18 DE OUTUBRO DE 2021

6ª SESSÃO SOLENE PARA OUTORGA DE COLAR AO PROF. JOSÉ ALEX TRAJANO

Presidência: JOSÉ AMÉRICO LULA

 

RESUMO

 

1 - JOSÉ AMÉRICO LULA

Assume a Presidência e abre a sessão.

 

2 - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA

Mestre de cerimônias, anuncia a composição da Mesa.

 

3 - PRESIDENTE JOSÉ AMÉRICO LULA

Informa que a PRESIDÊNCIA efetiva convocara a presente sessão solene, para a "Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Professor José Alex Trajano", por solicitação deste deputado, na direção dos trabalhos.

 

4 - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA

Mestre de cerimônias, convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro", reproduzido pelo Serviço de Audiofonia da Casa.

 

5 - PRESIDENTE JOSÉ AMÉRICO LULA

Diz ser uma honra homenagear um educador. Discorre sobre o desenvolvimento da Coreia e o grande investimento na educação de crianças e jovens. Afirma ter sido esta a vantagem comparativa do país. Ressalta que o Estado de São Paulo foi o mais educado do País. Destaca o surgimento da primeira escola técnica, e da USP, neste Estado. Lamenta que os investimentos educacionais em São Paulo tenham decaído nos últimos anos, sendo hoje superados por diversos estados brasileiros. Esclarece que a educação somente foi colocada na plataforma de governo pela primeira vez no governo de Juscelino Kubitschek. Ressalta as características do homenageado, José Alex Trajano.

 

6 - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA

Mestre de cerimônias, faz a leitura do curriculum do homenageado.

 

7 - PRESIDENTE JOSÉ AMÉRICO LULA

Faz a entrega do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao Sr. José Alex Trajano.

 

8 - JOSÉ ALEX TRAJANO

Professor e presidente da Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos, membro do Conselho Municipal de Educação e Cultura de Mauá e membro fundador e presidente da Academia Mauaense de Letras e Artes Paulo Freire, agradece o deputado José Américo pela oportunidade e a todos os presentes na Mesa. Diz ser esta uma homenagem a todos os professores e educadores brasileiros. Discorre sobre sua área de atuação. Conta sua trajetória, desde a infância, no Nordeste, até a chegada em Mauá. Defende a educação para todos. Lembra a fundação da associação comunitária, na sala de sua casa. Afirma que devem lutar para um Brasil cada vez melhor.

 

9 - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA

Mestre de cerimônias, anuncia apresentação musical de Mírian Warttusch, com a música de sua autoria, "Luar de São Paulo".

 

10 - JOSÉ AMÉRICO LULA

Elogia o discurso consistente do homenageado, José Alex Trajano, mostrando seu compromisso com a Educação. Discorre sobre a superação de dificuldades na alfabetização tardia. Comenta a trajetória do homenageado. Afirma que quem faz história é quem tem iniciativa. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. José Américo Lula.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - Boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao professor José Alex Trajano.

Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelo canal Alesp, no YouTube.

Convidamos para compor a Mesa Diretora o deputado estadual José Américo. (Palmas.) O professor José Alex Trajano, presidente e professor alfabetizador da Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos, membro do Conselho Municipal de Educação e Cultura de Mauá, membro fundador e atual presidente da Academia Mauaense de Letras e Artes Paulo Freire. (Palmas.) A professora mestre Adriana Rieger. (Palmas.) A escritora e compositora acadêmica Mírian Warttusch. (Palmas.) A Sra. Ana Beatriz Jimenez, assessora jurídica, representando o gabinete do deputado José Américo. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ AMÉRICO LULA - PT - Sob a proteção de Deus iniciamos os nossos trabalhos nos termos regimentais. Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene atende minha solicitação, deputado estadual, com a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao professor José Alex Trajano.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - Convido a todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

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- É reproduzido o Hino Nacional.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - Neste momento ouviremos as palavras do deputado estadual José Américo.

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ AMÉRICO LULA - PT - Obrigado, querida.

