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12 DE DEZEMBRO DE 2019

76ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidência: CAUÊ MACRIS

 

RESUMO

 

ORDEM DO DIA

1 - PRESIDENTE CAUÊ MACRIS

Abre a sessão. Coloca em discussão o PLC 80/19.

 

2 - PROFESSORA BEBEL LULA

Para comunicação, discorre acerca da remuneração recebida por professores do estado de São Paulo. Critica o governador João Doria.

 

3 - TEONILIO BARBA LULA

Discute o PLC 80/19.

 

4 - MONICA DA BANCADA ATIVISTA

Para questão de ordem, indaga a respeito da legitimidade da discussão da presente matéria, em razão de liminar que paralisara o trâmite da reforma da Previdência estadual, nesta Casa.

 

5 - PRESIDENTE CAUÊ MACRIS

Afirma que deve responder em momento oportuno.

 

6 - BETH LULA SAHÃO

Discute o PLC 80/19.

 

7 - DOUGLAS GARCIA

Para comunicação, repudia moção de louvor ao ditador Kim Jong-un, realizada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, por iniciativa do PSOL. Lembra ação de Adélio Bispo contra o presidente Jair Bolsonaro.

 

8 - PRESIDENTE CAUÊ MACRIS

Solicita à plateia comportamento regimental.

 

9 - ERICA MALUNGUINHO

Discute o PLC 80/19.

 

10 - DR. JORGE LULA DO CARMO

Discute o PLC 80/19.

 

11 - PRESIDENTE CAUÊ MACRIS

Encerra a discussão.

 

12 - CARLÃO PIGNATARI

Solicita o levantamento da sessão, por acordo de lideranças.

 

13 - PRESIDENTE CAUÊ MACRIS

Defere o pedido. Levanta a sessão.

 

* * *

 

- Abre a sessão o Sr. Cauê Macris.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB – Presente o número regimental de Sras. Deputadas e Srs. Deputados, sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.

Esta Presidência dispensa a leitura da ata da sessão anterior. Ordem do Dia.

Discussão e votação do Projeto de lei Complementar nº 80, de 2019. Para falar contra, o nobre deputado Barba.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL LULA - PT – Pela ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB – Pela ordem, deputada Bebel.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL LULA - PT – Para fazer uma comunicação.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB – Pois não. V. Exa. tem a palavra.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL LULA - PT – PARA COMUNICAÇÃO – Bem, mais um ataque aos professores. Não bastasse os servidores públicos com a Previdência.

Aliás, é importante, eu chamei a atenção aqui há uns dias que a tentativa do governo seria isolar categorias do serviço público oferecendo algumas saídas para outros setores.

Bem, não vou colocar meu posicionamento, isso cabe. Mas, nós sabemos como fazer a luta. Essa luta não tem hora marcada para acabar. Essa que é a questão. E nós vamos enfrentar.

Quem aguentou 92 dias de greve, sabe perfeitamente do que nós somos capazes de fazer. Mas, não bastasse isso, este governo, que vergonhosamente paga no estado de São Paulo, abaixo do piso salarial profissional. Colocou hoje, soltou um decreto instituindo um bônus, uma bonificação, para chegar a uma parte da categoria até o valor do piso salarial profissional nacional.

Sabe por quê? O Governo do Estado de São Paulo consegue pagar para um professor de Educação Básica 2, por 40 horas, abaixo de R$ 2.550,00, é isso, deputado, R$ 2.550,00. Consegue pagar R$ 1.918,00, consegue pagar R$ 1.534,00, dependendo da faixa e do nível que está, e consegue pagar R$ 787,00.

Essa é a vergonha desse governo, que deveria tomar vergonha na cara, e valorizar a categoria do Magistério, e eu estou de alma lavada, deputado Emidio, com a conquista, mais essa de hoje, e vamos conseguir lutar muito mais.

Muito obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Com a palavra o deputado Barba.

 

O SR. TEONILIO BARBA LULA - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Cauê Macris, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, público que nos acompanha aqui na galeria, de maneira firme, todos os dias, nessa luta contra esse projeto.

Um é a PEC 18, o outro é o PLC 80. Então, quero, desde já, abrir aqui minha fala, primeiro cumprimentando vocês, todas as entidades sindicais representantes do funcionalismo aqui no estado de São Paulo, parabenizá-los pela organização e pela luta.

 Em função dessa luta e dessa organização, construída com minha amiga, companheira, deputada Bebel, presidente da Apeoesp, e Fábio, assumindo a presidência interina. Não é, Bebel? Junto com as outras entidades sindicais, têm conduzido essa luta com muito brilhantismo. Eu quero parabenizar vocês por essa luta.

Quero aqui me dirigir ao Sargento Neri, coronel bombeiro Nishikawa, coronel Conte Lopes, Major Mecca, Coronel Telhada, as pessoas da força de Segurança Pública. Nós vamos precisar muita ajuda de vocês para derrotar esse projeto, para fazer a negociação que atenda as categorias, porque, no momento, o governo pode sinalizar que resolve o problema da Polícia Civil, mas não resolveu o problema do restante do funcionalismo público.

Isso é uma tática governamental, para poder ir minando e reduzindo o tamanho. Quero me dirigir aqui ao companheiro deputado Emidio de Souza, porque nós combatemos um bom combate, na tribuna e em todos os meios necessários, dialogando com você, com a bancada. Você fez um trabalho excelente no meio jurídico.

Nós conseguimos uma coisa que não é pouca coisa. Nós conseguimos uma liminar que veio do órgão especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. O órgão especial é composto por 25 desembargadores, 12 por antiguidade, 12 por eleição e o presidente, que hoje é o Calças. Não lembro o primeiro nome dele, mas o sobrenome é Calças.

Então, essa é a composição. Quando a gente consegue essa liminar, o presidente do Tribunal de Justiça não pode cassar essa liminar. Só quem pode rever essa liminar é o Alex Zilenovski, ou o colegiado do órgão especial, que teria que ter colocado na pauta até a terça-feira, às 19:30, e não foi colocado.

Portanto, esgotou-se o prazo em São Paulo. O PSDB entrou com agravo de instrumento, ele recebeu o agravo, e nos deu 15 dias para poder responder, a bancada, através do deputado Emidio.

Então, deputado Emidio, quero parabenizá-lo por essa ação muito bem preparada e elaborada com apoio da bancada do Partido dos Trabalhadores e, com certeza, da oposição, do PSOL e do PCdoB, e, com certeza, dos deputados que também estão contra. Os deputados que também estão contra o método que foi apresentado aqui, com certeza, também gostaram que essa liminar fosse feita.

