17 DE SETEMBRO DE 2021

1ª SESSÃO SOLENE 100 ANOS DE PAULO FREIRE: HISTÓRIA E LEGADO

 

Presidência: PROFESSORA BEBEL LULA

 

RESUMO

 

1 - PROFESSORA BEBEL LULA

Assume a Presidência e abre a sessão. Informa que a Presidência efetiva convocou a presente sessão solene, em homenagem aos "100 Anos de Paulo Freire: História e Legado", por solicitação desta deputada, na direção dos trabalhos. Destaca a importância do centenário de Paulo Freire. Discorre sobre sua obra pedagógica. Afirma que ela pode trazer orientação para o futuro da Educação no mundo pós-pandemia. Defende a gestão democrática das escolas. Lamenta a tentativa do governo federal de retirar de Freire o título de patrono da Educação brasileira. Tece críticas ao movimento Escola sem Partido.

 

2 - WILSON LEVY

Mestre de cerimônias, convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro", reproduzido pelo Serviço de Audiofonia da Casa. Anuncia apresentação do grupo cultural Maria Fuzarca.

 

3 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Anuncia a exibição de um vídeo sobre a trajetória de Paulo Freire.

 

4 - LEONARDO BOFF

Professor universitário, teólogo, escritor e filósofo, tece considerações sobre o legado de Paulo Freire, o qual, ressalta, sempre deu valor ao saber dos mais pobres. Considera que a novidade do seu pensamento foi tratar a educação como um ato político. Avalia que é preciso recorrer à sua obra para reconstruir a Educação e a sociedade após a pandemia. Rememora momentos em que trabalhou com Paulo Freire.

 

5 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Lê citação de Paulo Freire acerca das concepções que regem a Educação.

 

6 - JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO

Diretor fundador do Instituto Paulo Freire, relata como o homenageado abandonou a profissão de advogado para dedicar-se à Educação. Considera que seu legado nunca foi tão importante quanto é hoje. Diz que a obra de Freire é estudada internacionalmente e tem relevância para diversas áreas do conhecimento. Conta episódios da vida de Paulo Freire, de quem foi amigo. Apresenta edição fac-similar da "Pedagogia do oprimido", de Freire.

 

7 - FERNANDO HADDAD

Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, frisa como, no período em que comandou o Ministério da Educação, os dois pensadores que lhe serviram de referência foram Paulo Freire e Anísio Teixeira. Faz comentários sobre a obra de Freire e sua proposta educacional, as quais considera atuais. Lamenta que, a seu ver, Freire seja, hoje em dia, mais valorizado fora do Brasil do que em seu próprio país.

 

8 - DOUGLAS MARTINS IZZO

Presidente da CUT-SP, parabeniza a deputada Professora Bebel pela realização desta solenidade. Tece comentários acerca do legado da obra de Paulo Freire.

 

9 - JOÃO PALMA

Professor da Unesp e ex-coordenador do Fórum Estadual de Educação, destaca a justeza da homenagem a Paulo Freire. Faz relato de sua experiência na época em que trabalhou com o homenageado. Afirma que Freire e Anísio Teixeira são os dois grandes nomes da Educação brasileira. Diz que a pedagogia de Freire busca a emancipação do aluno, e por essa razão, provoca incômodo. Argumenta que a Educação pública brasileira não segue, de fato, as ideias de Paulo Freire.

 

10 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Anuncia a entrega de placas comemorativas desta solenidade.

 

11 - SIMONE MAGALHÃES

Representante do MST, declara que o movimento aplica, desde sua fundação, os princípios de Paulo Freire no seu trabalho educacional. Observa que a luta pela terra é também uma luta pedagógica, por favorecer a autonomia. Combate veto presidencial a projeto de lei do interesse de pequenos agricultores. Menciona visita de Freire a assentamento do MST, em 1991.

 

12 - TAYNÁ WINE RODRIGUES REIS

Representante da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, destaca a justeza desta homenagem a Paulo Freire, tendo em vista as circunstâncias atuais no Brasil. Reflete acerca da importância de prover o acesso à Educação para todas as camadas sociais.

 

13 - WILSON LEVY

Mestre de cerimônias, lê citação de Paulo Freire.

 

14 - LIGIA TONETO

Representante da Juventude do PT, enaltece a deputada Professora Bebel por sua atuação parlamentar e pela realização desta solenidade. Afirma que a Educação é fundamental para a construção da sociedade. Tece críticas à política educacional do atual governo. Lê trecho de Paulo Freire.

 

15 - NITA FREIRE

Educadora e viúva do homenageado, expressa sua alegria pelo número de eventos realizados em comemoração ao centenário de Paulo Freire. Frisa o alcance internacional de sua obra. Afirma que Freire sempre buscou vencer os desafios com ética e respeito a todos. Expressa sua opinião de que o pensamento de Paulo Freire pode orientar a construção de uma sociedade mais justa. Defende o pensador de críticas que lhe foram feitas pelo atual governo federal. Comenta que a principal questão, para Paulo Freire, era a existência humana concreta.

 

16 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Comemora decisão judicial que impede o governo federal de desrespeitar a memória de Paulo Freire. Tece críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Anuncia a exibição de vídeo de Gabriel Chalita, professor e escritor. Lê frase de Paulo Freire.

 

17 - FRANCISCA PEREIRA DA ROCHA SEIXAS

Representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, enfatiza a justeza desta homenagem a Paulo Freire, no seu centenário. Comenta a importância de sua obra na conjuntura que o Brasil atravessa.

 

18 - FÁTIMA ANTÔNIO

Representante do Conselho Municipal de Educação de São Paulo, agradece pelo convite a esta solenidade em homenagem a Paulo Freire. Relata sua participação em projeto proposto pelo homenageado, quando ele foi secretário municipal da Educação em São Paulo.

 

19 - JOÃO MARCOS DE LIMA

Representante do Sindicato dos Funcionários da Secretaria Estadual da Educação, diz que é preciso ter, como Paulo Freire, esperança de que um novo Brasil é possível. Faz citação do homenageado.

 

20 - CLEONICE FERREIRA RIBEIRO

Representante do Sindsaúde, parabeniza a deputada Professora Bebel por propor a realização desta solenidade. Tece críticas aos governos federal e estadual. Afirma que a obra de Paulo Freire traz ensinamentos sobre como construir um mundo melhor.

 

21 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Anuncia a exibição de vídeo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

22 - PAULO TEIXEIRA SABOIA

Diz que é preciso valorizar a obra de Paulo Freire por seu caráter revolucionário. Opina que o homenageado deveria estar na galeria de heróis da Nação. Destaca a atuação de Freire na alfabetização de adultos.

 

23 - REGINALDO FONSECA SOEIRO DE FARIA

Representante da Associação dos Docentes do Instituto Federal do Estado de São Paulo, acusa o atual governo de não pensar na Educação. Considera que é por esse motivo que são feitos ataques à obra de Paulo Freire. Afirma que, desde o governo Temer, os investimentos em Educação têm diminuído.

 

24 - JOÃO DA COSTA CHAVES JUNIOR

Representante da Associação dos Docentes da Unesp e do Fórum das Seis, discorre sobre o trabalho de Paulo Freire em prol dos oprimidos. Afirma que seu trabalho é uma ameaça para governos de cunho autoritário. Declara que todos podem, seguindo os ensinamentos de Freire, plantar sementes de transformação da sociedade.

 

25 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Anuncia a exibição de vídeo da deputada Leci Brandão.

 

26 - ROBERTO GUIDO

Representante da Apeoesp, enaltece a deputada Professora Bebel. Destaca a importância do legado de Paulo Freire, o qual, acrescenta, é uma inspiração para a atuação da Apeoesp. Tece críticas ao presidente Jair Bolsonaro e ao governador João Doria. Lamenta que, a seu ver, as ideias de Freire não estejam sendo aplicadas em profundidade.

 

27 - HECTOR DA SILVA BATISTA

Representante da União Paulista dos Estudantes Secundaristas, lembra ocupação do plenário da Alesp, promovida por estudantes, em protesto contra denúncias de desvio das verbas destinadas à merenda escolar. Destaca a relevância do pensamento de Paulo Freire para o futuro da Educação brasileira.

 

28 - ANATALINA LOURENÇO

Representante do Fórum pela Diversidade Étnico-Racial do Estado de São Paulo, enfatiza a importância desta homenagem a Paulo Freire. Observa que as ideias do homenageado ajudam a reflexão sobre a necessidade de diversidade no currículo escolar.

 

29 - GABRIEL GONÇALVES

Representante do Movimento dos Atingidos por Barragens, declara que a entidade de que faz parte tem Paulo Freire como uma de suas inspirações. Afirma que a união de trabalhadores em prol de seus direitos é representativa dos ideais do pedagogo. Tece críticas ao modelo energético que impera no Brasil.

 

30 - JOSÉ GERALDO DE PAULA PINTO

Representante da União de Moradores de Heliópolis e Região, informa que um grande número de moradores de Heliópolis foi alfabetizado de acordo com o método proposto por Paulo Freire. Considera que o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos, criado pelo homenageado, é um movimento de resistência.

 

31 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Anuncia a exibição de vídeo de Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e ex-ministro da Educação.

 

32 - ISMAEL DE JESUS MORALES

Representante do Sindicato dos Supervisores de Ensino do Magistério Oficial no Estado de São Paulo, enfatiza a importância do diálogo entre o professor e o aluno, conforme defendia Paulo Freire. Ressalta que todo pedagogo deve saber escutar. Afirma que todos precisam ter consciência da dívida que têm para com seus educadores. Comenta que aqueles que trabalham na Educação devem tomar parte no combate à desigualdade.

 

33 - AILTON FERNANDES

Representante da Federação dos Empregados em Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, observa que a entidade da qual faz parte, embora represente trabalhadores de escolas privadas, não deixa de ser também defensora do ensino público. Descreve sua trajetória como militante da Educação, inspirado pelos ideais de Paulo Freire.

 

34 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Agradece a todos pela presença nesta solenidade. Frisa a importância do pensamento de Paulo Freire para quem trabalha com Educação. Repudia as acusações segundos as quais haveria doutrinação nas escolas brasileiras. Argumenta que Freire sempre defendeu a pluralidade de ideias e a diversidade. Defende o vereador Matheus Siqueira, de Cerqueira César, que teve seu mandato cassado por quebra de decoro, em razão de visita que fez a uma escola municipal, para averiguar se ela teria condições sanitárias para a retomada das aulas.

 

35 - TIAGO FAINER

Representante da União dos Estudantes Secundaristas de Piracicaba, faz relato de seu período como diretor de grêmio estudantil. Critica a gestão educacional dos governos federal e estadual. Presta apoio ao vereador Matheus Siqueira, de Cerqueira César, que teve seu mandato cassado.

 

36 - PRESIDENTE PROFESSORA BEBEL LULA

Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Professora Bebel.

 

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 O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - WILSON LEVY - Senhoras e senhores, boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade e o propósito de homenagear os 100 anos do educador Paulo Freire, patrono da Educação brasileira.

Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp, e pelo canal Alesp, no YouTube.

Compõe a Mesa Diretora a deputada estadual Professora Bebel, a quem passo a palavra, para que faça a abertura desta sessão.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Boa noite a todos que estão presentes nesta sessão solene que homenageia os 100 anos de Paulo Freire. Não é qualquer sessão. É uma sessão que, enfim, nos faz reviver e ao mesmo tempo refletir sobre este momento pelo qual passamos, o legado de Paulo Freire.

Isso para nós tem uma importância fundamental. Então, esses 100 anos de Paulo Freire são marcados, sobretudo, por um grande retrocesso por que passa a Educação paulista e em todo o País.

Nós sabemos perfeitamente a tentativa, a primeira tentativa do presidente eleito, Jair Bolsonaro, tirar o título de Patrono da Educação, enfim, porque dizem que nós, de certa forma, os que somos desta escola freireana, fomos muito bem formados, nós somos aqueles que doutrinamos. E eles vêm com a história do “Escola sem partido”, que é uma doutrina também. Também, não. Eles doutrinam.

Paulo Freire não doutrina. Ao contrário, Paulo Freire propõe a Educação libertadora, através da metodologia de alfabetização aplicada no Rio Grande do Norte, onde, no momento em que ele alfabetizou 300 trabalhadores do campo, depois disso ele é preso, durante a ditadura militar, instaurada em 64.

E vai para o Chile. Escreve a grande obra que, para nós, é um clássico, Pedagogia do outro mundo. E tantas coisas nós retiramos da “Pedagogia do Oprimido”.

Mas Paulo Freire é tudo. Mas é o sentimento de que não dá para trabalhar com Educação compactada, através de compactos de coisinha pré-feita. Por isso, ele chama para a sua metodologia, o que a palavra “mundo”, a palavra geradora, aquela que, através da palavra, se inicia a Educação e se começa um processo de alfabetização.

Isso trouxemos para o atual contexto, com a pandemia, com as aulas, o teletrabalho e as aulas virtuais. Nós podemos dizer que nós podemos revolucionar a escola pública brasileira, a partir, até, do que faltou na cesta. Nossa diretora da Apeoesp, no que faltou padrinho, no que faltou companheiro de Mabe, enfim, por quê?

Porque também aqui estava sendo ensinado, os estudantes não estavam aprendendo. Então, não venham dizer que a baixa qualidade da Educação tem a ver com a pandemia. Não. Tem a ver com a ausência, com a falta de uma gestão democrática nas escolas, para que nós possamos garantir a autonomia intelectual, pedagógica, desenvolver um projeto político-pedagógico para garantir a qualidade da Educação.

A escola pública no estado de São Paulo hoje é alvo de tirania. É tudo através do tal de centro de mídias. Eu acredito que se fosse hoje, diferentemente do que disse Cortella, que Paulo Freire disse ‘esqueçam tudo que eu escrevi”, eu acho que não.

Eu acho que agora o Paulo Freire tem que se fazer mais presente, e ver como é que nós reinventamos esse mundo que aí está, através das tecnologias de comunicação, de informação e comunicação.

Agradeço, do meu coração, a presença de todas e de todos. Nós vamos ter cidadãos ilustres aqui, que falarão online conosco, Fernando Haddad, o Leonardo Boff. E a gente não vai poder esticar muito na fala, porque tem as horas certas de eles entrarem.

Mas a gente tem também um vídeo do presidente Lula, enfim, várias outras participações que, para nós, têm uma importância muito grande. São atores que deram também, e dão, a sua contribuição para a Educação brasileira, por uma Educação popular, revolucionária.

Um forte abraço. Muito obrigada. Sejam todos e todas muito bem-vindos. (Palmas.)

 

 

 O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - WILSON LEVY - Convidamos agora todos para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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Após a execução do Hino Nacional Brasileiro, chamamos, para tomar assento nesta Mesa, o professor José Eustáquio Romão, diretor fundador do Instituto Paulo Freire. (Palmas.)

Informamos também que o professor Palma se encontra online, e logo fará uso da palavra, para trazer as suas considerações.

Agora vamos assistir à apresentação cultural do grupo Maria Fuzarca, que fará uma homenagem ao mestre, através de um esquete, com os palhaços Cocó e Garibaldi. Vamos acompanhar. Os atores são professores da Rede Estadual de Ensino.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Um pouco antes, só dizer que eu tomei essa ... nesse momento tão difícil, que dá impressão que o Hino Nacional não é nosso. A bandeira do Brasil é nossa. O Hino Nacional é de todos os brasileiros. Então, nós vamos tocar o Hino Nacional como um direito. Aqui ninguém tem um outro Brasil, que não se chame Brasil nosso. É isso.

E agora, o espetáculo.

 

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- É apresentado o espetáculo.

 

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A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Muito obrigada, viu? Parabéns. Eu cumprimento os artistas, nossos professores. É sempre uma satisfação muito grande ver a nossa própria profissão produzir de forma tão criativa, no caso, uma grande homenagem para o nosso mestre Paulo Freire. Muito obrigada. (Palmas.)

Eu queria chamar para vir para a Mesa... Eu estou incomodada que esta Mesa está muito, muito masculina. Só estou eu de mulher, então eu chamaria a Francisca, que é diretora da POS - por favor, Francisca (Palmas.), aí alguém lá de trás vem para cá -, e a companheira do MST (Palmas.). Anunciar que, é claro, nós temos outras mulheres importantes, tem a Natalina, enfim, a companheira do JPT.

Acho que sinto falta de uma jovem aqui também, eu vou chamar também. Não tem importância, a gente dá um jeito. O isolamento está sendo... E eu acho que aí a gente dá uma equilibrada legal para a Mesa, está bom?

Agora, nós vamos chamar um vídeo que foi produzido e, até na elaboração do vídeo, a gente pediu para que não fosse um vídeo só com as fotos do Paulo Freire, fosse ele, porque ele fala por si, né, João Chaves? Então, eu já peço para colocar o vídeo, por favor.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bem, como nós estamos fazendo a coisa híbrida, isto é um pouco da nossa convivência, Romão. Então, nós vamos chamar agora o Leonardo Boff. Fará uma fala por quantos minutos?

