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28 DE MAIO DE 2018

033ª SESSÃO SOLENE PARA CONCESSÃO DO COLAR DE HONRA AO MÉRITO LEGISLATIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO À ASSOCIAÇÃO ISRAELITA DE BENEFICÊNCIA BEIT CHABAD EM RAZÃO DO PROJETO FELICIDADE

 

Presidência: JOÃO CARAMEZ

 

RESUMO

1 - JOÃO CARAMEZ

Assume a Presidência e abre a sessão.

 

2 - IZABEL DE JESUS PINTO

Mestre de cerimônias, anuncia a composição da Mesa.

 

3 - PRESIDENTE JOÃO CARAMEZ

Informa que a Presidência Efetiva convocara a presente sessão solene, a pedido deste deputado, na direção dos trabalhos, para a "Homenagem a Associação Israelita de Beneficência Beit Chabad do Brasil com a Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo, em reconhecimento ao Projeto Felicidade". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro", executado pela Patrulha Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Anuncia a apresentação de um vídeo institucional. Diz ter sido entrevistado pela Érica, da TV Alesp, que se sentiu privilegiada por ter feito a reportagem sobre o Projeto Felicidade. Destaca a importância deste projeto na vida de todos os brasileiros. Ressalta a oportunidade de superação de barreiras, antes consideradas instransponíveis.

 

4 - SHABSI ALPERN

Rabino, diz ter se emocionado quando o deputado João Caramez, no início da sessão falou sob a proteção de Deus. Afirma que somente sob a proteção divina é que este País pode funcionar nestes dias difíceis. Agradece o deputado Floriano Pesaro, por ser um homem de bem e uma alma especial, seu conhecido há muitos anos. Pede vida longa ao deputado Floriano Pesaro. Cumprimenta as autoridades presentes. Considera Flávia Bochernitsan como o próprio Projeto Felicidade. Discorre sobre o início do projeto, há 17 anos, criado para atender para atender crianças brasileiras que sofrem de câncer. Recorda sua vinda para o Brasil, 57 anos atrás. Enfatiza que o Brasil é um país que recebe de braços abertos todo e qualquer imigrante, e portanto devemos agradecer. Conta histórias de pessoas que o ajudaram quando chegou ao Brasil e não sabia falar nada de português. Afirma que para retribuir a hospitalidade e a ajuda dos brasileiros criou o Projeto Felicidade. Esclarece que a bondade é a base do universo e que os princípios de moral e ética são a base da crença judaica, a essência e natureza da religião. Dá exemplos de como enxergam o mundo e a vida. Menciona os dez mandamentos, dos quais cinco falam da relação entre homem e o criador, enquanto os outros cinco falam das relações entre homens e homens, que considera os mais importantes. Esclarece que se a pessoa ofende alguém, não adianta somente jejuar no dia do Yom Kipur, é preciso pedir desculpas, já que os semelhantes estão acima de tudo. Cita uma conhecida regra bíblica: "amai o seu próximo como a si mesmo". Afirma que, de acordo com o Talmude, quando deixamos este plano, a primeira pergunta que nos é feita é se agimos corretamente com todas as pessoas. Ressalta a necessidade de agirmos sempre com justiça. Discorre sobre a ajuda das pessoas aos animais. Faz votos que cada comunidade faça algo pelo povo brasileiro, que considera sofrido e bom. Cita a vinda do Messias, que de acordo com o rabino, trará igualdade, saúde, paz e sustento para todos. Agradece esta Casa pela honra desta sessão solene, todos os voluntários do projeto, os pais pela confiança depositada e o Brasil.

 

5 - FLORIANO PESARO

Deputado federal, cumprimenta as autoridades presentes. Agradece o deputado João Caramez e esta Casa pela realização desta sessão solene e por acolher o seu povo e a sua comunidade. Afirma que o rabino Shabsi transformou o seu sonho em realidade. Lembra de quando o rabino o procurou, na primeira metade dos anos 90, para contar este sonho e tentar viabilizá-lo. Afirma que foi a sua inspiração que deu a oportunidade de estarmos aqui comemorando este projeto hoje. Diz ser o rabino Shabsi uma inspiração para todos nós. Lembra que a sua jornada política iniciou com o incentivo e apoio do rabino Alpern. Considera a liderança e a capacidade de operação de Flávia impressionante. Cumprimenta todas as voluntárias, os empresários parceiros e todos os pais, que fazem do projeto uma realidade. Diz ser Mauro Zaitz inspirador de todos, responsável pelo Beit Chabad central. Afirma que Ricardo Berkiensztat, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo, representa toda a comunidade judaica. Considera Daniel Bialski, presidente da Hebraica, como uma nova geração de políticos em mandato, exercendo a política comunitária. Pede uma salva de palmas para ele. Afirma que o Beit Chabad está presente em quase todos os países do mundo, com a missão de acolher as pessoas, sendo a educação e beneficência dois dos principais pilares da entidade. Explica no que consiste o Projeto Felicidade, criado em 2001, para proporcionar uma semana de felicidade para crianças doentes. Menciona que a criança, acompanhada de seus pais e irmão, passeiam por São Paulo por toda a semana. Ressalta que as crianças que padecem de câncer, vivem uma rotina estressante e cansativa, e que este projeto permite que todos os problemas sejam esquecidos por uma semana, aliviando sua condição de doentes. Considera um privilégio termos este projeto no estado de São Paulo. Informa que é parceiro há anos do projeto, e que sempre irá colaborar na busca de recursos para o mesmo. Agradece o deputado João Caramez e esta Casa por reconhecer a importância deste projeto para o povo paulista e brasileiro.

 

6 - IZABEL DE JESUS PINTO

Mestre de cerimônias, anuncia a entrega de Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo a Sra. Flávia Bochernitsan.

