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20 DE SETEMBRO DE 2019

34ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AOS 40 ANOS DO PROJETO SOL E OUTORGA DO COLAR DE HONRA AO MÉRITO LEGISLATIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO À IRMÃ ANGELA MARY E AO SENHOR LUIZ CARLOS DOS SANTOS

 

Presidência: ENIO LULA TATTO

 

RESUMO

 

1 - ENIO LULA TATTO

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia a composição da Mesa e demais autoridades presentes. Comunica que o deputado federal Nilto Tatto fora convidado, pelo Papa Francisco, para participar do Sino da Amazônia, a realizar-se em outubro. Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene para "Homenagem aos 40 Anos do Projeto Sol e Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à Irmã Ângela e ao Senhor Luiz Carlos dos Santos", por solicitação do deputado Enio Lula Tatto. Convida os presentes para, de pé, ouvirem o "Hino Nacional Brasileiro", executado pela Orquestra Acadêmica da Unesp, sob regência do maestro professor Lutero Rodrigues, a quem agradece. Anuncia apresentação, pela Orquestra Acadêmica da Unesp, da música "Ponteio", do compositor Cláudio Santoro. Lembra a realização de exposição do Projeto Sol, em andamento nesta Casa.

 

2 - ARSELINO TATTO

Vereador à Câmara Municipal de São Paulo, saúda os presentes. Ressalta a importância da atuação de Irmã Ângela e de Luiz Carlos dos Santos, “Carlinhos”. Lembra-se do movimento "Tome Atitude Zona Sul", contra a violência. Discorre acerca das origens do Projeto de Sol, na periferia. Comemora o acesso de crianças e de jovens carentes às universidades. Informa que a Irmã Ângela Mary e Luiz Carlos dos Santos foram agraciados, respectivamente, com o título de Cidadã Paulistana e Medalha Anchieta.

 

3 - NILTO TATTO

Deputado federal, saúda os presentes. Parabeniza os fundadores e colaboradores do Projeto Sol. Comenta influência da Irmã Ângela e de Luiz Carlos dos Santos em sua trajetória política. Destaca conselho de Dom Paulo Evaristo Arns, a favor da atividade política em prol dos oprimidos e de trabalhadores. Assevera que decisões em parlamentos repercutem no dia a dia dos cidadãos. Defende o respeito às diversidades e à inclusão, no país. Critica o governo federal. Reflete acerca de mortes violentas de negros e de jovens.

 

4 - PRESIDENTE ENIO LULA TATTO

Informa a exibição de vídeo institucional do Projeto Sol. Anuncia apresentação da "Dança Primavera", por membros do referido projeto. Comunica apresentação da "Dança Mãe Natureza", por integrantes do Projeto Sol. Critica política do governo federal sobre o meio ambiente. Tece considerações regimentais a respeito do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo. Anuncia a entrega das comendas à Irmã Ângela e ao Sr. Luiz Carlos dos Santos, "Carlinhos". Anuncia apresentação musical da Orquestra Acadêmica da Unesp, com a música "Moda e Rasqueado", do compositor Guerra-Peixe. Lembra exposição da Unesp, realizada recentemente, nesta Casa.

 

5 - IRMÃ ÂNGELA MARY

Fundadora e presidente do Projeto Sol, afirma-se emocionada. Agradece ao deputado Enio Lula Tatto pela iniciativa da solenidade. Menciona a relevância do mandato do vereador Arselino Tatto para o Projeto Sol. Destaca seu empenho, alegria e esperança. Lista colaboradores, educadores e apoiadores do projeto social. Defende a permanência da comunidade com os interesses do Projeto Sol.

 

6 - LUIZ CARLOS DOS SANTOS

Fundador do Projeto Sol, "Carlinhos", convida para assomarem à tribuna, cinco educadoras do Projeto Sol, as quais lista. Afirma que está em formação uma nova geração de jovens que poderão se marginalizar. Lembra diálogo com o ex-presidente Lula, sobre os efeitos da violência para a democracia. Acrescenta que a citada mazela é organizada, inclusive em partidos. Argumenta que a periferia padece com o controle do tráfico, a prostituição, e a escassez de lazer, de cultura, de esporte e de educação. Lamenta a prática da violência do pobre em desfavor do pobre. Comenta índices de mortes de jovens negros em periferias. Defende políticas em defesa da geração de empregos, em prol da dignidade e da transformação social. Critica o governo federal.

 

7 - MARA CALOI

Agradece ao Sr. Luiz Carlos dos Santos. Afirma que os 30 anos de trabalho no Projeto Sol constitui sua razão de vida.

 

8 - PRESIDENTE ENIO LULA TATTO

Lembra casos de tortura, em supermercados, em razão de furtos de chocolate e de carne. Comenta a expansão da violência. Informa que o segundo maior orçamento do estado é destinado à Segurança Pública. Narra breve histórico do Projeto Sol e seus objetivos em prol de crianças em vulnerabilidade social. Lista mazelas sociais e econômicas a afetar a população das periferias. Destaca o trabalho de prevenção à delinquência e ao consumo de drogas ilícitas. Ressalta o incentivo às artes plásticas, à leitura, às artes cênicas, à dança, ao esporte, e às atividades externas, como ferramentas de inclusão, adotadas pelo Projeto Sol. Tece breve comentário a respeito dos históricos de Irmã Ângela e de Luiz Carlos dos Santos, em apoio à população da Capela do Socorro e da Comunidade 20. Afirma que, ontem, o educador Paulo Freire completaria 100 anos. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Enio Lula Tatto.

 

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O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Convido para compor a Mesa principal desta sessão solene a Irmã Angela Mary, fundadora e presidente do Projeto Sol. Uma salva de palmas. (Palmas.) O Sr. Luiz Carlos dos Santos, fundador do Projeto Sol. (Palmas.) Convido, com muita honra, a pessoa que deu a ideia de fazer a exposição que está acontecendo há alguns dias aqui na Casa e que está presente também, minha querida esposa Yolanda Nunes Rocha Tatto. (Palmas.)