 

O SR. - Dez.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Dez minutos, e depois é o Romão e o professor Palma, que deveria estar aqui, mas, como ele estava com uma leve gripe, não quis arriscar. Só avisar a companheira da UEE que também ela terá o tempo da fala dela.

Acho que eu olhei e vi uma jovem, mas também é uma outra jovem que não teria problema de estar aqui na Mesa, ok? O problema é o distanciamento social, que nos obriga a isto, com certeza.

Então, por favor. Eu acho que “linkar” agora, porque o Leonardo Boff... Boa noite. Boa noite, Sr. Leonardo Boff. Tudo bem?

 

O SR. LEONARDO BOFF - Tudo bem. Boa noite, Bebel. Boa noite a todos que estão participando desta participação tão significativa e tão revolucionária para os atuais momentos que nós estamos vivendo. Eu quero ser breve. Eu creio que, na história da educação, Paulo Freire é o primeiro a dar centralidade e reconhecer o saber do pobre e do oprimido. Todos sabem que aquele que é ignorante não é o pobre, ignorante é aquele que pensa que o pobre é ignorante.

Todos sabem e todos podem aprender uns com os outros. Por isso, ninguém ensina nada de Paulo Freire, ninguém ensina nada a ninguém: aprendemos juntos. Aprendemos juntos, trocando, e a grande obra dele foi exatamente unir as duas grandes realidades em que as pessoas vivem.

Primeiro, aprender a ler o mundo - ler o mundo, observar a vida, acumular expedientes de saber feito com suor, com trabalho. Primeiro vem essa leitura do mundo, depois vem a leitura da letra e como nós interpretamos o mundo.

Então, ele deu valor a tudo aquilo que vem do povo, que vem de baixo nas suas contribuições, seja ao nível da arte, da fantasia, da própria linguagem, porque o povo é o grande criador da linguagem. Ele veio, exatamente, trazer uma singularidade, que é a novidade de Paulo Freire: ter entendido a educação como um ato político, um ato político libertador.

Por isso que ele é perseguido por esse regime, porque Paulo Freire ensina a pensar e, ensinando a pensar, ele aprende as causas que produzem a sua pobreza. Um pobre que não entende os causadores de sua pobreza nunca sairá de sua pobreza, mas quando ele aprende, conhece os processos que produzem a sua situação de marginalidade e pobreza, se une a outros e começa a crescer em consciência, aí começa o processo de libertação.

Então, a nossa alfabetização brasileira é política. São aqueles que querem que o povo não pense, por ser mais facilmente manejados; eles não temem um pobre, eles têm pavor de um pobre que pensa, que diz a sua palavra. Por isso, para Paulo Freire, a primeira coisa na educação é resgatar a palavra do oprimido, da cultura silenciada, da cultura do silêncio, que foi silenciada.

Quando ele resgata a palavra, junto vem a consciência, e aí Paulo Freire cunhou essa expressão, que ele tomou de Álvaro Oliveira Pinto - que nós esquecemos, um grande pensador brasileiro, que escreveu esse livro famoso, A consciência e a história. Foi Álvaro Oliveira Pinto que criou a palavra “conscientização”, assumida por Paulo Freire. Conscientização não é tomar consciência; conscientização é aquela ação que nos torna conscientes de nossa situação e nos faz comprometidos na modificação dessa libertação.

Daí os dois livros fundamentais dele são: o Pedagogia do Oprimido. Na cabeça de cada oprimido está um letreiro, hospedaria do opressor, porque o oprimido é oprimido porque internalizou o opressor.

O processo de Paulo Freire na Pedagogia do Oprimido não é uma pedagogia para o oprimido, é uma pedagogia de como o oprimido extrojeta para fora o opressor que o retém oprimido. Ao extrojetá-lo, ele se torna livre.

Daí o segundo livro importante, Educação como prática da liberdade, a liberdade não para imitar o opressor, os seus vícios, a sua dominação, mas para ser mais humano, mais próximo do outro, para poder amar melhor as pessoas.

Paulo Freire, eu tenho uma frase dele linda, que eu não quero deixar de dizer: “Não há educação sem amor. [...] Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo. Não respeita”. Por isso, educar é exercer o amor para toda uma coletividade. Só com amor a gente consegue educar verdadeiramente.

Então, a grande utopia de Paulo Freire era criar o “inédito viável”. Isso é importante agora no pós-pandemia, porque, no mundo inteiro, estamos discutindo que mundo vai nos restar, porque não podemos voltar ao antes, que era demasiadamente cruel e sem piedade, criando duas injustiças horrendas: a injustiça ecológica, devastando os ecossistemas, e a injustiça social, imprimindo grande parte da humanidade.

Que mundo nós queremos? Não podemos voltar à antiga normalidade, o destino comum nos conclama um novo começo. Nesse novo começo, Paulo Freire tem uma importância fundamental, porque ele parte de baixo, dos últimos, dos invisíveis. Como o Papa tem falado três vezes aos movimentos sociais, “Não esperem nada de cima, porque sempre vem o mesmo, ou o pior do mesmo”.

Criem vocês mesmos a nova democracia, a nova forma de participação. Criem a agricultura orgânica. Criem a nova democracia, onde todos vocês são protagonistas. Sejam os poetas da nova civilização. Isso é importante neste atual momento, em que discutimos que mundo nós queremos criar e habitar nesta casa comum, que é a única que temos. Habitar todos juntos - a natureza incluída, que são os nossos outros irmãos e irmãs. Paulo Freire é importante nessa visão nova do mundo, criar esse inédito viável.

Nós não sabemos qual é a configuração do novo mundo. É um inédito, mas ele tem que ser viável, ele tem que estar dentro das possibilidades da nossa consciência, da nossa capacidade de atuar no mundo. Ele mesmo se entendia. Uma vez eu perguntei: “Paulo Freire, você se define como?”, e ele me disse: “Olha, Boff, eu sou um agitador cultural. Agito as pessoas para despertar”.

Aqui, para terminar e não me alongar, conto algo muito pessoal, porque nós trabalhamos juntos. Durante quatro anos, sempre na semana de Pentecostes, um grupo de eminentes sociólogos, teólogos, filósofos, educadores se encontrava em Nimega, na Holanda, para montar uma revista, “Concilium”, que sai em sete línguas. Um grupinho de 25 notáveis; eu, por acaso, estava lá, como representante a América Latina.

Esse grupo tinha um conselho de cientistas, e Paulo Freire pertencia a esse conselho, porque ele estava em Genebra, responsável pela educação especialmente da África. Ele participava, a gente sentava junto, ele fazia os comentários humoristas. Sempre intervinha e, quando intervinha, era escutado com a maior atenção

Ele dizia: “Senhores, vocês são todos grandes acadêmicos, grandes professores; usam a linguagem técnica, científica. Nunca esqueçam de traduzir a vossa linguagem na compreensão do mundo, das pessoas, porque se vossas teorias ficarem entre vocês e não chegarem nas bases, elas não serão transformadoras.

Elas se transformam quando chegam lá naqueles que lutam e sofrem e buscam caminhos de orientação que vocês podem oferecer, instrumentos para eles mudarem a realidade”.

Aí, ele me pedia uma coisa curiosa: “Boff, sempre que você venha, traga-me, por favor, uma garrafa de suco de pitanga”. Uma garrafa de suco de pitanga. No que ele me via, nem me cumprimentava, gritava de longe: “Trouxe a pitanga?”.

Ele abraçava a garrafa de pitanga e chorava. Chorava, porque era um símbolo da sua pátria, do seu Pernambuco, a dor do seu exílio. Então, nós ficamos amigos. Depois, no Brasil, nos encontramos outras vezes, demos palestras juntos.

Então, é um homem, eu diria, usando uma expressão israelense (Inaudível.): é um justo entre as nações. Um justo entre as nações, alguém que honra não só o Brasil, honra a humanidade, honra a inteligência. Ele nos ensinou a aprender, e aprender juntos, com os outros, de tal forma que não há aprender docente e discente, estudante e aluno: somos todos aprendentes na arena da vida e vamos criando juntos a possibilidade de nos humanizarmos.

O grande sonho de Paulo Freire, que eu ouvi da boca dele, era criar uma sociedade de amorosidade. O amor tinha um grande lugar na sua pedagogia, mas ele preferia “amorosidade”, porque implica essa subjetividade, um sentimento profundo.

O grande sonho dele era criar uma sociedade de amorosidade, e ele dizia: “Boff, eu gostaria de uma sociedade que não fosse tão malvada como a nossa, onde não fosse tão difícil o amor como está sendo agora”.

Essa sociedade com a qual sonhou Paulo Freire, nós precisamos ajudar a construí-la no pós-pandemia, uma sociedade dentro de uma casa única, a Terra, não temos outra, associar a natureza incluída, tendo como orientação o bem-viver dos andinos.

Viver bem em harmonia uns com os outros, com a natureza, com a família e com todos os seres nessa bem-querência, nessa amorosidade que tanto entusiasmava Paulo Freire.

Então, ele nos deixa um desafio para ajudar a criar uma configuração nova da casa comum. Ele bem dizia: a educação não muda o mundo, mas muda as pessoas que vão mudar o mundo.

Nós queremos ser essas pessoas, mesmo que sejamos sementes que vão ajudar a configurar o mundo onde vale a pena viver, onde podemos celebrar alegria, a graça, o verdadeiro milagre de estarmos vivos nesse pequeno e belo planeta juntos, discípulos da vida, ajudando-nos uns aos outros como irmãos e irmãs em uma profunda amizade e amorosidade.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

 A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bem, esteve aqui conosco Leonardo Boff. Não preciso nem dizer que ele é conhecidíssimo entre nós. Ele é professor universitário - deveria ter feito a apresentação inicial -, teólogo, escritor e filósofo.

Participou virtualmente por conta aí das regras de isolamento, e isso que ele fala é verdade, nós vamos ter que lidar com o inédito, e o inédito é esse momento pelo qual nós passamos.

Eu passo a palavra agora para o Romão e ao mesmo tempo eu queria chamar uma frase do Paulo Freire que, para mim, ela deixa com clareza as coisas. Tem um monte, se você pegar as frases e os dizeres dele... Mas esta aqui é que a gente sempre acha que alguém ensina sem nenhuma intencionalidade. Não, sempre tem uma intencionalidade através do que a gente ensina.

E a frase diz o seguinte: “A educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria de conhecimento posta em prática”. Então, não tem como dizer que, por detrás de um ato pedagógico, não tenha uma teoria, uma concepção, tem uma concepção. Douglas, nós estamos providenciando uma cadeira, porque a gente está fazendo um “remelation”, tá? E aí depois você vem para cá.

O Douglas é o presidente da Central Única dos Trabalhadores, a CUT estadual. Está aqui entre nós, professor também, um orgulho para nós ter um professor sendo presidente da Central Única dos Trabalhadores. E com muito orgulho, né? Agora eu passo para o... (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - WILSON LEVY - Dando sequência à nossa sessão solene, eu passo a palavra ao professor José Eustáquio Romão, diretor fundador do Instituto Paulo Freire, pelo tempo de dez minutos. Professor Romão está com a palavra.

 

O SR. JOSÉ EUSTÁQUIO ROMÃO - Me ouvem bem? Muito boa noite a todas e a todos. Falar depois dos palhaços, depois do Leonardo Boff, praticamente não sobrou quase nada, os palhaços reconstituíram aqui a biografia do Paulo Freire toda, né? Desde o nascimento lá em Recife, as dificuldades depois na grande depressão, quando a família vai para o Jaboatão dos Guararapes, passou fome.

Depois, só estuda direito com mais idade, foi o único curso superior para o qual o Paulo Freire foi. Neste País credencialista como o nosso, estão querendo dizer que o Paulo Freire fez doutorado, fez mestrado, fez pedagogia, fez nada. Ele estudou direito e não exerceu a profissão.

Desistiu da profissão na primeira causa, porque teria que depenar um pobre de um recém-formado dentista que não conseguia pagar os equipamentos que tinha comprado à prestação, e o Paulo Freire, que se formou em direito, foi contratado pelo credor para tomar os equipamentos do dentista ou cobrar a dívida de qualquer jeito.

E o Paulo Freire foi conversar com o dentista e disse para ele: “Olha, por que você não pagou? Está atrasado com a prestação, está inadimplente”. E o jovem dentista disse para ele: “Olha, doutor, eu não tenho uma clientela ainda firme, e, portanto, eu estou mesmo atrasado com as prestações do equipamento que comprei para montar o meu consultório”.

Aí o Paulo Freire disse a ele, ao dentista: “Para realizar minha profissão, eu vou ter que acabar com a sua. E como eu tenho um pouquinho mais de experiência e sou mais velho que você, eu vou acabar com a minha para você realizar a sua”.

E me contou pessoalmente Paulo Freire que foi até um morro - não sei se em Olinda mesmo, em Recife - e jogou o Código Civil lá de cima, metaforicamente. Não porque desprezava a profissão de advogado, não porque desprezava a formação que tivera.

Inclusive, uma formação de advogado naquela época era uma formação humanista, que lhe permitia, inclusive, dar aulas de português no Colégio Oswaldo Cruz, onde tinha estudado com uma bolsa de estudos, porque não tinha como pagar. Era um dos colégios mais importantes do Recife, e ele lá estudou.

Falar sobre essa vida do Paulo Freire, dos detalhes, e falar sobre a obra é mais complicado ainda falar depois do meu amigo Leonardo Boff, que viveu com o Paulo Freire, conviveu com ele no exterior, no exílio, esteve com ele no Conselho Mundial de Igrejas durante muito tempo... Aliás, pelo que o Paulo Freire nos contava, ele e Boff eram os únicos católicos no Conselho Mundial de Igrejas.

Pois bem, esse brasileiro nordestino, ele mesmo é a prova da teoria dele. E é isso que eu queria destacar, Bebel, já agradecendo por esse convite ao Dr. Levi, à Bebel, de mais uma vez estar aqui nesta Casa, que eu considero a casa mais freiriana que nós temos no País. Por quê? Porque é a casa da pluralidade, é a cada das diferentes posições ideológicas e é a Casa do Povo.

Portanto, as assembleias, as câmaras dos vereadores, o parlamento brasileiro, por mais que critiquemos, por mais que rechacemos pessoas que estão lá, em primeiro lugar, foram eleitos e representam a gama e a variedade que é este País.

Culturas múltiplas, diferentes visões de mundo, diferentes ideologias. Eu vou dizer algumas coisas aqui hoje, Bebel, rapidamente, né, porque eu só tenho dez minutos, mas que podem ninguém - que talvez esteja aqui - estar sabendo.

Eu não vou falar dos livros, porque a maioria conhece, os livros estão aí publicados, estão sendo reeditados todos, já foram reeditados nessa nova edição 23 livros publicados por Paulo Freire, e a ideia é reeditar todos pela editora que o acolheu. (Palmas.) Mas eu vou narrar rapidamente alguns fatos - dois fatos ao menos eu gostaria de destacar -, porque, ao meu ver, ao meu juízo, a melhor maneira de homenagear uma pessoa como Paulo Freire é demonstrar cabalmente a atualidade de suas ideias, de suas posições. (Palmas.)

Nunca ao meu juízo o mundo precisou tanto quanto está precisando agora do legado de Paulo Freire. Nós terminamos hoje, por volta das três horas da tarde, que era bem mais tarde lá em Paris, o 12º Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire com freirianos de todas as partes do planeta.

Para vocês terem uma ideia, a reunião parecia uma Babel, porque só de idiomas em um determinado momento, do pessoal que conseguiu ir a Paris e do pessoal que estava participando por meio remoto, eu contei mais de 70 idiomas que estavam sendo falados na reunião.

Portanto, é uma coisa, assim, inimaginável que nesse País ainda tenha gente dizendo que o Paulo Freire era um energúmeno. Como é que um energúmeno pode influenciar a educação, influenciar a formação social de Timor Leste, na China, na Armênia, na França, na Alemanha, na Rússia? Eu estou citando aqui alguns dos países que sediam um Instituto Paulo Freire.

Nós terminamos essa reunião hoje, três dias de reunião, discutindo como usar a teoria e a militância de Paulo Freire para a solução dos problemas que nós estamos vivendo com essa onda neoconservadora, neofascista e neonazista que grassa pelo mundo e pelo Brasil. Não nos assusta o atual governo federal. O que nos assusta são pessoas que ainda vão para a rua gritar, clamar elogiando os seus algozes.

Como disse muito bem o Leonardo Boff, o que a população brasileira tem que ter consciência - e a teoria freiriana é para isso, é que não há educação sem conscientização - é descobrir quem é que nos escraviza. Não há educação, não há conhecimento sem essa conscientização. A própria alfabetização só é alfabetização quando é conscientização.

