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10 DE DEZEMBRO DE 2018

66ª SESSÃO SOLENE DE ENTREGA DO XXII PRÊMIO SANTO DIAS DE DIREITOS HUMANOS

 

Presidência: CARLOS BEZERRA JR.

 

RESUMO

 

1 - CARLOS BEZERRA JR.

Assume a Presidência e abre a sessão.

 

2 - IZABEL DE JESUS PINTO

Mestre de cerimônias, anuncia a composição da Mesa.

 

3 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Informa que a Presidência Efetiva convocara a presente sessão solene, a pedido deste deputado, para realizar a "Entrega do XXII Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Lê histórico a respeito da vida de Santo Dias, que empresta seu nome ao prêmio de Direitos Humanos entregue nesta noite. Anuncia vídeo relativo ao homenageado Paulo César Pinheiro, diplomata, ex-ministro dos Direitos Humanos e acadêmico.

 

4 - BETH LULA SAHÃO

Deputada estadual, informa que hoje comemora-se 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Pede um minuto de silêncio em respeito a todos que deram suas vidas pela consolidação dos Direitos Humanos no Brasil. Considera que a luta pelos Direitos Humanos abrange, além de presidiários, também crianças, jovens e todo tipo de cidadãos à margem da sociedade. Comunica sua presença em solenidade de culto ecumênico na Catedral da Sé.

 

5 - DANIELA AMENDOLA PINHEIRO

Filha de Paulo César Pinheiro, lê documento de autoria de seu pai agradecendo a homenagem recebida e fazendo análise da atual conjuntura política brasileira.

 

6 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Solicita a deputada estadual Beth Lula Sahão que entregue o Prêmio Santo Dias à Sra. Daniela Pinheiro, representando seu pai, o diplomata e acadêmico Paulo César Pinheiro.

 

7 - MARCOS LULA MARTINS

Deputado estadual, destaca a atuação do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região por sua combatividade em defesa dos trabalhadores. Faz menção ao papel desta instituição na greve de 1968.

 

8 - CARLOS BEZERRA JR.

Solicita ao deputado estadual Marcos Lula Martins que entregue o Prêmio Santo Dias ao Sr. Jorge Nazareno, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região.

 

9 - JORGE NAZARENO

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, agradece a homenagem. Destaca a participação de diversos membros do sindicato na greve de 1968.

 

10 - STANISLAW SZERMETA

Sindicalista, faz comentários sobre a conjuntura política atual do Brasil.

 

11 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Anuncia a exibição de vídeo relativo ao próximo homenageado, João Pedro Agustini Stédile, economista, ativista e escritor.

 

12 - MÁRCIA LULA LIA

Deputada estadual, faz histórico da trajetória de João Pedro Agustini Stédile, sobretudo sua luta pelos direitos dos trabalhadores rurais sem terra. Justifica a ausência do homenageado nesta ocasião devido ao assassinato de lideranças do MST na Paraíba.

 

13 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Anuncia apresentação musical do cantor Jorge Camargo.

 

14 - CLÉLIA GOMES

Deputada estadual, faz histórico da atuação da ONG Amigo de Você atendendo a parcela mais carente da sociedade.

 

15 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Solicita à deputada estadual Clélia Gomes que entregue o Prêmio Santo Dias ao Sr. Sérgio Ricardo Basso, presidente da ONG Amigo de Você.

 

16 - SÉRGIO RICARDO BASSO

Presidente da ONG Amigo de Você, agradece a homenagem recebida. Retifica sua crença nos Direitos Humanos.

 

17 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Enaltece a conduta da Sra. Patrícia Villela Marino em defesa dos Direitos Humanos. Lista sua ampla atuação em benefício dos menos favorecidos. Elogia seu trabalho em prol da recuperação de detentas. Anuncia a apresentação de vídeo institucional sobre a homenageada Sra. Patrícia Villela Marino. Realiza a entrega do Prêmio Santo Dias à Sra. Patrícia Villela Marino.

 

18 - PATRÍCIA VILLELA MARINO

Empresária e ativista, cumprimenta os presentes. Considera a vida de seu filho um milagre. Agradece pela homenagem. Discorre sobre seu trabalho com presidiárias. Considera que há muito a aprender com os demais defensores dos Direitos Humanos presentes nesta solenidade.

 

19 - JOÃO PAULO RILLO

Deputado estadual, faz críticas ao presidente eleito Jair Bolsonaro, que considera violento, machista, racista e fascista. Elogia a atuação profissional de Júlio César Neves, ouvidor das polícias do Estado de São Paulo, ponderando que sua conduta deu voz aos invisíveis e marginalizados pela sociedade.

 

20 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Solicita ao deputado João Paulo Rillo que entregue o Prêmio Santo Dias ao Sr. Júlio César Neves, ouvidor das polícias do Estado de São Paulo.

 

21 - JÚLIO CÉSAR NEVES

Ouvidor das polícias do Estado de São Paulo, lembra sua participação em greves conjuntamente com o operário Santo Dias, que empresta seu nome ao prêmio de Direitos Humanos desta noite. Faz agradecimentos gerais.

 

22 - ALENCAR LULA SANTANA

Deputado estadual, discorre sobre o dia a dia dos defensores dos Direitos Humanos. Defende a liberdade do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Fala sobre a atuação do Sr. Benedito Roberto Barbosa, ativista de movimento à moradia.

 

23 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Solicita ao deputado Alencar Lula Santana que entregue o Prêmio Santo Dias ao Sr. Benedito Roberto Barbosa, ativista.

 

24 - BENEDITO ROBERTO BARBOSA

Ativista, lista os movimentos sociais em que atua em defesa do direito à moradia. Demonstra preocupação com discussão no Senado do PLS 272/16, que propõe alterar lei federal que tipifica os crimes de terrorismo no País. Defende os direitos à moradia, à autogestão e a urbanização das favelas.

 

25 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Anuncia homenagem com flores ao Sr. Benedito Roberto Barbosa, do Sr. Manoel Marques, representando o Sindicato dos Advogados. Discorre a respeito da atuação artística e revolucionária do poeta Sérgio Vaz e anuncia vídeo a respeito do homenageado, a quem entrega o Prêmio Santo Dias.

 

26 - SÉRGIO VAZ

Poeta e criador da Cooperifa, agradece a homenagem recebida. Informa estar comemorando seus 30 anos de carreira hoje, nesta solenidade. Oferece seu prêmio a todos os educadores e jovens da periferia. Recita poema de sua autoria chamado "Novos Dias".

 

27 - BETH LULA SAHÃO

Deputada estadual, representando a deputada estadual Ana do Carmo, relata a luta do Sr. Anderson Lopes Miranda, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, em defesa dos moradores de rua.

 

28 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Solicita à deputada Beth Lula Sahão que entregue o Prêmio Santo Dias ao Sr. Anderson Lopes Miranda, ativista.

 

29 - ANDERSON LOPES MIRANDA

Coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, lamenta sua trajetória como ex-morador de rua. Destaca que ninguém mora na rua por desejo próprio. Menciona que recebeu Prêmio Nacional de Direitos Humanos. Lembra casos de moradores de rua vítimas de violência. Defende políticas públicas concretas para os moradores de rua. Pede a efetivação de renda básica de cidadania.

 

30 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Anuncia homenagem com flores do Sr. Manoel Marques ao Sr. Anderson Lopes Miranda, representando o Sindicato dos Advogados. Discorre sobre a trajetória do Dr. Roberto Kikawa, brutalmente assassinado neste ano. Comenta que o conheceu enquanto foi vereador e que o Dr. Roberto foi responsável pela criação das Carretas da Saúde. Destaca sua luta pela humanização do Sistema de Saúde. Convida todos os deputados membros da Comissão de Direitos Humanos para realizar a entrega do Prêmio Santo Dias a Roberto Kikawa - in memoriam, em nome de seu filho Daniel Kikawa e do médico Marcelo Hatanaka.

 

31 - MARCELO HATANAKA

Médico, destaca a trajetória do Dr. Roberto Kikawa em defesa da Saúde para a população carente. Menciona que o homenageado era cristão. Agradece a homenagem recebida nesta noite.

 

32 - PRESIDENTE CARLOS BEZERRA JR.

Solicita a todos um minuto de silêncio a todos em homenagem ao Dr. Roberto Kikawa e todos as vítimas da violência em nosso País. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Carlos Bezerra Jr.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - IZABEL DE JESUS PINTO - Senhoras e senhores, boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de efetuar a entrega do 22º Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, uma iniciativa da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais da Alesp, conforme Resolução 779, de 18 de dezembro de 1996.

Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web e será retransmitida pela TV Assembleia no sábado, dia 15 de dezembro, às 20 horas, pela Net - Canal 07; pela TV Vivo - Canal 09; e pela TV Digital - Canal 61.2.

Anunciamos para compor a Mesa dos trabalhos o deputado estadual Carlos Bezerra Jr.,  presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais da Alesp; a deputada estadual Beth Sahão; a deputada estadual Márcia Lia; a deputada estadual Clélia Gomes; o deputado estadual João Paulo Rillo e o deputado estadual Marcos Martins. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Boa noite a todos e a todas. Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, senhoras e senhores, esta sessão foi convocada pelo presidente efetivo desta Casa, deputado Cauê Macris, atendendo à solicitação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, com a finalidade de efetuar a entrega do 22º Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 Quero, neste momento, registrar a presença do deputado José Zico Prado, do vereador Eduardo Suplicy e do deputado Carlos Giannazi. Convido-os para compor a Mesa conosco. (Palmas.)

Convido todos para ouvir, na abertura desta cerimônia, o Hino Nacional Brasileiro, executado pelo cantor Gerson Borges.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Anuncio, neste momento, a presença do deputado Alencar Santana Braga. (Palmas.) Quero registrar alguns cumprimentos especiais.

