4 DE NOVEMBRO DE 2021
8ª SESSÃO SOLENE PARA CONCESSÃO DO
COLAR DE HONRA AO MÉRITO LEGISLATIVO AO PADRE JÚLIO LANCELLOTTI
Presidência: LUIZ FERNANDO
RESUMO
1 - LUIZ FERNANDO
Assume a Presidência e abre a sessão.
Anuncia a composição da Mesa. Informa que a Presidência efetiva convocou a
presente sessão solene para realizar a "Concessão do Colar de Honra ao
Mérito Legislativo ao Padre Júlio Lancellotti", por solicitação deste deputado,
na direção dos trabalhos. Convida o público para ouvir, de pé, o "Hino
Nacional Brasileiro". Declara-se honrado por presidir esta homenagem ao
padre Júlio Lancellotti. Explica que, por conta da pandemia, o número de
convidados para esta solenidade foi reduzido. Anuncia a exibição de trecho do
documentário "Padre Júlio Lancellotti, fé e rebeldia". Diz que o
Brasil precisa de mais pessoas como o padre Lancellotti, a quem considera um
exemplo de humanidade. Discorre sobre o Colar de Honra ao Mérito Legislativo.
Tece comentários sobre o trabalho do homenageado, na defesa dos direitos
humanos e em prol dos desfavorecidos. Faz reflexão sobre texto bíblico acerca
do amor ao próximo. Anuncia apresentação musical do cantor Cícero Crato e do
escritor Guilherme Moura.
2 - CARLOS GIANNAZI
Destaca a importância desta homenagem
ao padre Júlio Lancellotti, a quem tece elogios.
3 - MAURICI
Expressa sua alegria por participar
desta solenidade em homenagem ao padre Júlio Lancellotti. Destaca a justeza da
honraria que lhe será concedida nesta sessão.
4 - MANUELA FERREIRA
Representante do deputado federal
Paulo Teixeira, seu pai, lê carta enviada por este, prestando tributo ao padre
Júlio Lancellotti.
5 - TARCÍSIO MESQUITA
Padre e representante de D. Odilo
Scherer, arcebispo de São Paulo, discorre sobre a atuação do padre Júlio
Lancellotti em prol dos moradores de rua.
6 - ARIEL DE CASTRO ALVES
Presidente do grupo Tortura Nunca
Mais, presta homenagem ao padre Júlio Lancellotti, enaltecendo seu trabalho no âmbito
dos direitos humanos.
7 - EDUARDO SUPLICY
Vereador de São Paulo, relembra
episódios que viveu com o padre Júlio Lancellotti, a quem tece elogios por sua
atuação em favor dos pobres.
8 - VANESSA DAMIANI
Representante da população em
situação de rua, fala sobre seu trabalho na Pastoral do Povo da Rua, seguindo o
exemplo do padre Júlio Lancellotti, a quem presta homenagem.
9 - HÉLIO RODRIGUES
Presidente do Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas de São Paulo e Região,
destaca a justeza desta homenagem ao padre Júlio Lancellotti, a quem considera
uma inspiração para o seu próprio trabalho.
10 - RODRIGO JALLOUL
Xeque e líder religioso do islamismo
em São Paulo, presta homenagem ao padre Júlio Lancellotti. Destaca seu exemplo
para todos os que trabalham contra a opressão e a injustiça.
11 - EDER GATTI
Presidente da Associação dos Médicos
do Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas, agradece ao padre Júlio
Lancellotti pelo seu apoio à luta contra a privatização do hospital, que teve
importante atuação durante várias epidemias na história do Brasil, bem como na
pandemia da Covid-19.
12 - LUIZ EDUARDO GREENHALGH
Advogado do padre Júlio Lancellotti,
enaltece o trabalho do homenageado, o qual, afirma, foi vítima de muitas
calúnias e difamações.
13 - JAIR ALVES
Pastor e coordenador do Setorial
Inter-religioso do PT, elogia o padre Júlio Lancellotti, a quem considera uma
inspiração para todos os que trabalham em prol dos direitos humanos.
14 - ALDAÍZA SPOSATI
Professora da PUC-SP, destaca a
importância do trabalho do padre Júlio Lancellotti na atual conjuntura pela
qual passa o País.
15 - PRESIDENTE LUIZ FERNANDO
Anuncia nova apresentação musical do
cantor Cícero Crato e do escritor Guilherme Moura. Concede o Colar de Honra ao
Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao padre Júlio Lancellotti.
16 - JÚLIO LANCELLOTTI
Padre, agradece a todos pela
homenagem recebida. Rememora episódios de sua trajetória, em que participou de
atos nesta Casa. Defende autoridades católicas de críticas que lhes foram
feitas por parlamentares desta Assembleia Legislativa. Propõe a realização de
um censo da população de rua no estado de São Paulo. Pede dos deputados desta
Casa um compromisso em prol da população vulnerável. Defende a aprovação do PL
726/21. Enaltece todos os que lutam em favor dos direitos humanos.
17 - PRESIDENTE LUIZ FERNANDO
Anuncia apresentação musical do
cantor Cícero Crato e do escritor Guilherme Moura. Faz agradecimentos gerais.
Encerra a sessão.
* * *
-
Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Luiz Fernando.
* * *
O SR. PRESIDENTE -
LUIZ FERNANDO - PT - Senhoras e senhores,
boa noite, sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao
Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao querido padre Júlio Lancelotti. Comunicamos
aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV
Alesp e pelo canal Alesp no Youtube.
Quero,
nesse momento, compor a Mesa Diretora, e quero que todos possamos receber com
uma salva de palmas o nosso querido padre Júlio Lancelotti, pároco da Igreja de
São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, o homenageado de hoje. (Palmas.)
Quero
também, compondo a Mesa, chamar a Sra. Vanessa Damiani, representando a
população em situação de rua. (Palmas.) Na extensão da Mesa, quero convidar e
pedir uma salva de palmas ao companheiro, deputado estadual Maurici Morais aqui
presente. (Palmas.)
Quero
também convidar para fazer parte da Mesa o deputado estadual Carlos Giannazi.
(Palmas.) Representando o deputado federal Paulo Teixeira, quero convidar a
minha afilhada, Manoela Ferreira. (Palmas.)
O
deputado Raul Marcelo estava aqui, continua conosco? Bom, dando sequência,
quero convidar aquele que trouxe essa brilhante ideia a esta Casa, e nos
procurou para prestar essa homenagem, o meu amigo, conterrâneo Dr. Ariel de
Castro Alves, presidente do grupo Tortura Nunca Mais. (Palmas.)
Quero
convidar, representando o cardeal e arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer,
o padre Tarcísio Mesquita. (Palmas.) Quero convidar o meu sempre senador
querido, e vereador Eduardo Matarazzo Suplicy, vereador na Câmara Municipal de
São Paulo. (Palmas.)
Quero
convidar o líder religioso do Islamismo em São Paulo, o sheik Rodrigo Jalloul.
(Palmas.) Quero convidar a nossa querida professora universitária da PUC, Sra.
Aldaíza Sposati. (Palmas.)
Convidar
o presidente da Associação dos Médicos do Instituto de Infectologia Emílio
Ribas, Dr. Eder Gatti. (Palmas.) Quero convidar o pastor, coordenador do
setorial inter-religioso do Partido dos Trabalhadores, pastor Jair Alves, para
fazer parte da Mesa também. (Palmas.)
O
padre Júlio tem disso, o ato vira ecumênico. Quero convidar o advogado de Dom
Paulo, foi advogado de Dom Paulo Evaristo Arns, advogado do Lula, advogado do
PT, meu grande deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, o LEG. (Palmas.) E o
LEG nos lembrou que também é advogado do padre Júlio.
Quero
também convidar meu amigo, irmão, presidente do Sindicato dos Químicos, querido
Hélio Rodrigues, para fazer parte da Mesa conosco. (Palmas.) E para fechar essa
Mesa extensora, convidar a nossa presidente do Sitraemfa, Maria Aparecida Nery,
querida Miúda, venha para a Mesa aqui. (Palmas.)
Sob
a proteção de Deus iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais esta
Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior. Sras. Deputadas, Srs.
Deputados, senhoras e senhores, esta sessão solene atende minha solicitação,
deputado estadual Luiz Fernando Teixeira, com a finalidade de outorgar o Colar
de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao querido padre Júlio
Lancelotti.
Neste
momento queria convidar todos os presentes para, em posição de respeito,
ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.
* * *
-
É reproduzido o Hino Nacional Brasileiro.
* * *
O SR. PRESIDENTE -
LUIZ FERNANDO - PT - Padre Júlio, dizer ao
senhor da honra de ter o senhor aqui na Casa. A hora que eu vejo esse plenário,
e quando eu vejo essa Mesa Diretora, essa Mesa extensiva tão importante, será
que eu ainda posso sonhar que um dia nós vamos ter uma Casa preenchida com
pessoas com tanto bem como essas que aqui estão compondo, com tanta honradez?
Sabe,
a vida de cada uma das pessoas que está é um verdadeiro sacerdócio. E hoje nós
nos reunimos para homenagear esse sacerdote. Quero dizer da honra que é eu
estar presidindo, eu estar propondo essa homenagem, padre Júlio.
Nós
convidamos poucas pessoas, alguns convidados a dedo pelo padre Júlio, alguns
convidados a dedo por nós, por conta da pandemia. Nós estamos vendo que em
alguns lugares do mundo, mesmo depois da população vacinada, o processo está em
crescimento.
Na
Europa cresce o número de mortos e todos com a segunda dose já. Então em
respeito à vida, até porque esse homenageado de hoje, a vida dele ele tem
dedicado à vida de todos. Então em respeito à vida é que nós convidamos tão
poucas pessoas. Eu tenho certeza, padre Júlio, que se nós abríssemos esta Casa
seria pequena. O senhor ama muitos e a todos, mas nós amamos demais o senhor
também, o seu ministério.
Eu
quero aqui, não para vocês que conhecem o padre Júlio, mas para a televisão que
está transmitindo ao vivo, eu estou vendo que tem alguns jovens também, padre,
que vieram da periferia, que também não sei se conhecem um pouquinho do padre
Júlio Lancelotti.
Eu
acho que hoje nas falas vai ser colocado, mas o Paulo Pedrini, que está aqui,
que eu quero render minhas homenagens a ele, mandou a nós um material que ele
produziu. E aí, Paulo, eu quero dizer da violência que a gente fez em cima do
teu material.
É
um documentário. O documentário completo, que depois a gente queria
disponibilizar a todos, tem 43 minutos, mas como é uma cerimônia, a gente
separou alguns minutos e a gente queria pedir permissão ao padre Júlio e a
todos para poder exibir, sobretudo a vocês que estão em casa acompanhando
através da TV Alesp.
E
eu vou cobrar, padre Júlio, que essa homenagem seja retransmitida muitas vezes,
porque nós precisamos que o Brasil conheça esse homem, saber que entre nós tem
um anjo cuidando de todos aqueles que são oprimidos, que são excluídos, que
estão com fome, que estão com sede, que estão com frio, né? Ali está o padre
Júlio.
Então
eu queria convidar todos para que a gente pudesse acompanhar a exibição. Pedrini,
me perdoe a violência que a gente fez, mas que a gente pudesse aproveitar esse
material, senão ficaria muito longo. Pedir a técnica para que possa transmitir.
* * *
-
É exibido o vídeo.
* * *
Isso
é um pouco, muito pouco desse documentário que meu querido Paulo Pedrini, que
está aqui, produziu, e é um documentário de Carlos Ponzatto. Eu queria, ao
Carlos Ponzatto, e também ao Paulo Pedrini, uma salva de palmas por esse
brilhante registro que fizeram. É um documentário de 43 minutos. A gente passou
aí algo em torno de 15 minutos.
Vale
a pena. Eu também penso exatamente como aquele rapaz, que Deus nos mande mais
padres Júlios. Como Jesus disse que a seara é grande, nós precisamos de mais de
mais ceifadores.
Temos
algum deles aqui, viu Padre. Tem um que nós importamos ali de Cabo Verde,
aquele mocinho. Não tem nem tamanho de padre. Olha lá. Assim como outros que
estão aqui conosco.
Mas
nós precisamos de mais padres, pastores. Nós precisamos de mais... Estou vendo
o sheik aqui, nós precisamos de mais pessoas com o coração e com a coragem do
padre Júlio Lancellotti. Eu tenho certeza que nós aí vamos começar a construir
uma sociedade que Jesus tanto pregou para nós.
Mais
uma vez, eu quero saudar a todos os todas que vieram nessa cerimônia para
homenagear este grande ser humano, que hoje receberá de nossas mãos o Colar de
Honra ao Mérito da Assembleia Legislativa.