Boa noite a todos e a todas, aos componentes da Mesa. Deixa eu pegar a minha... Queria, bom, em primeiro lugar, destacar a professora Adriana Rieger. Professora, foi muito bom que você tenha vindo, tive um prazer muito grande em te conhecer.

A Mírian Warttusch... Warttusch. Não é Warttusch? Warttusch, que é compositora acadêmica. Também fiquei conhecendo você, muito bom que você tenha vindo.

A minha querida Ana Beatriz Jimenez, que é a nossa assessora jurídica. Os amigos, os homenageados que estão aqui e o pessoal que acompanha pelas redes sociais e pela TV Assembleia.

Nós estivemos, praticamente até a semana passada, atuando de forma virtual; a partir da semana passada é que nós passamos a atuar de forma presencial. Mesmo a Assembleia está tendo dificuldade para ter quórum, porque ficou durante muito tempo só em sessões virtuais. As comissões, hoje, continuam sendo virtuais, então a gente está retomando aqui. Este ato, inclusive, é uma sessão presencial, isso é muito bom.

Eu queria destacar o professor Alex Trajano, homenageado da noite, que é o presidente da Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos. Bom, o Alex...

Eu queria, em primeiro lugar, dizer que para mim, viu Alex, é uma honra estar homenageando um professor como você, que é um educador, é um professor no sentido amplo da palavra, uma pessoa preocupada com a educação das crianças, dos jovens. Isso é muito importante.

Eu queria contar uma pequena história de quando eu era criança. Lá pelos anos 60, tinha mais ou menos uns dez anos, doze anos que tinha terminado a guerra da Coreia.

Os Estados Unidos e os países da chamada “Aliança do Atlântico” apoiaram a Coreia do Sul contra a Coreia do Norte; impediram que a Coreia do Norte, que os comunistas, tomasse conta da Coreia.

Enfim, foram lá no chamado paralelo 19 e teve uma guerra pesada. Os Estados Unidos inteiro vieram, digamos, colocando como comandante do seu exército um dos heróis da Segunda Guerra Mundial, o general Douglas MacArthur.

Mesmo assim, os chineses acabaram expulsando os americanos de uma parte da Coreia. Sobrou uma pequena parte da Coreia do Sul, que ficou, digamos assim, do lado capitalista.

Bom, então, todas as vezes em que tinha uma pessoa muito esfarrapada, (Inaudível.): “Ah, esse cara veio da Coreia”. Coreia era sinônimo de gente esfarrapada, pobre, faminta, desacreditada.

Bom, vamos lá, isso é anos 60. Cinquenta anos depois, gente, o que é a Coreia? A Coreia é um dos países mais industrializados e mais ricos do mundo. Um país “chiquitito”, do tamanho do estado de Pernambuco - foi o que sobrou ao sul do paralelo 19.

Bom, muita gente fala: “Bom, mas eles construíram estradas, vias férreas”. Também, mas outros países também construíram estradas e vias férreas. Aonde está a diferença comparativa da Coreia com o resto do mundo? Por que é que a Coreia se desenvolveu tanto e outros não se desenvolveram?

“Não, mas o capital americano...”, aí alguém dizia “Não, o capital americano teve em outros lugares também”. O capital americano teve em várias regiões do mundo e elas não se desenvolveram, mas a Coreia se desenvolveu. Por quê? Porque a Coreia investiu em educação.

Era essa a vantagem comparativa: a Coreia já tinha uma tradição educacional diferenciada e ela investiu maciçamente em educação, em educação de crianças e jovens.

Então, essa foi a grande diferença comparativa da Coreia. Trinta, quarenta anos depois, tem uma mão de obra altamente qualificada, que é base para o desenvolvimento industrial.

Se vocês olharem o estado de São Paulo em relação ao Brasil, é mais ou menos a mesma coisa: o estado de São Paulo foi um estado que começou a ser desenvolvido lá em 1560, 1580, depois foi esquecido, porque infelizmente, ou felizmente, as minas não estavam aqui.

O chamado “Eldorado brasileiro” estava em Minas Gerais e Goiás. Inclusive, tem um livro do Renato Pompeu de Toledo sobre São Paulo que fala assim: “São Paulo, a Capital da solidão”, porque ficou de 1650 até 1850 com a mesma população.