 

7 - FLÁVIA BOCHERNITSAN

Diretora-geral do Projeto Felicidade, diz estar muito emocionada em falar nesta Casa, e em frente a deputados. Lembra que há 18 anos ouviu o sonho do rabino Alpern, de ajudar as crianças portadoras de câncer, para agradecer o Brasil por ter recebido todos os imigrantes de braços abertos. Afirma que o rabino não descansa enquanto não torna o seu sonho realidade. Discorre sobre o início das reuniões para discussão do projeto em 2001, quando o rabino Alpern definiu a data de início e a escolheu para ser a responsável pelo mesmo. Menciona a ajuda das voluntárias para que pudessem dar os primeiros passos no projeto. Informa que hoje recebem crianças de 34 hospitais de todo o Brasil e que, desde então, nunca deixaram de receber as famílias enviadas pelos hospitais. Cita a parceria da Gol Linhas Aéreas desde 2001 no transporte destas famílias. Considera essas famílias carentes não só financeiramente, mas também de saúde, amor, afeto e de um ombro amigo com o qual possam desabafar. Esclarece que os mesmos estão acostumados a serem rejeitados e discriminados a partir do aparecimento da doença. Relata que as voluntárias do projeto acompanham as famílias desde o check in no hotel, e em diversos passeios pela cidade de São Paulo, em teatros, cinemas, entre outros. Menciona que os dois programas mais queridos pelas famílias são a visita ao sítio do projeto, em São Lourenço da Serra, por sentirem-se livres e em contato com a natureza, e o Guarujá, já que a maioria dos envolvidos nunca viu o mar. Conta casos de diversas crianças que passaram pelo projeto e o que aconteceu com eles depois. Enfatiza que as crianças saem do Projeto Felicidade abastecidos de amor, que é um dos objetivos do projeto. Afirma que é muito fácil fazer uma criança sorrir, mas que fazer uma criança com câncer sorrir é um milagre que o Projeto Felicidade faz diariamente. Agradece todos os parceiros que patrocinam financeiramente o projeto, as voluntárias que diariamente se emocionam e vibram com as crianças, e os funcionários que formaram um grande time. Reconhece que sua filha Simone, o seu braço direito neste projeto, merecia receber um Colar de Honra ao Mérito, pois nunca deixou de fazer sua parte, mesmo estando distante fisicamente. Destaca a frase: "um sonho sonhado sozinho é só um sonho, mas um sonho sonhado com outro é realidade". Agradece o rabino Alpern pelo Projeto Felicidade.

 

8 - PRESIDENTE JOÃO CARAMEZ

Afirma que a história do Projeto Felicidade comoveu a todos os presentes. Considera Flávia como uma pessoa divina e abençoada, escolhida por Deus. Cumprimenta toda a comunidade Beit Chabad. Informa que por justiça, o deputado federal Floriano Pesaro deveria ter ocupado a presidência da Mesa nesta sessão, já que foi realizada a pedido dele. Agradece a participação de todos. Destaca a importância de uma homenagem a quem muito faz pelas crianças portadoras de câncer. Enfatiza que esse projeto restabelece a autoestima, animando as crianças para continuarem na luta de combate a doença. Enaltece a participação de todos. Destaca o oportunismo e a falta de solidariedade na sociedade atual. Discorre sobre a greve dos caminhoneiros e a falta de preocupação com a situação da população. Esclarece que a luta para a redução de impostos e combate a corrupção devem continuar. Ressalta a necessidade de lutarmos por um País mais igualitário. Demonstra orgulho de Floriano Pesaro, que abraça causas honestas em favor de quem precisa. Elogia a atuação do deputado federal. Destaca a importância da participação de todos, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa. Agradece as crianças tratadas pelo projeto, que deram uma aula de cidadania, amor e solidariedade, as autoridade e todos os presentes. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. João Caramez.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - IZABEL DE JESUS PINTO - Senhoras e senhores, bom dia. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de prestar homenagem a Associação Israelita de Beneficência Beit Chabad do Brasil com a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo, em reconhecimento ao Projeto Felicidade.

Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web e será retransmitida pela TV Assembleia no sábado, dia 02 de junho, às 20 horas pela NET; canal sete, pela TV Digital, canal 61.2 e pela TV Vivo canal nove.

Convidamos para compor a Mesa, o deputado estadual João Caramez; o deputado federal Floriano Pesaro; a Flávia Bochernitsan, diretora-geral do Projeto Felicidade; o Mauro Zaito, presidente da Associação Israelita de Beneficência do Beit Chabad do Brasil; o rabino Shabsi Alpern; o Ricardo Berkiensztat, presidente executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo.

Com a palavra, o deputado estadual João Caramez.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO CARAMEZ - PSB - Bom dia a todos.

Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos do Regimento Interno, e  com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Senhoras deputadas, senhores deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa, o deputado Cauê Macris, atendendo à solicitação deste deputado, com a finalidade de homenagear a Associação Israelita de Beneficência Beit Chabad do Brasil, com a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo, em reconhecimento ao Projeto Felicidade.

Quero aqui cumprimentar o deputado federal Floriano Pesaro, meu amigo e companheiro, pessoa por quem eu tenho uma grande estima, um dos ícones da política

nacional e uma pessoa que nos dá muito orgulho de ser o nosso representante na Câmara Federal. Muito obrigado. Cumprimeto a Flávia Bochernitsan, diretora-geral do Projeto Felicidade; o Mauro Zaito, presidente da Associação Israelita de Beneficência do Beit Chabad do Brasil; o rabino Shabsi Alpern e o Ricardo Berkiensztat, presidente executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo.

Desculpem a pronúncia, mas, na verdade, quem deveria estar aqui era o Floriano. Porém, como ele não é deputado estadual, sou eu que estou.

Eu quero agradecer a presença de todos os senhores, é uma satisfação muito grande poder contar com todos os senhores e senhoras, com esta Mesa maravilhosa. Diante disso, convido a todos os presentes para que, em pé, ouçamos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Patrulha Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do sargento Cunha.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - JOÃO CARAMEZ - PSB - Quero registrar a presença do Pablo Arruda, vereador de Laranjal Paulista; Yossi Alpern, vice-diretor da Associação Israelita de Beneficência Beti Chabad do Brasil; Daniel Leon Bialski, presidente da Hebraica de São Paulo; Mendy Tal, chefe de gabinete do deputado federal Floriano Pesaro; Rodrigo Massi, representando a Secretaria de Relações Internacionais; Pedro Mastrobuono, vice-presidente da Comissão de Direitos das Artes - OAB.

Quero agradecer a execução do Hino Nacional pela Patrulha Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do maestro e sargento Cunha. Obrigado.

Agora, assistiremos a um vídeo institucional, por favor.

 

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- É exibido o vídeo.

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O SR. PRESIDENTE - JOÃO CARAMEZ - PSB - Muito lindo, emocionante. Aliás, eu quero até contar uma passagem, alguns minutos antes de iniciarmos a sessão eu fui entrevistado pela Érica, que é nossa repórter que está aqui fazendo o trabalho da TV Alesp. E ela estava me dizendo que é uma pessoa privilegiada, porque ela que fez a entrevista e, diante de todo o trabalho que ela vivenciou naquele programa, ela disse: “Olha, deputado, fui uma pessoa privilegiada por ter feito esse trabalho”.

Isso mostra a importância que vocês têm na vida de todos nós brasileiros que, através do amor e da solidariedade, conseguem superar barreiras que às vezes imaginamos que sejam intransponíveis. Que Deus abençoe a todos.

