12 DE NOVEMBRO DE 2021

11ª SESSÃO SOLENE PARA ENTREGA DE COLAR DE HONRA AO MÉRITO LEGISLATIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO À MC SOFFIA

 

Presidência: ERICA MALUNGUINHO

 

RESUMO

 

1 - ERICA MALUNGUINHO

Assume a Presidência e abre a sessão. Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene, para a "Outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à MC Soffia", por solicitação desta deputada, na direção dos trabalhos. Anuncia a composição da Mesa; e convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Agradece a presença de todos. Destaca a importância deste momento na história das Casas Legislativas do Brasil. Ressalta a entrega de uma das maiores honrarias desta Casa à uma jovem talentosa, com mais de dez anos de carreira artística, lutando pelo rompimento do racismo e das desigualdades. Considera importante a valorização do agora e de todos os presentes para a construção do futuro. Diz ser muito importante celebrar as conquistas em vida e incentivar as jornadas de luta. Discorre sobre a atuação de MC Soffia. Anuncia a exibição de vídeo celebrando a carreira da homenageada. Lembra a infância de MC Soffia. Diz ter se emocionado com o vídeo.

 

2 - LUCIA MAKENA

Assessora, avó e inspiração de MC Soffia, agradece a deputada Erica Malunguinho e a este Parlamento pela homenagem. Discorre sobre o trabalho e a carreira de sua neta, MC Soffia. Comenta o projeto "Ocupa Pretinha". Destaca o apoio dos movimentos sociais, da família e de muitos representantes do rap nacional à homenageada. Parabeniza Soffia pela honraria recebida.

 

3 - KAMILAH PIMENTEL

Produtora e mãe de MC Soffia, agradece o convite da deputada Erica Malunguinho. Fala sobre a carreira de Soffia, do apoio de sua família e da convivência com a música, desde a infância. Discorre sobre sua profissão, na área de eventos.

 

4 - PRESIDENTE ERICA MALUNGUINHO

Anuncia a exibição de vídeos com depoimentos de familiares e amigas de MC Soffia.

 

5 - IESAMI GREGÓRIO

Avó de MC Soffia, agradece esta Casa e a deputada Erica Malunguinho pela homenagem. Elogia o profissionalismo, compromisso e responsabilidade de sua neta.

 

6 - ADÃO OLIVEIRA

Representante do Movimento Negro Unificado, faz coro ao pronunciamento de Iesami Gregório, avó da homenageada. Lembra eventos com a participação de MC Soffia, desde 2013. Diz acompanhar a carreira da artista. Demonstra sua alegria em estar presente a esta homenagem.

 

7 - PRESIDENTE ERICA MALUNGUINHO

Discorre sobre a atuação da homenageada. Presta homenagem, com a entrega do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo, à MC Soffia.

 

8 - MC SOFFIA

Homenageada, agradece a todos os presentes, à deputada Erica Malunguinho, à sua família e ao seu público. Destaca a importância da família e dos amigos em sua vida. Lembra o início de sua carreira e da necessidade de combater o racismo por meio da música. Discorre sobre o seu projeto "Ocupa Pretinha".

 

9 - PRESIDENTE ERICA MALUNGUINHO

Anuncia a apresentação musical de MC Soffia, com as músicas "Empoderadas" e "Menina Pretinha". Lembra o momento difícil que o País atravessa. Lamenta que a cultura tenha sido muito prejudicada durante a pandemia. Comemora a entrega deste Colar de Honra ao Mérito a uma profissional da cultura. Considera essa uma área essencial para superar as dores e vulnerabilidades. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Erica Malunguinho.

 

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A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Bom dia a todes. Senhoras e senhores, sejam todes bem-vindes à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Esta Sessão Solene tem a finalidade de outorgar o colar de honra ao mérito legislativo do estado de São Paulo, a Mc Soffia. Comunicamos aos presentes que esta Sessão Solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp, e pelo canal Aesp no YouTube.

Convidamos para compor a mesa diretora a rapper Mc Soffia (Palmas.) Que close gente... Kamilah Pimentel, produtora e mãe da rapper Mc Soffia (Palmas.) e Lucia Makena, assessora e avó da rapper Mc Soffia (Palmas.)

Sob a proteção do estado laico, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Senhoras deputadas, senhores deputados, minhas senhoras e meus senhores. Essa Sessão Solene atende a minha solicitação, deputada estadual Erica Malunguinho, com a finalidade de outorgar o colar de honra ao mérito legislativo, do estado de São Paulo, à Mc Soffia.

Convido a todos os presentes para, em posição, ouvirmos o hino nacional brasileiro.

 

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- É entoado o hino nacional brasileiro.     

 

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A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Eu quero agradecer a presença de todos, todas e todes e dizer da importância deste momento não só para esta Casa Legislativa, a importância deste momento como um momento épico, histórico das casas legislativas do Brasil. Nós estamos, sim, conferindo uma das maiores honrarias da Alesp a uma menina, a uma mulher jovem.

