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11 DE MARÇO DE 2019

9ª SESSÃO SOLENE DO PERÍODO ADICIONAL - ENTREGA DA MEDALHA THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO

 

Presidência: LECI BRANDÃO

 

RESUMO

 

1 - LECI BRANDÃO

Assume a Presidência e abre a sessão.

 

2 - CLÁUDIA LUNA

Mestre de cerimônias, anuncia a composição da Mesa.

 

3 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Demonstra sua emoção em celebrar a 7ª edição deste prêmio. Diz ser este um momento de muita reflexão e de união para que possa ser feito o enfrentamento necessário para combater os problemas deste País. Considera uma emoção a presença de Theodosina nesta sessão. Ressalta que todas as mulheres homenageadas são guerreiras. Informa que a Presidência Efetiva convocara a presente sessão solene, a pedido desta deputada, para a "Entrega da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro - Edição Lélia Gonzalez". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Registra que não se fala da contribuição das mulheres, negros e índios para a construção deste País, somente dos homens brancos, social e economicamente privilegiados. Discorre sobre a Sra. Lélia Gonzalez, que dá nome a esta edição do prêmio. Lembra que Theodosina Rosário Ribeiro foi a primeira mulher negra a ser eleita deputada estadual em São Paulo. Comenta a atuação das mulheres homenageadas. Esclarece que este prêmio é um reconhecimento de pessoas que lutam contra a desigualdade e que transformam luto em luta.

 

4 - CLÁUDIA LUNA

Mestre de cerimônias, lê texto sobre a Sra. Lélia Gonzalez, que dá nome à edição deste prêmio. Anuncia a apresentação de trecho de documentário sobre a mesma.

 

5 - JOSÉ CARLOS BONILHA

Representante da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos, afirma que o Ministério Público está muito honrado em compor a Mesa, em uma sessão que tem a finalidade de prestar homenagem a mulheres que se destacaram no combate ao preconceito. Lembra a longa história de preconceito e discriminação no Brasil, o último país a acabar com o regime escravagista, no final do século XIX. Discorre sobre o objetivo da República Federativa do Brasil em promover o bem estar de todos, em uma sociedade livre, justa e solidária, sem preconceitos e discriminação. Coloca o Ministério Público à disposição da população.

 

6 - ELISA LUCAS RODRIGUES

Secretária executiva adjunta municipal de Direitos Humanos e Cidadania, lembra que março é o mês da mulher e da luta contra a discriminação. Ressalta que este é um momento de reflexão para o trabalho de combate à discriminação racial, que se torna cada vez mais forte. Esclarece que há muito o que ser feito pela cultura, educação, saúde da população negra, ações de combate ao racismo e discriminação e a inclusão da população negra.

 

7 - RAFAEL PITANGA GUEDES

Representante do defensor público-geral Dr. Davi Depiné Filho, elogia o reconhecimento às mulheres que trabalham no combate ao racismo e à conquista de direitos. Diz estar honrado em estar ao lado da deputada Leci Brandão. Cita alguns temas já discutidos pela deputada. Afirma que a mesma escreve a história que a própria história não conta. Discorre sobre os objetivos da Defensoria Pública. Esclarece que vivemos hoje em uma sociedade marcada pela desigualdade. Lembra o assassinato da vereadora Marielle, não elucidado após um ano. Cita a música "Maria, Maria".

 

8 - WANDER GERALDO

Presidente municipal do PCdoB, saúda a deputada Leci Brandão por esta homenagem, Theodosina Rosário Ribeiro e todas as autoridades presentes. Lembra que Theodosina foi a primeira mulher negra a ocupar o cargo de deputada estadual nesta Casa. Parabeniza as homenageadas. Considera que as mesmas representam o melhor da sociedade paulistana. Destaca sua luta em favor da Educação Pública, pela habitação e contra a privatização da Previdência Pública. Afirma que o PCdoB tem muito orgulho de ter Leci Brandão como deputada estadual.

 

9 - THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO

Ex-deputada estadual, cumprimenta as autoridades presentes e as mulheres homenageadas. Pede que as mulheres negras sejam mais respeitadas. Ressalta o respeito desta Casa pelo seu nome ter sido colocado em uma medalha para as mulheres que fazem um trabalho imenso em prol da coletividade, principalmente da negra. Destaca a necessidade de continuar a luta para evitar o descaso com as mulheres. Cumprimenta a deputada Leci Brandão por esta solenidade. Considera a deputada um exemplo para as mulheres, na busca para diminuir a discriminação.

 

10 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Anuncia a homenagem, com entrega de medalha, após a leitura do currículo das homenageadas pela mestre de cerimônias, às mulheres que se destacaram na sociedade em razão da sua contribuição ao enfrentamento da discriminação racial e na defesa dos direitos das mulheres no estado de São Paulo.

 

11 - ISIS CAROLINA VERGILIO

Representante da Sra. Djamila Ribeiro, esclarece a ausência da homenageada em razão de participação em conferência na França. Diz estar honrada em estar na presença de Leci Brandão e Theodosina Rosário Ribeiro. Ressalta que o trabalho de Djamila tem como objetivo expandir e melhorar o acesso das pessoas à literatura.

 

12 - JOYCE VENÂNCIO

Representante do Instituto Preta Pretinha, informa que o instituto faz bonecos de todos os tipos e contribui para a educação e respeito a todos. Agradece a deputada Leci Brandão pelo convite e pela oportunidade de desenvolver projetos junto ao Ministério da Cultura, no qual também já foram premiadas. Fala que Theodosina é uma referência para todas. Agradece sua avó pelos ensinamentos.

 

13 - LUCIA VENÂNCIO

Representante do Instituto Preta Pretinha, agradece todos os presentes. Parabeniza as outras homenageadas.

 

14 - BETH BELI

Percussionista, arte educadora e fundadora do Bloco Afro Ilú Obá de Min, destaca a importância da medalha. Afirma que Theodosina Rosário Ribeiro e Leci Brandão são referências para todos. Ressalta sua alegria em ser celebrada enquanto está viva. Informa que pretende deixar um grande legado para o seu bloco, o Ilú Obá. Esclarece o significado do nome do bloco, formado hoje por 450 mulheres. Cita realização de evento, do movimento negro, para recontar o ilê, no qual houve o reencontro de muitas pessoas.

 

15 - MARIA HELENA CANDIDA DE MOURA

Liderança comunitária do Movimento de Moradia, agradece a homenagem recebida. Cumprimenta Theodosina, que disse ter sido sua diretora na escola quando tinha nove anos, a deputada Leci Brandão, sua amiga, e todas as pessoas do seu movimento.

 

16 - MARGARIDA BARRETO

Ginecologista e especialista em Medicina do Trabalho, ressalta a necessidade de transformar o mundo em luta sempre e resistir, enfrentando as dificuldades. Discorre sobre sua trajetória de vida e como passou a estudar o assédio moral entre os trabalhadores. Cita o crescimento desta área e a realização de congresso a respeito do tema. Agradece a deputada Leci Brandão e Theodosina Rosário Ribeiro pelo espaço de divulgação deste trabalho.

 

17 - ELIANA DE LIMA

Cantora e intérprete de samba enredo, agradece a Deus pelos 37 anos de carreira. Diz estar feliz em participar desta homenagem de iniciativa da deputada Leci Brandão. Afirma que Theodosina é uma mulher guerreira e um exemplo para todas. Discorre sobre as dificuldades que enfrentou desde os 18 anos de idade, quando iniciou sua carreira. Considera válida a sua luta. Informa ter visto neste Carnaval duas mulheres puxando o samba-enredo de escolas. Diz esperar que apareçam outras mulheres em sua área, puxadoras de samba.

 

18 - MAURA AUGUSTA SOARES DE OLIVEIRA

Presidenta da Facesp, diz estar muito orgulhosa em estar nesta Casa ao lado de pessoas tão importantes como Theodosina Rosário Ribeiro e a deputada Leci Brandão. Relata sua história de vida, tendo sido vítima de assédio moral e racismo. Informa ter sido funcionária do sistema penitenciário, onde afirma que as mulheres negras são muito discriminadas, um sistema próximo ao da escravidão. Ressalta que necessita continuar a sua luta. Discorre sobre o projeto Associação Projeto Gerações, que tem como objetivo apresentar o bale clássico e outras culturas para as crianças negras. Enfatiza que as crianças nunca devem desistir daquilo que querem ser na vida.

 

19 - NEON CUNHA

Ativista independente, publicitária, ameríndia e transgênera, discorre sobre como chegou até a entrega deste prêmio. Lembrou as origens de sua família. Pede que o mundo seja mais humano.

 

20 - SHEILA VENTURA PEREIRA

Coordenadora da Associação Pró-Falcêmicos, considera sua luta intensa e sofrida, transformando diariamente luto em luta. Ressalta que é uma mulher negra, trabalhadora, mãe e com doença falciforme. Afirma que sofre preconceitos por ser negra e a cada dia trabalha para mostrar sua força e aquilo do que é capaz. Esclarece que, apesar de desacreditar na política, exemplos como a deputada Leci Brandão e Theodosina Rosário Ribeiro, a fazem acreditar na possibilidade de mudanças, com igualdade e ética. Oferece o prêmio a todas as mulheres com doença falciforme e outras doenças, além das mulheres negras.

 

21 - MARISA DE SÁ

Professora, dedica o prêmio à todas as professoras e educadoras. Informa ter sido diretora de escola e professora por mais de 20 anos. Lembra suas lutas quando vereadora. Esclarece que quer continuar a sua trajetória, na luta por uma educação justa e igualitária, com mulheres livres e felizes. Cita reportagem, feita por alunos, sobre o empoderamento e a possibilidade de acesso às universidades. Parabeniza a deputada Leci Brandão pelo evento.

 

22 - RYANE LEÃO

Professora e poeta, agradece a deputada Leci Brandão e Theodosina pela homenagem. Parabeniza todas as que receberam a medalha. Diz ser professora de inglês apenas para mulheres negras. Agradece a oportunidade.

 

23 - REGINA DE PAULA THOMAZ

Membro da Pastoral Afro da Nossa Senhora Achiropita, diz ser muito contente com o que faz na Pastoral. Informa ser a doceira da instituição. Agradece a deputada Leci Brandão e Theodosina pela medalha recebida. Oferece a mesma para suas primas, já falecidas, responsáveis por levá-la para a Pastoral.

 

24 - EVA BENEDITA DE ANDRADE

Dona de casa, aposentada e mãe do radialista Dinho, agradece a deputada Leci pela homenagem. Afirma que seu filho Dinho era fã dela. Agradece os presentes.

 

25 - ROSA MARIA VIRGOLINA DA SILVA

Conhecida como Doné Oyassy, matriarca do Ilê Axé de Yansã, agradece todos os presentes, Theodosina Rosário Ribeiro e a deputada Leci Brandão. Discorre sobre a necessidade do ser humano olhar e respeitar o próximo. Considera-se importante por receber esta medalha, já que mora na roça e se sente esquecida. Sugere que todos levantem e dêem um abraço no próximo. Agradece a deputada Leci Brandão pela homenagem.

 

26 - ANA MARIA MARTINS SOARES

Assistente social, ex-vereadora, ex-deputada estadual e militante de movimento social, ressalta sua alegria por viver este momento de emoção. Discorre sobre a atual conjuntura do País e do mundo, com o que considerou um retrocesso dos direitos humanos. Agradece a deputada Leci Brandão pela homenagem. Afirma que a mesma honra os militantes do PCdoB com sua atuação na luta pelas mulheres e pela negritude. Agradece seus companheiros de partido.

 

27 - BIA FERREIRA

Cantora, compositora, multi-instrumentista e ativista, lembra que ainda tem 25 anos e muito a aprender. Demonstra sua felicidade com esta homenagem. Dedica a medalha a suas avós, que criaram seus pais e investiram muito tempo na sua educação e de seus irmãos, ensinando a importância do falar. Agradece suas irmãs e sua companheira. Encerra seu discurso com uma poesia. Critica o fato desta Casa apresentar uma cruz no plenário, já que o Brasil é um estado laico.