Agora eu tenho a honra de passar a palavra ao nosso rabino Shabsi Alpern.

 

O SR. SHABSI ALPERN - Bom dia a todos. Antes de mais nada, eu queria dizer que a minha emoção foi muito forte quando nosso ilustre deputado começou dizendo as primeiras palavras sobre a proteção divina. Realmente sob a proteção e a benção divina que este País maravilhoso funciona, apesar de todas as dificuldades. Pedimos ao Divino que dê uma mãozinha a mais nesses dias tão delicados porque o nosso povo não merece tudo isso.

Queria agradecer um amigo, o Floriano, sem todos os títulos. Floriano é um amigo do bem, porque ele é um homem do bem. Ele tem uma alma muito especial, que eu conheci muitos anos atrás. E de lá para cá, foi desenvolvida e revelada mais ainda, parabéns a ele, saúde e vida longa. Também quero agradecer ao nosso tão querido Mauro Zaito, nosso presidente e que representa toda a nossa diretoria.

Para poupar tempo vamos incluir todos os dirigentes e deputados que estão aqui conosco, senhores e senhoras que o bom Deus abençoe a todos. Tem mais uma pessoa que eu preciso mencionar que é a Flávia. Ela não trabalha no Projeto Felicidade, ela é o projeto.

Esse projeto completou 17 anos de existência no dia 23 de abril. Ele foi feito por nós para atender crianças brasileiras. Não teve uma criança de nosso povo nesse projeto e não terá. O projeto foi feito para aqueles que estão precisando de uma mão muito especial. O destino leva cada um de nós para o seu lugar. O fato é que o destino me trouxe para o Brasil, aliás, eu farei 57 anos em julho, se Deus quiser, aqui no Brasil. O destino me trouxe para cá e eu sempre quis, tentei e fiz várias coisas menores para o Brasil. Mas, há 17 anos resolvemos fazer algo grande, que é o Projeto Felicidade.

Além do destino, há mais uma razão para o projeto. O Brasil é um país de braços abertos para todo e qualquer imigrante, para nós e todas as outras minorias.  E nós temos que agradecer, não apenas aproveitar. Na vida devemos aprender a agradecer aos braços abertos que sentimos neste País. Quando cheguei aqui, em 19 de julho de 1961, eu falava uma única palavra em português: bananas. Porque em inglês é a mesma palavra.

Alguém me contou no Rio, meu primeiro endereço, que há uma padaria no centro da cidade onde se vendem pães feitos conforme as instruções bíblicas que nós tentamos seguir da Torá. Eu não falava uma palavra em Português, eu nem conhecia as ruas; eu subi no bonde e fui com fé e coragem até o centro do Rio. Aliás, o bonde estava lotado e sem querer eu pisei no calo de alguém e nem sabia dizer “me perdoe”.

Mas no bolso eu tinha um livrinho com todas as frases chaves que o novo membro de um país precisa, e então eu falei: “Momento.” Eu acertei, todo mundo ficou olhando o que esse ET vai fazer. Eu tirei o livrinho do bolso, achei a frase e falei: “Me desculpa”. E todos bateram palmas, essa foi a recepção no Rio. Eu virei para um senhor desconhecido e sentado ao meu lado, e com caneta eu desenhei, atrás de uma revista americana que estava comigo, uma padaria. E coloquei um ponto de interrogação, ele entendeu e falou: “Vem comigo”. Linguagem dos mudos.

Quando chegamos ao lugar, o homem desceu comigo e me acompanhou por duas esquinas até a padaria. Por isso e muito mais eu criei o Projeto Felicidade. Só aqui se vê assim, que vão descer do bonde e levar alguém com a minha embalagem para a padaria. Aliás, naquela época, quando eu cheguei, o Fidel Castro assumiu o poder lá em Cuba seis meses antes. Então, quando eu andava nas ruas, eu lembro dos gritos e melodia: “Fidel do Brasil”.

Eu andava nas ruas do Rio acompanhado com essa melodia. Mas desceram do bonde, esse é o brasileiro verdadeiro. Esse é o povo, que o bom Deus realmente abençoe esse povo. A nossa cultura nos ensina que a base do mundo é fazer o bem, bondade é a base do mundo, do universo. Por isso, os princípios de moral e ética são a alma da nossa crença, são a nossa essência, são a nossa natureza, no início, no meio e no fim da nossa vida.

Aqui alguns exemplos para mostrar como é que enxergamos o mundo e a vida. Os Dez Mandamentos conhecidos por todos, cinco dos quais falam da relação entre homem e o Criador. Os outros cinco tratam de relações entre os homens. Aqueles cinco que tratam sobre a relação entre os homens são os mais importantes. A melhor prova, se ofender a alguém e chegar o dia do perdão, do jejum total, não adianta jejuar e bater no peito, tem que ir lá e pedir desculpas ao fulano.

Nenhum jejum vai perdoar algo que se fez ao seu semelhante, porque ele está acima do dia de Yom Kipur, do Dia do Perdão. No mundo todo é conhecida uma regra bíblica que é chamada em muitos países como a regra de ouro, que é “Ame ao seu próximo como a si mesmo”. Nós falamos isso em palavras muito claras, dizendo uma frase dos nossos mestres: “O pedaço de pão que eu tenho é teu, como meu”. E sempre falando teu, antes do meu.

A Bíblia diz que o homem deve seguir atrás do Criador, e como é possível? Quem tem acesso a essa cena e como nós podemos andar atrás do Criador? Dizem os mestres antigos que seguindo os caminhos, não caminhões. Mas caminhos do Altíssimo quer dizer: “Ele é bondoso”. Ele pratica o bem, isso quer dizer: “Ir atrás e imitar o nosso Criador”. O nosso Talmude nos conta que no fim dos 120 anos terrestres teremos que prestar contas.

É igual Curitiba, ninguém escapa na questão de tempo, pode demorar. E quando se chega lá no alto, naquele Lava Jato celestial, sabe qual a primeira pergunta que se faz? Emocionante. Não perguntam se acreditou em Deus, ou “Fez as suas orações diárias?” Nada disso. A primeira pergunta é: “ O senhor agiu corretamente com todas as pessoas?

Essa é a primeira pergunta lá no alto. A Bíblia fala e busca a justiça, repetindo a palavra justiça duas vezes. Aquela gráfica não tem erros. Por que duas vezes a justiça busca a justiça e a justiça? Explicam os comentários antigos que não faz nenhuma diferença se essa busca sua vai lhe trazer lucro, perdas ou danos, não importa, mas você não pode se desviar do caminho da justiça.

