16 DE NOVEMBRO DE 2021

27ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidência: CARLÃO PIGNATARI e SEBASTIÃO SANTOS

 

Secretaria: MARTA COSTA E EDSON GIRIBONI

 

RESUMO

 

ORDEM DO DIA

1 - PRESIDENTE CARLÃO PIGNATARI

Assume a Presidência e abre a sessão. Coloca em discussão o PL 410/21.

 

2 - ARTHUR DO VAL

Para comunicação, menciona reunião, juntamente com a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, para discutir o desconto no IPVA e na compra de carros para os mesmos. Informa que, com o teto de 70 mil reais, não será possível comprar nenhum veículo no mercado. Lamenta que este seja um desconto que não pode ser aplicado. Diz ter feito um ofício para que o teto seja aumentado.

 

3 - PROFESSORA BEBEL

Para questão de ordem, menciona as seis horas de discussão para o PL 410/21. Cita que chegou a esta Casa o PLC 37, que discorre sobre o uso do Fundeb. Questiona o Sr. Presidente quando será tratado este tema.

 

4 - PRESIDENTE CARLÃO PIGNATARI

Diz esperar que o projeto seja pautado até a próxima semana.

 

5 - MÁRCIA LULA LIA

Discute o PL 410/21.

 

6 - PROFESSORA BEBEL

Solicita uma verificação de presença.

 

7 - PRESIDENTE CARLÃO PIGNATARI

Defere o pedido. Determina que seja feita a chamada de verificação de presença, que interrompe quando constatado quórum.

 

8 - CAIO FRANÇA

Para comunicação, lembra ter protocolado, desde 2019, um projeto de lei que autoriza a inclusão de medicamentos à base de cannabis no SUS. Esclarece que estes medicamentos já foram aprovados pela Anvisa. Lamenta que o mesmo esteja parado na Comissão de Constituição, Justiça e Redação desde 2019. Pede que o presidente paute a urgência deste projeto na próxima semana. Afirma que a cannabis medicinal é usada para diversas doenças, melhorando as condições de vida dos pacientes.

 

9 - PRESIDENTE CARLÃO PIGNATARI

Esclarece que o projeto tem como objetivo autorizar o uso destes medicamentos, já aprovados pela Anvisa, no SUS.

 

10 - CAIO FRANÇA

Informa terem outros deputados coautores do projeto.

 

11 - CARLOS GIANNAZI

Discute o PL 410/21.

 

12 - PROFESSORA BEBEL

Solicita uma verificação de presença.

 

13 - PRESIDENTE CARLÃO PIGNATARI

Defere o pedido. Determina que seja feita a chamada de verificação de presença, que constatou quórum.

 

14 - SEBASTIÃO SANTOS

Assume a Presidência.

 

15 - RAUL MARCELO

Discute o PL 410/21.

 

16 - PROFESSORA BEBEL

Solicita a suspensão da sessão por 3 minutos, por acordo de lideranças.

 

17 - PRESIDENTE CARLÃO PIGNATARI

Defere o pedido e suspende a sessão às 18h32min; reabrindo-a às 18h37min.

 

18 - PROFESSORA BEBEL

Para comunicação, informa que as lideranças acordaram em dar o projeto por discutido por 2 horas e 30 minutos. Solicita que haja alteração do método de votação.

 

19 - VINÍCIUS CAMARINHA

Para comunicação, reafirma o entendimento das lideranças para dar por discutido este projeto por 2 horas e 30 minutos. Ressalta que o projeto deverá voltar a ser discutido na próxima terça-feira.

 

20 - PRESIDENTE CARLÃO PIGNATARI

Confirma que todas as lideranças estão de acordo com o proposto. Convoca os Srs. Deputados para uma segunda sessão extraordinária, a realizar-se hoje, dez minutos após o término desta sessão. Informa que os congressos de comissões serão realizados amanhã às 11 horas. Ressalta que foram dadas por discutido 2 horas e 30 minutos do projeto. Levanta a sessão.

 

* * *

 

- Abre a sessão o Sr. Carlão Pignatari.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Presente o número regimental das Sras. Deputadas e dos Srs. Deputados, sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior. Ordem do Dia.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Proposição em regime de urgência. Discussão e votação do Projeto de lei nº 410, de 2021, de autoria do Sr. Governador, que altera a Lei nº 4.957, de 30 de dezembro de 1985, que dispõe sobre os planos públicos de valorização e aproveitamento de recursos fundiários, e a Lei nº 10.207, de 8 de janeiro de 1999, que cria a Fundação Instituto de Terras de São Paulo “José Gomes da Silva” - Itesp, com um substitutivo e 87 emendas. Retiradas as emendas 2, 4, 18, 21 e 30.

Parecer nº 736, de 2021, do relator especial da Comissão de Constituição, Justiça e Redação favorável ao projeto com emendas. Favorável às Emendas nº 1, 61, 62, 65, 76 e 78 na forma de subemenda apresentada e contrária ao substitutivo e às demais emendas. Art. 26 da Constituição do estado.

Para falar contra, a deputada Márcia Lia.

 

O SR. ARTHUR DO VAL - PATRIOTA - Pela ordem, presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Pois não, deputado.

 

O SR. ARTHUR DO VAL - PATRIOTA - Uma breve comunicação?

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Pois não.

 

O SR. ARTHUR DO VAL - PATRIOTA - PARA COMUNICAÇÃO - Só deixar um apelo aqui. Hoje eu conversei com a Tania, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, e ela trouxe um tema - não é o tema hoje da sessão - sobre o IPVA dos carros e o desconto também na compra dos carros para pessoas com deficiência, que o valor hoje, teto, é de 70 mil.

Haja vista a inflação que a gente tem, com 70 mil reais hoje você não tem nenhum veículo no mercado para essa compra. Então é basicamente um desconto que não pode ser aplicado, porque não existe no mercado uma realidade como essa. Então, eu fiz um ofício hoje e apelo para que o governo aumente o teto do valor desses carros para as pessoas com deficiência.

Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Obrigado, deputado Arthur do Val. Com a palavra, a deputada...

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Questão de ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Pois não, deputada.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - PARA QUESTÃO DE ORDEM - Minha questão de ordem é a seguinte: nós temos esse projeto, PL 410, que começa a ser discutido hoje e teremos aí seis horas de debate.

Por outro lado, já entrou nesta Casa o PLC 37, que atende os profissionais da Educação no que diz respeito ao uso do recurso do Fundeb. Quando será tratado esse tema nesta Casa, Sr. Presidente?

