17 DE SETEMBRO DE 2021
1ª SESSÃO SOLENE 100 ANOS DE PAULO FREIRE: HISTÓRIA E LEGADO
Presidência: PROFESSORA BEBEL LULA
RESUMO
1 - PROFESSORA BEBEL LULA
Assume a Presidência e abre a sessão. Informa que a
Presidência efetiva convocou a presente sessão solene, em homenagem aos
"100 Anos de Paulo Freire: História e Legado", por solicitação desta
deputada, na direção dos trabalhos. Destaca a importância do centenário de
Paulo Freire. Discorre sobre sua obra pedagógica. Afirma que ela pode trazer
orientação para o futuro da Educação no mundo pós-pandemia. Defende a gestão
democrática das escolas. Lamenta a tentativa do governo federal de retirar de
Freire o título de patrono da Educação brasileira. Tece críticas ao movimento
Escola sem Partido.
2 - WILSON LEVY
Mestre de cerimônias, convida o público a ouvir, de pé, o
"Hino Nacional Brasileiro", reproduzido pelo Serviço de Audiofonia da
Casa. Anuncia apresentação do grupo cultural Maria Fuzarca.
3 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Anuncia a exibição de um vídeo sobre a trajetória de Paulo
Freire.
4 - LEONARDO BOFF
Professor universitário, teólogo, escritor e filósofo, tece
considerações sobre o legado de Paulo Freire, o qual, ressalta, sempre deu
valor ao saber dos mais pobres. Considera que a novidade do seu pensamento foi
tratar a educação como um ato político. Avalia que é preciso recorrer à sua
obra para reconstruir a Educação e a sociedade após a pandemia. Rememora momentos
em que trabalhou com Paulo Freire.
5 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Lê citação de Paulo Freire acerca das concepções que regem a
Educação.
6 - JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO
Diretor fundador do Instituto Paulo Freire, relata como o
homenageado abandonou a profissão de advogado para dedicar-se à Educação.
Considera que seu legado nunca foi tão importante quanto é hoje. Diz que a obra
de Freire é estudada internacionalmente e tem relevância para diversas áreas do
conhecimento. Conta episódios da vida de Paulo Freire, de quem foi amigo.
Apresenta edição fac-similar da "Pedagogia do oprimido", de Freire.
7 - FERNANDO HADDAD
Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, frisa
como, no período em que comandou o Ministério da Educação, os dois pensadores
que lhe serviram de referência foram Paulo Freire e Anísio Teixeira. Faz
comentários sobre a obra de Freire e sua proposta educacional, as quais
considera atuais. Lamenta que, a seu ver, Freire seja, hoje em dia, mais
valorizado fora do Brasil do que em seu próprio país.
8 - DOUGLAS MARTINS IZZO
Presidente da CUT-SP, parabeniza a deputada Professora Bebel
pela realização desta solenidade. Tece comentários acerca do legado da obra de
Paulo Freire.
9 - JOÃO PALMA
Professor da Unesp e ex-coordenador do Fórum Estadual de
Educação, destaca a justeza da homenagem a Paulo Freire. Faz relato de sua
experiência na época em que trabalhou com o homenageado. Afirma que Freire e
Anísio Teixeira são os dois grandes nomes da Educação brasileira. Diz que a
pedagogia de Freire busca a emancipação do aluno, e por essa razão, provoca
incômodo. Argumenta que a Educação pública brasileira não segue, de fato, as
ideias de Paulo Freire.
10 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Anuncia a entrega de placas comemorativas desta solenidade.
11 - SIMONE MAGALHÃES
Representante do MST, declara que o movimento aplica, desde
sua fundação, os princípios de Paulo Freire no seu trabalho educacional.
Observa que a luta pela terra é também uma luta pedagógica, por favorecer a
autonomia. Combate veto presidencial a projeto de lei do interesse de pequenos
agricultores. Menciona visita de Freire a assentamento do MST, em 1991.
12 - TAYNÁ WINE RODRIGUES REIS
Representante da União Estadual dos Estudantes de São Paulo,
destaca a justeza desta homenagem a Paulo Freire, tendo em vista as
circunstâncias atuais no Brasil. Reflete acerca da importância de prover o
acesso à Educação para todas as camadas sociais.
13 - WILSON LEVY
Mestre de cerimônias, lê citação de Paulo Freire.
14 - LIGIA TONETO
Representante da Juventude do PT, enaltece a deputada
Professora Bebel por sua atuação parlamentar e pela realização desta
solenidade. Afirma que a Educação é fundamental para a construção da sociedade.
Tece críticas à política educacional do atual governo. Lê trecho de Paulo
Freire.
15 - NITA FREIRE
Educadora e viúva do homenageado, expressa sua alegria pelo
número de eventos realizados em comemoração ao centenário de Paulo Freire.
Frisa o alcance internacional de sua obra. Afirma que Freire sempre buscou
vencer os desafios com ética e respeito a todos. Expressa sua opinião de que o
pensamento de Paulo Freire pode orientar a construção de uma sociedade mais
justa. Defende o pensador de críticas que lhe foram feitas pelo atual governo
federal. Comenta que a principal questão, para Paulo Freire, era a existência
humana concreta.
16 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Comemora decisão judicial que impede o governo federal de desrespeitar
a memória de Paulo Freire. Tece críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Anuncia
a exibição de vídeo de Gabriel Chalita, professor e escritor. Lê frase de Paulo
Freire.
17 - FRANCISCA PEREIRA DA ROCHA SEIXAS
Representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação, enfatiza a justeza desta homenagem a Paulo Freire, no seu centenário.
Comenta a importância de sua obra na conjuntura que o Brasil atravessa.
18 - FÁTIMA ANTÔNIO
Representante do Conselho Municipal de Educação de São Paulo,
agradece pelo convite a esta solenidade em homenagem a Paulo Freire. Relata sua
participação em projeto proposto pelo homenageado, quando ele foi secretário
municipal da Educação em São Paulo.
19 - JOÃO MARCOS DE LIMA
Representante do Sindicato dos Funcionários da Secretaria
Estadual da Educação, diz que é preciso ter, como Paulo Freire, esperança de
que um novo Brasil é possível. Faz citação do homenageado.
20 - CLEONICE FERREIRA RIBEIRO
Representante do Sindsaúde, parabeniza a deputada Professora
Bebel por propor a realização desta solenidade. Tece críticas aos governos
federal e estadual. Afirma que a obra de Paulo Freire traz ensinamentos sobre
como construir um mundo melhor.
21 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Anuncia a exibição de vídeo do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
22 - PAULO TEIXEIRA SABOIA
Diz que é preciso valorizar a obra de Paulo Freire por seu
caráter revolucionário. Opina que o homenageado deveria estar na galeria de
heróis da Nação. Destaca a atuação de Freire na alfabetização de adultos.
23 - REGINALDO FONSECA SOEIRO DE FARIA
Representante da Associação dos Docentes do Instituto Federal
do Estado de São Paulo, acusa o atual governo de não pensar na Educação.
Considera que é por esse motivo que são feitos ataques à obra de Paulo Freire.
Afirma que, desde o governo Temer, os investimentos em Educação têm diminuído.
24 - JOÃO DA COSTA CHAVES JUNIOR
Representante da Associação dos Docentes da Unesp e do Fórum
das Seis, discorre sobre o trabalho de Paulo Freire em prol dos oprimidos.
Afirma que seu trabalho é uma ameaça para governos de cunho autoritário.
Declara que todos podem, seguindo os ensinamentos de Freire, plantar sementes
de transformação da sociedade.
25 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Anuncia a exibição de vídeo da deputada Leci Brandão.
26 - ROBERTO GUIDO
Representante da Apeoesp, enaltece a deputada Professora
Bebel. Destaca a importância do legado de Paulo Freire, o qual, acrescenta, é
uma inspiração para a atuação da Apeoesp. Tece críticas ao presidente Jair
Bolsonaro e ao governador João Doria. Lamenta que, a seu ver, as ideias de
Freire não estejam sendo aplicadas em profundidade.
27 - HECTOR DA SILVA BATISTA
Representante da União Paulista dos Estudantes Secundaristas,
lembra ocupação do plenário da Alesp, promovida por estudantes, em protesto
contra denúncias de desvio das verbas destinadas à merenda escolar. Destaca a
relevância do pensamento de Paulo Freire para o futuro da Educação brasileira.
28 - ANATALINA LOURENÇO
Representante do Fórum pela Diversidade Étnico-Racial do
Estado de São Paulo, enfatiza a importância desta homenagem a Paulo Freire.
Observa que as ideias do homenageado ajudam a reflexão sobre a necessidade de
diversidade no currículo escolar.
29 - GABRIEL GONÇALVES
Representante do Movimento dos Atingidos por Barragens,
declara que a entidade de que faz parte tem Paulo Freire como uma de suas
inspirações. Afirma que a união de trabalhadores em prol de seus direitos é
representativa dos ideais do pedagogo. Tece críticas ao modelo energético que
impera no Brasil.
30 - JOSÉ GERALDO DE PAULA PINTO
Representante da União de Moradores de Heliópolis e Região,
informa que um grande número de moradores de Heliópolis foi alfabetizado de
acordo com o método proposto por Paulo Freire. Considera que o Movimento de
Alfabetização de Jovens e Adultos, criado pelo homenageado, é um movimento de
resistência.
31 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Anuncia a exibição de vídeo de Renato Janine Ribeiro,
presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e ex-ministro da
Educação.
32 - ISMAEL DE JESUS MORALES
Representante do Sindicato dos Supervisores de Ensino do
Magistério Oficial no Estado de São Paulo, enfatiza a importância do diálogo
entre o professor e o aluno, conforme defendia Paulo Freire. Ressalta que todo
pedagogo deve saber escutar. Afirma que todos precisam ter consciência da
dívida que têm para com seus educadores. Comenta que aqueles que trabalham na
Educação devem tomar parte no combate à desigualdade.
33 - AILTON FERNANDES
Representante da Federação dos Empregados em Estabelecimentos
de Ensino do Estado de São Paulo, observa que a entidade da qual faz parte,
embora represente trabalhadores de escolas privadas, não deixa de ser também
defensora do ensino público. Descreve sua trajetória como militante da
Educação, inspirado pelos ideais de Paulo Freire.
34 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Agradece a todos pela presença nesta solenidade. Frisa a
importância do pensamento de Paulo Freire para quem trabalha com Educação.
Repudia as acusações segundos as quais haveria doutrinação nas escolas
brasileiras. Argumenta que Freire sempre defendeu a pluralidade de ideias e a
diversidade. Defende o vereador Matheus Siqueira, de Cerqueira César, que teve
seu mandato cassado por quebra de decoro, em razão de visita que fez a uma
escola municipal, para averiguar se ela teria condições sanitárias para a
retomada das aulas.
35 - TIAGO FAINER
Representante da União dos Estudantes Secundaristas de
Piracicaba, faz relato de seu período como diretor de grêmio estudantil.
Critica a gestão educacional dos governos federal e estadual. Presta apoio ao
vereador Matheus Siqueira, de Cerqueira César, que teve seu mandato cassado.
36 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA
Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.
* * *
- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra.
Professora Bebel.
* * *
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - WILSON LEVY - Senhoras
e senhores, boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade e o propósito de
homenagear os 100 anos do educador Paulo Freire, patrono da Educação
brasileira.
Comunicamos aos presentes que esta
sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp, e pelo canal Alesp,
no YouTube.
Compõe a Mesa Diretora a deputada
estadual Professora Bebel, a quem passo a palavra, para que faça a abertura
desta sessão.
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Boa noite a
todos que estão presentes nesta sessão solene que homenageia os 100 anos de
Paulo Freire. Não é qualquer sessão. É uma sessão que, enfim, nos faz reviver e
ao mesmo tempo refletir sobre este momento pelo qual passamos, o legado de
Paulo Freire.
Isso para nós tem uma importância
fundamental. Então, esses 100 anos de Paulo Freire são marcados, sobretudo, por
um grande retrocesso por que passa a Educação paulista e em todo o País.
Nós sabemos perfeitamente a tentativa,
a primeira tentativa do presidente eleito, Jair Bolsonaro, tirar o título de
Patrono da Educação, enfim, porque dizem que nós, de certa forma, os que somos
desta escola freireana, fomos muito bem formados, nós somos aqueles que
doutrinamos. E eles vêm com a história do “Escola sem partido”, que é uma
doutrina também. Também, não. Eles doutrinam.
Paulo Freire não doutrina. Ao
contrário, Paulo Freire propõe a Educação libertadora, através da metodologia
de alfabetização aplicada no Rio Grande do Norte, onde, no momento em que ele
alfabetizou 300 trabalhadores do campo, depois disso ele é preso, durante a
ditadura militar, instaurada em 64.
E vai para o Chile. Escreve a grande
obra que, para nós, é um clássico, Pedagogia do outro mundo. E tantas coisas
nós retiramos da “Pedagogia do Oprimido”.
Mas Paulo Freire é tudo. Mas é o
sentimento de que não dá para trabalhar com Educação compactada, através de
compactos de coisinha pré-feita. Por isso, ele chama para a sua metodologia, o
que a palavra “mundo”, a palavra geradora, aquela que, através da palavra, se
inicia a Educação e se começa um processo de alfabetização.
Isso trouxemos para o atual contexto,
com a pandemia, com as aulas, o teletrabalho e as aulas virtuais. Nós podemos
dizer que nós podemos revolucionar a escola pública brasileira, a partir, até,
do que faltou na cesta. Nossa diretora da Apeoesp, no que faltou padrinho, no
que faltou companheiro de Mabe, enfim, por quê?
Porque também aqui estava sendo
ensinado, os estudantes não estavam aprendendo. Então, não venham dizer que a
baixa qualidade da Educação tem a ver com a pandemia. Não. Tem a ver com a
ausência, com a falta de uma gestão democrática nas escolas, para que nós
possamos garantir a autonomia intelectual, pedagógica, desenvolver um projeto
político-pedagógico para garantir a qualidade da Educação.
A escola pública no estado de São Paulo
hoje é alvo de tirania. É tudo através do tal de centro de mídias. Eu acredito
que se fosse hoje, diferentemente do que disse Cortella, que Paulo Freire disse
‘esqueçam tudo que eu escrevi”, eu acho que não.
Eu acho que agora o Paulo Freire tem
que se fazer mais presente, e ver como é que nós reinventamos esse mundo que aí
está, através das tecnologias de comunicação, de informação e comunicação.
Agradeço, do meu coração, a presença de
todas e de todos. Nós vamos ter cidadãos ilustres aqui, que falarão online
conosco, Fernando Haddad, o Leonardo Boff. E a gente não vai poder esticar
muito na fala, porque tem as horas certas de eles entrarem.
Mas a gente tem também um vídeo do
presidente Lula, enfim, várias outras participações que, para nós, têm uma
importância muito grande. São atores que deram também, e dão, a sua
contribuição para a Educação brasileira, por uma Educação popular,
revolucionária.
Um forte abraço. Muito obrigada. Sejam
todos e todas muito bem-vindos. (Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - WILSON LEVY - Convidamos
agora todos para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.
*
* *
- É executado o Hino Nacional
Brasileiro.
*
* *
Após a execução do Hino Nacional
Brasileiro, chamamos, para tomar assento nesta Mesa, o professor José Eustáquio
Romão, diretor fundador do Instituto Paulo Freire. (Palmas.)
Informamos também que o professor Palma
se encontra online, e logo fará uso da palavra, para trazer as suas
considerações.
Agora vamos assistir à apresentação
cultural do grupo Maria Fuzarca, que fará uma homenagem ao mestre, através de
um esquete, com os palhaços Cocó e Garibaldi. Vamos acompanhar. Os atores são
professores da Rede Estadual de Ensino.
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Um pouco antes,
só dizer que eu tomei essa ... nesse momento tão difícil, que dá impressão que
o Hino Nacional não é nosso. A bandeira do Brasil é nossa. O Hino Nacional é de
todos os brasileiros. Então, nós vamos tocar o Hino Nacional como um direito.
Aqui ninguém tem um outro Brasil, que não se chame Brasil nosso. É isso.
E agora, o espetáculo.
*
* *
- É apresentado o espetáculo.
*
* *
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Muito
obrigada, viu? Parabéns. Eu cumprimento os artistas, nossos professores. É
sempre uma satisfação muito grande ver a nossa própria profissão produzir de
forma tão criativa, no caso, uma grande homenagem para o nosso mestre Paulo
Freire. Muito obrigada. (Palmas.)
Eu queria
chamar para vir para a Mesa... Eu estou incomodada que esta Mesa está muito,
muito masculina. Só estou eu de mulher, então eu chamaria a Francisca, que é
diretora da POS - por favor, Francisca (Palmas.), aí alguém lá de trás vem para
cá -, e a companheira do MST (Palmas.). Anunciar que, é claro, nós temos outras
mulheres importantes, tem a Natalina, enfim, a companheira do JPT.
Acho que sinto
falta de uma jovem aqui também, eu vou chamar também. Não tem importância, a
gente dá um jeito. O isolamento está sendo... E eu acho que aí a gente dá uma
equilibrada legal para a Mesa, está bom?
Agora, nós
vamos chamar um vídeo que foi produzido e, até na elaboração do vídeo, a gente
pediu para que não fosse um vídeo só com as fotos do Paulo Freire, fosse ele,
porque ele fala por si, né, João Chaves? Então, eu já peço para colocar o
vídeo, por favor.