E também não importa qual é a crença daquela pessoa com quem está negociando, raça, cor, credo, nada disso. Tem que se agir com justiça. No mundo todo a sociedade para ajudar os animais contra a crueldade. Não temos uma sociedade nesse sentido dentro de nossa crença. Sabe por quê? Porque todo o povo faz parte dessa sociedade. Todo mundo faz parte. Sabe o que a Bíblia nos ensina? Que não se pode arar o seu campo com bois e burros amarrados juntos. Por quê? Qual o problema de boi e burro puxando o arado? Mas, o boi é um animal ruminante e o burro não é. E o burro é um burro, infelizmente.

Então o que o burrinho está pensando? “Eu e meu colega aqui, o boi tomamos café da manhã e eu vou ter que esperar até o jantar, mas ele está comendo o tempo todo, cadê a justiça?” O boi é ruminante e está comendo toda hora. Diz o Criador na Bíblia, que é uma proibição com todas as letras: “Não amarrarás boi e burro juntos para não ofender o sentimento do burrinho”.

Pela lei bíblica não podemos sentar para comer antes de levar o que comer aos nossos animais. Deus é muito bondoso. Nós estamos - Deus nos livre - em uma hora de guerra, precisa-se de madeira, não podemos cortar uma árvore frutífera. Apesar de ser guerra, porque a fruta é um ser vivo, não pode se cortar uma árvore dessas. Diz Davi: “Andarei na frente de Deus”. E o que quer dizer na frente de Deus?

Diz o Talmude que não é na sinagoga e na sua casa, é no mercado. Tem que lembrar em todo o lugar que Deus está ao seu lado. E qualquer pessoa que aparece em sua vida, é importante perante Deus e perante o senhor. O costume de muitas pessoas ao ver o novo livro, a primeira página e o finzinho, ninguém tem a paciência de ler, especialmente nos dias atuais. Abrindo a Bíblia, qual é o primeiro ato divino? Deus vestindo Adão e Eva, Deus praticando o bem com um casal que não tinha roupas.

Qual é o último ato na Bíblia? Deus enterrando Moisés, porque não tinha ninguém para fazer o serviço. Bondade é abertura, bondade é o fim da Torá, da Bíblia. São poucos exemplos de muitos, eu tenho que respeitar os outros oradores também. Faço votos de que cada grupo e comunidade faça algo por esse povo sofrido e tão bom. E, assim apressaremos mais ainda a vinda do Messias, que seja breve em nossos dias.  Ele trará igualdade, saúde, paz e sustento para todos.

Obrigado a esta Casa pela honra. Obrigado a todos que nos ajudam de várias formas e maneiras. Obrigado a todas as nossas santas voluntárias que chamamos de anjos, mas elas não queriam cooperar, então voltamos para voluntárias. Obrigado aos pais que estão aqui, pela confiança. Obrigado Brasil.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO CARAMEZ - PSB - Eu estava pensando e, ouvindo atentamente ao discurso do rabino, me atentei para um detalhe da chegada dele em 19 de julho. Agora eu entendi porque eu sou feliz em meu casamento: eu casei dia 19 de julho. Muito bom.

 

O SR. SHABSI ALPERN - Que honra.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO CARAMEZ - PSB - A honra é nossa. São 37 anos. Casei em 1980.

 

O SR. SHABSI ALPERN - Casou muito jovem.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO CARAMEZ - PSB ­- Mais ou menos, rabino. Já estava com 29 anos. Coitada da minha esposa, esperou dez anos para eu casar com ela. É uma heroína.

Eu quero, neste momento, passar a palavra para o nosso deputado federal Floriano Pesaro.

 

O SR. FLORIANO PESARO - Bom dia a todos e todas, bóker tov. Quero agradecer, em primeiro lugar, o meu colega, deputado João Caramez, meu grande parceiro e colega de jornadas políticas em tempos difíceis e duros. Mas temos algo que nos conduz com muita força e que está lá em cima, que nos ajuda nesse dia a dia. Obrigado por acolher a minha comunidade do Chabad e o meu povo, nesta Casa que é do povo. O senhor foi muito generoso ao acolher esta sessão solene e ao nos dar a honra em nome do Legislativo Paulista de uma das mais importantes honrarias que é o Colar do Mérito.

Quero cumprimentar o rabino Shabsi Alpern, que transformou o sonho em realidade. Eu lembro quando o senhor nos procurou na primeira metade dos anos 90, já do século passado, a mim e ao meu amigo Sandro Kohler que está aqui, que está representando outro parceiro nosso, o Daniel Annenberg. É outro técnico político como eu, que nos dá orgulho. Dá orgulho à nossa comunidade.

Aliás, foi o Sandro que me apresentou o rabino Alpern, que contava esse sonho e, de lá para cá, o sonho foi se transformado em realidade. Não o fez sozinho, mas foi a sua inspiração, provavelmente divina, que nos deu a oportunidade de estarmos aqui hoje comemorando. E é sim uma comemoração de um programa exitoso, que atende centenas de crianças que não teriam outra oportunidade se não fosse a felicidade. Por isso, rabino, o senhor é uma inspiração a todos nós, porque sonha e transforma os sonhos em realidade. É isso que precisamos. Nós, homens públicos, mas, acima de tudo, o Brasil.

 

O SR. SHABSI ALPERN - Sonhar alto, mas não adormecer.

 

O SR. FLORIANO PESARO - Quero cumprimentar também algumas das figuras mais importantes da nossa comunidade, que são os nossos rabinos que nos guiam: o rabino Shamai Ende, muito obrigado pela presença; o rabino Yossi; o rabino Dov; rabino Dani; o rabino Nurkin; o rabino Eli; o rabino Abraham; rabino Leib e todos os nossos rabinos. E é um risco de falar de rabino, nós deixamos escapar um ou outro, mas são todos os nossos rabinos que nos conduzem e que nos dão alimento espiritual, João, e que são tão poderosos. O poder deles é algo impressionante, como nos dão segurança, firmeza.

A minha jornada política começou com esse homem, foi com o rabino Alpern, aqui em São Paulo, no Hotel Grand Hyatt. O senhor se lembra disso? Em fevereiro de 2008, quando o senhor disse: “Vamos te conduzir, vamos te levar adiante”. E a força daquele encontro dos rabinos me deu a força necessária para chegar até aqui. Muito obrigado.