E aí, ontem, ao ser despachado que tínhamos 15 dias para responder, o PSDB, através do presidente da Casa - representando o presidente, e não os deputados -, entrou com uma liminar às 13:21 no STF. Às 13:21, junto ao Toffoli.

Nós atravessamos uma petição às 15:41 para poder contestar e estão dados, agora, cinco dias a partir da publicação, que é eletrônica, para a Casa responder. Mas também para o Tribunal de Justiça de São Paulo responder.

Nós estamos olhando todos os cenários possíveis, se cai amanhã, se não cai. Achamos que não cai. O governo pode achar que cai. Cada um tem a sua torcida. Não é “Fla-Flu”, mas é uma questão importante, porque é a vida do funcionalismo público do estado de São Paulo, que aqui, desta tribuna, foi ofendida por um deputado.

Vou me recusar a citar o nome dele. Foi ofendida de maneira muito grave desta tribuna. Mas hoje estou com espírito natalino, estou um pouco mais tranquilo, mais sossegado o tempo todo.

Então, vamos trabalhar para que possamos ter tempo. Foi o pedido que fizemos o tempo todo, para que esse debate não fosse feito este ano, que fosse jogado para o ano que vem, para ter tempo de convocar audiências públicas.

Vi aqui ontem o deputado Caio França, que fez aqui um debate de 15 minutos brilhante. Quero parabenizar o deputado Caio França. A deputada Beth acompanhou, ele foi brilhante aqui da tribuna sobre essa questão do PLC e da PEC. Foi brilhante.

Ele dizia isso: “Olha, precisamos de tempo”. Ele dizia que o Samuel Moreira, que é do PSDB, que foi relator da reforma da Previdência, fez dez audiências públicas no debate da reforma da Previdência.

E aqui, no estado de São Paulo, vamos fazer apenas uma, coordenada pelo Sargento Neri. Foi coordenada pelo Sargento Neri de maneira brilhante também, ouvindo todo mundo com muita paciência.

Então, deputado Barros Munhoz, você que é do PSB, o Caio França fez um debate brilhante aqui ontem. Eu o cumprimentei pela lucidez do debate. Eu faço um debate mais duro porque eu tinha que dar uma trombada no presidente, ir trombando com ele o tempo todo, porque eu precisava disso.

Falar: “Presidente, você não precisa discutir isso agora, você não precisa assumir esse desgaste”. E eu não disse isso a ele aqui desta tribuna, disse isso a ele - e ele sabe disso - particularmente. Nós podíamos esperar que esse debate fosse conduzido com prazo, espaço de tempo.

Outra coisa melhor ainda: com base no que foi aprovado em Brasília... Nós, do PT, do PCdoB, do PSOL, da Rede, do PSB e do PDT fomos contra, mas reduzimos o tamanho do dano que o Paulo Guedes queria criar com a reforma da Previdência. Reduzimos muito! Cada dirigente sindical, cada entidade sindical pode sentir que foi reduzido, porque não saiu do tamanho que o governo queria.

Então, esse debate que estamos fazendo aqui, deputada Beth - você que é uma companheira que está indo para o quinto mandato, se não me engano, quarto ou quinto, e que passou por outras reformas aqui -, é um debate importante, é um debate em que é importante a gente ouvir as entidades para tentar entender o que está acontecendo. E aí, infelizmente, o governo João Doria não queria.

O João Doria, João Doria Agripino, não queria, nem o presidente da Casa queria, mas nós estamos chegando a um momento em que as coisas, deputado Giannazi, começam a entrar por um caminho que todos os deputados aqui presentes, e as deputadas, vão ter que parar um pouco para refletir.

Tem gente dizendo: “Olha, o debate que tinha que ser feito na Comissão de Constituição e Justiça sobre a PEC não foi feito”. Esse é o despacho do desembargador Alex Zilenovski, não foi feito o debate de conteúdo, não foi feito o debate de mérito.

Foi usado o relator especial, cometeram um erro gravíssimo, porque usaram o mesmo relator da CCJ para ser relator especial, e o Regimento, no seu Art. 61, parágrafo 4º, não permite isso, ele veda isso.

Então, a pressa vai ajudando a cometer erro infantil, e nós judicializamos. Eu avisei para o presidente desta Casa que nós iríamos judicializar, deputada Bebel, eu avisei. Como líder da bancada, eu falei: “Nós vamos fazer todo o tipo de obstrução aqui, desde ocupação do plenário, desde as mobilizações, desde pedir para cada um ir ao gabinete dos deputados, mas também a judicialização”.

E estamos judicializando mais duas questões que nós achamos importantes. Uma é o erro que o deputado Wellington Moura cometeu ontem, que o deputado Paulo Fiorilo ficou surpreso.

Não é surpresa, isso é mania do deputado Wellington Moura, querer fazer, atropelar, exercer o presidencialismo na Comissão de Finanças, Planejamento e Orçamento. Ele já fez isso lá atrás, não é?

A outra é que nós achamos que não pode caminhar de maneira concomitante a PEC 18 e o PLC. Nós também estamos judicializando isso. Não tem moleza, oposição aqui é para fazer isso, oposição aqui é para judicializar. Peço às deputadas e aos deputados...

O deputado Carlão, deixa eu ver se ele está presente... Ele é muito habilidoso, ele é habilidoso, é esperto. Não é esperto de esperteza, ele é esperto na política, gente, para vocês entenderem o que eu estou dizendo aqui. Ele tem muita habilidade. Ele chega para uma deputada ou um deputado e fala assim: “Fica tranquilo que nós vamos resolver esse problema, eu vou negociar com o líder da bancada do PT”.

Estou aqui te elogiando, viu, deputado Carlão? Você estava ouvindo ali do corredor com certeza. Não estava? Eu estava dizendo aqui que você é um deputado muito esperto, experiente.

Não é esperto de esperteza, é esperto na questão política, de saber fazer negociação, de saber pressionar os deputados da base aliada. Você faz isso com maestria, sabe? Ele chega para uma deputada e fala: “Não esquenta que o teu problema vai ser resolvido, que eu vou negociar com o PT”.

Não é com o PT, a negociação é com todos os deputados e deputadas. Eu posso citar aqui a deputada Janaina, eu vi o esforço dela. Eu tenho uma divergência profunda contigo, você sabe disso, mas eu vi um esforço, a sua vontade de tentar ajudar a defender algumas questões - várias, não foi só uma, várias questões. Eu assinei, sabe por quê? Não que eu concorde com a deputada Janaina, mas poderia ser uma saída naquele momento.

Eu só fui entender depois que o deputado Gilmaci Santos, relator especial, rejeitou de 1 a 151 emendas, inclusive as suas, mais o substitutivo nosso. Até agora ele não teve coragem de subir na tribuna, e ele é da base aliada do governo.