O
Colar de Honra ao Mérito Legislativo é a mais alta honraria desta Casa, e é
concedido a pessoas físicas ou jurídicas que, através das suas ações, produções
e obras, ajudam de forma destacada na construção de um estado de São Paulo e um
Brasil melhor.
O
padre Júlio Lancellotti, coordenador da pastoral do povo de rua Arquidiocese de
São Paulo tem atuado há décadas na defesa dos Direitos Humanos, defendendo,
incluindo, acolhendo, protegendo, cuidando das pessoas excluídas e oprimidas.
Quando
o nosso mandato recebeu a proposta dessa homenagem, através do meu querido
amigo, Dr. Ariel de Castro Alvez, presidente do gupo “Tortura nunca mais”, não
pensamos duas vezes.
O
padre Júlio tem trabalhado incansavelmente na defesa dos Direitos Humanos e
Sociais em nosso estado e em nosso país, muito mais do que o Poder Público. É
por meio das lutas do Padre Júlio que as pessoas em situação de rua não são
invisíveis para a sociedade. É através da coragem do padre Júlio, e da ousadia
desse homem que a violência contra crianças e adolescentes é denunciada.
É
através do ministério do padre Júlio que os imigrantes são acolhidos,
protegidos, o nosso povo alimentado. Dentre tantas ações, o padre Júlio é um
exemplo de ser humano. Um cristão que tem vivido o que prega, que tem sido luz
para os menores dos filhos de Deus, que tem sido sal nessa sociedade. É um
sinônimo de empatia. Eu não sei. Sinônimo de empatia para mim é padre Júlio.
E
quem é Padre Júlio? É empatia. É um exemplo de amor, é um exemplo de amor ao
próximo. É o exemplo para nós que queremos caminhar em um mundo cristão. É um
exemplo para nós, que queremos nos destacar fazendo o bem na sociedade.
Cria
do cardeal dos pobres, dom Paulo Evaristo Arns, padre Júlio é o padre dos
pobres. O Brasil carece cada vez mais de seres humanos que pensam no próximo.
Vivemos
anos de grande atraso nos Direitos Humanos. A cada dia temos declarações de um
presidente que afronta os direitos básicos do nosso povo, e sequer com a fome o
próprio se importa.
Eu,
estudando a palavra, quando eu fiz o CEC, Curso de Evangelização Comunitária,
na Igreja Católica, eu era jovem, uma das partes da palavra que me fez fixar na
palavra foi quando me deparei com “Mateus 25:31”, que nos ensinava que quando
Jesus voltar vai nos julgar.
Vai
separar uma turma de um lado, outra de outro, e vai dizer “vinde a mim,
benditos do meu pai, porque eu tive fome e me deste de comer, eu tive sede e me
deste de beber, eu tive frio e me vestisse, eu estive preso e me visitaste”.
Enfim.
Aí
perguntaram para ele: “mas quando a gente fez isso?”. Ele falou: “quando
fizeram aos menores dos meus”. O padre Júlio, eu não tenho dúvida nenhuma, que
nós queremos um pouco desse tanto de tesouro que o senhor armazena no Céu.
Quero
dizer do orgulho, padre Júlio, de estar aqui prestando essa homenagem. Não ao
padre, mas ao Júlio Lancellotti, esse homem que faz a diferença. Muito orgulho
de estar aqui.
Ainda
bem que nós estamos fazendo isso em vida, porque muitas vezes depois que o cara
parte é que a gente vai lembrar. Parabéns ao documentário. Parabéns à Assembleia Legislativa, parabéns ao
deputado Carlos Giannazi, que está aqui nesta homenagem. Parabéns ao deputado
Maurici, que está aqui nesta homenagem. Parabéns ao sempre senador, e nosso
vereador da Capital, Eduardo Suplicy, e à toda Mesa Extensora.
Parabéns
a vocês. Parabéns ao Brasil, porque entre nós, ele é nosso. Padre Júlio
Lancellotti, uma salva de palmas de todos nós. (Palmas.) Eu queria, neste
momento, convidar o músico e cantor Cícero Crato, que, acompanhado do escritor
Guilherme Moura, apresentará a canção “Irá Chegar um Novo Dia”.
* * *
- É feita a apresentação.
* * *
O SR. CÍCERO CRATO -
Coragem para nós. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE -
LUIZ FERNANDO - PT - Queria agradecer o
querido Guilherme Moura, que acompanhou o nosso querido Cícero Crato. Queria
neste momento convidara para fazer uso da palavra o deputado estadual Carlos
Giannazi, pelo PSOL.
O SR. CARLOS GIANNAZI
- PSOL - Boa noite a todos e a todas. Sejam
bem-vindos e bem-vindas à Assembleia Legislativa de São Paulo. Primeiramente,
nesta noite memorável, queria parabenizar o deputado Luiz Fernando, pela
iniciativa de prestar essa grande homenagem ao padre Júlio Lancellotti, em
parceria com o nosso sempre jurista, advogado Ariel, e, rapidamente, dizer,
pessoal, que é uma noite memorável, porque esse plenário, deputado Luiz
Fernando, ele anda muito tóxico ultimamente, porque ele é ocupado aqui por, eu
diria, muitas vezes, falsos profetas, representantes, muitas vezes, de igrejas
que não têm Cristo.
Não
sei como eles conseguem, mas não igrejas que se dizem cristãs, mas sem Jesus
Cristo. E ter a presença hoje do Padre Júlio Lancelotti é um alívio para todos
nós, é um alívio para todos nós, é uma benção. É uma noite muito importante,
porque é a igreja que eu acredito. O padre Júlio Lancelotti vai fundo nas
causas das desigualdades sociais.
Como
apareceu no vídeo, o padre Lancelotti tem senso crítico. Ele sabe o que produz
a miséria, a fome, os desvalidos e a opressão, e ele denuncia isso, mas anuncia
também, ao mesmo tempo, que é possível mudar essas estruturas injustas de
reprodução das desigualdades sociais e econômicas, com a prática que ele tem,
de estar sempre caminhando junto com os oprimidos, junto com os moradores em
situação de rua.
Então,
padre Júlio, o seu exemplo é muito importante para todos nós, principalmente
neste momento de distopia que a gente está vivendo no Brasil e no mundo.
Recentemente,
nós participamos, o senhor foi convidado e participou da homenagem que nós
fizemos ao Paulo Freire, grande educador, e o senhor pratica uma teologia
libertadora, como a “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, seu grande livro,
também fala da Educação libertadora, libertária, emancipadora.
Então
é isso. Eu me sinto muito à vontade aqui com vocês, com o padre Júlio
Lancelotti, porque nós bebemos na mesma fonte, que foi a teologia da libertação,
o movimento Fé e Política.
Outro
dia, nós estávamos conversando, e eu disse ao padre Júlio Lancellotti que eu
fui muito influenciado na minha formação política e espiritual pelo padre José
Pegoraro, que era o padre da minha Paróquia (Palmas.) E o padre Júlio me disse:
“mas ele foi meu professor de direito canônico.” E acho que de muitos de vocês
aqui.
E eu fui muito influenciado, desde os 14 anos eu andei com o padre José Pegoraro, na região do Jardim Primavera, Grajaú, Interlagos e Cidade Dutra até os meus 20 anos eu era quase que um assessor dele.
Então, se eu estou aqui, e toda a minha fé foi construída dentro da teologia da libertação, com o Dom Paulo Evaristo Arns, com o Dom Morelli, Mauro Morelli.
Enfim, Padre Júlio, parabéns, você merece muito mais do que essa homenagem. Muitas homenagens para o nosso padre Júlio Lancellotti, que é uma referência, é uma luz para todos nós.
Muito obrigado. Parabéns Luiz Fernando.
O SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO – PT - Agradecer o querido deputado, Carlos Giannazi. Queria convidar, para fazer uso da palavra, o deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores, Maurici, Mário Maurici.
O SR. MAURICI – PT - Luiz Fernando, Padre Júlio, membros da mesa, as pessoas que estão aqui presentes. Eu quero agradecer, agradecer ao Ariel pela iniciativa, pela lembrança dessa homenagem. Agradecer ao Luiz Fernando, por ter conseguido que ela se realizasse. Agradecer a todos vocês que estão aqui, hoje, por poder me permitir partilhar com vocês a alegria desta homenagem.
E quero agradecer a você, Padre Júlio. Eu venho de uma família kardecista, espírita e eu entrei na escola muito cedo, com cinco anos eu estava alfabetizado. Entrei na escola, naquele tempo tinha primário e ginásio, e por alguma razão eu fui passando de ano e quando fui entrar no ginásio não me deixaram entrar, porque eu tinha nove anos.
Meu pai, que já morreu, me chamou e me disse: “Filho, você quer continuar estudando?” E eu disse: “Olha, eu gostaria, pai.” E ele falou assim: “Olha, você já viu que a escola pública não vai te aceitar. Escola particular não tem aqui em Franco da Rocha, e se tivesse, eu também não teria dinheiro para pagar.
Mas, se você quer continuar estudando mesmo eu vou levar você para um padre. Ele vai fazer um monte de perguntas para você, e você responde do jeito que você acha que deve responder. No fim, ele vai perguntar se você quer ser padre, e aí você fala que quer, tá bom?"
Eu fiz isso, e acabei ficando sete anos no seminário. O que uma criança de nove anos pode saber para responder uma pergunta como essa, não é verdade? E eu fiquei esse tempo todo no seminário, aprendi muitas coisas.
Aos 16 anos,
quando entrei na universidade eu saí, continuei aprendendo coisas, ideias,
conhecendo pessoas. Mas aquela pergunta ainda
ficou na minha cabeça, eu ainda não sabia direito o que eu devia ter respondido
naquele momento.
Eu conheci o Padre Júlio como todos e todas, no
Brasil e no mundo conhecem: pela sua vida, pela sua luta, pela sua doação, pela
sua obra e pelo seu exemplo. Mas, eu não tive... Por alguma razão, eu atendi o
convite do Guilherme para ir até a sua igreja conversar consigo, e a única vez
que eu fui eu não o encontrei.
Hoje, eu tive o prazer de pegar na sua mão, te
cumprimentar e eu queria te agradecer por isso, porque foi o seu exemplo e de
outras pessoas - várias delas estão aqui, outras estão em outros lugares,
outros já morreram - mas foi esse exemplo que me ajudou a entender porque que
eu respondi, naquele momento, sim. E qual o significado daquela minha resposta.
O SR. PRESIDENTE -
LUIZ FERNANDO – PT -
Agradecer ao companheiro, querido deputado Mauro Maurici. Representando o
deputado federal Paulo Teixeira, está aqui a filha dele, a minha afilhada e
sobrinha, Manuela Yamaguchi Ferreira, que vai ler uma carta que o Paulo enviou
e pediu para que a Manuela lesse.
A SRA. MANUELA
FERREIRA - Boa noite ao presidente desta
sessão...
O SR. PRESIDENTE -
LUIZ FERNANDO – PT - "Meu
padrinho", tem que se referir "nobre deputado".
A SRA. MANUELA FERREIRA - Ilustríssimo deputado
Luiz Fernando Teixeira. Ao homenageado, querido padre Júlio Lancellotti.
Todos e todas presentes nesta sessão, nesta homenagem.
Meu nome é Manuela, e hoje, eu estou aqui para
representar meu pai, deputado federal Paulo Teixeira, que fez questão de enviar
o seu afeto por meio de algumas palavras que eu vou ler para vocês: "Padre
Júlio Lancellotti, nasceu no dia 27 de dezembro, dois dias depois do Natal.
A primeira influência que recebeu foi exatamente
dos mais ilustres dos nascidos nessa data, Jesus Cristo. O Natal na casa
de famílias italianas costuma ter mesa farta, a mãe do padre Júlio o alimentou
com uma dose maior de solidariedade, justiça social, fraternidade, disposição
para o trabalho e gostar de gente.
Assim, cresceu um ser humano excepcional, cheio de
humanidade, um gigante. Júlio, jovem que não envelhece; Lancellotti, um
cavaleiro da távola redonda, guerreiro do Rei Arthur, que usa a sua lança
contra a injustiça, contra a desigualdade, contra a violência. Viva Júlio
Lancellotti.” (Palmas.)
Eu queria aproveitar um minutinho do tempo, porque
eu vi um texto... Eu estava vindo no carro, e aí eu vi um texto e pensei:
“Nossa, será que daria tempo de ler um pra ele?”
O SR. PRESIDENTE -
LUIZ FERNANDO – PT - Como você é minha
afilhada, a gente abre exceção.