Flávia, nos conhecemos há pelo menos 15 anos, talvez mais, 20 anos. A senhora é impressionante, sua capacidade de operação de um programa como esse, a sua firmeza, determinação, liderança acima de tudo, que não faz sozinha. Quero aproveitar e cumprimentar a Flávia, que hoje receberá, em nome do projeto e do sonho do rabino, o Colar de Honra ao Mérito. Quero também cumprimentar a todas as voluntárias e voluntários que estão aqui.

Aos empresários, que nos ajudam nesse projeto, aos pais, e a todos que fazem da Felicidade uma realidade, peço uma grande salva de palmas. (Palmas.) Mauro Zaito, grande homem e também inspirador de todos nós, companheiro, parceiro, amigo e responsável por muita coisa em nossa comunidade, mas também responsável pelo Beit Chabad central: em seu nome, quero cumprimentar a todos da congregação, todos que frequentam e ajudam, e todos que se cercam dessa grande organização que é o Chabad.

O Sr. Ricardo Berkiensztat, presidente executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo, obrigado pela sua presença. O senhor representa toda a nossa comunidade do estado de São Paulo, que é a maior do Brasil e juntos avançaremos, sempre juntos, muito obrigado. Daniel Bialski, presidente da Hebraica, meu irmão de loja, querido.

Daniel, que é uma nova geração também, advogado, de uma nova geração de políticos sem mandato, mas que exerce a política comunitária que é tão importante. Eu queria pedir uma salva de palmas ao Daniel Bialski. (Palmas.) Quero cumprimentar o Mendy Tal, chefe de gabinete, que me orienta há dez anos, desde 2008. Dez anos ao meu lado e sempre inspirador. O bom é que convivemos com pessoas que nos inspiram, não é rabino, e isso faz com que as coisas se realizem.

O Mendy é o meu fiel escudeiro, amigo, parceiro e conselheiro. Quero cumprimentar também o Pablo Arruda que é o vereador de Laranjal Paulista. E o meu amigo Rafael Hamoui. que está aqui, muito obrigado pela presença. O Pedro Mastrobuono, muito obrigado, ele que é vice-presidente da Comissão de Direitos da OAB, muito obrigado pela presença.

Hoje, estamos aqui para conceder o importante Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à Associação Israelita Beneficente Beit Chabad do Brasil em razão do seu Projeto Felicidade. Quem conhece um pouco do Beit Chabad, sabe do seu compromisso em ser parceiro de Deus na construção de um mundo mais perfeito. O Beit Chabad é do Brasil e de todos os países em que se faz presente - e está em quase todos mesmo. Para quem não conhece o Chabad, ele está em todos os lugares, até em Cuba, como já citou aqui o nosso rabino Alpern.

O Chabad tem a missão de acolher as pessoas que procuram ter um caminho espiritual e que consideram a educação e a beneficência dois dos mais importantes pilares da sua ação. No cumprimento de seus princípios, o Beit Chabad criou vários projetos, e, notadamente, o Projeto Felicidade - esse, que iniciou suas atividades em abril de 2001 oferecendo cinco dias de pura diversão e alegria a crianças e adolescentes de classes menos favorecidas e com uma doença terrível que é o câncer.

A cada semana, os hospitais selecionam crianças em tratamento para que participem do projeto. De segunda a sexta-feira, juntamente com os irmãos e os pais, ficam hospedados em hotéis e participam de diversos passeios. Como pudemos ver no vídeo, parques temáticos, praias, shoppings, boliches, cinemas, museus e o sítio do projeto também. As crianças que padecem de uma enfermidade tão grave e assustadora como o câncer vivem em uma rotina estressante e passam por tratamentos que comprometem sua saúde e suas emoções. O medo da morte também contribui para criar um estado de alerta e depressão que geralmente as esgotam.

O Projeto Felicidade lhes permite esquecer, por um período, toda a angústia que os cerca. Uma mudança de ambiente, o convívio diuturno com a família e a diversão podem aliviar um pouco a sua condição de doente. Possibilitam que sejam não apenas doentes, mas seres humanos normais. Tudo isso faz do Projeto Felicidade um exemplo de boa ação que contribui para um mundo mais comprometido com a generosidade.

Rabino Alpern, São Paulo tem o privilégio de contar com esse projeto em nosso Estado. A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, na figura do seu presidente e do nosso deputado João Caramez, reconhece esse privilégio. Pessoalmente, rabino, posso me orgulhar de ser um parceiro do Beit Chabad e do projeto há anos. Sempre que for possível, procurarei colaborar e buscar recursos para viabilizar as suas iniciativas.

Assim, estando hoje aqui, sinto-me orgulhoso da relação que estabelecemos com o Beit Chabad e com o projeto. Agradeço, mais uma vez, ao deputado João Caramez, pelo convite, um grande homem público, amigo, parceiro e leal. Agradeço ainda à Assembleia Legislativa, neste plenário central, por reconhecer a importância de um projeto tão valioso para o nosso povo, para o povo paulista e para o povo brasileiro. Muito obrigado. Parabéns ao Projeto Felicidade. Aliás, eu chamava o rabino Alpern de Sr. Felicidade.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - IZABEL DE JESUS PINTO - Neste momento, convidamos o deputado estadual João Caramez e deputado federal Floriano Pesaro para que façam a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à Sra. Flávia Bochernitsan, diretora-geral do Projeto Felicidade, que receberá em nome da Associação Israelita de Beneficência Beit Chabad do Brasil.

 

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- É entregue o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - IZABEL DE JESUS PINTO - Tem a palavra a Sra. Flávia Bochernitsan.

 

A SRA. FLÁVIA BOCHERNITSAN - Em primeiro lugar, quero dizer que estou como a artista do nosso vídeo institucional, que falou que estava muito nervosa, apesar de já ter feito apresentações para diversos públicos. É que aqui é um público especial, eu peço que desculpem as minhas falas, estou muito emocionada, mais do que imaginei. Eu não estou acostumada a falar nesta Casa, para esse público e na frente de deputados.

Enfim, eu sei que o protocolo pede que eu mencione o nome de cada um, mas vou pular isso, deixo os protocolos para o rabino, que entende bem, e para os políticos. Eu vou tentar falar aquilo que me propus, porém, irei pular uma parte, porque o Floriano plagiou o meu discurso. Eu acho que ele deu uma passadinha lá em casa quando eu não estava olhando e o copiou quase que integralmente. É óbvio que me preparei para falar um pouco do histórico, mas vamos lá.

Há 18 anos, assim como o Floriano falou, eu também escutei o sonho do rabino Alpern. Naquela época, estava muito fácil para mim, eu era uma simples ouvinte. E escutei ele falar que queria agradecer ao povo e ao Brasil que o acolheu, como acolhe a todos os estrangeiros de braços abertos e que dá a mesma oportunidade a seus filhos. Ele direcionou esse agradecimento nos sonhos que trazia para as crianças. Algumas estão aqui conosco e eram portadoras de câncer. Eu ouvia e era uma boa ouvinte na época.