O relatório veio pronto de lá para defender o parecer dele. Do mesmo jeito foi o deputado Marcio da Farmácia, que eu quero ver subir nesta tribuna para defender seu parecer.

 Eu tenho certeza de que, se eu fosse da base do governo e assinasse um parecer, mesmo que ele viesse pronto, deputado Barros Munhoz, lá do Palácio dos Bandeirantes - que é de lá que ele vem pronto, ou da Presidência, ou do gabinete do líder -, eu subiria aqui na tribuna e pediria 30 minutos para fundamentar e defender.

E os relatores não têm coragem. O deputado Heni, relator especial, também não teve coragem para subir aqui e fundamentar a defesa do seu parecer, do seu relatório.

É muita subserviência. É muita submissão, é muito joelho para se gastar, deputada Erica Malunguinho. Não tem problema. “O relatório está pronto?” “Está.” “É isso que eu tenho que defender? Está bom.” Pega o relatório, é uma tese, um parecer que vira um voto.

Olha o erro que comete, deputado Paulo Fiorilo, olha o erro que comete o deputado Wellington Moura. O parecer de qualquer relator vira um voto depois. Se ele for aprovado. E o voto em separado, se for acatado, vira um parecer. E vira um voto. Ele não poderia, jamais, tomar a decisão de proibi-lo de ler o seu voto em separado lá nas contas, lá no PLC, que foi o que ele fez.

Queria fazer argumentação técnica. Essa decisão foi tomada pelo presidente desta Casa, chamado Barros Munhoz, lá em 2012, de que só pode ser dispensada a leitura de qualquer voto com um acordo de todos os membros da comissão. E nós já fizemos vários acordos para fazer isso. Suspende e disputamos no plenário.

Não é verdade, deputado Barros Munhoz? Olha o que quis fazer aqui o deputado Estevam Galvão, que respeito muito. Quis fazer um açodamento ao voto em separado, fazendo uma questão de ordem de que tem que ser revista a posição de 2012, tomada pelo Sr. Barros Munhoz, que era o presidente desta Casa, mas também pelo senhor, deputado Cauê Macris, presidente em 2017, quando eu fiz uma questão de ordem.

Porque, antes, toda a bancada do PT lia o voto em separado e aí o deputado Wellington Moura proibiu. Eu fiz uma questão de ordem e o senhor afirmou que não, pode ler o voto em separado, mas apenas os membros titulares e suplentes da Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento.

Então, nós temos que tomar cuidado, gente. O açodamento é muito grande e daqui a pouco podemos perder o nosso direito de falar.

Muito obrigado pela tolerância, presidente. Um abraço a todo mundo.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL - Questão de ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Pois não. Só, antes de dar a questão de ordem para V. Exa., já convido a deputada Beth Sahão para falar contra.

Questão de ordem, três minutos.

 

A SRA. MONICA DA BANCADA ATIVISTA - PSOL – PARA QUESTÃO DE ORDEM - Eu vou entregar agora para o senhor, por escrito, mas também quero estender esta questão de ordem para a reflexão de todos os líderes partidários aqui presentes, porque, considerando-se que a PEC de alteração da reforma da Previdência está parada na Justiça e que o presente PLC, que estamos discutindo hoje, faz menção a inúmeros artigos de uma constituição que ainda não existe, estamos discutindo um projeto flagrantemente não amparado por uma constituição.

É legítimo e regimental que a Assembleia Legislativa esteja discutindo um projeto que, neste momento, é latentemente inconstitucional por não ter texto constitucional que o ampare?

Dois, não seria prudente e correto que esta Casa Legislativa determinasse, também, a suspensão do trâmite do PLC, para que a gente possa discutir um projeto de lei complementar que faça menção a uma constituição existente para a gente ter real condição de debater o projeto de lei?

Entrego por escrito, sei que o presidente vai dizer que vai responder em momento oportuno, mas faço esse apelo aos líderes partidários. O que estamos discutindo aqui se a gente está discutindo um projeto de lei que faz menção a uma constituição que não existe?

Eu não acho moral a gente discutir hipóteses como projeto de lei.

 

* * *

 

- É inserida questão de ordem não lida em plenário.

 

* * *

 

Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São

Paulo, deputado Cauê Macris,

Senhor Presidente,

Nos termos do artigo 260 da XIV Consolidação do Regimento Interno, apresentamos a Vossa Excelência a presente Questão de Ordem, questionando o trâmite do projeto de lei complementar no 80, de 2019, que trata da reforma da previdência estadual dos servidores estaduais.

Considerando a decisão judicial, prolatada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, referente ao trâmite da proposta de emenda constitucional n o 18, de 2019, que altera itens da Carta Estadual referentes aos direitos previdenciários dos Servidores estaduais;

Considerando que em seu teor de alterações, o PLC 80/2019 faz menção a inúmeros itens da Constituição Estadual que não estão em vigor, uma vez que replicam texto da proposta de emenda cuja tramitação está suspensa;

Questiona-se:

1-                  É legítimo e regimental que a Assembleia Legislativa esteja discutindo um projeto que, neste momento, é latentemente inconstitucional, por não ter um texto constitucional que o ampare?

2-                  Não seria prudente e correto que esta Casa Legislativa determinasse a suspensão do trâmite do PLC 80/2019, enquanto não aprovada a proposta de reforma constitucional, prevista pela PEC 18/2019?

Eis o que questionamos na presente oportunidade.

Sala das Sessões, 12 de dezembro de 2019.

a) Monica da Bancada Ativista.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Recebo a questão de ordem de V. Exa. e a responderei em momento oportuno, até porque o Regimento me dá 60 dias para responder questões de ordem e não 20 segundos.

Com a palavra a deputada Beth Sahão.

 

A SRA. BETH LULA SAHÃO - PT - Sr. Presidente, deputados e deputadas desta Casa, pessoal da galeria, trabalhadores, servidores e servidoras, é um prazer, mais uma vez, tê-los aqui conosco. (Manifestação nas galerias.)

Eu queria, antes de iniciar algumas análises, primeiramente, cumprimentar o deputado Emidio, porque eu acho que não foi pouco o que nós - da bancada do Partido dos Trabalhadores, da bancada do PSOL, da bancada do PCdoB e outros deputados e deputadas que engrossam essa luta - conquistamos através de uma representação que ele fez, pedindo, liminarmente, que fosse suspensa a análise e o trâmite desse projeto que o governo e os seus representantes nesta Casa quiseram nos fazer engolir goela abaixo.

Olhe, foi bom, viu? Foi bom. Há muito tempo eu não tinha esse sentimento de que a Justiça, de fato, dessa vez, foi cuidadosa, prudente e teve um pouco de equilíbrio, quer dizer, ela representou o equilíbrio, porque aqui, há muito tempo eu não via um projeto dessa envergadura correr com tanta celeridade, como a PEC e o PLC 80, sinceramente.