Convido também o deputado federal Nilto Tatto. (Palmas.) Já antecipo a todos vocês que temos uma notícia muito boa: o Nilto foi convidado, recebeu o convite do Papa Francisco para participar, como parlamentar, como deputado federal aqui do Brasil, do Sínodo da Amazônia, que ocorrerá no mês de outubro. Então, parabéns, Nilto, pelo seu trabalho e seu comprometimento. (Palmas.) Convido também, se já chegou, ou deve estar chegando, o vereador Arselino Tatto. Ainda não chegou? Deve estar chegando.

Srs. Deputados, Sras. Deputadas, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa, deputado Cauê Macris, atendendo solicitação deste deputado, com a finalidade de homenagear os quarenta anos do Projeto Sol e outorgar o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à Irmã Angela e ao Carlinhos.

Convido a todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, que será executado pela Orquestra Acadêmica da Unesp - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, sob a regência do maestro e professor Lutero Rodrigues.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Agradeço à Orquestra Acadêmica da Unesp, que continuará conosco. Queria chamar o vereador Arselino Tatto para compor a Mesa. O Arselino, com certeza, Carlinhos e Irmã, deve ser a pessoa da minha família que mais acompanhou vocês de perto, desde o início, em todas as lutas e conquistas. Então, vamos receber o vereador Arselino Tatto. Obrigado pela presença, vereador. (Palmas.)

Queria agradecer também a presença da Irmã Dayane. Cadê a Irmã Dayane? Obrigado pela presença, Irmã Dayane. Uma salva de palmas. (Palmas.) A nossa querida - saudade! - Irmã Cecília. (Palmas.) Obrigado, Irmã Cecília, pela presença. A Sônia e o Salomão, nossos companheiros, amigos. (Palmas.) E agradecer a presença de cada um de vocês, diretores do Projeto Sol, a Mara Caloi. Cadê eles? Obrigado pela presença. (Palmas.)

Provavelmente, muitas pessoas, todos vocês poderiam ser nomeados aqui, mas, em nome da Assembleia Legislativa, em nome do presidente Cauê Macris, agradeço a presença de cada um de vocês, crianças, jovens, orientadoras, professoras, todo o pessoal que está nesse projeto, o X Bine, presidente da Associação X, da IX. É um orgulho muito grande estar com vocês aqui. Minha filha também está aí, a Carmen, o Lennon. Obrigado pela presença.

Comunicamos os presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web. Se alguém quiser mandar um... Hoje, está tudo fácil através dos nossos aplicativos. Será retransmitida pela TV Alesp nesse sábado, dia 21 de setembro, às 22 horas e 30 minutos. Então, podem divulgar para o pessoal assistir: pela Net, canal 7; pela TV Vivo, canal 9; pela TV Digital, canal 61.2.

Assistiremos agora à apresentação musical da Orquestra Acadêmica da Unesp, sob a regência do maestro e professor Lutero Rodrigues, a quem quero agradecer mais uma vez pela presença. A música é “Ponteio”, do compositor Claudio Santoro.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Agradecemos, mais uma vez, ao regente, maestro professor Lutero Rodrigues, e à Orquestra Acadêmica da Unesp pela bela apresentação. Muito obrigado. Hoje eu acertei, não é? Hoje eu chamei de orquestra.

Lembro a todos de que, além deste ato solene em homenagem aos 50 anos do Projeto Sol, está ocorrendo na Assembleia, desde o dia 9 de setembro, a exposição de todo o trabalho do Projeto Sol. Todo não dá, porque não cabe, mas é um raio-x, uma fotografia dos 40 anos de trabalho, que está havendo aqui na Assembleia.

Termina hoje, então, todos vocês, com certeza, vão dar uma passada por lá para conhecer, de perto, desde quando começou o Projeto Sol, lá no barraco, não é, Irmã? Vocês tiveram que dar um cheque para dois dias, porque não tinha dinheiro para comprar. Depois eles vão falar sobre isso. Terminando aqui, vamos fazer uma visita e conhecer de perto, através de tudo que está exposto lá.

Queria passar a palavra ao vereador Arselino Tatto, para fazer a saudação dele. Repito, mais uma vez, que o vereador Arselino, com certeza, é uma das pessoas que acompanhou de perto, desde o início, os 40 anos do Projeto Sol.

 

O SR. ARSELINO TATTO - Bom dia a todos e a todas. Quero agradecer ao deputado Enio Tatto por esta brilhante iniciativa, agradecer a presença do deputado federal Nilto Tatto, filhos da mesma mãe e do mesmo pai, Luiz Carlos, nosso querido Carlinhos, Yolanda, esposa do Enio, e nossa querida Irmã Angela.

Estou vendo a Irmã Cecília aqui. A Irmã Cecília me educou. Bem feito, Irmã Cecília. Quero agradecer a presença de todos os colaboradores do Projeto Sol, a presença de todos os moradores da comunidade da 19 e da 20, agradecer também ao X-Bini, da Associação X. Tudo lá surgiu por causa da Irmã Angela e do Carlinhos, 40 anos atrás.

Hoje nós vivemos num país em que se fala muito de violência, de intolerância, de ódio, de rancor, muita morte. Não se fala de desemprego, dos problemas sociais; fala-se que tem que armar a população. Essa é a tese do nosso presidente da República, infelizmente.

Pois bem. Há três décadas, a Irmã Angela e o Carlinhos criaram um movimento chamado “Tome uma Atitude Zona Sul contra a Violência”. Parece que a questão é atual, continua sendo atual. Essa foi uma das atividades do Projeto Sol, mas vamos mais para a questão da periferia. O que eles fizeram nesses 40 anos e o que eles estão fazendo, nós precisamos contar, desde a canalização do córrego, porque a sede era na beira de um córrego. As casas não eram casas, eram verdadeiros barracos.