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Deputada Professora Bebel, eu espero que até semana que vem a gente paute o projeto do bônus também. Com a palavra a deputada Márcia Lia, para discutir contra.

 

A SRA. MÁRCIA LULA LIA - PT - Muito boa tarde a todos. Posso retirar a máscara para falar?

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Pois não, deputada.

 

A SRA. MÁRCIA LULA LIA - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Muito boa tarde a todos os colegas, a todos os servidores, a todos os oficiais de Justiça que aqui se encontram na defesa de seus direitos. (Manifestação nas galerias.) Quero dizer que nós, da bancada do Partido dos Trabalhadores, estamos totalmente solidários à causa de vocês. Podem contar conosco. (Manifestação nas galerias.)

O que me traz aqui neste momento é o debate...

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Pela ordem, Sr. Presidente. 

 

A SRA. MÁRCIA LULA LIA - PT - Pois não.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Pela ordem.

 

A SRA. MÁRCIA LULA LIA - PT - Interrompe o meu tempo.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Ah, sim. A questão de ordem é uma verificação de presença. É regimental. Convido para fazer a chamada os deputados Douglas Garcia e Altair Moraes.

 

* * *

 

- Verificação de presença.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Havendo número regimental com a deputada Damaris Moura, com a palavra, para discutir contra, a deputada Márcia Lia.

 

A SRA. MÁRCIA LULA LIA - PT - Antes de eu iniciar minha fala, eu quero explicar às pessoas que se encontram aqui no nosso plenário que essa movimentação dos deputados que se retiram é para a gente fazer obstrução aos projetos com que nós não concordamos, que vêm goela abaixo do governo de São Paulo.

Dito isso, eu quero me ater ao Projeto de lei 410, de autoria do Sr. Governador, João Agripino Doria, que pretende outorgar título de domínio para transferir a propriedade resolúvel de lotes das famílias beneficiárias dos planos públicos de valorização e aproveitamento de recursos fundiários do estado de São Paulo.

O que significa isso, para que todos possam compreender? O governador Montoro, antes da Constituição de 1988, entendeu a necessidade de fazer a outorga através de permissão de uso dos lotes de terras públicas, de terras devolutas do estado de São Paulo, para as famílias que precisavam produzir, que precisavam de um pedaço de terra para fazer que nas nossas mesas nós tivéssemos alimentos e alimentos saudáveis.

Então, Montoro entendeu que essa seria a forma de entregar terras, através da permissão de uso, para que as famílias pudessem produzir alimentos. Passado um tempo, quando eu já estava nesta Casa, nós aprovamos um projeto de lei que concedeu, que outorgou a concessão dessas terras para os usuários, para aqueles que estavam na posse dessas terras.

Esse título de concessão dava às famílias o direito de herança. Portanto, os filhos dos trabalhadores rurais que produzissem nessas terras teriam o direito à herança, no caso de falecimento de seus pais.

Também permitiu que as benfeitorias, eventualmente colocadas por essa família nesse espaço, nessa terra, pudessem então pertencer a essas famílias, e que na eventual desistência desses títulos, que nós pudéssemos, então, avaliar essas benfeitorias e permitir que essas famílias pudessem ser ressarcidas daquilo que investiram nas suas propriedades.

Bom, o que acontece com esse Projeto 410, Projeto de lei 410? Ele autoriza, após dez anos, que, atendidos os requisitos, feito o pagamento de 10% do valor da terra - me parece que há uma emenda que será incorporada a esse projeto para que o valor passe de 10 para 5% do valor da terra nua - e essas famílias, em dez anos, vão pagar esse valor e, em pagando esse valor, essas pessoas terão o direito ao título de domínio. Essas pessoas poderão vender essas terras.

Qual é a nossa dificuldade? Qual a nossa preocupação? É que, de novo, aconteça uma concentração de terras no estado de São Paulo, porque muitas das famílias, por falta de assistência técnica, muitas das famílias, por falta de possibilidade de acessar créditos rurais, por falta de condições muitas vezes de cumprir com o pagamento dos 5% - ou 10% se a emenda não for aprovada - que essas famílias percam, se desestimulem de continuar na terra e vendam, porque não há condicionantes. Não há elementos suficientes para impedir que aconteça essa concentração de terras.

Nós discordamos porque nós entendemos que há uma possibilidade de um título que é muito mais eficaz, que é a concessão de direitos reais de uso, CDRU, que permite a essas famílias que elas tenham o direito de permanecer nessas terras sem terem que pagar nenhum valor, porque a luta da terra já as fez proprietárias dessas terras.

A nossa preocupação grande é a de que o famoso contrato de gaveta se perpetue e que as terras que hoje são agriculturáveis, terras que produzem alimentos, terras que estão nas mãos de pequenos proprietários, de pequenos posseiros, pessoas que têm o direito de estar naquela terra, que essas pessoas simplesmente não tenham condições de permanecer nessas terras, sejam desestimuladas a isso, e que novamente essas terras possam ser objeto de, em vez de áreas para produção de alimentos, sejam áreas de lazer, sejam contratos “de cessão para outros”, que vão começar a aglutinar várias dessas propriedades. E nós vamos perder a possibilidade de os assentamentos continuarem a existir.

Outra coisa que nos preocupa muito é que o governo de São Paulo tentou acabar com o Itesp. Tentou acabar com a possibilidade de que os nossos assentados tivessem assistência técnica, tivessem quem cuidasse de um planejamento eficaz de produção. E o que nós sentimos com esse projeto de lei é que o Itesp será desidratado ao longo de dez anos. Portanto, nós vamos acabar com a Fundação Itesp, que é um órgão fundamental, importantíssimo no estado de São Paulo.

Se alguém me perguntar, deputada, você é contra a outorga do título de domínio? Não, eu não sou contra a outorga do título de domínio, mas eu quero que a gente coloque condicionantes para que esses títulos de domínio não possam passar da mão dos pequenos agricultores, daqueles que lutaram para conseguir essa terra, para a mão de exploradores.

Tem um outro problema, que é mais grave ainda, que foi inserido pelo deputado Mauro Bragato, que é o relator especial desse projeto de lei, que é o Art. 4. E eu vou pedir licença para eu poder ler. O deputado Mauro Bragato, quando apresenta o seu relatório, faz a inserção do Art. 4º, que diz o seguinte:

“Os acordos e as transações de que tratam o Art. 9º da Lei 4.925, de 85, poderão ter por objeto a alienação onerosa, a pessoa natural, de terras devolutas ou presumivelmente devolutas, mediante pagamento do preço fixado com base em percentuais e matriz econômica apresentada pela Fundação Itesp, no importe do valor médio por hectare referente à respectiva região administrativa, observando-se critérios e parâmetros definidos em decreto regulamentar”.