Eu já fui vice-presidente da Comissão de Finanças. Já estive lá, eu me lembro de que, nos projetos importantes, o relatório que nós sempre fizemos, como bancada de oposição, relatório em separado, sempre nos foi dada a oportunidade de fazer a leitura, na velocidade e no ritmo que nós determinássemos. Nunca tivemos esse tipo de pressão, porque ele é um instrumento da oposição, ele é um instrumento da obstrução.

Nós não somos obrigados a concordar com projetos que vão prejudicar sobremaneira a vida dos servidores ou outros projetos que prejudiquem outros segmentos da sociedade paulista, de maneira nenhuma.

Nesta oportunidade agora, em que esses projetos foram apresentados, primeiro, nunca é demais ressaltar, e eu vou falar quantas vezes for necessário nesta tribuna, que houve o rompimento de um acordo por parte do presidente desta Casa, que havia se comprometido conosco de não nomear relator especial.

Quando o deputado Cauê Macris se colocou como candidato à reeleição a presidente da Assembleia Legislativa, uma dentre as nossas conversas, um dos pontos, e eu era líder da bancada do Partido dos Trabalhadores naquela ocasião, foi exatamente o compromisso dele - que ele fez perante os 10 deputados do PT - de que não nomearia relator especial.

Qual não foi a minha surpresa quando chega um projeto tão importante como este, e ele nomeia um relator especial para as coisas correrem na velocidade que eles querem. Ainda bem, bendita seja a Justiça nesse estado de São Paulo.

Mais feliz ainda nós ficamos com a decisão hoje, do ministro Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, que dá mais cinco dias para o presidente do Tribunal de Justiça decidir.

Isso significa que, se for publicado amanhã, isso vai até o dia 20. Para nós, é muito importante. Sabe por que é importante? Não é para ter uma queda de braço com o governo, de maneira nenhuma; é para poder ter a participação dos trabalhadores, é para podermos ter a oportunidade de discutir em diferentes audiências públicas, categoria por categoria. São mais de 600 mil servidores que serão afetados por essa reforma, de diferentes formas.

Se você pegar a Educação hoje, está aqui a Bebel, que é a mais digna representante de todos vocês, como tem sido ao longo desse período e desses anos, a Educação tem recebido tanta coisa negativa, o que tem ocasionado prejuízos imensos no desenvolvimento do processo de aprendizagem.

Está aí a Saúde, com seus milhares de servidores, que foram extremamente prejudicados por conta da terceirização da Saúde, da contratação de organizações sociais, que acabam fazendo a gestão da Saúde, e é uma caixa-preta.

Esta Casa, na gestão anterior, fez uma CPI que não conseguiu, de maneira nenhuma, chegar aos pontos que a gente queria chegar, que era saber como, de fato, esses contratos são feitos. Qual é o pagamento que é feito a essas organizações sociais? Qual o controle que o estado tem sobre elas?

Nenhum, elas fazem o que elas bem entendem e a Saúde deixa muito a desejar. As demandas por uma Saúde de qualidade são cada vez maiores e isso eu posso dizer com os pesquisadores também dos institutos de pesquisa.

Semana passada, a secretária Patrícia Ellen esteve na Comissão de Atividades Econômicas e Ciência e Tecnologia e a colocação que ela faz dá a impressão que nós vivemos num verdadeiro paraíso. Parece que é um outro universo. Parece que é um outro horizonte e não é, e não é.

E eu disse a ela: os institutos de pesquisa hoje têm uma carência de mais de 50% de pesquisadores que o governo não autoriza a abertura de concursos públicos. E não só pesquisadores, mas chega a 80% a carência de pessoal de apoio.

E se nós formos para outras secretarias... Esta semana nós recebemos na Comissão de Direitos Humanos a secretária de Desenvolvimento Social.

Aliás, uma secretária que vem da gestão privada para fazer uma gestão pública numa área extremamente vulnerabilizada, que é a área de Desenvolvimento Social, que lida com população em situação de rua, que lida com as comunidades carentes, que lida com as comunidades terapêuticas, que lida com os mais diferentes programas aqui, com o Vivaleite.

E lá - para vocês terem uma ideia - não tem funcionário quase para fazer e elaborar os convênios das emendas que nós colocamos naquela secretaria.

E eu pude observar, com todo o respeito à secretária, que ela precisou trazer os seus assessores para que eles fizessem e dessem as explicações necessárias, porque ela não tem esse conhecimento da secretaria. E isso é algo comum, é um lugar-comum que a gente observa nas mais diferentes secretarias.

Eu mandei levantar aqui os números de servidores de secretaria por secretaria, e não só nas secretarias, mas nas empresas de administração direta e indireta, nas autarquias. E em todas elas foram demitidas pessoas. Em todas essas áreas houve aposentadorias e esses cargos não foram preenchidos. Sabe por quê?

Porque isso é uma política de estado dos sucessivos governos do PSDB, que desmontam o estado e que vêm fazendo isso de maneira proposital, desqualificando e desvalorizando os servidores públicos, porque é isso que eles fazem ano após ano. Esse projeto da reforma da Previdência é apenas mais um.

Quantos e quantos projetos que nós tivemos aqui, deputada Erica, que foram na mesma direção, sempre buscando atacar, diminuir, humilhar e desvalorizar os servidores públicos do estado de São Paulo?

Eu gostaria que tivesse aqui projeto que nos orgulhasse e falássemos: “Não, esse projeto aqui sim. Esse aqui é para valer. Esse a gente está vendo que o governo de fato respeita os servidores públicos”. Muito pelo contrário, muito pelo contrário.

E o que é pior, eles dizem o seguinte: “Olha, nós vamos fazer a reforma da Previdência porque ela vai nos permitir levantar uma arrecadação de mais de três bilhões ao ano”.

Ora, será que esses três bilhões ao ano que ela levanta é para ele fazer publicidade, inclusive em outros estados, de um governo que tem que governar para o interior do estado de São Paulo, para dentro do estado de São Paulo, e não para fora?

Porque o que ele está fazendo é preparar a sua cama para ser candidato a presidente da República, mas vocês podem ter certeza de que com todas essas medidas e essas iniciativas nocivas ao estado eu tenho convicção que ele não vai chegar a lugar nenhum.

Eu tenho convicção que ele vai ter dificuldades, se se mantiver no cargo, a se candidatar à reeleição como governador. Porque é um governador que tem ojeriza ao serviço público. É um governador que tem ojeriza ao servidor público. É um governador que transfere para o setor privado as responsabilidades e os compromissos que ele deveria executar como um supergestor, como ele se coloca.