A SRA. MANUELA
FERREIRA - Lá em casa a gente cresceu
ouvindo falar do padre Júlio Lancellotti e vendo ele, então virou uma referência
dentro do meu coração, e dos meus cinco irmãos também.
Tem um texto do Galeano, que ele é bem
pequenininho, ele fala de um homem da Aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia,
que conseguiu subir aos céus. E quando voltou ele contou, ele disse que tinha
contemplado, lá do alto, a vida humana e disse que somos um mar de
fogueirinhas. — O mundo é isso —
revelou — Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com
luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais.
Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e
fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o
vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam;
mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para
eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo. Obrigada por ser essa
pessoa que faz o mundo pegar fogo.
O SR. PRESIDENTE -
LUIZ FERNANDO – PT - É minha afilhada, viu
gente. É uma gracinha assim porque é minha afilhada. Queria agradecer a Manu, a
doutora Manu está se formando agora em dezembro.
Queria convidar, para fazer uso da palavra,
representando o cardeal arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer, o padre Tarcísio Mesquita
(Palmas.)
O SR. TARCÍSIO
MESQUITA - Sr. Presidente desta sessão, padrinho
da Manu; senhoras e senhores que representam o povo, o povo da rua. É para isso
que existe esse lugar, é deles, deveriam estar abrigados aqui também, não é,
padre Júlio? Só que você veio com a bengala, deveria ter vindo com a marreta.
Padre Júlio, quando o conheci éramos estudantes e o padre
Júlio me convidou duas vezes para viajar com ele pela Itália, e na Itália ele
contava as histórias da vó dele que quando alguém falava mal de alguém...
Ela andava com um avental, vocês sabem que o padre Júlio
também anda de avental, não é? É por causa da vó, é coisa da vó, baixou o
espirito da vó nele. E a vó dele, quando tinha um avental ela...
O padre Júlio usa esse avental, eu creio que evocando
mesmo a inspiração da vó dele, de origem italiana, que quando alguém falava
para ela qualquer coisa ruim de alguém ela já tinha um terço no bolso, e ela
falava: "Nossa, essa pessoa faz isso, então vamos rezar um terço para
ela".
Então, ninguém arriscava falar nada de mal peto dela,
porque tinha que rezar um terço, nem que a pessoa fosse de outra religião,
tinha que rezar um terço com ela. Então, o padre Júlio, ele tem esse espírito
da vó dele, esse espírito de rebeldia. essa coisa que pegou nele, esse fogo que
é como a sarça do livro da história de Moisés, que queima, mas não se consome,
porque é o povo, é a vida do povo. É o resto de Israel, que parece que vai ser
devorado. Mas, na verdade, aquele arbusto que produz o fogo não se consome, é o
padre Júlio.
Você citou, padre Júlio, Dom Pedro Casaldáliga, e
Dom Pedro dizia: “Na dúvida, fique com os pobres.” Mas, nós aqui, em qualquer
dúvida, nós podemos nos lembrar do padre Júlio.
O que o padre Júlio faria se ele estivesse naquela
circunstância que nós ali estivéssemos. Eu faço isso, viu, padre Júlio?
Eu lembro de Dom Luciano e lembro, também, de você quando a responsabilidade é
com o povo da rua, os moradores de rua.
Alguém dizia que seria bom que tivessem mais padres
como o padre Júlio. Na verdade, o problema não é o padre Júlio ser padre e
alguns padres serem como padre, padre Júlio.
O importante é que nós desenvolvamos o caráter do
padre Júlio, mesmo se formos padres, pastores, pais de santo, mães de santo,
transexuais, ateus, agnósticos.
O que nós estamos cansados, padre Júlio, é de ter
gente descompromissada com a dignidade humana, que nos envergonham até mesmo
aqui, (Palmas.) Usando do microfone e do dinheiro do povo para vilipendiar os
pobres, o nosso povo oprimido.
Não faz muito tempo, padre Júlio, você sabe. Alguém
aqui tomou conta da tribuna para xingar o Papa Francisco e o arcebispo de
Aparecida. Fez bem, devia ter xingado mais, porque quanto mais nos xingam por
aquilo que fazemos de bom, mais dizem o quanto é bom o nosso trabalho.
Pessoas assim, se nos elogiarem estarão nos
envergonhando; pessoas assim tendem a nos xingar; pessoas assim tem que cuspir
em nós e se chegarem ao extremo vão fazer o que fizeram com Jesus: coroá-lo de
espinhos, chicoteá-lo até o calvário e colocá-lo na cruz.
Padre Júlio, não pense você que não vai receber
prêmio nenhum, eu me lembrei muito ouvindo ali, aquele documentário sobre você,
a história de Rubens Alves.
Que dizia de um velhinho que foi no fundo do
quintal da casa dele plantar um fiozinho de uma árvore frutífera, já passando
dos seus 80, talvez 90 anos, e alguém lhe dizia: "Para que fazer isso? Até
esse fiozinho de planta se transformar em uma árvore e produzir frutos você já
estará morto há muito tempo." E ele disse: "Não importa, só o prazer
de me recordar que meus netos se deitarão à sua sombra e comerão dos seus
frutos, isso já me causa uma tremenda alegria."
Que você leve essa alegria, padre Júlio, de saber
que esse Brasil do devir sem fome, sem miséria. Esse Brasil que caminhou um
tanto mais para isso e foi desconstruído, ele se realiza no seu trabalho, nas
sombras que você vai construindo para o futuro, nos frutos que serão
dados.
Não desfaleça, padre Júlio, seja firme. E esse
prêmio representa na sua vida o que você tem de melhor, o seu amor pelos pobres
e oprimidos, Deus o abençoe (Palmas.)
O
SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO – PT - Agradecer ao
padre Tarcísio Mesquita, que emocionalmente falou. E que também,
neste ato, representa o cardeal arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer.
Queria,
neste momento, convidar para fazer uso da palavra - honra a quem
tem honra -, o verdadeiro proponente, padre Júlio, o Dr. Ariel de Castro Alves,
que é presidente do grupo Tortura Nunca Mais e foi quem me procurou. Ele falou:
“Luiz, precisamos fazer uma homenagem ao padre Júlio”. Eu quero, neste
momento, convidar o Dr. Ariel de Castro Alves para fazer uso da palavra.
O SR. ARIEL DE CASTRO ALVES
- Boa noite a todos, a todas. Boa noite, deputado Luiz Fernando, meu amigo.
Somos de São Bernardo, estivemos muito juntos durante o governo Luiz Marinho,
fazendo políticas públicas pela infância e juventude. Lembrar que hoje, lá,
Luiz Fernando, querem despejar o projeto Meninos e Meninas de Rua, o prefeito
atual de São Bernardo.
O
padre Júlio conhece há muitos anos o projeto Meninos e Meninas de Rua, que
inclusive foi fundado pela pastora metodista Zeni - o Jair está aqui - e pelo
meu pai, a partir de um grupo de estudantes da Universidade Metodista lá na
década de 80, estudantes de teologia, de comunicação. A partir dali surge
também o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua.
Então,
desde aquela época eu conheço o padre Júlio, do Centro Pastoral Belém, do
Colégio Arquidiocesano, das discussões pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Ele
talvez não me conhecesse como me conheceu depois, mas me via lá de calças
curtas, de shorts, com meu pai, comparecendo também nessa importante luta, que
ele já trava desde a década de 80.
Então,
quero aqui homenagear o padre Júlio. Nós, quando pensamos na sessão, Luiz
Fernando, eu estava tomando um café com o meu amigo Ítalo Cardoso, que também é
um dos responsáveis.
Antes
do Ítalo, a Rose Nogueira, aquela senhora ali, propôs que eu, enquanto
presidente do grupo Tortura Nunca Mais, encampasse para que o padre Júlio
recebesse o Nobel da Paz.
Foi
isso que ela propôs, mas, enquanto a gente não consegue o Nobel da Paz, a gente
consegue o Colar de Honra ao Mérito da Assembleia Legislativa. Mas nós ainda
vamos batalhar para conseguir o Nobel da Paz.
Quando
pensamos na sessão para o padre Júlio, é claro que não poderia faltar a turma
dos Direitos Humanos, não é? Então, é claro que eu pensei no meu mestre Luiz
Eduardo Greenhalgh, meu professor de sempre; no Suplicy também, quantas vezes
tivemos juntos; na irmã Michael, que infelizmente não está aqui presente; na
Aldaíza, que é a nossa grande guerreira da área social.
Temos
que pensar aqui também no massacre da população de rua. Estivemos tanto juntos,
Aldaíza, padre Júlio, Suplicy, Greenhalgh, em 2004, e até hoje não foram
devidamente esclarecidas aquelas mortes de sete pessoas lá em 2004.
Lembrei
do Fernando Altmayer, que está aqui. O Fernando é um dos amigos em que o padre
Júlio sempre se socorre quando é ameaçado - o que é quase sempre -, quando é
xingado, quando é ofendido.
Ainda
ontem uma repórter da Globo colocou nas suas redes sociais que estava indo
embora de São Paulo, deixando o jornalismo aqui em São Paulo, porque ela postou
uma foto com o padre Júlio e foi xingada, foi ofendida, foi ameaçada.
Ela,
então, diante do ódio, da desumanidade, resolveu abandonar a carreira de mais
de 20 anos de jornalismo aqui em São Paulo e ir embora para Campo Grande.
Então, é para ver o quanto nós temos que enfrentar de ódio, de desumanidade, e
o padre Júlio representa exatamente isso.
Eu
lembro quando fui com você em Santo André uma vez que ninguém conseguia entrar.
Os funcionários abandonaram aquela unidade de adolescentes, aqueles
adolescentes que saíram da Imigrantes e foram transferidos para lá em 99, e nós
entramos.
Os
funcionários foram todos embora e acharam: “eles vão ser mortos lá
dentro pelos internos rebelados”. E não, pelo contrário, nós controlamos,
eu e o padre Júlio, 500 jovens que praticamente estavam amotinados e
rebelados.
Em
outro momento, chamamos um grupo para rezar, que eram alguns que eram
destacados como líderes, como perversos, violentos pelos funcionários que ali
estavam. Eu lembro que ele chamou o Cícero para rezar.
Nós
demos as mãos, e esse menino disse: “Não, eu não vou rezar, eu odeio Deus”. Daí
o padre Júlio disse: “Mas e eu e o Ariel, você odeia?”. Ele falou: “Não, de
vocês eu gosto”. Daí o padre Júlio disse: “Então você gosta de Deus, porque nós
estamos aqui em nome de Deus, em nome de Cristo”.
Ele
então resolveu rezar também com a gente e contou a história dele, de que o pai
morreu para a violência, o irmão morreu para a violência, e ele, logo que saiu
da Febem, também acabou assassinado. Então, é em nome desses que nós lutamos,
que nós queremos transformar.
Eu
teria muitas outras histórias para contar, inclusive em Franco da Rocha, na
terra do Maurici, quando quase fomos assassinados ali. Tivemos tiros em nossa
direção e fomos salvos pelos promotores de Justiça que nos acompanhavam em uma
grande rebelião na Febem.
Depois
tivemos uma sessão que o Greenhalgh organizou, de desagravo aos ataques
que nós sofremos na época, da qual o Suplicy também participou. Então, é em
nome de toda essa luta histórica pela infância e juventude, pelos Direitos
Humanos...
Lembro
também do Wagner Lino, que muitas vezes esteve aqui conosco - a Creusa está
aqui -, e tantos outros nessa caminhada do padre Júlio Lancellotti. O Douglas
Mansur também é importante aqui de ser mencionado, que é o grande fotógrafo de
Dom Paulo, da Igreja Católica, e tantos e tantas que há muitos anos constroem a
luta dos direitos humanos junto com o padre Júlio Lancellotti.
Cumprimento
também a Comissão de Direitos Humanos da OAB, meus colegas aguerridos que estão
levando à frente toda essa luta, e tantos e tantas aqui que seria até injusto
mencionar.
Um
grande abraço a todos e todas. Parabéns, padre Júlio Lancellotti, continuamos
juntos nesta caminhada. Parabéns, Luiz Fernando; parabéns à população em
situação de rua, porque são eles que nós mais temos que homenagear.
Inclusive,
quando eu falei para o padre que o estaríamos homenageando, ele falou: “Não, eu
não preciso de homenagem nenhuma. Você é louco, vão me xingar na tribuna da
Assembleia”, porque tem recentes ataques - foram públicos - de parlamentares
desta Casa ao padre, além daqueles que o padre Tarcísio mencionou.
Então,
quando nós sofremos esses ataques, é porque estamos no caminho certo, estamos
lutando por justiça e por direitos humanos. Assim eu aprendi com o Suplicy, com
o Greenhalgh, com o padre Júlio e com tantos e tantas que lutam por direitos
humanos, com a Isabel Peres, que está ali, também.