*
* *
- É exibido o
vídeo.
*
* *
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bem,
como nós estamos fazendo a coisa híbrida, isto é um pouco da nossa convivência,
Romão. Então, nós vamos chamar agora o Leonardo Boff. Fará uma fala por quantos
minutos?
O SR. - Dez.
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Dez
minutos, e depois é o Romão e o professor Palma, que deveria estar aqui, mas,
como ele estava com uma leve gripe, não quis arriscar. Só avisar a companheira
da UEE que também ela terá o tempo da fala dela.
Acho que eu
olhei e vi uma jovem, mas também é uma outra jovem que não teria problema de
estar aqui na Mesa, ok? O problema é o distanciamento social, que nos obriga a
isto, com certeza.
Então, por
favor. Eu acho que “linkar” agora, porque o Leonardo Boff... Boa noite. Boa
noite, Sr. Leonardo Boff. Tudo bem?
O SR. LEONARDO BOFF - Tudo bem. Boa
noite, Bebel. Boa noite a todos que estão participando desta participação tão
significativa e tão revolucionária para os atuais momentos que nós estamos vivendo.
Eu quero ser breve. Eu creio que, na história da educação, Paulo Freire é o
primeiro a dar centralidade e reconhecer o saber do pobre e do oprimido. Todos
sabem que aquele que é ignorante não é o pobre, ignorante é aquele que pensa
que o pobre é ignorante.
Todos sabem e
todos podem aprender uns com os outros. Por isso, ninguém ensina nada de Paulo
Freire, ninguém ensina nada a ninguém: aprendemos juntos. Aprendemos juntos,
trocando, e a grande obra dele foi exatamente unir as duas grandes realidades em
que as pessoas vivem.
Primeiro,
aprender a ler o mundo - ler o mundo, observar a vida, acumular expedientes de
saber feito com suor, com trabalho. Primeiro vem essa leitura do mundo, depois
vem a leitura da letra e como nós interpretamos o mundo.
Então, ele deu
valor a tudo aquilo que vem do povo, que vem de baixo nas suas contribuições,
seja ao nível da arte, da fantasia, da própria linguagem, porque o povo é o
grande criador da linguagem. Ele veio, exatamente, trazer uma singularidade,
que é a novidade de Paulo Freire: ter entendido a educação como um ato
político, um ato político libertador.
Por isso que
ele é perseguido por esse regime, porque Paulo Freire ensina a pensar e,
ensinando a pensar, ele aprende as causas que produzem a sua pobreza. Um pobre
que não entende os causadores de sua pobreza nunca sairá de sua pobreza, mas
quando ele aprende, conhece os processos que produzem a sua situação de
marginalidade e pobreza, se une a outros e começa a crescer em consciência, aí
começa o processo de libertação.
Então, a nossa
alfabetização brasileira é política. São aqueles que querem que o povo não
pense, por ser mais facilmente manejados; eles não temem um pobre, eles têm
pavor de um pobre que pensa, que diz a sua palavra. Por isso, para Paulo Freire,
a primeira coisa na educação é resgatar a palavra do oprimido, da cultura
silenciada, da cultura do silêncio, que foi silenciada.
Quando ele
resgata a palavra, junto vem a consciência, e aí Paulo Freire cunhou essa
expressão, que ele tomou de Álvaro Oliveira Pinto - que nós esquecemos, um
grande pensador brasileiro, que escreveu esse livro famoso, A consciência e a história. Foi Álvaro
Oliveira Pinto que criou a palavra “conscientização”, assumida por Paulo
Freire. Conscientização não é tomar consciência; conscientização é aquela ação
que nos torna conscientes de nossa situação e nos faz comprometidos na
modificação dessa libertação.
Daí os dois
livros fundamentais dele são: o Pedagogia
do Oprimido. Na cabeça de cada oprimido está um letreiro, hospedaria do
opressor, porque o oprimido é oprimido porque internalizou o opressor.
O processo de
Paulo Freire na Pedagogia do Oprimido não
é uma pedagogia para o oprimido, é uma pedagogia de como o oprimido extrojeta
para fora o opressor que o retém oprimido. Ao extrojetá-lo, ele se torna livre.
Daí o segundo
livro importante, Educação como prática
da liberdade, a liberdade não para imitar o opressor, os seus vícios, a sua
dominação, mas para ser mais humano, mais próximo do outro, para poder amar
melhor as pessoas.
Paulo Freire,
eu tenho uma frase dele linda, que eu não quero deixar de dizer: “Não há
educação sem amor. [...] Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não
compreende o próximo. Não respeita”. Por isso, educar é exercer o amor para
toda uma coletividade. Só com amor a gente consegue educar verdadeiramente.
Então, a grande
utopia de Paulo Freire era criar o “inédito viável”. Isso é importante agora no
pós-pandemia, porque, no mundo inteiro, estamos discutindo que mundo vai nos
restar, porque não podemos voltar ao antes, que era demasiadamente cruel e sem
piedade, criando duas injustiças horrendas: a injustiça ecológica, devastando
os ecossistemas, e a injustiça social, imprimindo grande parte da humanidade.
Que mundo nós
queremos? Não podemos voltar à antiga normalidade, o destino comum nos conclama
um novo começo. Nesse novo começo, Paulo Freire tem uma importância
fundamental, porque ele parte de baixo, dos últimos, dos invisíveis. Como o
Papa tem falado três vezes aos movimentos sociais, “Não esperem nada de cima,
porque sempre vem o mesmo, ou o pior do mesmo”.
Criem vocês
mesmos a nova democracia, a nova forma de participação. Criem a agricultura
orgânica. Criem a nova democracia, onde todos vocês são protagonistas. Sejam os
poetas da nova civilização. Isso é importante neste atual momento, em que
discutimos que mundo nós queremos criar e habitar nesta casa comum, que é a
única que temos. Habitar todos juntos - a natureza incluída, que são os nossos
outros irmãos e irmãs. Paulo Freire é importante nessa visão nova do mundo,
criar esse inédito viável.
Nós não sabemos
qual é a configuração do novo mundo. É um inédito, mas ele tem que ser viável,
ele tem que estar dentro das possibilidades da nossa consciência, da nossa
capacidade de atuar no mundo. Ele mesmo se entendia. Uma vez eu perguntei:
“Paulo Freire, você se define como?”, e ele me disse: “Olha, Boff, eu sou um
agitador cultural. Agito as pessoas para despertar”.
Aqui, para
terminar e não me alongar, conto algo muito pessoal, porque nós trabalhamos
juntos. Durante quatro anos, sempre na semana de Pentecostes, um grupo de
eminentes sociólogos, teólogos, filósofos, educadores se encontrava em Nimega,
na Holanda, para montar uma revista, “Concilium”, que sai em sete línguas. Um grupinho
de 25 notáveis; eu, por acaso, estava lá, como representante a América Latina.
Esse grupo
tinha um conselho de cientistas, e Paulo Freire pertencia a esse conselho,
porque ele estava em Genebra, responsável pela educação especialmente da
África. Ele participava, a gente sentava junto, ele fazia os comentários
humoristas. Sempre intervinha e, quando intervinha, era escutado com a maior
atenção
Ele dizia:
“Senhores, vocês são todos grandes acadêmicos, grandes professores; usam a
linguagem técnica, científica. Nunca esqueçam de traduzir a vossa linguagem na
compreensão do mundo, das pessoas, porque se vossas teorias ficarem entre vocês
e não chegarem nas bases, elas não serão transformadoras.
Elas se
transformam quando chegam lá naqueles que lutam e sofrem e buscam caminhos de
orientação que vocês podem oferecer, instrumentos para eles mudarem a
realidade”.
Aí, ele me
pedia uma coisa curiosa: “Boff, sempre que você venha, traga-me, por favor, uma
garrafa de suco de pitanga”. Uma garrafa de suco de pitanga. No que ele me via,
nem me cumprimentava, gritava de longe: “Trouxe a pitanga?”.
Ele abraçava a
garrafa de pitanga e chorava. Chorava, porque era um símbolo da sua pátria, do
seu Pernambuco, a dor do seu exílio. Então, nós ficamos amigos. Depois, no Brasil,
nos encontramos outras vezes, demos palestras juntos.
Então, é um
homem, eu diria, usando uma expressão israelense (Inaudível.): é um justo entre
as nações. Um justo entre as nações, alguém que honra não só o Brasil, honra a
humanidade, honra a inteligência. Ele nos ensinou a aprender, e aprender
juntos, com os outros, de tal forma que não há aprender docente e discente,
estudante e aluno: somos todos aprendentes na arena da vida e vamos criando
juntos a possibilidade de nos humanizarmos.
O grande sonho
de Paulo Freire, que eu ouvi da boca dele, era criar uma sociedade de
amorosidade. O amor tinha um grande lugar na sua pedagogia, mas ele preferia
“amorosidade”, porque implica essa subjetividade, um sentimento profundo.
O grande sonho
dele era criar uma sociedade de amorosidade, e ele dizia: “Boff, eu gostaria de
uma sociedade que não fosse tão malvada como a nossa, onde não fosse tão
difícil o amor como está sendo agora”.
Essa sociedade
com a qual sonhou Paulo Freire, nós precisamos ajudar a construí-la no
pós-pandemia, uma sociedade dentro de uma casa única, a Terra, não temos outra,
associar a natureza incluída, tendo como orientação o bem-viver dos andinos.
Viver bem em
harmonia uns com os outros, com a natureza, com a família e com todos os seres
nessa bem-querência, nessa amorosidade que tanto entusiasmava Paulo Freire.
Então, ele nos deixa um desafio para
ajudar a criar uma configuração nova da casa comum. Ele bem dizia: a educação
não muda o mundo, mas muda as pessoas que vão mudar o mundo.
Nós queremos ser essas pessoas, mesmo
que sejamos sementes que vão ajudar a configurar o mundo onde vale a pena
viver, onde podemos celebrar alegria, a graça, o verdadeiro milagre de estarmos
vivos nesse pequeno e belo planeta juntos, discípulos da vida, ajudando-nos uns
aos outros como irmãos e irmãs em uma profunda amizade e amorosidade.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bem,
esteve aqui conosco Leonardo Boff. Não preciso nem dizer que ele é
conhecidíssimo entre nós. Ele é professor universitário - deveria ter feito a
apresentação inicial -, teólogo, escritor e filósofo.
Participou virtualmente por conta aí
das regras de isolamento, e isso que ele fala é verdade, nós vamos ter que
lidar com o inédito, e o inédito é esse momento pelo qual nós passamos.
Eu passo a palavra agora para o Romão e
ao mesmo tempo eu queria chamar uma frase do Paulo Freire que, para mim, ela
deixa com clareza as coisas. Tem um monte, se você pegar as frases e os dizeres
dele... Mas esta aqui é que a gente sempre acha que alguém ensina sem nenhuma
intencionalidade. Não, sempre tem uma intencionalidade através do que a gente
ensina.
E a frase diz o seguinte: “A educação,
qualquer que seja ela, é sempre uma teoria de conhecimento posta em prática”.
Então, não tem como dizer que, por detrás de um ato pedagógico, não tenha uma
teoria, uma concepção, tem uma concepção. Douglas, nós estamos providenciando uma
cadeira, porque a gente está fazendo um “remelation”, tá? E aí depois você vem
para cá.
O Douglas é o presidente da Central
Única dos Trabalhadores, a CUT estadual. Está aqui entre nós, professor também,
um orgulho para nós ter um professor sendo presidente da Central Única dos
Trabalhadores. E com muito orgulho, né? Agora eu passo para o... (Palmas.)
O
SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - WILSON LEVY - Dando sequência
à nossa sessão solene, eu passo a palavra ao professor José Eustáquio Romão,
diretor fundador do Instituto Paulo Freire, pelo tempo de dez minutos.
Professor Romão está com a palavra.
O
SR. JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO - Me ouvem bem? Muito
boa noite a todas e a todos. Falar depois dos palhaços, depois do Leonardo
Boff, praticamente não sobrou quase nada, os palhaços reconstituíram aqui a
biografia do Paulo Freire toda, né? Desde o nascimento lá em Recife, as
dificuldades depois na grande depressão, quando a família vai para o Jaboatão
dos Guararapes, passou fome.
Depois, só estuda direito com mais
idade, foi o único curso superior para o qual o Paulo Freire foi. Neste País
credencialista como o nosso, estão querendo dizer que o Paulo Freire fez
doutorado, fez mestrado, fez pedagogia, fez nada. Ele estudou direito e não
exerceu a profissão.
Desistiu da profissão na primeira
causa, porque teria que depenar um pobre de um recém-formado dentista que não
conseguia pagar os equipamentos que tinha comprado à prestação, e o Paulo
Freire, que se formou em direito, foi contratado pelo credor para tomar os
equipamentos do dentista ou cobrar a dívida de qualquer jeito.
E o Paulo Freire foi conversar com o
dentista e disse para ele: “Olha, por que você não pagou? Está atrasado com a
prestação, está inadimplente”. E o jovem dentista disse para ele: “Olha,
doutor, eu não tenho uma clientela ainda firme, e, portanto, eu estou mesmo
atrasado com as prestações do equipamento que comprei para montar o meu
consultório”.
Aí o Paulo Freire disse a ele, ao
dentista: “Para realizar minha profissão, eu vou ter que acabar com a sua. E
como eu tenho um pouquinho mais de experiência e sou mais velho que você, eu
vou acabar com a minha para você realizar a sua”.
E me contou pessoalmente Paulo Freire
que foi até um morro - não sei se em Olinda mesmo, em Recife - e jogou o Código
Civil lá de cima, metaforicamente. Não porque desprezava a profissão de
advogado, não porque desprezava a formação que tivera.
Inclusive, uma formação de advogado
naquela época era uma formação humanista, que lhe permitia, inclusive, dar
aulas de português no Colégio Oswaldo Cruz, onde tinha estudado com uma bolsa
de estudos, porque não tinha como pagar. Era um dos colégios mais importantes
do Recife, e ele lá estudou.
Falar sobre essa vida do Paulo Freire,
dos detalhes, e falar sobre a obra é mais complicado ainda falar depois do meu
amigo Leonardo Boff, que viveu com o Paulo Freire, conviveu com ele no
exterior, no exílio, esteve com ele no Conselho Mundial de Igrejas durante
muito tempo... Aliás, pelo que o Paulo Freire nos contava, ele e Boff eram os
únicos católicos no Conselho Mundial de Igrejas.
Pois bem, esse brasileiro nordestino,
ele mesmo é a prova da teoria dele. E é isso que eu queria destacar, Bebel, já
agradecendo por esse convite ao Dr. Levi, à Bebel, de mais uma vez estar aqui
nesta Casa, que eu considero a casa mais freiriana que nós temos no País. Por
quê? Porque é a casa da pluralidade, é a cada das diferentes posições
ideológicas e é a Casa do Povo.
Portanto, as assembleias, as câmaras
dos vereadores, o parlamento brasileiro, por mais que critiquemos, por mais que
rechacemos pessoas que estão lá, em primeiro lugar, foram eleitos e representam
a gama e a variedade que é este País.
Culturas múltiplas, diferentes visões
de mundo, diferentes ideologias. Eu vou dizer algumas coisas aqui hoje, Bebel,
rapidamente, né, porque eu só tenho dez minutos, mas que podem ninguém - que
talvez esteja aqui - estar sabendo.
Eu não vou falar dos livros, porque a
maioria conhece, os livros estão aí publicados, estão sendo reeditados todos,
já foram reeditados nessa nova edição 23 livros publicados por Paulo Freire, e
a ideia é reeditar todos pela editora que o acolheu. (Palmas.) Mas eu vou
narrar rapidamente alguns fatos - dois fatos ao menos eu gostaria de destacar
-, porque, ao meu ver, ao meu juízo, a melhor maneira de homenagear uma pessoa
como Paulo Freire é demonstrar cabalmente a atualidade de suas ideias, de suas
posições. (Palmas.)
Nunca ao meu juízo o mundo precisou
tanto quanto está precisando agora do legado de Paulo Freire. Nós terminamos
hoje, por volta das três horas da tarde, que era bem mais tarde lá em Paris, o
12º Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire com freirianos de todas as
partes do planeta.
Para vocês terem uma ideia, a reunião
parecia uma Babel, porque só de idiomas em um determinado momento, do pessoal
que conseguiu ir a Paris e do pessoal que estava participando por meio remoto,
eu contei mais de 70 idiomas que estavam sendo falados na reunião.
Portanto, é uma coisa, assim,
inimaginável que nesse País ainda tenha gente dizendo que o Paulo Freire era um
energúmeno. Como é que um energúmeno pode influenciar a educação, influenciar a
formação social de Timor Leste, na China, na Armênia, na França, na Alemanha,
na Rússia? Eu estou citando aqui alguns dos países que sediam um Instituto
Paulo Freire.
Nós terminamos essa reunião hoje, três
dias de reunião, discutindo como usar a teoria e a militância de Paulo Freire
para a solução dos problemas que nós estamos vivendo com essa onda
neoconservadora, neofascista e neonazista que grassa pelo mundo e pelo Brasil.
Não nos assusta o atual governo federal. O que nos assusta são pessoas que
ainda vão para a rua gritar, clamar elogiando os seus algozes.
Como disse muito bem o Leonardo Boff, o
que a população brasileira tem que ter consciência - e a teoria freiriana é
para isso, é que não há educação sem conscientização - é descobrir quem é que
nos escraviza. Não há educação, não há conhecimento sem essa conscientização. A
própria alfabetização só é alfabetização quando é conscientização.