A luta deles fez com que, hoje, as pessoas morem com dignidade naquele local. O córrego foi canalizado, a pavimentação ocorreu, e eles lutaram também pela construção, não só da sede do Projeto Sol, mas também de uma creche. É conveniada, tudo bem, mas está lá.

Tudo foi luta do trabalho desenvolvido por eles. A Irmã Angela e o Carlinhos, com os colaboradores e muitos patrocinadores, entre eles a Caloi, desenvolveram um trabalho - que nada tira, nada é mais bonito, nada é mais sublime - de transformar jovens carentes, crianças sem nenhuma possibilidade de sobreviver e de crescer na vida. Fizeram com que dezenas e centenas deles pudessem cursar a universidade. Muitos deles e delas, hoje, são médicos, professores, assistentes sociais, psicólogas, enfim, várias profissões.

Este trabalho mereceu, da Câmara Municipal... Eu acredito que, há uns 20 anos, tive a oportunidade e a honra de conceder à Irmã Angela o Título de Cidadã Paulistana, porque ela é americana, e ao Carlinhos, como ele é paulista, a Medalha Anchieta. Foi uma homenagem singela da Câmara Municipal pelo trabalho que eles desenvolvem.

Hoje, o deputado Enio Tatto concede a eles a maior honraria da Assembleia Legislativa de São Paulo, a maior Casa de Leis de São Paulo, uma honraria a esses 40 anos do Projeto Sol. Agradeço a todos vocês pela presença aqui, por esse carinho a este homem e a esta mulher, e a toda a sua equipe, ao trabalho que eles vêm desenvolvendo em favor da periferia de São Paulo, em favor de São Paulo.

Esse é um exemplo a ser seguido. Que venham mais 40 anos. Parabéns, Irmã Angela. Parabéns, Carlinhos. Um abraço a todos vocês.

 

O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Obrigado, vereador Arselino Tatto. Queria passar a palavra agora, para fazer uma saudação, ao deputado federal Nilto Tatto.

 

O SR. NILTO TATTO - Bom dia a todas e todos. Bom dia! Quero aqui saudar o deputado estadual Enio Tatto e parabenizá-lo por essa bela homenagem, aos 40 anos do Projeto Sol. Cumprimentar o meu irmão querido, o vereador Arselino Tatto, cumprimentar a Yolanda, esposa do deputado Enio Tatto.

Luiz Carlos, o Carlinhos, e Irmã Angela, parabéns. Aqui quero estender o cumprimento para a Daiane e para a Irmã Cecília. Um abraço também para o Maycon e para a Ruth. Talvez nós sejamos também fruto do trabalho de vocês. Eu me lembro de que, ainda no início da década de 1980, em uma atividade no Colégio Santa Maria, eu tive talvez uma das melhores palestras para poder entender um pouco o Brasil profundo, as desigualdades que, historicamente, foram se construindo e fizeram do Brasil um dos países mais desiguais do mundo.

Vocês, como disse o vereador Arselino Tatto, ajudaram a educar a gente, a formar a gente; ajudaram, inclusive, a nos levar para a vida política. Eu lembro quando eu me elegi, em 2014 - e até então eu não tinha participado do Parlamento -, de uma conversa com o Enio Tatto, que já era deputado. E o Enio falou: “Mas como é fazer política no outro lado? Porque a gente fez política a vida toda e vocês ajudaram a gente a levar a gente para a política”.

E o Enio lembrou de uma dúvida, porque ele também tinha dúvida quando se elegeu deputado estadual pela primeira vez. Numa conversa com Dom Paulo Evaristo Arns, ele levou essa dúvida. E o Dom Paulo, com aquela simplicidade profética dele: “Não se preocupe; lá você vai saber como se comportar. Sempre vote a favor dos oprimidos, dos marginalizados, dos mais pobres, dos trabalhadores, e você vai estar sempre trilhando um caminho certo”. São valores que vocês ajudaram a construir.

Mais recentemente, a gente ouve o Papa Francisco, neste momento que a gente vive no Brasil, de demonização, inclusive, da política... E é na política que se transforma a vida de todos de forma mais intensa. Porque aqui dentro do Parlamento, eu, o vereador Arselino Tatto, o Enio Tatto - a gente toma decisões que mexem no dia a dia das pessoas. E o Papa Francisco falou que a melhor forma de fazer a caridade é na política. Mas a caridade transformadora.

E aí, aquilo que o Projeto Sol vem fazendo ao longo desses 40 anos é transformar as pessoas. Quantas famílias foram transformadas com o trabalho que vocês desenvolvem lá, Angela e Carlinhos? Quantas histórias que mudaram completamente o futuro? Então, esta é a política que é feita no dia a dia por milhares de organizações locais, como o Projeto Sol, projetos como esse. Ou por pessoas que, dentro do Parlamento, aprenderam também com essas experiências, e é isso que dá a esperança de que um dia a gente vai construir um país que seja inclusivo, de respeito à diversidade.

Nós não queremos esta violência de que o vereador Arselino Tatto falou - e que é expressa verbalmente pelo próprio presidente da República hoje -, que vem matando quase 60 mil pessoas por ano, no Brasil, de morte violenta. Na sua grande maioria, jovens de 16 a 24 anos; e na sua grande maioria, negros da periferia das grandes cidades.

É este Brasil que nós precisamos transformar e fazer com que a gente tenha, de fato, um país que seja inclusivo e de respeito à grande riqueza que a gente tem nesse país, que é a nossa diversidade étnica e cultural. Um Brasil para todos.

Parabéns, Projeto Sol. Viva o Projeto Sol; vida longa ao Projeto Sol. E grande abraço para todos vocês. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Obrigado, deputado federal Nilto Tatto. Parabéns pelo seu trabalho. Registrar mais uma vez a presença, aqui, da vice-presidente do Projeto Sol, Mara Caloi. O Projeto Sol produziu um vídeo de quatro minutos. Então, todos nós vamos assistir ao vídeo agora, para a gente conhecer um pouquinho do trabalho do Projeto Sol.

