bola de cristal para olhar para frente. Mas, especialmente nós, os herdeiros da Reforma Protestante do século XVI, em termos de número, de demografia, nós estamos perdendo o espaço para grupos que não sabem quem foi Lutero, que não sabem da importância da Reforma daqui a 500 anos, e que caminham o mesmo caminho, que percorrem a mesma trajetória e que são herdeiros dos mesmos valores históricos, mas, que não tem muita consciência dessa herança e da riqueza dela.

E, que tipo de herdeiros de Lutero somos nós? E que tipo de legado ou de herança podemos levar para frente e que fé reformada terão os nossos filhos, netos e bisnetos e aí por diante, o que será a Reforma nos próximos 500 anos? E hoje podemos relembrar os 500 anos iniciados em 31 de outubro de 1517, mas, no sexto centenário ninguém daqui estará vivo para verificar se haverá ou não o sexto centenário da Reforma.

A história, portanto, nos indica o caminho que passamos e o caminho que seguimos, assim como a importância e o impacto de Lutero, de Calvino, de Zuínglio e de outros, os seus acertos e desacertos. Ela indica os compromissos que eles tiveram com os políticos da época, com os príncipes da época e, inclusive, a infeliz inserção de Lutero através da fala, do discurso na guerra dos camponeses. Fato tão explorado pela filosofia marxista, especificamente por Engels, no livro a respeito das guerras camponesas na Alemanha.

Lutero não foi um homem perfeito, puro, o estudo da história nos indica isso. Foi um vaso de barro, imperfeito, cheio de defeitos como filho da época, como filho do seu tempo, mas, que Deus e a história usaram para indicar novos rumos, para cristandade, como esses que nós estamos recordando, relembrando nos dias de hoje. Que possamos ser, não somente herdeiros de Lutero, mas também aprender a valorizar a importância e o impacto do caminho iniciado por ele, e continuado por Zuínglio, por Calvino e por outros reformadores menos conhecidos da época. Que possamos continuar trilhando esse caminho da reforma, sobretudo, centralizados na justificação pela fé, na valorização da bíblia, na soberania de Deus e, enfim, nos pontos principais sobre os quais foram recriados os novos grupos religiosos a partir de 1517, obrigado pela atenção.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Obrigado, reverendo Leonildo pelas boas lembranças da nossa herança histórica.

Ouviremos, neste momento, o Coral da Igreja Batista em Perdizes, com sua apresentação, “Sicut Cervus”, de G.P. Palestrina e “Nunc Dimittis”, de Karl Jenkins.

 

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- É feita apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Neste momento convido o reverendo Alderi Souza de Matos, da IPB - Igreja Presbiteriana do Brasil - para que faça o uso da palavra na tribuna.

 

O SR. ALDERI SOUZA DE MATOS - Que noite memorável nós estamos vivendo, realmente nos sentimos felizes por participarmos de um momento tão especial, tão significativo como esse. Eu quero aqui então trazer, em nome da Igreja Presbiteriana do Brasil e do nosso Instituto Presbiteriano Mackenzie, a nossa saudação ao deputado Carlos Bezerra e aos demais componentes da Mesa, a todos os ministros, pastores, líderes de organizações evangélicas e outros amigos e irmãos que se encontram conosco nesta noite festiva. Aproveito para agradecer ao nosso nobre deputado por esta iniciativa que nos orgulha e que nos enche o coração de alegria.

Somos gratos pela sua generosidade em nos proporcionar um momento tão especial e tão significativo como esse. Quando pensamos na Reforma Protestante do século XVI, podemos pensar na Reforma em dois aspectos: primeiro as origens da Reforma. Em certo sentido, estamos comemorando principalmente no dia de amanhã, o início da Reforma, os seus primórdios associados ali com as 95 teses de Lutero, mas, também estamos comemorando o transcurso de todos esses 500 anos até hoje, não só 500 anos atrás, mas 500 anos ao longo da história até o tempo presente.

E, quando nós olhamos para isso, ficamos impressionados com o extraordinário legado da Reforma Protestante do século XVI que, embora tenha sido um movimento de natureza prioritariamente religiosa, espiritual, doutrinária e eclesiástica, no entanto por sua amplitude e pelos seus efeitos, pelas suas implicações mais amplas acabou tendo desdobramentos para toda a vida da sociedade e não somente para a igreja.