O que significa, aliás, dizia o Paulo Freire, brincando com as palavras, que ele era um linguista, reconhecido como um dos maiores linguistas do mundo, reconhecido assim pelos próprios linguistas.

Aliás, o Paulo Freire surpreende a gente toda hora, porque os teólogos dizem que ele era um grande teólogo. Nós acabamos de ouvir um dos maiores teólogos do mundo, que é o Leonardo Boff, reconhecendo Paulo Freire como um grande teólogo, que participava como cientista da edição da revista Concilium, e que se reunia lá na Europa.

Paulo Freire nos surpreende, porque certa vez, em Paris, o professor Moacir Gadotti e eu fomos convidados por um físico quântico que queria nos oferecer um jantar para que nós explicássemos para ele o teorema da indecidibilidade na física da obra de Paulo Freire. Eu fiquei olhando para o Gadotti e falei: “Você já leu isso na obra de Paulo Freire?”.

E o Gadotti, surpreendido como eu, o que esse homem está querendo conosco? Esse físico, diretor do maior centro de pesquisa em física quântica da Europa, quer jantar conosco para nos perguntar o que nós sabemos sobre a teoria - aliás, teoria não, teorema - da indecidibilidade, um dos teoremas mais complexos da física, da lógica quântica, na obra de Paulo Freire?

Pois bem, os físicos o consideram um grande físico. Eu mesmo ouvi do Paulo Freire aqui na Vila Alpina, em São Paulo, certa vez dizer para o pessoal, na hora em que foi se apresentar, dizendo: “Olha, eu queria dizer para vocês que, antes de tudo, eu sou um teólogo”.

Eu fiquei olhando para ele e falei: onde ele estudou teologia, meu Deus? E aí ele completou a frase: “Como eu não sou teólogo formado em universidade, eu posso cometer maravilhosas heresias”.

Mas depois nós descobrimos no Conselho Mundial de Igrejas 300 caixas de documentos, que estamos lendo agora, interpretando agora, totalmente inéditas, no período de dez anos em que ele passou lá escrevendo também sobre teologia, a ponto de os papas da época pedirem a teólogos que atravessassem os Alpes e fossem a Genebra conversar com Paulo Freire, ouvir Paulo Freire. Portanto, é um homem que nos surpreende a cada dia que passa.

Um homem que nunca fez pedagogia. Não fez licenciatura, Bebel, não fez o curso que fez, e se transforma em uma referência pedagógica para o mundo inteiro. “Pedagogia do Oprimido” é hoje um dos livros mais traduzidos em todo o planeta. “Pedagogia do Oprimido” é hoje o livro mais pedido nas universidades do mundo, e não importa o regime, não importa a ideologia.

É o livro mais demandado nas universidades norte-americanas. É o livro mais pedido nos cursos de humanidades e ciências sociais na China. Portanto, é uma estupidez achar, pensar, dizer que Paulo Freire tem uma opção ideológica - e tem, tem lado -, mas que ele é um perigo e que ele só pode ser usado nos países comunistas.

Ele é usado em todos os países do mundo hoje. “Pedagogia do Oprimido” está traduzida em quase todos os idiomas. E todo mês nós recebemos no Instituto Paulo Freire, eu mesmo recebo pessoalmente, porque cuido das relações internacionais, livros que eu custo a descobrir em que língua é que está o livro do Paulo Freire, às vezes só reconhecendo o nome Paulo Freire grafado ali.

Eu não quero falar do intelectual Paulo Freire, reconhecido em todas as universidades. Eu não vou falar do militante Paulo Freire, que vocês conhecem muito bem, que depois voltou ao Brasil em 1980 e se transformou em uma liderança na fundação do partido e etc. Mas eu quero falar do ser humano Paulo Freire, encerrando esta minha intervenção e me colocando à disposição para (Inaudível.).

Quando Paulo Freire faleceu, o professor Moacir Gadotti e eu fomos cuidar do sepultamento. Fomos ao cemitério aqui no Morumbi, porque o Paulo Freire tinha nos pedido, antes de falecer, que ele queria ser sepultado ao lado de Elza, a esposa, mãe dos cinco filhos e que já tinha falecido anos antes. Quando Elza faleceu, me lembro bem, e fomos sepulta-la nesse cemitério do Morumbi, ao sair do cemitério, Paulo Freire queria morrer.

Entrou em depressão, não comia, não tomava banho. Ia morrer. Passado algum tempo, a única maneira de salvar o Paulo Freire - nós, que éramos os amigos mais próximos nessa época, porque eu conheci o Paulo Freire pessoalmente depois que ele veio do exílio, não o conheci antes.

E o Paulo, em depressão, querendo morrer, os amigos que o conheciam mais lá de Genebra, como era o caso do Gadotti, disse: “Olha, tem que arrumar uma namorada para ele, esse cara vai morrer”.

E ele ainda tem muito a dar, a escrever. Não tinha escrito ainda “Pedagogia da Esperança”. Não tinha escrito “Pedagogia da Autonomia” ainda. Pois bem, Gadotti foi quem trabalhou mais e funcionou como um verdadeiro cupido. E o Paulo Freire acabou se apaixonando por uma de suas orientandas, mais ou menos da geração dele, também do Recife, também viúva, e acabaram se casando.

Pois bem, casou-se com Ana Maria de Araújo, pernambucana, por coincidência filha do diretor, do dono do Colégio Oswaldo Cruz, onde a mãe do Paulo Freire tinha conseguido uma bolsa de estudos para ele fazer o ensino básico, porque ele não teria condições de pagar na época aquela escola. Casaram-se.

Quando fomos ao cemitério - e ele tinha pedido que queria ser sepultado junto com a Elza -, nós imaginamos, Bebel, isso vai dar um problema, porque, casado uma segunda vez, agora ele quer ser sepultado junto aos restos mortais da primeira esposa, isso vai dar confusão. Fomos tomar providência com relação ao sepultamento.

O velório foi ali no Tuca, na Pontifícia Universidade Católica, no teatro da Pontifícia Universidade Católica. Tomamos as providências - já estou encerrando -, à qual não foi a nossa surpresa que, chegando lá no cemitério e pedimos aos coveiros que limpassem o túmulo - vocês sabem que, no cemitério do Morumbi, não tem monumento, é para baixo -, quando tiraram a terra, na parte de concreto onde estavam os restos mortais de Elza, estava pregado uma placa.

Eu limpei a placa, fotografei, tinha um poema do Paulo Freire para a Elza. Estava escrito: “Elza, a tua ausência é a razão da minha inexistência. Estou vagando no mundo como nuvens em um dia de muita tempestade. Dor profunda. Paulo Freire”.

Ou seja, esse homem, depois que nós sepultamos Elza, voltou algum tempo depois ao cemitério, deve ter pagado caro, um problema de burocracia danado em cemitério, e conseguiu tirar a terra, fez um poema, este recado, e pregou no túmulo de Elza.

Passado um tempo, depois de alguma dificuldade, conseguimos casá-lo de novo. O que ele fez? Voltou ao cemitério, porque quando limpamos o outro lado, Bebel, tinha uma outra placa pregada no túmulo de Elza. E o que dizia a segunda placa? “Elza, recuperei a razão da existência, mas jamais, jamais trairei a existência que tive contigo. Paulo Freire”. (Palmas.)

Concluindo, isso que o Boff acabou de falar, vamos falar que não há possibilidade de civilização, não há possibilidade de criar uma sociedade, não há possibilidade de um futuro, não há possibilidade do inédito viável sem o amor.

E ele demonstrou isso na prática. Ao ler as duas placas, eu pensei comigo mesmo: vai amar assim lá no inferno. Portanto, esse é o homem Paulo Freire, cuja obra a gente deve ler.

Pouco antes de morrer, o Paulo disse que queria reler o manuscrito da “Pedagogia do Oprimido”, e eu pensei que ele estivesse delirando, morrendo. Não estava.

Ninguém acreditou, porque quem datilografou o livro para entregar para os americanos, o livro foi editado pela primeira vez no Uruguai, depois nos Estados Unidos. O Brasil, como ele estava proibido aqui, foi o oitavo país do mundo a publicar a “Pedagogia do Oprimido”.

Pois bem, nós pensamos que ele estivesse delirando; não estava. Durante mais de uma década, fomos atrás do manuscrito, e achamos o manuscrito no Chile, onde ele o escreveu na primavera, como está escrito aqui com a letrinha dele, de 1968. Ele pôs o ponto final e fez a dedicatória ao homem que o tinha recebido no Chile quando ele foi expulso do Brasil, quando ele fugiu do Brasil. Pois bem, ele pegou o livro, datilografado, e passou a limpo à mão para poder presentear o homem que o tinha recebido no Chile, Jacques Chonchol.

Depois de muita conversa, não tem mais tempo, depois de mineiro como sou ficar tocaiando o homem que recebeu estes manuscritos no Chile, conseguimos convencê-lo a doar o manuscrito para o Brasil. O manuscrito irá para a Biblioteca Nacional, é um patrimônio da humanidade. (Palmas.)

Mas nós resolvemos editar o manuscrito do jeitinho que ele é, com a letrinha do Paulo Freire, legível, porque ele caprichou na cópia do livro que já estava datilografado para mandar para os editores.

Editamos, que é este livro aqui. Aqui está a “Pedagogia do Oprimido”, e o Paulo Freire, onde quer que esteja, deve estar repetindo a frase que ele me falou. Ele pegou a 11ª edição de “Pedagogia do Oprimido”, publicada no Brasil, e disse para nós: “Esta é a primeira edição decente de ‘Pedagogia do Oprimido’, porque mutilaram meu livro por todo o mundo.”

Eu vou dizer: Paulo, onde quer que você esteja, essa aqui é a edição autenticamente decente de “Pedagogia do Oprimido”. A gente espera que as editoras agora publiquem o livro a partir desta que é o original da “Pedagogia do Oprimido”.

Bebel, eu trouxe só três exemplares porque nós não podemos distribuir para pessoas, mas para instituições. Eu pediria que você destinasse os três volumes para instituições.

“Ah, e nós? Nós gostaríamos tanto de ter o manuscrito, ler direto para ver o que está motivado, o que não está.” Eu vou liberar para a Bebel o link, com a cópia exata digital liberada pela família e pelos herdeiros, para que você coloque em qualquer site. Pode baixar, copiar, ler, emprestar, doar, só não pode vender. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bom, essa pessoa maravilhosa, boa de prosa, porque vou falar agora do companheiro de Conselho Nacional de Educação, Zé Eustáquio Romão.

Eu tive a honra de estar com ele numa das cadeiras do Conselho Nacional de Educação, nada mais, nada menos que secretário-geral do Conselho Mundial de Institutos Paulo Freire, professor visitante nos Estados Unidos, Portugal, Colômbia e Uruguai, como já disse, ex-membro, junto comigo, do Conselho Nacional de Educação, professor titular na Federal de Juiz de Fora, professor de mestrado e doutorado em Educação da Uninove.

Vocês vão estar se perguntado: mas essa mesa está invertida, a pessoa fala, depois ele está lendo o currículo, mas é que no afã do tempo nós estamos fazendo isso, porque nós estamos trabalhando hibridamente.

Nós vamos trazer agora para falar conosco alguém muito importante na educação brasileira, assim, deu uma contribuição sobremaneira em termos de incluir jovens nas universidades. Mais que isso, valorizou a educação pública básica brasileira.

Quando nós estávamos no Conselho Nacional de Educação, ele instituiu a Emenda Constitucional 59, que tem outro número, mas popularmente é a Emenda Constitucional 59, restituindo a vinculação, porque tinha desvinculação de recursos da União que concerne à Educação, editada por Fernando Henrique Cardoso, e o Fernando Haddad então restituiu, e na mesma Emenda Constitucional colocou também, ampliou a escolaridade, e mais que isso, também colocou a necessidade da construção de um sistema nacional articulado de educação.

Bom, seja bem-vindo conosco, Fernando Haddad, por favor receba nossos aplausos. (Palmas.). É jovem, não porque nós estamos velhos, hein, Romão? Mas eu vou deixar também uma tarefa, antes de passar a palavra para o Fernando Haddad, para que vocês virem o meu cupido para eu também ter essa felicidade que o Paulo Freire teve.

Muito obrigada. (Palmas.)

Com a palavra, então, Fernando Haddad.

 

O SR. FERNANDO HADDAD - Queridíssima deputada Bebel, líder do PT na Assembleia Legislativa. Eu gostaria, em primeiro lugar, de agradecer enormemente a honra de proferir algumas palavras dessa solenidade de homenagem ao maior educador brasileiro, professor Paulo Freire.

Quero lhe dizer que nós tivemos a felicidade de gerir o Ministério da Educação durante um período relativamente longo. Foram sete anos à frente do Ministério da Educação.

E o que eu posso assegurar às pessoas que estão nos ouvindo é que a equipe tinha duas referências teóricas presentes permanentemente, o professor Anísio Teixeira e o professor Paulo Freire. Eram as duas figuras que nos (Inaudível.) no norte. Nós tínhamos um norte no Ministério da Educação, que era honrar o nome dos maiores educadores do País.

E o Paulo, eu tive a felicidade de conhecer também na Academia. Eu fiz, como as pessoas sabem, eu fiz doutorado em Filosofia, e a minha área de concentração era a “Teoria do Agir Comunicativo”, do Habermas.

E, para minha surpresa, a “Teoria do Agir Comunicativo”, com todo o destaque que teve ao longo de décadas, foi publicada em 1981, eu diria a você, sem medo de errar, que “Pedagogia do Oprimido”, que é de 1968, de alguma maneira foi além das obras filosóficas mais importantes que foram publicadas depois que o Paulo Freire escreveu a sua obra maior.

Porque o Paulo compreendeu muito cedo que ele tinha que combinar dois conceitos que não estavam bem formulados na literatura. Ele combinou a razão dialógica, e ele é dos primeiros a falar em dialogia, em razão dialógica e dialética, mas ele combinou isso com a simetria.

Ele combinou isso justamente com relações de opressão, e vindo à educação uma chance de contestar o sistema, assim como viu na educação uma chance de reforçar o sistema. E fez a clássica distinção entre educação bancária e a educação que todos queremos, que é a voltada para a emancipação do ser humano.

E ele via no mais humilde dos seres humanos, e sobretudo nele, as condições para que o ato de educar fosse um ato libertário. E para isso, os educadores é que precisavam ser educados.

Então, nós tínhamos que ter uma espécie de norte, uma diretiva que nos permitisse pensar essa relação tão delicada entre o educador e educando, que é uma relação que pode ser vista às avessas, porque no ato de educar você também está se educando a depender da postura que você tem frente justamente dessa pessoa que vê na educação uma chance de crescimento, de formação de juízo crítico e libertário frente ao mundo com tantas injustiças.

O Paulo Freire, com muita antecedência, nos anos 60, já estava deslumbrando um horizonte para a área da Educação inteiramente renovado, a partir de formulações não apenas originais, mas que iam ao centro do problema e faziam com que os educadores pudessem perceber a riqueza daquele processo e a potencialidade que ele tinha, se fosse bem conduzido.

Então, é um livro atual até hoje. Nós estamos falando de um livro que tem mais de 50 anos, meio século. É muito difícil um livro resistir a meio século de existência. São só grandes clássicos que sobrevivem tanto tempo. Pensem vocês os livros que nós estamos lendo hoje que foram escritos há muito tempo. São grandes nomes do pensamento universal, e são poucos nomes no mundo.

Os países ostentam poucos nomes que sobrevivem a tanto tempo. Então, é muito triste, para dizer o mínimo, que o governo brasileiro não compreenda a dimensão desse espírito grandioso que foi o Paulo Freire.

E eu receio que o Paulo Freire, hoje, será muito mais valorizado no mundo todo do que no seu País, em virtude do descaso que vem sendo cometido com seu legado, e desse afã de um governo obscurantista em querer macular a sua figura extraordinária, que faz sombra a todos os que ofendem no presente momento.

Eu chamo a atenção para uma decisão judicial que foi tomada, nessa semana, proibindo o presidente da República de ofender o nome e a honra do Paulo Freire. Imaginem um país (Palmas.) que precisa recorrer ao Poder Judiciário para fazer o seu primeiro mandatário respeitar aquele que projetou o nome do Brasil honradamente para todo o mundo.

Então, nós temos na figura do Paulo a figura humana que ele era, o legado como uma pessoa que acolhia todo mundo e que fazia do seu dia a dia um exercício daquilo que ele pensava.

Portanto, não era só o livro, era sua atitude, o seu gesto de dia a dia. Eu não tive a felicidade de conviver com Paulo Freire, mas tive a felicidade de conviver com muitas pessoas que conviveram com ele.