Abraço
a todas e todos. (Palmas.)
O SR. LUIZ FERNANDO - PT -
Agradecer ao querido amigo Dr. Ariel de Castro Alves. Quero convidar, sem mais
delongas, para fazer uso da tribuna o querido vereador Eduardo Matarazzo
Suplicy, meu sempre senador. (Palmas.)
O
SR. EDUARDO SUPLICY - Caro presidente desta sessão, Luiz
Fernando, querido padre Júlio, tantos são os episódios que fizeram nós nos
encontrarmos, e eu vou lembrar de alguns.
Eu
tinha perdido a eleição no Senado em 2014, e o Fernando Haddad me convidou para
ser secretário de Direitos Humanos. Em 31 de janeiro acabou o senador; em 2 de
fevereiro começaria a minha posse de secretário de Direitos Humanos, seria
segunda-feira.
Na
sexta o padre Júlio me ligou: “Eduardo, acontece que estão pensando em retirar
toda aquela população que está embaixo do viaduto Bresser” - havia ali centenas
de barracos, de casas e tudo - “você não quer vir aqui?”.
Eu,
sem ser secretário, fui até lá e conversei, e vi que o pessoal estava assistindo
televisão, ao jogo. Eu falei: “Olha, quero vir aqui conversar com vocês como
secretário no próximo domingo. Como vocês gostam de assistir ao jogo das
quatro, do Corinthians, então eu venho aqui às 13 horas conversar. Daí
começamos uma interação que já havia começado bem antes, porque felizmente o
presidente Lula e a presidenta Dilma, todo Natal - e muito por iniciativa do
padre Júlio -, resolveram sempre dialogar com o povo da rua.
Então,
durante todo o tempo em que eu fui senador, e mesmo em todos... Agora, este
presidente nunca pensou nisso, em comparecer ao Natal do Povo da rua, mas o
padre Júlio sempre estava lá, e havia uma interação. O Lula ia com alguns dos
seus principais ministros, eu ia como senador, alguns deputados, e tínhamos um
diálogo formidável ali. Inclusive me lembro da Mara, diretora da cooperativa de
material reciclável lá da Granja Julieta, que cantou uma canção que emocionou o
presidente Lula para falar das condições deles.
E
tantas vezes, quando havia alguma dificuldade do padre Júlio de dialogar com o
Fernando Haddad... Um dia, dom Odilo Scherer, por iniciativa do padre Júlio,
nos convidou para um diálogo tão significativo - Fernando Haddad, Odilo
Scherer, padre Júlio, eu, acho que havia mais algumas pessoas também.
Foi
um diálogo importante, onde o Fernando Haddad pode compreender por que, afinal,
dom Paulo Evaristo Arns o havia designado para ser aquele que cuida da
população de rua na Arquidiocese de São Paulo.
E
tantas vezes, seja na Praça da Sé, no Pátio do Colégio, lá no Brás, nas
favelas, as mais diversas, fomos chamados e nos encontramos. Até hoje, às
vezes, quando há uma remoção da população que está ocupando um edifício
público, ou também, com frequência, nas vezes em que me chamam lá na
Cracolândia.
“Olha,
hoje está aqui a polícia e a polícia civil, estão jogando bombas, gás
lacrimogêneo e gás de pimenta e retirando a população de rua lá da Alameda Dino
Bueno”.
Ficam
um tempo lá na Princesa Isabel, um mês depois já estão de volta lá na Rua
Helvétia, na Dino Bueno, em frente à Praça Júlio Prestes. Toda vez que havia um
abuso extraordinário, o padre Júlio também me chamava, e eu continuo ajudando
ele a pensar em como vamos resolver esses problemas.
Quero
lhe dizer que certo dia o Movimento Nacional da População em Situação de Rua me
convidou para explicar a eles a renda básica de cidadania, lá no Cisarte, em
cima do Viaduto Pedroso.
Então
eu expliquei para eles, por uma hora e meia. Quando terminei, o Darcy Costa me
disse: “Olha, nós queremos escrever uma carta ao presidente Lula, ao presidente
Bolsonaro e ao Congresso Nacional, dizendo que tem que regulamentar esta lei
imediatamente, porque já é lei aprovada por todos os partidos no Senado, em
dezembro de 2002; novembro de 2003, na Câmara.
Estava
presente na Comissão de Justiça, nada falou contra o que era deputado federal,
Jair Bolsonaro. Foi ao presidente Lula, sancionou, mas disse que vai ser
reinstituída gradualmente a critério do Poder Executivo e falta acontecer.
Padre Júlio, mas eu tenho uma
diferença com as suas palavras no seu filme tão bonito. Sabe qual é? Eu estou
fazendo uma combinação com Deus, se possível, e com o padre Júlio. Eu estou
pedindo a Deus - fiz 80 anos este ano, 21 de junho - para ver se eu consigo
ainda durante a minha vida ver a aplicação da renda básica de cidadania.
(Palmas.)
Sabe, um dia eu fui convidado pelas
Pastorais da Terra para fazer uma exposição sobre a garantia de uma renda lá na
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, presidida então por seu amigo e
inspirador dom Luciano Mendes de Almeida; e eu fui contando na minha palestra
para o pessoal da Pastoral da Terra.
Falei dos ensinamentos ao longo da
História de Thomas More, de Tomas Paine, de (Inaudível.), de Martin Luther King
Jr., de Celso Furtado, Josué de Castro e cheguei a mencionar, dentre outros,
que estão de acordo com isso.
Inclusive depois de ter escrito em
1848 “O Manifesto Comunista” com Friedrich Engels os volumes de “O Capital” na
crítica ao programa de (Inaudível.) 1875, Karl Marx escreveu que numa sociedade
mais amadurecida os seres humanos vão se portar de tal maneira para poderem se
escrever como lema da sua sociedade 12 palavras em inglês que fizeram com que
John Kenneth Galbraith em “A Era da Incerteza” tivesse dito que tiveram efeito
mais revolucionário essas 12 palavras em inglês: “From each according to his
capacity, to each according to his needs”. “De cada um, de acordo com a sua
capacidade; a cada um, de acordo com as suas necessidades”.
Tiveram um efeito mais
revolucionário do que os volumes de “O Capital”. Eu citei isso naquela
palestra. Meu querido dom Luciano Mendes de Almeida me disse ao final muito
gentilmente: “Eduardo, você não precisa citar o Karl Marx para defender a sua
proposta. Ela é muito melhor defendida por São Paulo, na Segunda Epístola aos Coríntios”.
Eu então li as epístolas, achei tão
belas e daí sim passei a citar Karl Marx em São Paulo, que diz que todos nós
deveremos sempre seguir o exemplo de Jesus, que em sendo tão poderoso resolveu
se solidarizar e viver dentre os mais pobres, tal como padre Júlio Lancellotti
o faz, de tal maneira que conforme está escrito: “Para que haja justiça, para
que haja igualdade, toda aquela pessoa que teve uma safra abundante não tenha
demais, e toda aquela pessoa que teve uma safra pequena não tenha de menos”.
Sabe, eu teria tantas histórias
para aqui, mas não posso abusar. Eu só queria, se você achar que não vai
quebrar muito o protocolo, o cerimonial todo planejado, mas se você quiser eu
combinei com o Cícero e o Guilherme que numa hora que vocês acharem adequado,
quem sabe no final, a gente cante uma canção em favor da justiça e da paz em
homenagem ao padre Júlio. E daí se acharem uma boa ideia eu vou até lá e canto
com ele.
O SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO -
PT - Já está
acolhida a ideia e agradecer ao senador Suplicy. E ao final nós vamos terminar
com o senador Suplicy cantando para a gente junto com o Cícero e o Guilherme.
Queria convidar agora, representando a população em situação de rua, para fazer
uso da palavra, a Vanessa Damiani.
A SRA. VANESSA DAMIANI - Boa noite, gente. Meu nome é
Vanessa, sou responsável pela saída da Kombi do café, até mesmo a do almoço.
Quando o padre Júlio me convidou eu falei: “Padre, tem que ter uma roupa
adequada?” Ele falou assim: “Não, Vanessa. Tem que ser você”. Então vou ser eu,
gente. Pronto, falei.
Eu conheço o padre Júlio há muitos
anos. Eu sou até suspeita de falar do padre Júlio. O padre Júlio para mim foi o
meu resgate, a minha vida. Tudo que eu aprendi foi com o padre Júlio. Eu quando
conheci o padre Júlio - não que eu não seja - era rebelde demais.
Chegava brigando, briguenta, e ele
sempre ali com o amor, o carinho de um pai. Muitas vezes eu xingava na porta e
no outro dia eu estava precisando: “Padre, eu estou precisando de um leite, de
um gás”. Ele falava: “É? Está bom, eu vou te dar”. Mas, tipo assim, sempre
puxando a minha orelha, porque o padre Júlio é que nem eu, gente.
O padre Júlio é um amor, mas também
nós não somos obrigados a ficar com o sapato apertado - os outros pisando e nós
sorrindo - e é por isso que eu gosto dele. Nisso eu estava passando por
problemas e eu pedi para ele me ajudar, porque eu queria trabalhar.
Mas eu não queria trabalhar em
outra área; eu queria trabalhar com a população de rua. Deixe eu explicar o
porquê. Eu vivi na rua e hoje eu não vejo o meu trabalho como um trabalho.
Eu vejo retribuindo o que um irmão,
um casal que cuidou de mim na rua fez por mim. Eu sou xingada na Cracolândia -
não pelos meus irmãos, jamais -, mas pelos militares.
Eles querem me bater, não é, irmã
Deisy? Raquel, Pedro Renato, que estão sempre na luta. Tem uma equipe grande,
mas nem todos puderam vir, mas mesmo assim (Inaudível.). O (Inaudível.) fala:
“Vocês não podem atravessar e dar comida aqui”.
Eu vou pelo outro da Kombi e nós
entregamos do outro lado. Aí ele fala: “Eu não falei? Você ultrapassou a
barragem?”. “Não, o moço falou para mim vir por este lado. Eu não ultrapassei.
Eu tão simples fiz o que o outro militar me pediu”.
Então, deixe eu falar. Falar do
padre Júlio, o padre Júlio é meu pai, meu irmão. Cada dia eu aprendo mais esse
amor. Os outros maltratam ele, mas ele não sabe revidar. Ele sempre mostra o
bem. E o que eu faço na rua aprendi com ele e tento passar para alguns
voluntários que vão a mesma coisa, porque eu sou chata.
Se eu gostar de você, independente
que foi o padre Júlio que te mandou fazer a pastoral, você não vai ficar na
minha pastoral porque você tem que primeiramente amar os meus irmãos.
Não é fazer cena, uma “selfie”,
porque eu estou com o padre Júlio eu vou ganhar “selfie”. Porque muitos vão
para tirar “selfie”, para ganhar nome. Estar na pastoral é estar que nem ele.
Na ação Frente Fria, às três horas
da manhã, ele estava dentro da Cracolândia com a gente. Estar na pastoral é ver
o irmão ali caído; não é ver se tem um repórter para tirar foto para mostrar
que você está fazendo uma boa ação.
Esses dias eu estava com o padre
Júlio e eu falei: “Padre Júlio, se Deus vier como morador de rua muitos não
irão para o céu”. Porque você vai na porta dos ricos: “Moço, tem uma comida
para me dar?”.
Eu falo porque eu já passei por
isso. Eu já bati em porta. Quantas vezes na Moóca ali eu bati: “Gente, eu estou
com fome”. Ninguém me dava. Chegava na periferia, a mulher tirava da comida
dela para me dar. Eu chegava nas “malocas”, os irmãos dividiam a comida deles
comigo, ainda para minha filha, e eles ficavam sem comer.
Que diferença, né, gente? Então o
padre Júlio para mim é o meu maior exemplo. Eu acho que é o anjo que Deus
colocou na Terra. Se cada um fizesse um pouco do que o padre Júlio faz, o mundo
seria melhor. Em vez de estar criticando, falando, faça um pouco dele. Que nem
eu, eu tenho dificuldade. Quem quiser doar eu agradeço (Inaudível.)
Eu preciso de água para a
Cracolândia. Meus irmãos morrem de sede. Eu faço uma aposta com vocês: se eu
parar um caminhão de Coca-Cola - não fazendo propaganda da marca - e um de
água, cara, meus irmãos vão ficar do meu lado atrás da água. Eles necessitam de
água. Eles precisam de chinelo. Em vez de todo mundo estar falando isso e
aquilo, ajude a Pastoral do Povo da Rua.