Cumprimento o deputado estadual nesta Casa, de 82 a 90, Floriano Leandrini; o Dr. Rafael Pitanga Guedes, representando o defensor público-geral do Estado, Dr. Davi Eduardo Depiné Filho; e André Alcântara, representando o Centro de Direitos Humanos. (Palmas.) Registro também a presença da vereadora de São Paulo Patrícia Bezerra. (Palmas.)

Nesta noite, na abertura da entrega do Prêmio Santo Dias de destaques anuais em direitos humanos no estado de São Paulo, quero fazer uma breve leitura do histórico de Santo Dias.

Natural do município paulista de Terra Roxa, primeiro dos oito filhos de um casal de pequenos agricultores, Santo Dias se envolveu com a luta dos trabalhadores rurais ainda na adolescência. Católico, foi influenciado pelos párocos progressistas ligados à Teologia da Libertação e, ao lado de outros empregados da fazenda em que trabalhava, organizou seu primeiro movimento por melhores salários entre 1960 e 1961.

Na Capital, Santo Dias trabalhou como operário metalúrgico e sua luta por justiça social recomeçava. Em plena ditadura militar, ele ajudou a fundar a Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo e participou do Movimento do Custo de Vida, que reivindicava preços mais acessíveis e salários mais altos para os pobres.

Em outubro de 1979, pouco depois da edição da Lei da Anistia, Santo era um dos líderes de uma greve que reunia cerca de seis mil metalúrgicos em São Paulo. Em uma panfletagem em frente a uma fábrica, a polícia tentou prender alguns de seus colegas. Santo Dias foi baleado pelas costas. Ele tinha, então, 37 anos; deixou dois filhos e esposa.

Santo Dias virou sinônimo da luta operária contra a desigualdade, e é ele quem empresta seu nome ao Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, entregue nesta noite. (Palmas.)

Também registramos a presença do Dimitri Sales, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, o Condepe; da Maria de Fátima, representando a vereadora Juliana Cardoso, da Câmara Municipal de São Paulo; da Cheila Olalla, do Movimento Nacional dos Direitos Humanos.

Passemos, então, à primeira homenagem desta noite. Peço para que possamos colocar o primeiro vídeo, vídeo esse que é relativo ao homenageado, o professor Paulo Sérgio Pinheiro.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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  O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Esta Presidência concede, neste momento, a palavra à nobre deputada Beth Sahão, que fará a entrega do Prêmio Santo Dias, a Paulo Sérgio Pinheiro, aqui representado por sua filha, Daniela Pinheiro. Tem a palavra a nobre deputada Beth Lula Sahão.

 

A SRA. BETH LULA SAHÃO - PT - Boa noite a todas e a todos. É uma grande satisfação poder participar desta solenidade, na noite de hoje. Quero saudar o deputado Carlos Bezerra Jr., presidente da Comissão de Direitos Humanos, e que preside esta solenidade, através de quem eu saúdo todos os demais deputados e deputadas que compõem esta Mesa. Eu quero saudar, em especial, a Daniela, que é filha do professor Paulo Sérgio Pinheiro, a quem eu tenho a honra de homenagear nesta noite.

Vocês sabem que hoje nós estamos comemorando 70 Anos da Declaração Universal de Direitos Humanos. Nesses 70 anos, aqui no Brasil, muita gente deu suas vidas para que nós pudéssemos ter os Direitos Humanos mais consolidados. Embora num risco enorme que estamos vivendo nesse momento, mas eu pediria para que, de pé, nós fizéssemos um minuto de silencio em homenagem a todas essas pessoas que deram as suas vidas, que morreram ao longo desses 70 anos.

 

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- É respeitado minuto de silêncio.

 

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A SRA. BETH LULA SAHÃO - PT - Muito bem. Uma salva de palmas a todas as pessoas que nos honraram durante essas sete décadas, trabalhando a favor dos Direitos Humanos no Brasil, um país que colocar em prática, concretizar todas as políticas e todos os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos não tem sido uma tarefa fácil. (Palmas.) Avanços houve, não tenho dúvidas. Mas hoje, mais do que nunca, em razão de todo esse processo que nós vivenciamos neste ano, sobretudo com a disputa eleitoral e vendo que muitos segmentos da sociedade, infelizmente, têm buscado, através da intolerância, da violência, da hostilidade, da agressividade, da brutalidade atingir o outro ser humano. E nós não podemos concordar com isso, não podemos concordar que as pessoas sejam feridas no seu mais simples e elementar direito das suas garantias individuais.

Defender os Direitos Humanos no Brasil, às vezes inadvertidamente, as pessoas pensam que é só defender os marginais que estão apenados. Isso também; nós temos que defendê-los.

Agora vejo com muita preocupação, por exemplo,  a nomeação de uma pessoa que esteve envolvida quando teve o massacre de Carandiru, para ser o diretor de presídios aqui no estado de São Paulo. É muito ruim isso. E nós temos que acompanhar isso com os olhos bem abertos para saber o que vai acontecer. Mas, Direitos Humanos não é só defender essas pessoas. É também. Mas, Direitos Humanos é defender a criança e o adolescente das negligências, do abandono, da exploração, é defender as mulheres das violências a que são submetidas diariamente, é defender a comunidade negra, defender os mais pobres, a população de rua, por aqueles que lutam pela terra e pela moradia. Isso, em nossa opinião, é que é Direitos Humanos.

Portanto, é essa luta que nós temos que levar. E muito me agrada e me orgulha hoje poder entregar esse prêmio a uma pessoa que dignifica a luta dos direitos humanos no Brasil que, infelizmente, não está aqui, está fora, mas está cumprindo uma tarefa importante, porque é essa a noção que nós temos que ter. Não podemos olhar só para o nosso próprio umbigo. É preciso ver que em países do mundo a cada segundo há violações brutais dos direitos humanos.

Hoje, eu participei de uma solenidade, de um culto ecumênico na Catedral da Sé e pude ver entre as falas dos representantes deste culto inter-religioso que nós temos quase 300 milhões de pessoas cristãs no mundo que sofrem perseguição por conta da intolerância religiosa. É mais um outro problema que nós também temos que cuidar e que aqui no Brasil já percebemos, infelizmente, que isso se manifesta em vários pontos do nosso País.

Portanto, quero dizer que é fundamental este momento hoje. É um momento de festa, de homenagem, de reflexão, mas também é um momento de chamarmos a atenção de todos nós para a responsabilidade que cada um de nós tem em relação à defesa dos direitos humanos no nosso País.

Eu queria aproveitar para chamar a Daniela, que é filha do Paulo Sérgio, para fazer a sua manifestação aqui na tribuna.

 

A SRA. DANIELA AMENDOLA PINHEIRO - Boa noite. Já escutamos meu pai falar, mas agora eu vou falar mais algumas palavras escritas que também são dele.

“Exmo. Sr. Deputado Carlos Bezerra Jr., presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais da Assembleia Legislativa de São Paulo, Exma. Sra. Deputada Beth Sahão, Exmos. membros da comissão,  Exmas. Sras. Deputadas, Srs. Deputados, senhoras e senhores, caros amigos, quero em primeiro lugar desculpar-me por não poder participar dessa cerimônia. Estou ausente do País por causa de meu mandato na comissão da ONU de investigação sobre a Síria. Por esse motivo, portanto, pedi à minha querida filha Daniela Amendola Pinheiro para representar-me nesta solenidade e ler algumas palavras com meus agradecimentos por receber o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

O momento que vivemos no Brasil é crítico. Depois de 30 anos de promoção do Estado de Direito e da democracia, a eleição de um presidente de extrema direita representa um grave risco para todo o progresso que tivemos na área dos direitos humanos.

Os riscos de agravamento da violência decorrem não apenas do fato que o novo presidente e seu bloco recorrem a uma retórica extremamente agressiva, mas também pelo fato de ter sido eleito com uma agenda ultraliberal que entrará em choque com os movimentos sociais.

Além do anúncio confirmado do desmantelamento de políticas de estado e instituições promovendo direitos humanos, especialmente aquelas com foco nos direitos das mulheres, operários, crianças, negros, povos indígenas, a população LGBT, há o risco concreto de aumentar a violência política especialmente contra os defensores de direitos humanos, já sendo o Brasil o campeão no continente das mortes desses defensores.

Os problemas de Segurança Pública tenderão a ser agravados em razão do presidente e de vários novos governadores terem ostentado um apoio ao uso da violência letal, com a noção de que a polícia que não mata não é polícia, mesmo que a violência policial ilegal já seja um grave problema em São Paulo e no Brasil. Não há nenhuma dúvida que essas fantasias de políticas de mão dura terão dramáticos resultados nesse contexto, sendo que muito provavelmente os pilotos de prova dessa política serão muitos daqueles que votaram em apoio a essas políticas brutais.

O sistema judiciário poderá antepor alguns obstáculos à plataforma autoritária que o novo governo federal pretende impor. Lamentavelmente, como ficou patente nos últimos anos de crise, o Judiciário não é plenamente reconhecido como um ator neutro. A chegada do juiz Moro ao governo como um superxerife simplesmente coroa quatro anos de paralisia política causada pela investigação de corrupção de formas muito mais agressivas com todos associados ao Partido dos Trabalhadores e como bem mostra a condenação num processo sem provas e de prisão inconstitucional contra o princípio pétreo da sentença transitada em julgado decidida pelo mesmo juiz Moro para impedir que o ex-presidente Lula fosse eleito presidente.

Por toda essa breve reflexão é essencial que as organizações da sociedade civil, as Procuradorias estadual e federal de direitos humanos, as comissões de direitos humanos dos Legislativos, como a de São Paulo, estejam alertas para prevenir uma escalada autoritária e violenta liderada tanto por governos estaduais, como pelo governo federal. Será crucial monitorar todas as graves violações de direitos humanos, especialmente os ataques contra a sociedade civil e aos defensores de direitos humanos.

Hoje, a sociedade civil e as instituições judiciais de proteção da cidadania e dos direitos humanos estão muito mais equipadas do que durante os 21 anos da ditadura militar de 1964, mas mais do que nunca é crucial que a defesa dos direitos humanos esteja conectada com outras instituições do estado que são sensíveis aos direitos humanos: as Procuradorias do Estado, as Defensorias Públicas, os parlamentares.