 

28 - CLÁUDIA LUNA

Mestre de cerimônias, discorre sobre a necessidade do reconhecimento do trabalho de lideranças que não são devidamente reconhecidas na sociedade. Ressalta que o trabalho destas mulheres impactam a vida de muitas pessoas, e por ocorrerem em geral nas periferias, precisam ser reconhecidos.

 

29 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Diz ter sido esta edição diferente das anteriores, com histórias muito fascinantes. Lembra o documentário de Lélia Gonzalez, exibido anteriormente, que falava da falta de oportunidade para as crianças. Discorre sobre ações de governos anteriores com o objetivo de fortalecer a educação, a cultura e o povo pobre. Cita letras de suas músicas, consideradas anteriormente de protesto. Agradece todas as pessoas que a ensinaram. Menciona todo o apoio dado pelos seus assessores, desde quando entrou nesta Casa. Reafirma o seu compromisso com a arte, o respeito e o reconhecimento de todas as pessoas. Comenta sua chegada nesta Casa e sua atuação, com a elaboração de projetos de lei com a participação de seu povo, das mulheres e dos negros. Destaca o seu orgulho de pertencer ao PCdoB. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Leci Brandão.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Bom dia a todos e a todas. Sejam muito bem-vindos e bem-vindas à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para sessão solene com a finalidade de entrega da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro - nesta edição, excepcionalmente, denominada Edição Lélia Gonzalez.

Anunciamos, para compor a Mesa principal a Sra. Exma. Deputada Leci Brandão, proponente desta sessão solene; a Exma. Sra. Theodosina Rosário Ribeiro, que foi deputada estadual nesta Casa de Leis; Dr. José Carlos Bonilha, representando a Promotoria de Justiça de Direitos Humanos; o Dr. Rafael Pitanga Guedes, representando o defensor público-geral do Estado, Dr. Davi Depiné Filho; a secretária-executiva adjunta municipal de Direitos Humanos e Cidadania, professora Elisa Lucas Rodrigues; o presidente municipal do PCdoB, Sr. Wander Geraldo.

Com a palavra, a nobre deputada Leci Brandão.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Deus abençoe, proteja e ilumine todas e todos. Dizer que para mim é um momento de extrema emoção esta 7ª Edição da Medalha Dra. Theodosina Ribeiro, até porque o momento que nós estamos atravessando é um momento de muita reflexão. Nós temos que nos unir cada vez mais, nós temos que esquecer siglas partidárias, temos que esquecer instituições e entidades. Nós temos que nos unir, mas unir para valer, porque, se nós não fizermos isso, nós não vamos conseguir fazer o enfrentamento que está sendo necessário neste momento no nosso País.

Ainda há pouco eu falava com a minha assessora, a nossa querida Rosina Conceição de Jesus, e eu disse para a jornalista que estava me entrevistando que você foi a pessoa que trouxe a ideia para que nós criássemos essa medalha. E aí já passa uma viagem na minha cabeça, porque quando é que eu poderia imaginar que iria um dia estar nesta Assembleia aqui, que é a maior Assembleia da América Latina, prestando homenagem a tantas mulheres importantes – nós temos muitas mulheres importantes, centenas, milhares –, com o nome de uma pessoa que eu só ouvia falar, mas não conhecia na verdade.

Então, a partir do momento que Deus está nos dando a graça de ter a presença da Dra. Theodosina nesta edição, é muito importante. Ainda perguntaram: “Mas qual é o critério?”. Não tem concurso, não tem indicação partidária, não existe isso. Existe, sim, um perfil de mulheres que têm uma particularidade. Elas são mulheres guerreiras, cada uma na sua função, cada uma na sua caminhada. Ela pode ser uma líder comunitária, ela pode ser uma médica, ela pode ser uma ativista, ela pode ser heterossexual, pode ser homossexual, não interessa. A gente quer saber do perfil dessa pessoa, o compromisso que essa pessoa tem.

E quero concluir – porque nós já estamos aqui no adiantado da hora, não posso me alongar muito –, dizer que muitas pessoas falam: “Ah, mas esse mandato tem muita festa, não é? Está sempre fazendo uma coisa ou outra”. Acontece o seguinte: a minha ancestralidade sempre foi muito feliz, sempre fez festa, sim; sempre vivia em paz. Aí foram lá pegaram e trouxeram para escravizar, o problema não é meu. Eu tenho que manter sim esse perfil de nós estarmos alegres, porque nós somos capazes. Eu tenho que ter esse perfil, o mandato tem que ter esse perfil, porque nós somos pessoas que fazemos parte da história deste País.

Portanto, obrigada a todas as homenageadas, obrigada a todos que vieram aqui. Quero agradecer a Mesa, porque eu sempre quebro o protocolo – é uma coisa da minha marca, a gente tem que quebrar o protocolo para a gente ser real. Se eu mudar, eu vou ser falsa e eu não quero ser falsa. Quero ser uma pessoa reta, ou seja, papo reto, mas principalmente com muita dignidade. Muito obrigada.

Vamos ao protocolo. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, e esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, minhas senhoras e senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa, deputado Cauê Macris, atendendo a uma solicitação desta deputada, com a finalidade de entregar a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

Convido a todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Anunciamos neste instante as seguintes presenças: Fátima Cristina Bonassa Bucker, representando a Associação dos Advogados de São Paulo; Janete Silveira, membro do Conselho do Desenvolvimento Negro e da Saúde de Jaú; a ilustre Professora Vânia Soares, coordenadora do Fórum Inter-Religioso da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo; a Sra. Neide Biscuola, representante da APCD – Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas; o Sr. Belfari Garcia Guiral, secretário executivo do Conselho Estadual de Saúde de São Paulo; a Ilma. Dra. Carmen Dora de Freitas Ferreira, conselheira da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo; o Sr. Moacir Gonçalves, do PCdoB de Capela do Socorro; Dr. Akintolá do Rosário, Ilmo. procurador do município de São Paulo.

Com a palavra novamente, a nobre deputada Leci Brandão, proponente desta sessão solene.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Medalha Theodosina Ribeiro 2019, Edição de Lélia Gonzalez. “Estamos cansados de saber que nem na escola nem nos livros, onde mandam a gente estudar, não se fala da efetiva contribuição das classes populares, da mulher, do negro, do índio na nossa formação histórica e cultural. Na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles. E o que é que fica? A impressão de que só homens, os homens brancos, social e economicamente privilegiados, foram os únicos a construir este País”. Esse é um trecho de entrevista com Lélia Gonzalez publicada em 1982.

Grande intelectual, Lélia Gonzalez soube como poucos aliar a academia à militância, e sempre traçou com precisão o retrato da realidade da população negra e dos mais pobres. Sua luta e seu legado intelectual são referência para todas e todos que acreditam que é possível romper com ciclo de desigualdade que ainda vivemos neste País.

Dedicar esta edição a Lélia é uma forma de homenageá-la, mas também destacar a trajetória das 16 premiadas da edição de 2019 da Medalha Theodosina Ribeiro. Esta medalha tem por objetivo reconhecer o trabalho e as ações de mulheres que empoderam, impactam e influenciam decisivamente a vida das pessoas pertencentes a grupos vulneráveis desta sociedade. Ela recebeu o nome da primeira mulher negra eleita deputada estadual em São Paulo, Dra. Theodosina Ribeiro. (Palmas.)

Nossa existência tem sido marcada pela resistência. Ocupar todos os espaços é uma das formas de resistir. Por isso, nesta 7ª edição homenageamos a filósofa Djamila Ribeiro, pelo papel importante que tem tido como intelectual, ativista e feminista negra, e por contribuir para que pensemos nossa história e nossos saberes a partir de nossas próprias referências.

Nossa história é repleta de exemplos de gente que insiste e resiste como Sheila Ventura, incansável na defesa dos direitos das pessoas com anemia falciforme, doença negligenciada que atinge principalmente a população negra. E a médica Margarida Barreto, uma guerreira contra o assédio moral no mundo do trabalho.

Precisamos celebrar mulheres que emprestam a sua música e sua poesia para que ecoemos nossas vozes, como é o caso de Rayane Leão, Eliana de Lima, Bia Ferreira e Beth Beli.

Celebremos àquelas que de fato nos dão a mão quando estamos nas trincheiras de luta, como a ex-deputada e ativista do movimento social, Ana Martins; a presidenta da Facesp, Maura Augusta; a líder comunitária Maria Helena e a ativista do movimento LGBT, Neon Cunha.

Coloquemos em destaque iniciativas como a das irmãs Venâncio, fundadoras do Instituto Preta Pretinha, que, por meio da confecção de bonecas, combatem o racismo e valorizam a diversidade e a autoestima das crianças. Trabalho tão importante quanto o de educadoras como Marisa de Sá, que sabe da importância que a escola tem para o futuro das crianças e jovens.

Assim como esta medalha é uma forma de reconhecimento do trabalho de pessoas e organizações que lutam contra as desigualdades, é uma forma de homenagear aquelas que todos os dias são obrigadas a transformar luto em luta, como é o caso de dona Eva Benedita, que ainda chora pela perda do filho Dinho.

Finalmente, não podemos esquecer que nossa luta começou e continua nos terreiros como o Ilê Axé de Yansã, liderado por Doné Oyassy, e que nossa existência também está em pastorais afros, representadas por pessoas como dona Regina de Paula.

A todas elas nossas homenagens. E como dizia Lélia: “Axé Muntu”. “Axé Muntu” é uma expressão de saudação criada por Lélia misturando as línguas iorubá – “Axé” quer dizer poder, força e energia, tudo de bom – e em quimbundo – “Muntu” quer dizer “gente”. Muito obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Dedicar esta edição do Prêmio Theodosina Rosário Ribeiro a Lélia Gonzalez é uma forma de homenageá-la, e sobretudo de reconhecer a importância do seu legado, que até os tempos de hoje torna-se uma grande referência de luta para que possamos nos manter firme na resistência. Dedicar esta edição a Lélia é também uma forma de destacar a trajetória das 16 premiadas da Edição 2019 da Medalha Theodosina Ribeiro. Teremos neste instante uma exibição do vídeo, trecho do documentário de Lélia Gonzalez.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pelo Portal da Assembleia Legislativa e será transmitida pela TV Assembleia sábado, dia 16 de março, às 21 horas, pela NET canal 7, pela TV aberta canal 61.2 e pela TV Vivo Digital canal 9. Passo a palavra neste instante às autoridades presentes, iniciando com a fala do ilustre representante da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos.

 

O SR. JOSÉ CARLOS BONILHA - Bom dia a todas e a todos. Quero cumprimentar a todos os presentes, aos integrantes da Mesa, e o faço na pessoa da deputada Leci Brandão.

Quero dizer que o Ministério Público, por intermédio da Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital, sente-se muitíssimo honrado por compor esta Mesa, dentro de uma sessão solene que tem por finalidade prestar justa homenagem às mulheres que se destacaram no combate à existência e à manutenção de quaisquer tipos de preconceitos.

 Eu quero dizer desde logo que, nesta manhã de dificuldades em razão das fortes chuvas que abateram a cidade, todos nós tivemos grande prejuízo e dificuldade para chegarmos até aqui, mas, uma vez aqui, eu quero dizer que eu pessoalmente me sinto muitíssimo feliz, porque jamais imaginei que pudesse cantar ao lado da grande sambista, deputada Leci Brandão. Muito embora nós tenhamos cantado o Hino Nacional, eu tive a grande sorte de cantar ao lado de uma das maiores sambistas de todos os tempos do Brasil. Para mim, eu jamais imaginei que isso poderia acontecer na minha vida. Para mim é motivo de júbilo, de grande alegria.