Quando olhamos para a Reforma, isso é reconhecido não apenas pelos protestantes, pelos herdeiros da Reforma, mas mesmo pelos estudiosos seculares e não comprometidos com a fé evangélica, todos eles nos dão testemunho das tremendas influências e das tremendas implicações políticas, econômicas, sociais e intelectuais da Reforma do século XVI, de modo que estamos celebrando não apenas aquilo que Lutero fez a meio milênio, que certamente foi importante e tem sido destacado aqui. Mas, nós estamos celebrando também todo esse legado, toda essa influência e todos esses frutos ao longo desses cinco séculos.

 Certamente um dos legados mais importantes da Reforma foi no campo da Educação, nós poderíamos falar muita coisa sobre as outras áreas, mas gostaríamos de nos ater principalmente à esse âmbito tão importante para o mundo e para a sociedade que é a Educação. E a Reforma, por causa das suas ênfases e por causa das suas preocupações, não poderia ter outra consequência a não ser uma grande preocupação com a Educação.

Seria de se estranhar muito se a Reforma, com as características que teve e com os princípios que defendeu, não tivesse revelado um impacto tremendo na área educacional. Devemos nos lembrar de que a Reforma começou em um ambiente educacional, a Reforma começou no contexto de uma universidade, a de Wittenberg, onde Lutero era professor de Teologia e de Bíblia há alguns anos. As 95 teses não passaram de um convite para a discussão acadêmica naquele meio universitário de algumas proposições que aquele professor fazia a respeito de uma questão que o preocupava que era o comércio das indulgências.

Quando olhamos para os outros reformadores, vemos a mesma dimensão digamos universitária ou educacional: Zuínglio, o grande pioneiro da tradição reformada, da Reforma Suíça, foi um estudante das universidades de Viena e da Basileia; João Calvino, da Universidade de Paris, Orleans e Bourges, na França. Portanto, vemos, já desde o início da Reforma, esse componente educacional tão importante. Mas, principalmente os princípios sobre os quais repousou a Reforma do século XVI, a começar do princípio tão fundamental de “sola scriptura”, somente a Escritura.

Essa ênfase tremenda dos reformadores na Bíblia, na Palavra de Deus, essa necessidade que havia e de que a Bíblia fosse lida, fosse conhecida, fosse estudada, corretamente interpretada e adequadamente proclamada do púlpito, tudo isso levou a uma preocupação muito grande com a Educação. Existe outro princípio correlato a esse do “sola scriptura” que muitas vezes é esquecido, o livre exame das Escrituras, com igual ênfase, os reformadores falaram do primeiro e também deste segundo, ou seja, apesar dos riscos envolvidos nisso, os reformadores entendiam que era desejável e que era salutar que o povo de Deus, e todos os cristãos tivessem condições para ler e estudar por si mesmos a Palavra de Deus.

Ainda aquele outro princípio então, fundamental, além desses “solas” que já foram mencionados aqui, que são maravilhosos e tão importantes, somente a graça, somente Cristo, somente a fé, somente a glória de Deus. Mas, o princípio do sacerdócio de todos os crentes, essa afirmação radical revolucionária, mas profundamente bíblica, feita pelos reformadores do século XVI, de que todo cristão é um ministro de Deus, é um sacerdote, tem livre acesso à presença de Deus.

E, tendo como um único mediador a Cristo e Jesus, tem também um ministério a desempenhar em nome de Deus e em nome de Cristo na sociedade, em suas diferentes áreas de atuação. Tudo isso apontava para a Educação, de modo que Lutero, ainda nos seus primeiros anos da sua obra como reformador, escreveu dois documentos muito interessantes e relacionados com isso, um deles dirigido as autoridades lá da Alemanha, e intitulado de “As autoridades de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs”, e também é bastante conhecido o sermão pregado por Lutero, agora dirigido aos pais, sermão este intitulado “Um sermão sobre manter as crianças na escola”.

Então, desde o início da Reforma, essa preocupação com uma Educação acessível - a todas as pessoas e não mais uma educação elitista, mas voltada para todos - que chamamos hoje de educação universal, ou seja, todas as crianças na escola. O surgimento da escola pública é uma dessas contribuições maravilhosas que nos foram legadas pela Reforma do século XVI e é importante também lembrar que a Reforma sofreu a influência de um poderoso movimento artístico e intelectual contemporâneo e que foi a Renascença, o Renascimento, o Humanismo.

É extraordinária a contribuição que os chamados humanistas bíblicos, o mais ilustre dos quais foi o holandês Erasmo de Roterdã, deram para a Reforma do século XVI. No ano de 1516, portanto, um ano antes da Reforma, um ano antes das 95 teses de Lutero, Erasmo publicou o seu famoso “Novo Testamento Grego e Latino”, foi a primeira vez na história em que o Novo Testamento foi impresso tipograficamente e não manuscrito e ele acrescentou também a sua própria tradução em latim.