Por essa razão é tão importante e decisivo o trabalho da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, que com essa comemoração do Dia Internacional de Direitos Humanos honra a memória desse mártir do autoritarismo que é Santo Dias. Estou muito honrado por estar associado a esse momento de celebração.

Muito obrigado. Paulo Sérgio Pinheiro”. (Palmas.)

E eu também sou muito honrada de ser filha do Paulo Sérgio Pinheiro!

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - E tem todos os motivos para se sentir honrada. Neste momento então peço que a deputada Beth Sahão faça a entrega do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos ao professor Paulo Sérgio Pinheiro.

 

* * *

 

- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 

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 A SRA. BETH LULA SAHÃO - PT - Para que você possa passar às mãos do seu pai esta honraria da Assembleia Legislativa, em especial da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais aqui desta Casa, que de uma forma muito sensível reconhece a folha de serviços prestados do professor Paulo Sérgio Pinheiro na luta pelos direitos humanos no Brasil.

Parabéns a você, ao sei pai e a toda a família.

 

A SRA. DANIELA AMENDOLA PINHEIRO - Obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Parabéns. O segundo homenageado da noite é o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região. Neste momento, a Presidência concede a palavra ao deputado Marcos Martins, que fará a entrega do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos ao Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, aqui representado pelo Sr. Gilberto Almazan, que é o secretário-geral.

 

O SR. MARCOS LULA MARTINS - PT - Só uma justificativa. É que o presidente do sindicato, o Jorge Nazareno, é quem fará a representação, mas o Gilberto é um grande amigo, companheiro e lutador também que estaria representando muito bem o Jorginho.

Senhores e Senhoras, Sr. Presidente, Carlos Bezerra Jr., em seu nome quero representar todos os deputados presentes. Cumprimento também o Eliezer, da Abrea; o Valdivino, da Associação dos Expostos e Intoxicados por Mercúrio Metálico; a Fernanda, também da Abrea; vi aqui o Suplicy, vereador de São Paulo que já foi senador, e em nome do Jorginho gostaria que você depois apresentasse os seus colegas. Mas quero cumprimentar toda a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região por todo o trabalho que realiza e que realizou durante todos esses anos, especialmente os que fizeram a greve de 1968.

Uma greve de trabalhadores que representa a redemocratização do País. Meus cumprimentos, meu respeito àqueles que ainda estão vivos. Alguns já não estão mais, alguns estão com problema de saúde, poucos estão vivos e presentes e tendo saúde para fazer o trabalho. Que o Jorginho talvez possa apresentar um e dividir o seu tempo. Essa greve significa uma resistência ao golpe de 1964. Tivemos outro em 2016. Mas essa foi a quartelada: brucutus e baionetas. O sindicato teve toda a diretoria cassada. Foram perseguidos os membros desses sindicatos. Especialmente os que fizeram a greve.

Alguns tiveram que se exilar. Fora do País estiveram, infelizmente, porque lutaram para combater as injustiças e as desigualdades. Contra o arrocho que aquela ditadura estava impondo aos trabalhadores. E a perseguição aos militantes que ousavam desejar ter democracia e liberdade, e poder falar. Transmito ao Jorginho para que ele possa falar um pouco da importância do sindicato. Mas, especialmente, a greve do sindicato em 1968. Por gentileza, Jorge.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Neste momento, antes de transmitir a palavra ao Jorginho, peço que o deputado Marcos Martins faça a entrega do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos ao Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco. (Palmas.)

 

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- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Ao passar a palavra ao Jorginho, para o seu registro histórico de agradecimento, eu gostaria de lembrar, aos convidados e aos deputados presentes, que previamente houve um entendimento dos deputados para que tivéssemos, regimentalmente, três minutos para a manifestação de cada um dos que usarem a tribuna em virtude do grande número de participantes e homenageados nesta noite.

Com a palavra, Jorginho, que agora recebe o prêmio.

 

O SR. JORGE NAZARENO - Muito obrigado. Vou pedir licença, porque, seguramente, eu teria muito o que falar do sindicato e de muitas coisas que foram feitas ao longo desses mais de 50 anos do sindicato. São 55 anos. Mas temos um momento, lamentavelmente, oportuno, para oferecermos um diálogo, com a sociedade brasileira e com a sociedade paulista, que vai além de uma premiação. Que vai para um cenário, que enfrentamos hoje, de grandes dificuldades que se avizinham e já estão presentes, como muito bem disse o professor Paulo Sérgio Pinheiro. Por isso eu queria dividir o meu tempo com Stanislaw Szermeta, que foi um dos líderes da greve de 68. (Palmas.)

E homenagear, enquanto ele se dirige para cá, o nosso querido José Ibrahim, já falecido, que foi o primeiro presidente do sindicato. Recentemente perdemos o Antonio  Roberto Espinosa. Acho que nada é mais justo que o Stanislaw poder falar sobre essa importante greve. Que era um momento de resistência. Hoje nos colocamos, novamente, em um cenário de resistência, para buscar o Brasil que, de fato, queremos. Por favor, Stanislaw.

 

O SR. STANISLAW SZERMETA - Boa noite aos companheiros e companheiras, a todos e a todas, e também à Mesa. Quero dizer que é muito importante, nesse momento que estamos passando, com a espada em cima da nossa cabeça, dizer o quanto foi importante a greve de 68, a construção da greve de 68 para enfrentar um regime que colocava os trabalhadores em perseguição tanto ao nível sindical, na cassação, quanto nas questões internas das fábricas.

A perseguição a aqueles que ousavam enfrentar um regime que colocava a questão da violência, da perseguição e do arrocho. E colocava a nossa vida em jogo. Porque, naquele momento, se colocava uma perseguição assassina. Porque não havia a progressão... Daqui a três dias vamos ter os 50 anos do Ato Institucional nº 5.

Mas já se colocava a violência, que era a perseguição dos lutadores. Entrada na casa sem autorização, prisão e sequestro. Para que os lutadores e o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, na liderança do José Ibrahim, e na ideia da construção do trabalho de base para enfrentar esses usurpadores do direito. Porque a ditadura de 64 tirou um governo legítimo. Criou a condição para se tirar o que temos de mais sagrado, que é a livre organização dentro das fábricas, a existência do sindicato.

É importante, nesse momento, fazermos uma reflexão. A reflexão que faço, nesse momento, é de que precisamos dar um salto. Um salto de qualidade. Esse salto de qualidade chama-se “unidade”. Unidade, precisamos criar as condições básicas da unidade. Mas também temos de ter a noção de que nós não podemos colocar a questão da hegemonia como uma questão absoluta. O ensinamento do trabalho de base e o ensinamento da frente de trabalhadores.

Nesse momento de resistência se coloca a frente dos lutadores, a frente dos partidos de esquerda, a frente dos movimentos. Que realmente consigamos vencer essa situação que está sendo colocada pelo País. Assim vamos resgatar 68. Assim vamos resgatar as lutas, os lutadores, aqueles que foram assassinados e os desaparecidos. E realmente colocar, para o nosso País, a questão das melhores condições de lutar para enfrentar esse modelo capitalista, que exclui os trabalhadores. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Passemos ao terceiro homenageado da noite. A um vídeo programado do homenageado pela deputada Márcia Lia, o Sr. João Pedro Agustini Stédile.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB -  Esta Presidência concede a palavra à deputada Márcia Lia, que faz a entrega do Prêmio Santo Dias ao seu indicado nesta noite, João Pedro Agustini Stédile.

 

  A SRA. MÁRCIA LULA LIA - PT - Muito boa noite a todos. Quero iniciar minha fala agradecendo a presença de todos vocês, que vieram aqui à Assembleia, para participarem deste momento tão importante, que é a comemoração dos 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

  Vivemos um momento de muitas dificuldades neste País. Mas, vocês estando aqui, todas as pessoas homenageadas, os seus parentes, os seus amigos, todas as pessoas que acreditam numa sociedade mais justa, que acreditam que é através do respeito ao ser humano que construímos um mundo melhor, fico extremamente grata pela presença de todos vocês.

  João Pedro Stédile é um gaúcho de Lagoa Vermelha. Tem 64 anos, dos quais 40 foram dedicados à luta pela reforma agrária no Brasil. Ele é economista, ativista, escritor, e um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, do qual ainda é dirigente nacional.

  Filho de uma confeiteira e de um caminhoneiro, João Pedro Stédile foi seminarista, para poder estudar. Graduou-se em Economia pela PUC do Rio Grande do Sul e pós-graduou-se pela Universidade Nacional do México. Escreveu vários livros sobre a questão agrária, sobre a luta de classes e socialismo.

Também foi assessor da Pastoral da Terra. Milita pela reforma agrária, pelo MST e pela Via Campesina, desde 1979. Recebeu a Medalha Mérito Legislativo, por indicação de Brizola Neto, que foi deputado federal pelo Rio de Janeiro, em reconhecimento a sua luta pela terra e pelo uso que tem feito dela.

  Como temos pouco tempo, quero justificar a ausência do João Pedro Stédile. Todos sabemos o momento delicado que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vive.

Estamos retrocedendo em muitas questões neste País. Acabo de chegar de um encontro com muitas mulheres latino-americanas. Tínhamos 26 países representados no encontro, e os retrocessos acontecem em muitos desses países, na Argentina, na Venezuela, na Colômbia, no Equador, na Guatemala. É um momento para podermos, de fato, refletir. É um momento para podermos compreender que a sociedade só vai, de fato, se transformar e melhorar, para termos possibilidade de construir a sociedade dos nossos sonhos, se tivermos unidade.

Tenho acordo na fala do senhor, porque é só através da unidade, através do respeito aos seres humanos que vamos conseguir encontrar um denominador comum e a autodeterminação dos povos.