E quero dizer que essas pessoas que tiveram o privilégio de gozar da sua amizade, dos seus ensinamentos, foram grandes interlocutores do Ministério da Educação enquanto eu fui ministro.

Então, eu quero dizer a vocês que se decisões corretas foram tomadas no Ministério da Educação na primeira década deste século, eu quero dizer para vocês que, sem sobra de dúvida, as decisões corretas foram inspiradas por esse grande brasileiro. As equivocadas, eu assumo todas em meu próprio nome, mas eu tenho certeza que as corretas foram inspiradas por esse que nos orgulha tanto como patrono da Educação brasileira.

Um boa noite a todos, muito obrigado, Bebel, pela honra que você me deu de poder prestigiar o maior nome da Pedagogia brasileira e um dos maiores nomes da Educação mundial. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu agradeço ao senhor, Fernando Haddad, e ao mesmo tempo que agradeço, agradeço a honra também que o senhor me deu de por duas vezes consecutivas fazer parte do Conselho Nacional de Educação, que foi na gestão Fernando Haddad.

Eu fui, talvez, a primeira professora do chão da escola pública que fez parte do Conselho Nacional da Educação. Nós tivemos professores que foram professores, mas que se tornaram professores universitários. Eu até tenho condições disso, mas fiz opção, optei pelo caminho sindical e continuei no chão da escola pública. Então, isso para mim foi, e sempre será uma grande honra no meu currículo e na minha vida.

Muito obrigada. (Palmas.)

Eu aproveito para passar, agora, para o João Palma, que está nos aguardando. Mas antes, porém, eu vou chamar o Douglas para fazer uma breve saudação de três minutos, Douglas, porque a gente está correndo e a gente tem que encaixar.

Eu, agora, nós estamos aprendendo a lidar com híbrido, presente e quem está a distância, e que está dando certo, o que significa que a gente não vai deixar de ouvir as pessoas. Nós vamos poder ouvir.

Então, nós temos entre nós também, através da Associação dos Professores de Osasco, a FETE, Filomena Teresa Silva Barros. Nós temos a Tayná Wine. Cadê a estudante que está aqui entre nós? Ela estava até aqui entre nós também, representante da UEE, União Estadual dos Estudantes, que também deverá fazer uma fala; do Conselho Municipal de Educação, a Fátima Antônio.

Muito obrigada pela presença, Fátima. Nós temos também representação da CTB, que é a Central dos Trabalhadores do Brasil. O Paulo Teixeira Saboia e da Aspef, Luís Carlos da Silva, e Liga do Professorado Católica, Darlecio Norato Jr. Aliás Victor.

E tem uma lista de entidades, que depois a gente vai fazer um link para que todos também tenham aí três minutos para falar, e a gente dá a voz, esse momento que é o momento movimento, na verdade, porque a gente quer que as várias vozes ecoem nesse dia e não fiquem só escutando, senão eu vou contrariar o Paulo Freire lá onde ele estiver. Ele não quer educação (Inaudível.), ele quer que todos se emancipem. Então, nem que sejam dois minutos de fala, todos terão a fala, as entidades.

Então, passo imediatamente ao companheiro Douglas. Por favor, Douglas, aí observando o cronômetro, e para depois passar para o querido Palma, que está aguardando. Depois tem o Mercadante também nos aguardando. Então, tem uma fila de gente tão importante também quanto vocês, mas que é importante ouvi-los. Por favor.

 

O SR. DOUGLAS MARTINS IZZO - Boa noite aos companheiros e companheiras, várias pessoas aqui que há muito tempo não vejo. Nós estamos há mais de um ano trabalhando em home office.

Saudar o nosso companheiro Prof. Romão, a Francisca, companheira da direção da Apeoesp, da CTB, do PCdoB. Cumprimentar aqui a Simone. Eu nem conheci a Simone. Eu falei: qual o seu nome? Ela falou: “Simone”. Simone, você com toda essa máscara eu não te conheci.

Cumprimentar a Lígia Toledo, e um cumprimento muito especial aí a nossa companheira Bebel, deputada estadual, líder da bancada do Partido dos Trabalhadores. E parabenizar, Bebel, por esse ato solene, 100 anos de Paulo Freire.

Eu acho que muitos que me antecederam falaram sobre a importância de Paulo Freire. Eu acho que a gente tem que colocar a importância do Paulo Freire justamente no pano de fundo que nós temos hoje onde cresce o obscurantismo, onde cresce uma política justamente que vai no contrário de tudo aquilo que Paulo Freire colocou e apresentou.

Como disse o Prof. Romão, é a obra brasileira mais lida na língua inglesa e que infelizmente aqui no Brasil há uma liminar para que não haja, para que não ocorra um ataque por parte desse governo ao patrono da educação brasileira.

Então, eu acho que Paulo Freire é muito atual, e eu penso que trazer à luz desse momento em que nós vivemos a pedagogia do Paulo Freire é a gente discutir a libertação das pessoas através do conhecimento.

É a gente discutir com esse povo oprimido, com esse povo sofrido e a gente discutir a esperança, a esperança que nós possamos avançar e superar essa situação que nós vivemos de pandemia, superar uma situação que nós vivemos do sofrimento do povo brasileiro com a fome, com o desalento, com o desemprego.

Nós temos que, primeiro, ter um olhar crítico sobre essa situação e apontar para o povo brasileiro a esperança. A esperança está contida em textos e é o legado que Paulo Freire deixa para a gente.

Então, minha companheira Bebel, você, como sempre, trazendo assuntos e temas importantes e trazendo mais: um mandato popular que traz o povo, todas essas várias visões, para dentro desta Casa Legislativa. Então, um abraço.

Viva Paulo Freire! (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada, Douglas. Uma satisfação muito grande. A Central Única dos Trabalhadores, assim como a companheira Natalina está aqui também, ela é da Central Única dos Trabalhadores nacional. Então, também a gente está devidamente muito bem representado.

Vou agora, imediatamente, colocar na tela o nosso companheiro Palma. O Palma estava com uma gripe e eu falei: “Não, Palma, não venha, porque aqui está gelado e a gente tem preocupação”. Peço para o Palma então já fazer uso da palavra, Palminha, e a gente vai fazendo esse...

Então, vou chamar agora a Tayná para sentar aqui do nosso ladinho. Tayná. Porque, enfim, educação, não sei... Os educandos... É muito estranho. Acho que Paulo Freire não me perdoaria se eu não pusesse os estudantes na Mesa.

Então, por favor, querida. Pronto, o Douglas já fez a gentileza de ceder. Assim como também os profissionais da Educação... Sem os funcionários de escola, não tem educação. Então, tudo está intrinsecamente ligado.

Vamos lá. Palma, por favor, querido. Dez minutos, ok?

 

O SR. JOÃO PALMA - Vou falar menos até.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada.

 

O SR. JOÃO PALMA - Boa noite a todos e todas. Quero inicialmente agradecer a compreensão da Bebel, que me poupou de ir até aí, mas eu gostaria muito de estar aí. Contato físico. Afinal de contas, estou isolado há 18 meses, não é? Só conversando com os amigos, companheiros e companheiras, de forma remota.

Quero também aproveitar para parabenizar a Bebel pela iniciativa dessa homenagem mais do que justa e muito apropriada, aliás, em relação ao momento que estamos vivendo.

Não é só a questão do centenário de nascimento, mas o momento de reação que estamos vivendo aqui no Brasil hoje, de retrocesso nos avanços que tivemos no campo da Educação. Portanto, essa homenagem veio bem a calhar.

Bom, se já era difícil, como disse o Romão, falar depois dos palhaços e falar depois do Leonard Boff, falar depois do Romão, falar depois do Fernando Haddad... Ficou mais difícil para mim.

Não vou, obviamente, discorrer sobre a obra do Paulo Freire, que conheço muito bem. Aliás, com ela trabalho na universidade, na Unesp, aqui em São Paulo, lá no Instituto de Artes.

Tenho um grupo de pesquisa, além das aulas que dou na pós e, neste ano, trabalhamos com duas obras do Paulo Freire: “Educação como Prática de Liberdade”, que considero uma obra muito importante. Não foi a primeira que ele publicou, mas, na minha ótica, pegando a década de 60 do século XX, é um documento muito importante não só do ponto de vista pedagógico, educacional, mas do ponto de vista político.

Há um capítulo desta obra em que ele fala da transição que estávamos vivendo no país naquele momento. É um texto sociológico, na realidade.

Todo mundo sabe que o Paulo Freire, naquele momento, foi influenciado não só pelo pensamento cristão, principalmente a partir de alguns filósofos do humanismo cristão francês, mas também pelo Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o Iseb, onde ele conviveu com outro grande filósofo brasileiro que escreveu aquele livro “Ciência e Existência”, o Álvaro Vieira Pinto.

Aliás, o Iseb, que foi fechado no primeiro ato da ditadura de 64, foi uma escola de pensamento brasileiro muito importante e nós até hoje temos a obrigação de procurar nos aproximarmos daquele pensamento.

A segunda obra é “A Pedagogia do Oprimido”. Sobre “A Pedagogia do Oprimido” eu não preciso nem me alongar, dada a importância que tem essa obra não só para os brasileiros, mas mundialmente, como já foi aqui relatado pelo Romão.

Bom, eu vou agora aproveitar este momento para falar alguma coisa sobre a experiência pessoal que tive com o Paulo Freire. Em 1985 ou 86, eu estava coordenando aqui no estado de São Paulo uma reforma do ensino fundamental.

Tínhamos acabado de sair da ditadura e tivemos a primeira eleição de governadores. Foi eleito, aqui em São Paulo, o Franco Montoro, e fui convidado para coordenar a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, a Cenp. Lá começamos, com uma grande equipe que tínhamos lá, a pensar uma reforma do currículo do ensino fundamental.

No mesmo período, comecei também a fazer o meu mestrado. Meu mestrado é um mestrado tardio; fiquei treze anos fora da universidade por motivação política. Quando voltei, já em 1986, iniciei o meu mestrado. Ao mesmo tempo, estava coordenando essa reforma que mencionei.

A minha orientadora, a professora Ana Maria Saul, uma freireana que conhece melhor do que eu a obra de Paulo Freire, me sugeriu se eu não gostaria de conversar com o Paulo Freire sobre essa reforma em que estávamos, naquele momento, trabalhando. Eu disse que sim, sem nenhum problema, e fui até a PUC, onde ele se encontrava.

Lá, durante duas horas, conversamos sobre essa reforma. Ele mais escutou do que falou. E estava correto. Eu tinha que apresentar a ele quais eram os pilares dessa reforma que, aliás, estava sendo discutida com os professores. Nessa época, mais de 20 mil professores participaram dessa discussão.

No final, ele me disse uma coisa que me tocou muito. Ele falou: “Olha, professor Palma, tudo bem, mas eu gostaria de saber o seguinte: no que essa reforma vai beneficiar as crianças populares, as crianças das camadas populares, que estão alijadas, que sempre estiveram alijadas da educação formal?”.

Eu respondi: “Olha, professor, é uma reforma do ensino fundamental. As crianças, hoje, em São Paulo, já estão na escola, frequentando o ensino fundamental, ou seja, da primeira à quarta série ou já concluindo o ciclo fundamental de oito anos”. E ele me disse: “Olha, então fico satisfeito, desejo boa sorte e que realmente vocês consigam dar uma outra cara para essa Educação do estado de São Paulo”.

O segundo momento foi quando fui para o doutorado na mesma PUC, em seguida. O Paulo Freire mantinha uma disciplina que ele dava em conjunto com a professora Ana Maria Saul e a professora Yvonne Khoury.

Era uma coisa muito interessante, porque, na realidade, não tinha nada daquela formalidade de uma disciplina. Claro, contavam os créditos, tudo isso, mas era um colóquio, era um diálogo que ele mantinha conosco, com os vários estudantes que estavam fazendo doutorado.

O que mais nos encantava era a vivência que ele tinha. Ele rodou pelo mundo todo e contava os casos, contava as histórias, enfim, era uma aula de história da Educação, não brasileira, mas uma história da educação mundial.

E minha despedida dele foi logo em seguida, porque concluí meu doutorado em 96 e ele faleceu em 97. Eu estive no velório que se deu no Tuca, na PUC de São Paulo. Foi a despedida.

Agora, Paulo Freire sempre esteve presente nas minhas preocupações, quando estudo educação brasileira, ao lado desse outro grande educador que o Fernando Haddad justamente mencionou: Anísio Teixeira. Acho que são os dois grandes nomes na Educação brasileira. O Anísio pensando a escola como uma instância fundamental para a democracia e o Paulo Freire, além de ser fundamental para a democracia, uma democracia que incluísse toda a população brasileira. Dar voz.

Agora, encerrando, eu gostaria de dizer o seguinte: por que será que o Paulo Freire incomoda tanto essa extrema-direita que hoje está dirigindo o país? Incomoda tanto porque a pedagogia dele, como outros que me antecederam frisaram, é uma pedagogia que está voltada para emancipação do ser humano, para uma formação crítica, para que a pessoa tenha consciência de si, de sua realidade e saiba identificar os exploradores.

Eu encerraria com uma frase dele. Paulo Freire tem muitas frases, cada uma melhor que a outra, mas essa aqui, hoje, pensando, eu achei que era essa que eu deveria trazer.

Paulo Freire dizia o seguinte: “Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica.” Isso explica por que a reação que hoje se instalou em Brasília - é bem verdade, pelo voto popular, que temos que respeitar - teme tanto o Paulo Freire.

Por último, essa história de dizer que a Educação brasileira não vai bem por conta do Paulo Freire. Olha, o Paulo Freire, hoje, é mundial. Os países que estão nos primeiros lugares do Pisa estudam Paulo Freire. Finlândia, por exemplo.

Aqui no Brasil é o contrário. Estamos na situação em que estamos porque Paulo Freire não entrou na nossa educação pública. Essa é a grande realidade. (Palmas.) Se ele tivesse entrado, provavelmente estaríamos em outra situação.

Com isso, mais uma vez, eu agradeço a oportunidade. Me senti muito honrado, embora meio adoentado, podendo participar. Eu devo isso à Bebel. Ela me incluiu nessa comemoração mais do que digna do nosso grande pensador. Paulo Freire vai além de ser um educador. Foi um grande pensador do Brasil.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada, Palma, a quem gosto de chamar de Palminha.

 

O SR. JOÃO PALMA - Eu também gosto!

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - O Palma é professor da Unesp. Aposentou-se, mas, para mim, sempre professor. Coordenou, mas sempre está junto do Fórum Estadual de Educação. Aliás, foi fundado no momento em que ele estava na secretaria como secretário-adjunto.

Então, dá uma contribuição sobremaneira para a Educação paulista e brasileira no que diz respeito ao currículo, à discussão de propostas curriculares na década de 80, quando tudo tinha que mudar, inclusive o currículo na escola.

A gente começou essa jornada junto com os trabalhos do João Palma, que se debruçou no currículo paulista. Muito obrigada, Palma. Eu, imediatamente, vou pedir para a...

 

O SR. JOÃO PALMA - Bebel.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Oi, querido.

 

O SR. JOÃO PALMA - Só um minuto, eu me esqueci: eu estou também, neste ato, representando o Fórum Estadual de Educação por delegação do Leandro Oliveira, que é o coordenador do Fórum.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Então, muito obrigada, mais ainda. Ele ainda representa o Fórum Estadual de Educação, que tenho a honra de dizer que foi construído com 75 entidades, que elaborou o Plano Estadual de Educação, que está aqui nesta Casa. Eu pautei na Comissão de Educação, mas os interesses abjetos não permitem sua tramitação. Senão teríamos uma Educação pensante.

Primeiro, quero fazer o seguinte: eu fiz umas placas. Não é luxo, mas é uma lembrança deste encontro que homenageia os 100 anos de Paulo Freire. Eu vou chamar a Simone Magalhães que, antes de fazer a fala, entrega para o Douglas. Por favor, Simone. Você vai fazer... Passa a placa para ela, por favor. Cadê o Douglas? O Douglas já falou.

Não, ela vai entregar para o meu querido Romão. Uma companheira do Movimento Sem Terra vai entregar para o Romão a placa, por favor. Até porque Paulo Freire tem um olhar profundo para a Educação no campo. Simone entregando para Romão.

 

* * *

 

- É entregue a placa.

 

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A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada. Três minutos, por favor, Simone.

 

A SRA. SIMONE MAGALHÃES - Olá, boa noite a todas, todos e todes desta plenária. Boa noite. Quero cumprimentar a Professora Bebel, deputada, todas as companheiras da Mesa e companheiros e dizer que, para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, é muito importante esta sessão solene em homenagem a Paulo Freire, um educador do povo.