Portanto, o que faz esse Art. 4º? Ele permite acordos fundiários, ele permite que aquela pessoa que grilou uma grande propriedade de terras do estado de São Paulo, terras devolutas, esse grande latifundiário vai conseguir agora regularizar a sua vida, em detrimento do patrimônio público, do nosso patrimônio, do patrimônio do povo do estado de São Paulo.

Enquanto nós ficamos pleiteando quireras, migalhas que caem da mesa, os grandes latifundiários que grilaram as terras no estado de São Paulo serão beneficiados na calada da noite, eles poderão se beneficiar com esse Art. 4º, que foi exaustivamente discutido em audiência públicas por vários representantes de associações, de sindicatos, de ONGs, de especialistas, de muitas pessoas ligadas à Afitesp.

Esse debate foi feito, que o Art. 4º se constitui em um jabuti para que as terras do estado de São Paulo, as terras do povo do estado de São Paulo sejam entregues por um valor simbólico, por um valor pequeno àqueles que dedicaram suas vidas em grilar terras, por exemplo, no Pontal do Paranapanema. E nós discordamos disso também.

Nós queremos, deputado Vinícius Camarinha... Deputado Vinícius Camarinha, eu estou falando com o senhor. Deputado que é o líder do Governo, nós precisamos subtrair o Art. 4º do Projeto de lei 410, porque esse projeto de lei com o Art. 4º vai beneficiar muita gente que não teria direito a essas terras, porque são grandes latifundiários que se locupletaram em algum momento da terra pública, da terra devoluta, da terra que é do povo de São Paulo, daqueles que geram riqueza, daqueles que trabalham, daqueles que vivem no estado de São Paulo.

Essas pessoas vão se locupletar através desse Art. 4º de um benefício que vai beneficiar as pessoas que, em tese, foram lá e grilaram a terra, foram lá e ocuparam aquela terra em grandes quantidades de terra. E com isso, nós teremos a diminuição de oferta de terras para os assentados, a diminuição de oferta de terras para os produtores, os pequenos produtores, aqueles que, de fato, produzem o alimento que chega às nossas mesas, aqueles que, de fato, lutam no dia a dia em defesa de uma agricultura saudável, sem veneno, de alimentos para atender a necessidade dos mais pobres.

Então, nós não somos contrários à concessão do título de domínio, o que nós queremos é dialogar com o Governo do Estado de São Paulo para que a gente não permita que a gente fique sem garantias. Nós queremos garantias de que o povo que hoje tem a concessão de uso de suas terras possa continuar vivendo nessas terras, produzindo nessas terras.

Se não colocarmos condicionantes, se não aceitarmos emendas que foram apresentadas por vários deputados, por vários partidos desta Casa, o que nós teremos, de fato, será a concentração de terras, novamente, nas mãos de poucos.

Vocês vão se lembrar do êxodo rural que nós tivemos no passado, no estado de São Paulo e no Brasil afora. Pois é. Isso pode se materializar novamente. Nós não queremos que isso se materialize. Portanto, vamos sim conceder, para quem quiser o título de domínio. Vamos sim conceder para quem quiser o título de concessão de direitos reais de uso.

Que a pessoa possa ter o direito de escolher. Que ela possa ter o direito de escolher o que é melhor para a sua condição pessoal. Que a gente coloque emendas condicionantes, emendas que garantam a continuidade dos assentamentos rurais pelo estado de São Paulo, que garantam a permanência do Itesp, que garantam a permanência da assistência técnica, que garantam que essas pessoas vão ter acesso a crédito, que garantam que essas pessoas continuarão sendo pessoas que têm direitos garantidos por esta Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Nós não concordamos com esse projeto como ele está. Nós queremos melhorá-lo. Nós queremos que as nossas emendas sejam aceitas pelo governo de São Paulo para que nós possamos melhorar e possamos sim dar o título de domínio. Mas que as garantias de que essa área será preservada, na condição de assentamentos rurais, isso é fundamental. Portanto, nós queremos negociar com o governo de São Paulo.

Muito obrigada, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Obrigado, deputada. Com a palavra, para falar contra, deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CAIO FRANÇA - PSB - PARA COMUNICAÇÃO - Presidente, eu gostaria de aproveitar essa oportunidade, com o plenário com diversos parlamentares, para fazer um apelo a todos os colegas. Eu tenho protocolado, desde 2019...

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Um momento, deputado. Deputado Paulo Fiorilo, deputado Major Mecca, só um minuto de atenção com o nosso deputado Caio França, porque ele quer fazer uma comunicação que eu acho pertinente. Não é sobre o projeto, mas é um projeto dele que está aqui. Nós vamos discutir isso no Colégio de Líderes, segunda-feira. Pois não, deputado Caio.

 

O SR. CAIO FRANÇA - PSB - Obrigado, presidente, mais uma vez agradecendo a gentileza de Vossa Excelência. Tenho protocolado, desde 2019, um projeto de lei que autoriza o Governo do Estado a incluir medicamentos à base da Cannabis no SUS. Todos estão - acredito eu - acompanhando os avanços que a Medicina proporcionou. Nós precisamos colocar o estado de São Paulo na vanguarda desse assunto.

Eu não trato de plantio. Obviamente, não trato de uso recreativo. Eu trato é de incluir os medicamentos, que já são autorizados pela Anvisa, no rol de medicamentos fornecidos pelo SUS aqui em São Paulo. Esse projeto está parado na CCJ desde 2019. Foram 13 pedidos de vista já.

O que quero fazer é um apelo aos colegas, que é o seguinte: todos os projetos dos colegas deputados, por mais que eu tenha divergência no mérito, eu aceito colocá-lo para votar aqui. E quando for necessário, eu voto contra o projeto. Então, eu gostaria de pedir aos colegas que a gente possa votar esse projeto.

Eu fiz um apelo ao presidente para que ele posa pautar a urgência dele na semana que vem. É um assunto que eu tive a coragem de trazer, mas que outros colegas me incentivaram a colocá-lo aqui. Portanto, eu quero fazer esse apelo a Vossas Excelências.

Eu já trouxe milhares de pessoas, de histórias, de relatos de famílias que usam a Cannabis medicinal para diversas patologias. Para convulsões, epilepsia, Parkinson, entre outras doenças. A gente pode dar melhor condição de vida para a pessoa e para as famílias.