Tente conhecer o nosso trabalho, vá
com a gente lá, porque é muito fácil criticar. Vá lá, dê a cara, entendeu? E
hoje nós íamos estar com uma blusa “Eu amo Santa Dulce”, mas logicamente eu
tenho que fazer propaganda da minha pastoral, da minha casa. Pronto, falei e te
amo, padre. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO -
PT - Quero
agradecer a querida Vanessa Damiani, parabenizar pelas palavras. Queria
convidar neste momento para fazer uso da palavra o querido Hélio Rodrigues,
presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Química e Farmacêutica
de São Paulo e Região. (Palmas.)
O SR. HÉLIO RODRIGUES - Boa noite a todos companheiros e
companheiras. Primeiro parabenizar o deputado Luiz Fernando a pedido do nosso
querido Ariel também por esta sessão solene aqui em homenagem ao padre Júlio
Lancellotti.
Falar para você, padre, que o
deputado Luiz Fernando já fez várias audiências, vários atos solenes aqui e nós
do Sindicato dos Químicos tivemos um ato muito importante alguns anos atrás e
homenageamos duas companheiras que eram companheiras da greve de 1957 da
Nitroquímica.
Infelizmente, deputado, pela idade
delas, elas já faleceram. Perdemos essas duas companheiras há dois anos atrás,
mas foi fundamental reconhecer duas companheiras da greve de 1957 na
Nitroquímica, que instituiu naquela época o 13º salário. Então fundamentais
essas audiências públicas, usar esse espaço da TV Alesp para dialogar com a
sociedade e falar do nosso ponto de vista.
E o padre Júlio não deixa dúvida
qual é o ponto de vista nosso. Vivemos em uma sociedade de classes, onde o
capital é avassalador. Nos últimos 40 anos tem demonstrado a sua ganância. Os
espanhóis chamam de “taxa de ganância”, que é o lucro atrás do lucro em
detrimento da situação de toda uma sociedade.
Vivemos um drama hoje ecológico, um
drama nas relações de trabalho, diminuição do Estado, colocando a sociedade à
beira de um abismo muito grande. E esse presidente que está aí não precisa
ficar estendendo mais nada sobre ele. É o representante máximo desse projeto
que vem nos últimos anos colocando a sociedade brasileira numa situação muito
difícil.
Eu até falei para o deputado que eu
não ia falar, mas quando eu vi ex-padre, mas não tem ex-padre. Na época ele era
padre, batizou o meu sobrinho que hoje vai completar 36 anos, Fernando
Altmayer. Eu fui rever o Fernando Altmayer e o Ítalo Cardoso falou para mim:
“Mas ele era magrinho, Hélio”. Eu falei: “Bom, eu lembro do Fernando há 40 anos
atrás em São Mateus e ele realmente era magrinho”.
Só aqui citar o nome do Fernando,
de todos que estão aqui presentes. Eu também venho da Igreja Católica, da
Pastoral da Juventude, da Pastoral Operária, e falar: Júlio, para nós do
Sindicato dos Químicos e os outros sindicatos - os bancários, os metalúrgicos -
você é inspiração para nós.
É tão inspiração, deputado, que nós
criamos uma padaria para servir pão para os moradores de rua e para a
comunidade que está lá em São Miguel.
Esperamos que o Pedrini, fazendo
uma cobrança aqui agora ao vivo... Pedrini, que você leve o padre Júlio mais o
padre Élcio também para poderem abençoar a nossa padaria para que a gente possa
continuar… Padre Júlio, nós vamos começar a servir mil pães por dia na nossa
padaria.
O SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO -
PT - Padre, ele já
me levou para enrolar pão para ele lá.
O SR. HÉLIO RODRIGUES - O deputado Luiz Fernando já esteve
na nossa padaria. Nós vamos então continuar esse trabalho porque você é fonte
de inspiração. A sua luta é a nossa luta.
Nós vamos continuar cerrando
fileiras para construir uma sociedade. Nem que nós não possamos vê-la,
mas nós vamos continuar lutando contra esse sistema capitalista desumano,
contra a natureza e contra o povo. Obrigado e parabéns, Júlio Lancellotti, por
esta homenagem.
O SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO -
PT - Muito
obrigado, Hélio. Queria convidar o sheik Rodrigo Jalloul, líder religioso do
Islamismo em São Paulo, para fazer uso da palavra.
O SR. RODRIGO JALLOUL - Muito boa noite a todos. Agradeço
o convite. Muito boa noite às autoridades, ao deputado. Estou honrado pelo
convite.
Como líder religioso, a gente sempre sabe que a gente fala muito, então eu falei "eu vou escrever.". Vou ler exatamente isso que está aqui para não tomar o tempo de ninguém. Algo que eu escrevi do coração, em questão de dois minutos.
Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso, louvado seja Deus, o Senhor do universo, muito boa noite a todos.
Primeiramente, eu gostaria de agradecer a honra pelo convite, em poder estar aqui nesta noite histórica. Dia de homenagear aquele que não busca homenagem, aquele que busca justiça social.
Dia de homenagear aquele que não busca reconhecimento, busca direitos. Dia de homenagear aquele que não quer nada para si, entregou a sua vida para viver a vida dos outros.
E nessa passagem, eu me recordo, que em determinado dia, no natal, o meu pai falou "liga para o padre Júlio, convida ele para vir passar a ceia de natal com a gente, aqui em casa." e, quando eu liguei, o padre falou "eu não posso ir, porque eu não posso abandonar os irmãos de rua em pleno natal.".
E meu pai falou - ele está sentado bem ali - ele falou "vamos pegar, então, vamos encher a perua de alimento e vamos fazer a ceia de natal na Paróquia São Miguel Arcanjo e passar a ceia de natal com o padre Júlio." e acredito que foi o primeiro trabalho de aproximação que nós tivemos.
Entre bilhões de seres humanos na face da Terra, conta-se nos dedos quantos têm um trabalho sincero em prol ao próximo. Muitos oportunistas no caminho. Padre Júlio Lancellotti não só prega os ensinamentos do profeta Jesus, mas sim os pratica no seu dia a dia.
Eu iniciei os meus trabalhos sociais em 2010, quando tinha uma visão que a caridade era somente dar comida e roupa. O padre me ensinou - a verdadeira caridade está na convivência com os excluídos e não somente em dar o que comer.
Estou tendo um verdadeiro estágio ao lado dele. Sua luz é tão grande que irradia nos corações de milhões de brasileiros e de pessoas mundo afora. Dá esperança na humanidade junto com os seus colaboradores e voluntários.
Uma pessoa, que por seguir o verdadeiro sentido da religião e praticar o que Deus mais quer da humanidade - que é o amor -, conquistou o coração dos judeus, dos cristãos, dos muçulmanos, dos ateus, dos agnósticos, dos povos originários e entre tantos outros grupos.
Palavras não faltam para homenagear esta pessoa que eu tenho como um irmão, como um pai, como um mestre. Mas posso resumi-lo em uma única frase; é aquele que representa Deus na Terra e não somente o cristianismo.
Por mais 'padres Júlios' no Brasil. Amado pelos bons, que têm capacidade de entender o seu trabalho e odiado por outros, que são hipócritas, injustos, egoístas e desumanos.
Deixo um dos exemplos que presenciei certa vez na Paróquia São Miguel Arcanjo quando havia a distribuição de sabonetes e uma das voluntárias, quando passavam os irmãos de rua, falou "eu quero o sabonete rosa" e a mulher falou "não, pega qualquer um. Sabonete é sabonete e vai na fila.".
E o padre Júlio pegou no ombro dessa mulher, eu me recordo, chamou ela em um canto e falou "escuta, quando você vai no mercado, se sabonete é sabonete, você não escolhe o sabonete que você quer na prateleira? Você não está pagando? Você não escolhe? Esse sabonete está pago, alguém doou. E eles são seres humanos e eles tem o direito de escolha da cor do sabonete; se é azul, se é rosa, por mais que pareça indiferente.".
E ele chamou a atenção da própria voluntária. Não se incomodou se ela iria se chatear, se ela iria voltar lá de novo ou não. Mas ensinou o que era certo, o que era correto e isso fica como ensinamento para mim.
Histórias não faltam nesses anos que estamos juntos nessa trajetória. E quero deixar muito claro e aberto que estamos, meu querido irmão, na luta contra a opressão e a injustiça e estamos juntos pelos direitos humanos, pelos direitos dos povos indígenas e originários, pelos direitos dos negros, pelos pobres e oprimidos, pelo direito à liberdade religiosa, pelo direito daqueles que não tem religião, pelos direitos da comunidade LGBTQIA+, pelos direitos dos animais e tantas outras lutas que o senhor abordar, estou contigo.
Não digo diretamente em nome da comunidade muçulmana inteira, pois há várias formas de pensamento. Mas falo como este sheik que te ama e não foge da luta.
Eu me recordo de uma frase que me ensinou "nesta luta, sempre seremos perdedores" e mesmo assim, me espelho na sua trajetória. E, se ser perdedor é ser como Vossa Senhoria, morrerei satisfeito em ter encontrado o verdadeiro sentido da vida e da religião, que é humanizar.
Finalmente, quero parabenizar o deputado Luiz Fernando, do PT, pelo ato e o irmão Ariel de Castro, que teve esta iniciativa, pois sou a favor de que o reconhecimento e as homenagens devem ser feitos todos em vida. Todo o bem deve ser feito em vida.
E que a paz de Deus esteja com todos, “as-salamu alaykum”. Que Deus abençoe a todos. Muito obrigado e eu posso falar que não tem palavras para agradecer.
E hoje, graças ao trabalho do padre Júlio Lancellotti, para ver como irradia, eu fico no bairro da Penha e nós somos a primeira mesquita do Brasil aonde está sendo criada uma cozinha solidária, copiando o trabalho do padre Júlio, para fazer alimento e jantar aos irmãos de rua, ao qual já começamos um trabalho alguns meses servindo todos os dias refeições, espelhado no trabalho do padre Júlio.
E também fomos a primeira mesquita do Brasil que, na época do inverno, quando teve frio, quando o padre Júlio abriu a igreja São Miguel Arcanjo para que os irmãos de rua dormissem lá dentro, na hora, conversando com o padre, eu tomei a iniciativa e foi a primeira mesquita do Brasil que abriu as portas, recolheu pessoas em situação de rua, deu toalha de banho, deu sabonete, deu xampu e deu banho neles, deu alimento e ainda convidou para dormir dentro de uma mesquita no Brasil.
Tudo espelhado e baseado no trabalho humanitário desse padre. Levar apedrejada? Levei muita apedrejada pela comunidade, pela falta de proximidade ao trabalho da caridade, por mais que o islã ensine isso. Pela falta de prática no amor ao próximo.
Mas, eu venho fazendo uma revolução, sou um humilde aprendiz do padre Júlio. E, nessa revolução, nós criamos um trabalho que não é um trabalho religioso, é um trabalho humanitário, um trabalho inter-religioso, um trabalho que é abençoado por Deus, onde não visamos nada.
E, para finalizar só mais uma vez, gratidão pelo convite e deixo muito bem claro que, pelo bem do Brasil, fora Bolsonaro, porque já não dá mais.
O SR. PRESIDENTE LUIZ FERNANDO - PT - Agradecer ao sheik Rodrigo Jalloul. Eu estava morrendo de vontade de falar isso, mas, formalmente, eu não posso fazer.
Queria convidar o Dr. Eder Gatti para fazer uso da palavra. Dr. Eder Gatti é presidente da Associação dos médicos do Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas.
O SR. EDER GATTI - Boa noite, senhoras e senhores. Primeiramente, eu queria agradecer ao deputado Luiz Fernando pela iniciativa e cumprimento, a partir dele, toda a Mesa. Queria agradecer e parabenizar pela iniciativa.
E eu também queria, além de parabenizar o padre Júlio pela honraria, eu queria também agradecer ao espaço que o padre Júlio está dando para nós estarmos aqui. Espaço para, enfim, expormos as nossas demandas, as nossas angústias.
Eu estou aqui porque o padre Júlio reconhece a luta do Hospital Emílio Ribas. Eu sou médico infectologista, sou servidor do Estado de São Paulo e eu dedico boa parte do meu tempo e dedico a minha vida ao Sistema Único de Saúde.
E eu não estou sozinho aqui, não. Dr. Vladmir está ali, é meu colega infectologista. Dra. Marinela também está ali. E o nosso hospital, ele tem uma importância muito grande para o Sistema Único de Saúde aqui de São Paulo.
Eu acredito que todos já ouviram falar do Emílio Ribas, é o instituto que atende, basicamente, doenças infecciosas. Então, nós atendemos pacientes que vivem com HIV, pacientes com hepatites virais, pacientes com tuberculose e normalmente são pacientes que carregam várias vulnerabilidades. Pacientes que trazem sofrimento não apenas pela doença, mas também o sofrimento, muitas vezes por sua condição social.