Foi extraordinário o que aconteceu lá na cidade de Zurique. Pouco tempo depois, um jovem sacerdote que estava tomando posse do púlpito da igreja mais importante daquela cidade, Ulrico Zuínglio, influenciado fortemente por esse novo testamento de Erasmo, declarou aos seus paroquianos, no dia em que tomou posse das suas novas soluções em que assumiu o púlpito lá em Zurique: “Daqui para frente eu só vou pregar a Escritura, somente a Escritura. Não vou fazer mais pregações relacionadas com o calendário eclesiástico, com os dias, com os santos e etc, com as peças da igreja, mas somente a Escritura será o objeto das minhas pregações, e mais, eu vou pregar o texto bíblico sequencialmente, até completar um livro inteiro da Escritura”.

Naquele mesmo dia então ele pregou o seu primeiro sermão sobre o primeiro capítulo do evangelho de Mateus, e foi assim que teve a origem da segunda manifestação da Reforma que foi a Reforma Suíça.

Mais tarde, João Calvino em seu trabalho lá em Genebra também teve uma tremenda preocupação com a Educação, é muito interessante um documento que Calvino escreveu, uma espécie de constituição para a Igreja Reformada de Genebra, conhecido como “As Ordenanças Eclesiásticas”. Nesse documento, Calvino propôs para a igreja de Genebra quatro classes de oficiais, ele entendia que para a saúde e para o bem-estar da igreja e da comunidade era necessário que houvesse quatro tipos de líderes nas igrejas.

Três deles são bastante familiares para nós e o interessante é o quarto grupo, e então, pastores, presbíteros, diáconos e, finalmente, os mestres ou doutores. Ele dava tanta importância à educação que ele achava que deveria haver uma classe de oficiais na igreja, uma categoria de líderes voltada especificamente para essa tarefa, para a tarefa educacional. E, no ano de 1559, ele fundou a sua famosa academia que hoje é a Universidade de Genebra. Um historiador, escrevendo a respeito da história dessa universidade, referiu-se a academia de Calvino, de 1559 como “A primeira fortaleza da liberdade nos tempos modernos”. Então, foi dessa maneira que esse historiador se referiu a essa importante instituição pioneira.

Os anos foram se passando e foram se acumulando de maneira extraordinária, as contribuições da Reforma para a Educação. No século XVII, surge a figura extraordinária de João Amós Comênio, um pastor da Igreja Morávia, que é conhecido hoje como pai da moderna educação. Através de uma série de obras que ele escreveu, principalmente “A Didática Magna de 1649”, ele fez propostas educacionais que até hoje são importantes e observadas pelos educadores. Com novos métodos, a defesa de uma Educação prazerosa e não sofrida, uma ênfase democrática, uma Educação para a cidadania, transmissão de valores espirituais e éticos, foram preocupações de Comênio e dos seus sucessores.

E, quando nós nos voltamos para o Novo Mundo e para as Américas, constatamos esse fato extraordinário: ainda no século XVII, a eliminação total do analfabetismo. Os puritanos chegaram à América do Norte a partir do ano de 1620, antes daquele século, ainda no período colonial dos Estados Unidos, já não havia analfabetismo, todas as crianças na escola, oportunidades educacionais para todos. Com uma preocupação tão grande assim com a Educação não é de se admirar que algumas das universidades mais importantes do mundo hoje tenham sido criadas exatamente por herdeiros da Reforma e em particular pelos herdeiros da Reforma Suíça, os reformados.

Então, quando olhamos para as universidades de Harvard, Yale e Princeton, que estão entre as mais famosas e influentes, aquelas que têm produzido os maiores recebedores do prêmio Nobel, por exemplo, foram todas elas universidades fundadas pelos herdeiros da Reforma e inspiradas pelos valores e pelas convicções iniciadas no século XVI. Quando nós voltamos ao Brasil, vemos a mesma coisa se repetindo e quando os nossos missionários, sejam da Europa ou dos Estados Unidos, vieram para cá, uma das suas preocupações foi fundar instituições educacionais.