Eu quero também dizer que infelizmente o nosso País tem uma longa história de preconceito e de discriminação. A última nação do mundo ocidental a acabar com o regime escravagista, depois do patrulhamento dos navios ingleses no oceano Atlântico, interceptando os navios negreiros que traziam pessoas do centro da África para ainda assim continuar prestando seus serviços laborais aos senhores de engenho, aos fazendeiros desta Nação. Passado algum tempo, começaram a surgir inquietações, e aí a pressão gerou a promulgação de leis, do Sexagenário, do Ventre Livre. E no final do século XIX, apenas, acabou-se com a escravidão, que foi uma das grandes e tristes páginas da história do Brasil.

Ainda hoje sentimos, percebemos e notamos sequelas dessa cultura, desse preconceito. A Constituição da República de 1988 tem a dignidade da pessoa humana e a cidadania como uns dos seus fundamentos, e se constitui como objetivo da República a promoção do bem-estar de todos, promovendo uma sociedade livre, justa e solidária, sem preconceitos e discriminações de qualquer espécie.

O trabalho das instituições, da cidadã e do cidadão continua forte. É muito difícil que encontremos hoje uma iniciativa como esta, razão pela qual mais uma vez eu quero homenagear a iniciativa da deputada Leci Brandão. Eu quero dizer que o Ministério Público tem se colocado à disposição da sociedade para, na medida das suas atribuições e competências, se irmanar a iniciativas como essas, e avançarmos um pouco em busca do achatamento das desigualdades e na promoção verdadeira do bem-estar de todos, dando concretude ao texto da Constituição.

Eu encerro aqui a minha modesta participação querendo dizer que a Promotoria de Justiça de Direitos Humanos da Capital está com as suas portas sempre abertas e disposta a se solidarizar com iniciativas que visem à promoção efetiva do bem-estar de todos, sem qualquer tipo de discriminação ou preconceito. Quero cumprimentar a todas as homenageadas e desejar bom trabalho e um bom dia a todos. Muito obrigado.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Com a palavra, a professora Elisa Lucas Rodrigues, da Secretaria de Direitos Humanos Municipal.

 

A SRA. ELISA LUCAS RODRIGUES - Primeiramente, eu quero agradecer o convite, sinto-me muito honrada por fazer parte desta solenidade tão importante – mês de março, mês da mulher, mês da luta contra a discriminação, enfim. Quero cumprimentar a deputada Leci Brandão, que é a nossa referência, nosso exemplo de vida e de batalha, juntamente com a querida deputada, minha conterrânea, Theodosina Ribeiro. Sinto-me muito honrada, fico muito feliz de estar ao seu lado, a gente já conversou inúmeras vezes.

E dizer que esse momento serve também como um momento de reflexão para os nossos trabalhos, para as iniciativas de combate à discriminação racial que, infelizmente, torna-se cada vez mais forte. Mas o importante é que as pessoas estão denunciando. São leis, são parcerias como a Defensoria, como o Ministério Público que fazem com que o nosso combate à discriminação seja cada vez maior, procure cada vez mais se aproximar da população, e que a população sinta essa confiança nos nossos trabalhos.

Eu quero colocar aqui a nossa Secretaria de Direitos Humanos do Município de São Paulo, especialmente a Coordenação de Igualdade Racial, à disposição de todos os senhores. Muitas pessoas aqui já nos conhecem, alguns já foram até procurar os nossos trabalhos na Secretaria, e dizer que há muito que fazer pela Cultura, pela questão da educação – nossa Lei 10.639 ainda não é efetiva em nosso País –, pela saúde da população negra, que a cada vez que a gente vê os números fica ainda muito entristecida. Enfim, por todas as ações que têm que ser feitas de combate à discriminação, racismo e para incluir a nossa população negra, especialmente as mulheres aqui homenageadas.

Eu conheço várias, sei da importância do trabalho, e, deputada Leci, é muito feliz lembrar principalmente das mulheres anônimas, que não ocupam cargos, que não estão à frente de nenhuma entidade, mas que com seu trabalho vão cada vez mais solidificando essa luta forte que é a luta contra o racismo.

Nosso muito obrigada, estamos à disposição lá na Secretaria de Direitos Humanos, e que cada vez mais este evento possa nos mostrar, trazer para a sociedade, esses exemplos de pessoas combativas e comprometidas com os nossos temas. Muito obrigada. 

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Com a palavra, o ilustre defensor público Rafael Pitanga Guedes, representando o defensor público-geral.

 

O SR. RAFAEL PITANGA GUEDES - Bom dia a todas e todos. Cumprimentar todos os presentes, cumprimentar a Mesa aqui na pessoa da deputada Leci Brandão e também na pessoa da deputada Theodosina, que dá o nome merecidamente a esta homenagem, este dia de hoje, em que há o reconhecimento a mulheres, entidades de mulheres que trabalharam e trabalham no combate ao racismo e na defesa dos direitos das mulheres.

É sempre uma honra estar aqui ao lado da deputada Leci, não só pela trajetória pessoal, pela trajetória artística e política que a senhora tem, mas pelos temas que a senhora traz aqui para a Casa do Povo. Já estivemos juntos discutindo o combate ao extermínio da juventude negra, defendendo a diversidade, combatendo a intolerância cultural e religiosa e também reverenciando o samba.

Aliás, falando em samba, a senhora trazendo aqui para Assembleia esses temas, a senhora falando de mulheres, de tamoios e bolados – como diz o samba –, a senhora escreve aqui a história que a História não conta, e é muito significativo em nome da Defensoria estar presente na data de hoje participando deste momento.

A instituição tem como o papel dar voz e vez aos necessitados, prestar orientação jurídica, fazer a defesa extrajudicial e judicial, inclusive nos Tribunais Superiores, nas Cortes Internacionais. Nesse sentido, a gente se coloca à disposição de todas as pessoas que estão aqui e que têm esse objetivo comum, para fazer parcerias, como a senhora falou, como a doutora também falou, fazer parcerias.

A Defensoria tem essa missão e jamais conseguirá realizar essa missão sozinha, nem é esse o propósito que a Constituição nos atribuiu. Internamente mesmo, estamos, creio, avançando, hoje com existência do Núcleo de Defesa da Mulher, com o Núcleo de Defesa da Diversidade, promoção da igualdade racial, com os cargos de defensoras que têm uma atuação voltada à defesa da mulher. E também na própria formação do corpo profissional, com um permanente aprimoramento da política de cotas da Defensoria Pública. Como diz a homenageada Bia Ferreira, cota não é esmola, é uma política pública e que deve ser aperfeiçoada a cada dia.

Para não me estender mais, eu gostaria aqui mais uma vez de parabenizar cada uma das homenageadas e me colocar à disposição. Como disse o nobre colega promotor de Justiça, a gente vive a dor de uma sociedade marcada pela desigualdade em relação às mulheres, que paga salários menores, que implica múltiplas jornadas de trabalho, que por vezes – pior ainda – oprime, violenta e mata mulheres – especialmente mulheres negras e pobres. Estamos completando esta semana um ano já da morte de Marielle, que continua presente, mas que não teve ainda uma elucidação do ocorrido. Mas essas mortes não calam e não devem mesmo calar.

Por outro lado, para além do lado da dor, estamos aqui na alegria de celebrar Theodosinas, de celebrar Lecis, que escrevem uma história frente ao preconceito e a essa desigualdade social flagrante. Que essa medalha, esse dia de hoje sirva para referenciar, para empoderar cada uma dessas Marias que, como diz mais uma vez a música: “É o som, é a cor, é o suor/ é a dose mais forte e lenta/ cada Maria que ri quando deve chorar/ e não vive, apenas aguenta”. Parabéns.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Passamos a palavra ao Sr. Wander Geraldo, do PCdoB.

 

O SR. WANDER GERALDO - Bom dia a todas e todos. Saudar aqui a deputada Leci Brandão pela 7ª Edição do Prêmio de Theodosina, a ela e toda a equipe que dá voz e vez às várias mulheres que lutam no dia a dia aqui na cidade e no estado de São Paulo. Saudar a presença da própria deputada Theodosina, que enaltece demais a sessão no dia de hoje com a sua presença, pelo que simboliza e pelo o que abriu os caminhos na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para uma primeira mulher negra ocupar esse espaço, vindo a ser só depois a Leci como a segunda em um Estado grande como o nosso, em um Estado com muitas mulheres, milhões e milhões de mulheres lutadoras, mulheres negras, mulheres do povo brasileiro, e a gente ter pouca representação aqui. Vocês abriram um caminho que a gente espera que cada vez mais seja ocupado por mulheres.

Eu também quero homenagear as que serão aqui homenageadas, lideranças políticas, mulheres que são lideranças religiosas, lideranças comunitárias, lideranças culturais que representam o que tem de melhor na sociedade paulista e paulistana, porque são as lutas dessas mulheres, e de várias mulheres e homens que estão neste Plenário, que garantem que o Sistema Único de Saúde resista às ofensivas das privatizações, do sucateamento. São as lutas dessas mulheres e desses homens que resistem para que a Educação pública não seja jogada na lata do lixo, como quer fazer o governo federal ao dizer que quer Escola Sem Partido, mas na verdade está querendo é ideologizar para as elites a Educação pública em nosso País, de forma correacionária e conservadora.

São milhares de mulheres e homens como vocês que aqui estão, e em especial as homenageadas, que resistem e lutam para que a gente tenha mais habitação e que a gente não veja notícias como a que gente viu essa noite e nesta manhã de que, antes de começar esta sessão, já foram computadas na Grande São Paulo sete mortes por conta de alagamento e desabamento de moradia, porque não existe investimento em moradia digna, para tirar principalmente quem vive em área de risco.

Se não fosse a luta desses homens e principalmente dessas mulheres que aqui serão homenageadas hoje, o Brasil já estaria na mão dos interesses do grande capital financeiro internacional, já teria privatizado todo o seu patrimônio e cada um de nós teria que sobreviver em situações muito piores do que sobrevivemos hoje.

E acho que o 8 de março, que aconteceu agora na sexta-feira, foi uma grande atividade: quase 100 mil mulheres na Avenida Paulista, onde a principal luta e a principal resistência é para não deixar privatizar a Previdência pública, que é ter o nosso direito à aposentadoria. Os governos, tanto federal quanto estadual – e por que não dizer o governo estadual –, querem privatizar, é isso o que eles querem. Obrigar a cada um de nós a poupar no banco privado para ter direito a minimamente uma aposentadoria, e, cá entre nós, numa onda de desemprego com esta, quem garante que nós vamos ter 40 anos de emprego e contribuição previdenciária? Isso não existe.

Então eu acho que esse contexto, essa atividade, ganha uma relevância muito maior, Leci, porque mostra que do lado de cá tem mandatos, tem lideranças políticas e sociais que resistem a toda essa ofensiva liberal que o nosso País vive. Nós, do PCdoB, temos um orgulho muito grande de ter a Leci como nossa deputada estadual, mas, acima de tudo, a amplitude do mandato que representa esses vários setores da sociedade.

 Viva a luta do nosso povo brasileiro, viva as mulheres e os segmentos aqui representados, e vamos em frente, porque é só com essa representatividade social que a gente vai resistir e enfrentar. Muito obrigado.

 

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E agora teremos a saudação da ilustre deputada Theodosina Ribeiro, que nos honra em nominar esta sessão solene de outorga da medalha.

 

A SRA. THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO - Nobre deputada Leci Brandão, membros da Mesa, quero cumprimentá-los e às mulheres que hoje receberão esta medalha. A sua visibilidade, deputada Leci Brandão, é que nós percebemos que já está havendo uma resposta da mulher negra em relação à sua responsabilidade, em que nós possamos realmente sermos mais respeitadas. Entretanto, podemos observar também que a culpa praticamente é muito grande em relação à nossa manifestação.

Vossa Excelência teve uma amplitude muito grande, e nós percebemos que foi respeitada nesta Casa quando aprovou, quando apresentou o nome de Theodosina Ribeiro, futuramente transformando em medalha para dar às mulheres que, cada uma daqui que estão presentes, têm feito um trabalho imenso em favor da coletividade, especialmente negra.

O nosso objetivo, deputada, na época que nós éramos candidatas a vereadora de São Paulo, da primeira negra deputada estadual, não podíamos avaliar que surgisse uma mulher lutadora e guerreira como a deputada Leci Brandão.