Para quem não conhece, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra há quase 40 anos luta neste país pela democratização do acesso à terra pela reforma agrária. Desde o seu início, na década de 80, o MST cultiva e pratica os princípios da pedagogia do Paulo Freire e isso está encarnado na prática do MST desde os seus primórdios no trabalho de base que é, antes de mais nada, ter que ouvir as demandas do povo, ter que dialogar com o povo, entender o que o povo precisa. E mais que isso: como o povo se auto organiza.

É assim que o MST trabalha, é assim que o MST coloca em prática em seu dia a dia aquele princípio que é elementar na pedagogia do Paulo Freire, que é a dialogicidade para uma democracia efetiva.

Esses princípios que estão na nossa origem nos fazem compreender que os desafios que temos, que tivemos na década de 80 e temos hoje, eles não estão desconectados da materialidade da vida. Isso porque, ao mesmo tempo em que o MST luta pela terra, luta pelo direito à vida, luta para que os povos do campo tenham seus direitos preservados e garantidos, a gente luta também por direito à Educação, por direito à Cultura, ou seja, pela vida plena.

É por isso que, para nós, do MST, defender a Educação significa não fragmentá-la da materialidade. Por isso a luta pela terra é uma luta pedagógica também, porque fazendo a luta pela terra é que a gente vai produzindo essa autonomia, colocando sujeitos em movimento.

E aí, Professora Bebel, a gente tem que dizer, infelizmente, que hoje - para chamar a atenção - o presidente do Brasil vetou o PL 823, um projeto de lei que previa um socorro às famílias agricultoras deste país, um projeto de  lei que daria condições para que as famílias da agricultura familiar tivessem condições de enfrentar as consequências nefastas da pandemia.

Por que estou trazendo isso, Professora Bebel? Porque, para nós, a Educação está intrinsecamente vinculada à vida e, nesse sentido, a gente realimenta o legado de Paulo Freire, que não distinguia conhecimento da produção e da materialidade da vida.

É assim que o MST faz questão de homenagear o nosso mestre Paulo Freire. E trazer, no seu dia a dia, todo esse legado que a gente defende de tal modo que, nesse ano de 2021, o MST, espalhado por todo o Brasil, fez as suas homenagens. E tem feito o resgate desse legado do nosso querido Paulo Freire.

Então, só para concluir, para eu não me estender mais, dizer que o Paulo Freire, em 1991, fez um encontro com o MST. Ele saiu daqui e foi para Hulha Negra, mesmo com toda a adversidade e a dificuldade de chegar até o assentamento, porque os educadores e as educadoras do MST queriam conhecer muito o Paulo Freire. Ele disse assim: “Se eu sou o autor da Pedagogia do Oprimido, como que eu não vou estar entre eles?”

E aí, com toda a dificuldade de transporte, estava chovendo muito, o Paulo Freire falou o seguinte: “Eu vou”. E foi conhecer as educadoras e os educadores do MST. Porque sabiam que essa pedagogia estava encarnada naquele povo que defendia o direito à terra, o direito a produzir alimentos saudáveis, e sobretudo o direito de produzir cultura, e defender os seus territórios.

Então, Professora Bebel, agradeço muitíssimo por essa sessão. Dizer que é imprescindível que a gente continue trazendo o legado de Paulo Freire, que a gente possa apresenta-lo, do nosso modo, à sociedade brasileira.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu vou convidar você, Simone, para entregar a placa para o João Marcos. Vamos fazer o seguinte. Vamos fazer uma troca de entidades na mesa. Porque a gente está querendo dar um pouco de visibilidade. Eu chamo o João Marcos. Você não, você é o paulofreiriano da Casa hoje.  Você não pode sair daqui. Você vai ficar preso e acorrentado. Vamos lá. (Palmas.)

 

* * *

 

- É entregue a placa.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - E a Tayná, que vai fazer uso da palavra agora, vai entregar a placa para a Simone. Por favor. (Palmas.)

 

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- É entregue a placa.

 

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A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - João Marcos, o convite é para você ficar na mesa. Porque é a visão de Educação que nós temos na Confederação Nacional de Educação: que todos os trabalhadores da Educação são educadores.

Isso foi uma grande conquista, agora, que teve no Fundeb, que virou política de estado, portanto, permanente. Isso, nós queremos, de fato. Vou pedir um pouco de brevidade. Até porque, tem entidades que são importantes que elas venham dar um oi. Então vou pedir para que você, se puder, fazer a sua consideração. Por favor, Tayná.

 

A SRA. TAYNÁ WINE RODRIGUES REIS - Obrigada, Professora Bebel. Boa noite a todas, a todos e a todes. Me chamo Tayná Wine. Sou presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, entidade que representa os universitários paulistas. Eu queria parabenizar, deputada Professora Bebel, mas sobretudo agradecer por essa sessão.

Acredito que muitos, assim como eu, ficaram emocionados essa noite. Acredito que esse seja um ato de resistência ao negacionismo, ao retrocesso que nós estamos passando.

Então acho que a sensibilidade da Professora Bebel, de começar essa sessão, com a arte, com a leveza de trazer educadores tão ricos, para expressar e trazer contribuições tão pessoais, tão íntimas, do professor Paulo Freire para a gente, é um presente nessa noite.

Então eu queria mesmo fazer uma saudação muito breve. Acredito que o Paulo Freire, quando ele diz que a Educação não muda o mundo, mas ela muda as pessoas, e as pessoas transformam o mundo, isso é muito verdade.

O que seria de nós, estudantes, sem a filosofia, sem o legado de Paulo Freire? Acredito que essa sessão, além de ser uma sessão de resistência a todo o retrocesso que estamos sofrendo, é também uma sessão de reenergizar, de trazer ainda mais convicção na efetivação da filosofia freiriana para o nosso País.

E dizer, que, apesar destes que estão hoje sobre o governo do Brasil, apesar destes, Paulo Freire deixou um legado. Nós somos sementes do seu legado. Ele florescerá. Então amanhã há de ser outro dia. E com certeza nós vamos contar e cantar uma nova história, uma história mais bonita para o nosso País. Porque, um país que tem Paulo Freire não pode dar errado.

Então concluo aqui para ouvir as demais contribuições. É uma honra estar nesse espaço, com o professor Romão. E com o professor Haddad, que foi um excelente ministro da Educação, e possibilitou que nós, estudantes filhos da classe trabalhadora, estudantes trabalhadores, pudessem acessar a universidade, tivessem acesso à Educação. É realmente uma honra.

Por fim, eu queria também registrar a presença da nossa entidade irmã, nosso presidente Hector, presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas, também marcando presença nesse encontro.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada, Tayná. Ninguém entregou para a Tayná? Então vou chamar a Lígia Toneto, que vai entregar para a Tayná. Só que antes de você falar, Lígia, tem que pôr a Nita. A Nita vai entrar, e é justo que ela fale. Se ela não falar... Ela foi a companheira, a mulher do Paulo Freire, então para nós tem uma super importância. Por toda a história que a gente ficou sabendo.

Então, por favor, você entrega para a Tayná. Depois a gente vai entregar para você. Então, por favor. Agora nós vamos lá para a telinha. Nita Freire, boa noite, tudo bem. Satisfação tê-la em nossa homenagem a seu marido e companheiro Paulo Freire. (Palmas.) Pergunto ao pessoal da técnica. Nita Freire está ou não?

Enquanto isso, só quero saudar todos os deputados que não estão presentes, mas também, deputados que mandaram vídeo. É isso. E pedir para o Wilson ler uma das frases de Paulo Freire.

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - WILSON LEVY - Enquanto nós aguardamos a conexão da Nita Freire, e para festejar essa noite incrível de celebração do centenário de Paulo Freire, é importante lembrar, como dizia o mestre, que a alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo de busca. “Ensinar e aprender não pode se dar fora da procura, fora da boniteza e da alegria.” (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Então, enquanto isso, peço para a Lígia fazer uso da palavra. A Nita conectou ou não? Conectou. Mas o que está acontecendo que ela não está aparecendo na tela? Nita, você está presente, querida? Lígia, são dois minutos para uma saudação, Lígia. Tudo bem, querida? Lígia Toneto, representante da juventude. Aqui vamos ser um pouco suprapartidários hoje, mas ela é do PT.

 

A SRA. LÍGIA TONETO - Boa noite a todas e todos. Eu queria muito saudar a organização desse espaço, pela Bebel, nossa líder da bancada do Partido dos Trabalhadores, e uma lutadora aguerrida da Educação, que sempre traz esta pauta para esta Casa. É tão importante que esteja representando o maior sindicato da América Latina.

Eu queria saudar todos os companheiros de mesa também. A Francisca, o professor Romão, a Tayná e todos que estiveram falando com a gente hoje, o professor Fernando Haddad, que foi o melhor ministro da Educação que o nosso País já teve.

É muito importante que a gente esteja fazendo essa homenagem ao Paulo Freire, que tem tanto de legado, mas também tanto de movimento. O tanto que a gente consegue trazer e ouvir de experiencias, de coisas pessoais. Mas o tanto que a gente vê como ele contribuiu para o que é a formação social do nosso País.

Acho que o Paulo Freire tem uma contribuição muito importante, que é de ter conseguido transformar a Educação num movimento no nosso País. E que faz com que a Educação seja uma das principais pautas que movimentam o nosso País.

Que a gente tenha tão organizado um movimento de professores, que consiga travar tantas batalhas. Um movimento de servidores e um movimento estudantil também, que não saem da luta em nenhum momento, e que conseguiu travar os principais enfrentamentos que a gente teve nessa dura conjuntura que a gente vive hoje. Acho que isso é muito importante da gente lembrar.

Porque as principais mobilizações que a gente conseguiu ter nesse período foram na luta da Educação. Porque a gente entende que a Educação é fundamental e transformadora, como a gente aprendeu com Paulo Freire, e como a gente mantém esse legado vivo, e como a gente mantém esse legado em movimento.

A gente tem que lembrar, o Haddad estava aqui com a gente hoje, lembrando o que foi a conquista que a gente teve com o Enem e com o Pró-Uni. Essa semana o ministro da Educação reclamou que jogou 300 milhões no lixo por ter tido tantas ausências no Enem.

Isso nada menos é do que causa do que de incompetência desse governo, que não consegue fazer com que as pessoas prestem a prova. Que faz com que as pessoas prestem a prova sem as condições sanitárias adequadas. Que faz com que a gente não consiga transformar nossa Educação em popular, como a gente conseguiu avançar tantos em tantos períodos.

A gente tem um retrocesso hoje, de que tudo que a gente conseguiu popularizar, de que tudo que a gente conseguiu levar a Educação para a população negra, para a população pobre, que a gente conseguiu democratizar o acesso à universidade, a gente tem um retrocesso agora. Não é à toa que o Bolsonaro fala que quer retirar o método Paulo Freire da nossa Educação.

Acho que, como muito bem os palhaços lembraram no começo aqui, não se trata de um método, mas de transformar a Educação num projeto. Num projeto de transformação que a gente consegue ter para o nosso País. Porque, no fundo, a Educação também é o que dá mão das gerações.

A gente está entre pessoas de várias gerações falando sobre o legado de Paulo Freire, da importância que ele tem para a Educação no nosso País. E a Educação é o que dá a mão entre as gerações, é o que cria um elo e um vínculo geracional, que a gente consegue fazer com isso e transformar isso em movimento social.

Eu queria ler um trecho da carta de fundação do cursinho Marisa Letícia, da Juventude do PT de São Bernardo do Campo, que é um trecho, na verdade, do Paulo Freire, que diz assim: “Se a Educação, sozinha, não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.”

Se a nossa opção é progressista, e estamos a favor da vida, e não da morte; da equidade, e não da injustiça; do direito, e não do arbítrio; da convivência com o diferente, e não da segregação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção.

Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que fizemos e o que fazemos. Eu acho que isso simboliza muito do que a gente tem sobre como colocar esse legado em movimento.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu vou pedir para a Lígia entregar para a Francisca, e a Francisca aguarda. Agora vou passar para a Nita. Nita, boa noite. Que satisfação tê-la nessa homenagem que estamos fazendo para o Paulo Freire. Gostaria que você fizesse a sua saudação. Nita. Por favor.

 

A SRA. NITA FREIRE - A alegria é minha, com o convite que você me fez, Bebel. E ainda me mandou flores. Que coisa bonita, estar aqui, com vocês, sob a égide de Paulo, desse homem absolutamente ímpar, extraordinário na sua bondade, na sua honradez, na sua dignificação dos outros, na sua postura de homem público que honrou todos os preceitos necessários para sermos uma sociedade democrática.

Paulo foi um homem... Eu até gostaria de dizer o seguinte. Hoje eu considero um dia especialmente alegre pelo número de eventos que estão acontecendo, no mundo todo, em homenagem ao Paulo. Na segunda-feira, que será 20 e não 19, no Recife, a CUT e a CNTE vão entrar em contato com educadores de 190 países. Estarão homenageando o Paulo Freire. (Palmas.)

Isso é uma coisa realmente quase misteriosa. Como é que a gente explica que Paulo, que morreu há 24 anos, está tão presente na vida dos brasileiros e de todo o mundo? Está presente por esses traços de bondade, de humildade, de coerência, de tolerância, de amor pelos outros, de amorosidade.

Paulo foi um homem que amou muito, muito. Ele dizia para mim: “É muito fácil amar povos diferentes, em situações de vida diferentes, de compreensões e leitura de mundo diferentes. A todos eu dedico, sempre, o meu amor e o meu trabalho.” Paulo foi assim.

Aperfeiçoando as suas virtudes, desde quando um pré-adolescente, Paulo foi caminhando mansamente, entre dificuldades, entre problemas, entre desafios que lhe apareciam.

E sempre os foi resolvendo, com mansidão, com dignidade, com respeito a todos. Com ética, com estética, que ultimamente ele dizia “com boniteza”. Resolvia tudo muito apaixonadamente, mas sem arroubos de imprudência. Sem arroubos de enfrentar coisas que não era possível ainda enfrentar.

A gente precisa tornar o problema viável. A gente tem que tornar o problema viável de ser desafiado. Se torna um inédito viável, que a gente trabalha para construir e para conquistar. Conquistando esse inédito viável, que é a utopia, esse problema está resolvido. E nós partimos para desafiar e pra processar outros inéditos viáveis e outras utopias.

É assim que a gente vai construindo uma sociedade mais justa, mais equitativa, mais promissora. Uma sociedade que seja igual para todos, dentro da diversidade de pensamento, de religião, de escolha sexual, de qualquer diferença que haja entre os seus cidadãos.

São eles todos que, em comunhão, podem mudar a sua sociedade. Podem mudar através de uma luta serena, que não precisa se estapear, nem ficar na ordem dos xingamentos e das cenas imorais, necrófilas, malvadas, mórbidas que a gente acostumou a ver nossa presidência fazer.

Então, se Paulo estivesse hoje aqui, vivo, ele diria: “A gente tem que ter tolerância com o diferente. O diferente, esse sim, eu aprendo e posso ensinar. É nessa diversidade com o diferente que a gente constrói o saber e o participa.

Mas, com o antagônico, não há como ter um diálogo. Então, com o antagônico, apenas devo respeitar a forma dele ser. Mas não podemos nos aproximar.”

Porque nós não queremos entrar em desafios loucos, malucos, necrófilos, e ver homens, que dizem que vão fazer montanhas de livros de Paulo, e ele mesmo vai tocar fogo, porque Paulo é um energúmeno que nunca disse nada que prestasse. Tenho certeza que ele e os seus acólitos nunca tocaram em um livro de Paulo, nunca souberam o que o Paulo disse e, sobretudo, o que Paulo praticou.

E gera esse ódio, como necessidade, é o “leitmotiv” da sua vida, é gerar problemas, situações conflituosas, ódios, para continuar tendo o alimento de que ele necessita na sua necrofilia, na sua doença, na sua falta de discernimento, para o mínimo possível.

Nenhum discernimento ético, nenhum discernimento de valor, nenhum discernimento para com compaixão com o povo brasileiro, que vem sofrendo tanto. Bem, por isso que Paulo é importante.

Paulo é importante porque o seu pensamento é um pensamento que surgiu de sua nordestinidade, de fincar suas raízes no Recife. E dessa experiência recifense, nordestina, ele ir construindo uma teoria de conhecimento.

Vejam o seguinte, Paulo é um dos raros homens, filósofos, que não seguiu essa coisa que é tão comum. Quer dizer, é comum a todos os filósofos, é virem discutindo, muitos deles, desde a história de Platão e de Aristóteles, até chegar aos dias de hoje. Não. Paulo não pensou ideias. Paulo pensou a existência humana.

O que importava para Paulo era a vida, era a existência, e, portanto, saber como foi a sociedade evoluindo em seu pensamento, acerca de  “o que é o homem, por que nascemos, por que estamos aqui”, é uma questão que é superada por outra que é mais importante: “como vamos fazer para que sejamos todos sujeitos da nossa história, sujeitos de um país, e não objetos de sua classe dominante”.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Muito obrigada, Nita. Uma satisfação muito grande. Acho que você nos tocou profundamente com essas falas, e mais do que isso, com aquilo que é a concepção, né, do seu grande companheiro, o seu marido e, também, parceiros intelectuais. Um beijão para você. Boa noite.