No entanto, todos que aqui estão e que conhecem muito bem o rabino sabem que ele sonha grande e que não descansa enquanto não torna o seu sonho uma realidade. Tiveram várias reuniões que começaram em 2001 e, naquela época, reuníamos pessoas de diversas áreas, da Oncopediatria, de Psicologia, Assistência Social, da associação de hotéis. Enfim, várias reuniões. Como todos sabem, quando se tem várias reuniões, meio que se perde o foco e vai aumentando o número de pessoas e a quantidade de palpites e opiniões: “Faz assim ou assado”.

E um dia, em uma das reuniões, o rabino Alpern bateu na mesa e disse: “Vamos começar”. A data seria dia 23 de abril e faltavam mais ou menos uns dois meses. Ele escolheu a data, se não me falha a memória, mais pelo calendário judaico, porque é o dia que se dedicava à saúde e que se pedia por saúde. Uma das pessoas presentes perguntou: “Tudo bem, rabino, a data está decidida, mas quem vai ser a pessoa responsável? Quem vai dirigir o projeto?

Já tinha nome, Projeto Felicidade, e o rabino com esse jeito simpático, simples e fácil, se vira e diz: “A dona Flávia, que está ao nosso lado, será a responsável pelo projeto”. Fiquei quieta, aguardei que todos se retirassem, eu cheguei ao rabino e falei: “Rabino, eu lhe agradeço, mas não tenho o preparo necessário para ser uma pessoa responsável pelo Projeto Felicidade. Isto requer muitos cuidados, uma logística muito grande, e eu não sei”.

Eu fiquei tão nervosa, eu acredito que como estou agora. O rabino simplesmente respondeu: “A senhora tem dois meses. Em dois meses a senhora se prepara”. Eu pensei: “Como que eu vou preparar em dois meses os hotéis para receber as famílias? Como as famílias virão? Que programação nós teremos?

Aí surgiu um grupo de voluntárias que já haviam estado com o rabino na casa do Sr. Moisés e da dona Clara. Voluntárias essas que a dona Clara, na época, convocou, e que comigo deram o primeiro passo. Cada um correu e procurou programação, surgiu alguém, outro amigo do rabino, com transporte, e assim recebemos as primeiras crianças com seus pais e irmãos do Hospital Itaci.

Começamos com um único hospital dentro da Capital. Hoje temos 34 hospitais no território brasileiro. Em nenhuma semana, a não ser em janeiro ou em semanas que têm feriados, nunca, nesses 17 anos, deixamos de receber as famílias que esses hospitais nos enviam. Quando é fora do estado de São Paulo, e eu vou fazer uma propaganda, é pela Gol. Eu acho que tem que se mencionar que é um parceiro tão grande e que faz isso de coração desde 2001.

Então, as famílias vêm pela Gol, e as voluntárias as recebem no aeroporto. Eu não vou falar, como eu disse, do histórico, para não ser repetitiva, mas vou aproveitar o tempo que eu tenho para falar para vocês que nós, quando entramos em hotéis, ficamos também deliciados com o ambiente, a comida e o café da manhã, eu peço então que imaginem as famílias do projeto.

Eu vou usar uma expressão que eu não uso e que não é habitual. Eu falo igual o deputado Floriano, “classes menos favorecidas”, mas eu vou dizer uma palavra que eu tenho certeza que todos somos, famílias carentes. Todos somos carentes.

Quando se fala em carente, se pensa em carência financeira, mas não, as famílias não eram só carentes financeiramente falando. Eram carentes de saúde, de amor, de afeto, de ombro amigo, que desse os ouvidos para que elas pudessem desabafar, um colo amigo com que pudessem contar, porque eles estão acostumados, devido à doença dos filhos, a serem rejeitados, a serem discriminados quando a doença aparece.

Quando é visível, os pais relatam que nos ônibus as pessoas levantam, na escola não brincam com o seus filhos e até parentes próximos se afastam. Então, de repente, surge o Projeto Felicidade que, além de acompanhá-los para fazer um check-in no hotel, proporciona cinco dias de passeios intensos que envolvem não só lazer e diversão, mas também cultura, visitas a museus, muitas vezes ao teatro, ao cinema, coisa tão comuns a nós e tão raras na vida deles.

De todos esses passeios, tem dois que todas as cartas relacionam como os melhores, que é o sítio do projeto São Lourenço da Serra e o Guarujá. O sítio do projeto porque lá eles se sentem livres e em contato com a natureza, andam de bicicleta, é um sonho para eles, de pedalinho, de charrete. O Guarujá, acreditem, porque a maioria nunca viu o mar. Imaginem as crianças diante do mar, aquela grandiosidade. Às vezes, avós que acompanham no lugar dos pais também agradecem, porque nunca viram.

Teve uma avó que uma vez desenhou um coração enorme na areia, agradecendo e dizendo o quanto amava o Projeto Felicidade. Imaginem as famílias tomando café da manhã ou jantando nos hotéis.

Uma vez, a Dra. Maria Lídia, do Hospital Darcy Vargas, perguntou a uma criança, mostrou as fotos e disse: “Dessas fotos, qual a que você gosta mais?” Era um menino pequeno. Ele estava entre dois rapazes, e o menino disse: “Essa foto”. Ela ficou surpresa, pensou que ele ia mostrar algum local do passeio. Curiosa, perguntou: “Por que essa foto?” O menino respondeu: “Doutora, esse é o garçom e esse é o maître do restaurante, eu nunca imaginei, na minha vida, que eu seria servido assim, por isso essa é a foto que eu mais gostei”.

O projeto, além de oferecer esses cinco dias de capacitação profissional, procura mostrar para as famílias que elas são merecedoras, como todos os seres humanos, desses passeios, dessa inclusão social. Posso contar a vocês que tivemos um menino chamado Lucas que, quando passou pelo projeto, tinha em torno de sete anos. Ele e a irmã ganhavam do pai um real para comprar o seu lanche na escola.

Durante o mês inteiro, nem ele nem a irmã compraram. Chegado o final do mês, ele mostrou para o pai e a mãe, que perguntaram: “Por que isso? Por que não comeu?” E ele disse: “Porque no projeto eu descobri que tem mais pessoas e crianças que têm menos do que eu, e eu quero comprar brinquedos para levar às crianças do projeto”. Hoje o Lucas é graduado nos Estados Unidos, em uma faculdade de Administração.