O que significa, aliás, dizia o Paulo
Freire, brincando com as palavras, que ele era um linguista, reconhecido como
um dos maiores linguistas do mundo, reconhecido assim pelos próprios
linguistas.
Aliás, o Paulo Freire surpreende a
gente toda hora, porque os teólogos dizem que ele era um grande teólogo. Nós
acabamos de ouvir um dos maiores teólogos do mundo, que é o Leonardo Boff,
reconhecendo Paulo Freire como um grande teólogo, que participava como
cientista da edição da revista Concilium, e que se reunia lá na Europa.
Paulo Freire nos surpreende, porque
certa vez, em Paris, o professor Moacir Gadotti e eu fomos convidados por um
físico quântico que queria nos oferecer um jantar para que nós explicássemos
para ele o teorema da indecidibilidade na física da obra de Paulo Freire. Eu
fiquei olhando para o Gadotti e falei: “Você já leu isso na obra de Paulo
Freire?”.
E o Gadotti, surpreendido como eu, o
que esse homem está querendo conosco? Esse físico, diretor do maior centro de
pesquisa em física quântica da Europa, quer jantar conosco para nos perguntar o
que nós sabemos sobre a teoria - aliás, teoria não, teorema - da indecidibilidade,
um dos teoremas mais complexos da física, da lógica quântica, na obra de Paulo
Freire?
Pois bem, os físicos o consideram um
grande físico. Eu mesmo ouvi do Paulo Freire aqui na Vila Alpina, em São Paulo,
certa vez dizer para o pessoal, na hora em que foi se apresentar, dizendo:
“Olha, eu queria dizer para vocês que, antes de tudo, eu sou um teólogo”.
Eu fiquei olhando para ele e falei:
onde ele estudou teologia, meu Deus? E aí ele completou a frase: “Como eu não
sou teólogo formado em universidade, eu posso cometer maravilhosas heresias”.
Mas depois nós descobrimos no Conselho
Mundial de Igrejas 300 caixas de documentos, que estamos lendo agora,
interpretando agora, totalmente inéditas, no período de dez anos em que ele
passou lá escrevendo também sobre teologia, a ponto de os papas da época
pedirem a teólogos que atravessassem os Alpes e fossem a Genebra conversar com
Paulo Freire, ouvir Paulo Freire. Portanto, é um homem que nos surpreende a
cada dia que passa.
Um homem que nunca fez pedagogia. Não
fez licenciatura, Bebel, não fez o curso que fez, e se transforma em uma
referência pedagógica para o mundo inteiro. “Pedagogia do Oprimido” é hoje um
dos livros mais traduzidos em todo o planeta. “Pedagogia do Oprimido” é hoje o
livro mais pedido nas universidades do mundo, e não importa o regime, não
importa a ideologia.
É o livro mais demandado nas
universidades norte-americanas. É o livro mais pedido nos cursos de humanidades
e ciências sociais na China. Portanto, é uma estupidez achar, pensar, dizer que
Paulo Freire tem uma opção ideológica - e tem, tem lado -, mas que ele é um
perigo e que ele só pode ser usado nos países comunistas.
Ele é usado em todos os países do mundo
hoje. “Pedagogia do Oprimido” está traduzida em quase todos os idiomas. E todo
mês nós recebemos no Instituto Paulo Freire, eu mesmo recebo pessoalmente,
porque cuido das relações internacionais, livros que eu custo a descobrir em
que língua é que está o livro do Paulo Freire, às vezes só reconhecendo o nome
Paulo Freire grafado ali.
Eu não quero falar do intelectual Paulo
Freire, reconhecido em todas as universidades. Eu não vou falar do militante
Paulo Freire, que vocês conhecem muito bem, que depois voltou ao Brasil em 1980
e se transformou em uma liderança na fundação do partido e etc. Mas eu quero
falar do ser humano Paulo Freire, encerrando esta minha intervenção e me
colocando à disposição para (Inaudível.).
Quando Paulo Freire faleceu, o
professor Moacir Gadotti e eu fomos cuidar do sepultamento. Fomos ao cemitério
aqui no Morumbi, porque o Paulo Freire tinha nos pedido, antes de falecer, que
ele queria ser sepultado ao lado de Elza, a esposa, mãe dos cinco filhos e que
já tinha falecido anos antes. Quando Elza faleceu, me lembro bem, e fomos
sepulta-la nesse cemitério do Morumbi, ao sair do cemitério, Paulo Freire
queria morrer.
Entrou em depressão, não comia, não
tomava banho. Ia morrer. Passado algum tempo, a única maneira de salvar o Paulo
Freire - nós, que éramos os amigos mais próximos nessa época, porque eu conheci
o Paulo Freire pessoalmente depois que ele veio do exílio, não o conheci antes.
E o Paulo, em depressão, querendo
morrer, os amigos que o conheciam mais lá de Genebra, como era o caso do
Gadotti, disse: “Olha, tem que arrumar uma namorada para ele, esse cara vai
morrer”.
E ele ainda tem muito a dar, a
escrever. Não tinha escrito ainda “Pedagogia da Esperança”. Não tinha escrito
“Pedagogia da Autonomia” ainda. Pois bem, Gadotti foi quem trabalhou mais e
funcionou como um verdadeiro cupido. E o Paulo Freire acabou se apaixonando por
uma de suas orientandas, mais ou menos da geração dele, também do Recife,
também viúva, e acabaram se casando.
Pois bem, casou-se com Ana Maria de
Araújo, pernambucana, por coincidência filha do diretor, do dono do Colégio Oswaldo
Cruz, onde a mãe do Paulo Freire tinha conseguido uma bolsa de estudos para ele
fazer o ensino básico, porque ele não teria condições de pagar na época aquela
escola. Casaram-se.
Quando fomos ao cemitério - e ele tinha
pedido que queria ser sepultado junto com a Elza -, nós imaginamos, Bebel, isso
vai dar um problema, porque, casado uma segunda vez, agora ele quer ser
sepultado junto aos restos mortais da primeira esposa, isso vai dar confusão.
Fomos tomar providência com relação ao sepultamento.
O velório foi ali no Tuca, na
Pontifícia Universidade Católica, no teatro da Pontifícia Universidade
Católica. Tomamos as providências - já estou encerrando -, à qual não foi a
nossa surpresa que, chegando lá no cemitério e pedimos aos coveiros que limpassem
o túmulo - vocês sabem que, no cemitério do Morumbi, não tem monumento, é para
baixo -, quando tiraram a terra, na parte de concreto onde estavam os restos
mortais de Elza, estava pregado uma placa.
Eu limpei a placa, fotografei, tinha um
poema do Paulo Freire para a Elza. Estava escrito: “Elza, a tua ausência é a
razão da minha inexistência. Estou vagando no mundo como nuvens em um dia de
muita tempestade. Dor profunda. Paulo Freire”.
Ou seja, esse homem, depois que nós
sepultamos Elza, voltou algum tempo depois ao cemitério, deve ter pagado caro,
um problema de burocracia danado em cemitério, e conseguiu tirar a terra, fez
um poema, este recado, e pregou no túmulo de Elza.
Passado um tempo, depois de alguma
dificuldade, conseguimos casá-lo de novo. O que ele fez? Voltou ao cemitério,
porque quando limpamos o outro lado, Bebel, tinha uma outra placa pregada no
túmulo de Elza. E o que dizia a segunda placa? “Elza, recuperei a razão da
existência, mas jamais, jamais trairei a existência que tive contigo. Paulo
Freire”. (Palmas.)
Concluindo, isso que o Boff acabou de
falar, vamos falar que não há possibilidade de civilização, não há
possibilidade de criar uma sociedade, não há possibilidade de um futuro, não há
possibilidade do inédito viável sem o amor.
E ele demonstrou isso na prática. Ao
ler as duas placas, eu pensei comigo mesmo: vai amar assim lá no inferno.
Portanto, esse é o homem Paulo Freire, cuja obra a gente deve ler.
Pouco antes de morrer, o Paulo disse
que queria reler o manuscrito da “Pedagogia do Oprimido”, e eu pensei que ele
estivesse delirando, morrendo. Não estava.
Ninguém acreditou, porque quem
datilografou o livro para entregar para os americanos, o livro foi editado pela
primeira vez no Uruguai, depois nos Estados Unidos. O Brasil, como ele estava
proibido aqui, foi o oitavo país do mundo a publicar a “Pedagogia do Oprimido”.
Pois bem, nós pensamos que ele
estivesse delirando; não estava. Durante mais de uma década, fomos atrás do
manuscrito, e achamos o manuscrito no Chile, onde ele o escreveu na primavera,
como está escrito aqui com a letrinha dele, de 1968. Ele pôs o ponto final e
fez a dedicatória ao homem que o tinha recebido no Chile quando ele foi expulso
do Brasil, quando ele fugiu do Brasil. Pois bem, ele pegou o livro,
datilografado, e passou a limpo à mão para poder presentear o homem que o tinha
recebido no Chile, Jacques Chonchol.
Depois de muita conversa, não tem mais
tempo, depois de mineiro como sou ficar tocaiando o homem que recebeu estes
manuscritos no Chile, conseguimos convencê-lo a doar o manuscrito para o
Brasil. O manuscrito irá para a Biblioteca Nacional, é um patrimônio da
humanidade. (Palmas.)
Mas nós resolvemos editar o manuscrito do
jeitinho que ele é, com a letrinha do Paulo Freire, legível, porque ele
caprichou na cópia do livro que já estava datilografado para mandar para os
editores.
Editamos, que é este livro aqui. Aqui
está a “Pedagogia do Oprimido”, e o Paulo Freire, onde quer que esteja, deve
estar repetindo a frase que ele me falou. Ele pegou a 11ª edição de “Pedagogia
do Oprimido”, publicada no Brasil, e disse para nós: “Esta é a primeira edição
decente de ‘Pedagogia do Oprimido’, porque mutilaram meu livro por todo o mundo.”
Eu vou dizer: Paulo, onde quer que você
esteja, essa aqui é a edição autenticamente decente de “Pedagogia do Oprimido”.
A gente espera que as editoras agora publiquem o livro a partir desta que é o
original da “Pedagogia do Oprimido”.
Bebel, eu trouxe só três exemplares
porque nós não podemos distribuir para pessoas, mas para instituições. Eu
pediria que você destinasse os três volumes para instituições.
“Ah, e nós? Nós gostaríamos tanto de
ter o manuscrito, ler direto para ver o que está motivado, o que não está.” Eu
vou liberar para a Bebel o link, com a cópia exata digital liberada pela
família e pelos herdeiros, para que você coloque em qualquer site. Pode baixar,
copiar, ler, emprestar, doar, só não pode vender. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bom, essa
pessoa maravilhosa, boa de prosa, porque vou falar agora do companheiro de
Conselho Nacional de Educação, Zé Eustáquio Romão.
Eu tive a honra de estar com ele numa
das cadeiras do Conselho Nacional de Educação, nada mais, nada menos que
secretário-geral do Conselho Mundial de Institutos Paulo Freire, professor
visitante nos Estados Unidos, Portugal, Colômbia e Uruguai, como já disse,
ex-membro, junto comigo, do Conselho Nacional de Educação, professor titular na
Federal de Juiz de Fora, professor de mestrado e doutorado em Educação da
Uninove.
Vocês vão estar se perguntado: mas essa
mesa está invertida, a pessoa fala, depois ele está lendo o currículo, mas é
que no afã do tempo nós estamos fazendo isso, porque nós estamos trabalhando
hibridamente.
Nós vamos trazer agora para falar
conosco alguém muito importante na educação brasileira, assim, deu uma
contribuição sobremaneira em termos de incluir jovens nas universidades. Mais
que isso, valorizou a educação pública básica brasileira.
Quando nós estávamos no Conselho
Nacional de Educação, ele instituiu a Emenda Constitucional 59, que tem outro
número, mas popularmente é a Emenda Constitucional 59, restituindo a
vinculação, porque tinha desvinculação de recursos da União que concerne à
Educação, editada por Fernando Henrique Cardoso, e o Fernando Haddad então
restituiu, e na mesma Emenda Constitucional colocou também, ampliou a
escolaridade, e mais que isso, também colocou a necessidade da construção de um
sistema nacional articulado de educação.
Bom, seja bem-vindo conosco, Fernando
Haddad, por favor receba nossos aplausos. (Palmas.). É jovem, não porque nós
estamos velhos, hein, Romão? Mas eu vou deixar também uma tarefa, antes de
passar a palavra para o Fernando Haddad, para que vocês virem o meu cupido para
eu também ter essa felicidade que o Paulo Freire teve.
Muito obrigada. (Palmas.)
Com a palavra, então, Fernando Haddad.
O
SR. FERNANDO HADDAD - Queridíssima deputada
Bebel, líder do PT na Assembleia Legislativa. Eu gostaria, em primeiro lugar,
de agradecer enormemente a honra de proferir algumas palavras dessa solenidade
de homenagem ao maior educador brasileiro, professor Paulo Freire.
Quero lhe dizer que nós tivemos a
felicidade de gerir o Ministério da Educação durante um período relativamente
longo. Foram sete anos à frente do Ministério da Educação.
E o que eu posso assegurar às pessoas
que estão nos ouvindo é que a equipe tinha duas referências teóricas presentes
permanentemente, o professor Anísio Teixeira e o professor Paulo Freire. Eram
as duas figuras que nos (Inaudível.) no norte. Nós tínhamos um norte no
Ministério da Educação, que era honrar o nome dos maiores educadores do País.
E o Paulo, eu tive a felicidade de
conhecer também na Academia. Eu fiz, como as pessoas sabem, eu fiz doutorado em
Filosofia, e a minha área de concentração era a “Teoria do Agir Comunicativo”,
do Habermas.
E, para minha surpresa, a “Teoria do
Agir Comunicativo”, com todo o destaque que teve ao longo de décadas, foi
publicada em 1981, eu diria a você, sem medo de errar, que “Pedagogia do
Oprimido”, que é de 1968, de alguma maneira foi além das obras filosóficas mais
importantes que foram publicadas depois que o Paulo Freire escreveu a sua obra
maior.
Porque o Paulo compreendeu muito cedo
que ele tinha que combinar dois conceitos que não estavam bem formulados na
literatura. Ele combinou a razão dialógica, e ele é dos primeiros a falar em
dialogia, em razão dialógica e dialética, mas ele combinou isso com a simetria.
Ele combinou isso justamente com
relações de opressão, e vindo à educação uma chance de contestar o sistema,
assim como viu na educação uma chance de reforçar o sistema. E fez a clássica
distinção entre educação bancária e a educação que todos queremos, que é a
voltada para a emancipação do ser humano.
E ele via no mais humilde dos seres
humanos, e sobretudo nele, as condições para que o ato de educar fosse um ato
libertário. E para isso, os educadores é que precisavam ser educados.
Então, nós tínhamos que ter uma espécie
de norte, uma diretiva que nos permitisse pensar essa relação tão delicada
entre o educador e educando, que é uma relação que pode ser vista às avessas,
porque no ato de educar você também está se educando a depender da postura que
você tem frente justamente dessa pessoa que vê na educação uma chance de
crescimento, de formação de juízo crítico e libertário frente ao mundo com
tantas injustiças.
O Paulo Freire, com muita antecedência,
nos anos 60, já estava deslumbrando um horizonte para a área da Educação
inteiramente renovado, a partir de formulações não apenas originais, mas que
iam ao centro do problema e faziam com que os educadores pudessem perceber a
riqueza daquele processo e a potencialidade que ele tinha, se fosse bem
conduzido.
Então, é um livro atual até hoje. Nós
estamos falando de um livro que tem mais de 50 anos, meio século. É muito
difícil um livro resistir a meio século de existência. São só grandes clássicos
que sobrevivem tanto tempo. Pensem vocês os livros que nós estamos lendo hoje
que foram escritos há muito tempo. São grandes nomes do pensamento universal, e
são poucos nomes no mundo.
Os países ostentam poucos nomes que
sobrevivem a tanto tempo. Então, é muito triste, para dizer o mínimo, que o
governo brasileiro não compreenda a dimensão desse espírito grandioso que foi o
Paulo Freire.
E eu receio que o Paulo Freire, hoje,
será muito mais valorizado no mundo todo do que no seu País, em virtude do
descaso que vem sendo cometido com seu legado, e desse afã de um governo
obscurantista em querer macular a sua figura extraordinária, que faz sombra a
todos os que ofendem no presente momento.
Eu chamo a atenção para uma decisão
judicial que foi tomada, nessa semana, proibindo o presidente da República de
ofender o nome e a honra do Paulo Freire. Imaginem um país (Palmas.) que
precisa recorrer ao Poder Judiciário para fazer o seu primeiro mandatário
respeitar aquele que projetou o nome do Brasil honradamente para todo o mundo.
Então, nós temos na figura do Paulo a
figura humana que ele era, o legado como uma pessoa que acolhia todo mundo e
que fazia do seu dia a dia um exercício daquilo que ele pensava.
Portanto, não era só o livro, era sua
atitude, o seu gesto de dia a dia. Eu não tive a felicidade de conviver com
Paulo Freire, mas tive a felicidade de conviver com muitas pessoas que
conviveram com ele.
E quero dizer que essas pessoas que
tiveram o privilégio de gozar da sua amizade, dos seus ensinamentos, foram
grandes interlocutores do Ministério da Educação enquanto eu fui ministro.