Ficou praticamente esquecida a cidade, aí o ouro começou a ir direto para Paraty, etc. Bom, aí São Paulo recebe uma imigração europeia - 1860, 1870. Essa imigração europeia tinha uma diferença dos outros estados.

Primeiro, ela não era de população escrava; ela era semiescrava, mas não era escrava, e trazia uma cultura relacionada com a educação. O imigrante paulista queria educar os seus filhos.

Então, é por isso que São Paulo se desenvolve de uma maneira tão rápida e vai nos surpreender 70, 80 anos depois, no pós-guerra, como o estado mais educado do Brasil. Foi ele que recebeu as grandes indústrias; as montadoras vieram para cá, não vieram à toa.

São Paulo, em 1942, montou um Senai na Feira Nacional da Indústria. Trouxe um suíço chamado Roberto Mange, que montou o Senai. Montaram a primeira oficina do Senai, a primeira escola, para mostrar para todo mundo como que tinha que estudar, que as crianças tinham que estudar, tinham que aprender.

São Paulo tinha tido também a primeira escola técnica em 1907, tinha tido a USP em 1930. Nos anos 30 você tinha tido a USP e você tinha uma escola primária e um ensino médio extremamente qualificados.

Era para poucas pessoas, a gente sabe disso. Para poucas pessoas, porque, afinal de contas, tinham os vestibulares, tinha lá...

Como é a história? Agora eu não me lembro mais o nome. Mas tinha o admissional para você entrar no colegial e tal, né? É, o ginasial também tinha uma espécie de concurso para entrar. Só que eram boas escolas. Então, São Paulo sai na frente do Brasil também por isso. Mas parece...

O ser humano é muito de ir para frente e para trás, e o ser humano que nasce, assim, nessa região aqui nossa, né, abaixo do Equador, é mais assim ainda, né, porque... Então, tem muito essa coisa de que, de repente, a Educação deixou de ter tanta importância, né?

Então nós vimos que os investimentos educacionais no estado de São Paulo decaíram nos últimos 50 anos, e nos últimos 30, decaíram muito. No Brasil, nem se fala, mas no estado de São Paulo, decaíram muito. E São Paulo começa a perder a chamada “corrida educacional”, que São Paulo sempre esteve na frente, não é isso?

São Paulo sempre esteve na frente. Hoje, São Paulo é superado por estados como Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro... O estado do Rio de Janeiro - que eu adoro - é um estado quebrado, arrebentado por várias coisas que a gente sabe. E no entanto, o Piauí é pobre, saiu na nossa frente.

Então, eu acho que a homenagem ao Alex, na minha opinião, é uma homenagem à Educação brasileira, à Educação do estado de São Paulo. É um alerta que nós estamos dando assim: “Olhem para a Educação, olhem para as nossas crianças, para os nossos jovens”.

Aqui temos um jovem que é educador, que é apaixonado por ensinar, é apaixonado por métodos de ensino, é apaixonado pelo Paulo Freire, que também encontrou, no centenário de Paulo Freire, uma forma de homenagear Paulo Freire.

Por isso que eu acho importante. Eu me sinto bastante convicto, bastante feliz de trazer o Alex, porque o Alex não é o professor, o Alex é um pouco mais que o professor: é o educador.

É a pessoa que pensa, que dá aula, mas que pensa também no método de ensino, na estratégia para trabalhar com os alunos; não está muito ligado a uma faixa etária, tanto para criança quanto para jovem, é a área dele, mas também se tiver que discutir com os universitários, também discute.

Então, é o educador, né? Eu acho que é esse tipo de gente que faz falta hoje, como faz falta para nós educadores do passado, como vários que nós tivemos, o próprio Paulo Freire, outros educadores que nós tivemos no Brasil.

Na sua área musical... Você se lembra? Eu não me lembro, mas eu estudei. O Villa-Lobos montou os “Orfeões”, ou seja, eram Orfeus, que era uma espécie de coral em centenas de milhares de escolas no Brasil. Isso nos anos 50. Como que ele conseguiu montar e a gente não consegue montar hoje?