E essa atividade, nós percebemos que é uma sementinha que de ano em ano vai aumentando, vai nos conscientizando de que precisamos nos unir cada vez mais e sermos solidários, para que a nossa comunidade, principalmente a mulher, seja respeitada.

Um dos oradores citou em relação ao descaso que está existindo no mundo todo, e em São Paulo, onde a mulher, de um modo geral, está sendo violentada, está sendo agredida, está sendo assediada, e nós, que temos um outro comportamento, uma outra visão, temos que avaliar que realmente esse comportamento, se nós não tivermos uma luta como a sua, deputada Leci Brandão, praticamente podemos regredir.

Eu não vou me avançar mais, mas quero esclarecer a todos que eu estou muito emocionada. Três legislaturas, diariamente participando de uma maneira geral de todos os projetos que eram apresentados durante esse período. Então estou sensibilizada. Jamais poderia pensar que voltaria a esta Casa nessas condições, mas eu novamente fico emocionada em cumprimentá-la, mas observando a sua vitalidade, não só na parte política, como na parte social, e um exemplo para continuar lutando dos dois lados. Para mostrar que, se quisermos, cada uma das presentes, e os homens também, fazer com que essa discriminação cada vez mais diminua.

E peço, aqui estão os pais. Há duas espécies de educação: a educação do lar e a educação escolar. Está havendo uma confusão, onde nós observamos que muitos pais agridem o professor, por falta de conhecimento da importância da educação. Juntando a educação do lar e a educação política, nós observamos que cada vez poderíamos vencer.

Muito obrigada por todos aqui presentes, aos da Mesa, aos convidados e também às mulheres, que receberão a nossa mensagem. Muito obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Agradecemos as preciosas palavras da ilustre deputada Theodosina Ribeiro, e nesse exato instante a deputada Leci Brandão fará a abertura formal das homenagens do dia de hoje.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Neste momento queremos homenagear mulheres que se destacaram na sociedade em razão da sua contribuição para o enfrentamento da discriminação racial e na defesa dos direitos das mulheres no estado de São Paulo.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Quebrado o protocolo, com anuência da ilustre deputada, esse arremedo de Cerimonial aqui presente pede licença ou pede a devida vênia para apresentar o grupo, ou melhor, a constelação de estrelas de mulheres magníficas que serão homenageadas nesta 7ª sessão solene do Prêmio Theodosina Ribeiro. Então, eu peço licença para ler as biografias e para ver se as senhoras e senhores poderão identificar quem serão as nossas homenageadas. Então vamos à primeira.

Essa mulher é mestre em filosofia política, é conferencista e tem realizado um trabalho magnífico no sentido de reafirmar a presença da mulher negra nos mais diferentes espaços, e também no sentido de reafirmar e valorizar a importância do feminismo negro. Ao longo de sua trajetória, ela realizou palestras em diversos países e instituições, como a sede da ONU, em 2016; na Beauvoir Society, em 2011; em 2014 na Universidade do Oregon, em Saint Louis, nos Estados Unidos e em Harvard, em 2017. Nós estamos falando aqui dessa filósofa e feminista que neste dia receberá a Comenda e a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro. Estamos falando de quem, gente? De Djamila Ribeiro. Vem representando Djamila a Isis Carolina Vergílio para receber a Medalha das mãos da deputada Leci Brandão.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. ISIS CAROLINA VERGÍLIO - Bom dia a todos, a todas e “todxs”. Hoje, infelizmente, Djamila não pôde comparecer, porque ela está participando de uma conferência na França. Eu vim representá-la, sinto-me muito honrada em participar deste momento, inclusive muito honrada em estar na presença da deputada Leci, da deputada Theodosina, porque foram palavras que me emocionaram profundamente.

A coleção Feminismos Plurais pensa na coletividade. A gente trabalha incansavelmente para que a gente consiga expandir, tornar mais acessível o acesso de todas as pessoas à literatura. E é isso.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Bem, dando continuidade a esse time de mulheres maravilhosas, neste momento eu vou chamar para receber a homenagem das mãos da deputada Leci Brandão uma dupla de mulheres que realmente fazem a diferença. Elas vêm, ao longo do tempo, através do instituto que lideram, quebrando paradigmas, trabalhando a questão da imagem e da valorização de negras e negros.

Elas montaram seu próprio negócio, essas duas irmãs. O negócio é especializado na confecção de bonecas com todas as caras, jeitos, estilos e cores. Então, há 18 anos nascia na Vila Madalena, no coração da Vila Madalena, o Ateliê Preta Pretinha, que se notabilizava pela ancestralidade e memória familiar gerada nas irmãs por sua avó Maria Francisca, que confeccionou as primeiras bonecas negras para as ainda meninas em um ato amoroso de construção.

A Preta Pretinha produz bonecas artesanais negras, orientais, indígenas, muçulmanas, cadeirantes, com o objetivo de valorizar e dar visibilidade à diversidade humana a partir de suas criações, sendo que, em 2009, as duas irmãs criaram o Instituto Preta Pretinha. Então compareçam para receber a premiação das mãos da deputada Leci Brandão, as duas irmãs Joyce e Cristina, do Instituto Preta Pretinha.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. JOYCE VENÂNCIO - Bom dia a todos. Nossa, superfeliz por estar sendo homenageada em vida. Faltou mais uma guerreira, a Cristina, que é a nossa designer. Nós iniciamos com as bonecas negras, hoje trabalhamos com a diversidade do Brasil e do mundo. Desenvolvemos bonecos com deficiência física e os diversos, boneca obesa, anoréxica. Esses bonecos contribuem para a educação e para o respeito a todos.

E eu quero agradecer a Leci pelo convite e também quero pontuar que ela até deu uma oportunidade trazendo a cultura, trazendo pessoas do Ministério da Cultura para desenvolver projetos para Pontos de Cultura. Nós conseguimos e já fomos homenageadas também, premiadas em primeiro lugar. Então iniciativas como essas, por tudo que ela faz, só temos a agradecer. E também a Theodosina, deputada que é incrível, uma referência para nós ímpar. E também ofereço a todas as mulheres e a minha avó querida, Francisca, que nos deu tanta autonomia. E não vai parar por aí: Instituto Preta Pretinha, Ateliê Preta Pretinha, Ponto de Cultura Preta Pretinha. Obrigada.

 

A SRA. LÚCIA VENÂNCIO - Obrigada a todos, sou a Lúcia Venâncio, sócia e irmã da Joyce. A Joyce sempre é a que fala e ela já falou tudo. Eu só tenho que agradecer. Obrigada a todas vocês, mulheres homenageadas, em especial um carinho para a Dra. Theodosina. Obrigada, Leci.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Bem, agora, dando continuidade, nós vamos a nossa homenageada de número… Vamos ver se vocês adivinham quem é. Essa mulher criou um bloco de percussionistas mulheres que, quando essas mulheres tocam, tiram nossa alma do lugar. Essa mulher é graduada em Ciências Sociais, é arte-educadora na Instituição Arte Despertar, é percussionista e, sobretudo, ela é a mulher fundadora do Bloco Afro Ilú Obá de Min. De quem eu estou falando? De Beth Beli. Vem cá, Beth Beli.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. BETH BELI - Bom dia a todas. Quero agradecer esta medalha. É tão importante também ter a Dra. Theodosina e a Leci Brandão como pessoas referentes para nós. Eu gosto muito também de quando a gente sempre é celebrada viva, porque, tudo bem, a gente vai deixar um legado – eu pretendo deixar um grande legado com o Ilú Obá. Mas é importante que a gente esteja viva aqui, agora, neste momento. Bom, quem não conhece o Ilú Obá, “Ilú” é tambor, “Obá” é Xangô e “de Min” é mãos – mãos femininas que tocam tambor para Xangô.

Nós começamos com 30 mulheres, hoje somos 450 mulheres tocando, só. Esse ano foi muito importante porque o tema foi esse: “Negras vozes – tempo de Alakan”. Alakan é uma palavra em iorubá, significa “alianças”, porque eu não gosto nem da palavra aliança no sentido da aliança de casar, porque isso não garante nada. O que vai garantir é o amor, é a vivência. E aliança, depende com quem você faz aliança. Cuidado com quem faz aliança.

Mas a ideia foi reunir o Movimento Negro e recontar, e ler novamente a carta que foi lida em 1988 em um bloco como iorubá. Nós fizemos novamente essa cena, isso aconteceu. Ainda convidamos a Conceição Evaristo para estar, e que não foi muito fácil subir a escada do Teatro Municipal, que tem toda uma autorização. Mas a gente não estava nem pensando nisso, a gente falou: “Bom, vai acontecer. Nós vamos fazer isso”, e foi muito incrível trazer essas pessoas todas e fazer um reencontro de muitas pessoas do movimento que há muito tempo não se encontravam, porque uns foram para a academia, outras não estão mais morando em São Paulo. Então eu consegui fazer esse reencontro e foi muito importante e histórico. E é isso, a gente trabalha para Xangô “Ubenicê Kaô Kabecilê”. Muito obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E dando prosseguimento, a nossa quarta homenageada da manhã de hoje – só tem estrelas, só têm mulheres, assim, só excelências.

E a mulher que nós vamos homenagear agora, ela, dentre os seus principais feitos, ela participou da construção de uma das escolas de samba – da União das Vilas de São Miguel Paulista –, onde foi responsável pela confecção de fantasias e alegorias. E mais do que isso, essa mulher tem sido uma grande referência no movimento de moradia na zona norte aqui de São Paulo e da cultura periférica pelas escolas de samba. Ela também exerceu um papel de importante assessoria política, no papel de liderança e foi assessora parlamentar. Nós estamos falando desta mulher negra, desta mulher que tem sido resistência. Nós estamos falando aqui de Maria Helena Candida de Moura. Vamos lá, dona Maria Helena, esta liderança comunitária.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. MARIA HELENA CANDIDA DE MOURA - Boa tarde. Eu sou a Maria Helena, sou líder comunitária da zona norte, da zona leste – onde tiver problema eu vou, entendeu? Não tem esse negócio. Então eu agradeço, a Theodosina Ribeiro foi minha diretora no Vila Souza, eu tinha nove anos de idade. Então eu conheço a pessoa, amo eles de coração. Tudo que precisar de mim, se estiver ao meu alcance, pode correr atrás.

Obrigada, agradeço a Theodosina Ribeiro, minha ex-diretora, a Leci Brandão, que é minha amiga, não é, Leci? E a todas as pessoas do nosso movimento. Obrigada. Tchau!

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E agora nós vamos falar da nossa – já perdi a conta –, da nossa quinta homenageada. E a nossa quinta homenageada, para mim, deste lugar, enquanto pessoa que trabalha no sistema de Justiça, tem sido uma grande referência para dar visibilidade a uma das graves violências que afetam trabalhadores e trabalhadoras no mundo do trabalho, que é o assédio moral. Nós estamos falando dessa médica que teve por especialidade a ginecologia, mas de repente mudou os seus rumos e acabou dando visibilidade a essa grave violência que acomete trabalhadoras e trabalhadores, que é o assédio moral. Eu estou falando da nossa querida mestra Margarida Barreto

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. MARGARIDA BARRETO - Bom dia a todos e todas. Eu queria dizer à deputada Leci e à Theodosina, duas queridas, que eu me sinto honrada, que me sinto agradecida, muito agradecida, e que hoje o que eu digo para vocês, não sei se acontece ou se aconteceu com alguma de vocês, mas eu me sinto totalmente inebriada como se tivesse tomado uma overdose de luta, de resistência.

Eu acho que a deputada disse uma coisa que a gente não pode esquecer jamais: transformar o luto em luta sempre. Resistir. A gente só consegue mudar uma realidade que nos afeta – e afeta não só aquele que está próximo a nós, mas a todos de uma sociedade de desiguais –, quando a gente luta, quando a gente participa, quando a gente enfrenta.