Esse era o binômio que acompanhou sempre a obra missionária no Brasil e na América Latina: Evangelização e Educação. Sempre uma escola ao lado de cada igreja e foi essa preocupação que deu origem, no distante ano de 1870, quase um século e meio, à pequena Escola Americana que depois se transformou na grande Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Um fato muito interessante na história da Mackenzie, é que logo após a proclamação da República, a partir do ano de 1890, houve uma reorganização, uma grande reforma no sistema educacional da antiga província, agora estado de São Paulo. O Governo de São Paulo, então naquela época em 1890, e anos seguintes, convocou vários educadores da Mackenzie para auxiliar o Estado na reformulação do seu sistema educacional. Entre eles estavam o Dr. Horácio Lane, o presidente da Mackenzie na época, e a professora Márcia Brown, dois ilustres educadores que assessoraram o Estado de São Paulo na reformulação do seu sistema educacional.

Então, é com alegria, que hoje celebramos com muita gratidão nosso Deus esse legado extraordinário. Eu costumo dizer que não devemos comemorar a Reforma com o espírito ufanista e triunfalista como se a Reforma fosse uma coisa perfeita e um momento exemplo de críticas, sabemos e já foi mencionado que os reformadores não foram perfeitos e o seu movimento não foi perfeito, mas estamos celebrando principalmente as ideias e as convicções, os valores bíblicos que foram enfatizados pelos nossos reformadores.

Jesus, certa vez, respondendo à pergunta de um mestre da lei em Israel acerca de qual seria o maior de todos os mandamentos, alguém já fez o cálculo e descobriu que existem mais de 600 mandamentos no Antigo Testamento, e então Jesus questionado sobre qual seria o maior, qual aquele que, em certo sentido, sintetizaria todos os mandatos da lei de Deus, respondeu com aquelas palavras que conhecemos tão bem: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento”.

Uma das maneiras pelas quais expressamos o nosso amor para com Deus e o serviço a ele e a coletividade, é através do cultivo da nossa mente e do nosso intelecto e da sua vida. Essa tem sido desde o início umas das preocupações da Reforma, e é também esse grande legado que estamos hoje comemorando. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Obrigado, reverendo Alderi. Ouviremos neste momento o Coral da Igreja Batista em Perdizes, com a música “We believe”, de Dan Forrest, que será cantada em inglês.

 

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- É feita apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Neste momento, ouviremos a palavra de salvação do pastor Sinodal Geraldo Graf, representante da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. E, eu gostaria apenas de fazer aqui uma solicitação, nós temos um horário limite da nossa sessão de encerramento às 21 horas e 30 minutos, teremos as palavras de registro de saudação de mais três outros oradores e ao final faremos a entrega dos certificados comemorativos em nome da Assembleia Legislativa a todos os participantes que aqui estão.

Então, eu solicito a compreensão de todos aqueles que farão o uso da palavra para que possamos ser o mais democrático possível no tempo para que possamos então encerrar esta sessão da melhor maneira possível. E peço desculpas como presidente desta sessão na utilização, porque o nosso tempo se vai e se foi rapidamente.

 

O SR. SINODAL GERALDO GRAF - Eu quero saudar a todos com as palavras do Salmo 133, versículo um, que diz: “Como é bom viverem unidos, como se todos fossem irmãos e irmãs”. Com essas palavras, eu saúdo a todos vocês na pessoa do deputado Carlos Bezerra Jr. Muitas comemorações estão sendo realizadas, por causa dos 500 anos da Reforma e, sobretudo, muitos eventos ecumênicos dentro de um clima saudável de respeito e diálogo, comunhão e espírito fraterno.

Aprendemos, depois de 500 anos, que ainda podemos aprender uns com os outros. O Jubileu da Reforma representa o compromisso de todos os cristãos para construírem juntos canais de diálogo e de compromisso, buscando a compreensão e a superação de uma realidade fracionada por ideologias, por desigualdades sociais, por violência, exploração e escravidão. E, esse mundo tão dividido anseia pela paz com justiça e, paz essa, oferecida por Deus e a todas as pessoas por meio de Jesus Cristo.

Ao estarmos nesta Casa de Leis, neste Jubileu dos 500 anos da Reforma, queremos ressaltar a pessoa de Martinho Lutero, por causa da data de amanhã, quando ele publicou 95 teses contra a venda das indulgências. Mas, não podemos esquecer que antes dele e, a partir da Reforma, também outros reformadores foram igualmente decisivos. Também está sendo redescoberta a fortíssima participação de mulheres na Reforma, como também já foi ressaltado pela vereadora. Hoje, queremos apontar para três publicações, dentre os mais de 400 escritos de Lutero, com especial destaque para a ética cristã, e ligar a ética com a ação política cidadã das pessoas. Para o reformador, fazer política é cuidar de quem sofre e impedir que se pratique o mal.