O Mário de Andrade, em São Paulo, quando foi secretário da Cultura, montou cursos de teatro em todas as escolas. Por que a gente não consegue montar hoje, né? Isso para falar em coisa que são, digamos assim, complementares ao ensino.

Nós tivemos grandes educadores no estado de São Paulo, grandes professores, né? Eu mesmo conheci alguns. Eram professores maravilhosos. Na verdade, isso está sendo deixado meio de lado.

O sujeito que vem assim, quer discutir método de ensino, quer discutir: “Como que vou formar pessoas, como que vou montar um curso?” e etc., é meio que deixado de lado, né? Meio chato, não precisa disso, né? Talvez construir uma estrada seja mais fácil.

É isso. Queria que o Alex entendesse disto: para mim, tem muito a ver com a homenagem a um educador, homenagem à Educação, e aí entra a Educação, entra o centenário de Paulo Freire e tudo. Eu queria que você sentisse isso, que você entendesse isso por aí.

Bom, nós tivemos, no estado de São Paulo, muita coisa boa, muita coisa ruim, mas este estado foi um dos poucos que investiu em Educação antes dos anos 30, antes dos anos 40.

O primeiro presidente da República que colocou, na sua campanha eleitoral, a Educação como prioridade foi o Juscelino Kubitschek de Oliveira, vocês acreditam nisso? Antes, nenhum tinha posto a Educação como prioridade.

Veja só que coisa impressionante. Depois reclama que a gente andou pouco, né? Claro. Tipo assim, mesmo que fosse para não fazer, mas eu digo assim, o presidente que colocou na sua plataforma de governo a Educação, foi Juscelino Kubitschek nos anos 60, já, final dos anos 50, começo dos anos 60. Antes, nenhum tinha posto.

O Getúlio Vargas não pôs, o Washington Luiz não pôs, nenhum deles. O Washington Luiz falava em estrada. Pegasse a estrada e colocasse na cabeça dele. Estrada não traz desenvolvimento. Estrada não traz desenvolvimento.

O que traz desenvolvimento é a educação de crianças, jovens e adultos. Isso traz desenvolvimento, isso é uma vantagem comparativa. Se o estado de São Paulo retomar a Educação - e o Brasil retomar a Educação -, nós vamos chegar, nos próximos 10, 15, 20 anos, em um País desenvolvido, avançado. Se a gente não fizer isso, nós vamos andar para trás como um caranguejo.

Bom, eu queria terminar com um pouco de otimismo. Eu acho que um jovem como Alex Trajano ser tudo isso que a gente está falando... Ele tem uma formação sólida em Educação, ele é muito inteligente, ele é dedicado, determinado, mas não é só isso, gente, é a iniciativa e a vontade que ele tem, né? Isso é o grande diferencial. Alex, por você, essa bandeira é uma bandeira que você vai carregar.

Você é muito mais jovem que a gente, você vai carregar. Eu acho que você representa o futuro neste estado, porque você traz de volta essa preocupação e essa paixão pela educação.

Então, fico muito feliz de estar aqui com você, de ser seu amigo, extremamente feliz. Então, uma salva de palmas ao Alex, muito obrigado por ter aceito nossa homenagem, Alex. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - O Colar de Honra ao Mérito Legislativo é a mais alta honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Foi criada em 2015, e é concedida a pessoas naturais ou jurídicas, brasileiras ou estrangeiras, civis ou militares, que tenham atuado de maneira a contribuir para o desenvolvimento social, cultural e econômico de nosso estado, como forma de prestar, pública e solenemente, uma justa homenagem.

O homenageado, Professor José Alex Trajano, nasceu em 31 de janeiro do ano de 1995. É natural de Água Branca, no sertão da Paraíba. Seu maior sonho era saber ler e escrever.

Aos 16 anos pediu para sua mãe que fosse emancipado, e com isso fundou a Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos, entidade que tem como objetivo promover a educação de jovens e adultos. Desde a sua fundação, já atendeu aproximadamente 500 pessoas.