Então, eu quero dizer a vocês que se
decisões corretas foram tomadas no Ministério da Educação na primeira década
deste século, eu quero dizer para vocês que, sem sobra de dúvida, as decisões
corretas foram inspiradas por esse grande brasileiro. As equivocadas, eu assumo
todas em meu próprio nome, mas eu tenho certeza que as corretas foram
inspiradas por esse que nos orgulha tanto como patrono da Educação brasileira.
Um boa noite a todos, muito obrigado,
Bebel, pela honra que você me deu de poder prestigiar o maior nome da Pedagogia
brasileira e um dos maiores nomes da Educação mundial. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu agradeço ao
senhor, Fernando Haddad, e ao mesmo tempo que agradeço, agradeço a honra também
que o senhor me deu de por duas vezes consecutivas fazer parte do Conselho
Nacional de Educação, que foi na gestão Fernando Haddad.
Eu fui, talvez, a primeira professora
do chão da escola pública que fez parte do Conselho Nacional da Educação. Nós
tivemos professores que foram professores, mas que se tornaram professores
universitários. Eu até tenho condições disso, mas fiz opção, optei pelo caminho
sindical e continuei no chão da escola pública. Então, isso para mim foi, e
sempre será uma grande honra no meu currículo e na minha vida.
Muito obrigada. (Palmas.)
Eu aproveito para passar, agora, para o
João Palma, que está nos aguardando. Mas antes, porém, eu vou chamar o Douglas
para fazer uma breve saudação de três minutos, Douglas, porque a gente está
correndo e a gente tem que encaixar.
Eu, agora, nós estamos aprendendo a
lidar com híbrido, presente e quem está a distância, e que está dando certo, o
que significa que a gente não vai deixar de ouvir as pessoas. Nós vamos poder
ouvir.
Então, nós temos entre nós também,
através da Associação dos Professores de Osasco, a FETE, Filomena Teresa Silva
Barros. Nós temos a Tayná Wine. Cadê a estudante que está aqui entre nós? Ela
estava até aqui entre nós também, representante da UEE, União Estadual dos
Estudantes, que também deverá fazer uma fala; do Conselho Municipal de
Educação, a Fátima Antônio.
Muito obrigada pela presença, Fátima.
Nós temos também representação da CTB, que é a Central dos Trabalhadores do
Brasil. O Paulo Teixeira Saboia e da Aspef, Luís Carlos da Silva, e Liga do
Professorado Católica, Darlecio Norato Jr. Aliás Victor.
E tem uma lista de entidades, que
depois a gente vai fazer um link para que todos também tenham aí três minutos
para falar, e a gente dá a voz, esse momento que é o momento movimento, na
verdade, porque a gente quer que as várias vozes ecoem nesse dia e não fiquem
só escutando, senão eu vou contrariar o Paulo Freire lá onde ele estiver. Ele
não quer educação (Inaudível.), ele quer que todos se emancipem. Então, nem que
sejam dois minutos de fala, todos terão a fala, as entidades.
Então, passo imediatamente ao
companheiro Douglas. Por favor, Douglas, aí observando o cronômetro, e para depois
passar para o querido Palma, que está aguardando. Depois tem o Mercadante
também nos aguardando. Então, tem uma fila de gente tão importante também
quanto vocês, mas que é importante ouvi-los. Por favor.
O
SR. DOUGLAS MARTINS IZZO - Boa noite aos companheiros
e companheiras, várias pessoas aqui que há muito tempo não vejo. Nós estamos há
mais de um ano trabalhando em home office.
Saudar o nosso companheiro Prof. Romão,
a Francisca, companheira da direção da Apeoesp, da CTB, do PCdoB. Cumprimentar
aqui a Simone. Eu nem conheci a Simone. Eu falei: qual o seu nome? Ela falou:
“Simone”. Simone, você com toda essa máscara eu não te conheci.
Cumprimentar a Lígia Toledo, e um
cumprimento muito especial aí a nossa companheira Bebel, deputada estadual,
líder da bancada do Partido dos Trabalhadores. E parabenizar, Bebel, por esse
ato solene, 100 anos de Paulo Freire.
Eu acho que muitos que me antecederam
falaram sobre a importância de Paulo Freire. Eu acho que a gente tem que
colocar a importância do Paulo Freire justamente no pano de fundo que nós temos
hoje onde cresce o obscurantismo, onde cresce uma política justamente que vai
no contrário de tudo aquilo que Paulo Freire colocou e apresentou.
Como disse o Prof. Romão, é a obra
brasileira mais lida na língua inglesa e que infelizmente aqui no Brasil há uma
liminar para que não haja, para que não ocorra um ataque por parte desse
governo ao patrono da educação brasileira.
Então, eu acho que Paulo Freire é muito
atual, e eu penso que trazer à luz desse momento em que nós vivemos a pedagogia
do Paulo Freire é a gente discutir a libertação das pessoas através do
conhecimento.
É a gente discutir com esse povo
oprimido, com esse povo sofrido e a gente discutir a esperança, a esperança que
nós possamos avançar e superar essa situação que nós vivemos de pandemia,
superar uma situação que nós vivemos do sofrimento do povo brasileiro com a
fome, com o desalento, com o desemprego.
Nós temos que, primeiro, ter um olhar
crítico sobre essa situação e apontar para o povo brasileiro a esperança. A
esperança está contida em textos e é o legado que Paulo Freire deixa para a
gente.
Então, minha companheira Bebel, você,
como sempre, trazendo assuntos e temas importantes e trazendo mais: um mandato
popular que traz o povo, todas essas várias visões, para dentro desta Casa
Legislativa. Então, um abraço.
Viva Paulo Freire! (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada,
Douglas. Uma satisfação muito grande. A Central Única dos Trabalhadores, assim
como a companheira Natalina está aqui também, ela é da Central Única dos
Trabalhadores nacional. Então, também a gente está devidamente muito bem
representado.
Vou agora, imediatamente, colocar na
tela o nosso companheiro Palma. O Palma estava com uma gripe e eu falei: “Não,
Palma, não venha, porque aqui está gelado e a gente tem preocupação”. Peço para
o Palma então já fazer uso da palavra, Palminha, e a gente vai fazendo esse...
Então, vou chamar agora a Tayná para
sentar aqui do nosso ladinho. Tayná. Porque, enfim, educação, não sei... Os
educandos... É muito estranho. Acho que Paulo Freire não me perdoaria se eu não
pusesse os estudantes na Mesa.
Então, por favor, querida. Pronto, o
Douglas já fez a gentileza de ceder. Assim como também os profissionais da Educação...
Sem os funcionários de escola, não tem educação. Então, tudo está
intrinsecamente ligado.
Vamos lá. Palma, por favor, querido.
Dez minutos, ok?
O
SR. JOÃO PALMA - Vou falar menos até.
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada.
O
SR. JOÃO PALMA - Boa noite a todos e todas. Quero
inicialmente agradecer a compreensão da Bebel, que me poupou de ir até aí, mas
eu gostaria muito de estar aí. Contato físico. Afinal de contas, estou isolado
há 18 meses, não é? Só conversando com os amigos, companheiros e companheiras,
de forma remota.
Quero também aproveitar para
parabenizar a Bebel pela iniciativa dessa homenagem mais do que justa e muito
apropriada, aliás, em relação ao momento que estamos vivendo.
Não é só a questão do centenário de nascimento,
mas o momento de reação que estamos vivendo aqui no Brasil hoje, de retrocesso
nos avanços que tivemos no campo da Educação. Portanto, essa homenagem veio bem
a calhar.
Bom, se já era difícil, como disse o
Romão, falar depois dos palhaços e falar depois do Leonard Boff, falar depois
do Romão, falar depois do Fernando Haddad... Ficou mais difícil para mim.
Não vou, obviamente, discorrer sobre a
obra do Paulo Freire, que conheço muito bem. Aliás, com ela trabalho na
universidade, na Unesp, aqui em São Paulo, lá no Instituto de Artes.
Tenho um grupo de pesquisa, além das
aulas que dou na pós e, neste ano, trabalhamos com duas obras do Paulo Freire:
“Educação como Prática de Liberdade”, que considero uma obra muito importante.
Não foi a primeira que ele publicou, mas, na minha ótica, pegando a década de
60 do século XX, é um documento muito importante não só do ponto de vista
pedagógico, educacional, mas do ponto de vista político.
Há um capítulo desta obra em que ele
fala da transição que estávamos vivendo no país naquele momento. É um texto
sociológico, na realidade.
Todo mundo sabe que o Paulo Freire,
naquele momento, foi influenciado não só pelo pensamento cristão,
principalmente a partir de alguns filósofos do humanismo cristão francês, mas
também pelo Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o Iseb, onde ele
conviveu com outro grande filósofo brasileiro que escreveu aquele livro
“Ciência e Existência”, o Álvaro Vieira Pinto.
Aliás, o Iseb, que foi fechado no
primeiro ato da ditadura de 64, foi uma escola de pensamento brasileiro muito
importante e nós até hoje temos a obrigação de procurar nos aproximarmos
daquele pensamento.
A segunda obra é “A Pedagogia do
Oprimido”. Sobre “A Pedagogia do Oprimido” eu não preciso nem me alongar, dada
a importância que tem essa obra não só para os brasileiros, mas mundialmente,
como já foi aqui relatado pelo Romão.
Bom, eu vou agora aproveitar este
momento para falar alguma coisa sobre a experiência pessoal que tive com o
Paulo Freire. Em 1985 ou 86, eu estava coordenando aqui no estado de São Paulo
uma reforma do ensino fundamental.
Tínhamos acabado de sair da ditadura e
tivemos a primeira eleição de governadores. Foi eleito, aqui em São Paulo, o
Franco Montoro, e fui convidado para coordenar a Coordenadoria de Estudos e
Normas Pedagógicas, a Cenp. Lá começamos, com uma grande equipe que tínhamos
lá, a pensar uma reforma do currículo do ensino fundamental.
No mesmo período, comecei também a
fazer o meu mestrado. Meu mestrado é um mestrado tardio; fiquei treze anos fora
da universidade por motivação política. Quando voltei, já em 1986, iniciei o
meu mestrado. Ao mesmo tempo, estava coordenando essa reforma que mencionei.
A minha orientadora, a professora Ana
Maria Saul, uma freireana que conhece melhor do que eu a obra de Paulo Freire,
me sugeriu se eu não gostaria de conversar com o Paulo Freire sobre essa
reforma em que estávamos, naquele momento, trabalhando. Eu disse que sim, sem
nenhum problema, e fui até a PUC, onde ele se encontrava.
Lá, durante duas horas, conversamos
sobre essa reforma. Ele mais escutou do que falou. E estava correto. Eu tinha
que apresentar a ele quais eram os pilares dessa reforma que, aliás, estava
sendo discutida com os professores. Nessa época, mais de 20 mil professores
participaram dessa discussão.
No final, ele me disse uma coisa que me
tocou muito. Ele falou: “Olha, professor Palma, tudo bem, mas eu gostaria de
saber o seguinte: no que essa reforma vai beneficiar as crianças populares, as
crianças das camadas populares, que estão alijadas, que sempre estiveram
alijadas da educação formal?”.
Eu respondi: “Olha, professor, é uma
reforma do ensino fundamental. As crianças, hoje, em São Paulo, já estão na
escola, frequentando o ensino fundamental, ou seja, da primeira à quarta série
ou já concluindo o ciclo fundamental de oito anos”. E ele me disse: “Olha,
então fico satisfeito, desejo boa sorte e que realmente vocês consigam dar uma
outra cara para essa Educação do estado de São Paulo”.
O segundo momento foi quando fui para o
doutorado na mesma PUC, em seguida. O Paulo Freire mantinha uma disciplina que
ele dava em conjunto com a professora Ana Maria Saul e a professora Yvonne
Khoury.
Era uma coisa muito interessante,
porque, na realidade, não tinha nada daquela formalidade de uma disciplina.
Claro, contavam os créditos, tudo isso, mas era um colóquio, era um diálogo que
ele mantinha conosco, com os vários estudantes que estavam fazendo doutorado.
O que mais nos encantava era a vivência
que ele tinha. Ele rodou pelo mundo todo e contava os casos, contava as
histórias, enfim, era uma aula de história da Educação, não brasileira, mas uma
história da educação mundial.
E minha despedida dele foi logo em
seguida, porque concluí meu doutorado em 96 e ele faleceu em 97. Eu estive no
velório que se deu no Tuca, na PUC de São Paulo. Foi a despedida.
Agora, Paulo Freire sempre esteve
presente nas minhas preocupações, quando estudo educação brasileira, ao lado
desse outro grande educador que o Fernando Haddad justamente mencionou: Anísio
Teixeira. Acho que são os dois grandes nomes na Educação brasileira. O Anísio
pensando a escola como uma instância fundamental para a democracia e o Paulo
Freire, além de ser fundamental para a democracia, uma democracia que incluísse
toda a população brasileira. Dar voz.
Agora, encerrando, eu gostaria de dizer
o seguinte: por que será que o Paulo Freire incomoda tanto essa extrema-direita
que hoje está dirigindo o país? Incomoda tanto porque a pedagogia dele, como outros
que me antecederam frisaram, é uma pedagogia que está voltada para emancipação
do ser humano, para uma formação crítica, para que a pessoa tenha consciência
de si, de sua realidade e saiba identificar os exploradores.
Eu encerraria com uma frase dele. Paulo
Freire tem muitas frases, cada uma melhor que a outra, mas essa aqui, hoje,
pensando, eu achei que era essa que eu deveria trazer.
Paulo Freire dizia o seguinte: “Seria
uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma
de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças
sociais de maneira crítica.” Isso explica por que a reação que hoje se instalou
em Brasília - é bem verdade, pelo voto popular, que temos que respeitar - teme
tanto o Paulo Freire.
Por último, essa história de dizer que
a Educação brasileira não vai bem por conta do Paulo Freire. Olha, o Paulo
Freire, hoje, é mundial. Os países que estão nos primeiros lugares do Pisa
estudam Paulo Freire. Finlândia, por exemplo.
Aqui no Brasil é o contrário. Estamos
na situação em que estamos porque Paulo Freire não entrou na nossa educação
pública. Essa é a grande realidade. (Palmas.) Se ele tivesse entrado,
provavelmente estaríamos em outra situação.
Com isso, mais uma vez, eu agradeço a
oportunidade. Me senti muito honrado, embora meio adoentado, podendo
participar. Eu devo isso à Bebel. Ela me incluiu nessa comemoração mais do que
digna do nosso grande pensador. Paulo Freire vai além de ser um educador. Foi
um grande pensador do Brasil.
Muito obrigado. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada,
Palma, a quem gosto de chamar de Palminha.
O
SR. JOÃO PALMA - Eu também gosto!
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - O Palma é
professor da Unesp. Aposentou-se, mas, para mim, sempre professor. Coordenou,
mas sempre está junto do Fórum Estadual de Educação. Aliás, foi fundado no
momento em que ele estava na secretaria como secretário-adjunto.
Então, dá uma contribuição sobremaneira
para a Educação paulista e brasileira no que diz respeito ao currículo, à
discussão de propostas curriculares na década de 80, quando tudo tinha que
mudar, inclusive o currículo na escola.
A gente começou essa jornada junto com
os trabalhos do João Palma, que se debruçou no currículo paulista. Muito
obrigada, Palma. Eu, imediatamente, vou pedir para a...
O
SR. JOÃO PALMA - Bebel.
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Oi, querido.
O
SR. JOÃO PALMA - Só um minuto, eu me esqueci: eu
estou também, neste ato, representando o Fórum Estadual de Educação por
delegação do Leandro Oliveira, que é o coordenador do Fórum.
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Então, muito
obrigada, mais ainda. Ele ainda representa o Fórum Estadual de Educação, que
tenho a honra de dizer que foi construído com 75 entidades, que elaborou o
Plano Estadual de Educação, que está aqui nesta Casa. Eu pautei na Comissão de
Educação, mas os interesses abjetos não permitem sua tramitação. Senão teríamos
uma Educação pensante.
Primeiro, quero
fazer o seguinte: eu fiz umas placas. Não é luxo, mas é uma lembrança deste
encontro que homenageia os 100 anos de Paulo Freire. Eu vou chamar a Simone
Magalhães que, antes de fazer a fala, entrega para o Douglas. Por favor,
Simone. Você vai fazer... Passa a placa para ela, por favor. Cadê o Douglas? O
Douglas já falou.
Não, ela vai
entregar para o meu querido Romão. Uma companheira do Movimento Sem Terra vai
entregar para o Romão a placa, por favor. Até porque Paulo Freire tem um olhar
profundo para a Educação no campo. Simone entregando para Romão.
* * *
- É entregue a placa.
* * *
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada.
Três minutos, por favor, Simone.
A SRA. SIMONE
MAGALHÃES -
Olá, boa noite a todas, todos e todes desta plenária. Boa noite. Quero
cumprimentar a Professora Bebel, deputada, todas as companheiras da Mesa e
companheiros e dizer que, para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,
o MST, é muito importante esta sessão solene em homenagem a Paulo Freire, um
educador do povo.
Para quem não conhece, o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra há quase 40 anos luta neste país pela democratização do acesso
à terra pela reforma agrária. Desde o seu início, na década de 80, o MST
cultiva e pratica os princípios da pedagogia do Paulo Freire e isso está
encarnado na prática do MST desde os seus primórdios no trabalho de base que é,
antes de mais nada, ter que ouvir as demandas do povo, ter que dialogar com o
povo, entender o que o povo precisa. E mais que isso: como o povo se auto
organiza.