E muitas vezes, o nosso hospital atende doenças que muitos hospitais não atendem. Nós somos médicos que põe a mão em pacientes que, muitas vezes, outros médicos não querem pôr a mão.
E vale lembrar, também, que o Emílio Ribas é um hospital que, durante a sua história, foi vanguarda em vária epidemias. O Emílio Ribas, por exemplo - só para falar as epidemias mais recentes - enquanto na periferia de São Paulo morriam aos milhares, pessoas de todas as faixas etárias por meningite e o regime militar oprimia a divulgação dessa epidemia, o Emílio Ribas, que tem a capacidade para duzentas pessoas hospitalizadas, chegou a ter mais de mil pessoas hospitalizadas ali naquele nosocômio.
O Emílio Ribas, durante os anos 80, acolheu as pessoas com HIV, pessoas com Aids, pessoas sem perspectiva de sobrevida. Inclusive, o padre Júlio viveu muito esse período frequentando o nosso hospital com as crianças que nasciam com a doença.
O nosso hospital, inclusive na história recente, nós tivemos um protagonismo muito importante nas epidemias de H1N1, na de febre amarela - não sei se vocês lembram, a Grande São Paulo a poucos anos atrás teve uma epidemia de febre amarela - e recentemente, estávamos na vanguarda do combate à Covid-19.
E veja, o nosso hospital, ele vai ser mais importante ainda, porque vocês todos estão vivendo, estão acompanhando.
As condições sociais da nossa população estão se deteriorando, os nossos programas sociais, as nossas políticas públicas de manutenção de saúde da nossa população, infelizmente, estão se deteriorando por conta de políticas equivocadas, políticas desestatizantes e, certamente, isso vai impactar na saúde da população e aí a gente vai começar, infelizmente, a ter novamente epidemias de sarampo, de difteria, o retorno do HIV e, certamente, o Emílio Ribas vai ser muito importante.
Pois bem. Por que nós estamos aqui? Por que nós estamos fazendo essa luta e por que estamos ao lado do padre Júlio? O Emílio Ribas, ele foi esquecido pelo governo do Estado apesar de ter tido todo esse protagonismo nos últimos anos.
O Emílio Ribas, ele carece, como vários hospitais do SUS aqui em São Paulo, de profissionais. E por uma política deliberada do governo do Estado, não se faz mais concurso público. Lembre-se, eu sou servidor público, aqui nós estamos como servidores públicos e atuamos para o SUS como pessoas do serviço público.
Enfim, o governo do Estado não faz mais concurso público, o hospital chegou no seu limite, onde corre o risco de a gente ter leitos que não serão abertos por conta da falta de profissionais.
Para nossa surpresa, o governo do Estado decide resolver o problema da falta de profissionais do nosso hospital terceirizando mesmo. Entregando para organizações sociais, entregando para empresas médicas. Ou seja, tenta resolver um problema criando outro problema.
Por isso, nós, não só médicos, mas profissionais de todas as categorias e pacientes do Emílio Ribas, nós nos organizamos, estamos mobilizados em uma luta. Nós queremos o Emílio Ribas público e por inteiro, por inteiro. Nós não queremos o Emílio Ribas fatiado por empresas e organizações sociais. Queremos o Emílio Ribas público e por inteiro.
E por isso, nós estamos aqui. Assim que nós levamos ao padre Júlio a nossa luta, ele prontamente abraçou a nossa luta e, por isso, nós estamos ao lado dele.
Ele sempre esteve ao lado da nossa instituição e agora, ele sai a defesa da nossa instituição e por isso que nós, médicos, enfermeiros, profissionais de todas as categorias, nós somos muito gratos ao padre Júlio e nos sentimos muito honrados de estarmos aqui, prestigiando essa honraria.
Então, estamos aqui porque defendemos, não só o Emílio Ribas, defendemos o SUS, defendemos a saúde pública como dignidade humana e isso tem tudo a ver com a trajetória do padre Júlio.
Então, pessoal, lutamos pelo Emílio Ribas por inteiro, lutamos pelo SUS e agradeço ao padre Júlio e espero que o senhor tenha a vida longa e continue disseminando o bem para todos.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE LUIZ FERNANDO - PT - É muito triste, é muito triste o que eles vêm fazendo no Estado de São Paulo. Eles estão... A diferença, eu tenho dito aqui na Casa, que a diferença do governador de São Paulo e do Bolsonaro é a calça apertada e mais absolutamente nada.
Um vem desmontando o país e o outro vem desmontando São Paulo. A situação do Emílio Ribas é a situação dos outros hospitais, também, públicos.
Se eles pudessem, eles entregavam, imediatamente, para a iniciativa privada poder cobrar e acabariam com o serviço público. Acabaram com a CDHU e estão acabando com tudo.
Essa é a lógica que governa o nosso estado já a 40 anos, essa é a lógica que temos em Brasília e nós precisamos dar as mãos para tentar mudar essa lógica.
Agradecer o Dr. Eder Gatti. Queria... Dizem que quanto mais vai ficando para o fim, vai melhorando. Queria convidar, agora, o nosso advogado do padre Júlio Lancellotti, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, sempre deputado federal, advogado do Lula.
Toda vez que tem algum problema, ou se não tiver o Ariel está o Greenhalgh. Então, queria convidar o Greenhalgh para fazer uso da palavra. (Palmas.)
O SR. LUIZ
EDUARDO GREENHALGH - Deputado Luiz
Fernando, eu não vim preparado.
O SR.
PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO - PT - Como se você
precisasse disso.
O SR. LUIZ EDUARDO
GREENHALGH - Não vim nem preparado para subir aqui. Eu estava ali quietinho. E muito menos para
falar. Queria lhe cumprimentar por esta sessão solene, pela sua iniciativa,
assoprada no seu ouvido pelo Ariel.
Eu vou falar muito pouco. Um grande escritor disse que você
conhece as pessoas em três situações: na cadeia, na tortura e no exílio.
Eu sou advogado. E na minha vida de advogado, quando eu tenho um
cliente, eu procuro entender a alma deste meu cliente sob sofrimento. Hoje nós
estamos alegres aqui, contentes, orgulhosos de condecorá-lo.
Mas eu, como advogado dele, como advogado de outras pessoas,
muitas vezes vi o sofrimento. O sofrimento da injustiça, o sofrimento da
perseguição, o sofrimento da calúnia, o sofrimento da difamação.
Por mais que a gente esteja com a certeza do que nós estamos
fazendo, a calúnia atinge, a calúnia choca, a calúnia magoa, a calúnia
inferniza um pouco a vida da gente. Nessa vida minha com ele, são poucos os
momentos de felicidade, de alegria. E muitos os momentos de sofrimento.
Eu estava ali, Luiz Fernando, pensando na mãe dele. Eu chegava à
casa dela; ela estava na cozinha, sentada numa mesa, com o jornal “O Estado de
S. Paulo” na página das palavras cruzadas, fazendo palavra cruzada, em
silêncio. Muitas vezes, fingindo que não sabia o que se falava dele. Fingindo,
sofrendo em silêncio.
Padre Júlio... Eu vou contar uma coisa aqui; não era para fazer
isso. Um dia eu tive uma conversa com ele, numa campanha difamatória que faziam
contra ele. E era muita injustiça.
E, naquele dia, eu cheguei à noite, eu não conseguia dormir. Tem
essas coisas; a vida do advogado é isso. Muitas vezes, você não consegue
dormir, você assume os sofrimentos dos seus clientes.
Eu não conseguia dormir. E o Poder Judiciário muitas vezes é
impotente para resolver essas questões. E então eu tive uma outra ideia: eu
tinha um filhinho - ainda tenho - e eu levei o meu filho na igreja sua e lhe
dei o meu filho para batizar.
E você como padrinho do meu filho. O padrinho batizou o
apadrinhado. E vi que esse gesto meu com ele nos aproximou; me aproximou um
pouco mais, e a gente foi se conhecendo.
E o tempo foi passando, e as coisas foram melhorando. E o padre
Júlio começou a ter reconhecimento público. O deputado Luiz Fernando, no início
da abertura desta sessão solene, disse uma frase que é muito importante: o
padre Júlio fez, na pandemia, o que os governos não fizeram.
Todo dia de manhã, quando a gente via o padre Júlio com aquela
máscara ridícula, com duas bolas aqui - parece um ET -, andando com aquele
carrinho de supermercado... Entendeu?
E às seis horas da manhã dando café; às sete dando não sei o que
lá; às oito andando na Cracolândia; às 11 na Rua Tabatinguera, no Sindicato dos
Bancários, dando comida; às 13 horas isso, às 14 horas aquilo; a gente sentia
que não tinha o Estado para fazer isso, mas tinha o padre Júlio fazendo
diariamente essa questão. (Palmas.) Fez mais que o governo, fez mais que os
Poderes constituídos pelo nosso povo.
Então, padre Júlio, eu queria dizer, como advogado seu: tenho o
maior orgulho de ser seu advogado, embora muitas vezes não tenha conseguido
diminuir o seu sofrimento.
Mas esse tipo de homenagem faz com que... É um gesto que a gente
te doa, para diminuir as injustiças que te magoam, que te magoaram, que fizeram
você sofrer, a sua família sofrer. Felicidades a você; longa vida. Continue
sendo quem você é.
E eu só quero... Como o Suplicy disse aqui - “eu peço a Deus” -,
eu também peço a Deus para poder ter a condição de lhe defender melhor.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE - LUIZ
FERNANDO - PT - Agradecer ao nosso querido Dr.
Luiz Eduardo Greenhalgh. Queria convidar, para fazer uso da palavra - nós
já estamos terminando as falas, só faltam duas -, o pastor Jair, que é pastor
da Igreja Metodista e é coordenador do setorial inter-religioso do Partido dos
Trabalhadores. (Palmas.)
O SR. JAIR ALVES -
Boa noite, obrigado pela oportunidade. Prazer, Júlio. Eu já fiquei feliz o
suficiente de o Ariel falar da minha tradição, que sou metodista há 30 anos. E
pastor. A Igreja Metodista tem várias paróquias, e os pastores rodam muito, né.
Então, eu já passei por seis comunidades metodistas, sendo
nomeado. Há cinco anos, eu fui nomeado para o bairro do Belém, ali na Quarta
Parada, pertinho do Júlio; o Júlio já conhece lá a igreja metodista.
E é uma igreja pequena; é uma igreja a que eu vou no final de
semana, porque eu sou servidor da prefeitura. Na vida secular, tenha essa
inserção no serviço social; sou assistente social.
Mas sou pastor de carreira há 30 anos. Agora, o que eu fiquei
impressionado, Júlio, eu vou te contar: eu assumi uma igreja, como qualquer dessas
igrejas tradicionais, essas igrejas protestantes históricas, clássicas, uma
igreja com 86 anos que está ali. Aquela igreja metodista está fundada ali há
mais de 80 anos.
E ao chegar àquela igreja, me disseram: “olha, o padre Júlio é
vizinho aqui”. “Qual Júlio?”. “O Júlio Lancellotti”. Eu falei: “poxa, então
vamos fazer igual ao sheik Rodrigo fez, vamos imitá-lo, né”. “Não é para fazer
aqui...”.
Olha, o sheik Rodrigo se inspirou em você para fazer na mesquita
dele e teve sucesso. Embora o sheik Rodrigo tenha dito que levou pedradas lá,
né. E ele está conseguindo.
Agora, eu, faz cinco anos que estou brigando ali, tentando imitar
o padre Júlio. Por quê? Porque a Mooca, Alto da Mooca, Belém: não são só estes
bairros, todos os bairros têm, para com o morador de rua, aquela postura que
todo mundo já sabe, de exclusão. Agora, eu vou lá aos domingos e vou para cá e
para lá e vejo o padre Júlio andando para lá e para cá.
Eu vou dizer, padre Júlio: você é uma inspiração; você, quando
aparece, não precisa falar nada, já é uma tremenda de uma provocação. Os
comerciantes daquele bairro aplaudiram quando a Favela do Cimento pegou fogo.
A Igreja Metodista da Mooca foi lá com você; depois que pegou
fogo, que ficou sem nada lá, você foi lá plantar uma árvore, e os pastores
metodistas e alguns ecumênicos foram junto com você.
Agora, eu queria te dizer o seguinte: quando aquele morador de rua
foi queimado, foi violentamente assassinado na Avenida Paes de Barros, você
resolveu chamar a cidade de São Paulo inteira para fazer um culto em memória
daquele morador de rua que foi assassinado lá.