Formou-se em Pedagogia, pelo Centro Universitário Anhanguera de Santo André, pós-graduado em Docência do Ensino Superior e Educação de Jovens e Adultos, pela faculdade Venda Nova do Imigrante.

Há oito anos faz parte do movimento de alfabetização de jovens e adultos do ABC, e foi também instrutor do curso de Economia Solidária.

Trabalhou com o projeto Mais Educação. Lecionou para a Educação de jovens e adultos pelo programa de alfabetização e inclusão, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.

Acumula diversos prêmios e homenagens em prol da Educação e Cultura. Incansável batalhador, o Sr. Alex Trajano.

Chamamos à frente o deputado estadual José Américo e o homenageado, o Professor. José Alex Trajano, para que seja outorgado o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - Com a palavra, o homenageado, o professor José Alex Trajano.

 

O SR. JOSÉ ALEX TRAJANO - Primeiramente, boa noite a todos, todas e todxs. Para mim é um motivo de muito orgulho estar aqui neste momento, esse sentimento alvissareiro de anunciar essas boas novas, de acreditar na Educação. É o que tenho feito desde os 14 anos de idade.

Gostaria muito de agradecer ao Exmo. Sr. Deputado José Américo, por essa grandiosa oportunidade, a minha querida e amada mestra, que muito me ensinou, porque nós somos conduzidos, sim, por mestres.

E eu tenho muito orgulho, Adriana Rieger, de ter sido o seu educando. A nossa relação foi além dos muros da sala de aula. A nossa prática se validou além da teoria. Muito obrigado por tudo.

E a minha querida e amada amiga, companheira de tantas horas, momentos de que eu tenho tanto orgulho, Mírian Warttusch, essa mulher maravilhosa, que tem acompanhado aí, há seis anos, tem se esforçado tanto à frente dos trabalhos da Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos.

E também não poderia deixar de agradecer  à Exma. Sra. Dra. Ana Beatriz, que tem sido uma pessoa tão generosa comigo, tão atenciosa.

Parabéns, viu, José Américo, pela grande mulher que está ao seu lado, conduzindo os trabalhos. Obrigado, viu, doutora.

Esta homenagem, como o José Américo disse, realmente não é só para o Alex, mas, sim, para todos os professores, para todos os educadores da Nação brasileira.

José Américo reforça aí uma questão muito importante, que eu também defendo, que é questão de ser além de professor. E aqui eu chamo a atenção às palavras de Rubem Alves. Rubem Alves nos diz que professor existe aos milhões, mas professor talvez esteja condicionado a ter um diploma acadêmico.

Nós devemos ser muito além. Devemos ser educadores. E por quê? Educador é aquele que trabalha o desejo que emana e transcende da alma, o compromisso ético com a formação cidadã, formação conscientizadora político-reflexiva-ética, que nos chama também a atenção o grande mestre, o grande filósofo e patrono da Educação brasileira, Paulo Freire.

A Educação é um ato de amor, é impregnar-se de sentido. E só faz sentido porque tem que ter amor envolvido, tem que ter solidariedade. É olhar para o outro; é compreender a bagagem que o outrem traz consigo e influencia na construção do eu.

Pois bem, eu não poderia também deixar de agradecer a minha mãe. Primeiramente a Deus. A minha mãe, que nunca desistiu de nós. Como foi lido, sou nordestino sim com muito orgulho.

Nasci na cidadezinha de Água Branca, no agreste paraibano. Uma cidadezinha de aproximadamente 10.500 habitantes. Vim da roça. Sei o que é ter o feijão e faltar o arroz, ter o café e faltar o açúcar, mas ter a esperança de dias melhores.

Ter a esperança da chegada de coisas boas, porque nós sempre sonhamos porque somos brasileiros, porque temos na nossa veia esse sangue, essa esperança, mas não qualquer esperança. Não esperança de espera, como nos diz Paulo Freire, mas esperança do verbo esperançar, de ir atrás, de mover-se e é movendo-se como gente que me movo como educador, porque é o amor que vai além.