Neste momento, em que vivemos um retrocesso, podemos homenagear João Pedro Stédile, que tem uma vida dedicada à luta pelos trabalhadores rurais sem terra, àqueles que lutam para ter um pedacinho de terra, lutam para poder ter a possibilidade de plantar alimentos saudáveis, para entregar para seus filhos, e para poder dar dignidade aos seus filhos.

Estamos falando de seres humanos. Estamos falando de gente. Estamos falando de crianças, muitas das quais passam boa parte de suas vidas embaixo de lonas, sem a menor condição, sem a menor garantia de segurança, de vida, de estudo, de tudo aquilo que é necessário para o ser humano.

Então, é muito gratificante homenagear João Pedro Stédile. O prêmio está aqui, ele não pôde comparecer. Faremos a entrega posteriormente, vamos marcar uma data para podermos entregar o prêmio a ele. Todos nós sabemos que lideranças dos movimentos dos trabalhadores sem terra foram assassinadas neste final de semana, na Paraíba, e estamos nessa dificuldade muito grande. Mas o prêmio está aqui, João Pedro sendo homenageado pela Assembleia, registrado nos Anais desta Casa.

Quero agradecer a todos vocês que vieram aqui, em nome do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em nome da Assembleia Legislativa, em nome do presidente da Comissão de Direitos Humanos. Muito obrigada a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Antes de anunciarmos o quarto homenageado da noite, pediria ao cantor Jorge Camargo que nos brindasse com uma música.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Um agradecimento especial ao Jorge Camargo. (Palmas.)

Nosso quarto homenageado da noite é a ONG Amigos De Você. Esta Presidência concede a palavra à deputada Clélia Gomes, que fará a entrega do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos à ONG Amigos De Você, aqui representada pelo seu presidente, o Sr. Sérgio Ricardo Bastos.

 

A SRA. CLÉLIA GOMES - AVANTE - Boa noite a todos e a todas. Primeiramente, quero cumprimentar a Mesa em nome do meu presidente, e, em nome dele, cumprimentar todos vocês, meus pares na Assembleia.

É muito importante o Prêmio Santo Dias, principalmente para essa pessoa que hoje venho homenagear. É um amigo que conheço há muitos anos e cujo trabalho é sensacional dentro da nossa sociedade.

O projeto social da ONG Amigos De Você surgiu a partir de um desejo de somar forças, tanto do governo quanto da sociedade civil, na intenção de colaborar para a qualidade de vida de alguns setores da população, que, por uma razão ou outra, enfrentam dificuldades para suprir diversas necessidades sociais.

Assim, a ONG Amigos De Você vem se empenhando de forma contundente, a fim de extinguir tais problemas. Temos consciência da amplitude da situação geral, das necessidades da população carente.

Por outro lado, a cada dia cresce a conscientização da sociedade civil com relação à responsabilidade social e ao exercício de cidadania. O trabalho é desenvolver e atender comunidades carentes há 11 anos, com atendimento médico, cabeleireiro, manicure, advocacia, psicólogo e outros atendimentos sociais.

Sinto-me muito lisonjeada, Sérgio Ricardo Bastos, em homenagear e premiar a ONG Amigos De Você pelo trabalho prestado à sociedade. Como diz você, o presidente da ONG: "Promova o que lhe faz bem".

Hoje, estou promovendo o que me faz bem: homenagear todos vocês pelo trabalho realizado na sociedade.

 

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- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Tem a palavra o senhor Sérgio Ricardo Basso.

 

O SR. SÉRGIO RICARDO BASSO - A ONG Amigos de Você, na realidade fazemos esse trabalho há 35 anos. Mas, documentadamente, desde 2007. Estar aqui hoje só nos incentiva, porque ainda fazemos um trabalho de formiguinha a passos largos.

Mas, fazemos: confiamos nos Direitos Humanos.

Era isso. Boa noite. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Faço o registro, neste momento, do deputado Carlos Giannazi, que precisa se retirar por motivos de agenda, mas que deixa aqui seus cumprimentos a todos os homenageados e um cumprimento especial em nome dos homenageados na pessoa do poeta Sérgio Vaz. (Palmas.)

A quinta homenageada é a Sra. Patrícia Marino. Quero fazer o registro da palavra da indicação aqui mesmo da Presidência.

Patrícia Marino é dessas mulheres que, depois de uma conversa com ela, e conhecendo sua história, logo você pensa: "Ela tem tudo para não se ocupar das causas de que ela se ocupa".

Mas, a fala dela é de uma mulher inquieta, um olhar cuidadoso, mas, ao mesmo tempo, urgente para resolver tudo o que está ao seu alcance. A soma desse jeito de ser vem trazendo muitos frutos para a nossa sociedade: ela atua no sistema carcerário, num coworking social, na luta contra a violência e no olhar mais consciente e humanizado para a questão das drogas.

Por esses temas, já temos base. Patrícia vai a lugares inóspitos, ouve gente que ninguém sabe - e ninguém quer saber - que existe. Assim, ela revolucionou o jeito de fazer as coisas, saiu do lugar comum. Não manda alguém ir: ela vai, ouve, está presente, faz o relatório, atua. Põe a mão na massa.

Ela foi, definitivamente, picada pelo bichinho dos direitos humanos, tão mal compreendido, muitas vezes. Só quem trabalha com esse tema sabe que ele nos rodeia de pessoas que acham que somos gente que está em defesa - por incrível que possa parecer - dos bandidos.

Olha, também, porque defendemos todos os seres humanos. Mas, não com a perspectiva do coitadismo. O que falta para nós é perceber que se temos, como sociedade, profundas marcas do medo, da insegurança, da desconfiança, tudo isso é resultado do que nós mesmos produzimos.

Uma dessas coisas é não querer se aprofundar em temas espinhosos, fugir daquelas coisas que não são bonitas de se ver. Pagamos um preço alto por isso. Desde que conheci o trabalho da Patrícia - e eu tenho sempre buscado acompanhá-lo de perto - admirei-me não somente pelos temas que ela escolheu, mas pelo jeito que ela escolheu para fazer as coisas acontecerem.

Ela percebeu que se temos que conscientizar as pessoas da importância das escolhas que fazem, sobretudo na política, é preciso irmos além. É preciso participar também, exercer o direito que cada um de nós tem de cidadania. Isso também significa se responsabilizar com a nossa parte, com a parte que nos cabe, com aquilo que está na nossa mão e que deveria ser feito.

Uma das atrizes mais importantes da atualidade, a Viola Davis, diz que tudo o que você precisa fazer é você mover as pessoas só um pouquinho para as mudanças acontecerem. Não precisa ser algo enorme. Patrícia é uma das poucas pessoas que eu conheço que fazer diariamente muitos pouquinhos para as coisas acontecerem. E essas pequenas mudanças, juntas, já são, de fato, uma revolução.

Quero, neste momento, então, pedir, tem um vídeo da Patrícia. Que seja apresentado.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Faço, neste momento, a entrega do Prêmio Santo Dias à Patrícia Rieper Leandrini Villela Marino. (Palmas.)

 

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- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Tem a palavra a homenageada, Patrícia Villela Marino, bem acompanhada nesta noite.

 

A SRA. PATRÍCIA VILLELA MARINO - Boa noite a todos.

Eu quis muito trazer o Daniel comigo porque ele é um milagre na minha vida. Eu não podia ter o Daniel, mas Deus me deu ele de presente. Por isso eu gosto de me lembrar e de, quem sabe, fortalecer a fé de cada um que espera por um milagre. Ele chega.

Excelentíssimo deputado, Dr. Carlos Bezerra Jr., em nome de V. Exa. saúdo e agradeço a todas as autoridades desta Mesa e desta Casa, muito especialmente as equipes parlamentares, sei o quanto são importantes para o trabalho de V. Exas., e os colaboradores desta Casa.

Esta Casa traz muitas recordações ao meu coração. Recordações carinhosas e de profundo impacto em minha formação. Aqui eu almoçava com meu pai todas as sextas-feiras durante o mandato dele. Eu e meu irmão éramos recebidos com muito carinho. Chamava-me atenção o carinho dos colaboradores que nos recebiam no elevador, nos corredores - nem sempre éramos muito silenciosos quando passávamos - e das equipes parlamentares - que muitas vezes nos pediam silêncio. Vínhamos aqui ter um momento de família de uma pessoa muito ocupada.

Também me sinto muito contente em voltar a esta Casa convidada por um deputado amigo, fruto de uma amizade cívica que tem sido desenvolvida ao longo de alguns anos, Dr. Carlos Eduardo Bezerra Jr. (Palmas.)

É uma amizade cívica que tem sido movida pelo compartilhamento de propósitos, crenças, visões, causas e olhares. Olhares de pessoas que têm sonhado e trabalhado por menos desigualdade e mais oportunidades em nossa sociedade, sem sermos isentos de erros, às vezes vários, muitos erros.

Sinto-me muito contente de estar aqui, nesta noite, em um momento e em um dia tão importantes do calendário mundial: a celebração dos 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. (Palmas.)

Precisamos praticar esses direitos no macro e no micro de nossas vidas, na figura emblemática de resistência de Santo Dias, quero, muito, honrar e reconhecer outros resistentes dos nossos sistemas. Sistemas que oprimem, que deprimem, que comprimem e que não imprimem nenhuma solidariedade, nenhuma esperança e nenhuma virtude.

Quero lembrar, neste momento, de reconhecer gigantes invisíveis, que não podem, por vários motivos, estar neste plenário conosco. A começar por servidores públicos, diretores de unidades prisionais e suas equipes de agentes penitenciários que acreditam no recomeço e na oferta de oportunidade. Eles, por sua vez, também clamam por inovação e por atenção. E nem por clamarem são ouvidos.

Também quero lembrar, nesta noite, todos e todas que já estiveram no sistema ou que passam por ele neste momento. Em que pesem seus erros, pelos quais estão pagando, continuam sendo seres humanos cuja oportunidade digna de um recomeço não lhes tem sido oferecida.