Então, Júlio, aquilo gerou um debate imenso dentro da minha rede
de religiosos. E gerou um debate, também, até na política pública, viu,
professora Aldaíza, dizendo assim: “poxa, nós vamos fazer o que o Júlio faz,
mas ele só faz lá na Mooca, em torno da igreja dele e tal né”.
Pastoral de... Vamos fazer igual no... Tem morador de rua que é
queimado lá na Penha, viu, Rodrigo, mas não dá para fazer, porque nós não temos
uma liderança ali que faça o que o Júlio consegue fazer, de enfrentar os
comerciantes ali, enfrentar aquela população ali.
Realmente, Júlio, parabéns, você é um profeta. Você estava tocando
pedra lá sozinho, e eu fiquei pensando: “poxa, vamos...”. Liguei para a Mooca e
disse: “escuta, não dá para pegar uma marreta e descer lá...”.
Um outro pastor, um pastor mais gordo que eu assim. “Vamos lá junto
com o Júlio”. “Você está louco, cara, ir lá junto com o Júlio pegar na
marreta”. Alguém disse: “não, não, o Júlio, mas nem os moradores de rua pegam
na marreta junto com ele, você vai pegar na marreta”. Gente, não, não...
Parabéns, Júlio. Que Deus te abençoe, irmão. Estamos juntos. É
isso. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE - LUIZ
FERNANDO - PT - Agradecer ao pastor Jair. E
queria convidar agora a nossa querida professora da PUC, nossa sempre
secretária Aldaíza Sposati, para fazer uso da palavra. (Palmas.)
A SRA. ALDAÍZA SPOSATI -
Difícil falar com máscara.
O SR. PRESIDENTE - LUIZ
FERNANDO - PT - Tira.
A SRA. ALDAÍZA SPOSATI -
Eu vou tirar um pouquinho, eu vou usar o cavanhaque aqui. Caro Luiz Fernando,
dessa potente família Teixeira Ferreira; isso na verdade é uma multidão, não é
uma família, né.
O SR. PRESIDENTE - LUIZ
FERNANDO - PT - Por isso que a gente entrou na
política.
A SRA. ALDAÍZA SPOSATI - Pois
é. De uma musculatura incrível. Acho que até vocês têm que abrir uma escola de
como fazer política, porque eu acho que realmente a família é incrível.
O SR. PRESIDENTE - LUIZ
FERNANDO - PT - Obrigado.
A SRA. ALDAÍZA SPOSATI
- Padre Júlio, eu acho que este é um momento
extremamente feliz, pelo reconhecimento, mas ao mesmo tempo altamente
reflexivo, por aquilo que a gente está vivendo.
E acho que neste momento, padre Júlio, não é só nesta cerimônia
que o senhor recebe um colar; o senhor recebe o tesouro inteiro. Quer dizer, o
senhor recebe brinco, pulseira, anel; tudo o que realmente pode combinar aqui
com esta manifestação.
Mas o padre Júlio disse que a gente sempre perde nesta sociedade.
Mas, apesar disto, eu acho que nós não nos conformamos,
absolutamente, em perder. Então, nós não podemos nos sentir acomodados por
perder.
Não
se tem dito uma situação em que o Estado brasileiro está reduzindo a
possibilidade de atenção à população de rua. Nós estamos vivendo esta situação
da negação do Bolsa Família, que, evidente, precisa, ou precisava - já não sei
em que tempo verbal eu digo isto -, precisava de mais força com essa introdução
de um dito e pouco conhecido Auxílio Brasil.
Por
que é que eu estou dizendo isso aqui? Para me explicar bem e para, quem sabe,
daqui sair realmente o não conformismo com o perder.
É
o seguinte: um senhor de rua com deficiência conseguiu um atendimento na
Defensoria de Porto Alegre, defensoria federal, porque ele dizia que não
conseguia um benefício por conta da deficiência, que esse benefício era
continuamente negado e que ele recebia, tão só, R$ 89,00 do Bolsa Família.
Esse
processo da defensoria foi para o Supremo Tribunal, em nome do que dizia há
pouco o caro senador, vereador Eduardo Suplicy, da luta pela Renda Básica, isto
é, uma lei de 2004 que, até hoje, não foi regulada e implantada.
O
ministro Gilmar Mendes diz que, em dois anos, o Governo deveria, no máximo,
gradativamente implantar a Renda Básica. Senhores, isso volta ao inverso de
termos um processo de crescimento das condições dessa transferência de renda.
Aqui
em São Paulo mesmo, várias pessoas em situação de rua têm o Bolsa Família. O
Auxílio Brasil retirou esse benefício básico, nem esses R$ 89,00 mais a
população de rua vai poder receber. Isso ninguém fala, ninguém diz.
Eu
não admito, absolutamente, perder calada. Nós não podemos nos conformar com
isso. Então, neste momento, Ariel, em que nós estamos aqui, realmente, numa
força pelo direito de cidadania de todos...
E
digo isso porque, ao lado do padre Júlio, nós lutamos por uma primeira lei de
direitos da população em situação de rua; fizemos uma primeira passeata, nesta
cidade, da população de rua, por conta de ela ser reconhecida.
A
dignidade tem que ser reconhecida e essa mínima situação, quase uma esmola,
está sendo retirada por esse cara horrível que, como dizia aqui o sheik, “Fora!”,
mas ele se faz dentro, e dentro exatamente para atacar os mais frágeis, porque
ele sempre patrocina aqueles que são os seus amigos. Então, padre Júlio, eu
penso que estou tentando dizer a vocês um grito de alerta.
Nós
não podemos silenciar com essa retirada. Não é questão de, tão só, o Programa
Bolsa Família, mas a única possibilidade de atenção, com o mínimo monetário, à
população de rua hoje é esse benefício, que terminou este mês. Não tem mais o
Bolsa Família.
Suplicy,
não tem mais atenção à população de rua, e nós estamos quietinhos. Não podemos
ficar quietos com isso. Então, nesta Casa de Leis, eu entendo que esse
benefício negado, por mínimo que seja, é, na verdade, uma ruptura com o mínimo
de dignidade e reconhecimento.
Muito
obrigada por esta possibilidade. Vou dormir tranquila, porque este peso,
realmente, é muito forte. É muito forte que o mínimo que se tem, a única coisa
que se tem que é realmente reivindicável, requerido pela população em situação
de rua, do ponto de vista do Estado brasileiro, está sendo retirado em
silêncio, em silêncio.
Fala-se
de precatórios, mas não se fala da vida daqueles que, quando muito, têm que
chegar a um depósito de ossos. Padre Júlio, muito obrigada. (Palmas.) Que o seu
colar brilhe e que a gente consiga não perder, mas realmente confrontar.
Muito
obrigada.
O
SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO - PT - Muito obrigado
à nossa querida professora Aldaíza Sposati. Quero, neste momento, convidar mais
uma vez o Cícero Crato e o Guilherme Moura para apresentarem mais uma canção
para nós. Neste momento, vão apresentar a canção “Utopia”.
* * *
-
É feita a apresentação musical.
* * *
O
SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO - PT - Quero
agradecer ao Cícero Crato e ao Guilherme Moura, que interpretaram a canção
“Utopia”. O Colar de Honra ao Mérito Legislativo é a mais alta honraria
conferida pela Assembleia Legislativa de São Paulo.
Foi
criado em 2015 e é concedido a pessoas naturais ou jurídicas, brasileiras ou
estrangeiras, civis ou militares que tenham atuado de maneira a contribuir para
o desenvolvimento social, cultural e econômico do nosso estado, como forma de
prestar-lhes, pública e solenemente, uma justa homenagem.
O
homenageado de hoje, o querido padre Júlio Lancellotti, é teólogo, pedagogo e
ativista social defensor dos direitos humanos. É pároco da Igreja São Miguel
Arcanjo, na Mooca, desde 85, e vigário episcopal para o povo de rua, nomeado
por D. Paulo Evaristo Arns. É fundador da Casa Vida, dedicada a acolher
crianças portadoras do vírus HIV.
Também
atuou na Pastoral do Menor. Professor honoris causa pela Universidade São Judas
Tadeu e doutor honoris causa pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, PUC de São Paulo. É reconhecido e premiado por sua incansável atuação na
defesa dos direitos humanos.
Por
essa razão, queremos convidar para vir até aqui conosco o padre homenageado,
padre Júlio Lancellotti, para que seja outorgado com o Colar de Honra ao Mérito
Legislativo do Estado de São Paulo. (Palmas.)
Queria
convidar, também, o deputado Maurici, que está aqui presente, para estar aqui
com a gente. (Palmas.) Queria convidar, também, o sempre deputado e vereador
que nos provocou, Ítalo Cardoso, para vir aqui também. (Palmas.) E o Ariel, que
nos propôs esta homenagem. (Palmas.)
* * *
-
É feita a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São
Paulo.
* * *
O
SR. JÚLIO LANCELLOTTI - Eu queria,
rapidamente, agradecer. É difícil dizer o nome de tantas pessoas queridas que
estão aqui presentes, que fazem parte da nossa vida, da nossa luta, das nossas
lágrimas e dos nossos risos.
Eu
agradeço a cada um, a cada uma. Queria pedir a bênção ao pai Denilson, que está
aqui conosco representando todas as religiões de matriz africana, assim como ao
pastor e ao sheik que estão aqui conosco. Queria dizer ao deputado, agradecer
imensamente ao Ariel, a todos do Poder Legislativo.
Eu
estive muitas vezes nesta Casa, muitas vezes ali em cima, e fui com muitos
retirado à força daqui. Eu estive aqui nesta Assembleia na luta pela aprovação
do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana; foi uma luta terrível
conseguir aprovar o Condepe aqui nesta Assembleia.
Eu
estive aqui quando os estudantes secundaristas ocuparam a Assembleia
Legislativa e eu trouxe aqui, para os estudantes que ocupavam esta Casa, o pão feito pelo povo da rua, para
partilhar com eles em gesto de solidariedade esse pão. Aqui nesta Assembleia nós viemos muitas vezes lutar contra tortura, contra violência, na defesa dos Direitos Humanos.
E eu
queria aqui, nesta mesma tribuna, dizer: viva o papa Francisco, que foi
ofendido aqui. Queria dizer aqui nesta tribuna: viva D.
Orlando Brandes, que foi ofendido aqui nesta tribuna.
Viva
os que lutam pela defesa dos Direitos Humanos, dos que lutam na defesa da vida,
dos encarcerados, dos quilombolas, das mulheres e dos homens encarcerados, dos
sem-terra, dos sem-teto, de todos os movimentos de luta pela vida, do grupo
LGBTQIA+, de todos os que lutam pelos sem-terra, pelos sem-teto, os que lutam
contra a tortura, contra a violência.
Muitas
vezes nós viemos aqui nesta Assembleia lutar a favor e pela
defesa dos desempregados, dos jovens encarcerados e torturados na Febem, hoje
Fundação Casa.
E
muitas coisas nós esperamos. Algumas pessoas me disseram: “eu
também estava com medo de vir aqui”,
porque eu sei que, e respeito todos os senhores e senhoras deputados, sei que
eles representam parte da população, e muitas vezes, e alguns disseram para
mim: “não vai lá, não”.
Eu falei: “eu
vou, sim. Eu vou para dizer: ‘viva o povo da rua. Viva os catadores de material reciclável. Vila o quilombola. Viva os povos indígenas. Viva as religiões de matriz africanas. Viva o Emílio Ribas, que não seja privatizado, nem desmontado. Viva
os trabalhadores da Saúde, do SUS, dos que lutam pela vacinação do povo, dos que lutam contra todo
o tipo de violência’”.
Eu
queria pedir, e disse: “eu vou lá para pedir um compromisso para a Assembleia Legislativa”.
Queria pedir à Assembleia
e aos Srs. Deputados, e todos os que representam o Poder Legislativo: nós
precisamos fazer um censo da população de rua do estado de São Paulo.
Nós precisamos saber a situação do estado de São Paulo. A população de rua de São
Paulo, da Capital, hoje, é mais de 35 mil pessoas. Está sendo feito um censo novamente, que já
temos cobrado muito. Mas é preciso
ver a resposta metropolitana, não só da cidade, mas da metrópole
de São Paulo, e de todas as regiões
do estado de São Paulo.
É
preciso, como lembrou a Profa. Dra. Aldaíza Sposati, que seja aprovada a proteção social para os
moradores de rua e para toda a população vulnerabilizada. Que seja São Paulo, e vários municípios, que apoiem e implantem a renda que o Eduardo
Suplicy tanto luta por ela. Que seja vivenciado, que São Paulo saia na frente,
nesse sentido lutando pelos pobres do Brasil inteiro que estão aqui.