Vindo desse contexto grande parte de minha família, infelizmente, não teve a oportunidade de adentrar a um espaço escolar. Não tinha escolha: ou estudava ou estudava. Não podia optar entre estudar e trabalhar, porque o estudo não era importante neste momento. O importante era manter-se vivo.

Então a escola foi ficando de lado. Mudamos para São Paulo no ano de 2002. Viemos com um grande sonho: de que tudo seria bonito. A grande selva de pedras que é São Paulo, a grande selva de esperança para muitos, foi quem nos acolheu. A cidade de Mauá, que devo muito a essa cidade, amo de coração, foi muito importante na minha trajetória.

Lá comecei no ano de 2002, aos sete anos também, a estudar. A primeira vez que pisei em um ambiente escolar de fato e ali me deparei com uma das pessoas mais importantes da minha vida que faço questão de dizer, que foi a minha professora Célia Aparecida Portilho. A professora Célia como foi mencionado era muito além de professora. Era uma grande educadora, se preocupava muito comigo.

Eu era uma criança que tive muitos problemas no processo de ensino-aprendizagem devido a algumas complicações familiares. E o que era torturante: olhar em minha volta e ver que todas as outras crianças liam e eu não.

E a professora sempre estava ali de braços abertos e aquele sorriso muito grande me abraçando e dizendo: “Vamos porque é possível. Vamos porque chegaremos lá”. E por ironia do destino o meu primeiro livro o título era: “Eu chego lá”. Olhe só, estou aqui, estamos aqui contando essa história.

E quando me alfabetizei então aos nove anos de idade, no ano de 2004, percebi a importância do ato de ler e escrever como prática libertadora, emancipadora e concomitantemente transformadora, que possibilita ao indivíduo a sua libertação, a sua inserção, mas não pode ser qualquer educação.

A educação tem que fazer sentido para a vida. A educação tem que ser uma educação ontológica, ou seja, pensada no ser, com o ser, para ser. Uma educação peremptória, pragmática, que possibilite que o indivíduo seja capaz de denunciar e anunciar as injustiças, que é o mais que nós precisamos.

Porque no atual desgoverno que vivemos, que vivenciamos, há uma complexidade e uma inversão de valores muito grande, onde nós temos um retrocesso educacional. Desde a primeira Constituição Imperial, Art. 179, inciso XXXII, a educação já era prevista como direito para todos. Hoje, 2021, na prática, ainda estamos estudando que todos e como implantar.

Então tem que lutar muito, muito, e lutar a cada dia, porque nós somos seres inacabados e precisamos sempre continuar lutando. Como diz Mikhail Bakhtin, grande estudioso: “Somos seres com acabamento provisório”. O que achávamos que sabíamos ontem, daqui um minuto, uma hora, já mudou.

Paulo Freire reafirma que somos seres inacabados e há mais de 3.000 anos atrás o filósofo Sócrates dizia: “Só sei que nada sei”. Se eu sei que nada sei é porque preciso saber que preciso buscar e nada saberei, porque se amanhã partir daqui não levarei o conhecimento que contei com ele. E a mudança se faz mister, se faz necessária em todos os âmbitos.

Eu tenho uma relação muito boa com o José Américo. Depois de tanto tempo, é tão gratificante, deputado, encontrar alguém que seja realmente idôneo, que realmente ouça e que não passe a mão nas coisas erradas e que esteja disposto a construir, porque se nós temos também o que nós temos hoje, esse desgoverno - a gente já conversou sobre isso - nós também levamos atribuições a essa falsa esquerda fajuta que muitas vezes diz ser e não é.

Precisamos analisar a nossa estrutura. Muitas vezes não ouvimos realmente o que queremos, mas nós precisamos aprender. Não é, Dra. Beatriz? Precisamos ir além, precisamos buscar essa mudança se realmente queremos mudar algo.

Não é amaciar o ego de ninguém e sim, buscar a transformação para uma Educação que realmente seja de todos, para todos, visando o todo. Não, alguns. Porque a pátria amada só é amada quando realmente ela ama a todos, e ela oportuniza que todos possam ter direito aos seus direitos. Não somente a alguns.