Que gestor é esse? Ele pode ser gestor das empresas dele e das empresas dos amigos dele, que ele beneficia através inclusive da questão da renúncia fiscal. Essa sim que nós deveríamos ver. São bilhões ao ano. São bilhões que eles não deixam a gente investigar.

Protocolamos aqui, no início dessa gestão, no dia 18 de março deste ano, um pedido de uma CPI para que pudéssemos investigar essa questão da renúncia fiscal. O que aconteceu? A liderança do Governo entrou com outros pedidos de outras CPIs na frente, atropelando os nossos, e os nossos ficaram lá para trás, porque tem que seguir essa ordem cronológica.

Eu queria que o governo tivesse coragem. Essa coragem eles não têm. Ele tem coragem para mandar os projetos para poder prejudicar os servidores. Mas a coragem de poder fazer com que o seu governo seja investigado como deveria ser, do ponto de vista da garantia da democracia, essa coragem ele não tem. Isso, ele se acovarda. Isso, ele se acovarda e estende esse tipo de acovardamento para os seus representantes aqui na Casa, que fazem isso também.

Então temos que louvar a Justiça deste estado, que depois de muito tempo dá uma decisão importantíssima que vai levar, com certeza, para o ano que vem a discussão desse projeto. Nesse sentido, é preciso mobilizar toda a categoria de servidores públicos.

Tenho falado isso por onde tenho andado. Tanto aqui nesta tribuna, quanto nas dezenas de representantes de servidores que nos visitam, seja na bancada, seja no nosso gabinete, seja na nossa andança pelo interior do estado de São Paulo, em órgãos do estado como universidades, como institutos, como a área da Saúde, como escolas. Todo mundo tem que vir pra cá.

Hoje alguém me falou o seguinte, lá na reunião da frente parlamentar. “Por que não vão”, perguntei, “por que o pessoal não está se mobilizando tanto?” “Ah, mas o pessoal tem medo.” Falei: “Medo? Medo do quê?”. “Medo de perder o emprego, deputada.” “Mas como?” “Porque eles são ameaçados.”

Isso tem que ser denunciado. Isso é assédio moral. Essa pressão é crime. Ninguém pode ser ameaçado porque tem o seu legítimo direito de protestar. Tem que ter o seu legítimo direito de dizer da sua indignação, de mostrar isso através do seu comportamento e da sua atitude.

Se for necessário sair do interior, sair do seu local de trabalho, e vir aqui para mostrar essa indignação, é preciso conceder isso sim. É um direito legítimo dos trabalhadores e das trabalhadoras, sejam eles do setor público ou do setor privado.

O que está em jogo aqui é o presente e o futuro de uma categoria importante que sustenta os serviços de qualidade, ainda, neste estado. Neste estado, se resta ao estado de São Paulo um pouco de serviço de qualidade, ele não se deve aos governos tucanos que por lá passaram.

Aliás, se fosse por eles, esses serviços já teriam sido destruídos. Esses serviços de qualidade que são prestados no estado de São Paulo, nas mais diferentes áreas, devem-se ao esforço de casa um e cada uma de vocês.

Isso sim, esse reconhecimento, o governo não tem. Muito pelo contrário. Muito pelo contrário. O que ele tem é querer colocar e fazer engolir goela abaixo esse projeto, que sabemos que vai prejudicar, vai empobrecer e vai dificultar ainda mais a vida de todos os servidores e todas as servidoras.

Por isso mesmo que quero cumprimentar aqui o papel heroico da oposição nesta casa, que resistiu. Todo mundo dizia: “Hoje eles vão votar. Vai vencer o tempo de discussão”. Usamos todos os nossos argumentos legítimos. Usamos o Regimento, que nos garante o direito de sermos oposição.

Contamos com a competência de um deputado nosso, Emidio, que levou isso adiante. Conquistamos isso na Justiça. Cá estamos, esperançosos de que só no ano que vem iremos discutir esse projeto. E o faremos com muita luz e com a participação maciça das servidoras e dos servidores do estado de São Paulo.

É isso aí, gente. Vamos à luta. (Manifestação nas galerias.)

 

O SR. DOUGLAS GARCIA - PSL - Pela ordem, Sr. Presidente. Para uma comunicação, Sr. Presidente?

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Antes, porém, deputado Douglas, convido a deputada Erica Malunguinho para poder se dirigir à tribuna. Passo a palavra a Vossa Excelência.

 

O SR. DOUGLAS GARCIA - PSL - PARA COMUNICAÇÃO - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, solicitei essa comunicação para, como um representante do povo, deixar o meu repúdio ao que aconteceu na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

 Repúdio, especificamente, a uma moção de louvor que foi feita a um ditador, por parte do PSOL. O ditador Kim Jong-un foi homenageado pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. É um verdadeiro absurdo, Sr. Presidente, o que aconteceu.

Nós não podemos, de forma alguma, aceitar isso no nosso Brasil como sendo algo normal, algo tranquilo, porque não é. Ditadores não são para serem homenageados. É um absurdo um ditador sanguinário, ditador nojento, que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro homenageou, por parte do PSOL...

O PSOL - Partido do Socialismo e Liberdade. Socialismo e liberdade é uma contradição. Isso é uma contradição institucionalizada. Deveria, sim, é ser extinto. O TSE deveria cassar o registro de fundação do PSOL, diante de tamanho atentado à democracia. (Manifestação nas galerias.)

É um verdadeiro absurdo, senhores, que, em pleno século XXI, eles queiram falar em liberdade, fazendo homenagem a ditadores como Kim Jong-un.

Pessoas que perderam a sua liberdade, pessoas que não podem falar, pessoas que não têm vez e que não têm voz e que estão sendo defendidas por esse partido socialista que só defende ditadores comunistas. (Manifestação nas galerias.)

E, a exemplo disso, nós temos o PSOL produzindo cada vez mais Adélios Bispos da vida.

Porque, quando eles não conseguem calar, jogam no paredão. E quando não conseguem calar no paredão, querem calar de forma estratégica, através das escolas, silenciando através da ditadura da opinião.

E quando não é isso, eles dão facada. Assim como o ex-militante e ex-filiado do PSOL, Adélio Bispo, fez. Registro aqui o meu repúdio - repito, repúdio - a essa atitude nojenta que foi feita pelo Partido do Socialismo e Liberdade na Câmara do Rio de Janeiro.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Manifestação nas galerias.)

 

A SRA. ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Gente, por favor.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Eu gostaria de pedir à galeria... Não tem o mínimo cabimento esse tipo de postura. O mínimo cabimento.

 

A SRA. ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Eu gostaria de fazer também...

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Não tem o mínimo cabimento, e eu não vou tolerar a galeria se dirigindo a qualquer um dos parlamentares aqui dessa forma. É intolerável. Eu não vou tolerar. Não vou.