É assim que o MST trabalha, é assim que o MST coloca
em prática em seu dia a dia aquele princípio que é elementar na pedagogia do
Paulo Freire, que é a dialogicidade para uma democracia efetiva.
Esses princípios que estão na nossa origem nos fazem
compreender que os desafios que temos, que tivemos na década de 80 e temos
hoje, eles não estão desconectados da materialidade da vida. Isso porque, ao
mesmo tempo em que o MST luta pela terra, luta pelo direito à vida, luta para que
os povos do campo tenham seus direitos preservados e garantidos, a gente luta
também por direito à Educação, por direito à Cultura, ou
seja, pela vida plena.
É por isso que, para nós, do MST, defender a Educação significa não fragmentá-la
da materialidade. Por isso a luta pela terra é uma luta pedagógica também,
porque fazendo a luta pela terra é que a gente vai produzindo essa autonomia,
colocando sujeitos em movimento.
E aí, Professora Bebel, a gente tem que dizer,
infelizmente, que hoje - para chamar a atenção - o presidente do Brasil vetou o
PL 823, um projeto de lei que previa um socorro às famílias agricultoras deste
país, um projeto de lei que daria
condições para que as famílias da agricultura familiar tivessem condições de
enfrentar as consequências nefastas da pandemia.
Por que estou trazendo isso, Professora Bebel? Porque,
para nós, a Educação está intrinsecamente vinculada à vida e, nesse
sentido, a gente realimenta o legado de Paulo Freire,
que não distinguia conhecimento da produção e da materialidade da vida.
É assim que o MST faz questão de
homenagear o nosso mestre Paulo Freire. E trazer, no seu dia a dia, todo esse
legado que a gente defende de tal modo que, nesse ano de 2021, o MST, espalhado
por todo o Brasil, fez as suas homenagens. E tem feito o resgate desse legado
do nosso querido Paulo Freire.
Então, só para concluir, para eu não me
estender mais, dizer que o Paulo Freire, em 1991, fez um encontro com o MST.
Ele saiu daqui e foi para Hulha Negra, mesmo com toda a adversidade e a
dificuldade de chegar até o assentamento, porque os educadores e as educadoras
do MST queriam conhecer muito o Paulo Freire. Ele disse assim: “Se eu sou o
autor da Pedagogia do Oprimido, como que eu não vou estar entre eles?”
E aí, com toda a dificuldade de
transporte, estava chovendo muito, o Paulo Freire falou o seguinte: “Eu vou”. E
foi conhecer as educadoras e os educadores do MST. Porque sabiam que essa
pedagogia estava encarnada naquele povo que defendia o direito à terra, o
direito a produzir alimentos saudáveis, e sobretudo o direito de produzir
cultura, e defender os seus territórios.
Então, Professora Bebel, agradeço
muitíssimo por essa sessão. Dizer que é imprescindível que a gente continue
trazendo o legado de Paulo Freire, que a gente possa apresenta-lo, do nosso
modo, à sociedade brasileira.
Muito obrigada. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu vou
convidar você, Simone, para entregar a placa para o João Marcos. Vamos fazer o
seguinte. Vamos fazer uma troca de entidades na mesa. Porque a gente está
querendo dar um pouco de visibilidade. Eu chamo o João Marcos. Você não, você é
o paulofreiriano da Casa hoje. Você não
pode sair daqui. Você vai ficar preso e acorrentado. Vamos lá. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a placa.
*
* *
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - E a Tayná, que
vai fazer uso da palavra agora, vai entregar a placa para a Simone. Por favor.
(Palmas.)
*
* *
- É entregue a placa.
*
* *
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - João Marcos, o
convite é para você ficar na mesa. Porque é a visão de Educação que nós temos
na Confederação Nacional de Educação: que todos os trabalhadores da Educação
são educadores.
Isso foi uma grande conquista, agora,
que teve no Fundeb, que virou política de estado, portanto, permanente. Isso,
nós queremos, de fato. Vou pedir um pouco de brevidade. Até porque, tem
entidades que são importantes que elas venham dar um oi. Então vou pedir para
que você, se puder, fazer a sua consideração. Por favor, Tayná.
A
SRA. TAYNÁ WINE RODRIGUES REIS - Obrigada,
Professora Bebel. Boa noite a todas, a todos e a todes. Me chamo Tayná Wine.
Sou presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, entidade que
representa os universitários paulistas. Eu queria parabenizar, deputada
Professora Bebel, mas sobretudo agradecer por essa sessão.
Acredito que muitos, assim como eu,
ficaram emocionados essa noite. Acredito que esse seja um ato de resistência ao
negacionismo, ao retrocesso que nós estamos passando.
Então acho que a sensibilidade da
Professora Bebel, de começar essa sessão, com a arte, com a leveza de trazer
educadores tão ricos, para expressar e trazer contribuições tão pessoais, tão
íntimas, do professor Paulo Freire para a gente, é um presente nessa noite.
Então eu queria mesmo fazer uma
saudação muito breve. Acredito que o Paulo Freire, quando ele diz que a
Educação não muda o mundo, mas ela muda as pessoas, e as pessoas transformam o
mundo, isso é muito verdade.
O que seria de nós, estudantes, sem a
filosofia, sem o legado de Paulo Freire? Acredito que essa sessão, além de ser
uma sessão de resistência a todo o retrocesso que estamos sofrendo, é também
uma sessão de reenergizar, de trazer ainda mais convicção na efetivação da
filosofia freiriana para o nosso País.
E dizer, que, apesar destes que estão
hoje sobre o governo do Brasil, apesar destes, Paulo Freire deixou um legado.
Nós somos sementes do seu legado. Ele florescerá. Então amanhã há de ser outro
dia. E com certeza nós vamos contar e cantar uma nova história, uma história
mais bonita para o nosso País. Porque, um país que tem Paulo Freire não pode
dar errado.
Então concluo aqui para ouvir as demais
contribuições. É uma honra estar nesse espaço, com o professor Romão. E com o
professor Haddad, que foi um excelente ministro da Educação, e possibilitou que
nós, estudantes filhos da classe trabalhadora, estudantes trabalhadores,
pudessem acessar a universidade, tivessem acesso à Educação. É realmente uma
honra.
Por fim, eu queria também registrar a
presença da nossa entidade irmã, nosso presidente Hector, presidente da União
Paulista dos Estudantes Secundaristas, também marcando presença nesse encontro.
Muito obrigada. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada,
Tayná. Ninguém entregou para a Tayná? Então vou chamar a Lígia Toneto, que vai
entregar para a Tayná. Só que antes de você falar, Lígia, tem que pôr a Nita. A
Nita vai entrar, e é justo que ela fale. Se ela não falar... Ela foi a
companheira, a mulher do Paulo Freire, então para nós tem uma super
importância. Por toda a história que a gente ficou sabendo.
Então, por favor, você entrega para a
Tayná. Depois a gente vai entregar para você. Então, por favor. Agora nós vamos
lá para a telinha. Nita Freire, boa noite, tudo bem. Satisfação tê-la em nossa
homenagem a seu marido e companheiro Paulo Freire. (Palmas.) Pergunto ao
pessoal da técnica. Nita Freire está ou não?
Enquanto isso, só quero saudar todos os
deputados que não estão presentes, mas também, deputados que mandaram vídeo. É
isso. E pedir para o Wilson ler uma das frases de Paulo Freire.
O
SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - WILSON LEVY - Enquanto nós
aguardamos a conexão da Nita Freire, e para festejar essa noite incrível de
celebração do centenário de Paulo Freire, é importante lembrar, como dizia o
mestre, que a alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do
processo de busca. “Ensinar e aprender não pode se dar fora da procura, fora da
boniteza e da alegria.” (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Então,
enquanto isso, peço para a Lígia fazer uso da palavra. A Nita conectou ou não?
Conectou. Mas o que está acontecendo que ela não está aparecendo na tela? Nita,
você está presente, querida? Lígia, são dois minutos para uma saudação, Lígia.
Tudo bem, querida? Lígia Toneto, representante da juventude. Aqui vamos ser um
pouco suprapartidários hoje, mas ela é do PT.
A
SRA. LÍGIA TONETO - Boa noite a todas e todos. Eu
queria muito saudar a organização desse espaço, pela Bebel, nossa líder da
bancada do Partido dos Trabalhadores, e uma lutadora aguerrida da Educação, que
sempre traz esta pauta para esta Casa. É tão importante que esteja
representando o maior sindicato da América Latina.
Eu queria saudar todos os companheiros
de mesa também. A Francisca, o professor Romão, a Tayná e todos que estiveram
falando com a gente hoje, o professor Fernando Haddad, que foi o melhor
ministro da Educação que o nosso País já teve.
É muito importante que a gente esteja
fazendo essa homenagem ao Paulo Freire, que tem tanto de legado, mas também
tanto de movimento. O tanto que a gente consegue trazer e ouvir de
experiencias, de coisas pessoais. Mas o tanto que a gente vê como ele
contribuiu para o que é a formação social do nosso País.
Acho que o Paulo Freire tem uma
contribuição muito importante, que é de ter conseguido transformar a Educação
num movimento no nosso País. E que faz com que a Educação seja uma das
principais pautas que movimentam o nosso País.
Que a gente tenha tão organizado um
movimento de professores, que consiga travar tantas batalhas. Um movimento de
servidores e um movimento estudantil também, que não saem da luta em nenhum
momento, e que conseguiu travar os principais enfrentamentos que a gente teve
nessa dura conjuntura que a gente vive hoje. Acho que isso é muito importante
da gente lembrar.
Porque as principais mobilizações que a
gente conseguiu ter nesse período foram na luta da Educação. Porque a gente
entende que a Educação é fundamental e transformadora, como a gente aprendeu
com Paulo Freire, e como a gente mantém esse legado vivo, e como a gente mantém
esse legado em movimento.
A gente tem que lembrar, o Haddad
estava aqui com a gente hoje, lembrando o que foi a conquista que a gente teve
com o Enem e com o Pró-Uni. Essa semana o ministro da Educação reclamou que
jogou 300 milhões no lixo por ter tido tantas ausências no Enem.
Isso nada menos é do que causa do que
de incompetência desse governo, que não consegue fazer com que as pessoas
prestem a prova. Que faz com que as pessoas prestem a prova sem as condições
sanitárias adequadas. Que faz com que a gente não consiga transformar nossa
Educação em popular, como a gente conseguiu avançar tantos em tantos períodos.
A gente tem um retrocesso hoje, de que
tudo que a gente conseguiu popularizar, de que tudo que a gente conseguiu levar
a Educação para a população negra, para a população pobre, que a gente
conseguiu democratizar o acesso à universidade, a gente tem um retrocesso
agora. Não é à toa que o Bolsonaro fala que quer retirar o método Paulo Freire
da nossa Educação.
Acho que, como muito bem os palhaços
lembraram no começo aqui, não se trata de um método, mas de transformar a
Educação num projeto. Num projeto de transformação que a gente consegue ter
para o nosso País. Porque, no fundo, a Educação também é o que dá mão das
gerações.
A gente está entre pessoas de várias
gerações falando sobre o legado de Paulo Freire, da importância que ele tem
para a Educação no nosso País. E a Educação é o que dá a mão entre as gerações,
é o que cria um elo e um vínculo geracional, que a gente consegue fazer com
isso e transformar isso em movimento social.
Eu queria ler um trecho da carta de
fundação do cursinho Marisa Letícia, da Juventude do PT de São Bernardo do
Campo, que é um trecho, na verdade, do Paulo Freire, que diz assim: “Se a
Educação, sozinha, não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade
muda.”
Se a nossa opção é progressista, e
estamos a favor da vida, e não da morte; da equidade, e não da injustiça; do
direito, e não do arbítrio; da convivência com o diferente, e não da segregação,
não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção.
Encarná-la, diminuindo assim a
distância entre o que fizemos e o que fazemos. Eu acho que isso simboliza muito
do que a gente tem sobre como colocar esse legado em movimento.
Muito obrigada. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu vou pedir
para a Lígia entregar para a Francisca, e a Francisca aguarda. Agora vou passar
para a Nita. Nita, boa noite. Que satisfação tê-la nessa homenagem que estamos
fazendo para o Paulo Freire. Gostaria que você fizesse a sua saudação. Nita.
Por favor.
A
SRA. NITA FREIRE - A alegria é minha, com o
convite que você me fez, Bebel. E ainda me mandou flores. Que coisa bonita,
estar aqui, com vocês, sob a égide de Paulo, desse homem absolutamente ímpar,
extraordinário na sua bondade, na sua honradez, na sua dignificação dos outros,
na sua postura de homem público que honrou todos os preceitos necessários para
sermos uma sociedade democrática.
Paulo foi um homem... Eu até gostaria
de dizer o seguinte. Hoje eu considero um dia especialmente alegre pelo número
de eventos que estão acontecendo, no mundo todo, em homenagem ao Paulo. Na
segunda-feira, que será 20 e não 19, no Recife, a CUT e a CNTE vão entrar em
contato com educadores de 190 países. Estarão homenageando o Paulo Freire.
(Palmas.)
Isso é uma coisa realmente quase
misteriosa. Como é que a gente explica que Paulo, que morreu há 24 anos, está
tão presente na vida dos brasileiros e de todo o mundo? Está presente por esses
traços de bondade, de humildade, de coerência, de tolerância, de amor pelos
outros, de amorosidade.
Paulo foi um homem que amou muito,
muito. Ele dizia para mim: “É muito fácil amar povos diferentes, em situações
de vida diferentes, de compreensões e leitura de mundo diferentes. A todos eu
dedico, sempre, o meu amor e o meu trabalho.” Paulo foi assim.
Aperfeiçoando as suas virtudes, desde
quando um pré-adolescente, Paulo foi caminhando mansamente, entre dificuldades,
entre problemas, entre desafios que lhe apareciam.
E sempre os foi resolvendo, com
mansidão, com dignidade, com respeito a todos. Com ética, com estética, que
ultimamente ele dizia “com boniteza”. Resolvia tudo muito apaixonadamente, mas
sem arroubos de imprudência. Sem arroubos de enfrentar coisas que não era
possível ainda enfrentar.
A gente precisa tornar o problema
viável. A gente tem que tornar o problema viável de ser desafiado. Se torna um
inédito viável, que a gente trabalha para construir e para conquistar.
Conquistando esse inédito viável, que é a utopia, esse problema está resolvido.
E nós partimos para desafiar e pra processar outros inéditos viáveis e outras
utopias.
É assim que a gente vai construindo uma
sociedade mais justa, mais equitativa, mais promissora. Uma sociedade que seja
igual para todos, dentro da diversidade de pensamento, de religião, de escolha
sexual, de qualquer diferença que haja entre os seus cidadãos.
São eles todos que, em comunhão, podem
mudar a sua sociedade. Podem mudar através de uma luta serena, que não precisa
se estapear, nem ficar na ordem dos xingamentos e das cenas imorais,
necrófilas, malvadas, mórbidas que a gente acostumou a ver nossa presidência
fazer.
Então, se Paulo estivesse hoje aqui,
vivo, ele diria: “A gente tem que ter tolerância com o diferente. O diferente,
esse sim, eu aprendo e posso ensinar. É nessa diversidade com o diferente que a
gente constrói o saber e o participa.
Mas, com o antagônico, não há como ter
um diálogo. Então, com o antagônico, apenas devo respeitar a forma dele ser.
Mas não podemos nos aproximar.”
Porque nós não queremos entrar em
desafios loucos, malucos, necrófilos, e ver homens, que dizem que vão fazer
montanhas de livros de Paulo, e ele mesmo vai tocar fogo, porque Paulo é um
energúmeno que nunca disse nada que prestasse. Tenho certeza que ele e os seus
acólitos nunca tocaram em um livro de Paulo, nunca souberam o que o Paulo disse
e, sobretudo, o que Paulo praticou.
E gera esse
ódio, como necessidade, é o “leitmotiv” da sua vida, é gerar problemas,
situações conflituosas, ódios, para continuar tendo o alimento de que ele
necessita na sua necrofilia, na sua doença, na sua falta de discernimento, para
o mínimo possível.
Nenhum
discernimento ético, nenhum discernimento de valor, nenhum discernimento para
com compaixão com o povo brasileiro, que vem sofrendo tanto. Bem, por isso que
Paulo é importante.
Paulo é importante
porque o seu pensamento é um pensamento que surgiu de sua nordestinidade, de
fincar suas raízes no Recife. E dessa experiência recifense, nordestina, ele ir
construindo uma teoria de conhecimento.
Vejam o
seguinte, Paulo é um dos raros homens, filósofos, que não seguiu essa coisa que
é tão comum. Quer dizer, é comum a todos os filósofos, é virem discutindo,
muitos deles, desde a história de Platão e de Aristóteles, até chegar aos dias
de hoje. Não. Paulo não pensou ideias. Paulo pensou a existência humana.
O que importava
para Paulo era a vida, era a existência, e, portanto, saber como foi a
sociedade evoluindo em seu pensamento, acerca de “o que é o homem, por que nascemos, por que
estamos aqui”, é uma questão que é superada por outra que é mais importante:
“como vamos fazer para que sejamos todos sujeitos da nossa história, sujeitos
de um país, e não objetos de sua classe dominante”.