 

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- É feita a exibição de vídeo.

 

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O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Muito bem, muito bonito, muito bem produzido. Tudo isso está na exposição, né, Carlinhos? Para o pessoal ver depois do ato aqui. Termina hoje. Desde o dia 9 de setembro, está aqui na Assembleia, para toda a população. Os visitantes da Assembleia Legislativa, do estado todo, tiveram a oportunidade de presenciar.

E assistiremos, agora, à apresentação dos participantes do Projeto Sol, com a “Dança da Primavera”. É uma apresentação de cinco minutos, agora, ao vivo e a cores.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Muito bem, muito bonito, parabéns pela apresentação.

Agora, vamos assistir a mais uma apresentação dos participantes do Projeto Sol, com a “Dança da Primavera”. “Dança da Primavera” aconteceu agora, né? Os participantes do Projeto Sol, com a “Dança Mãe Natureza”.

Vamos à apresentação.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Muito bem. Que bonito, né? Nossa floresta, tão devastada, não é, Carlinhos? Fruto de políticas erradas, de anistia de multas, de afrouxamento na fiscalização, de aumento nas queimadas. Todo mundo está assistindo a isso.

E, o pior de tudo, aumento nas queimadas por conta do desmatamento. Isso que é triste, né? Que estejamos sempre atentos. E também contra a criminalização das entidades, das ONGs ambientalistas que, hoje, estão sendo criminalizadas por um governo que não tem o compromisso com a nossa vida, com o nosso meio ambiente.

Isso posto, depois de a gente assistir ao vídeo e às duas bonitas apresentações, tenho a alegria de, neste momento, homenagear a Irmã Angela e o Carlinhos com o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.

O Colar destina-se a homenagear pessoas que tenham atuado de maneira a contribuir para o desenvolvimento social, cultural e econômico do estado de São Paulo. A concessão do Colar é deliberada pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo mediante a proposta de um deputado, acompanhada do histórico das pessoas homenageadas. Assim, convido os nossos homenageados a ficarem de pé. (Palmas.)

E também, quebrando o protocolo, peço para que entregue o Colar ao Carlinhos o deputado federal Nilto Tatto, que tanto nos honra com sua presença aqui.

 

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- É entregue o Colar de Honra ao Mérito Legislativo.

 

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O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Convido agora, também, aquele - eu já falei diversas vezes - que talvez seja o parlamentar no estado de São Paulo, o vereador aqui da cidade, que mais tem acompanhado todo trabalho do Projeto Sol, do Carlinhos, da Irmã Angela, de toda comunidade ali da região da Cidade Dutra, Rio Bonito, da 20 e da 19, o vereador Arselino Tatto, para entregar a medalha à querida Irmã Angela. (Palmas.)

Obrigado. Obrigado a todos. Obrigado, parabéns Carlinhos e Angela. Gostaríamos também de continuar a homenagem assistindo à apresentação musical da Orquestra Acadêmica da Unesp, sob a regência do querido maestro professor Lutero Rodrigues, com a música “Moda e Rasqueado”, do compositor Guerra-Peixe.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Obrigado. Obrigado à Orquestra Acadêmica da Unesp. Em nome do maestro professor Lutero Rodrigues, agradecer todos os músicos. A Unesp, essa importante universidade aqui de São Paulo, principalmente no interior do estado, que também fez uma exposição aqui, antes da de vocês, da nossa, do Projeto Sol, durante uns dias, mostrando todo o trabalho que a Unesp tem no estado de São Paulo.

Muito obrigado a todos vocês, pela participação, e voltem sempre à Casa do povo. Uma salva de palmas, mais uma vez, à orquestra. (Palmas.)

Muito bem. Vamos ouvir os homenageados? Vamos? Vocês querem ouvir o Carlinhos? Querem ouvir a Irmã Angela? Então, vamos começar com a Irmã Angela. Com a palavra a Irmã Angela. Uma salva de palmas à Irmã Angela. (Palmas.)

 

A SRA. ANGELA MARY - Estou muito emocionada para falar, mas tenho duas palavras-chaves só. A primeira é “obrigada”. Excelentíssimo deputado Enio Tatto, obrigada por este belo dia, esta homenagem da cidade, do estado, do país que eu amo.

É tão bom rever os amigos. Arselino, que... A presença dele na 19 e 20 sempre foi muito importante para nós, e ontem, no seu trabalho, indo agora para sustentar a Amazônia... Estamos muito orgulhosos da família toda. Têm sido nossos amigos. Mas o Projeto Sol tem a presença de alegria e de esperança, e isto é devido a todo mundo que está aqui.

Primeira, na fundação, todos os dias dos últimos 40 anos, o Carlinhos estava lá, dando força, alegria e esperança, e, no meio do caminho, chegou Mara Caloi Gosson Jorge, o marido dela, Cláudio, e o grupo do tempo, e deu  para nós os fundamentos de uma sólida presença jurídica na cidade, estado e município de São Paulo, e o País.

Estamos com nossos apoiadores, nossos fundadores, junto com os nossos educadores, a Nilzete, a Cleusa, a Rosa, a Cida, a Fátima, a Rosilene, o Renan. Estão lá todos os dias, imbuídos com o espírito do Projeto Sol, transformando as vidas que você viu aqui no concreto.

Então, obrigada à minha coligação, que me sustenta lá na periferia. Porque não é fácil, viu? Na periferia, para mim, me sustentar não é fácil. 

À equipe que temos, de nossos apoiadores, serviço social, a Nívea, a Taís a Mara, nossos cozinheiros, a Eunice, a Daiane, e aquelas que mantêm tudo em beleza, a Neide, eu digo os meus obrigadas. E aos nossos amigos que chegaram aos poucos e colocaram fogo no Projeto Sol. Nossas famílias, tão leais. Nossas Irmãs de Santa Cruz, que sempre estão conosco, e os nossos jovens. Que vocês sejam sempre... Obrigada por todo o interesse que trazem para a nós.