E, são documentos que permanecem sempre atuais, que são contribuições valiosas para o enfrentamento dos profundos problemas de corrupção e escândalo que assolam o nosso País. Eu não vou me aprofundar agora em cada um dos três por causa do tempo, mas quero apontar para os três, uma das obras de Lutero, da liberdade cristã, e ele escreveu: “Um cristão é senhor livre de todas as coisas, e a ninguém é submisso, pela fé em Jesus Cristo, um cristão é servo, até iria usar uma palavra mais forte, que é escravo, submisso a todos pelo amor ao próximo”. E essa continua sendo uma orientação ética para todos os cristãos quanto ao seu comportamento e a sua atuação na sociedade.

Ela aponta para a responsabilidade cidadã e política de cada cristão, somos livres pela fé em Jesus Cristo, de toda e qualquer ideologia, de exploração, de opressão e, inclusive, de leis quando são escravizantes. Mas simultaneamente somos recolocados na sociedade para servir, outra obra importante já foi citada pelo reverendo Alderi, sobre a escola pública para todos.

Os dois documentos de 1524 e 1530, ele exortou aos pais para que enviassem os filhos à escola e sugeriu que fossem criadas escolas públicas em todos os lugares. Essa reforma de ensino e proposta por Lutero ia possibilitar uma boa formação das pessoas, tanto para a atuação pública e política, quanto para a liderança na igreja, e o resultado disso foi uma enorme elevação do nível educacional das pessoas, pessoas instruídas teriam acesso às Sagradas Escrituras e poderiam edificar a sua fé, além de terem condições para seguirem paradigmas éticos na administração das coisas públicas.

Só queria lembrar que há poucos dias foi publicado um documento dizendo que no Brasil estamos 500 anos atrasados na área da Educação Pública. E o terceiro documento, de 1524, sobre comércio e usura - na contramão do antigo espírito grego que considerava o trabalho uma atividade degradante a ser realizado por escravos, pobres e mulheres - Lutero em seu livro entendeu o trabalho como uma vocação e fez um jogo de palavras no alemão, Beruf (trabalho), com Berufung (vocação). E através do trabalho buscamos sustento para nós e para a nossa família, mas, também servimos à Deus e ao próximo.

O trabalho beneficia tanto o indivíduo como a toda a sociedade. Ética cristã, a ética da fé ativa no amor, ética do cuidado e ética da liberdade. Seu fundamento está na percepção das relações concretas como geradoras de vidas para todos. Na introdução, à carta aos Romanos, Lutero escreveu: “A fé é altamente dinâmica e atuante. Há algo muito vivo, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar bem. A fé não pergunta se há obras a se fazer, e, sim, antes que surja a pergunta, ela já o realizou e está sempre a realizar”. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Obrigado, pastor Geraldo. Neste momento chamo então, para que faça o uso da tribuna, o pastor Manoel Ramires, presidente da Convenção Batista Brasileira do Estado de São Paulo.

 

O SR. MANOEL RAMIRES - Com o presidente desta presente sessão, eu falo representando as Igrejas Batistas do estado de São Paulo, as 1260 igrejas. Também fui comissionado pela Ordem dos Pastores do Brasil, na pessoa do presidente João Martins Ferreira, para falar em nome da Ordem dos Pastores Batistas - Secção de São Paulo.

Eu já fui riscando, para não ser repetitivo, o que já foi falado antes e para cooperar com o presidente desta sessão, eu quero parabenizar o caríssimo deputado amigo, por este empreendimento que visa à glória de Deus, e aos demais componentes da Mesa, a vereadora, queridos pastores e líderes, irmãos em Cristo. O que me chama a atenção e, para concluir, o que me chamou a atenção na Reforma foi a redescoberta do evangelho segundo as Escrituras Sagradas e ampla reordenação da sociedade e a luz da Palavra de Deus.

Fica uma reflexão: precisamos hoje de uma reforma no Brasil, mas onde é que nós precisamos reformar em nós mesmos? Até que ponto somos homens de coração, até que ponto levamos as Escrituras a sério, até que ponto somos homens que leem a Bíblia não para pregar, mas, como devocional? Porque só sendo homens de oração e de Bíblia é que poderemos ser reformados em nós mesmos e poderemos promover uma reforma em nosso País e é só a igreja cristã que pode fazer isso.

Deixo a última frase, uma que eu destaquei de Lutero, quando ele estava indo para Worms. Ele disse quando estava se preparando espiritualmente e que compôs o “Hino de Castelo Forte”. Uma expressão dele que me chamou muito a atenção: “Ainda que haja em Worms tantos demônios quantas sejam as telhas nos telhados, confiando em Deus eu ali estarei”. Que essa palavra que marca e que marcou, continue marcando em nossas vidas, que sejamos homens e mulheres reformados espiritualmente e participemos de uma grande reforma em nosso País, para a glória de Jesus Cristo a quem servimos. Amém.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Obrigado, pastor Manoel Ramires. Neste momento tem a palavra o pastor Robinson Jacinto, da Fraternidade Teológica Latino Americana.