Gostaria de levar todos a pensar nesta noite em direitos humanos, em direito da pessoa, participação, cidadania e questões sociais, além daquilo que nosso raciocínio e coração podem fazer. Talvez, hoje, seja a noite de um exercício quase extra-humano para que nosso raciocínio e coração cheguem a lugares invisíveis, espremidos, inóspitos, quase - senão verdadeiramente - desumanos. É um exercício que só nosso coração humano pode fazer, um exercício de amor “ágape”.

Agradeço a atenção de todos vocês nesta noite. Sinto-me muito pequena e é com muita humildade que subi aqui com meu filho, porque sei que existem gigantes nesta sala no caminho e na defesa dos direitos humanos. Quero poder ter a oportunidade de aprender com todos vocês.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Parabéns, Patrícia.

Passo, neste momento, a palavra ao deputado João Paulo Rillo, que fará a entrega do Prêmio Santo Dias a Júlio César Neves. (Palmas.)

 

O SR. JOÃO PAULO RILLO - PSOL - Boa noite a todas e a todos.

Cumprimento a todos os deputados em nome do presidente desta sessão solene, Carlos Bezerra Jr.

Eu participei de quase todas as edições do Prêmio Santo Dias, como deputado, como militante da causa e como parlamentar que fez algumas indicações. O mundo vive um abalo, uma fragilidade imensa, que deixa vulneráveis todos os seres humanos desprotegidos pela casta do capital.

Uma agenda neoliberal, conservadora, selvagem e econômica anuncia-se no Brasil a custa de muita mentira, simulação, violência e falsidade. Ela terá como maestro nada mais, nada menos, do que um presidente da República eleito que diz que estupraria uma mulher se ela não fosse tão feia; que a ditadura militar teve um pecado capital, não ter matado ao menos 30 mil pessoas; que os negros e indígenas não servem nem para procriar; que se tivesse um filho homossexual, o espancaria para ver se o menino toma jeito; que trata o nascimento da sua filha como uma fraquejada machista.

Estar aqui, portanto, neste momento, agora, é como estar em um oásis. Em uma pequena ilha de felicidade. Nós sabemos que muitos, milhares e milhares de brasileiros, não são fascistas, não são racistas, não são violentos, mas elegeram, votaram em um presidente machista, racista, violento, fascista.

Muito trabalhado por décadas e décadas, o instituto do medo, com programas de televisão horríveis, que trabalham o medo, a vulnerabilidade humana o tempo inteiro. Eu vou encurtar minha fala para respeitar os outros oradores, outros homenageados, mas não poderia deixar de dizer que em nosso mandato popular, em tempos de muito medo, em tempos de obscurantismo, resolvemos premiar a coragem, a altivez, o destemor de um homem que começou muito cedo em sua militância pelos direitos humanos, que compôs a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.

Foi advogado de estudantes, liderou a campanha pela ética na política, no início da década de noventa. Fez tanta coisa boa, e depois cumpriu um papel fundamental, a defesa dos invisíveis, como ouvidor da Polícia Militar do Estado de São Paulo, a polícia que mais mata e a polícia que mais morre no Brasil.

Esse foi o escolhido do nosso mandato, Dr. Julio César Fernandes Neves, aqui presente. Dr. Júlio, nós estamos em numa época muito difícil, em que mataram a Marielle, em que mataram tantas lideranças, do MTST, do MST, das lideranças comunitárias, mas, de certa forma, muitas dessas lideranças têm uma capa de proteção mínima política. Agora, os invisíveis não têm.

Os jovens, pobres, negros da periferia não têm, os trabalhadores da periferia não têm. Eles são suscetíveis. Todos os dias são humilhados, todos os dias são violentados e são assassinados, pela polícia que mais mata e que mais morre. Eu aprendi com o senhor, que teve coragem sempre, inclusive de contestar dados oficiais do próprio governo, porque nós devemos também defender o policial trabalhador.

Oitenta por cento dos policiais que morrem no estado de São Paulo não morrem fardados, morrem fazendo bico. Eu aprendi com o senhor também que o policial não morre apenas pelo crime organizado. Ele morre principalmente pelo salário de fome que é pago a ele. Ele é obrigado a viver de bico, porque quem governou o estado nas últimas décadas quer fazer imagem e semelhança do seu símbolo tucano. Quer que o professor viva de bico, que o policial viva de bico, e todo mundo muito vulnerável.

 Dr. Júlio, para mim é uma honra. Eu não fui reeleito, mas, felizmente ajudei a eleger o Carlos Giannazi, a Mônica Seixas, uma mulher, é Erica Malunguinho, uma trans, e ajudei a eleger a Isa Penna, uma jovem mulher nessa bancada que vai compor a bancada do PSOL. Vão dar dignidade a cada voto recebido, eu tenho certeza. (Palmas.)

Termino a minha fala dizendo isso. Que orgulho de encerrar o nosso mandato com chave de ouro, podendo premiar aquele que, quando foi convocado pela bancada da bala, nós todos ficamos preocupados. Eu falei: “Esse homem vai ser massacrado, Carlos Bezerra Jr.” Vossa Excelência se. lembra disso.  Ele vai ser massacrado na Comissão de Segurança, na Comissão de Direitos Humanos.

Prometeram uma goleada no senhor e não entregaram o resultado. Na verdade, foi um Brasil e Alemanha, e o senhor estava na posição da Alemanha. Foi sete a um para os direitos humanos, contra a bancada da bala, quando o senhor esteve presente aqui. É inesquecível a sua altivez, a sua coragem, o seu arrojamento.

 Então, é um orgulho encerrar o nosso mandato premiando um ser humano que fez tanto, e nem sabemos, pelos invisíveis, que são humilhados diariamente. Parabéns Dr. Júlio, a sua luta é a nossa luta. Muito obrigado pela existência, pelo trabalho e por receber este prêmio.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Peço então que o nobre deputado João Paulo Rillo venha aqui adiante e entregue o Prêmio Santos Dias ao Dr. Júlio Neves.

 

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- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Passemos então às palavras do homenageado Dr. Júlio César Neves.

 

O SR. JÚLIO CÉSAR NEVES - Excelentíssimo senhor presidente, deputado Carlos Bezerra Jr., Excelentíssimos senhores deputados, deputado João Paulo Rillo, senador Suplicy, Alencar, Beth Sahão, Márcia Lia, é uma honra estar aqui e ser homenageado por todos os senhores.

Eu quero dizer que em 1978 foi lançado, aqui no estado de São Paulo, um professor, que na época era totalmente desconhecido. Foi lançado aproveitando, na época, a sublegenda, que não existia anteriormente.

Quando foi lançado, esse candidato a senador era um professor. O senador na época era o senador dos trabalhadores, era o Franco Montoro, e nós, meia dúzia de pessoas, começamos a apoiar esse professor. Dentre eles, tinha cinco candidatos a deputados, na época tidos como candidatos populares a deputados estaduais. Dois deles estão aqui, vivos, hoje, aqui dentro deste recinto. Um deles é o Eduardo Suplicy e o outro é o nosso presidente da nossa Comissão de Justiça e Paz, o Funari.

Os outros três eram Geraldinho Siqueira, que se elegeu deputado estadual, Sérgio Santos e o Marco Aurélio Ribeiro, todos deputados estaduais. Isso foi em 1978. Naquela ocasião, se aglutinavam em torno do professor Fernando Henrique Cardoso os estudantes, os intelectuais, os trabalhadores e os artistas.

Eu estava entre os estudantes, e nessa época eu conheci vários trabalhadores. Dentre eles, aqueles trabalhadores que faziam parte da oposição sindical aqui no estado de São Paulo, e principalmente na cidade de São Paulo. Dentre eles estava um cidadão que chamava Santo, Santo Dias.

Esse cidadão nós conhecemos indo panfletar, indo pregar cartazes nas portas de fábrica. Lembro que isso ocorreu na Avenida Santo Amaro, perto da estátua do Borba Gato. Nós andamos o estado de São Paulo inteirinho. Fomos panfletar na porta da Volkswagen, quando não tinha ninguém, tinha cinco pessoas. Fomos eu, o saudoso promotor público, que era do Partido Comunista Brasileiro, Benedito Campos, a Gilda Portugal Gouvea, que era secretária do Fernando Henrique Cardoso e um outro cidadão, chamado Luiz Inácio Lula da Silva. (Palmas.)

Fomos lá na porta da Volkswagen. Isso tudo ocorreu em 1978. Conheci vários trabalhadores. Dentre eles, o Clóvis Castro, que não deve estar aqui hoje, mas está ainda na militância, o frei Chico, que estivemos com ele hoje na catedral. O nosso Waldemar Rossi, da Comissão de Justiça e Paz, o Flores, que era da oposição sindical em Osasco, e já falecido.

Enfim, todas essas pessoas se uniram para participar, organizar e efetivar a redemocratização desta nação. Foi aqui que começou a luta pela redemocratização do Brasil. Tivemos, dentre aquele grupinho que ficou na porta da Volkswagen, dois presidentes da República, e por vários anos. Um foi o professor Fernando Henrique Cardoso e o outro foi o Luiz Inácio Lula da Silva. (Palmas.)

Quero relembrar tudo isso porque, hoje, o destino fez com que eu viesse receber o prêmio com o nome do Santo, do Santo que um cardeal ou arcebispo de São Paulo apelidou como Santo. Dom Cláudio Hummes deixou consagrado esse apelido, o Santo leigo, e por isso é uma honra muito grande estarmos aqui justamente com um daqueles operários que andavam conosco nessa cidade e em todo o estado de São Paulo.

Sei que estamos vivendo em uma época muito difícil na nossa nação. Sabemos que estão tentando esbugalhar os direitos humanos. Nós precisamos resistir. E para resistir, quero lembrar aqui principalmente aquela frase de Dom Paulo Evaristo Arns: “Coragem, coragem, coragem. É preciso ter coragem.” Não só isso.