E não vou contar a minha história para vocês, porque não tem cabimento, mas a minha luta. Eu trabalhava em Campo Limpo, naquela região todinha de M'Boi Mirim, até que um dia aconteceu na minha vida a morte de uma filha. E eu não tinha mais condições de ir para a periferia, voltar à periferia, um local que minha filha, apesar de pequena, frequentava tanto. Tinha um grupo já de crianças, digamos assim, de luta naquele momento. E eu fui fazer outras coisas e, dentro dessas outras coisas, enfrentar a dor do luto.

Comecei a fazer vários cursos e terminei indo para um Sindicato de Trabalhadores, nos quais comecei a ouvir histórias terríveis de sofrimento, de humilhações dentro do ambiente de trabalho. Isso era tão forte que não só o adoecimento, não só a morte, inclusive suicídio em consequência à humilhação no trabalho. Até que um dia um homem trabalhador me disse: “Doutora, eu vivo uma jornada de humilhações”, e esse homem terminou me dando o tema que eu hoje 20 anos estudo e luto na prática, não só estudar teoricamente, que é o assédio moral. Esse tema cresceu tanto no Brasil e na América Latina que nós teremos agora em agosto o V Congresso Latino-americano de Combate ao Assédio Moral no Trabalho.

Então eu agradeço a deputada Leci, companheira e amiga, a Theodosina, por estar dando essa oportunidade de dar visibilidade. Mais um espaço no combate à violência no mundo do trabalho. Obrigada, deputada. Obrigada a vocês.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Bem, a nossa sexta homenageada, com sua voz potente, fez uma grande diferença ao transpor barreiras rumo a uma vitória que já se acreditava quando ela pisou pela primeira vez na quadra da Escola de Samba Cabeções de Vila Prudente. Ela, em 1979, apesar de levantar todos os ensaios, aplaudida pelos componentes, sua condição de mulher despertou grande preconceito e não a deixaram defender o samba na avenida. Mas como essa mulher gosta de desafios, e muitos desafios, e de vencer os desafios com sua voz conhecida e forte, ela começou a se tornar famosa em todo o Brasil no desfile de 1980, quando defendeu o samba-enredo “Cultura, divindade e tradição de um povo”, com as cores da Escola de Samba do Príncipe Negro.

Dali para a presença nos LPs, nos sambas, o samba-enredo, onde aconteceu a primeira vitória contra o preconceito, ela foi puxando o samba-enredo na avenida e ainda levando para o disco. Passou por várias escolas de samba, pelas quadras da Mocidade Alegre, Peruche, Imperador do Ipiranga, Acadêmicos do Tucuruvi, Nenê de Vila Matilde, Leandro de Itaquera. Eu acho que não preciso dizer mais nada.

Vem aqui, Eliana de Lima, essa voz maravilhosa, que levantou, enquanto mulher, contra o preconceito.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. ELIANA DE LIMA - Bom dia, gente. Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus, que sempre esteve comigo nesses 37 anos de carreira. Tenho 56 anos de vida e até aqui Deus vem cuidando de mim e da minha família, porque estar aqui no Brasil, não é Leci, não é fácil.

Eu estou muito feliz de estar aqui hoje, feliz pela iniciativa da nossa querida cantora, sambista, compositora, musicista, Leci Brandão, e deputada. Iniciativa linda de homenagear a nós mulheres, dando a medalha – estou nervosa –, em homenagem a Dona Theodosina, maravilhosa, uma mulher guerreira, uma mulher que lutou e está aqui presente hoje. Não tem momento mais lindo do que este.

Então isso vai ficar para história de nós mulheres lutadoras, que estamos batalhando, nós mulheres que cuidamos da casa, cuidamos de filhos, do marido, da carreira, estamos sempre lutando. E hoje eu me sinto feliz, toda luta que eu tive, todos os preconceitos que eu sofri – porque eu comecei no samba com 18 anos de idade e naquela época eu não podia nem pedir uma carona para ir embora para casa, porque tinha a palavra “assédio”.

Então hoje, vindo para cá, eu lembrei muita vezes que seis horas da manhã eu estava na Praça do Correio pegando o ônibus para ir embora para casa, para não ter que pedir carona para ninguém. Mas valeu a minha luta. Neste Carnaval, vimos aí duas mulheres também puxando sambas-enredos pelas escolas de samba, então valeu a minha luta, não é, Leci? Eu agradeço a todos vocês por esta homenagem. A minha luta valeu, e eu espero que apareçam mais e mais mulheres na minha área, que é puxadora de samba. Obrigada, gente.

 

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Bem, vamos prosseguindo com o nosso time dos sonhos, essas mulheres maravilhosas. Nunca vi tanta mulher maravilhosa reunida para fazer a diferença como essas mulheres aqui. E eu vou falar de uma mulher que veio de Minas para São Paulo para fazer a diferença, que começou a trabalhar na indústria aos 14 anos e que se formou em Ciências Biológicas pela Universidade São Camilo e pós-graduou-se em Educação e Saúde Pública pela Universidade de Ribeirão Preto.

É funcionária pública há mais de 20 anos, mas ainda assim ela não deixou de realizar uma luta intensa para garantir a moradia digna, sobretudo às mulheres. Eu estou falando dessa mulher que sempre lutou por moradia digna e qualidade de vida para a população dos bairros periféricos de São Paulo. Ela é presidenta da Facesp, da Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo, e diretora nacional da Conam, Confederação Nacional das Associações de Moradores. Eu estou falando da magnífica Maura Augusta Soares de Oliveira.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. MAURA AUGUSTA SOARES DE OLIVEIRA - Bom dia a todas e todos. Eu estou nervosa também, óbvio. Para mim é um motivo de orgulho muito grande estar aqui hoje ao lado de pessoas tão importantes como a Dra. Theodosina, que precisou a deputada Leci Brandão nesta Casa para nos contar a história dessa mulher e de tantas outras mulheres, como a Lélia. Se não tivéssemos a deputada Leci Brandão nós não conheceríamos a história, como disse o carnaval da Mangueira: a história que o povo não contou, a história que não é contada. Então essa história nos foi apresentada através da deputada.

Eu quero aqui falar também, a Dra. Margarida falou do assédio, eu estou talvez nervosa porque eu sou uma vítima do assédio moral institucional. Eu sou uma vítima do racismo como funcionária pública, trabalhadora do sistema penitenciário, onde o machismo é muito presente, onde a mulher negra é muito discriminada. Dentro do sistema, como trabalhadora, ela é tratada como se ela fosse uma criminosa.

Talvez seja o sistema que mais reproduz o que foi o Brasil no período da escravidão. Lá a gente sabe o que é trabalhar, o que é ser preso ou presa no sistema prisional do estado de São Paulo. E como vítima eu vou lutar muito mais. Eu não posso só me vitimar, eu tenho que continuar a minha luta.

Mas eu quero falar um pouco de uma questão que me é muito cara: eu sou também – a Facesp representa várias associações de moradores e diversas lutas, mas uma, em especial, eu preciso falar aqui, Leci, minha deputada, que é a Associação Projeto Gerações, que teve a ousadia de apresentar o balé clássico para as meninas negras, meninas e meninos.

Quando nós víamos no meu bairro, onde eu moro há muitos anos, onde meu pai e minha mãe foram líderes comunitários, e um dia reunindo crianças, pais, mães em uma praça pública para perguntar o que precisava no bairro para pararem de matar os nossos jovens negros, muitas meninas diziam: “Eu queria usar aquela roupinha rosa. Por que eu não faço balé? Por que só meninas brancas da escola vizinha?” Que era uma escola próxima de nós. Várias meninas usavam a roupa rosa e as meninas negras, não só negras, mas outras também pobres – mas a maioria negra – diziam: “Por que eu não posso usar aquela meia rosa, aquele sapatinho rosa?

E aí nós falamos: “Espera aí. Então nós vamos mudar essa realidade. Vamos montar uma instituição que tenha capilaridade para apresentar o balé clássico e todas as outras culturas para que as crianças possam decidir: ‘Qual é a que eu gosto mais?’”

Em um determinado momento nós tínhamos balé clássico, dança afro, dança do ventre, samba-rock. E um dia, durante uma aula de dança afro, alguns moradores disseram: “Vocês estão fazendo macumba, isso não pode acontecer aqui”. E nós fomos obrigadas a tirar o curso de dança afro, mas as demais atividades continuam até hoje graças à professora Malzira Viana, que está ali atrás prestigiando esse momento.

Eu quero dizer, Malzira, que isso é resistência. É não pararmos jamais de pegarmos pela mão crianças, meninos e meninas, negros e negras, e dizer: “Você pode, você tem direito, você deve fazer tudo aquilo que é bom”. Porque a cultura é que ajuda na educação.

Então nós estamos aqui para isso, para ajudar no que é possível. Mas nunca desista do que você quer ser na vida. Muito obrigada a deputada Leci Brandão, obrigada a deputada Theodosina. Obrigada a todos desta Mesa maravilhosa.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E agora eu vou falar dessa mulher que é luz, luz por onde passa, força. Ela é quase uma entidade, de tanta força que ela tem. Ela é ativista, publicitária, funcionária da Prefeitura de São Bernardo do Campo e colaboradora como assistente da marca e Isaac Silva. E, sobretudo, ela tem atuado na garantia da defesa da dignidade das pessoas, em especial as pessoas transgêneras.

Ela conquistou junto à Justiça brasileira o reconhecimento do seu gênero e alteração de prenome, recusando-se a passar pelo processo patologizador e afirmando o direito à dignidade do autorreconhecimento. Por meio do Geledés - Instituto da Mulher Negra, ela denunciou, junto à Organização dos Estados Americanos, os crimes de ódio contra a população transgênera do Brasil e foi a primeira pessoa transgênera a se pronunciar presencialmente nessa organização. Eu estou falando da magnífica e poderosa Neon Cunha.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. NEON CUNHA - Bom dia. Eu acho que não é só sobre mim, é sobre nós e sobre uma trajetória de mulheres abjetas e inexistentes em uma sociedade que, além do machismo, promoveu o cissexismo, essa ideia de que os gêneros das pessoas cis são uma verdade fazendo oposição à transgeneridade. Apagamento histórico no Brasil é perverso se a gente pensar desde as origens de matriz africana e que entidades sem gênero existiam. Xica Manicongo, a primeira mulher transgênero, talvez a primeira travesti não indígena do Brasil, é datada de 1591,  perseguida pela Santa Inquisição.

Pensar no Brasil da hegemonia do clareamento, mas, mais que isso, quando eu estava sentada ali, eu fiquei pensando no que me trouxe aqui. Eu sou filha da faxineira, me lembro de buscar minha mãe na casa de suas patroas, limpando rodapé, grávida de nove meses, com uma escova de dente. É impossível que eu não pudesse enxergar longe, mas também me lembro do convívio com mulheres encarceradas em presídios femininos e, acima de tudo, de mulheres inexistentes em presídios masculinos. Lembro-me das mães que têm seus filhos executados pelo Estado genocida. Lembro da cor dos homens encarcerados.

Pensar que a luta antimanicomial vai ter que dialogar com a luta abolicionista penal. Quem é encarcerada? Quem é que é condenada ao sistema de ficar entorpecida, vivendo nas ruas? Porque a gente também não pode esquecer as exceções das exceções.

Quando eu abri meu processo, eu pensei muito de como seria a luta com o Estado e eu pedi morte assistida se me negassem o direito. O corpo da mulher negra, seja ela cis ou trans, é sempre violado, de uma maneira ou de outra. Entre ter o meu corpo violado e ter a garantia de uma morte digna, eu opto pela morte digna, até porque só enfrenta a morte com competência todas nós pretas que conhecemos o beijo da morte. Em algum momento nos é negada a vida.

E, parafraseando Sueli Carneiro, a grande mestra Sueli Carneiro: “Nós não queremos lugar só de mulheridade. Nós queremos lugar de humanidade”.  E esse processo de 2019 é uma nova jornada nesta Casa. Duas mulheres foram eleitas: Erica Malunguinho e Erika Hilton. Nunca mais será a mesma coisa. Estamos juntas.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Uau! Demais, não é, gente? O que vocês estão achando? Muito bom? Querem mais? Tem mais, tem muito mais. Então vamos lá, gente. A nossa homenageada é coordenadora de Comunicação do Grupo Nacional de Gênero com Doença Falciforme entre 2010 e 2014. Ela tem desenvolvido uma luta intensa para garantir aos portadores da doença falciforme o direito à dignidade.