Muito obrigada.
(Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT -
Muito obrigada, Nita. Uma satisfação muito grande. Acho que você nos tocou
profundamente com essas falas, e mais do que isso, com aquilo que é a
concepção, né, do seu grande companheiro, o seu marido e, também, parceiros
intelectuais. Um beijão para você. Boa noite.
E foi uma
grande contribuição neste evento, aqui, na Assembleia
Legislativa do estado de São Paulo, segundo o
qual, nós estamos lidando também, e fico muito feliz de saber que hoje saiu uma
ação judicial, publicada inclusive no “Diário Oficial”, não permitindo que este
genocida, que não tem nenhum respeito com a vida, diferentemente de Paulo
Freire, ele use qualquer palavra para que atinja Paulo Freire, na sua memória.
Então, isso
para nós, já é uma grande vitória. Boa noite. Muito obrigada, Anita.
A SRA. NITA FREIRE - Muito obrigada.
Muito obrigada, mesmo, pelo convite e pela oportunidade de dizer o que eu penso
sobre esse homem, que foi tão querido no mundo todo, e que é, continua sendo
muito amado por mim. Porque o Paulo foi um homem extraordinariamente bom
enquanto companheiro de todos os dias e de todos os instantes, e de todas as
labutas.
Muito obrigada.
(Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - É
isso. Uma riqueza muito grade de depoimentos, não só, de reflexão, sobre a
importância que Paulo Freire dava para a existência, para a vida, no momento em
que nós lutamos pela vida, porque nós temos um genocida na Presidência da
República, que não se importa com um número de 600 mil vidas, quase 600 mil
vidas perdidas, enquanto Paulo Freires querem recuperar, dando força e
conhecimento. É isso. Muito obrigada.
Eu vou chamar
agora a Francisca, que entregará o prêmio para... Vou chamar a Cleo. Cadê a
Cleonice? Cleonice está aí? Cleo, vem para a Mesa, e eu vou trocar com uma
das... Ah, já trocou? A Tainá está lá, eu pus uma mulher... E entregar para a
Cleo. A Cleo é uma grande lutadora, ela é do Sindicato dos Trabalhadores da
Saúde, portanto, merece nossos aplausos.
Não fosse os
trabalhadores da Saúde, nesta pandemia, o que seria de nós? Então, é isso. E
também chamo a Fátima Antônio, que é do Conselho Municipal de Educação, depois
quero chamar o Guido, que nesta solenidade representa a Apeoesp. E a gente vai
fazendo as trocas, só que aí vai não vai ter troca de placa, porque, senão, nós
vamos ficar até a meia noite aqui.
Então, eu acho
que isso, de certa maneira... Eu gostaria de por um vídeo que é do Chalita.
Bom, o Chalita, muitos vão falar: “puxa, mas não tem uma diversidade entre ele
e a categoria?...” Não. Ele foi secretário municipal de Educação, foi estadual
de Educação, falo que equivocadamente, falo para ele, do PSDB. Mas que de
qualquer maneira, tentou mediar um pouco, com o Sindicato.
Teve, sim,
enfrentamentos, fizemos. Mas isso é da arena, e do contexto, do mundo do
trabalho. Então, vou por a fala dele, antes, aí você já faz a fala como CTB,
Francisca, porque pela Apeoesp, o Guido fará a fala depois, está bom? Pode ser
CNTE, Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação. Só que antes, o
vídeo do Chalita, de dois minutos, por favor.
* * *
- É exibido o vídeo.
* * *
Está dada aí, a
contribuição, não pode estar, mas, enfim, contribui muito, aqui com a nossa
reflexão. Na verdade, uma homenagem, uma espécie de um seminário de Paulo
Freire, cada um dá um tom de onde está, e de onde é o lugar de fala. Vou ler
uma última frase agora. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para sua própria produção, ou a sua construção”. Esta frase é
muito precisa neste momento.
Eu chamo a
Francisca. Você já entregou para alguém, Francisca? Já entregou. Para ela.
Depois, aí, por favor, Francisca... Está bom. Eu chamo a Fátima Antônio, por
favor... E a Francisca, faz o uso da fala.
A SRA. FRANCISCA PEREIRA DA ROCHA SEIXAS - Eu
quero, em nome da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, agradecer
à Bebel pela honra da nossa participação nesta noite, nesta Sessão Solene, dos
100 anos de nascimento do Paulo Freire, seu legado, e sua história.
Cumprimentar a
Lígia, o Romão, a Fátima, que ocupou a Mesa agora, o Wilson, a Cleo, o João
Marcos, da Afuse, base da nossa confederação. O Douglas Izzo, presidente da
CUT, e o Sabóia, secretário geral da CTB, porque são as duas centrais que
compõe a direção da CNTE, e que têm uma história de luta, por uma Educação de
qualidade.
E muito
brevemente dizer que esses 100 anos de Paulo Freire ocorrem em um momento tão
necessário. Um momento de que nós precisamos vencer o obscurantismo, e Paulo
Freire traz a ideia da luta das ideias, que faz parte do tripé da luta que nós
enfrentamos hoje, que é a luta de ideias, a luta econômica, e a luta política.
Porque nós não
temos dúvida de que nós reconstruiremos o novo país, através de uma Educação,
primeiro, de um governo que represente quem produz neste país, que represente a
classe trabalhadora, e, emanando disso, uma Educação que esteja de acordo com
esses ideais, e, aqui em São
Paulo, nós temos o desafio de enfrentar o governo Doria, que,
salvo algumas exceções, traz, pratica a política, igual a de Bolsonaro.
É por isso, que
Paulo Freire, neste momento, comemorar o centenário de Paulo Freire, é de uma
importância muito grande para o nosso país. Paulo Freire presente. Viva este
grande educador, que hoje nós comemoramos o seu centenário.
Muito obrigada
e boa noite.
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Obrigada.
Imediatamente eu chamo a Fátima Antônio, que é lá do Conselho Municipal de
Educação, que entregará a placa para Apeoesp. Não, para a Lígia, que não pegou.
Desculpe. Para a Ligia Toneto, depois a Ligia entrega para a Apeoesp, por
favor.
E a Apeoesp, hoje
vai estar representada pelo Guido. Diz que é cantor, né? Diz. Mas também da
Apeoesp é importante destacar a presença do Flaudio, que é de Itapevi, enfim,
do Moreno...
A minha querida
Natalina, que já falei dela enquanto CUT, mas também é da Apeoesp. A Rita, que
é de Mauá, também da Apeoesp. Seria estranho que a Apeoesp não viesse também.
E depois quero
chamar, vou chamar você, eu tenho que chamar alguém do Ensino Superior, e não
vai faltar você, João Chaves. Por favor, então, quem que entrega? Ela fala. A
Fátima fala, enquanto isso, eu chamo o João. João Chaves, por favor?
A SRA. FÁTIMA ANTÔNIO - Bom, boa noite
a todas e todos, professora e deputada Bebel. Eu gosto de chamar de Professora
Bebel. Nossa querida Professora Bebel, que hoje é deputada, mas sempre na luta
com todos nós professores da cidade e do estado de São Paulo,
principalmente.
Eu estou aqui
hoje representando o Conselho Municipal de Educação da cidade de São Paulo, e, em nome de
todos os membros do Conselho, eu quero agradecer o privilégio de estar aqui
nesta noite, este convite. Professora Bebel, muito obrigada, de ter convidado o
Conselho, e o Conselho me designou para estar aqui representando.
E eu estava ali
sentada, e foram tantas histórias que foram sendo contadas aqui, de Paulo Freire,
e eu me lembrei de uma que me é muito importante. Eu, quando entrei na
Prefeitura de São
Paulo como professora, quem assinou meu título de nomeação, foi o
secretário Paulo Freire. Então, eu tive o privilégio, e tenho esse título de
nomeação muito bem guardado comigo.
E tive também o
privilégio de participar de um dos projetos muito interessantes que ele fez
muito esforço e muita questão que acontecesse aqui em São Paulo, que foi a
questão de trabalhar com a interdisciplinaridade, e trabalhar com um tema
gerador. E trabalhar com um tema gerador era um momento de extremo diálogo com
a comunidade.
Quando nós
educadores, naquele momento, de 1989 até 1992, dialogamos profundamente com a
comunidade, para discutir, para descobrir quais eram os principais dilemas,
quais eram as principais necessidades daquela comunidade. E isso se
transformava em um tema gerador. E a escola, com todas as áreas do
conhecimento, discutia aquilo.
Mas não só as
áreas de conhecimento, com toda a comunidade que ali também participava, dentro
do Conselho de Escola, que Paulo Freire também tanto defendeu. Uma gestão
democrática dentro das escolas.
Então, o que eu
posso dizer é que tanta gente importante falou aqui hoje, tanta gente disse
tantas coisas importantes desse legado, que é por todos nós, eu acho que a
gente precisa, especialmente neste momento, dizer que este Ato Solene, que traz
os 100 anos de Paulo Freire, onde a gente levanta, rememora a história,
rememora o legado, é também um ato de resistência.
Educar, para
Paulo Freire também era um ato de resistência. E hoje, o Ministério da
Educação, ontem ou hoje, anunciou que não faria nenhuma homenagem a Paulo
Freire.
E nós dizemos o
seguinte: quem tem que homenagear Paulo Freire está aqui. Somos nós. (Palmas.)
Que nesta pluralidade, que nesta diversidade representa, sim, o legado de Paulo
Freire. E como disse Nita, dialogamos com o diferente, com o antagônico, não.
Paulo Freire
presente.
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Convidar
a Fátima para entregar uma placa para a Apeoesp. A Apeoesp não recebeu a placa
dela, olha que honra. Depois eu chamo João Chaves para entregar a placa da
Fátima, ou a Apeoesp entrega, depois o João Chaves entrega para outra entidade.
É troca de placas, aí.
Agora, nós
vamos passar a palavra para o João Marcos. Por favor, João Marcos, você vai se
aproximando da Tribuna, depois a Cleo faz a fala, e aí nós vamos fazendo a
troca dos atores aqui. A dança das cadeiras, como vocês viram, vocês foram
dançando.
O SR. JOÃO MARCOS DE LIMA -
Obrigado, Bebel. Obrigado aos presentes...
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - O
único proibido a sair da Mesa aqui é o... Pode... Desculpe.
O SR. JOÃO MARCOS DE LIMA - Obrigado,
Bebel. E essa Sessão Solene, através do mandato, que não é da Bebel, que eu
costumo falar, que é o nosso mandato, dos trabalhadores em Educação, dos
servidores públicos de São
Paulo, a gente tem esperança. Esperançar igual a Paulo Freire.
Que uma outra escola é possível, que um outro estado é possível, que um outro
país é possível. Esperançar sempre. Esperançar que a vida vai vencer.
Esperançar que
o Fascismo vai ser retirado deste país. Esperançar que o câncer, que está
instalado em Brasília vai ser expurgado através da esperança. A esperança já
venceu o medo, a esperança vai vencer o fascismo. A esperança vai vencer
sempre.
Não quero
enrolar muito, porque têm muitos companheiros para falar. Só vou deixar uma
frase aqui, como todo o mundo está dizendo aqui de Paulo Freire, para a gente
ficar lembrando que Paulo Freire vive.
E no país em
que ele nasceu, a homenagem é nossa. Paulo Freire é do povo brasileiro, Paulo
Freire é da Educação brasileira. Mesmo não sendo implementado, nós vivenciamos
a diversidade, vivenciamos o diferente, e acreditamos que a Educação transforma
um país.
E se tivesse um
por cento da vontade, do emprenho de Paulo Freire, seríamos, sim, a maior
Educação deste mundo, dessas nações, seria a mais investida no país. Um
pensamento dele diz: “enquanto eu luto, sou movido pela esperança. E se eu
lutar com esperança, posso esperar.”
Obrigado. Viva
Paulo Freire. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Com
a palavra agora, nossa querida Cleo, que é trabalhadora da Saúde, e depois eu
tenho que colocar o vídeo do nosso querido Lula. Não posso deixar de também
colocar um vídeo que é dele. E chamo o companheiro da CTB, está aqui entre nós.
Está? Então eu chamo já para vir para a mesa. Por favor, Cleo.
A
SRA. CLEONICE FERREIRA RIBEIRO - Boa noite a todos,
a todas e a todes, Bebel, como sempre falo, a nossa guerreira, a nossa
guerreira, que está sempre aí na luta, não só pela Educação, sempre pela
Educação, mas não só pela Educação, mas por todos os trabalhadores públicos que
hoje nós estamos vivendo aí uns PLs maldosos, que estão acontecendo inclusive
nesta Casa, não é, Bebel? E também o PL 32, fora todos os desmandos.
Eu acho que em poucas palavras queria
dizer o seguinte: educação, eu acho que nós não teríamos os médicos, não
teríamos enfermagem, se nós não tivéssemos os educadores.
E falar de Paulo Freire, todos já
falaram aqui, é uma sensação assim, quando você vê uma mulher como Nita falando
de Paulo Freire, isso deixa o nosso coração, sabe, cheio de emoção, cheio de
esperança, de que um mundo melhor pode acontecer, ele pode ser visto.
Mas infelizmente nós estamos vivendo
momentos tristes, cruéis, em que não temos uma política séria neste País, em
que temos um genocida, temos um governo do estado também que não vê a Educação
com bons olhos, não vê o funcionalismo como um todo com bons olhos. E a gente
precisa mudar todo esse contexto. E Paulo Freire nos agracia com muitas lições.
E a gente segue nesse caminho.
Eu acho que a gente precisa, cada vez
mais, eu acho que ver, ler, Paulo Freire, para seguir esses momentos, porque,
infelizmente, a gente vê hoje o País destroçado e, infelizmente, não temos
Educação.
Então, assim, a gente, eu queria
agradecer muito, Bebel, de coração. Sou da Saúde, sou sindicalista, estamos
aqui na luta junto com a Saúde. A gente sempre fala que Saúde e Educação são
coirmãs, e somos coirmãs, mesmo.
Estamos aí na luta formes e fortes. Viva
Paulo Freire, e que tivesse milhares de Paulo Freire para a gente poder
melhorar este País que, infelizmente, está na mão de fascistas.
Muito obrigada. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Agora eu
convido você a entregar a placa para o nosso querido João, aliás, para o Paulo
Teixeira Sabóia, que é da CTB, ele está aqui ao lado. E o Paulo vai entregar
para o Reginaldo. Cadê o Reginaldo? Está aí? Então vem para cá, Reginaldo, para
você pegar a sua plaquinha. E pedir para já colocar o vídeo do presidente Lula,
por favor. Por favor, já está colocando o vídeo?
*
* *
- É exibido o vídeo.
*
* *
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bem, eu vou
agora então chamar o Paulo Teixeira Saboia para fazer uso da fala, que vai
entregar, já entregou, né? Não. O Reginaldo, você vai entregar para a Apeoesp.
Isso. Quem que entrega? Ah, o João, o Paulo que vai entregar para o Reginaldo,
ok. Uma confusãozinha faz parte do jogo. Aí, bom, por favor, Paulo.
O
SR. PAULO TEIXEIRA SABOIA - Boa noite a todos e
a todas. Para nós aqui da CTB é uma felicidade enorme estar aqui. É um orgulho
muito grande. Queria dar os parabéns muito grande para a Bebel, essa professora
que faz esse ato de cem anos desse brasileiro que deveria orgulhar a pátria
toda pela dimensão. Não porque ele foi chamado para lecionar em Harvard, onde
reconheceram a estatura de Paulo Freire.
Não porque ele foi para a Suíça levar
sua sabedoria, mas porque ele era um revolucionário. Nós, trabalhadores,
achamos que ele devia estar na galeria dos heróis da pátria.
Paulo Freire começa a ser perseguido
depois de alfabetizar os trabalhadores numa obra no nordeste, que passaram a
ler as leis trabalhistas. Passaram a conhecer a CLT, os seus direitos. E, aí,
ele começa a ser perseguido por dar essa ferramenta de transformação.
Ele era um revolucionário porque,
naquela época, essas pessoas, os analfabetos, não eram cidadãos, não tinham o
maior direito da cidadania, que era o direito ao voto. Não podiam votar.
E o Brasil, tardiamente, só aceitou o
voto do analfabeto em 1985. Então esse homem fazia realmente esse trabalho
(Inaudível.) mesmo com a ditadura, mesmo com os canalhas que ainda estão aí,
está aí sobrevivendo e explodindo. E nós, num ato desses, vamos fazer isso ir
mais fundo.
Então aqueles que queriam botar fogo,
um canalha que fala em botar fogo na obra de Paulo Freire, nós vamos é
incendiar esse Brasil com esse libelo que foi trazido aqui, que o professor
Romão nos presenteia, que vai botar à disposição na internet, não é isso?
Que é o manuscrito que a gente vai
poder botar, porque ele é muito necessário. Na época do Paulo Freire, 40% da
população era analfabeta, dos brasileiros. Hoje nós estamos voltando para esses
patamares, estão massacrando a Educação, está havendo um analfabetismo funcional
gigantesco.
Dá para sentir isso com a juventude que
está aí, com os que estão sendo postos para fora da escola. Então é hora de
soprar essa brasa, de incendiar o Brasil com as ideias e com o ideário desse
gigante.
Parabéns, Bebel. Esses cem anos estão
valendo muito. Esse ato vai explodir e vai fazer brotar muita energia em defesa
da pátria, em defesa do humanismo, e em defesa do saber.