Quero concluir agradecendo ao deputado João Paulo Rillo pelas belas palavras, que quase me fizeram chorar. Rillo, você é o futuro prefeito de São José do Rio Preto. (Palmas.) Quero dizer que é uma honra e tenho muito orgulho. Quero agradecer a memória dos meus pais, que fizeram com que eu tivesse uma vida reta, sincera e honesta para estar, hoje, militando nos direitos humanos. Quero agradecer a minha mulher, que aqui está, Maristela de Anjos Neves. Aos meus filhos, que aqui estão, por terem me honrado e terem se submetido àquelas horas em que eu não pude estar presente. É uma honra muito grande estar aqui ao lado de vocês.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Obrigado. Parabéns, Dr. Júlio. (Manifestação nas galerias.)

Esta Presidência, neste momento, concede a palavra ao deputado Alencar Santana, que fará a entrega do Prêmio Santo Dias a Benedito Roberto Barbosa. (Palmas.)

 

O SR. ALENCAR LULA SANTANA - PT - A luta de um é a luta de todos. Aqui tivemos diversos homenageados, e todos eles merecem nossos parabéns, consideração e respeito da Comissão de Direitos Humanos.

Indicamos o Dito e poderíamos indicar outros representantes do Movimento Popular, Movimento de Moradia. Vejo aqui a Graça, o Sidney, o Raimundo, assim como outros companheiros e companheiras.   

O Dito tem uma história de luta no Movimento Popular de Moradia, em defesa dos mais humildes, dos mais necessitados, e também atua como advogado. E, nesse momento em que vivemos, homenagear o Movimento de Moradia, no caso da pessoa do Dito, é fundamental, porque é um movimento que sofreu no último período e infelizmente se projeta um sofrimento ainda pior, porque o que vem pela frente, se nós considerarmos a palavra do presidente eleito, durante algumas manifestações de sua campanha, parece que o terror nos espera, mas vamos resistir a ele.

Lutar por direitos humanos é lutar por um conjunto de coisas: pela Educação, pela Saúde, por mais democracia, por mais direito, pela juventude, pela criança, pela mulher, pelo negro, pelo índio, por todos aqueles que necessitam do apoio, da política pública, que necessitam que seus direitos esculpidos na Constituição sejam respeitados. De que os valores universais sejam respeitados.

Então, homenageio todos aqueles que num pequeno ato ou numa luta política mais dura, mais ampla, que no seu dia a dia fazem essa defesa. Faz 70 anos que comemoramos a Declaração Universal, e a Assembleia Legislativa faz a sua homenagem a esses homens e mulheres lutadores e lutadoras. Todos nós temos uma razão para defender e lutar pelos direitos humanos nas mais diferentes áreas. Infelizmente no País, ainda hoje, muita gente está sofrendo - na prisão, na rua, por fome, no campo, na cidade por não ter um teto ou uma terra, nos leitos dos hospitais, sofre porque às vezes não consegue ter sua voz ouvida nos diferentes espaços da política, das instituições. Outras pessoas falaram de suas lutas, como o Sindicato dos Metalúrgicos também lembrou lutas antigas, mas nesse momento também há uma pessoa que simboliza todas essas lutas, que simboliza um conjunto de homens e mulheres neste País, que simboliza a luta pela justiça social, pela igualdade, pela oportunidade, pela liberdade, que também sofre nesse momento. E sofre justamente porque ele também é um lutador pelos direitos humanos. É um lutador para que as pessoas tenham mais direito. E queria, Dito, chamá-lo aqui para receber esta homenagem. (Palmas.)

Mas eu queria, com a permissão do homenageado, do meu homenageado, da comissão, também homenagear outra pessoa, que infelizmente não está entre nós, mas que precisa da nossa força, da nossa luta, porque nós voltaremos a vê-lo dentre nós, lutando ao nosso lado, mais do que isso, guiando-nos: Lula livre! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Neste momento, então, deputado Alencar Santana faz a entrega do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos ao Sr. Benedito Roberto Barbosa.

 

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- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Com a palavra o homenageado da noite, lembrando e pedindo, fazendo meu papel de presidente, para respeitar nosso tempo regimental de três minutos.

 

O SR. BENEDITO ROBERTO BARBOSA - Na verdade eu queria em primeiro lugar desejar um boa-noite para toda a bancada dos deputados. E em nome da deputada Beth Sahão dar boa-noite a todas as mulheres da luta, da resistência. (Palmas.) E um boa-noite especial ao nosso presidente Lula. Boa noite, presidente Lula! (Palmas.) Queria também agradecer a cada companheiro, companheira que está aqui nesta noite, também aos que não puderam estar presentes, especialmente aos movimentos, às entidades com que tenho trabalhado nesses últimos anos, ao Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, à Central de Movimentos Populares, à União dos Movimentos de Moradia, ao Movimento de Moradia da Região Sudeste.

Atuamos nesses movimentos, e eu queria repartir com todos vocês este prêmio e esta homenagem que estou recebendo. Às comunidades que estão conosco nesta luta. Estão aqui os companheiros da Diogo Pires, presentes na luta, na resistência pelo direito à moradia. Vivemos um momento tão difícil, mas não queria repetir aqui as palavras já ditas, porque há outras pessoas que vão ser homenageadas, mas queria fazer duas menções importantes para nós nesta noite.

Primeiro que nós vivemos um momento extremamente difícil da nossa conjuntura, especialmente para nós que lutamos pelo direito à moradia nas cidades. São mais de sete milhões de famílias que não têm uma casa para morar ou que moram muito mal em nosso País, moram em favelas, são sem-teto, moram em condições precárias de moradia, nos cortiços. Está aqui o povo da Pastoral da Moradia, que luta e trabalha com o povo dos cortiços. A gente tem que pensar, neste momento, nessa situação desses milhões e milhões de pessoas que não têm moradia.

Eu trabalho diretamente com essas famílias. Acompanho diretamente essa situação. Mais de 14 milhões de famílias, Alencar, moram em condições precárias, especialmente em situações de favela, em situações de risco, em situações precárias de moradia.

Nós estamos sob uma ameaça muito grande neste momento, sob um risco muito grande neste momento, porque existe no Senado Federal uma discussão - e eu queria, inclusive, pedir todo o apoio dos parlamentares que estão aqui nesta noite, neste dia em que nós comemoramos 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, do PLS, Projeto de lei do Senado nº 272, de 2016, que propõe fazer alteração da lei - já é uma lei, uma lei federal, a 13.260 - que tipifica os crimes de terrorismo no nosso País. O que estão querendo fazer neste momento no Senado?

 Inclusive porque o presidente Bolsonaro disse que ia fazer isso já na primeira semana do seu governo, tipificar a luta dos sem-teto e dos sem-terra, do MST, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. Falou do MTST, mas todos os movimentos que lutam pela moradia estão sob a ameaça neste momento, de sermos tipificados como terroristas, só porque nós lutamos pelo direito à moradia, pelo direito a um teto.

Terroristas são aquelas pessoas que deixam mais de sete milhões de casas vazias e abandonadas neste País. Terroristas são aquelas pessoas que concentram a terra urbana e rural. Esses são terroristas. (Palmas.)

Nós, não. Nós estamos lutando pelo nosso direito e nós vamos continuar nossa luta pela moradia, pela autogestão, pela urbanização das favelas, pelo direito à casa e pelo direito ao teto. Viva o nosso direito! Viva a resistência popular!

Muito obrigado, Alencar, por esse prêmio, por essa homenagem, porque essa homenagem vai só fortalecer a nossa resistência e a nossa luta pelos nossos direitos, a luta da Central de Movimentos Populares, a luta da União dos Movimentos de Moradia, a luta do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, a luta da Pastoral da Moradia, a luta do Movimento de Moradia da Região Sudeste, a luta do povo da Diogo Pires e de todas as favelas.

Essa luta vai continuar, porque nós queremos um novo Brasil, com os nossos direitos e com os direitos humanos preservados. Viva a resistência popular e viva a nossa luta! Nós queremos e desejamos mais direitos. Nenhum direito a menos. A resistência popular vai continuar. Santo Dias, presente! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Parabéns, Benedito. Convido, neste momento, o deputado Alencar Santana. Venha aqui, à frente, junto com o Sr. Benedito, para que ele possa receber uma homenagem especial. Ele vai receber as flores. É uma homenagem especial.

 

O SR. ALENCAR LULA SANTANA - PT - O Manoel, representando o Sindicato dos Advogados, também faz homenagem ao Dito, entregando uma pimenta.

 

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- São entregues o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos e as flores.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Dando sequência às homenagens da noite, as últimas duas homenagens e uma in memoriam. O próximo homenageado é militante, é guerreiro, é poeta e faz da arte um instrumento de transformação social.

Esses dias eu fui procurado pelo portal “UOL” para falar sobre o Sérgio Vaz e a indicação, a homenagem do Prêmio Santo Dias. Eu disse para o repórter do “UOL” que o Sérgio Vaz... “Como você caracteriza o Sérgio Vaz?” Sérgio Vaz é sonhador. Ser sonhador é característica fundamental para as pessoas que querem mudar o mundo.

O Sérgio primeiro fez aquelas frases que ficavam espalhadas nos muros da cidade e que foram ganhando muros e mais muros. Eu li em algum lugar que até em Guaxupé, Minas Gerais, tinha uma frase do Sérgio Vaz, que dizia: “É necessário o coração em chamas para manter os sonhos aquecidos.” E ele é assim. Não há uma palavra fora do lugar. Ou todas estão colocadas devidamente no seu lugar. Não há um poema que não faça a gente refletir, que não traga alguma espécie de desconforto. Não aquele desconforto ruim, mas como algo que você tinha que ter pensado um pouco mais a respeito. É muito bom que existam pessoas como Sérgio para fazer essas provocações na alma da gente.

Eu fui meio disfarçado, meio escondido, algumas vezes ao sarau da Cooperifa. Ali você vê poetas do amor e da justiça que ganharam o poder da palavra pelas mãos do Sérgio, que tiveram despertada a apropriação de si mesmos. E esse é um tipo de sentimento libertador, transformador.