A segunda palavra é “fique”. Fique conosco que, com vocês, vamos transformar a nossa pequena comunidade, que vai irradiar num lugar mais justo e mais fraterno. Porque acreditamos em Deus. Acreditamos nessa mensagem de Jesus Cristo. Acreditamos nos pés, nas mãos, nas bocas, nos corpos de vocês, que estão junto conosco. Então, muito obrigada. E fiquem conosco. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Pode aplaudir. Vamos aplaudir. Pode aplaudir de pé, inclusive. (Palmas.)

Depois de ouvir essas bonitas palavras da Irmã Angela, agora vamos ouvir o Luiz Carlos dos Santos. O nosso querido e popular Carlinhos. (Palmas.)

 

O SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS - É a primeira vez que falo aqui. Posso quebrar o protocolo? Quero chamar aqui a Mara Caloi Gomes. Por favor. Quero chamar também as cinco educadoras que iniciaram o projeto. Por favor. A Cleusa não está. Está de recuperação. Mas, por favor, a Nilzete, a Rosa, a Fátima. Por favor. A Cida.

 

O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Carlinhos, aliás, depois a gente vai tirar uma foto com todo mundo. Então eu já pediria para o pessoal da galeria vir aqui. Já estamos terminando. Pode descer todo mundo aqui. O Sílvio está lá e vai conduzir vocês. Quem mais, Carlinhos? Vai chamando. Pode chamar. Pode subir aqui. Fica do lado dele.

 

O SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS - Rosa? Cadê a Rosa, gente? Cadê a Rosa? Cadê o pessoal, Nilzete? Vamos esperar eles descerem. (Palmas.)

Cadê as educadoras? Chegou? Cadê a Cida?

 

O SR. PRESIDENTE - ENIO LULA TATTO - PT - Está chegando, Carlinhos. Está chegando. O pessoal está tirando bastante foto, filmando.

Não se preocupem, não. Depois a gente vai ter todo o filme, tudo gravado. E a gente vai mandar para o Projeto Sol. Fica à disposição de todos vocês. Todas as famílias, todo o pessoal que está participando aqui, para guardar de lembrança. Inclusive as fotos também. Carlinhos, a minha filha disse que está assistindo ao vivo, a Carla. Um beijo, Carla. Quem mais está faltando, Carlinhos? (Voz fora do microfone.) Ah tá. Uma salva de palmas para essas educadoras. (Palmas.)

 

O SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS - Tem a Leninha e o Renan também.  Mas eles entendem que essas cinco educadoras... A Cleusa fez uma cirurgia no joelho e está de repouso. Mas essas cinco educadoras cresceram com a gente. Desde 1992 transformaram o Projeto Sol no que ele é hoje. Então não é justo, na minha opinião, elas também não serem homenageadas.

Porque todas as crianças... Tem jovens aqui que estão caminhando e já participaram do projeto. Sabem da caminhada que foi junto com essas educadoras, de batalhar, de ir na feira pedir coisas na feira para cozinhar. Toda aquela história, de dificuldade e dificuldade. Então tem que ser a minha homenagem da Irmã Angela e todos vocês para essas educadoras aqui, porque elas fizeram o projeto ser o que é hoje. A Mara, todo mundo já conhece da nossa caminhada.

Eu também não podia deixar de agradecer profundamente o Projeto Sol. Não podia deixar de agradecer profundamente. Porque no momento que a gente, trabalhando e trabalhando, chegou atrás da Mara, um grupo de pessoas atrás da Mara, ela trouxe um grupo para perto da gente, que nos organizou totalmente.

Documentos que não tínhamos, CNPJ, registro em carteira para essas educadoras, para mim e para quem está agora trabalhando no Projeto Sol. Não um salário. Mas um salário bom para que a gente pudesse continuar esse trabalho. Porque a gente realmente nunca pensou para onde a gente ia, nem aonde a gente ia chegar.

Então quero dar a palavra para a Mara também. Porque a Mara tem um alicerce profundo nesse Projeto Sol também. E o meu grande agradecimento para ela também, e para o esposo dela, o Cláudio, que não está presente no momento. Mas é momento de agradecer, é momento de... Vocês sabem como gosto de falar. Mas não vou falar muito. Então vou pedir para a Mara umas palavras. (Palmas.)

 

A SRA. MARA CALOI - Oi gente. Então, também tenho muito a agradecer. Que encontrei no Projeto Sol e no trabalho de todos eles, de todos nós, uma razão de vida. Há 30 anos estamos caminhando juntos.

Mas eu gostaria de citar uma pessoa muito importante no meio empresarial que falou assim: “Me tirem todas as máquinas.  Me tirem todas as fábricas. Me tirem todos os alicerces. Mas me deem o meu pessoal, e construo de novo.” Então, se a gente não tiver sede, se a gente não tiver mais nada, mas só tiver essa turma, a gente constrói tudo de novo, com toda essa turma aqui. Então, obrigada, gente. (Palmas.)

 

O SR. LUIZ CARLOS DOS SANTOS - Obrigado, todos da Mesa. O Arselino. (Voz fora do microfone.) Enio Lula? É Enio. Excelentíssimo Enio, Arselino, Nilto, vocês estão lá. Vocês estão na Casa do povo. Tanto na Câmara Municipal como aqui na Assembleia, como lá na Câmara dos Deputados. Vocês sabem que já temos uma geração de jovens e adolescentes perdidos. Infelizmente, sempre digo isso. É difícil dizer isso?

É difícil dizer isso. Tem uma geração de jovens, adolescentes, crianças, perdidas. Que não vão ter mais caminho, não vão ter mais para onde andar. Não vão para onde mais chegar, senão à violência. Num encontro que tivemos com o Lula, não sei se vocês lembram disso, falei para o Lula que a violência é muito perigosa, e ela vai destruir a democracia.