O Governo do Estado já faz o fornecimento desses medicamentos, só que exige uma decisão judicial. Não é justo com as famílias tanta burocracia. Para o Estado, além de tudo, é um atraso, porque não consegue fazer o planejamento de uma compra maior, em relação a esse assunto. Portanto, quero fazer esse apelo.

Peço que o presidente, com a sua capacidade democrática de ouvir os demais colegas, possa pautar a urgência dele. Assim como eu, várias vezes, já votei a urgência de projetos que eu não concordava e quando chegava aqui no plenário, eu me manifestei contra. É só isso. Eu agradeço a sua gentileza, presidente, e também ao deputado Giannazi.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Obrigado, deputado Caio. Um minuto só, deputado Giannazi. Eu só pedi para o deputado Caio fazer essa explicação porque eu não havia lido o projeto e eu tinha entendido que falava sobre plantio, e não é nada disso. É um projeto apenas autorizando a usar no Sistema Único de Saúde, que informação eu vou atrás, que a Anvisa já aprovou esse tipo de medicamento para uso medicamentoso. Parabéns, deputado Caio.

 

O SR. CAIO FRANÇA - PSB - Obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Ao menos para informação dos nossos pares.

 

O SR. CAIO FRANÇA - PSB - Sr. Presidente, se me permite, existem outros colegas deputados que são coautores também do projeto. Então, eu não estou sozinho nesta, tem outros colegas que estão junto conosco nesta jornada.

Obrigado, presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Obrigado. Desculpe, deputado Carlos Giannazi. Para falar contra, deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, público aqui presente, telespectador da TV Assembleia, primeiramente quero saudar mais uma vez a presença dos oficiais de Justiça aqui no Plenário, aqui na Casa hoje, conversando com os deputados, alertando os deputados sobre a gravidade e a injustiça do PL 752, um projeto de lei que ataca os direitos, a dignidade e a sobrevivência desses profissionais, que reduz drasticamente o ressarcimento das diligências. Isso é muito grave.

Como eu disse anteriormente, os oficiais de Justiça já estão com os salários arrochados e defasados há muitos anos aqui no estado de São Paulo. Então, manifesto aqui, em nome da bancada do PSOL, o nosso total repúdio ao PL 752, dizendo que nós vamos obstruir e votar contra esse famigerado PL 752. (Palmas.) Obrigado.

Aproveito também, antes de entrar no debate do PL 410, para fazer um apelo aos 94 deputados e deputadas, aos líderes partidários; mais uma vez, apelar ao deputado líder do Governo, deputado presidente Carlão Pignatari, para que nós possamos votar em caráter de extrema urgência o PLC número 37 do abono do Fundeb, logicamente, aprovado com as emendas que foram apresentadas, sobretudo também pelo nosso mandato, incorporando os servidores do Quadro de Apoio Escolar - o QAE, o QSE -, que são profissionais da Educação e podem ser beneficiados com o abono Fundeb.

Lembrando que esse abono Fundeb é determinado por uma lei federal, aliás, pela própria Constituição Federal, e que o Doria não está fazendo favor nenhum. Aliás, esse projeto chegou tardiamente à Assembleia Legislativa. Esse abono já deveria estar sendo pago há um bom tempo; chegou agora, praticamente no final do ano, e mesmo assim ainda não foi aprovado.

Quando é para aprovar uma maldade contra os servidores, como o PLC 26, que retirou direitos dos servidores, daí a Assembleia é rápida, aprova. A base do Governo vem em peso e o projeto é aprovado, como aconteceu com a reforma da Previdência, com o PL 529, com a lei dos precatórios. Agora, quando é algo para beneficiar os profissionais da Educação, então existe uma demora.

Nós podemos fazer isso a qualquer momento, basta que haja o entendimento e que haja o interesse político da Assembleia Legislativa. Então, nós estamos fazendo este apelo público, aqui pela tribuna da Assembleia Legislativa, para que o PLC 37 seja aprovado, votado em caráter de extrema urgência, até porque há um acordo: todos vão votar a favor do PLC 37, é um projeto do Governo.

A oposição vai votar a favor, logicamente que a gente vai querer aprovar as emendas também, então é um acordo dos 94 deputados e deputadas. Votam a favor do PLC, então por que é que ele não foi votado até agora? É um absurdo isso.

Enquanto isso, os nossos profissionais da Educação estão sendo prejudicados, também, porque não tiveram reajuste salarial, não tiveram reposição das perdas inflacionárias, não tiveram a evolução funcional, a progressão.

Tudo foi congelado pela Lei Complementar nº 173, aquela maldita lei do Bolsonaro, que também prejudicou os oficiais de Justiça, que estão na mesma situação, que estão com a evolução funcional ainda congelada até o dia 31 de dezembro. Enfim... então seria o mínimo, porque esse abono pode ser dado, o abono Fundeb.

Enfim, mas eu gostaria de entrar mesmo no debate agora do PL 410, um projeto do Governo Doria que, na verdade, agride, viola a memória do próprio tucanato, do próprio PSDB, que aprovou aqui na Assembleia Legislativa, em 1985, na gestão do Montoro, a Lei nº 4.925. Foi na gestão Montoro. Trata da questão da Itesp, dos assentamentos.

Então, o próprio governo Doria está liquidando, na prática, uma proposta de reforma agrária, de assentamentos, de produção de alimentos, uma proposta que foi construída naquela gestão do Montoro. Este projeto é um escárnio total, é um escândalo, porque, na prática, vai privatizar os assentamentos, vai privatizar a reforma agrária do estado de São Paulo.

Quero saudar aqui o deputado Raul Marcelo, que acompanhou uma grande marcha de assentados no Pontal do Paranapanema. Parabéns, deputado Raul Marcelo. Sei que V. Exa. está engajado nessa luta da reforma agrária do estado de São Paulo, dos assentamentos.

Vossa Excelência marchou com os assentados, vocês vieram até a Capital. É muito importante isso porque os assentamentos feitos no estado de São Paulo com assessoria técnica do Itesp são assentamentos importantes na produção de alimentos saudáveis.

Este projeto de lei não só vai prejudicar os assentados, porque ele privatiza, ele estimula a venda, na verdade. Na prática, é isso que vai acontecer: as pessoas que estão assentadas serão estimuladas a vender as suas terras e essas terras poderão se transformar em condomínios, em áreas de lazer, mas, sobretudo, essas áreas podem se transformar também em grandes latifúndios. Essa é a verdade.