Sérgio Vaz fala de arte, cultura, lazer, mas, ao mesmo tempo, ele sabe o quanto essas frentes têm potencial para dar voz às pessoas que quase nunca se sentem ouvidas. Ele poderia ficar na zona de conforto da literatura, mas ele vai até o coração da periferia, se junta à garotada, se junta aos jovens que vivem naquele espaço para então provocar, avivar, motivar, fazer sonhar, fazer com que cada um saia dali diferente, melhor do que quando entrou.

O Prêmio Santo Dias é uma homenagem, um reconhecimento do que ele vem fazendo com a insustentável leveza de um artista e a notável força de um revolucionário. Sem dúvida, Sérgio Vaz inspira muita gente, abrindo caminhos e abrindo consciências.

Tem um vídeo que fala da história do Sérgio Vaz. Após o vídeo, eu farei a entrega da homenagem legítima e merecida ao meu poeta favorito, Sérgio Vaz. (Palmas.)

 

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- É exibido o vídeo.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Tem a palavra o Sr. Sérgio Vaz.

 

O SR. SÉRGIO VAZ - Obrigado. Primeiramente eu queria que as pessoas da Cooperifa levantassem e pudessem dali receber o prêmio junto comigo. Uma salva de palmas. (Palmas.) Ninguém faz nada para ganhar prêmio, mas fica feliz quando ganha, não é? Obrigado, Carlos, por esta honraria, esta gentileza, ainda mais sabendo que o nome do prêmio é Santo Dias, que é lá da nossa quebrada também, um guerreiro. É uma honra, estou muito feliz.

Pessoas da Cooperifa, continuem de pé. Enquanto eu estiver de pé, vocês ficam também. Estou muito honrado porque hoje, exatamente dia 10 de dezembro, em 1988, eu lançava o meu primeiro livro. Então eu estou comemorando meus 30 anos de carreira aqui, certo? (Palmas.) Obrigado. Patrícia, se eu nunca disse obrigado, digo agora para você. Você sabe do que eu estou falando. 

Bom, eu queria oferecer este prêmio para todas as pessoas que, de forma direta, trabalham pelo fim do extermínio da juventude negra e periférica, certo? Eu venho de um lugar onde muitas pessoas não fazem nem 30 anos de vida, e estou comemorando 30 anos de carreira. Eu queria oferecer isto para todas as mães que inundam a Represa do Guarapiranga com suas lágrimas por conta dos seus filhos mortos, a todas as pessoas conhecidas e desconhecidas que lutam para que este mundo se torne um pouco melhor, apesar de as pessoas não deixarem.

 Queria dizer que esse governo que se anuncia, que elegeu os artistas e os educadores como seus inimigos, não sabe que nós somos raízes, certo? Queria oferecer para todos os educadores e as educadoras e para todos os jovens que apesar de tudo, apesar de todos, insistem em estudar, insistem em ter conhecimento. Para mim, os professores são heróis.

Queria oferecer a eles e a todas as pessoas que, de forma injusta, estão privadas da sua liberdade, assim como o presidente Lula. (Palmas.) Que a gente tenha mais julgamentos justos, porque, se são capazes de cometer injustiça com um presidente, imaginem comigo, que moro na periferia, e com todos nós, que somos pessoas que não ocupam cargos públicos.

Eu queria falar mais coisas. É muito tempo de luta, e eu queria falar mais coisas, mas no momento me faltam palavras, e o tempo é curto também. Eu vou terminar com um poema chamado “Novos Dias”, para todas as pessoas que estão com medo desse novo governo.

Eu queria dizer que colem comigo, que eu tenho experiência. Fiquem junto com o povo da periferia, com o povo preto, que a gente tem experiência em sofrimento. Vamos passar mais tempo juntos, construindo o País, como sempre construímos. Não é hora de ter medo. Eu não tenho medo, senão não estaria aqui recebendo este prêmio. Em nome de toda a humanidade que eu tenho, é uma honra. Muito obrigado a todos. (Palmas.)

Novos Dias
Este ano vai ser pior...
Pior para quem estiver no nosso caminho."
Então que venham os dias.
Um sorriso no rosto e os punhos cerrados, que a luta não para.
Um brilho nos olhos que é para rastrear os inimigos (mesmo com medo, enfrente-os).
É necessário o coração em chamas para manter os sonhos aquecidos. Acenda fogueiras.
Não aceite nada de graça, nada. Até o beijo só é bom quando conquistado.
Escreva poemas, mas, se te insultarem, recite palavrões.
Cuidado, o acaso é traiçoeiro e o tempo é cruel, tome as rédeas do teu próprio destino.
Outra coisa, pior que a arrogância é a falsa humildade.
As pessoas boazinhas também são perigosas, sugam energia e não dão nada em troca.
Fique esperto, amar o próximo não é abandonar a si mesmo.
Para alcançar utopias, é preciso enfrentar a realidade.
Quer saber quem são os outros? Pergunte quem é você.
Se não ama a tua causa, não alimente o ódio.
Os erros são teus, assuma-os. Os acertos também são teus, divida-os.
Ser forte não é apanhar todo dia, nem bater de vez em quando, é perdoar e pedir perdão, sempre.
Tenho más notícias: quando o bicho pegar, você vai estar sozinho. Não cultive multidões.
Qual a tua verdade? Qual a tua mentira? O travesseiro vai te dizer. Prepare-se!
Se quiser realmente saber se está bonito ou bonita, pergunte aos teus inimigos, nessa hora eles serão honestos.
Quando estiver fazendo planos, não esqueça de avisar aos teus pés, são eles que caminham.
Se vai pular sete ondinhas, recomendo que mergulhe de cabeça.
Muito amor, muito amor, muito amor, mas raiva é fundamental.
Quando não tiver palavras belas, improvise. Diga a verdade.
As manhãs de sol são lindas, mas é preciso trabalhar também nos dias de chuva.
Abra os braços. Segure na mão de quem estiver na frente e puxe a mão de quem estiver atrás.
Não confunda briga com luta. Briga tem hora para acabar, e luta é para uma vida inteira.
O ano novo tem cara de gente boa, mas não acredite nele. Acredite em você.
Feliz todo dia! (Palmas.)

 

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- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Salve, salve, poeta. Essa Presidência convida a deputada Beth Sahão, neste ato representando a deputada Ana do Carmo, para fazer a entrega do Prêmio Santo Dias a Anderson Lopes Miranda. (Palmas.)

 

A SRA. BETH LULA SAHÃO - PT - Mais uma vez boa noite. Ocupo esta tribuna pela segunda vez para representar minha querida companheira de bancada, deputada Aninha do Carmo, que foi muito feliz na escolha do Anderson. Ela não pôde estar aqui nesta noite por recomendação médica - passa bem, mas não pôde participar desta solenidade. Estou tendo a honra de representá-la nesta noite.

Eu vi que vários segmentos aqui foram homenageados e creio que todos são igualmente importantes, mas há um segmento muito fragilizado, que é a população de rua, representada pela luta do Anderson. Ele, desde criança, viveu em um orfanato e veio para São Paulo ainda adolescente. Teve todos os seus pertences furtados e, a partir daí, foi morar na rua, se tornou mais uma pessoa para aumentar a população de rua da cidade de São Paulo.

Mas ele não fez só isso. Ele foi à luta, ele se organizou, ele se preparou e participou de coisas incríveis que eu estava vendo aqui no seu currículo, entre elas a de influenciar diretamente a elaboração das políticas públicas do Suas, que é o Sistema Unificado de Assistência Social, importantíssimo para balizar as políticas públicas aqui neste país. Além disso, foi do Conselho Nacional da Assistência Social junto ao Ministério do Desenvolvimento Social e foi para a Alemanha se aprimorar, buscando novos conhecimentos para poder fazer esse enfrentamento duro, difícil, cruel. Trata-se de enfrentar as autoridades que às vezes tratam os moradores de rua com jatos de água gelada às cinco horas da manhã, numa noite fria, para poder retirá-los da rua. 

É contra essa desumanidade que estamos aqui, nesta noite, representando Ana do Carmo, que não está presente, mas que homenageia o Anderson, a quem convido para vir à tribuna. Por favor, uma salva de palmas para esse grande batalhador, muito importante, muito especial. (Palmas.) Nós vamos homenageá-lo e entregar-lhe este prêmio.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Peço que a deputada Beth Sahão faça a entrega. E faço o registro do vereador Eduardo Suplicy, que também homenageia o Anderson e que, neste momento, faz esse registro especial, até porque ele é parte da sua equipe de mandato, o acompanha há muitos anos. Como foi informado ao vereador Suplicy, a palavra regimentalmente está restrita aos membros desta comissão, que fazem as homenagens nesta noite, assim como os homenageados. Mas fica aqui registrado também o apoio e a homenagem do vereador Eduardo Suplicy. (Palmas.)

 

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- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos.

 

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O SR. ANDERSON LOPES MIRANDA - Presidente Carlos Bezerra Jr., eu queria quebrar o Regimento e convidar o vereador Eduardo Suplicy a vir ao meu lado fazer um minuto da fala junto comigo. Porque sei que a Casa não pode, mas a gente pode. Ouvir a fala de um senhor desse, que nos representou durante 40 anos no Senado, é importante para nós, principalmente para mim, que fiquei um ano e oito meses trabalhando tanto com o Suplicy e com sua esposa também, Patrícia Bezerra, na Comissão de Direitos Humanos. E é um orgulho para mim.

Antes de começar, eu queria pedir uma salva de palmas às minhas filhas que estão assistindo: Maria Beatriz e Maria Clara. (Palmas.) Elas não estão aqui por condições financeiras minhas; não consegui trazê-las. São menores, são pequenininhas ainda, não conseguiram vir. E uma salva de palmas, também, para a Janaína, minha ex-companheira, que está assistindo em casa. (Palmas.) Eu moro na Cidade Tiradentes. Sei que a TV Assembleia está transmitindo ao vivo, e é importante fazer essa menção.