 

A SRA. ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Eu gostaria de começar.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Agora sim, eu passo a palavra. Preservo o tempo de Vossa Excelência. Inicio novamente o tempo, deputada Erica, e passo a palavra a Vossa Excelência.

 

A SRA. ERICA MALUNGUINHO - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Boa noite a “todes”. Eu gostaria de iniciar essa fala fazendo essa mesma sugestão. Não acho que seja frutífero usar de argumentos, inclusive, que repudiei veementemente quando o Arthur do Val subiu a essa tribuna para ficar tecendo palavras depreciativas para a galeria, chamando as pessoas de vagabundo aí nessa galeria.

E acho que, dessa mesma forma, isso não pode acontecer aqui. (Manifestação nas galerias.) Esse tipo de fala e de argumento só serve para quem não tem discurso.

Eu entendo que o Arthur precisa disso, porque ele é um deputado que faz muita alegoria, mas que é pouco propositivo. Um fato que mostra isso é que, depois daquela cena bizarra que aconteceu aqui, estavam sendo vendidas camisetas sobre a briga que teve aqui em cima.

O Arthur fez isso. E eu acho que a gente tem muito mais a oferecer quando nós não trabalhamos nessa mesma chave. (Manifestação nas galerias.)

Douglas, eu fiquei surpresa. Eu quero dizer uma coisa para você: a Monica e eu também repudiamos veementemente essa homenagem que aconteceu na Câmara do Rio de Janeiro. Agora, sabe o que me assusta?

Isso vindo de você, uma pessoa que fundou um bloco de carnaval chamado Porão do Dops. (Manifestação nas galerias.) Me assusta vindo de você, que elogia um presidente que não apenas flerta, como tem relações muito escusas e próximas com o regime militar. Não só com o regime, mas suas práticas também vão nesse mesmo sentido.

Mas, como é possível que todo ser humano e toda pessoa evolua, avance, mude, se desloque, quem sabe algo está acontecendo nesse corpo cérebro de Douglas Garcia; vejamos. Mas o que me traz aqui hoje, deputado Barba, antes de ontem, você me pediu para eu falar sobre o que é necropolítica, que é uma coisa que eu venho falando muito aqui.

Isso, obviamente, não é um termo que eu criei. Necropolítica é um termo que foi alcunhado por um filósofo camaronês chamado Achille Mbembe, formado pela universidade Paris 1, em Sorbonne, na França, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos.

E o que a necropolítica fala? A necropolítica diz dos dispositivos de poder, dos dispositivos bio-políticos quando as esferas de poder direcionam as suas forças para decidir quem pode viver e quem pode morrer.

Decide os corpos que são descartáveis ou não. Isso se dá de forma objetiva quando nós vemos essa guerra declarada substanciada por um falso discurso de Segurança Pública. Mas isso também se dá de forma subjetiva. Por exemplo, quando se precariza e vulnerabiliza a vida de pessoas.

Um exemplo disso é a extração de dinheiro a partir da reforma da Previdência, por exemplo. Essa é uma prática e uma forma de consolidar a necropolítica.

A Beth Sahão falou da secretária de Desenvolvimento Humano que esteve na Comissão de Direitos Humanos. É muito interessante porque o que a necropolítica produz - e é isso que o estado brasileiro vem consolidando no decorrer da sua história, muito antes do regime militar, o que ele tem consolidado - são projetos de poder que não viabilizam a ascensão econômica e os direitos aos bens essenciais das populações que são historicamente vulnerabilizadas. Isso é ação da necropolítica.

Quando a secretária de Desenvolvimento Humano vem aqui, desenvolvimento social é uma pasta que fala sobre população de rua, sobre a favela, fala sobre vulnerabilidades econômicas, de vulnerabilidades sociais e culturais. Ou seja, população LGBT, mulheres e afins.

Essas pessoas atendidas pela Secretaria de Desenvolvimento Social são frutos da necropolítica. Interessante é que o estado cria um dispositivo para tentar remediar algo que ele mesmo cultiva.

É interessante também quando tecem aqui sobre reforma da Previdência falando o seguinte: “ah, porque o estado está inchado, a máquina pública está inchada e não tem recursos suficientes para se manter daqui a não sei quanto tempo.

Gente, que eu saiba, o servidor público não vai pegar sua aposentadoria mais do que merecida e vai criar um grande capital com isso e vai colocar na Suíça, que eu saiba.

O dinheiro da aposentadoria do servidor público serve, inclusive para retroalimentar o estado, porque é para comprar feijão, arroz, seu aluguel, as roupas. Ou seja, esse discurso que divide o estado em gavetas, numa mentalidade baseada num cartesianismo obsoleto, ele serve para ludibriar e enganar a população, porque tudo faz parte do mesmo balaio, está tudo dentro do mesmo mocó, como diria no nordeste.

Isso tudo é um rizoma, são como as nossas conexões neuronais. Todos os dispositivos do Estado, do Poder Público, um depende do outro. A Educação depende da Saúde, que depende da Economia, que depende da Habitação, que depende... É tudo interligado.

Separar a Previdência de tudo isso é uma forma muito perversa de dar continuidade a esse estado de coisas e a esse Estado que prevê - agora eu vou falar do estado de São Paulo - pensar no que deveria assistir as pessoas como uma empresa privada.

O Estado não tem que ter lucro, o Estado não precisa de gestor, o Estado precisa de políticos, seres políticos. Ser político significa compreender e agir para e pela coletividade; ser político significa movimentar a polis, a coletividade e a sociabilidade.

Um gestor tal qual nós temos como governador, ele serve para dar continuidade a tudo isso que se tem e que Achille Mbembe chama de necropolítica.

É uma infelicidade que nós, enquanto seres da cultura, seres sociais, não estou falando militantes da cultura, seres ontológicos, históricos e etc, nós reproduzamos alguns desses discursos, e só compreendamos o estado e os dispositivos de poder do estado de forma fragmentada.

Uma coisa muito importante para reduzir e para nós assimilarmos de uma forma muito precisa, essa matemática e essa equação do Poder Político é a seguinte: muita gente fala assim, “O problema do Brasil e do estado de São Paulo está na Educação. Ah, mas o problema está na Cultura. Ah, o problema está na Saúde e na Segurança Pública”.

Gente, isso não funciona porque atende uma população específica. Isso não funciona porque atende gente majoritariamente negra, majoritariamente pobre. É por isso que isso não funciona, e não tem que funcionar a partir da necropolítica.

A precarização dos dispositivos de poder dos dispositivos de poder e de atuação do estado está a serviço desta lógica, que se chama necropolítica. É disso que se trata. Discutir reforma da Previdência é isso. Discutir privatização, discutir isenção fiscal, patrocínio do estado, em detrimento do poder privado, é discutir necropolítica.