Então é por isso, tão somente por isso, que eu acredito. E, frente à Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos, fundada aos 14 anos de idade, dentro de minha casa, tudo começa com um sonho. Esse sonho realmente inicia-se com sete pessoas, em uma sala de madeira, chão batido, e tábuas improvisadas como as primeiras carteiras.

Naquele dia, nascia o sonho. E esse sonho se concretizava, se formalizava. E hoje já somos mais de 500 pessoas alfabetizadas. Pessoas estas que sofrem dois tipos de preconceito.

Primeiro, por serem analfabetos, viverem na obscuridade. Segundo, por grande maioria serem idosos e, infelizmente, pertencerem a uma sociedade que não valoriza a bagagem das pessoas que trazem consigo essa herança.

Ali comecei alfabetizando. O público foi envelhecendo. Até chegar a um ponto que a maioria realmente foram idosos, na faixa etária de 60 a 85 anos de idade. Que tinham como sonho, tão somente, assinar o seu nome, primeiro ato de cidadania, e marca de existência do sujeito na sociedade.

Por meio dessa alfabetização libertadora que nos propõe o mestre Paulo Freire, adentram e gozam dos seus intrínsecos direitos como cidadãos e cidadãs, e compreendem seus deveres, também como tal. Então é a favor dessa Educação, é a favor da escola pública de qualidade, que valorize a bagagem que esses indivíduos trazem consigo, que eu luto.

Este ano, ano do centenário do nascimento de Paulo Freire, que tem sofrido também grandes ataques, nós, da Associação Comunitária Educacional Cícera Tereza dos Santos, estamos promovendo o evento “Dialogando com Paulo Freire - Novos Desafios para um Novo Tempo”. Inicia-se amanhã. Serão 19, 20, 21 e 22 de outubro, e 4 de novembro, por meio do canal do Youtube da Acects.

José Américo também vai acompanhar, juntamente conosco, esse grandioso evento, onde nós temos grandes expoentes da Educação, e mais de 1.500 inscritos para participarem desse momento.

Realmente, educar não é transferir conhecimento. Ninguém educa ninguém. Ninguém educa a si mesmo. Os homens e mulheres se educam entre si, como nos dias de Paulo Freire.

Que tenhamos esperança, que nós possamos continuar lutando para um Brasil cada vez melhor. Então eu gostaria assim de agradecer imensamente o José Américo e a todos vocês, por essa grande oportunidade. Estamos juntos na construção de uma pátria educadora.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ AMÉRICO LULA - PT - Muito bem.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - Nós ouviremos agora a escritora e compositora acadêmica, Mírian Warttusch, que vai homenagear essa solenidade, interpretando uma música de sua autoria, “O Luar de São Paulo”.

 

A SRA. MÍRIAN WARTTUSCH - Boa noite a todos. Eu trouxe o “playback”, mas como nós não tivemos oportunidade de ver o som, eu vou tentar cantar à capela para vocês, “O Luar de São Paulo”. Porque eu tenho oito décadas de São Paulo.

Nasci aqui, me criei, e aqui continuo. Fui homenageada em Mauá, pelo meu trabalho também, como cidadã mauaense, mas sou paulista. Então, para vocês, “O Luar de São Paulo”.

 

 

* * *

 

- É feita a apresentação musical.

 

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A SRA. MÍRIAN WARTTUSCH - Eu fico meio tímida quando não tem acompanhamento, mas acho que me saí...

 

 A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - ISABELA ARAÚJO DE SOUZA - Para suas considerações e encerramento desta solenidade, com a palavra o deputado estadual José Américo.  

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ AMÉRICO LULA - PT - Bom, estamos encerrando a cerimônia. Eu acho que o Alex fez um discurso muito consistente, mostrando seu compromisso com a Educação de um ponto de vista amplo, e não de um ponto de vista mesquinho, pequeno. E acho que isso é muito importante.

Eu acho que tem algumas pessoas que superam todas as dificuldades, viu, Alex. Você pega algumas pessoas assim, alguns dirigentes da humanidade, que aprenderam a ler e escrever muito tarde, porque afinal de contas a educação, no sentido amplo da palavra, é uma coisa que era da elite e virou algo mais popular um pouco antes da Segunda Guerra.