 

O SR. ROBINSON JACINTO - Boa noite a todos, ao presidente um agradecimento, parabéns pela iniciativa.

Eu quero ser breve e por isso vou ler, por causa do horário regimental. Como teólogo latino-americano, eu faço a seguinte pergunta: Qual é o lugar histórico que hoje determina ou deveria determinar a nossa perspectiva para a comemoração desses 500 anos? Se lá atrás, como já disse um amigo querido que eu tenho, o Ronaldo Cavalcante, se a reforma foi para desenvolver primeiramente uma identidade a partir de uma luta ou uma pauta de construção de identidade por meio de apologética, por meio de disputas com a cristandade da época, como é que podemos comemorar e fazer uma ressignificação para os nossos contextos, sobretudo o brasileiro e latino-americano?

Diante disso eu faço uma segunda pergunta: Mas, o que significa então comemorar os 500 anos da Reforma no contexto religioso, político e social do nosso Brasil? Significa, a partir da teologia contextual e latino-americana, um novo kairós, um novo tempo do espírito como fonte autêntica de vida e de espiritualidade. É o tempo de radicalizar o conceito-chave do sacerdócio de todos os crentes, apresentado por Lutero, nosso irmão como um grito para democratizar todas as relações que se estabelecem a partir do poder e oprimem. Seja da nossa própria comunidade de fé, o nosso métier reformado, seja de qualquer mídia existente e seja de qualquer relação com o outro.

É um grito e um chamado revolucionário para uma cidadania universal, uma incidência pública que podemos promover como prática subversiva de ser igreja a partir e tão somente do outro, seja ele quem for. É um grito e ação que leva a redescobrir a igreja como força que atua de maneira resistente, protestante, e transformadora frente às injustiças, às estruturas pecaminosas, sejam elas quais forem.

É um grito que nos chama para sermos cooperadores com Deus para o bem-estar do mundo, pois o seu evangelho é integral. O ser humano é agora, como foi nos ensinado pela Reforma, uma chave teológica. Como disse o saudoso Rubem Alves: “Das entranhas dos sacrificados, dos terços do mundo e da nossa América Latina surge esse jogo chamado de teologia para todos”. Portanto, eu encerro dizendo que louvamos a Deus pelos 500 anos da Reforma, pois para o nosso contexto latino-americano e brasileiro, como igreja, esse grito, somos convidados a gritar, somos convidados a proclamar a nossa fé em Jesus e a nossa fé no outro, porque só podemos servir a Deus por meio do serviço ao nosso próximo.

Que Deus seja louvado esta noite, amém.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Eu quero convidar então para a última intervenção desta noite, aliás, fazendo o registro da presença de um amigo querido de tantos anos, amigo meu e da minha família, o pastor Rubinho Pirola, da Igreja A Casa da Rocha, trabalho de quem acompanhamos ao longo de tantos anos, brilhante trabalho. Mas, eu quero convidar então o pastor dele, o pastor José Bruno, de A Casa da Rocha, que também foi deputado nesta Casa, para que faça o uso da tribuna desta Casa nesta sessão comemorativa dos 500 anos da Reforma Protestante.

 

O SR. JOSÉ BRUNO - Primeiramente saúdo o presidente Carlos Alberto Bezerra Jr. e a vereadora Patrícia, na pessoa de quem eu cumprimento todos os líderes dos ministérios, pastores e bispos que estão aqui nesta noite.

Eu vou tentar usar isso em menos de um minuto que me resta, aproveitando que Martinho Lutero era meio bonachão e ácido no seu humor, vale a pena trazermos pelo menos nesse final, um pouco dessa ironia que nos faz protestantes. Nunca seremos a maioria, somos protestantes, nós dissemos não.

Martinho Lutero foi um reformador, mas, somos o povo da reforma, nós somos o povo do protesto, somos o povo que diz: “Não, assim não”. Lutero disse “não” para Ur dos Caldeus, para Acabe e para Jezabel. Disse “não” para Herodes, disse “não” para Pilatos. Ele disse “não” à casta sacerdotal, ao Sinédrio, e à todas as posições de honra que pertenciam a ele, à cidadania romana, à ser hebreu de Hebreus. Ele disse que tudo a que pertencia era esterco, e o espírito de Lutero atravessa a história, porque ele nasceu desde a fundação do mundo, quando o filho de Deus foi crucificado e disse “não” à sua glória para se transformar em um de nós. Morrer em nosso lugar e dizer “não” à todo o tipo de opressão e “sim” à verdadeira vida.