Viva Paulo Freire. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Viva. Viva
Paulo Freire. Muito obrigada, Paulo. É uma satisfação tê-lo aqui. Vou chamar o
Hector e vou dizer que daqui para a frente, depois tem a Apeoesp, deve falar,
mais o João, da Universidade, mais o Instituto Federal de Educação.
Eu meio que quis criar uma simbologia
para a gente entender que todos os olhares, inclusive a Saúde, os trabalhadores
em Educação, falando, para a gente poder exatamente dar essa grandiosidade, que
Paulo Freire chega até nós.
O Mabi, não posso deixar de falar,
porque é um movimento aí das barragens, e eu acho que gostaria também que
viesse aqui para cima, para entregar, e necessária, nesse momento do apagão.
Então a gente tem que também ter esse
olhar até circunstancial e conjuntural também. Se é só indígena aqui, aí vou
ter que pôr uma preta para falar, e a Anatalina, entendeu? Mas vamos ser assim,
vou pedir para ser célere, para eu garantir as falas. Se não, fica difícil, né?
Por favor, então, Reginaldo.
É uma satisfação tê-lo aqui. Depois o
Hector entrega para a Anatalina, pode ser? E depois o companheiro da Anatalina
entrega para o companheiro do Mabi. Por favor, querido Reginaldo.
O
SR. REGINALDO FONSECA SOEIRO DE FARIA - Boa noite,
companheirada. Quando me falaram que eu tinha que fazer uma fala de Paulo
Freire, primeiro que eu não sou um especialista em Paulo Freire.
No entanto, sou um amante de Paulo
Freire: amo toda a pedagogia dele, todos os trabalhos dele. É claro que não
consegui ler todos, tanto que na minha tese, que defendi agora em junho, a
minha frase, dentro da minha tese, é uma das frases do Paulo Freire, que eu
iria utilizar aqui, mas alguém já falou. Tinha uma outra que eu queria falar
também: o meu amigo Palma já falou.
Não tem problema. Eu vou falar algo que
o presidente Lula falou: Paulo Freire está sendo muito atacado por este
governo. Este governo é um governo que não pensa na Educação, ele deixa de
investir. Eu sou professor do Instituto Federal. Temos uma Associação dos
Docentes do Instituto Federal do Estado de São Paulo, somos filiados ao
Proifes-Federação.
O que acontece: desde o governo Temer,
que esse governo é uma continuação do governo Temer, com a Ponte para o Futuro,
eles vêm diminuindo os valores de investimento em Educação.
Do que nós tínhamos em 2016, quando a
presidenta Dilma ainda era presidente, de cada cem reais investidos nos
institutos, eles baixaram para 30 reais. Ou seja, hoje nós temos de orçamento
30% do que era quando a presidenta Dilma era presidenta da República.
O que acontece: e ainda por cima só
piora a Educação, só piora o investimento, só piora a qualidade. Não piora mais
porque os professores, não querendo jogar confete, até me tirando dessa lista,
os professores é que conseguem manter a Educação.
E eu queria dizer o seguinte, só para
encaminhar a fala. Cada vez que alguém fala mal de Paulo Freire, como disse a Nita,
desde que não seja um extremista, a gente tem que parar, sabe? “Espera aí, você
conhece o trabalho dele? Sabe o que ele fez? Sabe o que ele conseguiu?”
Então esse tipo de coisa a gente tem
que fazer. Não podemos deixar que ofendam o Paulo Freire, ofendam o trabalho
dele. O trabalho dele é de supra importância. No mundo inteiro ele é
superconhecido. Não preciso falar, porque todo mundo já falou números, países e
tudo o mais. Mas todos nós sabemos.
Mas essa atitude de não deixar falarem
mal de Paulo Freire é algo muito importante que nós, educadores, temos o dever
de fazer. Não podemos deixar que aconteça, para que amanhã não tenhamos mais
dores de cabeça. Muito obrigado. Obrigado, Bebel, pela oportunidade.
Obrigado pela placa. Viva Paulo Freire.
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Viva. O
próximo então agora, eu vou chamar o João Chaves, e depois você, Guido. Chamo
imediatamente a Anatalina para compor a mesa, que a mesa baixou de mulher aqui.
E chamo o companheiro do Mabi também.
Depois nós vamos fazer pelas
representações, um entrega para o outro, tá bom? Agradece, para a gente poder
registrar, ok? Vamos lá. Por favor, João. Representando, claro, a Associação
dos Docentes da Unesp.
O
SR. JOÃO DA COSTA CHAVES JUNIOR - E eu estou aqui
também representando o Fórum das Seis, que congrega os sindicatos dos
trabalhadores docentes e técnico-administrativos das três universidades
públicas paulistas e do Centro Paula Souza, bem como os estudantes.
Eu queria começar dizendo que um dos
grandes pecados do ponto de vista da ditadura do Paulo Freire foi que ele não
só lutou, no sentido de que tivéssemos mais liberdade, mas ele encontrou um
caminho para tornar isso concreto. Isso era um problema, por isso ele era
intragável para a ditadura.
A ditadura tinha toda a razão, todo o
motivo, para expulsá-lo do País. Por quê? Porque o caminho que ele encontrou
para colocar a semente da liberdade em cada um de nós e, especificamente, nos
oprimidos possibilitaria aos oprimidos expulsar o opressor da sua consciência,
e construir a sua própria consciência. Isso é algo extremamente perigoso para
quem estava querendo manter o poder naquele momento, e para quem está querendo
manter o poder neste momento agora.
Então é absolutamente justificável e
compreensível que esta cloaca política, contaminada por micro-organismos de
matiz nazifascista, que tomou conta do País, tenha esse tipo de tratamento
contra o Paulo Freire, porque exatamente o pensamento paulofreiriano, os
métodos de educação que podemos derivar do pensamento freiriano, nos ajuda a
fazer com que cada um de nós se sinta semente de algo melhor do que está aqui
agora, e uma semente esperançosa, de brotar juntamente com todas as outras
pessoas que estão no mesmo nível que nós.
Isso porque para Paulo Freire todos nós
estamos no mesmo nível. O professor, aquele que encontra o seu estudante, ele
não é mais nem menos do que o seu estudante. Então todos nós estamos no mesmo
nível, e isto é algo profundamente revolucionário, isto é algo profundamente
subversivo, porque, para manter a ordem que nós temos agora, é necessário que o
trabalhador se sinta inferiorizado, que o trabalhador se sinta incapaz de
pensar os caminhos que ele deve seguir.
E, por isso, é de fundamental
importância, e eu saúdo o mandato da Professora Bebel no sentido de reafirmar,
de colocar para as novas gerações o legado de Paulo Freire. Era isso que eu
queria dizer.
Muito obrigado.
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada,
João Chaves. Eu ia chamar João Xavier, acho que é por causa do “x” do “ch”, o
som, né? Anatalina, por favor, você entrega? Chamo o Guido imediatamente. Põe o
vídeo da Leci já, para ela dar um oi para nós, que é uma deputada que gravou.
Por favor, o vídeo da Leci.
Eu tenho que corrigir. Eu chamei a Anatalina
de “preta”, e é “negra”, você falou que tem diferença de “preto” para “negro”.
(Vozes fora do microfone.) Tá bom, então corrijo o que eu falei.
*
* *
- É exibido o vídeo.
*
* *
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Muito bom.
(Palmas.) Obrigada. Eu vou, imediatamente - vou pedir celeridade mesmo -,
chamar a nossa querida Anatalina, representando a CUT Nacional, e depois é o
Guido. Fica aí, Guido, pode falar.
O
SR. ROBERTO GUIDO - Vou ser breve. Boa
noite a todos e todas que estão presentes; eu queria cumprimentar a todos os
que nos assistem. Geralmente, me falam assim: “tem deputado na sexta-feira na
Assembleia?”. Eu falo: “dificilmente”. Mas agora eu vou poder falar assim:
“deputada que eu sei que está lá é a Bebel”. Então, é um orgulho.
Queria agradecer, cumprimentar mesmo,
viu Bebel. É um orgulho tê-la como deputada e como presidenta da Apeoesp. É um
orgulho, para mim, e uma responsabilidade representar a Apeoesp, você e os
professores e professoras do estado de São Paulo, numa data que, por si só, me
emociona como educador.
Porque quando eu comecei na Educação,
logo eu perguntei para uma professora: “o que é preciso para ser um bom
professor?”. Ela falou assim: “precisa gostar de gente”.
Quer coisa mais freiriana que isso? Não
é? Então, acho que essa é uma responsabilidade que eu tenho, que você me deu. E
eu estou aqui representando uma entidade freiriana.
A Apeoesp é uma entidade freiriana,
porque ela se embasa na solidariedade, na generosidade e na luta por igualdade
social. São os pilares da obra de Paulo Freire, que orientam a luta da Apeoesp.
Às vezes, essa generosidade é exagerada, você viu a Bebel falando que até sou
cantor, mas faz parte do DNA da Apeoesp.
Aqui foi citada essa questão da Justiça
Federal, do Rio de Janeiro, que proibiu, através de liminar, o governo
Bolsonaro de falar mal. Mas o exercício dele é falar mal da Educação, falar mal
de tudo, da Ciência.
Ora, não foi ele também, ontem, que
disse que o governo Dilma exagerou na contratação de professores e professoras
- 100 mil professores que foram contratados em concurso - e que havia excesso
de professores no Brasil? É ele que está falando isso.
Esse governo, que precisa ser
combatido, também tem a sua semelhança aqui no estado de São Paulo. Doria e o
PSDB, nesses anos todos, baniram Freire da bibliografia de concursos do estado
de São Paulo, para professor. Já não tem concurso; e Freire está banido na
construção das propostas pedagógicas que saem do Palácio dos Bandeirantes e da
Secretaria de Educação.
Então, eu penso que nós temos essa
tarefa de lutar. Manter o legado de Paulo Freire é lutar contra esses projetos
excludentes que, em plena pandemia, querem ser implementados, como a PEI, com a
desvalorização dos professores, com o desrespeito aos professores e professoras
do estado de São Paulo, com a ausência de diálogo por parte do secretário da
Educação conosco.
Portanto, respeitar Paulo Freire é
continuarmos na luta, professores e professoras do estado. E eu reafirmo o
orgulho de estarmos participando desse momento, da luta política que nós temos
que travar no Brasil e na qual Paulo Freire é fundamental. Um abraço a todos e
todas da Apeoesp.
Queria também dizer do meu orgulho,
porque temos aqui, como disse a Bebel, vários companheiros da Apeoesp. Mas
somos todos freirianos, somos todos solidários, somos todos generosos, gostamos
de gente, gostamos da Educação Pública laica de qualidade no estado de São
Paulo e no Brasil.
Um forte abraço, companheiros e
companheiras. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada. Ele
já entregou, né? A Unas está aí, Geraldo? Geraldo tem que vir pra cá. Lá tem um
projeto de Educação que eu tive...
Eu sempre fui apaixonada pela Unas, até
que eu lutei, e eles me adotaram. Então, eu estou lá dentro. De uma forma ou de
outra, eu sempre estou lá. Então, vou pedir para o Geraldo também.
Está também entre nós o Adolfo
Calderón? Então, vamos lá. Eu vou passar a palavra para o Hector. Por favor,
Hector. O Ismael Morales, da Apase, com certeza, opa. Vem para cá, filho.
Entidades coirmãs. Por favor, Hector. Eu vou pedir um pouco de celeridade,
senão nós não vamos falar nem para nós.
Obrigada.
O
SR. HECTOR DA SILVA BATISTA - Olá, boa noite a
todos, a todas e a “todes” que participam aqui dessa sessão solene. Queria
primeiro agradecer, Professora Bebel, o convite para a União Paulista dos
Estudantes Secundaristas estar aqui hoje participando deste espaço.
Porque da última vez em que nós,
estudantes, e em que eu mesmo pisei neste espaço, neste plenário, foi quando
nós entramos aqui para denunciar o desvio de merenda que acontecia no estado de
São Paulo, quando nós ocupamos este plenário durante quatro dias, dizendo que
nós acreditamos numa Educação Pública, numa Educação gratuita e de qualidade.
(Palmas.)
E por isso, agradecer também à Apeoesp,
que participa e sempre esteve ao lado da União Paulista dos Estudantes
Secundaristas nas lutas em defesa da Educação. E como dizia Paulo Freire,
aqueles que ensinam aprendem ao ensinar; e aqueles que aprendem ensinam ao
aprender.
Eu acho que essa é a relação em que a
gente constrói esse papel de juntar tantos movimentos, tantas entidades aqui
hoje, para celebrar Paulo Freire e para falar sobre uma Educação com senso
crítico, uma Educação libertadora, que caminhe no futuro e caminhe para o
futuro de um Brasil melhor, que é o contrário do que a gente vê hoje.
Quando o presidente da república fala,
lá em 2018, quando vai chegando ali ao seu mandato, que vai expurgar Paulo
Freire das nossas escolas, o que nós dizemos aqui hoje é que nós vamos expurgar
os inimigos da Educação do nosso país, que nós vamos tirar todos aqueles que
atacam, todos os dias, os nossos sonhos, do espaço que eles ocupam.
Porque esse espaço precisa ser ocupado
pelo povo, pelos educadores, pelos estudantes e por todos aqueles que acreditam
num país melhor. E o país em que a gente acredita é uma Educação que caminhe.
Assim como o legado que Paulo Freire
deixa para nós: um legado de resistência, esperança e organização, para que nós
aqui saiamos ainda mais convictos de que a nossa luta vale a pena.
E de que nós vamos vencer, que dias
melhores virão. E por isso a União Paulista dos Estudantes Secundaristas, o
movimento estudantil está junto aqui, participando deste espaço.
Muito obrigado a todos. E viva o
patrono da Educação. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada. Meu
querido companheiro da Unas, o Geraldo, ainda não entregou. Então, o Geraldo
entrega para o Hector, que é da Upes. E já, imediatamente, passo a fala para a
Anatalina. Pedir celeridade. E depois o Ismael, da Apase; depois, o meu
querido... Não.
A
SRA. ANATALINA LOURENÇO - Boa noite,
companheiras, companheiros. Boa noite, deputada Professora Bebel, quero
agradecer o convite. Mas, mais do que isso, a possibilidade de ter, neste
momento, dividido e ouvido companheiras, companheiros e pessoas tão preciosas
que tiveram a convivência com Paulo Freire.
Dito isso, muito já se foi dito sobre
Paulo Freire aqui, né. Então, não quero me repetir. Eu sei que Paulo Freire é
verbo, porque a cada momento, todos os dias, quando a gente professa o afeto,
quando a gente compreende que a Educação precisa ser libertadora, que o
currículo precisa ser representativo, nós estamos, então, “paulofreireando”.
E aí, é claro que o Fórum Estadual de Educação e
Diversidade Étnico Racial não podia faltar aqui. Eu presido esse fórum
atualmente, mas também sou secretária nacional de Combate ao Racismo da Central
Única dos Trabalhadores e sou dessa entidade que tem essa presidenta. Então, é
muita honra estar aqui. Não vou me estender, porque tem que ser célere.
Muito
obrigada. Um abraço para todo mundo. E viva Paulo Freire. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Agora essa
“presidenta” ficou com duas conotações aí, hein. Bom, eu vou chamar
imediatamente o companheiro do Mab, que está sentadinho aí. Mas tem um
companheiro que é... O Mab entregou já? Vai entregar para quem? Para a
Anatalina.
O Ailton, que é dos Empregados de
Estabelecimentos das Escolas Privadas. Por favor, Ailton. E depois tem o
representante da Uncme. Está aí entre nós? É o Eduardo Cézar. Não. Por favor.
O
SR. GABRIEL GONÇALVES - Boa noite a todos, a
todas e a “todes”. É um prazer imenso e uma honra estar aqui. Parabenizar a
deputada, professora guerreira e aguerrida aqui nesta Casa, Professora Bebel.
E não há nada mais freiriano do que
olhar para este plenário e ver parcelas do povo brasileiro, lutadores e
lutadoras, trabalhadores e trabalhadoras aqui, representando as suas entidades
e num constante combate a esse neofascismo que vem perdurando no nosso país.
Nós, o Movimento dos Atingidos por
Barragem, temos Freire em nossas veias. No momento em que um atingido se junta
com outro atingido para discutir como que o modelo energético afeta a vida dele
e traz a miséria para a existência da vida dele, e daí esse atingido também,
semeando essa discussão, semeando essa luta, sai do sul do país, sai do norte,
vai para o nordeste, vem para São Paulo, para as periferias... Das periferias,
vai para Brumadinho, vai para Mariana enfrentar esse sistema.
Começa a florescer daí o movimento. Não
há nada mais freiriano nessa essência. E a partir disso, nós, enfrentando esse
momento trágico da nossa conjuntura, em que 15 empresas dominam o setor
energético e deram “tarifaço” na população inteira... A população brasileira,
hoje, precisa cada vez mais lutar. Nós estamos na rua e lutando. Não podemos
deixar que isso aconteça.
Para fechar aqui, há uma situação que
me vem muito à cabeça: ao mostrar o livro, eu acho que o “Pedagogia do Oprimido”,
ao escrever aqui no final, “a primavera de 68”... Paulo Freire é de 19 de
setembro. Paulo Freire não é antes da primavera, que começa em 22 de setembro.
Ele antecede, ele abre as portas da primavera.