Tem o caso do Edgar, que gostava muito de desenhar quando estava conosco. Depois ele mandava todas as cartas com lindos desenhos. O projeto pagou para ele um curso de desenho e isso o motivou. Hoje o Edgar, com 24 anos, é engenheiro formado. Posso contar também sobre a Samanta, menina ruivinha linda e muito inteligente que foi acometida pelo câncer duas vezes, batalhou, superou e hoje é casada e tem uma filha de quatro anos chamada Samira.

Não só passou pelo projeto, como também o projeto foi à casa dela. Como o Floriano falou, entregamos o kit festa e vimos que a casa não passava de um quarto com banheiro. Eles comiam no chão, sentados no colchão. Fizemos a reforma dessa casa, e um andar em cima com quartos e banheiros, não só a reforma. Mobiliamos a casa para que eles tivessem a dignidade de sentar em uma mesa e pudessem comer com dignidade.

As voluntárias mais antigas - não vou citar nomes para não me perder, o Floriano começou com o rabino e nos perdemos - todas moram em nosso coração e são mencionadas, como o rabino falou nas cartas, como anjos em forma de pessoas. As voluntárias mais antigas, como eu dizia, conheceram o Pipoca. Era um menino de cinco anos, o nome dele era Tiago. Ele frequentava o projeto, depois daquela semana, durante cinco dias. Mesmo quando ele ia para o GRAACC fazer a quimioterapia, ele pedia para vir ao projeto, ele simplesmente comia e dormia. Um belo dia, o Pipoca chegou para mim e disse: “Preciso falar com a senhora”. Ele era muito chegado a nós. Eu disse: “Pois não, fala, Tiago”. Ele disse: “Não, assim não”. O Pipoca era muito observador, e eu me dei conta que ele observava que, quando alguém queria falar comigo, íamos ambas as pessoas, quem solicitava e eu, a uma sala para conversar.

Na hora me dei conta e fiz isso com ele. E perguntei: “Pois não, o que quer?” Com seus cinco anos, grande herói, ele pediu: “Quero trabalhar no Projeto Felicidade”. Eu olhei para ele, aquele grande homem, e perguntei: “E o que deseja fazer?” Nós temos duas palhaças, uma artista de teatro e uma psicóloga, isso é um parêntese. Ele me respondeu: “Quero trabalhar com as palhaças”. Desejo e pedido atendidos, foi feita uma roupa de palhaço para o Pipoca.

Na primeira semana, na despedida das famílias na sexta-feira, havia um sofá pequeno por lá. Ele colocou o sofá no meio da sala, deitou e eu até achei que ele estava dormindo. Boba eu, inteligente ele, que fez de conta. Enquanto as pessoas perguntavam, ele permaneceu de olhos fechados. Quando as pessoas sentaram, ele começou a agir e trabalhar junto com as palhaças, como se fosse um roteiro, como se ele já tivesse ensaiado, e comovia a todos de tal forma que um dia eu peguei o Pipoca fazendo consulta com uma criança maior que ele. A criança estava chorando e ele chegou perto, abraçou e disse: “Não chora, a dor vai passar”.

Com o Projeto Felicidade, eu aprendi e aprendo a cada dia, a minha dor passa e volta. A dor é diária por ver crianças e adolescentes sofrendo, mas a felicidade também é, porque entram de um jeito e saem de outro. Saem abastecidos de amor, que é isso que todos nós no mundo queremos. Todos que estão aqui, querem ser amadas.

Não importa se são bonitas ou feias, gordas ou magras, negras, brancas ou amarelas, que religião têm e de onde vieram. No fim da nossa vida, não vamos nos arrepender se não tivermos o dinheiro que queríamos, a casa bonita. Não nos arrependemos de nada disso no último minuto e no último suspiro. Queríamos viver mais entre os amigos, a família e sermos amados. O Projeto Felicidade procura dar tudo isso para essas pessoas, e não só durante aqueles cinco dias.

Mas, como eu digo a todos em uma despedida, eles passam a fazer parte da família do Felicidade. Nossas portas estão sempre abertas para eles, o amor é cada vez maior. Antes de agradecer a algumas pessoas que tenho que agradecer, senão não seria justo sentar nesta cadeira hoje, eu quero dizer que fazer uma criança sorrir é muito fácil. Fazer uma criança triste sorrir dá mais trabalho, mas nós conseguimos. Agora, fazer uma criança com câncer sorrir é um milagre que o projeto faz diariamente, todos esses anos.

E esse milagre não poderia acontecer sem os nossos parceiros, aquelas pessoas que patrocinam com o material ou que patrocinam financeiramente o projeto; meu grande abraço e carinho imenso. As nossas voluntárias, que muitas vezes pelos seus motivos se emocionam mais ou menos. Se envolvem mais, cada vez mais e vibram assim como eu. A cada um que passa pelo projeto, o meu beijo no coração. À equipe dos funcionários do projeto, meu muito obrigada, porque conseguimos formar um time, um grande time que é a máquina propulsora.

Eu gostaria de mencionar o nome de todos, mas me perdoem aqueles que estão presentes, eu não vou fazer. Mas eu preciso agradecer e muito a uma pessoa especial, meu braço direito, que me critica com críticas construtivas. Brigamos, nos alteramos, nos abraçamos e nos beijamos: a minha filha Simone. Ela, que merece ter o Colar de Honra ao Mérito, porque, mesmo quando esteve ausente durante dois anos morando em outra cidade, não deixou um dia de fazer a sua parte dentro do projeto. Obrigada por ser minha parceira em tudo e sempre.

E, dizem que deixamos para o fim uma pessoa mais especial. Não poderia terminar sem agradecer a ele, que dividiu comigo o seu sonho. Um sonho grande e que é real, porque dizem que um sonho sonhado sozinho é só um sonho. Mas um sonho, quando se divide com outras pessoas, se torna realidade. Obrigada, rabino Alpern, por ter me dado como presente o seu sonho. Obrigada a todos.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - IZABEL DE JESUS PINTO - Com a palavra, o deputado estadual João Caramez.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO CARAMEZ - PSB - Bastante emocionante, Flávia. Emocionou a todos nós. Por mais experiência que tenhamos nesta tribuna, assim como a senhora mesma disse, somos feitos de carne e osso e temos sentimentos, não é, Floriano? E o seu discurso - realmente, a sua história - comoveu a todos. A senhora é uma pessoa divina e abençoada. E que realmente foi escolhida, não pelo rabino, mas por Ele lá em cima, Deus. Então, é uma pessoa bastante abençoada.