E foi uma grande contribuição neste evento, aqui, na Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, segundo o qual, nós estamos lidando também, e fico muito feliz de saber que hoje saiu uma ação judicial, publicada inclusive no “Diário Oficial”, não permitindo que este genocida, que não tem nenhum respeito com a vida, diferentemente de Paulo Freire, ele use qualquer palavra para que atinja Paulo Freire, na sua memória.

Então, isso para nós, já é uma grande vitória. Boa noite. Muito obrigada, Anita.

 

A SRA. NITA FREIRE - Muito obrigada. Muito obrigada, mesmo, pelo convite e pela oportunidade de dizer o que eu penso sobre esse homem, que foi tão querido no mundo todo, e que é, continua sendo muito amado por mim. Porque o Paulo foi um homem extraordinariamente bom enquanto companheiro de todos os dias e de todos os instantes, e de todas as labutas.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - É isso. Uma riqueza muito grade de depoimentos, não só, de reflexão, sobre a importância que Paulo Freire dava para a existência, para a vida, no momento em que nós lutamos pela vida, porque nós temos um genocida na Presidência da República, que não se importa com um número de 600 mil vidas, quase 600 mil vidas perdidas, enquanto Paulo Freires querem recuperar, dando força e conhecimento. É isso. Muito obrigada.

Eu vou chamar agora a Francisca, que entregará o prêmio para... Vou chamar a Cleo. Cadê a Cleonice? Cleonice está aí? Cleo, vem para a Mesa, e eu vou trocar com uma das... Ah, já trocou? A Tainá está lá, eu pus uma mulher... E entregar para a Cleo. A Cleo é uma grande lutadora, ela é do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, portanto, merece nossos aplausos.

Não fosse os trabalhadores da Saúde, nesta pandemia, o que seria de nós? Então, é isso. E também chamo a Fátima Antônio, que é do Conselho Municipal de Educação, depois quero chamar o Guido, que nesta solenidade representa a Apeoesp. E a gente vai fazendo as trocas, só que aí vai não vai ter troca de placa, porque, senão, nós vamos ficar até a meia noite aqui.

Então, eu acho que isso, de certa maneira... Eu gostaria de por um vídeo que é do Chalita. Bom, o Chalita, muitos vão falar: “puxa, mas não tem uma diversidade entre ele e a categoria?...” Não. Ele foi secretário municipal de Educação, foi estadual de Educação, falo que equivocadamente, falo para ele, do PSDB. Mas que de qualquer maneira, tentou mediar um pouco, com o Sindicato.

Teve, sim, enfrentamentos, fizemos. Mas isso é da arena, e do contexto, do mundo do trabalho. Então, vou por a fala dele, antes, aí você já faz a fala como CTB, Francisca, porque pela Apeoesp, o Guido fará a fala depois, está bom? Pode ser CNTE, Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação. Só que antes, o vídeo do Chalita, de dois minutos, por favor.

 

* * *

 

- É exibido o vídeo.

 

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Está dada aí, a contribuição, não pode estar, mas, enfim, contribui muito, aqui com a nossa reflexão. Na verdade, uma homenagem, uma espécie de um seminário de Paulo Freire, cada um dá um tom de onde está, e de onde é o lugar de fala. Vou ler uma última frase agora. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção, ou a sua construção”. Esta frase é muito precisa neste momento.

Eu chamo a Francisca. Você já entregou para alguém, Francisca? Já entregou. Para ela. Depois, aí, por favor, Francisca... Está bom. Eu chamo a Fátima Antônio, por favor... E a Francisca, faz o uso da fala.

 

A SRA. FRANCISCA PEREIRA DA ROCHA SEIXAS - Eu quero, em nome da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, agradecer à Bebel pela honra da nossa participação nesta noite, nesta Sessão Solene, dos 100 anos de nascimento do Paulo Freire, seu legado, e sua história.

Cumprimentar a Lígia, o Romão, a Fátima, que ocupou a Mesa agora, o Wilson, a Cleo, o João Marcos, da Afuse, base da nossa confederação. O Douglas Izzo, presidente da CUT, e o Sabóia, secretário geral da CTB, porque são as duas centrais que compõe a direção da CNTE, e que têm uma história de luta, por uma Educação de qualidade.

E muito brevemente dizer que esses 100 anos de Paulo Freire ocorrem em um momento tão necessário. Um momento de que nós precisamos vencer o obscurantismo, e Paulo Freire traz a ideia da luta das ideias, que faz parte do tripé da luta que nós enfrentamos hoje, que é a luta de ideias, a luta econômica, e a luta política.

Porque nós não temos dúvida de que nós reconstruiremos o novo país, através de uma Educação, primeiro, de um governo que represente quem produz neste país, que represente a classe trabalhadora, e, emanando disso, uma Educação que esteja de acordo com esses ideais, e, aqui em São Paulo, nós temos o desafio de enfrentar o governo Doria, que, salvo algumas exceções, traz, pratica a política, igual a de Bolsonaro.

É por isso, que Paulo Freire, neste momento, comemorar o centenário de Paulo Freire, é de uma importância muito grande para o nosso país. Paulo Freire presente. Viva este grande educador, que hoje nós comemoramos o seu centenário.

Muito obrigada e boa noite.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Obrigada. Imediatamente eu chamo a Fátima Antônio, que é lá do Conselho Municipal de Educação, que entregará a placa para Apeoesp. Não, para a Lígia, que não pegou. Desculpe. Para a Ligia Toneto, depois a Ligia entrega para a Apeoesp, por favor.

E a Apeoesp, hoje vai estar representada pelo Guido. Diz que é cantor, né? Diz. Mas também da Apeoesp é importante destacar a presença do Flaudio, que é de Itapevi, enfim, do Moreno...

A minha querida Natalina, que já falei dela enquanto CUT, mas também é da Apeoesp. A Rita, que é de Mauá, também da Apeoesp. Seria estranho que a Apeoesp não viesse também.

E depois quero chamar, vou chamar você, eu tenho que chamar alguém do Ensino Superior, e não vai faltar você, João Chaves. Por favor, então, quem que entrega? Ela fala. A Fátima fala, enquanto isso, eu chamo o João. João Chaves, por favor?

 

A SRA. FÁTIMA ANTÔNIO - Bom, boa noite a todas e todos, professora e deputada Bebel. Eu gosto de chamar de Professora Bebel. Nossa querida Professora Bebel, que hoje é deputada, mas sempre na luta com todos nós professores da cidade e do estado de São Paulo, principalmente.

Eu estou aqui hoje representando o Conselho Municipal de Educação da cidade de São Paulo, e, em nome de todos os membros do Conselho, eu quero agradecer o privilégio de estar aqui nesta noite, este convite. Professora Bebel, muito obrigada, de ter convidado o Conselho, e o Conselho me designou para estar aqui representando.

E eu estava ali sentada, e foram tantas histórias que foram sendo contadas aqui, de Paulo Freire, e eu me lembrei de uma que me é muito importante. Eu, quando entrei na Prefeitura de São Paulo como professora, quem assinou meu título de nomeação, foi o secretário Paulo Freire. Então, eu tive o privilégio, e tenho esse título de nomeação muito bem guardado comigo.

E tive também o privilégio de participar de um dos projetos muito interessantes que ele fez muito esforço e muita questão que acontecesse aqui em São Paulo, que foi a questão de trabalhar com a interdisciplinaridade, e trabalhar com um tema gerador. E trabalhar com um tema gerador era um momento de extremo diálogo com a comunidade.

Quando nós educadores, naquele momento, de 1989 até 1992, dialogamos profundamente com a comunidade, para discutir, para descobrir quais eram os principais dilemas, quais eram as principais necessidades daquela comunidade. E isso se transformava em um tema gerador. E a escola, com todas as áreas do conhecimento, discutia aquilo.

Mas não só as áreas de conhecimento, com toda a comunidade que ali também participava, dentro do Conselho de Escola, que Paulo Freire também tanto defendeu. Uma gestão democrática dentro das escolas.

Então, o que eu posso dizer é que tanta gente importante falou aqui hoje, tanta gente disse tantas coisas importantes desse legado, que é por todos nós, eu acho que a gente precisa, especialmente neste momento, dizer que este Ato Solene, que traz os 100 anos de Paulo Freire, onde a gente levanta, rememora a história, rememora o legado, é também um ato de resistência.

Educar, para Paulo Freire também era um ato de resistência. E hoje, o Ministério da Educação, ontem ou hoje, anunciou que não faria nenhuma homenagem a Paulo Freire.

E nós dizemos o seguinte: quem tem que homenagear Paulo Freire está aqui. Somos nós. (Palmas.) Que nesta pluralidade, que nesta diversidade representa, sim, o legado de Paulo Freire. E como disse Nita, dialogamos com o diferente, com o antagônico, não.

Paulo Freire presente.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Convidar a Fátima para entregar uma placa para a Apeoesp. A Apeoesp não recebeu a placa dela, olha que honra. Depois eu chamo João Chaves para entregar a placa da Fátima, ou a Apeoesp entrega, depois o João Chaves entrega para outra entidade. É troca de placas, aí.

Agora, nós vamos passar a palavra para o João Marcos. Por favor, João Marcos, você vai se aproximando da Tribuna, depois a Cleo faz a fala, e aí nós vamos fazendo a troca dos atores aqui. A dança das cadeiras, como vocês viram, vocês foram dançando.

 

O SR. JOÃO MARCOS DE LIMA - Obrigado, Bebel. Obrigado aos presentes...

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - O único proibido a sair da Mesa aqui é o... Pode... Desculpe.

 

O SR. JOÃO MARCOS DE LIMA - Obrigado, Bebel. E essa Sessão Solene, através do mandato, que não é da Bebel, que eu costumo falar, que é o nosso mandato, dos trabalhadores em Educação, dos servidores públicos de São Paulo, a gente tem esperança. Esperançar igual a Paulo Freire. Que uma outra escola é possível, que um outro estado é possível, que um outro país é possível. Esperançar sempre. Esperançar que a vida vai vencer.

Esperançar que o Fascismo vai ser retirado deste país. Esperançar que o câncer, que está instalado em Brasília vai ser expurgado através da esperança. A esperança já venceu o medo, a esperança vai vencer o fascismo. A esperança vai vencer sempre.

Não quero enrolar muito, porque têm muitos companheiros para falar. Só vou deixar uma frase aqui, como todo o mundo está dizendo aqui de Paulo Freire, para a gente ficar lembrando que Paulo Freire vive.

E no país em que ele nasceu, a homenagem é nossa. Paulo Freire é do povo brasileiro, Paulo Freire é da Educação brasileira. Mesmo não sendo implementado, nós vivenciamos a diversidade, vivenciamos o diferente, e acreditamos que a Educação transforma um país.

E se tivesse um por cento da vontade, do emprenho de Paulo Freire, seríamos, sim, a maior Educação deste mundo, dessas nações, seria a mais investida no país. Um pensamento dele diz: “enquanto eu luto, sou movido pela esperança. E se eu lutar com esperança, posso esperar.”

Obrigado. Viva Paulo Freire. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL LULA - PT - Com a palavra agora, nossa querida Cleo, que é trabalhadora da Saúde, e depois eu tenho que colocar o vídeo do nosso querido Lula. Não posso deixar de também colocar um vídeo que é dele. E chamo o companheiro da CTB, está aqui entre nós. Está? Então eu chamo já para vir para a mesa. Por favor, Cleo.

 

A SRA. CLEONICE FERREIRA RIBEIRO - Boa noite a todos, a todas e a todes, Bebel, como sempre falo, a nossa guerreira, a nossa guerreira, que está sempre aí na luta, não só pela Educação, sempre pela Educação, mas não só pela Educação, mas por todos os trabalhadores públicos que hoje nós estamos vivendo aí uns PLs maldosos, que estão acontecendo inclusive nesta Casa, não é, Bebel? E também o PL 32, fora todos os desmandos.

Eu acho que em poucas palavras queria dizer o seguinte: educação, eu acho que nós não teríamos os médicos, não teríamos enfermagem, se nós não tivéssemos os educadores.

E falar de Paulo Freire, todos já falaram aqui, é uma sensação assim, quando você vê uma mulher como Nita falando de Paulo Freire, isso deixa o nosso coração, sabe, cheio de emoção, cheio de esperança, de que um mundo melhor pode acontecer, ele pode ser visto.

Mas infelizmente nós estamos vivendo momentos tristes, cruéis, em que não temos uma política séria neste País, em que temos um genocida, temos um governo do estado também que não vê a Educação com bons olhos, não vê o funcionalismo como um todo com bons olhos. E a gente precisa mudar todo esse contexto. E Paulo Freire nos agracia com muitas lições. E a gente segue nesse caminho.

Eu acho que a gente precisa, cada vez mais, eu acho que ver, ler, Paulo Freire, para seguir esses momentos, porque, infelizmente, a gente vê hoje o País destroçado e, infelizmente, não temos Educação.

Então, assim, a gente, eu queria agradecer muito, Bebel, de coração. Sou da Saúde, sou sindicalista, estamos aqui na luta junto com a Saúde. A gente sempre fala que Saúde e Educação são coirmãs, e somos coirmãs, mesmo.

Estamos aí na luta formes e fortes. Viva Paulo Freire, e que tivesse milhares de Paulo Freire para a gente poder melhorar este País que, infelizmente, está na mão de fascistas.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Agora eu convido você a entregar a placa para o nosso querido João, aliás, para o Paulo Teixeira Sabóia, que é da CTB, ele está aqui ao lado. E o Paulo vai entregar para o Reginaldo. Cadê o Reginaldo? Está aí? Então vem para cá, Reginaldo, para você pegar a sua plaquinha. E pedir para já colocar o vídeo do presidente Lula, por favor. Por favor, já está colocando o vídeo?

 

* * *

 

- É exibido o vídeo.

 

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A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bem, eu vou agora então chamar o Paulo Teixeira Saboia para fazer uso da fala, que vai entregar, já entregou, né? Não. O Reginaldo, você vai entregar para a Apeoesp. Isso. Quem que entrega? Ah, o João, o Paulo que vai entregar para o Reginaldo, ok. Uma confusãozinha faz parte do jogo. Aí, bom, por favor, Paulo.

 

O SR. PAULO TEIXEIRA SABOIA - Boa noite a todos e a todas. Para nós aqui da CTB é uma felicidade enorme estar aqui. É um orgulho muito grande. Queria dar os parabéns muito grande para a Bebel, essa professora que faz esse ato de cem anos desse brasileiro que deveria orgulhar a pátria toda pela dimensão. Não porque ele foi chamado para lecionar em Harvard, onde reconheceram a estatura de Paulo Freire.

Não porque ele foi para a Suíça levar sua sabedoria, mas porque ele era um revolucionário. Nós, trabalhadores, achamos que ele devia estar na galeria dos heróis da pátria.

Paulo Freire começa a ser perseguido depois de alfabetizar os trabalhadores numa obra no nordeste, que passaram a ler as leis trabalhistas. Passaram a conhecer a CLT, os seus direitos. E, aí, ele começa a ser perseguido por dar essa ferramenta de transformação.

Ele era um revolucionário porque, naquela época, essas pessoas, os analfabetos, não eram cidadãos, não tinham o maior direito da cidadania, que era o direito ao voto. Não podiam votar.

E o Brasil, tardiamente, só aceitou o voto do analfabeto em 1985. Então esse homem fazia realmente esse trabalho (Inaudível.) mesmo com a ditadura, mesmo com os canalhas que ainda estão aí, está aí sobrevivendo e explodindo. E nós, num ato desses, vamos fazer isso ir mais fundo.

Então aqueles que queriam botar fogo, um canalha que fala em botar fogo na obra de Paulo Freire, nós vamos é incendiar esse Brasil com esse libelo que foi trazido aqui, que o professor Romão nos presenteia, que vai botar à disposição na internet, não é isso?

Que é o manuscrito que a gente vai poder botar, porque ele é muito necessário. Na época do Paulo Freire, 40% da população era analfabeta, dos brasileiros. Hoje nós estamos voltando para esses patamares, estão massacrando a Educação, está havendo um analfabetismo funcional gigantesco.

Dá para sentir isso com a juventude que está aí, com os que estão sendo postos para fora da escola. Então é hora de soprar essa brasa, de incendiar o Brasil com as ideias e com o ideário desse gigante.

Parabéns, Bebel. Esses cem anos estão valendo muito. Esse ato vai explodir e vai fazer brotar muita energia em defesa da pátria, em defesa do humanismo, e em defesa do saber.