E o espírito dele, que está neste
plenário, com cada trabalhador aqui presente e cada atingido, cada sem-terra,
cada camponês, cada trabalhador urbano que está em luta, construindo, fazendo
formação, é a essência e o espírito dessa primavera. Que Paulo Freire traga
mais primaveras. Ele próprio já é a própria primavera.
Muito obrigado. Boa noite a todos e
todas. (Palmas.)
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada,
Gabriel. É sempre uma satisfação estar com vocês. Ele não recebeu, então o meu
companheiro da Apase também não doou, né? Você já deu? E já chamo
imediatamente, para fazer uso da palavra, você, que é da Unas, meu querido
Geraldo.
O
SR. JOSÉ GERALDO DE PAULA PINTO - Boa noite a
todas e a todos. Da última vez em que eu estava lendo “Pedagogia do Oprimido”,
o livro fala que o que a gente faz é tão importante que acaba incorporando no
nome, né. Então, eu sou o Geraldo da Unas; tem a Jaqueline educadora; a Ângela
da biblioteca. Nós vamos ganhar um livro. (Palmas.)
Tem a Bebel deputada, e agora favelada
também. Acabou entrando lá para a família da favela. É, porque o pessoal fala
assim: “a Bebel, aquela deputada da favela”. Então, essa coisa de incorporar o
que a gente faz e que a gente chama no nome é muito importante.
Paulo Freire tem uma coisa que eu acho
que até agora ninguém falou, que é o Mova, o Movimento de Alfabetização. Então,
na favela já foram alfabetizadas mais de 10.000 pessoas, e é um movimento de
resistência, porque vários governos tentaram... Quando você falou, eu pensei
que você ia falar do Mova. Vários governos tentaram fechar, inclusive o Bruno
Covas e esse.
Teve um movimento muito forte, de base,
que conseguiu resistir e está resistindo até hoje para alfabetizar diferente
desses programas formais. O Mova tem uma característica que resume o Paulo
Freire, porque as pessoas chegam lá, não precisam fazer a matrícula, levar o
atestado de óbito, a certidão de nascimento. A pessoa começa a estudar, e
depois, quando ela pega gosto pela coisa, ela faz a matrícula dela.
Quando a gente fala isso,
tradicionalmente o pessoal de escola tradicional fala: “não, precisa fazer a
matrícula”. Isso aí já é um modo de excluir as pessoas. Então, a gente teve a
oportunidade, primeiro na gestão da Luiza; a primeira sala do Mova foi
organizada lá em Heliópolis. E é um movimento que eu acho que tem no Brasil
todo.
E só para terminar, eu me lembro de um
congresso que nós fizemos no Anhembi, que aí o Paulo Freire conversava com a
gente, os supervisores do Mova, e a gente falou assim: “quem é que nós vamos
chamar para a mesa?”. O deputado falou: “não, vai chamar para a mesa os alunos,
o pessoal que vocês estão falando. Eles vão assistir ao que vocês vão fazer
avaliação”. (Palmas.)
Obrigado a todos; obrigado, Bebel. E a
gente também te ama de amor mesmo, porque paixão é passageira.
A
SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu também amo
vocês, pode ter certeza.
Eu chamo então, já, para fazer uso da
palavra... Eu acho que eu primeiro vou pôr um vídeo lá, que é do Giannini. Olha,
vale a pena a gente ouvir e ver o vídeo do Giannini, que hoje está presidindo a
Sociedade Brasileira para o Progresso na Ciência.
A gente já teve momentos difíceis nessa
SBPC, mas, com a entrada do Giannini, eu acho que, neste momento em que há um
negacionismo da ciência, vai ser um salto qualitativo do ponto de vista de
encostar a ciência com a população.
Chamar a Neusa do Sinteps, que está em
greve. Por favor, Neusa. (Palmas.) Neusa não está aí? Ela estava entre nós.
Pelo menos, eu tinha visto. De qualquer forma, registro o Sinteps, que está em
greve neste momento - resistência e luta. E imediatamente, por favor, passando
o vídeo.
*
* *
- É exibido o vídeo.
*
* *
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT -
Não poderia deixar de dizer que foi brilhante como sempre o nosso querido
Renato Janine.
Eu vou pedir
então para fazer uso da palavra o Ismael Morales. Ele está representando a
Apase, que é o sindicato dos servidores públicos do estado de São Paulo. Por
favor, Ismael. Depois nós teremos uma última fala, que é do Ailton, que é
representante das escolas particulares.
O SR. ISMAEL DE JESUS MORALES -
Boa noite a todos e a todas. Professora Bebel, muito obrigado pelo convite. Na
verdade, eu aqui represento a nossa diretora-presidenta do Sindicato dos
Supervisores de Ensino do Magistério Oficial do Estado de São Paulo, a
professora Rosaura Almeida.
Confesso que eu
me sinto aqui hoje uma vela acesa diante do sol. Depois de tantos sóis que
falaram aqui eu, sinceramente, fico pensando como que trarei a todos vocês, e a
todas, alguma palavra para falar dessa grande alma ímpar, sem igual que foi
esse grande patrono da Educação, Paulo Freire.
Mas curioso é
que o Guido me fez lembrar também de uma discussão do passado, na sala, dos
idos tempos da universidade com o professor, numa discussão em que nós
estávamos, sobre a educação e, de repente, surgiu alguma dúvida e o professor
nos colocou: “bem, vocês estão discutindo uma obviedade, mas, porém, para fazer
a diferença na sala de aula vocês precisam aprender a escutar”. E no caso do
Guido, que eu gostei muito da experiência, a gostar de gente.
E eu coloco
isso, essa experiência da questão do escutar, porque o diálogo que propõe o
próprio Paulo Freire entre o professor e o aluno, porque essa capacidade de
você, na condição de ouvir o aluno, que você terá dentro de si todos os
instrumentos necessários para fazer a diferença e tirar o aluno dessa condição
de oprimido e se libertar.
Então eu apenas
não quero me delongar, até porque não tenho esse dom da eloquência, mas eu
diria que para todos vocês que se nós somos o que somos hoje nós devemos tudo
aos nossos professores e professoras, educadoras, que fizeram a diferença em
nós. (Palmas.)
Professores que
transformaram nosso pensamento, não professores que nos doutrinaram, como estão
colocando aí, ao contrário, professores que provocaram a reação dentro de nós
e, com isso, nós conseguimos nos transformar e sermos o que nós somos, pessoas.
E esta Casa,
professora, que é a Casa do povo, que praticamente é construída e deve exercer
e executar o dever de nos ouvir também, principalmente porque a Casa que tem
que provocar a transformação e a execução e pôr em prática todas as políticas
públicas da Educação, fazer cumprir o Plano Estadual da Educação, fazer cumprir
o Plano Nacional da Educação, que praticamente eles passam, eles colocam
sombra.
Nós não devemos
permitir que isso aconteça, e lutar sempre contra todo o tipo de desigualdade
social, desigualdade moral e institucional. E Paulo Freire, essa alma
brilhante, é responsável por isso dentro de nós.
Muito obrigado
e boa noite a todos e a todas. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT -
Bom, eu que agradeço, Ismael. Eu gostaria que você levasse um abraço para toda
a diretoria da Apase, à nossa presidenta, Rosaura.
Vou pedir,
então, para o Tiago entregar a placa, para o Tiago Fainer entregar para ele.
Depois vai ter troca-troca no plenário, quem entrega para quem, está bom?
Vamos lá. Eu
vou chamar, então, o Ailton. Por favor, Ailton. Ele é da Federação dos
Empregados em Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, a Feesp,
Sinpro.
O SR. AILTON FERNANDES - Boa noite a
todos e a todas. Deputada Bebel, em nome do professor Celso Napolitano vou
justificar a ausência dele, porque ele está com aquela gripezinha, pegou a tal
da gripezinha, e é por isso que ele não está aqui hoje.
Eu represento a
Fepesp e o Sinpro-SP, são duas entidades que representam os professores, as
professoras e os trabalhadores das escolas privadas do estado de São Paulo e da
cidade de São Paulo.
Em que pese o
fato de a gente defender esses trabalhadores, em todas as nossas instâncias
está consignada a nossa defesa do ensino público. Inclusive o Reginaldo que esteve
aqui há pouco conosco participou de várias atividades conosco nesse sentido.
Eu fico, assim,
particularmente feliz de ter ouvido e visto algumas pessoas aqui que marcaram a
minha vida. Leonardo Boff, por exemplo, ele não tinha ido lá para a periferia onde
eu nasci, onde eu vivi, onde eu vivo até hoje, mas as ideias dele foram.
E foi aí que eu
me tornei um militante, foram as ideias do Leonardo Boff que me transformaram
em um militante. Da mesma maneira isso me levou para o Mova, que foi citado
agora aqui, na favela do Boturussu, em Ermelino Matarazzo.
Mas vou
terminar a minha fala falando o seguinte, eu sou professor de escola privada,
mas também sou da base da Apeoesp e dou aula no Cangaíba, aqui na zona leste.
Por várias vezes, nesses 32 anos de Magistério, teve o canto da sereia para eu
sair da escola pública e ficar só na escola privada.
O que me
impediu foi o Paulo Freire, porque a primeira coisa que eu aprendi quando eu
fui à escola pública foi o seguinte, eu vou falar com gente da minha classe social,
então esse aprendizado o Paulo Freire me ensinou já na PUC, que eu sou oriundo
da PUC. (Palmas.) Se eu pudesse colocar uma lápide no meu túmulo seria essa, eu
escolhi falar com gente da minha classe social.
Obrigado,
Bebel. Parabéns pela iniciativa. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu
que agradeço, Ailton. Que satisfação a gente ver que a Apeoesp também é muito
diversa. Isso sem dúvida nenhuma.
Peço para o
Tiago Fainer entregar a placa para ele. Por favor, Tiago. E eu vou entregar
para o meu companheiro da Unas e vou fazer uma última homenagem, eu tenho que
fazer, porque se eu não fizer essa homenagem a esse professor, Paulo Freire,
não só o Paulo Freire, mas a um professor mesmo que sofreu um processo de
cassação na Câmara de Vereadores ontem lá em Cerqueira César. Quero que ele
sinta que pode contar com a solidariedade de todos vocês.
*
* *
- São entregues
as homenagens.
*
* *
Bom, pessoal,
hoje o dia para mim foi muito importante. Eu agradeço do fundo do coração a
presença, a resistência de ficar até esta hora, daqui a pouco nós vamos trocar
as plaquinhas aqui, porque todos vão ter plaquinhas para levar para casa,
porque participou deste dia que não é qualquer dia, mas é uma homenagem ao
nosso sempre mestre Paulo Freire.
Ele não sairá
nunca da nossa existência, sempre estará conosco como uma grande referência,
não só uma referência nacional, mas internacional. Eu acho que Paulo Freire
supera tudo quanto é partido político.
Não deveria
estar como está sendo hoje atacado. Mas ele supera, porque quando os que dizem
que nós doutrinamos colocam um absurdo como o programa “Escola sem partido” e
depois inventam uma escola cívico-militar estão fazendo o quê? Doutrinação.
Então isso,
para nós, indubitavelmente desmistifica o que Paulo Freire não faz,
doutrinação. Paulo Freire emancipa e sempre nos ensinou a educação libertadora,
a pluralidade de ideias, a diversidade, isso sempre no pensamento dele.
No dia de ontem
eu fiquei até três horas da manhã na Câmara de Vereadores de Cerqueira César e
vi uma inquisição. O professor Matheus Siqueira foi cassado, duramente cassado.
Por quê? Porque
em um período que não tinha como ter volta às aulas ele foi convencer a
dirigente de ensino, ele foi conversar com os professores, foi conversar com os
pais, aliás, cumprindo a agenda sindical da Apeoesp, que era “aprendizagem se
recupera, vidas não”.
O mote era
“lutamos pela defesa incondicional da vida”, esse era o nosso mote. E foi isso
o que ele fez. Pagou um preço ontem porque convenceu e as escolas fecharam, os
pais não mandaram os alunos para as escolas. Pagou esse preço.
No momento da
fala dele, se vocês me perguntarem: “Tem provas de que ele entrou abruptamente,
que ele agrediu?”. Não tem, a única prova que tem é que ele sai do carro e
entra na secretaria.
Dali você não
tem nada, nada, porque o próprio Matheus, mesmo os inquisidores que lá estavam
para cassá-lo, ele é uma pessoa muito doce, ele se dirigia: “Eu saio daqui
hoje, mas vocês podem contar, porque eu vou pedir para a Professora Bebel
continuar mandando as emendas parlamentares.
Cerqueira Cesar
que precisa, não pelos senhores, mas pela cidade. Meu compromisso é com a
cidade.”. Sendo, olha só, cassado, o companheiro faz uma fala dessas.
Mas uma das
falas que me tocou, e me tocou profundamente, foi quando eles falaram o
seguinte: “Vocês estão colocando uma dosimetria, a mais alta, a última, que é a
cassação.
Quando tiver
aqui um processo de improbidade administrativa, qual vai ser a pena? Se eu, por
não ter feito nada, por não ter provas contra mim, eu tive a pena máxima, qual
vai ser a pena?”. Alguém do plenário gritou “guilhotina”.
Porque não pode
ser. Não que nós defendamos, porque se a pena máxima foi dada a algo que não
aconteceu, imagine quando tiver alguma coisa, ou caiu naquilo que a gente sabe,
perseguição, porque pela primeira vez na história de Cerqueira César nós
tivemos um vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores e o mais votado
daquela Casa e isso incomodou aqueles que não querem mudança, porque mudou a
metodologia de fazer política. Essa que era a questão.
E naquela dor
ainda ele cita Paulo Freire, várias vezes citando Paulo Freire. Várias vezes. A
todo momento citava Paulo Freire. É um freiriano. Matheus é um freiriano. Mais
do que isso, um professor comprometido com a categoria, não só categoria, com o
cidadão. A liderança dele é inconteste.
Digamos que
ontem ensaiaram cassá-lo, mas nós vamos continuar, porque não tem prova nenhuma
contra ele. Nós vamos reconquistar o mandato dele, colocar o Matheus de volta
na Câmara de Vereadores. E quero aqui dizer o seguinte, que ele entra mais
forte do que ele sai. Ele vai voltar mais forte do que ele está, porque ele é
forte.
Eu tinha que me
dirigir, eu vou abrir a placa, o Tiago estava comigo ontem. Eu pediria para que
você viesse comigo, Tiago, receber a placa como se fosse o Matheus e falar
celeremente.
Também pode
falar de onde você vem, ninguém vai cassar a sua palavra, senão cai no que caiu
o... Mas está aqui. Eu passo para você, então, depois nós vamos nos encarregar de
mandar para o Matheus. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
O SR. TIAGO FAINER - Boa noite a
todos e todas. É uma feliz satisfação estar aqui com vocês hoje, eu que sou
aluno da rede pública de Piracicaba, minha cidade querida, e não poderia deixar
de citar a escola de onde eu vim, que é a escola Monsenhor Jeronymo Gallo, lá
onde tive a oportunidade de ser três vezes presidente de grêmio.
Nessas inúmeras
eleições eu tive dentre muitas batalhas uma mais terrível, que foi o dia em que
a direção resolveu encher a escola de grades. E no processo de discussão eu
peguei e foi o que por algum tempo cessou essa ideia de colocar grades na
escola, que foi o seguinte.
Eu perguntei à
vice-diretora: “Qual empresa coloca grade na cadeia?”. Ela parou um pouquinho e
eu falei: “É a mesma que vai vir colocar a grade aqui amanhã.”. Ela desistiu.
Mas ela desistiu com o impacto dessa ideia, de que ela estaria prendendo os
alunos.
E a escola não
é o espaço de você prender o aluno, mas o que tem vindo acontecendo nesse
governo, e daí eu vou me referir especificamente a esse secretário, que o aluno
que vai para a escola onde era para ser um lugar para ele sonhar o governo vai
lá e joga uma pá de cal em cima do aluno.
Primeiro, ele
já não tem mais vontade de prestar o Enem. Aí o ministro reclama de gastar o
dinheiro. Ué, dê a possibilidade para que o aluno chegue ao Enem. Ele não tem
feito isso.
E também dizer
que ontem eu estava lá com a Professora Bebel até o fim, até as três horas da
madrugada. Nunca vi coisa mais absurda do que a que aconteceu ontem em
Cerqueira César. Lembrei-me de 2016 e, pasmem, era o mesmo partido. Os
vereadores eram do mesmo partido, então a cassação foi política.
O professor
Matheus é um jovem, assim como eu, e eu me senti muito representado, porque a
força que o Matheus teve durante toda aquela sessão, que durou nove horas e
meia, foi incrível.
Ao final, com
toda a calma do mundo, ele disse no plenário: “Nós voltaremos.”. Tenho certeza
de que com o apoio da Professora Bebel, com a força dele, logo ele estará no
plenário novamente.
Agradeço a
todos. Viva Paulo Freire! (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT -
Bem, eu preciso ler o termo de encerramento.
Esgotado o
objeto da presente sessão, agradeço às autoridades, à minha equipe, aos
funcionários do Serviço de Som, da Taquigrafia, da Fotografia, do Serviço de
Ata, do Cerimonial, da Secretaria Geral Parlamentar, da Imprensa da Casa, da TV
Alesp, que está ali brilhantemente trabalhando, e das assessorias policiais
Militar e Civil, bem como a todos que, com as suas presenças, colaboraram para
o pleno êxito desta solenidade.
*
* *
- Encerra-se a
sessão.
*
* *