Porque, afinal de contas, se somos todos humanos, como costumam dizer e usar esse termo de forma inclusive muito astuciosa, se somos todos humanos, logo cidadãs e cidadãos, nós temos o direito irrevogável de que o estado se responsabilize por “todes” nós.

E, não é isso que é visto. E, o exemplo mais nítido e objetivo disso é a população que está em situação de rua. Olhe que interessante: o estado precariza a Educação, precariza o servidor público, precariza diversas relações e formas de se responsabilizar com os cidadãos, e eles acabam onde? Na rua.

E, aí, o estado tenta criar paliativos para remediar isso, que ele mesmo provoca. Isso não é à toa. Uma coisa muito interessante acerca dessa necropolítica e toda essa lógica do estado é: tem uma feira que acontece anualmente, uma feira muito importante, que acontece no Parque da Água Branca.

É uma feira de pequenos agricultores, agricultura familiar. Feira da Reforma Agrária, se chama. Este ano, por causa de uma perseguição política, o governador não permitiu que a Feira da Reforma Agrária acontecesse no Parque da Água Branca.

Ele não permitiu, falando que é um evento de grande porte, etc. É mentira, porque a gente viu outros eventos, maiores do que a Feira da Reforma Agrária acontecerem.

Esse é um evento importantíssimo, que faz com que a produção agrícola dos pequenos produtores escoe para a cidade de São Paulo. Enfim, agora eu sei muito bem por que ele bloqueou isso: porque ele é contra a reforma agrária, obviamente; porque ele deve, obviamente, ao agronegócio, e porque ele vive sob o medo de um fantasma chamado, que ele acha que é um fantasma, chamado Movimento dos Sem Terra.

Assim como ele tem medo dos movimentos de moradia. Agora, vejam só: os movimentos sociais não fazem nada mais, não fazem nada, além do que tentar reparar o que o estado foi ausente.

Os movimentos de moradia fazem isso. Eu estive recentemente, circulei em diversos acampamentos do Movimento dos Sem Terra. Sabem o que eu vi? Um monte de gente que deveria estar nas ruas de São Paulo, engrossando a população em situação de rua, mas encontrou na possibilidade de viver no campo e de produzir agricultura. Um lugar para viver, para ter uma casa.

Agora, por que o governador quer perseguir os pequenos agricultores? Por que quer perseguir o movimento de moradia, se eles, inclusive, estão tentando sanar um buraco que está deixado, uma ausência evidente do estado? Ou a gente está vivendo em um mundo que eu não sei qual é.

Se o governador não entende, se ele não anda no Centro de São Paulo, se ele não anda nas periferias. Aliás ele não anda, obviamente. Obviamente ele não sabe o que é, obviamente ele tem medo, obviamente ele tem ojeriza da população pobre. Eu posso dizer uma coisa. Eu sei quem são essas pessoas. Eu convivo com elas, sei das fragilidades e sei das precarizações construídas por essa lógica sistêmica.

A reforma da Previdência, assim como tudo isso que se debate no âmbito estadual e federal, diz despeito a uma disputa de narrativa, na qual estão dispostas ideias antagônicas. Uma que diz respeito à emancipação do povo, o direito aos bens materiais e imateriais, e um outro projeto que não se importa, ou não prevê isso, e escamoteia a sua ojeriza por pobres com discursos falaciosos de combate à corrupção ou de valorização da Segurança Pública.

O problema do Brasil, como diria Mário de Andrade, é pouca saúde, mas é muita saúva nesse formigueiro.

Muito obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Para falar contra, o deputado Jorge do Carmo.

 

O SR. DR. JORGE LULA DO CARMO - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, público da galeria, essas horas da noite aqui, porque estão lutando por uma causa, sempre em defesa dos seus direitos, público da TV Alesp, assessores, policiais, companheiras e companheiros, todos aqui que vêm a esta Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo defender os seus direitos, direitos esses que, infelizmente, a gente tem visto, têm sido retirados.

São retirados aqui. Começam a escalada de retirada de direitos no âmbito nacional, no âmbito municipal, aqui em São Paulo, e no âmbito estadual, aqui na Assembleia Legislativa. A gente tem visto o quanto os governos de direita, os governos do PSDB, que governam este estado há anos e mais anos, têm sido perversos com o povo, perversos com os trabalhadores e, neste caso aqui, com os servidores.

Servidores professores, servidores da Saúde, servidores do Judiciário, servidores de todas as categorias, que trabalham anos e anos para ter os seus direitos reconhecidos, e, quando vem um governador com o espírito de tirar, de extrair aquilo que os servidores conquistam, a duras penas, simplesmente apresenta aqui na Assembleia Legislativa uma PEC.

Vou falar da PEC, que está suspensa por ordem judicial, por ter sido feita de forma assoberbada, equivocada, sem a observância dos ditames do Regimento Interno e da legislação pertinente.

Infelizmente, quando as pessoas querem retirar, criar situações para prejudicar os servidores, eles deixam de observar o Estado Democrático de Direito.

E o que é o Estado Democrático de Direito? É aquele em que todos se submetem à lei. A lei é feita para o cidadão mais simples, o trabalhador, o operário, o servidor e o presidente da República. Todos estão sujeitos à lei. Mas, às vezes, tem alguns governantes - sejam eles presidentes da República ou governadores; no caso do estado de São Paulo, o Sr. João Agripino Doria - que acham que estão acima da lei, que acham que podem decidir a vida dos servidores, que podem retirar os direitos dos servidores sem a observância da lei. Isso é, no mínimo, lamentável.

A PEC 18, tentou o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Cauê Macris, encaminhá-la sem observância do Regimento Interno, sem passar por todas as comissões, ou nomeando relator especial, que é regimental, mas não é moral. E deu no que deu.

A bancada do Partido dos Trabalhadores e o nosso representante na Comissão de Constituição e Justiça, Emidio de Souza, ajuizaram uma ação para dizer: “Está equivocada a forma como está sendo conduzida a reforma da Previdência”.

E a Justiça, que nós acreditamos e confiamos que tem que ser cega, cega no sentido de não olhar o lado, não definir a partir de um lado para o qual ela queira estabelecer determinadas regras, ela decidiu que, realmente, a forma como foi conduzida a PEC 18, de 2019, foi equivocada.

E isso fez com que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo concedesse uma liminar favorável a vocês, servidores.

Essa liminar não foi favorável ao Partido dos Trabalhadores, nem ao deputado Emidio. Foi favorável aos servidores do estado de São Paulo, porque a forma como estava sendo conduzida a PEC 18 estava errada, estava equivocada, estava em discordância com a lei, ou seja, em desconformidade com a lei que rege o nosso estado e o nosso país.