Viva Paulo Freire. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Viva. Viva Paulo Freire. Muito obrigada, Paulo. É uma satisfação tê-lo aqui. Vou chamar o Hector e vou dizer que daqui para a frente, depois tem a Apeoesp, deve falar, mais o João, da Universidade, mais o Instituto Federal de Educação.

Eu meio que quis criar uma simbologia para a gente entender que todos os olhares, inclusive a Saúde, os trabalhadores em Educação, falando, para a gente poder exatamente dar essa grandiosidade, que Paulo Freire chega até nós.

O Mabi, não posso deixar de falar, porque é um movimento aí das barragens, e eu acho que gostaria também que viesse aqui para cima, para entregar, e necessária, nesse momento do apagão.

Então a gente tem que também ter esse olhar até circunstancial e conjuntural também. Se é só indígena aqui, aí vou ter que pôr uma preta para falar, e a Anatalina, entendeu? Mas vamos ser assim, vou pedir para ser célere, para eu garantir as falas. Se não, fica difícil, né? Por favor, então, Reginaldo.

É uma satisfação tê-lo aqui. Depois o Hector entrega para a Anatalina, pode ser? E depois o companheiro da Anatalina entrega para o companheiro do Mabi. Por favor, querido Reginaldo.

 

O SR. REGINALDO FONSECA SOEIRO DE FARIA - Boa noite, companheirada. Quando me falaram que eu tinha que fazer uma fala de Paulo Freire, primeiro que eu não sou um especialista em Paulo Freire.

No entanto, sou um amante de Paulo Freire: amo toda a pedagogia dele, todos os trabalhos dele. É claro que não consegui ler todos, tanto que na minha tese, que defendi agora em junho, a minha frase, dentro da minha tese, é uma das frases do Paulo Freire, que eu iria utilizar aqui, mas alguém já falou. Tinha uma outra que eu queria falar também: o meu amigo Palma já falou.

Não tem problema. Eu vou falar algo que o presidente Lula falou: Paulo Freire está sendo muito atacado por este governo. Este governo é um governo que não pensa na Educação, ele deixa de investir. Eu sou professor do Instituto Federal. Temos uma Associação dos Docentes do Instituto Federal do Estado de São Paulo, somos filiados ao Proifes-Federação.

O que acontece: desde o governo Temer, que esse governo é uma continuação do governo Temer, com a Ponte para o Futuro, eles vêm diminuindo os valores de investimento em Educação.

Do que nós tínhamos em 2016, quando a presidenta Dilma ainda era presidente, de cada cem reais investidos nos institutos, eles baixaram para 30 reais. Ou seja, hoje nós temos de orçamento 30% do que era quando a presidenta Dilma era presidenta da República.

O que acontece: e ainda por cima só piora a Educação, só piora o investimento, só piora a qualidade. Não piora mais porque os professores, não querendo jogar confete, até me tirando dessa lista, os professores é que conseguem manter a Educação.

E eu queria dizer o seguinte, só para encaminhar a fala. Cada vez que alguém fala mal de Paulo Freire, como disse a Nita, desde que não seja um extremista, a gente tem que parar, sabe? “Espera aí, você conhece o trabalho dele? Sabe o que ele fez? Sabe o que ele conseguiu?”

Então esse tipo de coisa a gente tem que fazer. Não podemos deixar que ofendam o Paulo Freire, ofendam o trabalho dele. O trabalho dele é de supra importância. No mundo inteiro ele é superconhecido. Não preciso falar, porque todo mundo já falou números, países e tudo o mais. Mas todos nós sabemos.

Mas essa atitude de não deixar falarem mal de Paulo Freire é algo muito importante que nós, educadores, temos o dever de fazer. Não podemos deixar que aconteça, para que amanhã não tenhamos mais dores de cabeça. Muito obrigado. Obrigado, Bebel, pela oportunidade.

Obrigado pela placa. Viva Paulo Freire.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Viva. O próximo então agora, eu vou chamar o João Chaves, e depois você, Guido. Chamo imediatamente a Anatalina para compor a mesa, que a mesa baixou de mulher aqui. E chamo o companheiro do Mabi também.

Depois nós vamos fazer pelas representações, um entrega para o outro, tá bom? Agradece, para a gente poder registrar, ok? Vamos lá. Por favor, João. Representando, claro, a Associação dos Docentes da Unesp.

 

O SR. JOÃO DA COSTA CHAVES JUNIOR - E eu estou aqui também representando o Fórum das Seis, que congrega os sindicatos dos trabalhadores docentes e técnico-administrativos das três universidades públicas paulistas e do Centro Paula Souza, bem como os estudantes.

Eu queria começar dizendo que um dos grandes pecados do ponto de vista da ditadura do Paulo Freire foi que ele não só lutou, no sentido de que tivéssemos mais liberdade, mas ele encontrou um caminho para tornar isso concreto. Isso era um problema, por isso ele era intragável para a ditadura.

A ditadura tinha toda a razão, todo o motivo, para expulsá-lo do País. Por quê? Porque o caminho que ele encontrou para colocar a semente da liberdade em cada um de nós e, especificamente, nos oprimidos possibilitaria aos oprimidos expulsar o opressor da sua consciência, e construir a sua própria consciência. Isso é algo extremamente perigoso para quem estava querendo manter o poder naquele momento, e para quem está querendo manter o poder neste momento agora.

Então é absolutamente justificável e compreensível que esta cloaca política, contaminada por micro-organismos de matiz nazifascista, que tomou conta do País, tenha esse tipo de tratamento contra o Paulo Freire, porque exatamente o pensamento paulofreiriano, os métodos de educação que podemos derivar do pensamento freiriano, nos ajuda a fazer com que cada um de nós se sinta semente de algo melhor do que está aqui agora, e uma semente esperançosa, de brotar juntamente com todas as outras pessoas que estão no mesmo nível que nós.

Isso porque para Paulo Freire todos nós estamos no mesmo nível. O professor, aquele que encontra o seu estudante, ele não é mais nem menos do que o seu estudante. Então todos nós estamos no mesmo nível, e isto é algo profundamente revolucionário, isto é algo profundamente subversivo, porque, para manter a ordem que nós temos agora, é necessário que o trabalhador se sinta inferiorizado, que o trabalhador se sinta incapaz de pensar os caminhos que ele deve seguir.

E, por isso, é de fundamental importância, e eu saúdo o mandato da Professora Bebel no sentido de reafirmar, de colocar para as novas gerações o legado de Paulo Freire. Era isso que eu queria dizer.

Muito obrigado.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada, João Chaves. Eu ia chamar João Xavier, acho que é por causa do “x” do “ch”, o som, né? Anatalina, por favor, você entrega? Chamo o Guido imediatamente. Põe o vídeo da Leci já, para ela dar um oi para nós, que é uma deputada que gravou. Por favor, o vídeo da Leci.

Eu tenho que corrigir. Eu chamei a Anatalina de “preta”, e é “negra”, você falou que tem diferença de “preto” para “negro”. (Vozes fora do microfone.) Tá bom, então corrijo o que eu falei.

 

* * *

 

- É exibido o vídeo.

 

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A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Muito bom. (Palmas.) Obrigada. Eu vou, imediatamente - vou pedir celeridade mesmo -, chamar a nossa querida Anatalina, representando a CUT Nacional, e depois é o Guido. Fica aí, Guido, pode falar.

 

O SR. ROBERTO GUIDO - Vou ser breve. Boa noite a todos e todas que estão presentes; eu queria cumprimentar a todos os que nos assistem. Geralmente, me falam assim: “tem deputado na sexta-feira na Assembleia?”. Eu falo: “dificilmente”. Mas agora eu vou poder falar assim: “deputada que eu sei que está lá é a Bebel”. Então, é um orgulho.

Queria agradecer, cumprimentar mesmo, viu Bebel. É um orgulho tê-la como deputada e como presidenta da Apeoesp. É um orgulho, para mim, e uma responsabilidade representar a Apeoesp, você e os professores e professoras do estado de São Paulo, numa data que, por si só, me emociona como educador.

Porque quando eu comecei na Educação, logo eu perguntei para uma professora: “o que é preciso para ser um bom professor?”. Ela falou assim: “precisa gostar de gente”.

Quer coisa mais freiriana que isso? Não é? Então, acho que essa é uma responsabilidade que eu tenho, que você me deu. E eu estou aqui representando uma entidade freiriana.

A Apeoesp é uma entidade freiriana, porque ela se embasa na solidariedade, na generosidade e na luta por igualdade social. São os pilares da obra de Paulo Freire, que orientam a luta da Apeoesp. Às vezes, essa generosidade é exagerada, você viu a Bebel falando que até sou cantor, mas faz parte do DNA da Apeoesp.

Aqui foi citada essa questão da Justiça Federal, do Rio de Janeiro, que proibiu, através de liminar, o governo Bolsonaro de falar mal. Mas o exercício dele é falar mal da Educação, falar mal de tudo, da Ciência.

Ora, não foi ele também, ontem, que disse que o governo Dilma exagerou na contratação de professores e professoras - 100 mil professores que foram contratados em concurso - e que havia excesso de professores no Brasil? É ele que está falando isso.

Esse governo, que precisa ser combatido, também tem a sua semelhança aqui no estado de São Paulo. Doria e o PSDB, nesses anos todos, baniram Freire da bibliografia de concursos do estado de São Paulo, para professor. Já não tem concurso; e Freire está banido na construção das propostas pedagógicas que saem do Palácio dos Bandeirantes e da Secretaria de Educação.

Então, eu penso que nós temos essa tarefa de lutar. Manter o legado de Paulo Freire é lutar contra esses projetos excludentes que, em plena pandemia, querem ser implementados, como a PEI, com a desvalorização dos professores, com o desrespeito aos professores e professoras do estado de São Paulo, com a ausência de diálogo por parte do secretário da Educação conosco.

Portanto, respeitar Paulo Freire é continuarmos na luta, professores e professoras do estado. E eu reafirmo o orgulho de estarmos participando desse momento, da luta política que nós temos que travar no Brasil e na qual Paulo Freire é fundamental. Um abraço a todos e todas da Apeoesp.

Queria também dizer do meu orgulho, porque temos aqui, como disse a Bebel, vários companheiros da Apeoesp. Mas somos todos freirianos, somos todos solidários, somos todos generosos, gostamos de gente, gostamos da Educação Pública laica de qualidade no estado de São Paulo e no Brasil.

Um forte abraço, companheiros e companheiras. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada. Ele já entregou, né? A Unas está aí, Geraldo? Geraldo tem que vir pra cá. Lá tem um projeto de Educação que eu tive...

Eu sempre fui apaixonada pela Unas, até que eu lutei, e eles me adotaram. Então, eu estou lá dentro. De uma forma ou de outra, eu sempre estou lá. Então, vou pedir para o Geraldo também.

Está também entre nós o Adolfo Calderón? Então, vamos lá. Eu vou passar a palavra para o Hector. Por favor, Hector. O Ismael Morales, da Apase, com certeza, opa. Vem para cá, filho. Entidades coirmãs. Por favor, Hector. Eu vou pedir um pouco de celeridade, senão nós não vamos falar nem para nós.

Obrigada.

 

O SR. HECTOR DA SILVA BATISTA - Olá, boa noite a todos, a todas e a “todes” que participam aqui dessa sessão solene. Queria primeiro agradecer, Professora Bebel, o convite para a União Paulista dos Estudantes Secundaristas estar aqui hoje participando deste espaço.

Porque da última vez em que nós, estudantes, e em que eu mesmo pisei neste espaço, neste plenário, foi quando nós entramos aqui para denunciar o desvio de merenda que acontecia no estado de São Paulo, quando nós ocupamos este plenário durante quatro dias, dizendo que nós acreditamos numa Educação Pública, numa Educação gratuita e de qualidade. (Palmas.)

E por isso, agradecer também à Apeoesp, que participa e sempre esteve ao lado da União Paulista dos Estudantes Secundaristas nas lutas em defesa da Educação. E como dizia Paulo Freire, aqueles que ensinam aprendem ao ensinar; e aqueles que aprendem ensinam ao aprender.

Eu acho que essa é a relação em que a gente constrói esse papel de juntar tantos movimentos, tantas entidades aqui hoje, para celebrar Paulo Freire e para falar sobre uma Educação com senso crítico, uma Educação libertadora, que caminhe no futuro e caminhe para o futuro de um Brasil melhor, que é o contrário do que a gente vê hoje.

Quando o presidente da república fala, lá em 2018, quando vai chegando ali ao seu mandato, que vai expurgar Paulo Freire das nossas escolas, o que nós dizemos aqui hoje é que nós vamos expurgar os inimigos da Educação do nosso país, que nós vamos tirar todos aqueles que atacam, todos os dias, os nossos sonhos, do espaço que eles ocupam.

Porque esse espaço precisa ser ocupado pelo povo, pelos educadores, pelos estudantes e por todos aqueles que acreditam num país melhor. E o país em que a gente acredita é uma Educação que caminhe.

Assim como o legado que Paulo Freire deixa para nós: um legado de resistência, esperança e organização, para que nós aqui saiamos ainda mais convictos de que a nossa luta vale a pena.

E de que nós vamos vencer, que dias melhores virão. E por isso a União Paulista dos Estudantes Secundaristas, o movimento estudantil está junto aqui, participando deste espaço.

Muito obrigado a todos. E viva o patrono da Educação. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada. Meu querido companheiro da Unas, o Geraldo, ainda não entregou. Então, o Geraldo entrega para o Hector, que é da Upes. E já, imediatamente, passo a fala para a Anatalina. Pedir celeridade. E depois o Ismael, da Apase; depois, o meu querido... Não.

 

A SRA. ANATALINA LOURENÇO - Boa noite, companheiras, companheiros. Boa noite, deputada Professora Bebel, quero agradecer o convite. Mas, mais do que isso, a possibilidade de ter, neste momento, dividido e ouvido companheiras, companheiros e pessoas tão preciosas que tiveram a convivência com Paulo Freire.

Dito isso, muito já se foi dito sobre Paulo Freire aqui, né. Então, não quero me repetir. Eu sei que Paulo Freire é verbo, porque a cada momento, todos os dias, quando a gente professa o afeto, quando a gente compreende que a Educação precisa ser libertadora, que o currículo precisa ser representativo, nós estamos, então, “paulofreireando”.

E aí, é claro que o Fórum Estadual de Educação e Diversidade Étnico Racial não podia faltar aqui. Eu presido esse fórum atualmente, mas também sou secretária nacional de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores e sou dessa entidade que tem essa presidenta. Então, é muita honra estar aqui. Não vou me estender, porque tem que ser célere.

Muito obrigada. Um abraço para todo mundo. E viva Paulo Freire. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Agora essa “presidenta” ficou com duas conotações aí, hein. Bom, eu vou chamar imediatamente o companheiro do Mab, que está sentadinho aí. Mas tem um companheiro que é... O Mab entregou já? Vai entregar para quem? Para a Anatalina.

O Ailton, que é dos Empregados de Estabelecimentos das Escolas Privadas. Por favor, Ailton. E depois tem o representante da Uncme. Está aí entre nós? É o Eduardo Cézar. Não. Por favor.

 

O SR. GABRIEL GONÇALVES - Boa noite a todos, a todas e a “todes”. É um prazer imenso e uma honra estar aqui. Parabenizar a deputada, professora guerreira e aguerrida aqui nesta Casa, Professora Bebel.

E não há nada mais freiriano do que olhar para este plenário e ver parcelas do povo brasileiro, lutadores e lutadoras, trabalhadores e trabalhadoras aqui, representando as suas entidades e num constante combate a esse neofascismo que vem perdurando no nosso país.

Nós, o Movimento dos Atingidos por Barragem, temos Freire em nossas veias. No momento em que um atingido se junta com outro atingido para discutir como que o modelo energético afeta a vida dele e traz a miséria para a existência da vida dele, e daí esse atingido também, semeando essa discussão, semeando essa luta, sai do sul do país, sai do norte, vai para o nordeste, vem para São Paulo, para as periferias... Das periferias, vai para Brumadinho, vai para Mariana enfrentar esse sistema.

Começa a florescer daí o movimento. Não há nada mais freiriano nessa essência. E a partir disso, nós, enfrentando esse momento trágico da nossa conjuntura, em que 15 empresas dominam o setor energético e deram “tarifaço” na população inteira... A população brasileira, hoje, precisa cada vez mais lutar. Nós estamos na rua e lutando. Não podemos deixar que isso aconteça.

Para fechar aqui, há uma situação que me vem muito à cabeça: ao mostrar o livro, eu acho que o “Pedagogia do Oprimido”, ao escrever aqui no final, “a primavera de 68”... Paulo Freire é de 19 de setembro. Paulo Freire não é antes da primavera, que começa em 22 de setembro. Ele antecede, ele abre as portas da primavera.