O Nikita Khrushchov, secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, primeiro-ministro, dirigiu a União Soviética no chamado período pós-stalinismo. “Desestalinizou”, denunciou os crimes do Stalin.

E impediu uma guerra, nos anos 60, provocada pela CIA, que é a chamada Crise dos Mísseis, porque enquanto o John Kennedy era um sujeito frívolo, que ficava atrás das artistas etc., o Khrushchov não era.

O Khrushchov era um cara muito sério e, quando ele percebeu que o Kennedy queria iniciar uma guerra nuclear, ele simplesmente pôs ordem na casa e deu uma dura no Kennedy, inclusive.

O Khrushchov se alfabetizou com 19 anos. E ele foi responsável por dar um puxão de orelha no Kennedy, dizendo: “ô meu, pera aí, calma; a gente fica tencionando um com o outro, mas não é para fazer uma guerra, não é para matar milhões de pessoas. Que isso? Calma.”

E o Kennedy, não; o Kennedy era um sujeito frívolo, que lembrava muito o pai dele, que tinha um passado muito discutível. Lembrava também os apoiadores que ele teve, que era gente da pesada nos Estados Unidos, quando o crime organizado era muito forte nos Estados Unidos.

Um homem que teve a campanha dirigida, em Chicago, pelo Sam Giancana, um dos grandes mafiosos, que foi namorado da Marylin Monroe, né, que ele também foi.

Então, esse indivíduo frívolo da burguesia americana foi parado por um ex-camponês que se alfabetizou com 19 anos e que falou: “Kennedy, menino, calma nisso, não é para você fazer isso, calma.

A sua agência de espionagem está totalmente errada. Não tem problema, você quer o quê? Eu faço o que for necessário, mas não vamos fazer guerra nuclear. Que isso?”. Ele tomava uma decisão ali, depois ele ia encontrar com não sei quem, tal. Essa era a vida dele.

Bom, então você teve várias pessoas assim, que aprenderam muito tarde e que depois conseguiram recuperar o terreno. O Alex, que não tem 30 anos ainda, é uma pessoa que foi assim, fez isso, superou tudo, e hoje é alguém que troca conhecimentos, como ele mesmo diz, toma essas iniciativas que, às vezes, a gente nem acha que vão dar certo, como essa que ele fez.

Tem 1.500 inscritos, um negócio imenso. Tem faculdade que tenta fazer isso e não consegue. Mas as pessoas sentem seriedade e sentem uma coisa: energia, paixão. Acho que isso mexe com todo mundo.

Acho que esse seu jeito de se relacionar com as coisas é que anima todas as pessoas. Todo mundo sabe que está tratando ali com um abnegado, um cara que luta, um cara que quer as coisas.

Então, isso eu acho muito interessante. Acho que não falei tudo que devia ter falado, a gente sempre tem mais alguma coisa para falar, né. Sua relação com o Paulo Freire.

Eu acho importante, porque o Paulo Freire é um grande filósofo da educação, mas eu acho mais importante sua paixão pela educação, sua paixão por ser educador, sua personalidade de educador; isso para mim é mais importante que qualquer outra coisa. Sua vontade férrea. Você põe na cabeça e corre atrás.

É dessas pessoas que nós precisamos; são essas pessoas que fazem a história. Você tem muita gente inteligente, muita gente que escreve, que fala, que questiona, que critica. Mas quem faz a história é quem tem iniciativa, quem tem paixão pelas coisas; essas pessoas fazem a história.

Então, eu vou ler aqui a parte, digamos, formal. Esgotado o objeto da presente sessão... Isso aqui é uma sessão que vai sair no Diário Oficial, ela tem que ter um lado formal.

Eu agradeço às autoridades, à minha equipe, aos funcionários do serviço de som, à taquigrafia, à fotografia, ao serviço de atas, ao cerimonial, à Secretaria Geral Parlamentar, à imprensa da Casa, à TV Alesp e às Assessorias Policiais Militar e Civil, bem como a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

Muito obrigado e boa noite a todos. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão.

 

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