Então, quero que vocês saibam que a gente tem sempre que confiar na Justiça. A gente tem sempre que acreditar na Justiça, porque a gente viu, no Brasil, muitas injustiças acontecendo, uma Justiça, muitas vezes, seletiva, que, para determinadas situações, se comportava de um jeito e, para outras situações, se comportava de outro jeito.

Não é essa a justiça que defendemos. Defendemos a justiça que é vendada. Vendada! Aliás, hoje, dia 12 de dezembro, é o Dia da Justiça, justiça essa que a gente espera que seja feita, não para o Partido dos Trabalhadores, não para o PSOL, não para os partidos de esquerda, não para os deputados que estão propensos a votar contra essa PEC, mas justiça para que os servidores que trabalharam e conquistaram seus direitos não percam seus direitos.

É dessa justiça que estamos falando. É essa justiça que temos que enaltecer e fortalecer.

É por isso que a gente tem que valorizar os trabalhadores, os servidores, valorizar cada vez mais as pessoas que estão trabalhando para, cada dia mais, ter seu direito reconhecido. E nós não podemos, jamais, deixar de valorizar isso.

Então, hoje, a PEC está suspensa. Uma liminar cassou a tramitação aqui nesta Casa. Esperava o presidente, esperava a direção aqui que essa liminar fosse cassada, mas ela não foi.

Por que ela não foi? Não é porque o governador João Agripino Doria ligou para o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Porque a justiça não pode ser a partir de uma conveniência, ou de uma ligação, ou de um compromisso, ou de “olha, eu quero que você resolva isso”.

Nós não confiamos e não acreditamos nessa justiça. Nós queremos uma justiça que seja para melhorar ou para pacificar conflitos. É dessa justiça que nós falamos.

Então, não adianta o governador ligar, não adianta impetrar agravo de instrumento, não adianta querer fazer da justiça a conveniência, porque, graças a Deus, e é por isso que a gente tem que confiar e acreditar, cada vez mais, na justiça. Na justiça daqueles que têm compromisso com ela. E é dessa justiça que nós estamos falando.

Então, hoje, o principal, que é a PEC 18, está suspenso. Se o principal está suspenso, o presidente encaminhou aqui e estamos discutindo o acessório. O que é o acessório, deputado Aprigio? O acessório é o PLC 80, porque o PLC 80 é o regulamento, é como a gente resolver a questão da PEC, como encaminhar isso, o que vai acontecer a partir da PEC aprovada.

Se a PEC está suspensa, não tem porque a gente, de forma assoberbada, de forma agoniada, como dizem lá no meu querido nordeste, de forma agoniada como se diz lá na querida Palmeira dos Índios - não é agoniado que fala assim? -, não adianta se agoniar. A justiça tem o seu tempo. Não adianta se afobar, se agoniar para querer aprovar, aqui, o PLC 80, de 2019, se a PEC 18 está suspensa.

Se nós não podemos cuidar do principal, por que vamos cuidar do acessório? O acessório vem depois do principal e o principal é a PEC. Então, espere a PEC. Espere a PEC 18, de 2019, no ano que vem, no ano de 2020. Vamos melhorar ela. Melhorar não é da forma como o governador encaminhou. Melhorar é... Nós queremos reformar.

Nós queremos melhorar, mas queremos melhorar para todos. Não é melhorar para alguns e piorar para a maioria. E, da forma como a PEC foi encaminhada, ela piora a vida dos servidores. Então, estamos aqui para defender servidores que, de longos anos, trabalhando com os seus direitos adquiridos. Nós não vamos, jamais, defender que piore a vida dos servidores.

Então, o PLC 80, de 2019, é acessório ao principal. Não vamos nos preocupar em aprovar o PLC 80 sem discutir e aprovar a PEC 18. Espera o principal, depois discute o acessório.

Então, quero muito dizer para vocês que nós, do Partido dos Trabalhadores, a nossa bancada, a partir da orientação do nosso líder, deputado Teonilio Barba, e tenho certeza de que a bancada do PSOL e tenho certeza de que outros tantos companheiros, deputados e deputadas, não concordam com essa reforma.

Aliás, reforma... Outro dia a minha esposa falou assim: “Vamos reformar a nossa casa”, deputado Aprigio. Eu imaginei que não era para piorar a nossa Casa, era para melhorar, deputado Teonilio Barba. Nunca vi alguém reformar algo para piorar a vida das pessoas, mas aqui em São Paulo e no Brasil, sim. (Manifestação nas galerias.)

Então, nós defendemos reforma para melhorar a situação dos servidores, jamais para piorar, jamais. Então, nós não vacilamos, nós não titubeamos. Nós vamos sempre estar ao lado do mais fraco, mais fraco no sentido figurado, não mais fraco porque vocês são fracos; mais fraco no sentido de dizer assim: não dá para vir a esta tribuna e achar, porque o povo votou em mim e me elegeu deputado estadual, eu, simplesmente, dizer “agora eu vou fazer o que eu quiser, vocês me deram um cheque em branco, eu agora decido o que eu quiser”.

De maneira nenhuma, agora é que eu tenho que ter mais responsabilidade, porque quando eu venho a esta tribuna, eu olho para as pessoas e eu penso, em cada reunião, em cada compromisso e em cada pessoa que eu pedi para votar em mim, para eu poder ser a voz deles aqui.

Eu jamais diria para as pessoas: “votem em mim, porque quando eu chegar lá, eu vou fazer o que eu quiser.” Jamais!

Então, vocês, servidores que estão aqui, numa quinta-feira à noite, a esta hora, defendendo os seus direitos, saibam que este deputado, que a bancada do Partido dos Trabalhadores, a bancada do PSOL e outros tantos companheiros aqui, tantos deputados que têm compromisso com o servidor vão votar contra.

Nós vamos votar contra, porque nós não estamos aqui para prejudicar vocês. Estamos aqui para defender vocês. (Manifestação nas galerias.)

Então, contem com a gente sempre. Esperamos que o presidente segure essa onda. Vamos ter outros assuntos mais importantes para discutir aqui e vamos esperar o momento certo para reformar para melhorar, e não para piorar. Jamais vamos defender qualquer reforma que prejudique vocês.

Forte abraço! Contem com a gente sempre. (Manifestação nas galerias.)

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Não havendo oradores inscritos, está encerrada a discussão.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Sr. Presidente, havendo acordo de lideranças, eu peço o levantamento da presente sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - CAUÊ MACRIS - PSDB - Havendo acordo de lideranças, está levantada a presente sessão. Boa noite a todos.

Está levantada a sessão.

 

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- Levanta-se a sessão às 20 horas e 22 minutos.

           

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