Atualmente, ela é coordenadora da APROFe - Associação Pró-Falcêmicos, é coordenadora do Fórum dos Portadores de Patologias do Estado de São Paulo e conselheira do Conselho Estadual de Saúde deste estado, representando o Fórum de Portadores de Patologias de São Paulo.

Eu estou falando da assistente social de formação que tem dedicado a sua vida a visibilizar a luta pela doença falciforme. Eu estou falando de Sheila Ventura Pereira.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. SHEILA VENTURA PEREIRA - Bom, eu estou até tremendo, depois da apresentação de grandes mulheres. Primeiro, muito obrigada, porque a nossa luta é tão intensa, é tão sofrida. A gente transforma, dia a dia, luto em luta, e estar aqui com essas mulheres, Leci Brandão, Theodosina, Dra. Elisa Lucas, Dra. Dora. Eu falo que tem um filme que fala “Estrela além do tempo”. Eu vivo no meio dessas estrelas e aprendo muito, porque, antes de ser uma pessoa com doença falciforme, sou uma mulher negra, trabalhadora, mãe. E, muitas vezes, quando você vive com a patologia, seja ela qual for, a minha bandeira é a doença falciforme e outras doenças degenerativas crônicas, mas muitas vezes esquecem que nós somos, atrás desse título da patologia, nós somos mulheres. Sofremos preconceito por ser negra, por termos limitações dia a dia.

Cada dia matamos um leão para mostrar que temos empoderamento, temos força, somos capazes, independente da minha limitação. E obrigada, Leci. Quando a gente se conheceu, para mim foi um momento muito emocionante. Posso contar rapidamente? Nós fizemos ano passado o aniversário de 20 anos da APROFe, e eu muito queria homenagear a Leci no nosso evento.

Por muitas agendas ela não pôde comparecer na Câmara Municipal e, um dia antes, eu recebi um telefonema que eu iria compor uma Mesa em Rio Grande da Serra com a Leci Brandão. Então foi onde eu tive a oportunidade de conhecê-la e para mim sempre foi um exemplo, porque a gente, com toda essa luta, desacredita na política. Mas são exemplos como a Leci, como a deputada Theodosina que a gente tem que acreditar, sim, e que dá para fazer mudanças com honestidade, com transparência, com equidade e igualdade, mostrando aqui os invisíveis, como os representantes aqui de moradia, que nunca tiveram voz, mas um trabalho intenso na sua base.

E é o que eu falo sempre dentro dos conselhos: nós temos que sair das nossas caixinhas, nós temos que dar valor àquelas pessoas que não têm título, não têm faculdade, mas são guerreiras, são mestres, são professoras, são mães e que não desistem da luta nunca. Muito obrigada.

 E eu ofereço a todas as minhas irmãs de foice, são as mulheres com doença falciforme e com outras doenças crônicas, e a todas vocês mulheres negras, que dia a dia estão mostrando para que vieram, e nós podemos. Juntas somos mais fortes, juntas somos melhores. Muito obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Bem, sensacional, não é, gente? Continuando, a nossa homenageada de agora é uma mulher que tem uma luta magnífica na Educação. Ela é uma mulher das exatas, mas sempre lutou através da Educação pela igualdade entre homens e mulheres.

Teve uma carreira no Parlamento, na Câmara Municipal de Guarulhos como vereadora, tendo apresentado diversos projetos de lei, tendo mais de 21 leis aprovadas. E como educadora a nossa homenageada continua sua luta em defesa de uma Educação inclusiva e de qualidade para todas e todos, tendo como foco a luta por justiça social e igualdade de direitos entre homens e mulheres. Eu estou falando de quem? Eu estou falando de Marisa de Sá.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

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A SRA. MARISA DE SÁ - Bom dia a todos e a todas. É com muita satisfação que eu estou aqui. Eu quero agradecer a Leci, a Theodosina, saudar todas as pessoas da Mesa, todos os presentes. Estou muito orgulhosa de estar aqui com essas valorosas mulheres e quero dedicar esta homenagem a todas as professoras, a todas as educadoras. Eu sou professora há mais de 20 anos, sou diretora de uma escola estadual no bairro dos Pimentas 7, e fui vereadora de Guarulhos por dois mandatos, onde a gente pôde implantar na Câmara Municipal a Procuradoria da Mulher.

Fizemos muitas lutas, estamos fazendo e nós queremos continuar a nossa trajetória sem mordaça, livres para uma Educação justa e igualitária, humana. E que a gente possa defender as nossas ideias nas nossas escolas, possa conversar com todas as pessoas, que possamos ser mulheres livres e felizes.

Os nossos alunos lá do Pimentas 7, esse ano foram fazer uma reportagem, porque diversos alunos passaram pelo ProUni e alguns alunos e alunas acessaram às universidades públicas. Uma coisa que me tocou muito foi que no ano passado, na Escola Estadual Pimentas 7, a gente fez a Semana da Consciência Negra. E o que me tocou muito foi ver meninas e meninos falando que o que eles aprenderam naquela escola foi se empoderar, foi acreditar que eles são capazes e que eles podem, sendo moradores do Pimentas, em Guarulhos, sendo negros e negras, sendo jovens, podem acessar a universidade.

Então isso, essas palavras, esse trabalho que a gente faz é o que move a nossa força, a nossa coragem, a nossa luta e a nossa vontade de continuar, por toda essa juventude, por todos, nossas meninas e meninos, e por todas as mulheres. Viva a nossa liberdade e vamos continuar essa luta. Nós somos a resistência.

Muito obrigada, Leci, e parabéns a todas por esse maravilhoso evento. Estou muito feliz por poder estar aqui com vocês. Foi difícil chegar aqui porque o trânsito estava terrível, mas só tenho a agradecer. Professora Marisa de Sá, um abraço no coração de todos vocês. Muito obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - A nossa próxima homenageada é mulher preta, lésbica, professora e poeta cuiabana que vive em São Paulo e publica seus escritos na página “Onde Jazz Meu Coração”. Recita seus poemas nos saraus e slams da cidade. O seu trabalho é pautado na resistência das mulheres negras e focado na luta e no fortalecimento pela arte e pela educação. “Tudo nela brilha e queima” é seu primeiro livro, lançado pela Editora Planeta em outubro de 2017. E, além disso, ela é fundadora da OdaraEnglish School for Black Girls, que, com três anos de atuação na cidade de São Paulo, é uma escola de inglês focada no ensino de inglês afrocentrado para mulheres negras. De quem estou falando? Desta mulher que na realidade é uma fera. Eu estou falando de Ryane Leão. Venha, Ryane!

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. RYANE LEÃO - Bom dia a todos e todas. Também estou supernervosa, nem vou segurar o microfone para não ficar tremendo. Primeiro queria agradecer a Leci, deputada Theodosina, Dra. Elisa e parabenizar todas as homenageadas. Eu sou professora, educadora de uma escola chamada Odara, que é uma escola de inglês afrocentrado só para mulheres negras, hoje em dia com cerca de 200 alunas.

Comecei dando aula na sala da minha casa, hoje eu tenho uma sala na República. Tem uma aluna minha aqui que é uma aluna muito querida, fico muito feliz com a sua presença aqui, sabe que lá a gente fala de acolhimento. E algumas semanas atrás eu fui no terreiro e uma entidade muito querida me disse que estava muito feliz com a minha trajetória.

Eu sei que Iansã está feliz porque foi ela que escolheu esse nome em sonho. Eu sei que Iansã está feliz porque minhas alunas sempre me dão um feedback de alunas que estão ingressando na universidade, ingressando no mestrado, de alunas que têm a autoestima recuperada. A gente sabe bem disso. Eu sempre lembro de uma aluna minha que chegou com o black power dela na escola e falou assim no meu ouvido: “Professora, é a primeira vez que eu uso meu cabelo assim porque aqui foi a primeira vez que eu me senti bonita”. Esse tipo de história vive chegando e é muito lindo.

Então eu tenho certeza que Iansã está muito feliz mesmo. E eu acho que é isso, não vou me alongar muito. Eu espero que a gente continue partilhando nossos acessos e mantendo a terra fértil para as que virão. Muito obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Vocês estão sem palavras, não é? Imagine eu aqui deste lugar falando dessas mulheres que fazem toda diferença e são, como diria Neon Cunha, lacradoras. E eu vou falar de mais uma agora. Eu vou falar de uma mulher maravilhosa que nasceu em Ribeirão Preto e que veio para São Paulo. E aqui essa mulher, que sempre teve pensamentos à frente do seu tempo, se dedicou a jovens e crianças.

Ela, enquanto religiosa devota de Nossa Senhora Aparecida e de São Benedito, tem atuado e feito muita diferença na Pastoral Afro da Nossa Senhora Achiropita desde 1996, onde realiza trabalho junto à comunidade. Eu estou falando da Sra. Regina de Paula Thomaz. Vem, Sra. Regina, receber a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro da deputada Leci Brandão.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. REGINA DE PAULA THOMAZ - Eu sou Regina, faço parte da Pastoral da Achiropita, à qual fui convidada para participar com a minha filha pelas minhas primas Ione e Geni, já falecidas. Estou muito contente com a parte que eu faço lá, porque eu faço o doce para São Benedito, sou eu a doceira. Notaram que eu estou bem nervosa, não é? Porque eu só sei fazer o doce, falar… Então agradeço a Leci Brandão, a Dona Theodosina Ribeiro, pela medalha que hoje eu recebo e ofereço para as minhas primas já falecidas, Ione e Geni. Foram elas que me levaram para ser da Pastoral. Obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Emocionante, não é, gente? Esta Medalha Theodosina Ribeiro realmente nos deixa sem palavras ante as histórias e trajetórias das mulheres que aqui vêm para serem homenageadas. E esta nossa homenageada de agora não tem uma história diferente. Ela é uma mulher forte, guerreira e honesta, que sempre trabalhou para sustentar os filhos, teve a sua rotina de trabalho duramente golpeada quando, no dia 23 de dezembro do ano passado, o seu filho, de forma covarde, o radialista Milton Dinho, foi mais uma das vítimas do genocídio pela Polícia Militar.

Dinho era um jovem engajado em projetos sociais, trabalhador, atuava no Procon. Era da direção da Rádio Comunitária Cultural FM, mantinha um programa todos os domingos e mantinha um vínculo e um forte envolvimento com a cultura hip hop, compunha a direção municipal da Unegro de Sorocaba.

Ele, conforme eu disse, foi mais uma vítima da violência que atinge a população negra e é o reflexo do racismo institucional que existe em nosso País contra a população negra. A nossa homenageada, mãe do Dinho, é uma das inúmeras mães que são obrigadas a transformar seu luto em luta por justiça. Neste momento, Dinho está presente, e eu gostaria de, antes de chamar a Sra. Eva Benedita de Andrade, sua mãe, aqui, que nós aqui pudéssemos dar uma salva de palmas pelo Dinho. Dinho presente! (Palmas.)

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. EVA BENEDITA DE ANDRADE - Bom dia a todos. Eu agradeço a deputada Leci Brandão por estar fazendo esta homenagem. Meu filho era muito admirador dela. E eu não tenho nem palavra para falar, porque meu coração está sangrando ainda por tudo que fizeram. Então agradeço a todos, é só o que eu tenho para falar agora.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Depois da Sra. Eva Benedito Andrade, mãe do Dinho, que com certeza prosseguirá sua luta, nós temos a nossa próxima homenageada, que é conhecida como Doné Oyassy, e por ser a matriarca do Ilê Axé de Iansã, comunidade que existe desde 1990 na cidade de Campinas. E em 1994 essa comunidade se estabeleceu na periferia da cidade de Araras, onde o Ilê foi oficialmente fundado e se transformou em Oscip, cuja a primeira presidenta foi Doné Oyassy, que deu início a várias ações e projetos como o Festival Comunitário Negro Zumbi – Feconezu, a Semana da Arte Negra, Araras Afro Confest e Águas de Oxalá.