Mas este projeto, além de atacar os assentamentos e todo o histórico dos assentamentos, a produção agroecológica que existe, a produção de alimentos saudáveis, a geração de empregos, este projeto de lei, com a emenda apresentada pelo deputado Mauro Bragato, que foi a emenda citada pela deputada Márcia Lia com muita propriedade... Sei que a deputada Márcia Lia está muito engajada na luta contra esse PL 410. É grave essa emenda, deputada Márcia Lia.

Se o projeto já é ruim do jeito que ele veio, com a emenda piorou, porque escancara de vez que o Doria quer entregar as terras griladas pelos grandes latifundiários.

Ele quer legalizar a grande grilagem. É um absurdo que a Assembleia Legislativa tenha apresentado uma emenda para piorar ainda mais esse PL, ou seja, esse PL 410 está a serviço da grande grilagem, dos grandes latifundiários que ocuparam as terras devolutas do estado de São Paulo.

Ele disfarçou dizendo que queria dar o título de domínio para os assentados. Então, é um projeto que beneficia os grandes latifundiários que ocuparam ilegalmente, que invadiram. Esses invadiram as terras do estado, as terras do povo do estado de São Paulo. É disso que se trata o PL 410. É um disfarce para a grande grilagem.

Os grandes grileiros vão se apoderar de vez dessas terras - é isso, gente, o PL 410 - utilizando os assentamentos, privatizando os assentamentos, destruindo o caráter de cooperativa, de produção de alimentos desses assentamentos, que cumprem um papel fundamental no estado de São Paulo de segurança alimentar, porque uma boa parte da produção de alimentos vem exatamente desses assentamentos do nosso estado.

Então, essa produção de alimentos será extremamente prejudicada, sem contar a questão ambiental. Estamos vivendo uma grande crise climática mundial e no estado de São Paulo.

Tempestades de areia no interior, em várias cidades, incêndios generalizados, sobretudo em áreas ambientais, porque o governo Doria extinguiu o Instituto Florestal, o Instituto Geológico, o Instituto Botânico. Isso só tem aumentado ainda mais a falta de prevenção de incêndios no estado de São Paulo.

Ele estava na COP26 fazendo propaganda enganosa, dizendo que São Paulo tem uma política ambiental. Não tem! Logo que o Doria assumiu, a primeira coisa que ele fez foi transformar a Secretaria do Meio Ambiente em uma subsecretaria de Infraestrutura. Não é mais secretaria, não existe mais uma secretaria do Meio Ambiente. Aqui é secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente. O Meio Ambiente ficou escanteado.

Depois ele extinguiu os institutos que cuidavam do Meio Ambiente no estado de São Paulo e, com isso, mais incêndios, logicamente, porque ele destruiu os institutos. Então, é uma farsa. O governo Doria também... O Bolsonaro, nem se fala; é uma aberração total nessa área ambiental.

Agora, o Doria não é muito diferente. Só que ele disfarça bastante aqui. Então, é bom que as pessoas saibam que ele destruiu toda a política ambiental do nosso Estado, começando pela secretaria do Meio Ambiente.

Então, é grave a nossa situação ambiental. E, com o PL 410, com certeza nós vamos ter mais tempestades de areia, porque a tempestade de areia tem a ver com a monocultura, com o agronegócio, que vai destruindo as terras, deixando desertos e mais desertos de terras. É isso que vem acontecendo, minha gente. Então, é importante que a gente derrote o PL 410.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Pela ordem, Sr. Presidente. Eu quero pedir uma verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Preserva o tempo do deputado Carlos Giannazi, quatro minutos e 30 segundos. Para fazer a chamada, a deputada Marta Costa. Faça o favor, deputada Marta. E o deputado Giriboni.

 

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- Verificação de presença.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - (Voz fora do microfone.) Responderam vinte e quatro? Deputada Bebel, ou nós acreditamos na deputada Marta Costa, ou não. Eu não posso fazer de outra maneira. Perguntei: tem vinte e quatro? Responderam 24 deputados.

Assessoria, por favor. Por favor. Aqui nós temos quórum. Com a palavra, a deputada Márcia Lia. Desculpa, deputado Carlos Giannazi. Desculpa, deputado Giannazi. A Deputada Márcia foi antes. (Voz fora do microfone.) Deputado Teonilio Barba, responderam à chamada 24 deputados. Ou eu acredito em quem está contando, ou não. Eu não conto.

 

O SR. TEONILIO BARBA LULA - PT - Pela ordem, Sr. Presidente. Sobre o tema. O deputado Adalberto Freitas respondeu a chamada pela primeira vez. Saiu do plenário e não respondeu a segunda, presidente. Está ausente do plenário. Só está em 22 deputados.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Tá bom. Obrigado, deputado Teonilio Barba. Com a palavra o deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Terminando a minha intervenção, nos poucos minutos que me restam, eu queria dizer que o PL 410 representa a intensificação da privataria tucana da gestão Doria, do governo Doria, do desgoverno Doria. Agora, atacando até a reforma agrária. Doria só pensa em privatizar, em terceirizar. Só pensa nisso.

Desde o primeiro dia em que ele assumiu o Governo do Estado, é isso, gente. É privataria tucana, pedágios e mais pedágios no estado de São Paulo. Agora mesmo o governo anunciou a instalação de mais sete praças de pedágios na região de São José do Rio Preto, Barretos.

Sete praças naquela região. Engraçado que a Assembleia Legislativa aprova as regiões administrativas, e, em seguida, pedágio nas regiões. Aconteceu em Piracicaba e em vários pontos do nosso Estado.

Agora, é lamentável que a Assembleia Legislativa vote um projeto como esse, o 410, que, além de tudo, vai destruir o Itesp. O Itesp, que já era alvo do governo no PL 529. Todos se lembram da luta que foi na Assembleia Legislativa, junto com os servidores do próprio Itesp, com os assentamentos, com os assentados, para defender o Itesp e retirar o Itesp do PL 529.

Salvamos inicialmente o Itesp, mas o governo, não contente, agora faz um novo ataque. Porque esse projeto, na prática, vai esvaziar as funções do Itesp, o Instituto de Terras, que cumpre um papel muito importante na assistência técnica às famílias, aos assentados, à agricultura familiar. Sem o Itesp, não existiria nada disso. Eles vão, com o PL 410, destruir e esvaziar o Itesp.

É grave essa situação. Então é um projeto que acaba com o Itesp e legaliza a grilagem para os grandes latifundiários que ocuparam, que invadiram. Esses invadiram as terras, grilaram. E ainda vai privatizar os assentamentos. Vai privatizar a reforma agraria do estado de São Paulo, destruindo todo um histórico de lutas.