E o espírito dele, que está neste plenário, com cada trabalhador aqui presente e cada atingido, cada sem-terra, cada camponês, cada trabalhador urbano que está em luta, construindo, fazendo formação, é a essência e o espírito dessa primavera. Que Paulo Freire traga mais primaveras. Ele próprio já é a própria primavera.

Muito obrigado. Boa noite a todos e todas. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Obrigada, Gabriel. É sempre uma satisfação estar com vocês. Ele não recebeu, então o meu companheiro da Apase também não doou, né? Você já deu? E já chamo imediatamente, para fazer uso da palavra, você, que é da Unas, meu querido Geraldo.

 

O SR. JOSÉ GERALDO DE PAULA PINTO - Boa noite a todas e a todos. Da última vez em que eu estava lendo “Pedagogia do Oprimido”, o livro fala que o que a gente faz é tão importante que acaba incorporando no nome, né. Então, eu sou o Geraldo da Unas; tem a Jaqueline educadora; a Ângela da biblioteca. Nós vamos ganhar um livro. (Palmas.)

Tem a Bebel deputada, e agora favelada também. Acabou entrando lá para a família da favela. É, porque o pessoal fala assim: “a Bebel, aquela deputada da favela”. Então, essa coisa de incorporar o que a gente faz e que a gente chama no nome é muito importante.

Paulo Freire tem uma coisa que eu acho que até agora ninguém falou, que é o Mova, o Movimento de Alfabetização. Então, na favela já foram alfabetizadas mais de 10.000 pessoas, e é um movimento de resistência, porque vários governos tentaram... Quando você falou, eu pensei que você ia falar do Mova. Vários governos tentaram fechar, inclusive o Bruno Covas e esse.

Teve um movimento muito forte, de base, que conseguiu resistir e está resistindo até hoje para alfabetizar diferente desses programas formais. O Mova tem uma característica que resume o Paulo Freire, porque as pessoas chegam lá, não precisam fazer a matrícula, levar o atestado de óbito, a certidão de nascimento. A pessoa começa a estudar, e depois, quando ela pega gosto pela coisa, ela faz a matrícula dela.

Quando a gente fala isso, tradicionalmente o pessoal de escola tradicional fala: “não, precisa fazer a matrícula”. Isso aí já é um modo de excluir as pessoas. Então, a gente teve a oportunidade, primeiro na gestão da Luiza; a primeira sala do Mova foi organizada lá em Heliópolis. E é um movimento que eu acho que tem no Brasil todo.

E só para terminar, eu me lembro de um congresso que nós fizemos no Anhembi, que aí o Paulo Freire conversava com a gente, os supervisores do Mova, e a gente falou assim: “quem é que nós vamos chamar para a mesa?”. O deputado falou: “não, vai chamar para a mesa os alunos, o pessoal que vocês estão falando. Eles vão assistir ao que vocês vão fazer avaliação”. (Palmas.)

Obrigado a todos; obrigado, Bebel. E a gente também te ama de amor mesmo, porque paixão é passageira.

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu também amo vocês, pode ter certeza.

Eu chamo então, já, para fazer uso da palavra... Eu acho que eu primeiro vou pôr um vídeo lá, que é do Giannini. Olha, vale a pena a gente ouvir e ver o vídeo do Giannini, que hoje está presidindo a Sociedade Brasileira para o Progresso na Ciência.

A gente já teve momentos difíceis nessa SBPC, mas, com a entrada do Giannini, eu acho que, neste momento em que há um negacionismo da ciência, vai ser um salto qualitativo do ponto de vista de encostar a ciência com a população.

Chamar a Neusa do Sinteps, que está em greve. Por favor, Neusa. (Palmas.) Neusa não está aí? Ela estava entre nós. Pelo menos, eu tinha visto. De qualquer forma, registro o Sinteps, que está em greve neste momento - resistência e luta. E imediatamente, por favor, passando o vídeo.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Não poderia deixar de dizer que foi brilhante como sempre o nosso querido Renato Janine.

Eu vou pedir então para fazer uso da palavra o Ismael Morales. Ele está representando a Apase, que é o sindicato dos servidores públicos do estado de São Paulo. Por favor, Ismael. Depois nós teremos uma última fala, que é do Ailton, que é representante das escolas particulares.

 

O SR. ISMAEL DE JESUS MORALES - Boa noite a todos e a todas. Professora Bebel, muito obrigado pelo convite. Na verdade, eu aqui represento a nossa diretora-presidenta do Sindicato dos Supervisores de Ensino do Magistério Oficial do Estado de São Paulo, a professora Rosaura Almeida.

Confesso que eu me sinto aqui hoje uma vela acesa diante do sol. Depois de tantos sóis que falaram aqui eu, sinceramente, fico pensando como que trarei a todos vocês, e a todas, alguma palavra para falar dessa grande alma ímpar, sem igual que foi esse grande patrono da Educação, Paulo Freire.

Mas curioso é que o Guido me fez lembrar também de uma discussão do passado, na sala, dos idos tempos da universidade com o professor, numa discussão em que nós estávamos, sobre a educação e, de repente, surgiu alguma dúvida e o professor nos colocou: “bem, vocês estão discutindo uma obviedade, mas, porém, para fazer a diferença na sala de aula vocês precisam aprender a escutar”. E no caso do Guido, que eu gostei muito da experiência, a gostar de gente.

E eu coloco isso, essa experiência da questão do escutar, porque o diálogo que propõe o próprio Paulo Freire entre o professor e o aluno, porque essa capacidade de você, na condição de ouvir o aluno, que você terá dentro de si todos os instrumentos necessários para fazer a diferença e tirar o aluno dessa condição de oprimido e se libertar.

Então eu apenas não quero me delongar, até porque não tenho esse dom da eloquência, mas eu diria que para todos vocês que se nós somos o que somos hoje nós devemos tudo aos nossos professores e professoras, educadoras, que fizeram a diferença em nós. (Palmas.)

Professores que transformaram nosso pensamento, não professores que nos doutrinaram, como estão colocando aí, ao contrário, professores que provocaram a reação dentro de nós e, com isso, nós conseguimos nos transformar e sermos o que nós somos, pessoas.

E esta Casa, professora, que é a Casa do povo, que praticamente é construída e deve exercer e executar o dever de nos ouvir também, principalmente porque a Casa que tem que provocar a transformação e a execução e pôr em prática todas as políticas públicas da Educação, fazer cumprir o Plano Estadual da Educação, fazer cumprir o Plano Nacional da Educação, que praticamente eles passam, eles colocam sombra.

Nós não devemos permitir que isso aconteça, e lutar sempre contra todo o tipo de desigualdade social, desigualdade moral e institucional. E Paulo Freire, essa alma brilhante, é responsável por isso dentro de nós.

Muito obrigado e boa noite a todos e a todas. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bom, eu que agradeço, Ismael. Eu gostaria que você levasse um abraço para toda a diretoria da Apase, à nossa presidenta, Rosaura.

Vou pedir, então, para o Tiago entregar a placa, para o Tiago Fainer entregar para ele. Depois vai ter troca-troca no plenário, quem entrega para quem, está bom?

Vamos lá. Eu vou chamar, então, o Ailton. Por favor, Ailton. Ele é da Federação dos Empregados em Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, a Feesp, Sinpro.

 

O SR. AILTON FERNANDES - Boa noite a todos e a todas. Deputada Bebel, em nome do professor Celso Napolitano vou justificar a ausência dele, porque ele está com aquela gripezinha, pegou a tal da gripezinha, e é por isso que ele não está aqui hoje.

Eu represento a Fepesp e o Sinpro-SP, são duas entidades que representam os professores, as professoras e os trabalhadores das escolas privadas do estado de São Paulo e da cidade de São Paulo.

Em que pese o fato de a gente defender esses trabalhadores, em todas as nossas instâncias está consignada a nossa defesa do ensino público. Inclusive o Reginaldo que esteve aqui há pouco conosco participou de várias atividades conosco nesse sentido.

Eu fico, assim, particularmente feliz de ter ouvido e visto algumas pessoas aqui que marcaram a minha vida. Leonardo Boff, por exemplo, ele não tinha ido lá para a periferia onde eu nasci, onde eu vivi, onde eu vivo até hoje, mas as ideias dele foram.

E foi aí que eu me tornei um militante, foram as ideias do Leonardo Boff que me transformaram em um militante. Da mesma maneira isso me levou para o Mova, que foi citado agora aqui, na favela do Boturussu, em Ermelino Matarazzo.

Mas vou terminar a minha fala falando o seguinte, eu sou professor de escola privada, mas também sou da base da Apeoesp e dou aula no Cangaíba, aqui na zona leste. Por várias vezes, nesses 32 anos de Magistério, teve o canto da sereia para eu sair da escola pública e ficar só na escola privada.

O que me impediu foi o Paulo Freire, porque a primeira coisa que eu aprendi quando eu fui à escola pública foi o seguinte, eu vou falar com gente da minha classe social, então esse aprendizado o Paulo Freire me ensinou já na PUC, que eu sou oriundo da PUC. (Palmas.) Se eu pudesse colocar uma lápide no meu túmulo seria essa, eu escolhi falar com gente da minha classe social.

Obrigado, Bebel. Parabéns pela iniciativa. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Eu que agradeço, Ailton. Que satisfação a gente ver que a Apeoesp também é muito diversa. Isso sem dúvida nenhuma.

Peço para o Tiago Fainer entregar a placa para ele. Por favor, Tiago. E eu vou entregar para o meu companheiro da Unas e vou fazer uma última homenagem, eu tenho que fazer, porque se eu não fizer essa homenagem a esse professor, Paulo Freire, não só o Paulo Freire, mas a um professor mesmo que sofreu um processo de cassação na Câmara de Vereadores ontem lá em Cerqueira César. Quero que ele sinta que pode contar com a solidariedade de todos vocês.

 

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- São entregues as homenagens.

 

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Bom, pessoal, hoje o dia para mim foi muito importante. Eu agradeço do fundo do coração a presença, a resistência de ficar até esta hora, daqui a pouco nós vamos trocar as plaquinhas aqui, porque todos vão ter plaquinhas para levar para casa, porque participou deste dia que não é qualquer dia, mas é uma homenagem ao nosso sempre mestre Paulo Freire.

Ele não sairá nunca da nossa existência, sempre estará conosco como uma grande referência, não só uma referência nacional, mas internacional. Eu acho que Paulo Freire supera tudo quanto é partido político.

Não deveria estar como está sendo hoje atacado. Mas ele supera, porque quando os que dizem que nós doutrinamos colocam um absurdo como o programa “Escola sem partido” e depois inventam uma escola cívico-militar estão fazendo o quê? Doutrinação.

Então isso, para nós, indubitavelmente desmistifica o que Paulo Freire não faz, doutrinação. Paulo Freire emancipa e sempre nos ensinou a educação libertadora, a pluralidade de ideias, a diversidade, isso sempre no pensamento dele.

No dia de ontem eu fiquei até três horas da manhã na Câmara de Vereadores de Cerqueira César e vi uma inquisição. O professor Matheus Siqueira foi cassado, duramente cassado.

Por quê? Porque em um período que não tinha como ter volta às aulas ele foi convencer a dirigente de ensino, ele foi conversar com os professores, foi conversar com os pais, aliás, cumprindo a agenda sindical da Apeoesp, que era “aprendizagem se recupera, vidas não”.

O mote era “lutamos pela defesa incondicional da vida”, esse era o nosso mote. E foi isso o que ele fez. Pagou um preço ontem porque convenceu e as escolas fecharam, os pais não mandaram os alunos para as escolas. Pagou esse preço.

No momento da fala dele, se vocês me perguntarem: “Tem provas de que ele entrou abruptamente, que ele agrediu?”. Não tem, a única prova que tem é que ele sai do carro e entra na secretaria.

Dali você não tem nada, nada, porque o próprio Matheus, mesmo os inquisidores que lá estavam para cassá-lo, ele é uma pessoa muito doce, ele se dirigia: “Eu saio daqui hoje, mas vocês podem contar, porque eu vou pedir para a Professora Bebel continuar mandando as emendas parlamentares.

Cerqueira Cesar que precisa, não pelos senhores, mas pela cidade. Meu compromisso é com a cidade.”. Sendo, olha só, cassado, o companheiro faz uma fala dessas.

Mas uma das falas que me tocou, e me tocou profundamente, foi quando eles falaram o seguinte: “Vocês estão colocando uma dosimetria, a mais alta, a última, que é a cassação.

Quando tiver aqui um processo de improbidade administrativa, qual vai ser a pena? Se eu, por não ter feito nada, por não ter provas contra mim, eu tive a pena máxima, qual vai ser a pena?”. Alguém do plenário gritou “guilhotina”.

Porque não pode ser. Não que nós defendamos, porque se a pena máxima foi dada a algo que não aconteceu, imagine quando tiver alguma coisa, ou caiu naquilo que a gente sabe, perseguição, porque pela primeira vez na história de Cerqueira César nós tivemos um vereador eleito pelo Partido dos Trabalhadores e o mais votado daquela Casa e isso incomodou aqueles que não querem mudança, porque mudou a metodologia de fazer política. Essa que era a questão.

E naquela dor ainda ele cita Paulo Freire, várias vezes citando Paulo Freire. Várias vezes. A todo momento citava Paulo Freire. É um freiriano. Matheus é um freiriano. Mais do que isso, um professor comprometido com a categoria, não só categoria, com o cidadão. A liderança dele é inconteste.

Digamos que ontem ensaiaram cassá-lo, mas nós vamos continuar, porque não tem prova nenhuma contra ele. Nós vamos reconquistar o mandato dele, colocar o Matheus de volta na Câmara de Vereadores. E quero aqui dizer o seguinte, que ele entra mais forte do que ele sai. Ele vai voltar mais forte do que ele está, porque ele é forte.

Eu tinha que me dirigir, eu vou abrir a placa, o Tiago estava comigo ontem. Eu pediria para que você viesse comigo, Tiago, receber a placa como se fosse o Matheus e falar celeremente.

Também pode falar de onde você vem, ninguém vai cassar a sua palavra, senão cai no que caiu o... Mas está aqui. Eu passo para você, então, depois nós vamos nos encarregar de mandar para o Matheus. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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O SR. TIAGO FAINER - Boa noite a todos e todas. É uma feliz satisfação estar aqui com vocês hoje, eu que sou aluno da rede pública de Piracicaba, minha cidade querida, e não poderia deixar de citar a escola de onde eu vim, que é a escola Monsenhor Jeronymo Gallo, lá onde tive a oportunidade de ser três vezes presidente de grêmio.

Nessas inúmeras eleições eu tive dentre muitas batalhas uma mais terrível, que foi o dia em que a direção resolveu encher a escola de grades. E no processo de discussão eu peguei e foi o que por algum tempo cessou essa ideia de colocar grades na escola, que foi o seguinte.

Eu perguntei à vice-diretora: “Qual empresa coloca grade na cadeia?”. Ela parou um pouquinho e eu falei: “É a mesma que vai vir colocar a grade aqui amanhã.”. Ela desistiu. Mas ela desistiu com o impacto dessa ideia, de que ela estaria prendendo os alunos.

E a escola não é o espaço de você prender o aluno, mas o que tem vindo acontecendo nesse governo, e daí eu vou me referir especificamente a esse secretário, que o aluno que vai para a escola onde era para ser um lugar para ele sonhar o governo vai lá e joga uma pá de cal em cima do aluno.

Primeiro, ele já não tem mais vontade de prestar o Enem. Aí o ministro reclama de gastar o dinheiro. Ué, dê a possibilidade para que o aluno chegue ao Enem. Ele não tem feito isso.

E também dizer que ontem eu estava lá com a Professora Bebel até o fim, até as três horas da madrugada. Nunca vi coisa mais absurda do que a que aconteceu ontem em Cerqueira César. Lembrei-me de 2016 e, pasmem, era o mesmo partido. Os vereadores eram do mesmo partido, então a cassação foi política.

O professor Matheus é um jovem, assim como eu, e eu me senti muito representado, porque a força que o Matheus teve durante toda aquela sessão, que durou nove horas e meia, foi incrível.

Ao final, com toda a calma do mundo, ele disse no plenário: “Nós voltaremos.”. Tenho certeza de que com o apoio da Professora Bebel, com a força dele, logo ele estará no plenário novamente.

Agradeço a todos. Viva Paulo Freire! (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - PROFESSORA BEBEL - PT - Bem, eu preciso ler o termo de encerramento.

Esgotado o objeto da presente sessão, agradeço às autoridades, à minha equipe, aos funcionários do Serviço de Som, da Taquigrafia, da Fotografia, do Serviço de Ata, do Cerimonial, da Secretaria Geral Parlamentar, da Imprensa da Casa, da TV Alesp, que está ali brilhantemente trabalhando, e das assessorias policiais Militar e Civil, bem como a todos que, com as suas presenças, colaboraram para o pleno êxito desta solenidade.

 

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- Encerra-se a sessão.

 

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