Desde 1995, Dona Oyassy ocupou juntamente com famílias de trabalhadores rurais sem-terra o Horto Florestal de Araras, onde assumiu com outros companheiros da liderança do acampamento, que em 1998 foi oficializado como assentamento. Atualmente ela atua na Omaquesp, uma organização de mulheres assentadas e quilombolas, no Sintras - Sindicato da Agricultura Familiar de Sumaré. E também está no Fórum Estadual de Mulheres Negras - o Negro; e Cenarab - Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira. Chamamos a Sra. Rosa Maria Virgolina da Silva, Doné Oyassy, representando as mulheres do Axé.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. ROSA MARIA VIRGOLINA DA SILVA - Bom dia. Eu agradeço a todos, a essa força que está sentada ali. Eu tentei até chegar pertinho dela, mas ela estava toda aconchegada com as pessoas, que é a Theodosina. E por meio dela, Leci Brandão, que é uma personagem na nossa vida, na vida das mulheres pretas – e não negras –, se faz muito presente na luta.

Eu não sou muito de estar falando tudo assim redondinho, mas eu tenho que falar algo que para mim é muito importante. Falar dentro da perspectiva do ser humano, olhar um para o outro e se respeitar. Se nós não dermos as mãos, negros ou não, a gente vai sucumbir perante a sociedade da qual nós estamos já perecendo.

E essa história de nós estarmos aqui hoje, e eu estar recebendo essa medalha, para mim me faz importante, porque eu literalmente moro na roça. E morar na roça não é só de comunidade de terreiro, não é Leci? Mas também na roça de que quase nem todos sabem de onde vem o alimento, ou se sabe faz que não. Que as mulheres saem de manhã cedo para ir cortar cana, para colher algodão, que é para ir para a roça mesmo, e às vezes a gente sente muito esquecida lá no interiorzão.

Então eu acho muito necessário a gente olhar um para o outro, mesmo aqui hoje, olha que coisa linda, quiçá tivesse mais gente. Daqui a um bom tempo que tenha o povo preto assumindo isso aqui, de um olhar para o outro e literalmente se enxergar, não é vim fazer uma coisa muito bonitinha, quadradinha, sentar, olhar e acabar, quando acabar, ir embora e acabou. Não. É se sentir, se abraçar. É sentir, literalmente, que a gente está junto, que a gente pode sentir a energia da coisa apertada do abraço. Eu acho que, não sei se é quebrar ou não o babado, mas eu acho que seria legal todas nós que estamos aqui, independente de estar sentadinha, olhar um para o outro. Levanta, gente, vamos energizar, passa um abraço para o outro, vamos nos abraçar. Leci trouxe a gente aqui dentro, vamos continuar. O mundo precisa disso, de todo mundo se respeitar.

Obrigada, Leci. Obrigada, Theodosina, que eu vou ali abraçar ela. Obrigada esta mulher que está sempre com a gente. Obrigada ao mundo. Obrigada ao mundo preto. Obrigada, mulheres. Obrigada por esse abraço. E aí eu acho que é um recado legal:  “Mulher brasileira eu quero você aqui”. Obrigada. Axé!

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Olha todas e todos contagiados pela energia maravilhosa de Doné Oyassy. Olha que maravilhoso. Que sensacional. Mas eu vou deixar você na energia desse abraço caloroso, nessa energia da sororidade, para falar da nossa próxima homenageada. É uma mulher cujo nome é trabalho desde o nascimento, porque ela nasceu no dia 1º de maio e o trabalho sempre fez parte da vida dessa mulher. Desde os seis anos de idade, quando ela ganhou uma enxada e passou a trabalhar na roça até os 13 anos e vem trabalhando até hoje.

Em pleno regime militar no ano de 1968, ela se formou em Serviço Social pela PUC de São Paulo e desde jovem participou das lutas do movimento popular, ajudando a coordenar o Movimento do Custo de Vida e depois o Movimento Contra a Carestia.

Obviamente a nossa homenageada atuou na luta contra a ditadura e a luta pela anistia ampla geral e irrestrita, e fez parte da luta das Diretas e pela Constituinte. Ela ingressou no PCdoB em 1972 e, em 1975, quando a ONU declarou o Ano Internacional da Mulher, ela participou no México do 1º Congresso Mundial das Mulheres. Nós estamos falando dessa mulher que foi vereadora aqui em São Paulo por dez anos, foi reeleita duas vezes, e em 2003 foi eleita deputada estadual com mais de 68 mil votos. Nós estamos falando da maravilhosa Ana Martins Soares.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

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A SRA. ANA MARIA MARTINS SOARES - Boa tarde a todas e a todos. Alegria por nós estarmos vivendo esses momentos de tanta emoção. Mas tinha que dizer uma palavrinha: nós estamos vivendo em uma conjuntura no País, na América Latina e no mundo muito difícil, de um retrocesso dos direitos humanos, direitos trabalhistas, direitos previdenciários. Então hoje também é um dia de nós nos reforçarmos, darmos as mãos, como algumas já disseram aqui, para nunca mais largar.

Eu quero aqui agradecer a nossa querida deputada Leci Brandão, que tanto honra os dirigentes e os militantes do PCdoB com toda a sua atuação guerreira, combativa, luta das mulheres, da negritude, do candomblé, todas as religiões afrodescendentes. Agradecer muito a Theodosina com essa voz forte, essa mulher de 92 anos.

Então fica aqui o nosso abraço singelo, mas carinhoso, para que nós tenhamos muita força para lutar pela democracia, lutar pelos direitos humanos, lutar pelos direitos dos sem-terra, sem casa, sem direitos, dos excluídos e ter um futuro socialista, porque nós temos que abraçar essa causa. Vamos lutar juntos, agarrar isso e ter coragem e ousadia de lutar. Um grande abraço.

Não posso deixar de agradecer minha irmã Neide, que está ali, minhas companheiras Zenaide, Márcia, Lúcia e Clélia, que vieram aqui nos prestigiar, e nossos companheiros do partido, Wander, André, Diógenes, não estou vendo todos, Moacir e todos. Nossa guerreira Maura, que mantém ainda essa luta grandiosa da Facesp. Então todos esses que aprendem a lutar e que não largam as mãos, para lutar sempre. Um grande abraço.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Bem, gente. Tanta emoção, a gente até perde a voz para falar dessas mulheres tão sensacionais, não é? Foram 15 e agora vou falar da nossa 16ª homenageada, que é uma jovem mulher negra, cantora, compositora, multi-instrumentista, ativista de 25 anos que trabalha com música desde os 15.

Ela define sua arte como música de mulher preta. Faz uso da sua arte para educar, conscientizar e passar informações a respeito das demandas de luta do movimento antirracismo no Brasil. Em ascensão no Circuito Independente Brasileiro, já participou do Pulso Red Bull Music, do Vento Festival 2018, Favelas Sound. E ela tem como lema, como luta, a sua música é uma ferramenta de luta, com a música “Cota não é esmola”, da sua participação no Section Latina América. Depois de recebê-la em casa para uma noite intimista e musical, ninguém menos do que Caetano Veloso fez um post em seu Instagram, dizendo: “Fiquei com vontade de pedir a todos os brasileiros para ouvirem (a nossa homenageada) Bia Ferreira”.

 

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- É entregue a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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A SRA. BIA FERREIRA - Meu Deus, eu nunca ganhei nem bingo, quanto mais uma medalha da Assembleia Legislativa. Estou meio boba. Primeiro, peço licença para as mais velhas que estão aqui, que abriram os caminhos para que eu pudesse ter voz e o espaço de fala. Cumprimento a Dra. Maura, cumprimento a deputada Theodosina, cumprimento dona Leci.

É importante estar aqui hoje, eu estou muito nervosa e eu sempre sou a pessoa que tem muita coisa para falar. E eu não consigo falar porque eu estou… Mas de saber que eu estou com 25 anos e que eu tenho muita coisa para aprender, e que encontro pessoas que se reconhecem no meu trabalho e que me consideram digna de estar aqui e receber uma honraria como esta, eu me sinto extremamente feliz.

Gostaria de dedicar esta medalha à dona Almira e a dona Maura, que são minhas avós, que com muito custo criaram meu pai e minha mãe, que também investiram muito tempo na minha educação e na educação dos meus irmãos e ensinaram para a gente a importância de falar. E isso foi muito importante para que eu pudesse estar aqui hoje, para que eu tivesse o ímpeto de falar.

Então às minhas irmãs também, a Sara, a Ane, a Auri e a Doralice, que é minha companheira de vida e que fortalecem também essa luta que é uma luta voltada para a educação de pessoas a respeito do combate ao racismo, é uma luta voltada ao empoderamento da mulher e à convocação de mulheres para a tomada do poder. Essa revolução é feminina e feminista ou não será. Então a essas mulheres que são baluartes dessa revolução também, todo meu respeito.

Gostaria de cumprimentar a Neon, que está aqui também, a única mulher transgênero aqui hoje, e é importante a gente pautar o lugar dessas pessoas que estão na base da pirâmide social, no País que mais mata pessoas transgêneras no mundo. Gostaria de dedicar essa medalha à Erica Malunguinho e Erika Hilton, que são as duas mulheres transgêneras, as primeiras a ocupar esta Assembleia Legislativa. E com todo o nosso apoio a gente quer ver mais pessoas transgêneras também sendo protagonistas da sua história e falem. É importante que essas pessoas ocupem esses espaços e que a gente se pergunte por que essas pessoas não estão no nosso meio de convívio. Vamos pensar sobre isso também. Eu vou encerrar com a poesia, se eu conseguir falar.

“Eu escrevo essas linhas sem medo de como você pode interpretar. Um chamado, está tudo acordado, o bonde está forte, nós viemos cobrar. Do ouro ao conhecimento não vai ter lamento e eu vou te mostrar. Que a minha história é contada oralmente, não adiantou você querer apagar. De boca a boca nós vamos contando um levante e armando para dominar. Seus livros, seus filmes, sua casa, seus filhos e a televisão que você vê no seu lar. Mexendo com gente, plantando sementes, germinando mentes logo vai brotar. Vai vir a floresta, não vou deixar fresta para minha história você contestar. Entrei nas escolas e nas faculdades, igrejas não vão mais me silenciar. Aqui não é teu culto nem congregação, nessa mata fechada você não vai entrar. Fazendo esse alarde, pois não sou covarde, não vai nem dar tempo, o plano está em ação. É ação direta, sai da minha reta. É mais do que só gritar revolução. Sou psicopreta, tomei sua caneta, sou bem mais que teta, bunda e corpão. Sou mente afiada, a festa tá armada, fogos de artifício, segura o rojão”. Obrigada.

Gostaria de pautar também, só mais uma coisa, que no ano de 2019, nós já não aceitávamos nos anos anteriores, ainda mais com esse governo fascista e racista que foi eleito aqui no Brasil, nós precisamos pautar que o Brasil, teoricamente, pela Constituição que o Sr. Presidente da República jurou defender, diz que o Brasil é um estado laico. Nós precisamos nos posicionar quanto à presença de uma cruz aqui em cima, isso é contra e atenta contra à Constituição Federal de 1988. E a gente precisa pautar o fim da intolerância religiosa, é importante. É importante que a gente paute que esse lugar é do povo, e não de religião nenhuma. Muito obrigada, bom dia.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Anunciamos as seguintes presenças: Sorocaba veio junto com a mãe do Dinho, e veio junto à mãe do Dinho a Sra. Eva, a Sra. Cecília Lopes, mãe de Lucas – assassinado também em Sorocaba no dia 1º de janeiro. Anunciamos as presenças do Sr. Netinho Moura, do Fórum Social e Cultural dos Moradores de União de Vila Nova Pantanal; do Sr. Jucivaldo, do Fórum Social de Moradores da Vila Sílvia; da Sra. Márcia Aparecida de Freitas, diretora do Instituto dos Advogados da Zona Leste de São Paulo.