Repito. Acabar com os assentamentos, privatizar os assentamentos, entregar as terras griladas para os grandes latifundiários significa, na prática, além dos impactos sociais e econômicos, na geração de alimentos.

Nós vamos ter uma insegurança alimentar no estado de São Paulo por conta desse PL 410. Mas nós vamos ter também um ataque brutal ao Meio Ambiente, com a intensificação das tempestades de areia e dos incêndios em várias áreas, sobretudo em áreas ambientais.

Porque eu disse que o governo Doria, além desse Projeto 410, ele destruiu e extinguiu, no PL 529, o Instituto Florestal, o Instituto Geológico e o Instituto de Botânica, que são institutos importantes na preservação e na conservação das nossas áreas ambientais, sobretudo no combate aos incêndios, porque tem a questão do manejo também.  Agora o Doria atacou o Meio Ambiente e continua atacando com o PL 410.

Então, nós vamos votar contrariamente e obstruir a votação do PL 410, que é o projeto da grilagem dos grandes latifundiários. É a privatização dos assentamentos em nome de uma titulação, porque, na verdade, os assentados já têm o domínio desses assentamentos e dessas terras, eles não precisam desse título.

Isso é uma farsa. Na verdade, é uma desculpa para privatizar os assentamentos e para entregar as terras devolutas para os grandes grileiros latifundiários que ocuparam as terras do Estado.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Sebastião Santos.

 

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A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Pela ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - SEBASTIÃO SANTOS - REPUBLICANOS - Pela ordem, deputada Professora Bebel.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Eu quero passar a minha fala para o deputado Raul Marcelo.

 

O SR. PRESIDENTE - SEBASTIÃO SANTOS - REPUBLICANOS - É regimental. Eu quero chamar a Professora Bebel para falar contra e passo a palavra para o deputado Raul Marcelo.

 

O SR. RAUL MARCELO - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Quero, Sr. Presidente, primeiro, agradecer aqui à deputada Professora Bebel. Muito obrigado pela permuta. Eu estou inscrito no final da lista, mas gostaria muito de debater esse tema aqui, porque esse é o tema fundamental do País, que é a situação fundiária no Brasil.

Eu comecei a minha militância política com Plinio de Arruda Sampaio, na Igreja Católica, em Sorocaba, no finalzinho dos anos 80, comecinho dos anos noventa. E o Plinio de Arruda Sampaio foi o relator do primeiro plano de reforma agrária do governo João Goulart e foi o relator novamente do segundo Plano Nacional de reforma agrária do governo Lula, primeiro mandato.

Sob inspiração e orientação do Plinio de Arruda Sampaio - que não está mais entre nós, foi, inclusive, o primeiro secretário de Planejamento de São Paulo do governo Carvalho Pinto no final dos anos 40 -, eu acabei me apaixonando pelo tema da reforma agrária.

E eu queria dizer aqui, Sr. Presidente, que a questão agrária está na raiz de grande parte dos problemas nacionais, sobretudo no problema seminal do Brasil, que é a desigualdade.

O Brasil é um País rico, isso ninguém aqui tem dúvida. Oitava economia industrial do mundo - hoje está em décima segunda por conta da desindustrialização e do câmbio.

Tem oito países no mundo que produzem aviões, o Brasil é um deles. O Brasil tem a Petrobras, consegue prospectar petróleo em águas profundas. O Brasil tem um sistema universitário que é de fazer inveja na América Latina - inclusive no leste europeu.

O Brasil é um País rico. O Brasil é o maior exportador de alimentos do mundo, e, no entanto, seis milhões de irmãos nossos vivem em favelas. É mais do que a população do Rio Grande do Sul.

Neste momento em que vos falo nesta tribuna, muitos brasileiros estão perambulando pelas ruas do nosso País revirando lixo para comer resto de comida. São 20 milhões que sofrem com insegurança alimentar: não sabem se vão almoçar, não sabem se vão jantar, seus filhos sofrem com subnutrição... Uma geração inteira será legada em uma situação de crise individual e uma crise social.

Portanto, o Brasil é um país desigual. E a desigualdade, a origem de toda ela, está na questão da distribuição das terras do nosso País. O Brasil se fez como uma grande empresa comercial, seminal do capitalismo moderno.

Envolveram três continentes: os europeus, sobretudo com o financiamento inglês, e os portugueses, já pioneiros na navegação, buscando o caminho das Índias, chegaram aqui no Brasil; os africanos, com a sua mão de obra escrava.

E os indígenas, que aqui estavam, que, durante cinco mil anos - é importante que se diga -, plantaram e colheram tudo que queriam na nossa Amazônia, no nosso Pantanal e na nossa Mata Atlântica e nunca colocaram fogo em nada, nunca destruíram um riacho, nunca destruíram um lago. Mostraram o caminho para nós de que é possível aqui nos trópicos desenvolver uma economia sustentável.

Vi em uma matéria ontem, inclusive, no Jornal Nacional, a tristeza que está sofrendo hoje a comunidade Yanomami na Amazônia. Crianças indígenas subnutridas, com falta de assistência médica por conta do abandono do atual governo federal.

Pois bem. Quando o Brasil, depois de 350 anos de escravidão e o movimento abolicionista... De um lado, os escravos lutando, abandonando as fazendas, matando latifundiários, lutando por liberdade, incendiando lavouras de trabalho escravo, apoiados por abolicionistas radicais e também trabalhadores já da indústria moderna aqui em São Paulo, sobretudo, conseguiram a maior vitória do povo brasileiro, que foi abolir a escravidão em 1888.

No entanto, os negros libertos não puderam acessar a terra, porque o Brasil foi o último grande país a abolir a escravidão. Os Estados Unidos fizeram isso com Abraham Lincoln, o lenhador advogado, em 1866.

O Brasil somente em 1888. Só que, 38 anos antes, fora aprovada a Lei de Terras. Duas semanas, aliás,  antes da aprovação da Lei de Terras, que fez com que o acesso à terra fosse por meio de pagamento em pecúnia, em dinheiro, duas semanas antes foi aprovada a Lei Eusébio de Queirós, que era a lei que colocava fim, iniciava o fim do tráfico de escravos no Brasil, pressionado pela Inglaterra, que já vinha na Revolução Industrial.