Eu queria fazer uma homenagem com esse prêmio. Esse prêmio não é meu, é da população de rua. Estão aqui Darcy, Edvaldo; estão lá em cima Pedro e Adriana, companheiros de rua; estão aqui Nina, Madalena, Alderon e ONGs que trabalham com a população em situação de rua. Vários companheiros e companheiras estão aqui.

Eu só queria dizer, presidente da comissão, Carlos Bezerra Jr., vereador, deputados e deputadas da bancada do PT, que quero entregar esse prêmio a um vereador da Baixada Santista, “maledeto”, que diz que todo morador de rua é bandido. Semana passada, ele falou isso em Santos, na tribuna, maltratando a população em situação de rua. Como foi bem dito pela deputada Beth Sahão, sou ex-morador de rua. Fui estuprado, aos 14 anos, por um policial militar no Vale do Anhangabaú. Poderia, hoje, matar todos os policiais militares, com raiva. Não tenho raiva. Acho que é perdoar, amar.

Como o deputado João Paulo Rillo falou bem claramente: ganham mal, muitas vezes não são organizados. Ninguém está na rua porque quer. Ninguém está na rua porque a rua é bonita. A rua tem barata, rato, muquirana, e a gente sabe muito bem disso. Em 2011, fui honrado com o Prêmio de Direitos Humanos Nacional. Eu não quis falar isso, mas recebi o prêmio da nossa ex e eterna presidenta Dilma Rousseff - o Prêmio de Direitos Humanos da População em Situação de Rua. (Palmas.) E quero parabenizar essa comissão. Eu vou passar a palavra ao querido Suplicy por um minuto, porque é importante ele falar...

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Ele nos comunicou que ele deixaria em aberto, até por causa do tempo extenso.

 

O SR. ANDERSON LOPES MIRANDA - Eu acho que é importante ele falar.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Mas a presença dele nos engrandece.

 

O SR. ANDERSON LOPES MIRANDA - Claro. É triste, mas faço questão: para mim é importante isso, porque as pessoas pensam que a gente está na rua porque quer. E não é porque a gente quer. A gente não está na rua por um prato de sopa. Não está na rua por comida. Hoje, a população de rua come muito bem, graças a Deus. Mas a gente está na rua pela omissão da política pública. Acabou de falar o companheiro aqui. Falta de moradia, de trabalho, de saúde, de assistência social de fato. (Palmas.)

O Suas está aí; no ano que vem, ele acaba. A deputada Beth Sahão acabou de falar. Nós lutamos por um Sistema Único de Assistência Social, em que o Bolsa Família não é esmola; é uma renda de garantia de direito para quem está no sistema prisional e para quem está... A rua não recebia o Bolsa Família; hoje, recebe.

Então, quero concluir aqui dizendo que a camisa do Movimento da População de Rua é vermelha porque jorra sangue, ainda, da população em situação de rua. Quero lembrar do massacre da Candelária e do massacre da Sé, que fez 14 anos agora, em 19 de agosto. E lembrar de índio Galdino, que foi morto em Brasília, pois o confundiram com morador de rua: “Matamos porque é mendigo”.

Quero encerrar dizendo, bem claramente: obrigado pelo projeto de lei que esta Casa apresentou para a população em situação de rua. Pena que o governador que saiu vetou coisas importantíssimas, Carlos Bezerra Jr., e que nós temos que recuperar. Obrigado, Eduardo Suplicy. Tem um projeto de lei tramitando na Câmara Municipal para a população em situação de rua, com Eduardo Suplicy, Patrícia Bezerra e Soninha Francine, três coautores importantíssimos para a população em situação de rua. Nós não queremos mendicância, não queremos esmola; queremos política pública de verdade, com endereço e com chave, para a população de rua. É isso que nós queremos: casa, trabalho e moradia. Obrigado. Esse prêmio é nosso! (Palmas.)

 

A SRA. BETH SAHÃO - PT - Eu peço para o Anderson ficar um minutinho porque quero convidar o Manoel Marques, que está representando o Fábio Gaspar, presidente do Sindicato dos Advogados e Advogadas, para entregar um mimo ao Anderson.

 

O SR. ANDERSON LOPES MIRANDA - Eu só quero pedir também que efetivem a RBC no estado de São Paulo para todos e todas - a Renda Básica de Cidadania. (Palmas.)

 

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- É feita a homenagem.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Feita a homenagem, parabéns ao Anderson. Fazemos, então, neste momento, a última homenagem, o último reconhecimento da noite, que também tem um tom de lamento. É uma homenagem “in memoriam”. Ano passado, a Comissão de Direitos Humanos entregava o Prêmio Santo Dias, “in memoriam”, à Marielle.

Nesta noite, nós o entregamos, “in memoriam”, ao Dr. Roberto Kikawa, na pessoa de seu filho, que representa sua entidade. Roberto Kikawa era um jovem médico, que coordenava um projeto, uma organização não governamental, o Cies. No mês passado, aos 48 anos de idade, ele foi brutalmente assassinado. Kikawa deixa esposa, dois filhos e um legado incrível.

Eu o conheci há aproximadamente uma década, quando eu ainda era vereador. Me procurou no gabinete e me lembro que encontrei um jovem médico idealista, sonhador, que tinha um projeto, apresentava um projeto, rabiscando ali nas páginas, dizendo que gostaria de adaptar carretas, transformar carretas em consultórios médicos.

Aquele projeto avançou. Lembro-me dos primeiros atendimentos na zona leste de São Paulo. Depois, ele foi ampliando e se espalhou pela cidade. Integrou programas como o “Dose Certa” e vários outros. Ele ajudou a organizar e a humanizar o sistema. Milhares de pessoas foram atendidas em São Paulo, em todo o estado e em várias cidades.

Humanizou o sistema, organizou, encontrou caminhos alternativos de transformação social e, no auge de sua caminhada de humanização do sistema de saúde, de transformação social, de mobilização de voluntários, médicos e equipes de saúde, ele foi, no mês passado, como eu disse, brutalmente assassinado.

Então, nesta noite, como um reconhecimento ao legado do Dr. Roberto Kikawa, fazemos uma homenagem “in memoriam”. Vamos ver um vídeo e, depois, farei essa entrega ao filho do Roberto, Daniel Kikawa, e ao Marcelo Hatanaka, que representa aqui o Cies, organização fundada pelo Kikawa. Logo após o vídeo, eles receberão a homenagem.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Eu gostaria de pedir que o Daniel, filho do Roberto, e o Marcelo Hatanaka se colocassem ao centro. (Palmas.) Vamos fazer essa entrega de forma diferente, quebrando o protocolo. Gostaria de pedir que todos os membros da comissão descessem para que fizéssemos a entrega.

 

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- É entregue o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, “in memoriam”.

 

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O SR. MARCELO HATANAKA - Senhores, estou aqui representando a família do Roberto Kikawa e a empresa beneficente, que se chamava Cies. Gostaria de agradecer este prêmio a todas as autoridades presentes, as senhoras e os senhores.

Uma palavra breve e rápida sobre o Roberto. Vocês já viram o vídeo. O Roberto era um médico muito bem conceituado, trabalhava em um hospital de ponta. Tinha tudo para ser aquele médico de novela, que vocês veem com um jaleco impecável, gravata, atendendo pessoas de alto padrão. Mas ele estava muito preocupado com a saúde básica. Então, ele começou a percorrer favelas.

Vocês viram no vídeo: ele foi para a favela do Pantanal e, lá, se assustou com o nível de saúde que as pessoas tinham. Ele percebeu que a missão dele aqui não era atender aquela população... Não está errado atender aquela população, todos têm direito à saúde, mas ele achava que era muito mais importante se dedicar à população mais simples, uma população que não consegue sequer chegar aos hospitais.

Pensando nisso, ele criou as carretas. Ele colocou hospitais em cima de caminhões e começou a levá-los para a periferia. Mas não só periferia: se andarmos pela cidade, vamos encontrar algumas Carretas da Saúde. O Roberto não estava preocupado com partidos, esquerda ou direita. Ele estava preocupado em participar de uma bancada, a bancada maior de todas, que é a bancada de Deus. Ele acreditava, como cristão que era, como seu dom, que tinha que prestar contas a Deus atendendo a sociedade, a população. Foi isso o que ele quis fazer de melhor.

Infelizmente, ele acabou morrendo, vítima de um assalto mal sucedido. Ele foi baleado. Imagino que, se tivesse sobrevivido, ele iria querer continuar ainda mais esse projeto para atender a população, para trazer saúde à população. Essa era a meta dele. No crescente que ia, possivelmente todos vocês iriam acabar conhecendo esse projeto. Convido a todos que pesquisem o nome dele, pesquisem o projeto que ele deixou pela metade.

Estávamos agora, no auditório ao lado, em um tributo a ele, vendo aqueles que estão se comprometendo a continuar esse projeto, a continuar com atendimento à sociedade mais básica, para que todos tenham acesso à saúde. Essa era a preocupação dele e essa é a preocupação que o Cies deseja manter.

Este prêmio é muito importante, pois serve como incentivo para que todos continuem. Serve de incentivo, inclusive, para que outras pessoas tentem conhecer esse projeto, participar dele e fazer alguma coisa em prol da comunidade. Acho que isso é o mais importante, essa é a mensagem.

Muito obrigado pelo prêmio. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Com as palavras do Marcelo e a presença do Daniel Kikawa, eu gostaria de pedir que todos ficássemos em pé e fizéssemos, neste dia em que se celebra os 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um minuto de silêncio em homenagem à memória do Roberto e em homenagem a todos aqueles e aquelas que foram vítimas da violência em nosso país.

 

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- É respeitado minuto de silêncio.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLOS BEZERRA JR. - PSDB - Está encerrada a presente sessão.

 

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  - Encerra-se a sessão às 22 horas e 12 minutos.

 

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