 Somos protestantes, neste exato momento e nesses últimos momentos desta sessão. Enquanto estamos aqui, o que vem à cabeça quando eu penso em Lutero, sendo de uma igreja nova e independente, é morte, é de alguém que está disposto a dizer “não” mesmo que isso custe o seu pescoço. É de alguém que abandona a sua posição e o seu sustento, diz “não” a uma estrutura sendo que ela é quem paga a conta, é corajoso.

Ainda que não estivesse nos seus planos uma cisão completa da igreja, mas isso veio a acontecer, ele diz: “Ao menos que me provem pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei, minha consciência é cativa à Palavra de Deus e ir contra a minha consciência não é correto e nem seguro, aqui permaneço eu, e não há nada mais que eu possa fazer, que Deus me ajude.”

Somos protestantes e dizemos “não”. E, nesses últimos instantes, enquanto celebramos o que aconteceu em 1517 e enquanto celebramos o que Martinho Lutero fez, neste exato momento, milhões de pessoas ligam as suas TVs, e continuam comprando indulgências, pedaços da cruz, relíquias ungidas com óleo de Israel vindo da China e vendido no Bom Retiro.

A pergunta é se eu e vocês estamos prontos para morrer, a levantar a nossa voz e dizer: “Não, chega”. Ainda que isso custe o nosso pescoço. Ou, se talvez a estrutura denominacional, a política denominacional ou qualquer que seja a estrutura que pague a nossa conta, corra o risco. Ainda que nós não tenhamos nenhum lugar onde reclinando a nossa cabeça pelo menos faremos jus a vocação do nosso Senhor Jesus, porque somos protestantes, e eu não sei se o Brasil precisa de uma reforma, mas, o Brasil precisa de Luteros.

E, não sei se pessoas que vão fazer grandes revoluções, mas que vão estar prontas para morrer pelo que acreditam. Somente a Escritura, somente Jesus Cristo, somente pela fé, pela graça, somente a Deus, a honra e a glória.

Que Deus nos ajude a continuarmos protestantes, Deus nos abençoe. Obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Sim, somos protestantes, muito bom, José.

Bom, para encerrar aqui então nesta noite, antes de entregarmos os certificados, eu queria só fazer uma palavra final e pensando aqui algumas ideias para finalizarmos. Depois de 500 anos, nós estamos aqui reunidos nesta noite, tantas contribuições, em tantos campos, no campo da Educação, no campo eclesiástico, no campo da igreja, no campo social, no campo da política, tantas foram as contribuições ao longo desses 500 anos, mas do que precisamos nos reformar?

Do que, de fato, precisamos se reformar neste País? Vivemos tempos sombrios e que bandeiras hoje nos cabem tomarmos e avançarmos, quais são as bandeiras? Muitas delas foram tocadas aqui nesta noite, algumas citadas em forma de oração e outras citadas em forma de discurso, outras citadas em forma de lembranças da nossa história, todas elas trazidas, lembretes feitos dos nossos compromissos, dos compromissos de Lutero, de Calvino, as mulheres históricas e a nós, o que nos cabe, a cada um de nós, eu falo a partir do meu campo, e do campo da política, e quais são as respostas.

Lutero e nossos irmãos reformadores tinham muita clareza da separação da Igreja e Estado e nos legaram a herança do Estado laico. Hoje, o que vemos a partir da Bancada Evangélica no Congresso Nacional, o que é que nós vemos senão uma nova forma de indulgências, em uma troca clara, em uma barganha. E de fé pelo voto que se manifesta na troca da não investigação de um presidente e de acusações gravíssimas de corrupção para a sua própria manutenção no poder.

E, pior, em um ministro, pastor, ministro do Trabalho, que rasga nosso compromisso histórico, porque um dos ecos da Reforma foi a abolição da escravidão no mundo, mas um ministro e pastor no Brasil rasgou, em uma canetada com uma portaria, o conceito brasileiro de trabalho escravo, considerado por organismos internacionais como a maior organização internacional do trabalho e a ONU como a mais avançada do mundo, tirando o Brasil, na semana passada da categoria de referência mundial no combate ao trabalho escravo, transformando o Brasil em vergonha internacional.