Então, quando nós fizemos, depois de uma luta popular de 300 anos, abolimos a escravidão, o último país, Dom Pedro II, aquela vergonha, esse traste, essa pessoa energúmena, esse que é anti-Brasil, sentou em cima da escravidão e não avançou com a reforma agrária. Um covarde, fugiu para a Europa.

Se copiasse o que o Lincoln fez nos Estados Unidos, a situação do Brasil era outra. Lá, o advogado lenhador avançou com a corrida para oeste e fez a reforma agrária. Aqui, não. Os negros libertos foram para onde, Sr. Presidente? Não tinham dinheiro enrolado em sacos de estopa. Foram libertos, mas, para comprar terras, tinham que ter dinheiro. Subiram os morros do Rio de Janeiro e lá estão até hoje.

Aí veio a Revolução Tenentista, revolução burguesa de 1930. À frente, Getúlio Vargas. Em aliança com a oligarquia de São Paulo, não fez avançar a reforma agrária. E aí eis que aparece essa pessoa na minha vida: Plínio de Arruda Sampaio. Foi o relator da reforma agrária, deputado federal por São Paulo.

João Goulart chamou o Plínio e falou: “Plínio, é hora de o Brasil fazer como a Inglaterra fez, fazer como a Alemanha fez, fazer como a Itália fez, como o Japão fez, os Estados Unidos fizeram. É hora de distribuir a terra deste país para que ninguém viva mais em condições subumanas nas periferias e nas favelas”.

E foi lá o Plínio, desaconselhado pela sua esposa, dona Marieta: “Plínio, mexer com latifundiário é perigoso!”. E ele fez o relatório da reforma agrária. O resto nós sabemos: João Goulart sofreu o golpe, teve que se exilar do País. Hoje, o País se desculpou com ele e sua família e os militares, mais uma vez, sentaram em cima do projeto da reforma agrária.

Aí veio a Constituição de 88, depois de muita luta de rua. Teve até guerrilha no Brasil para redemocratizar este país. Os exilados voltaram. Voltou o Brizola, voltou o Darcy Ribeiro, o Luís Carlos Prestes.

Todos puderam voltar. Aliás, a juventude está conhecendo hoje o Marighella através das telas do cinema, esse que se levantou juridicamente protegido, porque o estado que tira o direito das liberdades, esse estado deve ser combatido. Até os liberais historicamente sempre defenderam essa tese.

E nós redemocratizamos o país, garantimos a Constituição Cidadã do Ulysses, Sr. Presidente, Dr. Ulysses. Escreveu na Constituição Cidadã, no Art. 184: “É objetivo da nação a reforma agrária”. Está lá escrito. E aí veio Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer e o Bolsonaro agora quer armar o campo.

O dado concreto é que, no Brasil, 0,7% dos proprietários rurais têm mais de 60% das terras. A concentração fundiária no nosso país é absoluta. No país que exporta alimentos, o povo passa fome. “Ah, mas o agronegócio emprega.” Não emprega, quem emprega é a agricultura familiar.

Vá conhecer a região de Sinop, viajar pelo Brasil. São grandes máquinas, todas elas subsidiadas com a conta 01 do Banco do Brasil e financiamento do BNDES. Não se paga imposto por exportação, também, de manufaturas no Brasil e de produtos agrários. E aí o Brasil segue essa sina: a reforma agrária não anda, e o Brasil, hoje, está voltando ao século XIX.

Nós nos constituímos, primeiro, para exportar pau-brasil; depois, cana de açúcar, quando o açúcar tinha peso de ouro; depois, cacau; veio o ciclo da borracha; o café, para financiar e fazer as empresas na Inglaterra rodarem 24 horas; hoje é a soja.

Tem também boi esquartejado, galinha esquartejada e porco esquartejado. Essa é a especialização do Brasil hoje no mundo. E as indústrias fechando as suas portas. Todas as roupas que nós vestimos aqui hoje, é tudo do norte da China, da Coreia, Vietnã. Franca, que era a terra do sapato, virou cidade fantasma. Sorocaba era o centro da indústria têxtil no Brasil; hoje os galpões das indústrias têxteis viraram supermercados.

E cada região aqui do estado de São Paulo em que se anda, Sr. Presidente, é terra arrasada em matéria de planta industrial. Inclusive, a obra do Getúlio, eles estão desfazendo. Mas a questão agrária continua lá, mal resolvida no nosso País. E esse PL quer dizer o quê? O Franco Montoro... São coisas curiosas da vida.

O Franco Montoro era do MDB, do “manda brasa”, um homem democrático. Quando era governador, ele pensou em fazer o seguinte: olha, vamos pegar essas terras públicas...

E no Brasil, são milhões de hectares de terras públicas; ninguém ao certo sabe dizer exatamente o tamanho delas, mas os estudos que se fazem dizem que é mais terra do que o estado de São Paulo inteiro. Terras que são do governo, que foram griladas, que poderiam ser convertidas para assentamentos.

Nós poderíamos resolver, hoje, um problema grave no Brasil, que é o problema do emprego, por exemplo. Nós temos aí 50 milhões de desempregados no País. Quinze milhões ainda procuram emprego; sete milhões já não procuram mais; e 30 milhões estão trabalhando de forma precária: trabalha uma hora na segunda, trabalha na quarta-feira, faz um bico no sábado à noite, no domingo não trabalha.

Nós poderíamos ter um projeto pujante para assentar milhões de trabalhadores no campo, para, no mínimo, na pior das hipóteses, ter garantida a sua soberania alimentar, criar as suas galinhas, ter os seus porcos, fazer a sua horta, cobrar a respeito do Meio Ambiente.

Aliás, o assentamento que tem na cidade de Iperó, nós discutimos com o Ministério Público Federal os anos 90 inteiros, que dizia que assentar reforma agrária em área ambiental iria causar desmatamento.

Hoje, está comprovado: o assentamento de reforma agrária da floresta nacional de Ipanema foi fundamental para a preservação da floresta nacional de Ipanema, criou um colchão de proteção da floresta.

O pequeno agricultor não desmata, não polui o rio. Quando faz a pesca, faz para o seu sustento. É o grande, voltado para o exterior, que agora, inclusive, está ganhando um caminhão de dinheiro. Por isso, o desabastecimento do mercado interno, Sr. Presidente, porque o dólar está em seis, e estão ganhando em dólares, com todo o apoio da bancada ruralista em Brasília. São 253 deputados na Frente Parlamentar do Agronegócio.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Carlão Pignatari.