A violência destrói a democracia. Do jeito que está, virou uma violência política. É uma violência organizada. Não é mais a violência do Joãozinho. Não é mais a do Pedrinho. Não é mais roubando carteira. Não é mais o trombadinha. É uma violência organizada. E organizada em partidos.

Em partidos. Porque não são só um partido, a violência. São vários partidos da violência, que dominam esse estado de São Paulo, dominam as penitenciárias, dominam as comunidades, estão dominando o País. Todos estão perdidos. Até o Poder Público está com medo de enfrentar. O perigo que a gente corre é o perigo que a gente já corre na periferia: de ser controlado pelo tráfico, ser controlado pelas drogas, ser controlado pela prostituição, ser controlado... tudo pelo poder econômico desse pessoal.

O silêncio na periferia está cada vez maior. Então tenho que falar isso daqui. A turma fica falando para eu não falar essas coisas. Mas tenho que falar isso na Casa do povo.

Tenho que falar dos jovens que estão sofrendo.  A escola está péssima. As áreas de lazer não existem. Cultura? Está bem distante desse povo. Acredito que foi a primeira vez que muitos aqui viram uma orquestra ao vivo. Então estamos na Casa do povo. E quero dizer que, lá fora, o povo está dominado.

E a gente, desde 78 e desde, principalmente, 92, com o Movimento Atitude Pela Paz, a gente está lutando contra essa correnteza. Mas, eu vou dizer para vocês: essa correnteza está levando a gente, infelizmente.

Então, eu peço para vocês, no Congresso, o Nilto, aqui na Assembleia, na Câmara, Arselino, vocês, aí, tudo, que estão, não sei, lutem. Lutem, porque nós lutamos tanto contra o desarmamento, lutamos tanto contra a violência, e agora nós temos um presidente que fala que é armar a população.

Quer dizer, nós já temos uma geração que já está perdida, que já está agindo. E já está vindo uma outra geração aí, que está perdida e que vai chegando, que está sendo mão de obra, mão de obra para tudo o que não presta, para as drogas, para a violência, para a prostituição, para os meios de comunicação com suas músicas, com seus funks, levando o povo, as crianças, para certas danças, certa nudez, para certa violência, enfatizando as drogas.

Então, nós ainda temos uma geração perdida que já está agindo, agora. Mas nós temos outra, que está vindo. Então, lutem. Vamos todos nós lutarmos pela não violência, vamos lutar contra o armamento. Nada de arma, gente. O que o governo quer que nós façamos é que nós façamos justiça com as próprias mãos.

E justiça com as próprias mãos, a violência, eu sempre falei, todo mundo aqui sabe, eu sempre falei: a violência nada mais é do que pobre matando pobre. É pobre matando pobre. Cinquenta e sete mil e trezentas pessoas foram assassinadas ano passado.

Não tem uma guerra que mata isso num ano, que está atualmente de guerra. Nós temos uma guerra que está ocorrendo na periferia. Porque, principalmente, os que são assassinados são os jovens adolescentes pobres, de preferência também negros, moradores da periferia, e de 15 a 29 anos.

O pobre tem que parar de lutar com pobre; o pobre tem que parar de brigar com pobre, tem que parar de matar pobre. Porque, se vocês veem, é pobre matando pobre. (Palmas.)

E, os donos do poder estão organizados. Os donos do poder estão organizados. E se organizam. Se organizam para o pobre não levantar a voz, não fazer isso que eu estou fazendo aqui agora.

Mas, tem muitos grupos aí que estão interessados nessa violência toda. Enquanto é pobre matando pobre, gente, está tudo bem para eles. Está tudo bem. Eu já falei, a violência só incomodou quando atravessou a fronteira social, quando saiu da periferia e começou a atingir Moema, Paulista, ou as zonas mais ricas da cidade.

Aí, incomodou. Mas, enquanto estava na periferia... A periferia é senzala, gente. A gente só vai tomar chibatada. A gente só toma chibatada na periferia, vocês sabem disso.

E, quais são essas chibatadas, gente, o tronco, qual é isso? É uma falta de investimento em educação, é uma falta de investimento em lazer, uma falta de investimento em esporte e cultura, e de preparar o jovem para o emprego.

Qual jovem da periferia hoje dá para disputar um emprego, dá para disputar uma posição social com todos aqueles jovens que são preparados, principalmente, milhares de jovens preparados nos colégios de primeira geração, de primeiras tecnologias, e preparados para o futuro?

Os nossos jovens, o futuro dos nossos jovens: estão sendo preparados para serem balconistas, para serem borracheiros, para ser... Não que eu estou... Mas, nós temos que tomar outras posições, não ficar no subemprego. Porque para os nossos adolescentes, para os nossos jovens, sobram subemprego.

Nós temos que conquistar o espaço. A chibatada que nós estamos levando está doendo muito, só que nós não percebemos. Nós não percebemos.

Então, é isso, gente: vamos parar de pobre ficar brigando com pobre, vamos parar de pobre ficar invejando pobre por causa de um carrinho, por causa que construiu. A gente está com migalha, gente. A gente vê situação em que o pobre fica correndo fofoca, fica correndo inveja, porque alguém está construindo em cima de uma laje mais um pedacinho de terra lá, de um quartinho; porque o outro comprou um carrinho; porque o outro...

Então, a gente fica ali. Nós temos que sair do nosso mundinho e ver mais longe, ver aqui, olha, Assembleia Legislativa, ver aqui, Câmara Municipal, ver lá, Câmara dos Deputados. Precisa ver que em Brasília...

Nós não somos os nossos inimigos; nós não podemos ser os nossos inimigos. Nós temos que lutar, nós temos que saber disso, temos que ter consciência. E, a palavra que eles não querem que nós tenhamos é "consciência". Porque o pobre consciente vai lutar; o pobre consciente não vai votar em Jair Bolsonaro, nunca. Nunca. (Palmas.) Nunca.

Um pobre consciente não vai pôr ladrão lá em Brasília, não vai pôr uma família que quer ser os reizinhos, os reizinhos do Brasil. Nós somos uma democracia, nós somos uma república. Nós não somos um reinado.