E
pedi já
ao deputado, e peço mais uma vez, publicamente, que o Projeto de lei nº
726, deste ano de 2021, seja apoiado, como foi sua
sugestão, por vários deputados, e a Assembleia Legislativa apoie este
Projeto de lei de vários deputados, tirando toda a intervenção hostil, que alguns chamam de “arquitetura
hostil”, mas os próprios arquitetos
pediram para não chamarem assim, mas todo tipo de intervenção
hostil.
São pequenos gestos, grandes gestos de resistência. O que a Aldaíza lembrou: nós perdemos, mas
resistimos. E, como lembrou esses dias, porque hoje nós
lembramos 50 anos do assassinato de Marighella.
Viva Marighella. Viva Marighella. (Palmas.) E viva
todos os que lutam contra toda forma de ditadura.
Esse
ano é o centenário de Paulo Freire. Viva Paulo Freire. Esse ano é o
centenário de D. Paulo Evaristo Arns. Viva D.
Paulo Evaristo Arns. Que nós, nesta Assembleia, lutemos com aqueles deputados que
são progressistas, que são comprometidos com a luta popular, com a luta dos
pobres, dos fracos e dos pequenos, que nós
tenhamos essa resistência.
E,
como lembrou o Pr. Henrique, que é um dos atores do filme do Marighella:
resolveram nos matar, mas nós resolvemos não morrer. (Palmas.) E nós
vamos resistir numa luta histórica, dentro dessa luta histórica
de todas as pessoas queridas que estão aqui, como o Dr. Luiz Eduardo Grinhal,
que nos emocionou muito na sua fala.
Eu
queria, entre todos, escolher uma pessoa que fala muito ao meu coração, à minha vida, as lágrimas que eu sofri, a luta que eu vivi, e que eu gostaria que todos
aplaudissem, a Dra. Marinella Della Negra (Palmas.), do Instituto de
Infectologia Emílio Ribas, que é uma heroína brasileira, ítalo-brasileira, uma heroína na luta e na defesa do Instituto Emílio Ribas e dos doentes, que no início da pandemia de Aids foi uma das pessoas lutadoras na
defesa da vida de tantas pessoas.
Então eu, agradecendo, peço esse compromisso: vamos apoiar e aprovar essa lei
contra a intervenção
nos espaços públicos contra os moradores de rua. Vamos aprovar uma
proteção social para os mais vulneráveis, que são os sem-terra, que são as periferias, mais
os moradores de rua.
Vamos
fazer um censo estadual da população em situação de rua. Vamos articular
defesa, proteção, a esse povo que é desempregado, espoliado. Muitas vezes, e poucas vezes, os
moradores de rua são impedidos de entrar num lugar como esse.
Eu
queria propor que num horário que não fosse à noite, porque muitos têm que encontrar, às vezes, só um pedaço de papelão para dormir, que um dia nós
fizéssemos aqui uma grande audiência pública com os catadores, com os moradores de rua, para que
eles pudessem dizer de viva voz o sofrimento por que eles passam.
E
quando representantes desta Casa condenam que deem alimento para os irmãos e as
irmãs de rua, nós resistimos, Aldaíza, partilhando o pão, partilhando a vida, partilhando o
sofrimento e a alegria, partilhando tudo o que nós
temos, para que os mais pobres, os mais fracos, e os esquecidos sejam
lembrados, defendidos e valorizados.
Uma última coisa que eu queria dizer: esse colar amanhã
vai estar na carroça dos catadores. (Palmas.) E amanhã
de manhã eu vou levar para os moradores de rua, lá
na comunidade São Martinho, no café da
manhã, e dizer para eles: “vocês têm
que ser reconhecidos. Lutem. Resistam. Tenham força, e tenham coragem, sempre.”
(Palmas.) Sempre, desde abaixo e à esquerda. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO - PT - Enquanto a gente vai se recompor, eu queria, mais uma
vez, convidar o nosso querido Cícero Crato e o Guilherme Moura para interpretar a canção
Bandeira do Divino.
* * *
- É feita a apresentação musical.
* * *
O SR. PRESIDENTE - LUIZ FERNANDO - PT - Obrigado, queria agradecer muito ao nosso querido músico cantor, Cícero Crato, bem como ao Guilherme Moura, pelas
apresentações que fizeram.
Padre,
normalmente, o pessoal erra, não passa o nome de todo mundo, mas eu queria
homenagear as pessoas que aqui estiveram conosco, lendo o nome de cada um
desses. Me desculpem aqueles que a nossa assessoria esqueceu de anotar.
Estão conosco aqui a Sra. Afonsina Gomes Araújo, que é presidente da Caritas, lá de Guarulhos, a nossa querida professora Aldaíza Sposati, professora da PUC, o querido Alex Sandro,
presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas, é o
Alex (Inaudível.),
o Álvaro de Azevedo, da editora Matrioska, a Sra. Ana
Carolina Fontoura Lopes, da editora Planeta, Ana Maria da Silva Alexandre,
coordenadora da casa de oração, a Deisiane Rosa dos Santos, representante da
população de rua, Ariel de Castro Alvez, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais
e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Arlindo Pereira Dias,
membro da Rede Rua, representando o Sr. Alderon Costa, presidente da Rede, Arnobio
Lopes Rocha, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, o Dr.
Carlos Isa, defensor público, responsável pelo Núcleo
da Defensoria Pública aqui na Alesp, que nesse ato representa o Dr. Florisvaldo Fiorentino,
que é o defensor-geral do estado, Carlos Roberto Fróes, padre, Carlos Roberto Fróes, padre da Paróquia
Divino Espírito
Santo e coordenador da pastoral da criança, o Sr. Cícero Crato, que nos abrilhantou com a música,
a Sra. Clarice Maria Melo Ferreira, da editora Planeta, a Sra.
Creusa Trevisan Alvez, membro da diretoria executiva do Instituto Vida de
Direitos Civis e Ecológicos.
Estiveram
conosco também o Sr. Daniel Kfouri, que é fotógrafo,
o Sr. Danilo Santana, membro da Comunidade São Miguel Arcanjo, o Sr. Denis
Vieira do Nascimento, representando o deputado Paulo Teixeira.
Quem
esteve aqui foi a minha afilhada, a Manu. O Sr. Douglas Mansur, fotógrafo
da arquidiocese, o Dr. Eder Gatti, presidente da Associação dos Médicos do
Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas, nobre e querido vereador Eduardo Matarazzo
Suplicy, nosso sempre senador, Dr. Elizeu Soares Lopes, que é ouvidor
das polícias do estado de São Paulo, o padre Elson Paulo Correia
Lopes, que é pároco membro da Comunidade Eclesial de Base de São Mateus, padre José Enes
de Jesus, coordenador da Pastoral Afro, da Arquidiocese de São
Paulo; querido Enio José da Silva; Sr. Fábio Ribeiro dos Santos, coordenador da
Paróquia de São Miguel Arcanjo, setor Conquista; Dr. Fábio Roberto Gaspar,
presidente do Sindicato dos Advogados de São Paulo; Prof. Dr. Fernando
Altemeyer Junior, chefe do departamento de Ciências Sociais da PUC de São
Paulo; Sr. Francisco das Chagas Vidal; Sra. Geni Aparecida de Oliveira, que é
membro da Comunidade Eclesial de Base do Morro Doce; Sra. Gisele Pereira
Aguiar, editora Matrioska; o querido Guilherme Moura Brito, escritor e músico;
Sra. Isabel Peres; querido Hélio Rodrigues, presidente do Sindicato dos
Químicos de São Paulo; pastor Jair Alves, que é pastor metodista do setorial
inter-religioso do PT de São Paulo; Sra. Joana Delfina Pinto da Silva; Sr. João
Neto; padre Jorge Bernardes, pároco da Igreja Santa Rita de Cássia; Sr. José
Laurindo de Oliveira, ex-vereador do município de São Paulo; Sra. Júlia
Graciela da Conceição Silva; Dr. Luciano Barbosa da Silva, membro da Comissão
de Direitos Humanos da OAB; Dra. Luiza Aguirre, membro da Comissão de Direitos
Humanos da OAB; padre Luiz Carlos de Brito, pároco da Diocese de Guarulhos; Sr.
Luiz Carlos Pietro Alexandre, da Casa de Oração; nosso querido Dr. Luiz Eduardo
Greenhalgh, ex-deputado federal e advogado; Sr. Luiz Fernando Moreira; Dra.
Luzia Paula Cantal, conselheira da OAB de São Paulo; Sra. Maria da Cruz Santos
Silva de Souza, que é membro da Comunidade Eclesial de Base do bairro Teotônio
Vilela; Sra. Melissa Tarrão, coordenadora da Pastoral da Juventude; Sra.
Patrícia Melo, editora Matrioska; Sr. Paulo César Pedrini, coordenador da
Pastoral Operária; sheik Rodrigo Jalloul, líder religioso do Islamismo em São
Paulo; Sr. Rogério Reis, bispo da Livraria Loyola; Sra. Rosemeire Nogueira,
presidente de honra do grupo Tortura Nunca Mais; Sra. Sandra Cristina Ferreira,
assessora do vereador Suplicy; Dr. Sidney Barbosa, psicólogo, agente pastoral e
seminarista; Sra. Sofia Gonçalves Duarte; padre Tarcísio Marques Mesquita, que
neste ato representou o arcebispo de São Paulo - padre Tarcísio é coordenador
das pastorais sociais da arquidiocese; Sra. Teresa Ribeiro, presidente do
Instituto Popular Paulo Freire; Sr. Thiago Henrique Soares da Silva; Sra.
Vanessa Damiani, representante da população de rua; Sra. Vera Lúcia de
Oliveira, presidente do Instituto Vida de Direitos Civis e Ecológicos; Sr.
Vítor Goulart Nery, da Editora Matrioska; Dr. Walter Mastelaro Neto, membro da
Comissão de Direitos Humanos da OAB; Dr. Willian Fernandes, ouvidor da
Defensoria Pública de São Paulo; Sr. Wilson José Cemini; Dr. Wladimir Queiroz,
diretor clínico do Hospital Emílio Ribas; Sr. Antônio Carlos de Araújo,
representante da população em situação de rua; Sr. Denilson Dangilis, amigo do
padre, representando as religiões de matriz africana neste ato; Sr. João Carlos
Ribeiro de Barros Lima.
O
senhor me perdoe, Denilson, por não ter convidado. Isso é falha da nossa
assessoria, depois vou chamar atenção deles. Era para o senhor estar aqui
conosco, o senhor nos perdoe. Já nos falaram que o padre Júlio chama atenção na
frente dos outros, então vou chamar atenção na frente dos outros. Perdoe-me.
Sr.
João Carlos Ribeiro de Barros Lima, representando a população em situação de
rua; Sr. Pedro Renato de Farias, representante da população em situação de rua;
Sra. Raquel Cepe de Barros Lima, representante da população em situação de rua;
Roberto Massoque; Roberto Arakaki, diretor da Associação dos Feirantes; querida
Jordana Mercado; Ariovaldo de Camargo; Sofia Gonçalves Duarte; Josué Rocha;
João Vitor Pinto de Araújo, Larissa Campos Rubim; Mateus Baêta; Evandro
Floriano; Fernanda Polachini; Valdino de Assis; Roberto Massaki; Renê Ivo
Gonçalves; querida Maria Gusmão; nossa presidente do Sitraemfa, Maria Aparecida
Nery; Vanderlei Oliveira; Anderson dos Santos Caetano Tortelli; Josefa Efigênia
Rosa, da Pastoral do Povo de Rua; Vicente Bresson.
São
esses os nomes, padre, que chegaram até nós. Eu quero agradecer a presença de
todas e todos, pedir desculpas se tivermos omitido algum dos nomes.
Esgotado
o objeto da presente sessão, eu agradeço a todas as autoridades aqui presentes,
autoridades civis, religiosas, a todos os que aqui participaram, à minha
equipe, que ajudou a organizar, aos funcionários do Serviço de Som da
Assembleia Legislativa, da Taquigrafia, da Fotografia, do Serviço de Atas, do
Cerimonial, da Secretaria Geral Parlamentar, da Imprensa da Casa, da TV Alesp e
das Assessorias Policiais Militar e Civil, bem como a todos que, com suas
presenças, colaboraram para o pleno êxito desta solenidade.
Quero
agradecer, em nome do Miguel Biaso, da Suzana, todos os meus assessores que
ajudaram a organizar este evento. Agradecer ao Ítolo e ao Ariel por estarem nos
trazendo essa brilhante proposta.
Está
encerrada esta sessão.
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Encerra-se a sessão às 22 horas e 05 minutos.
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