Também justificaram presenças a Sra. Neide Fátima Martins Abate, da União Popular de Mulheres do Campo Limpo e Adjacências, Casa da Mulher e da Criança; do Sr. Sinclair Oliveira, presidente do Sintaresp, com sua diretoria; do presidente da Associação dos Advogados de São Paulo, Dr. José Roberto Cury, comunicando que a Dra. Fátima Cristina Bucker o está representando nesta sessão; e ainda do Sr. Ilmo. Secretário Municipal de Cultura, Alexandre Youssef; da Sra. Elizabeth Valente, conselheira do Conselho Estadual da Condição Feminina, representando a presidenta Maria dos Anjos Mesquita Hellmeister; também do secretário de Justiça, Paulo Dimas Mascaretti; e também das diretoras e diretores da OBMEP de São Paulo e da Unegro.

 Antes de encerrar a sessão solene do dia de hoje, é importantíssimo nós destacarmos a importância e o significado da outorga da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro, que tem como objetivo visibilizar e reconhecer trabalhos de mulheres e de lideranças que por vezes não têm o devido reconhecimento da sociedade, ou melhor, não têm a devida visibilidade. São trabalhos de mulheres que impactam decisivamente a vida de muitas pessoas e por isso que esses trabalhos, que em diversos momentos acontecem nas periferias e não acontecem em lugares elitizados, eles precisam e merecem ser reconhecidos.

Nós hoje vimos o quanto as vozes e as ações das mulheres aqui homenageadas têm um impacto decisivo nas transformações dessa sociedade. Como diria a Rosa Luxemburgo: “A revolução é certa, mas é imprevisível”. E observamos que se a revolução acontecer, ela certamente virá das mãos das mulheres.

 Então para encerrar a sessão de hoje, a 7ª Edição da Sessão Solene da Outorga da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro, edição dedicada a Lélia Gonzalez, eu passo a palavra ilustre deputada Leci Brandão.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Também estou nervosa. Confesso. Eu estou extremamente emocionada porque, não que as edições anteriores não tivessem importância, muito pelo contrário, é que essa foi diferente.

A diversidade, a história de cada mulher que chegou ali foi muito fascinante. Eu lembro que no documentário da Lélia ela já falava da questão da criança que não tinha oportunidade, como é que ela ia entrar na universidade, ela falou lá atrás. Mas graças a Deus nós tivemos um governo que conseguiu ter sensibilidade, enxergou que as universidades públicas têm que ter cotas, sim.

É uma pena que todas essas coisas que foram importantes foram misturadas com outras coisas e foram esquecidas, mas a história a gente não pode esquecer. A gente tem que concordar que algumas coisas que foram feitas não foram muito certas, mas a gente não pode deixar de reconhecer o que foi feito para fortalecer o povo pobre, o povo negro, o povo das periferias, as mulheres também, a Educação, a Cultura. Aconteceram muitas transformações para melhor.

Eu não vou esquecer que muitos amigos meus não tinham condição de ter uma simples geladeira, não tinham condição de ter um carro, carro era coisa só para rico. Não, as pessoas conseguiram comprar, conseguiram adquirir. Hoje a gente não consegue absolutamente mais nada.

Mas, pior do que essa coisa material, é a questão da liberdade, é a dignidade. É você ver de repente uma parlamentar nesse Congresso Nacional ser chamada de vagabunda. Isso é que é pior, é bem pior. Uma coisa é a gente descobrir que a época da ditadura foi um pouco tranquila – é um absurdo falar isso, mas foi mais tranquilo. Agora a gente não sabe, a gente não sabe mais nada.

Então eu queria também repetir aqui uma coisa que eu acho que a gente faz, acho que eu faço desde que eu me entendo por gente. Eu levanto a questão racial onde quer que eu esteja. Eu lembrava, quando subi lá no tripé da Sapucaí, que a minha escola de samba, alguns anos atrás, não deixou eu ganhar samba-enredo, porque as minhas letras eram consideradas letras de protesto. Eu não vou esquecer que eu fiquei cinco anos sem gravar porque fiz uma música chamada “Zé do Caroço”, era música de protesto. Eu não vou esquecer que quando eu fiz “Ombro Amigo”, que era uma música na época dedicada ao Gay People, também foram lá na Mangueira falar: “A Leci está fazendo música para um povo esquisito”. Era Gay People na época, hoje têm várias letras.

Então é assim, muito antes de algumas lutas que estão hoje acontecendo, a gente já estava enfiada no bloco. Mas eu negra, estudante de escola pública, filha de servente de escola, andando de trem, marmita essas coisas todas, quem vai dar importância para uma mulher dessas? De jeito algum. Só que tem uma coisa chamada Orixá, e o Orixá determinou que a minha caminhada ia passar por algumas transformações.

Eu tenho que fazer um profundo agradecimento a cada pessoa que chegou aqui e falou e contou histórias, porque são pessoas que me ensinaram e que continuam me ensinando. Essa plateia aqui está repleta de professoras e professores, cada um sabe para quem eu estou falando.

Eu não tenho o menor constrangimento de dizer que graças aos meus guias de Luz eu consegui construir uma assessoria – porque tem que ter assessor, não é? E ai de mim se não tivesse assessores. E essa assessoria me orientou, me explicou, me ensinou, me deu a tradução de alguns termos que eu entendo. Às vezes tem gente que chega aqui com um discurso e eu fico: “O que esse cara está falando?” Mas, mesmo com meu simples linguajar, mesmo com meu jeito de ser, porque, eu vou repetir, eu sou assim: protocolo é uma coisa que para mim é importante desde o dia que a minha mãe assinou o protocolo lá e a secretária do secretário de Educação do Rio de Janeiro descobriu que ela era minha mãe, porque ela assinou um protocolo – não fosse isso eu não teria ido trabalhar na Universidade Gama Filho.

Então protocolo para mim é muito importante, agora esse protocolo que falam aí não sei. Não sei, olhando no olho de vocês, falando para vocês verdade, porque às vezes muita coisa não acontece na minha carreira política porque tem uma coisa: eu não tenho grana, eu tenho a minha verdade, eu tenho a minha lealdade. E é por isso que às vezes as coisas ficam difíceis para a gente, até porque podem dizer que a gente faz muita festa e que a gente está sempre fazendo evento para preto, para macumba, para isso e para aquilo, mas nós temos uma coisa chamada compromisso. O meu compromisso existe muito antes de eu pisar nesta Casa.

Como é que foi esse compromisso? Foi com a arte. A nossa arte está a serviço de fortalecer, ajudar, reconhecer e respeitar. Eu respeito todas as pessoas, até por isso a minha fala nunca é dirigida somente para os negros, negros e não negros, cidadãos e cidadãs. São para essas pessoas que eu dirijo a minha palavra. E quando a gente vai ter que andar na periferia, na favela, no morro, na quebrada, graças a Deus, oxalá, eles dão passe livre para mim, sabe por quê? Porque eles sabem que eu nunca tratei ninguém de forma diferente. Então eu sei conversar com a malandragem, sei conversar com o povo da academia, da faculdade e tal. E é nesse bolo todo que eu consegui chegar até aqui sem ter pedido para vir para cá, que fique bem claro.

Eu fui convidada. O meu negócio é a arte, é a música. Eu falei, e inclusive vou repetir para vocês, falei lá no gabinete: “Vai chegar semana do Carnaval, eu quero ver minha escola, eu quero ver o povo, o povo do samba – porque o povo do samba é responsável também por eu estar aqui, eu não posso negar isso”. Só que tem uma coisa, minha gente. Presta atenção vocês de São Paulo: o povo do samba vai ficar tudo no especial ano que vem. Em 2020 só vai ter escola tradicional na avenida, prestem muita atenção nisso. Não vamos abandonar essa gente, não, muito pelo contrário: a gente tem que juntar, tem que fortalecer, porque, quer queira quer não, não faz mal que eles digam: “Ah, a sambista”.

Aqui nesta Casa tem muito: “E aí, Leci, como é que está o sambinha? Vai fazer um samba?” Aqui não vou fazer samba, aqui eu tenho que mostrar os projetos de lei, tenho que receber as ideias dos meus amigos, das companheiras, das camaradas para poder fazer o projeto de lei, e estou conseguindo fazer, do meu jeito. Os nossos projetos são voltados para o povo. Eu não sei construir nada, até porque não posso. Eu sou do Legislativo, tem que construir projetos de leis. E todos os projetos de lei que construí não foi sozinha, foi sempre com a participação do meu povo, da minha comunidade, da minha quebrada, da mulherada negra, pode ser do samba, pode ser do hip hop, pode ser de qualquer arte.

Estava falando agora a Bia, essa menina maravilhosa que fez essa fala aqui. Eu não conhecia a Bia. A Bia cantando, e eu olhei e falei: “Essa menina tem que ser mostrada, tem que ser homenageada.” E ela recebeu uma surpresa quando a gente mandou o ofício. Vocês viram a poesia que ela fez aqui. É claro que eu continuo aprendendo, eu não sei nada, eu sou simples pessoa, simples assim. Mas todo dia eu estou aprendendo coisa, porque eu não me acho a dona da verdade, a rainha da cocada, nada disso. Eu sou a Leci Brandão da Silva, filha da Dina Leci, e que está aqui a serviço de vocês. Nada que eu faço aqui é favor, é obrigação. Tudo que a gente construiu foi obrigação.

E quero terminar dizendo o seguinte: professora Elisa Lucas; Dr. Rafael, que está sempre aí aturando a gente, a gente está sempre lá perturbando, mas tem que fazer isso mesmo; Dr. José Carlos; meu querido camarada Wander, desculpe os ataques que eu dou de vez em quando com o partido, mas é que eu sou desse jeito. Quero dizer para minha querida amiga Ana Martins, a sua homenagem só veio agora, até peço desculpas porque eu já tinha que ter trazido você para cá em edições anteriores, afinal de contas você me pegou pela mão e me levou aqui por São Paulo, até em feira, em tudo quanto é lugar para me mostrar. E você foi uma grande deputada nesta Casa e é por isso que eu jamais vou deixar de respeitar o Partido Comunista do Brasil, afinal de contas foi ele que me trouxe para cá.

Os outros partidos também gostam de mim, me apoiam, enfim. Mas quem teve a ideia de botar essa maluca aqui para tornar-se deputada estadual foi o PCdoB, e eu tenho muito orgulho de ser do PCdoB. Jamais vou temer, jamais vou ficar preocupada com as ofensas, com as coisas que falaram durante todo esse tempo. O que eu quero dizer é o seguinte, para o moço: o Brasil tem dono. É o povo brasileiro, é a gente que manda.

Agora, quero convidar a todos a um coquetel no Hall Monumental – é bom, não é, quando a gente fala isso?

Esgotado o objeto da presente sessão, a Presidência agradece as autoridades, aos funcionários da Casa e a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade. Está encerrada a presente sessão. Quero agradecer a todos os funcionários da Casa, e quero avisar que haverá agora uma intervenção musical e depois o coquetel no Hall. Bia Ferreira, é tudo com você. Muito obrigada por você estar aqui hoje. Obrigada, Eliana de Lima. Obrigada a todos os artistas que estão aqui. Sua bênção Doné Oyassy. Motumbá kolofé saravá!

 

A SRA. BIA FERREIRA - Só antes desse coquetel, a dona Leci me convidou para fazer uma canção e eu vou fazer uma canção só, é um tempo rapidinho, se chama “Não precisa ser Amélia”, e fala a respeito de por quem a gente trabalha, por quem a gente canta, para quem a gente canta, enfim, é isso.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Minha gente, muito obrigada. Se vocês puderem só fazer um silêncio rápido para ouvirmos a Bia. Só isso. É que eu cometi um erro aqui, eu falei que ia ter um coquetel aí pronto.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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- Encerra-se a sessão às 13 horas e 17 minutos.

 

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