 

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Hoje as oligarquias regionais voltaram a comandar o Brasil. O que se chama de “centrão”, na verdade, é a bancada do agronegócio. Não paga imposto, está em cima de terras; grande parte delas, inclusive, são improdutivas. Agora com apoio do governo para se armar, para defender, inclusive, latifúndio improdutivo, para que esse latifúndio não vá para a reforma agrária.

Eis que nós nos encontramos agora com o PL 410, que tenta desfazer, inclusive, a obra do Franco Montoro, que pensou um dia em usar as terras públicas, que no Pontal do Paranapanema são de perder de vista, para avançar com a reforma agrária.

E hoje nós temos milhares de assentados da reforma agrária, camponeses de mão calejada, que acordam às quatro horas da manhã, têm que ficar na beira de uma estrada anos a fio para tentar conseguir o tão sonhado lote, e não conseguem.

Nós poderíamos ter uma política agrária forte aqui em São Paulo se, de um lado, avançássemos nas ações discriminatórias. O Itesp ganha as ações, mas não tem dinheiro para pagar as benfeitorias. O Itesp, o Doria queria vender. Vamos falar as coisas como são aqui. O Doria queria privatizar, acabar com o Itesp.

Então, o Itesp não tem dinheiro; ganha ação, e não consegue pagar as benfeitorias nas áreas que são áreas públicas, que o grileiro, para poder esquentar o documento, colocou um gafanhoto dentro da gaveta. Esse é o ponto. E não tem o dinheiro, o Itesp. O que o Itesp está propondo? É esse projeto de lei aqui. Não é? Eu estive lá no Itesp, debatendo esse tema.

O Mauro Bragato é conhecedor do assunto, era do MDB. É da região do Pontal, conhece a questão. Quero dizer, Mauro, você foi relator aqui. Tenho um respeito enorme pela sua história, pela sua trajetória. Foi deputado estadual constituinte, responsável pelo 1% do ICMS para a CDHU, responsável também pelo recurso das nossas universidades públicas.

Reconheço sua trajetória, mas acho que, de forma humilde, V. Exa. no relatório poderia ter amarrado melhor essa questão, porque, do jeito que está esse projeto, nós vamos ter a regularização do grilo, não só na região do Pontal, mas em todas as regiões do Estado, que nós temos terras públicas.

É um assunto que não é de menor importância, Sr. Presidente. Muitos trabalhadores rurais estão aqui agora, na Praça da República. Virou acampamento a céu aberto, pessoas morando dentro de caixas de papelão de geladeira, caixa de papelão de televisão, barracas todas arrebentadas.

É um mar de gente morando embaixo de ponte, viaduto, sob sol e chuva, sem nenhuma perspectiva - para concluir, Sr. Presidente -, orando a Deus para que caia alguma política pública do céu. E a reforma agrária poderia ser um alento.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Para concluir, deputado.

 

O SR. RAUL MARCELO - PSOL - Eu quero concluir que esse projeto, do jeito que está, vai acabar regularizando o grilo, porque empurra para uma Portaria essa situação. E também temerário, com a possibilidade de que o assentado possa negociar o seu lote. Então, coloco aqui as nossas observações, acho que esse projeto não deve ser aprovado, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Para falar contra, o deputado Teonilio Barba.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Pela ordem, eu queria suspender por cinco minutos os trabalhos.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Cinco?

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT - Três minutos.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Três minutos.

 

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- Suspensa às 18 horas e 32 minutos, a sessão é reaberta às 18 horas e 37 minutos, sob a Presidência do Sr. Carlão Pignatari.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Reaberta a sessão.

 

O SR. VINÍCIUS CAMARINHA - PSB - Pela ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Pois não, deputado Vinícius Camarinha. Deputada Professora Bebel.

 

A SRA. PROFESSORA BEBEL - PT – PARA COMUNICAÇÃO - Pois não, Sr. Presidente. É o seguinte, nós debatemos e vamos dar uma hora e meia de discutido, além de uma que já debatemos, são duas horas e meia e, ao mesmo tempo, deixar aqui a nossa reivindicação de retirar o jabuti ou alterar o método de votação no sentido de separar as votações. O PL, o Art. 4 e depois as emendas.

 

O SR. VINÍCIUS CAMARINHA - PSB - Pela ordem, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Pela ordem, deputado Vinícius Camarinha.

 

O SR. VINÍCIUS CAMARINHA - PSB - PARA COMUNICAÇÃO -Presidente, a liderança do Governo fez um entendimento com os líderes aqui no plenário para nós darmos como duas horas e meia de discutido o projeto, somando todas as horas, e voltarmos, caso V. Exa. entenda dessa maneira, a discutir esse projeto na terça-feira que vem.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Ok. Deputada Janaina Paschoal, do PSL, está de acordo?

 

A SRA. JANAINA PASCHOAL - PSL - Sim, presidente, principalmente havendo método destacando o quarto.

 

O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Deputada Marta Costa de acordo pelo PSD, deputada Professora Bebel pelo PT. Deputado Carlos Giannazi pelo PSOL está de acordo. Deputado Conte Lopes, pelo PP, de acordo.

Deputado Ricardo Madalena, pelo PL, de acordo. Deputado Mauro Bragato, pelo PSDB, de acordo. Deputado Walter Vicioni, pelo MDB, de acordo. Deputado Reinaldo Alguz, pelo PV, de acordo. De acordo o deputado Marcio da Farmácia, do Podemos. De acordo. Já falei o deputado Giannazi.

Então, havendo acordo de todos os líderes... Antes, deputado Sebastião Santos pelo Republicanos, de acordo.

Antes de darmos por encerrado, nos termos do Art. 100, inciso I do Regimento Interno, convoco V. Exas. para uma segunda sessão extraordinária, a realizar-se hoje, dez minutos após o término da primeira sessão, com a finalidade de ser apreciada a seguinte Ordem do Dia:

 

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- NR - A Ordem do Dia para a 28ª Sessão Extraordinária foi publicada no D.O. de 17/11/2021.

 

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O SR. PRESIDENTE - CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Em ambos, já por acordo, nós vamos receber as emendas e amanhã, no congresso de comissões... Eu já quero convocar os congressos de comissões.

Assim que terminar, nós convocaremos o congresso de comissões, por favor, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, para amanhã, às 11 horas da manhã, as comissões CCJ, CFOP. Eu vou convocar daqui a pouco, mas amanhã, às 11 horas, de maneira virtual.

Encerrado o objeto, está levantada a presente sessão. Muito claro que o Projeto nº 410, de 2021, dá 2 horas e 30 minutos de discussão. Encerrada a presente sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 18 horas e 41 minutos.

 

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