Agora, vem para fazer o bem, eu tenho que pensar nos meus filhos, tenho que pôr meus filhos nos melhores lugares? Consciência, gente, palavra certa. Nós temos que ter consciência.

A consciência: o que é violência. A consciência: o que é chibatada hoje. A consciência: por que nós não temos direitos? Nós temos direitos, mas por que esses direitos não chegam até nós?

Nós vivemos de caridade. Nós vivemos de caridade. Muitas famílias vivem de doação de cesta básica, vivem de doação de cobertor. Vivem de doação, é errado. Nós não temos que viver de doação; nós temos que ter emprego, nós temos que ter dignidade, todos nós, cada um de nós, ter a própria condição de se sustentar, de sustentar a sua família, os seus filhos.

Então, eu peço para vocês, gente: vão tomando consciência. O nosso presidente não sai da Rede Record e não sai da TV Silvio Santos lá, SBT. São os maiores apoiadores do presidente. São os maiores apoiadores do presidente.

Vamos ver o que está nas entrelinhas, gente, o que está nas entrelinhas, tudo isso. Vamos ver o que está acontecendo nas entrelinhas.

Então, é só isso que eu peço para vocês: consciência. Consciência. O que às vezes vem como um benefício está vindo com chibatada. É uma chibatada. Vamos parar. Vamos agitar essa senzala. Vamos agitar essa senzala. Vamos lutar, e não vamos ficar contentes com uma cesta básica, não. Não vamos ficar contentes com uma doação de cobertor, não.

Vamos ficar felizes com a nossa dignidade. A nossa dignidade ninguém pode tirar. Se alguém tira a dignidade de um povo, o povo está dominado. A dignidade tem que ser sempre a mais forte dentro do coração da gente.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ENIO TATTO - PT - Obrigado, Carlinhos. Só para vocês terem uma ideia, todo mundo assistiu, o Carlinhos acabou de colocar, todo mundo assistiu aí nas últimas duas semanas, em dois supermercados diferentes, tortura.

As pessoas chicoteando outras, e, na verdade, ali, o que que era? Era pobre batendo em pobre. Não era isso? As duas. Um porque roubou uma barra de chocolate; e outro porque, se não me engano, roubou um pedaço de carne. E aí, vocês viram a cena.

Como o Carlinhos colocou: um pobre batendo num outro pobre. Mas, agora, estava batendo num outro pobre por quê? Para defender quem? Para defender o rico. Para defender o rico. Para defender o patrão.

Então, muito oportuno, Carlinhos. Parabéns. Quem te conhece sabe muito bem de tudo o que você está falando e de tudo o que vocês pregam no Projeto Sol.

Eu queria lembrar de mais uma frase sua que eu ouvi quando eu cheguei em São Paulo, quando você lançou o Tome Uma Atitude Contra A Violência Zona Sul, e ele chamava atenção, o Arselino sabe muito bem disso: que enquanto a violência estava para lá dos rios, Pinheiros e Tietê, não tinha preocupação das elites, das autoridades, porque a violência naquela época era mais na periferia.

E ele denunciava e chamava a atenção a respeito disso. E ele falava: “O dia que a violência passar do outro lado do rio, aí vai ser tarde para resolver o problema.” E hoje o que está acontecendo é justamente isso. Não adianta mais ter arame farpado, ter muro alto, não adianta mais ter guarita com guarda, não adianta mais ter câmeras. Não está adiantando mais fazer nada disso.

Se tivesse ouvido o que o Carlinhos falou há 30, 40 anos atrás, e quando ele falava de consciência, e quando falava de educação, não precisava estar gastando esse dinheiro, que é o segundo maior orçamento do estado de São Paulo, hoje é aplicado em Segurança Pública, só para vocês terem uma ideia. Não podia deixar de falar isso, mas como é protocolar, eu também fiz um pequeno relato aqui sobre tudo que eu conheço e que me mandaram aqui sobre o Projeto Sol.

Então é a última parte das nossas comemorações. Saúdo os diretores, funcionários, colaboradores, a juventude assistida pelo Projeto Sol e seus familiares, que nos dão a honra de suas presenças nesta sessão solene. Toda árvore que cresce e frutifica tem origem numa semente. A semente que deu origem ao Projeto Sol foi plantada há 40 anos por quatro mãos.

Ela foi plantada num barraco de madeira na Favela 20, na região em que eu moro, a Capela do Socorro. Ao mesmo tempo em que comemora a sua história e muitas conquistas, o Projeto Sol também sinaliza a esperança de um futuro melhor para muitos jovens da periferia.

Há 40 anos, a arte vem sendo utilizada pelo Projeto Sol como ferramenta para o desenvolvimento de competências em crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Também promove o pensamento reflexivo, a criatividade, a argumentação, a solução de conflitos, o trabalho em equipe, a amizade e o diálogo.

Quem conhece a periferia sabe da falta de investimentos em lazer, esporte, cultura e educação. Essa carência é uma das grandes responsáveis pela enorme dificuldade das camadas mais pobres de nossa população.

As condições sub-humanas de habitação, a falta de saneamento, de equipamentos públicos e a precarização de nossas escolas, entre outros quesitos sociais, influenciam de maneira negativa a formação dos nossos jovens. O espaço que resta à nossa juventude são as ruas, quase sempre hostis às crianças e adolescentes. Nesse ambiente de periferia da zona sul da capital veio à luz o Projeto Sol.

Luz essa que proporciona atividades de esporte, cultura, lazer, educação e cidadania às crianças e jovens da região. Isso tudo para prevenir o uso de drogas, a violência e a delinquência. O Projeto Sol oferece biblioteca, local sagrado onde o saber é aprimorado.

Oferece a prática de artes plásticas, que aproxima a nossa juventude do mundo das cores. Oferece também teatro para alargar a percepção do mundo em que vivemos; dança para o conhecimento do corpo; esporte para valorizar o espírito coletivo; atividades externas para o contato com as outras pessoas.