Eu quero cumprimentar, em nome do Floriano e do rabino, não só a Mesa, mas a toda a comunidade Beit Chabad e a todos os nomes que já foram nominados. Geralmente encerramos, e o presidente da sessão solene sempre encerra sentado. Mas eu fiz questão de vir aqui, como sinal de respeito a todos os senhores que vieram aqui, nesta manhã, prestigiar a sessão solene. E, apesar de eu estar presidindo, ela só está acontecendo porque o nosso deputado, o nosso amigo Floriano, solicitou.

No início, eu disse: “Ele não está no meu lugar porque é deputado federal”. Realmente, quem preside é o estadual. Mas, por direito e por justiça, ele deveria ocupar a Mesa como presidente desta sessão. Espero que eu tenha correspondido a sua expectativa, Floriano.

É com esfuziante emoção que eu presido este ato e agradeço a participação dos senhores e senhoras nesta sessão solene, que tem a finalidade, como já foi feito, de outorgar o Colar de Honra ao Mérito Legislativo à Associação Israelita Beneficente Beit Chabad do Brasil, em razão do Projeto Felicidade. Aqui vai uma observação: essa é a maior honra feita nesta Casa. E, para que isso ocorresse, foi necessário que fosse aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo e por todos os deputados. Teve votação unanime, Flávia.

Com esse gesto, prestamos uma singela homenagem a quem muito fez e faz pelas crianças de classes menos favorecidas, portadoras de câncer, selecionadas pelos 34 hospitais conveniados e acompanhadas de seus familiares. Todos os presentes conhecem e participam desse importante trabalho social, que reestabelece a autoestima através da diversão e alegria, animando e incentivando as crianças a prosseguirem na luta para combaterem a doença.  Portanto, farei o uso do tempo que resta para enaltecer a atuação de seus colaboradores.

Essa é a maneira que encontramos para expressar nossa gratidão aos que trabalham incansavelmente para ajudar o próximo e garantir amor e vida em abundância. Em uma sociedade em que presenciamos diariamente o egoísmo, oportunismo e falta de solidariedade, eu vejo o resultado da greve dos caminhoneiros, preços abusivos em algumas bombas de abastecimento, produtos em falta. E, com o aumento na procura e falta de ofertas, surge a avalanche de reajustes.

Não podemos esquecer que quando houve o último furacão nos Estados Unidos, todos os proprietários de postos de gasolina, mercados e farmácias venderam seus produtos a preço de custo para ajudar a população. Mas, na verdade, aqui poucos estão preocupados com a situação dos trabalhadores, que fizeram a paralisação para que seu clamor fosse ouvido. Muitos continuam olhando para o próprio umbigo. E eu

sei que, embora o tema não seja agradável, é a realidade de nosso País e nossa obrigação participar ativamente para mudar.

Lembro-me do que o rabino colocou. Essas pessoas, rabino, com certeza, estarão prestando conta na Lava Jato lá de cima, como o senhor mesmo disse. Eu acredito na redução da carga tributária, com projetos de compensação para atribuir novos mecanismos que não onerem o trabalhador. Na minha atividade parlamentar, eu fui coordenador da Frente Parlamentar contra a CPMF, nesta Casa, e pela redução da carga tributária. E conseguimos pôr fim a CPMF.

Essa é uma luta perene e que continua dia após dia porque os brasileiros não suportam mais esse elevado percentual de tributos. O governo, em todos os níveis, federal, estadual e municipal, já possui a arrecadação suficiente para garantir aos brasileiros Segurança, Saúde e Educação. Precisamos fortalecer a luta contra a corrupção no setor público, que se instalou no País de forma generalizada, que está esgotando a capacidade construtiva e contribuindo de forma intensa para a crise econômica e financeira que o País atravessa.

Não adianta fechar os olhos e apenas aplaudir os que fazem o papel que é de todos. Por isso, além de fazer coro ao importante trabalho desenvolvido pela equipe do Projeto Felicidade e para a Associação Israelita de Beneficência Beit Chabad do Brasil, temos a obrigação, Floriano, de lutarmos juntos por um país de igualdade e respeito a todos. Seguir o exemplo da instituição é importante e ajudar nessa caminhada é mais ainda.

É dever de todos também fazer parte, seja como voluntariado, famílias participantes ou políticos que se envolveram nessa caminhada social, em favor do próximo, como é o caso do amigo Floriano Pesaro. Tenho imenso orgulho, Floriano, em trilhar caminhos na vida pública ao seu lado. Irmão Floriano, homem íntegro, forte e guerreiro, que abraça as causas honestas que são estritamente solidárias em favor de quem precisa.

Ficaria aqui horas destacando suas ações, seus projetos e seus feitos, mas como o dia é de celebração à Associação Israelita de Beneficência Beit Chabad do Brasil, encerro minhas palavras usando uma frase de Celso Furtado: “Você tem duas maneiras de fazer política: uma é entrando em um partido político e cumprindo suas tarefas, subindo na hierarquia ou não, sendo militante decente do teu partido. E outra é sendo um bom profissional”.

Floriano escolheu ser um bom profissional e eu também. Por isso, estamos aqui ao lado dessa brilhante instituição, para mostrar à sociedade que a união faz a força. Agradecendo a entidade pelo Projeto Felicidade, ressalto a importância da participação de toda a sociedade nesse trabalho e convoco a todos para que integrem esse processo participativo que visa o bem da coletividade.

É preciso fortalecer o trabalho, para que seja ouvido o clamor da comunidade, que pede mais políticas públicas na área social e maior atenção ao terceiro setor. Vamos em frente, com fé em Deus, com muito trabalho e esperança. Juntos contribuiremos para a construção de uma sociedade mais justa, em especial com mais oportunidades para pequenos acometidos dessa grave doença que é o câncer.

Eu quero aqui encerrar usando o nome das pessoas que foram citadas na narrativa de cada orador. Mas quero dizer o seguinte: ao Lucas, Samanta, Edgar e ao Pipoca, obrigado por existirem. Com suas atitudes e ações, deram uma aula através do que narrou a Flávia. Uma aula de cidadania e, sobretudo, de amor e solidariedade. Viva a comunidade Beit Chabad. Muito obrigado.

Quero antes de mais nada agradecer a presença de todos os senhores e senhoras. Agradeço o Floriano por ter me dado a oportunidade de presidir esta sessão solene que, sem sombra de dúvidas, vai deixar marcada e registrada nos Anais desta Casa.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência agradece às autoridades, à Mesa, à minha equipe, aos funcionários dos serviços de Som, da Taquigrafia, de Atas, do Cerimonial, da Imprensa, à TV Legislativa, às assessorias das Polícias Civil e Militar, bem como a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 11 horas e 32 minutos.

 

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