O que é isso? O que é que está acontecendo? É esse o legado nosso atual a ser expressa na arena pública, que agenda é essa? Expressa por aqueles que professam a fé evangélica na arena pública e que falam tanto de coisas que a Escritura fala tão pouca, e falam tão pouco de coisas que as escrituras falam tanto. Que se esqueceram do quarteto de vulnerabilidade que a Escritura cita mais de duas mil vezes, o pobre, o órgão, a viúva e o imigrante, que os chutam com discursos xenofóbicos.

Que os esquecem na invisibilidade das “cracolândias”, na insensibilidade de uma ação política insossa, em um País que tem hoje no mapa da violência expressos números que apontam mais de 61 mil mortes violentas por ano, e o que significa mais de um... Aproximadamente um atentado daquele da Bataclan, da França, aquele de Paris, que pararam o mundo. É um atentado da Bataclan por dia no Brasil e o País não para, a violência foi naturalizada, como bem lembrou a Patrícia aqui, é uma Hiroshima e Nagasaki por ano no Brasil por causa da violência, e essa pauta não mobiliza os cristãos e não mobiliza a nossa agenda pública. É tempo de voltarmos na arena pública, às nossas raízes, igreja reformada e sempre se reformando, é tempo de voltarmos às Escrituras, e tempo de retomarmos às nossas velhas bandeiras e é tempo de enfrentarmos as mazelas da nossa Nação.

De oferecermos as verdadeiras respostas as velhas mazelas da nossa Nação, e eu fico aqui pensando e orando, pedindo a Deus, que o espírito que moveu, que o Espírito Santo que moveu os reformadores mova os líderes cristãos e cristãs desta Nação, nesses tempos sombrios. A minha oração e encerramento desta sessão de uma forma absolutamente diferente, quebrando todos os protocolos, “que venha o teu reino e seja feita a tua vontade, e que seja feita a tua vontade aqui na Terra, como ela é feita nos Céus.

Agora, são outros 500. É importante lembrarmos a nós e nossos irmãos que somos sim todos protestantes, e a Nação precisa de uma reforma e estamos aqui disponíveis para que ela aconteça. Eu quero então aqui só fazer um lembrete final e um convite, estender um convite da Nação Batista Brasileira que, agora no próximo dia 02 de novembro, é uma quinta-feira, às 19 horas, acontece um concerto especial em comemoração aos 500 anos da Reforma, na Sala São Paulo. E que terá a transmissão ao vivo pela internet e também no canal da Convenção Batista do Estado de São Paulo.

Feitos os agradecimentos, feitas todas as manifestações, eu quero agradecer a presença de todos vocês, as equipes aqui presentes e fazer um agradecimento especial a minha equipe de mandato na pessoa do pastor Eduardo Silva. Ele e a Marina foram responsáveis, junto com os vários outros assessores, a Fran, o Gilson, enfim, o Gedeon que se empenhou e todos eles que se empenharam intensamente, o Márcio, o Fábio, para que isso acontecesse.

Agradeço a presença de cada um de vocês que se esmeraram e tiveram aqui, aqueles que compuseram a Mesa. Um agradecimento especial a minha esposa, a vereadora Patrícia Bezerra, que tem uma grande contribuição também na arena pública e que tem feito um brilhante mandato e que nos deu a honra da sua palavra, aliás, fazendo uma grande lembrança a cada um de nós, da importância da contribuição feminina para a história da Reforma e da necessidade e importância da valorização da contribuição feminina para os próximos 500 anos e que se avizinham, enfim, aqueles que compuseram a Mesa, e a presença de cada um de vocês.

Muito obrigado, que Deus nos abençoe, que nos guarde, temos os certificados que aqui estão e que serão entregues para cada um de vocês. Eu não queria que vocês saíssem sem que recebessem o certificado, tem os certificados, o pastor Eduardo e a equipe se encarregaram de entregar, vamos dar um abraço em todo mundo. Mas, eu vou encerrar esta sessão pedindo que permaneçam, enquanto ouvimos a última música a ser cantada, aliás, faço um agradecimento especial ao Coral da Igreja Batista de Perdizes que nos trouxe essas peças lindíssimas e nos trazendo o espírito da Reforma que hoje invadiu de forma especial esta Casa e, que ao invadir, não a deixe mais. Muito obrigado, boa noite, declaro, portanto, encerrada esta sessão, mas, a música permanece.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência agradece às autoridades, à Mesa, à minha equipe, aos funcionários dos serviços de Som, da Taquigrafia, de Atas, ao Cerimonial, à Imprensa, à TV Legislativa, às assessorias das Polícias Civil e Militar, bem como a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 47 minutos.

 

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