A exposição para revelar o talento das crianças e adolescentes assistidos pelo Projeto Sol. Durante as duas semanas, encerrando-se hoje, a Assembleia Legislativa recebeu a linda exposição sobre os 40 anos do Projeto Sol. Muitas das obras ali expostas foram exibidas no vídeo apresentado no início desta sessão solene.

Elas demonstram a qualidade dos talentos que existem em vocês jovens e que, de graça e graças à oportunidade oferecida pelo Projeto Sol, são aperfeiçoados. Se não fosse o Projeto Sol, muitos talentos ficariam à sombra. Mas ao contrário, esses talentos são desenvolvidos e fazem com que os participantes do projeto brilhem em diversos setores da sociedade e até mesmo no próprio projeto, quando se tornam educadores de outros jovens.

Poderia falar muito mais sobre o Projeto Sol. Creio, no entanto, que é o momento de destacar as ações das mãos que plantaram a semente há 40 anos. São as mãos da minha amiga Irmã Angela Mary e do Luiz Carlos dos Santos, o Carlinhos, meu Carlinhos. A Irmã Angela Mary, freira norte-americana nascida em Chicago, está no Brasil desde 1965. Foi professora e diretora do Colégio Santa Maria, pertencente à Congregação das Irmãs da Santa Cruz.

Formada em balé e permanentemente se capacitando em diversas modalidades artísticas, foi através dessas ferramentas que começou a atrair as meninas e os adolescentes da periferia para a dança. Em 1978, junto com o Carlinhos, iniciou um trabalho de atendimento e recuperação de jovens drogados no bairro da Capela do Socorro, zona sul de São Paulo.

Após quase cinco anos constatando a extrema dificuldade de recuperação dessas pessoas, o trabalho passou a dar destaque à prevenção às drogas e à violência. Em 1982, compraram um barraco na Favela 20, da Cidade Dutra, como a Irmã falou. Iniciou-se um programa educativo do Centro de Orientação e Educação à Juventude, que foi chamado de Projeto Sol e impacta mais de três mil famílias.

Desde então, o projeto liderou o desenvolvimento da área. Os visitantes podem observar a importância do projeto simplesmente andando nas ruas estreitas da Comunidade 20. Aproximando-se do local onde se desenvolve o projeto, é fácil ver como a qualidade de vida do entorno e dos moradores é significativamente melhor.

Após mais de 40 anos de existência, o Projeto Sol mostra que a pedagogia baseada na arte de educação, na cultura e nos esportes, no resgate da dignidade e autoestima do indivíduo, fundamentada no compromisso com a comunidade e na valorização da família, resulta na transformação social do ser humano.

Como diz nossa homenageada: “Para educar é preciso estar presente, constante e persistentemente.” As outras mãos que plantaram as sementes são as de Luiz Carlos dos Santos, o Carlinhos. É natural de São Paulo capital e é sociólogo. Ele falou que é meio sociólogo porque teve um dos cursos que ele não conseguiu terminar.

Uma de suas principais conquistas foi a de criar e dirigir junto com a Irmã Angela o Centro Educacional e Cultura - Projeto Sol, um verdadeiro farol de luz para crianças e jovens contra as ameaças contemporâneas vivenciadas nas grandes cidades. Enquanto a Irmã Angela atrai as meninas e adolescentes da periferia para a dança, Luiz Carlos organizava os meninos para jogarem futebol.

E assim crescia esse projeto, que oferece segurança para as diversas famílias que podem deixar suas crianças e adolescentes durante o horário de trabalho em um local agradável. Local este onde recebem refeições, educação de alta qualidade e participam de atividades esportivas e culturais.

Junto com a Irmã Angela, Carlinhos tem uma ação importante e arriscada na mediação de conflitos e em defesa dos interesses das comunidades que atua. Durante esses 40 anos, vários grupos de jovens estudantes fizeram parte do Projeto Sol. Atualmente, alguns deles trabalham ou são voluntários, desenvolvendo, assim, a comunidade e os benefícios que uma vez receberam.

Por isso encerro lembrando que no dia de hoje o Projeto Sol brilha com muita justiça e louvor nesta sessão solene aqui na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Viva o Projeto Sol, viva o Projeto Sol. (Palmas.) Podem aplaudir, podem ficar de pé aplaudindo.

Antes de encerrar, só queria lembrar para vocês que ontem a gente, se estivesse vivo, a gente estaria celebrando, Irmã Cecília, Irmã Daiane, estaríamos comemorando 100 anos do nosso querido educador que inspirou, com certeza, todos nós e o Carlinhos e a Irmã Angela: Paulo Freire, que a educação dele era a educação da transformação. (Palmas.)

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e a todos e todas que, com as suas presenças, colaboraram para o êxito desta sessão solene. Não posso deixar de agradecer à Alana, à Val, à Tatiane, ao Canova.

Em nome de vocês, agradecer todos os assessores, todos os funcionários da Casa, os jornalistas que cobriram esta sessão e se esforçaram e ajudaram o Projeto Sol, toda a direção, junto com a Irmã Angela e o Carlinhos, da exposição que eu convido, depois, para vocês visitarem, já que hoje é o último dia do Projeto Sol.

Agradecer a presença de todos vocês. Quem é corintiano aqui? Quem é palmeirense? Quem é do São Paulo? Agora como todo mundo vai levantar a mão, porque agora é o time dos times. É o Santos Futebol Clube. Que bonita!

Nada havendo então a tratar, encerrada a sessão, convido a todos vocês, aqui atrás no salão tem um pequeno coquetel e convido todos vocês a participarem.

Antes, porém, chamar todo mundo aqui na frente para a gente tirar uma foto muito bonita, que essa foto vai entrar na história. Vai ser uma foto que vai ser feito um quadro e vai ser exposto lá no Projeto Sol e em todas as repartições. Muito obrigado a todos vocês.

Está encerrada a presente sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 01 minuto.

 

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