A política brasileira, no seu processo de construção, se afastou constantemente das pessoas, sobretudo das pessoas jovens. Entregar este colar à MC Soffia, uma jovem talentosa com mais de 10 anos de carreira artística, e que nessa carreira vem construindo debates muito importantes em relação ao rompimento do racismo e das desigualdades e à importância do papel da mulher na sociedade.

Esta Casa Legislativa, ao conferir o Colar de Honra ao Mérito a uma jovem com essas qualidades, está dizendo para outras jovens e outros jovens que a política é o futuro, mas esse futuro só acontecerá se a gente valorizar o agora.

O agora está na mão da juventude. O agora está na mão das pessoas mais velhas também, o agora está na mão de todo mundo que está agora, só que, por muito tempo, a política e as instituições brasileiras só reconhecem as pessoas, os talentos e os feitos quando se chega a uma determinada idade, ou, pior, apenas quando morremos.

Celebrar em vida é um ato importantíssimo, é incentivar o futuro, é incentivar que outras, que outros, que outres continuem essas jornadas de luta. Pausa poética.

A MC Soffia tem inúmeras contribuições, como o projeto “Ocupa Pretinha”, no qual abre espaço para jovens artistas negros, além do reconhecimento internacional de que goza com a honraria que recebeu da World Woman Foundation em 2020, única menina homenageada, mulher brasileira, com participações em conferências da ONU para o Fundo das Nações Unidas para a Infância e do 1º Seminário Paulista para a Proteção das Crianças e dos Adolescentes.

Honrar a trajetória de MC Soffia é honrar também a trajetória da juventude negra periférica paulista, que contribui para o desenvolvimento social com criatividade, engajamento social, proatividade e talento. Com a outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo à MC Soffia, esta Casa de Leis tem a oportunidade, como falei anteriormente, de reconhecer a atuação política de uma jovem mulher negra exemplar que, apesar de tão jovem, há 10 anos contribui para o bem social do estado por meio do seu trabalho artístico como cantora e compositora.

Neste momento, assistiremos a um vídeo que celebra a carreira da MC Soffia.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Gente, é emocionante, né? Emocionante, Soffia. Kamilah, eu lembro que a gente se encontrava às vezes na Praça da República, em vários lugares, a Soffia deste tamanhinho e você ali já no corre. A Soffia cantando e já fazendo tudo e aí de repente a gente se depara com dez anos de carreira e a gente continua do mesmo jeito, intactas.

Emocionante. E eu não lembrava desse feito importantíssimo que a Soffia cantou na abertura das Olimpíadas. Como a ancestralidade é posta, eu chamo aqui para vocês ouvirem Lucia Makena, assessora, avó, inspiração, educadora, avó de Mc Soffia.

 

A SRA. LUCIA MAKENA - Eu nunca estive aqui neste espaço assim e já estive em algumas ações que tiveram aqui na Assembleia. Estou superemocionada. Não sei se eu vou conseguir falar alguma coisa.

Primeiro, eu queria agradecer a deputada, porque só mesmo nós entendemos tudo que acontece, todas as dificuldades que o racismo coloca na nossa vida, o racismo estrutural, e agradecer o convite, agradecer ela ter aceito essa proposta maravilhosa.

Até comentei com ela, achei que era uma atividadezinha pequena quando eu fui conversar com ela e de repente ela nos brinda com esta homenagem à Soffia. Quero agradecer à Casa, à Alesp, por estar nos recebendo e também porque é a Casa do Povo, a nossa casa. A gente tem que estar aqui sim escutando as nossas narrativas, enfim.

Difícil falar da Soffia, porque ela é minha neta e eu fico muito emocionada, apesar de ter acompanhado todo esse processo, porque tudo que a gente faz, tudo que a Soffia faz é verdade. Ela não é uma artista que foi criada para agradar um determinado público e para ter uma certa notoriedade.

Então ela é uma menina que é de verdade. Não é perfeita como ninguém, não é, gente? Somos todos seres humanos, como dizem, mas ela sempre esteve junto com a gente, sempre esteve na correria.

Desde pequena, o racismo a atingiu. Ela representa isso, mas as crianças negras, principalmente, são atingidas pelo racismo desde pequenas, sem saber falar até, bebezinhas.

Então, o trabalho que a Soffia faz não é um trabalho sozinha, a gente tem toda uma força dos nossos ancestrais, a gente tem todo um apoio dos movimentos sociais, em especial do movimento negro, do movimento de mulheres negras, do movimento de mulheres, que sempre receberam a Soffia de braços abertos.

Uma vez, conversando não lembro com quem, a pessoa falou assim: “Lucia, aconteça o que acontecer, vamos estar sempre aqui com a Soffia”. Então, eu fico muito feliz, porque muitas coisas acontecem de maneira orgânica. Então, por conta desse trabalho que ela faz, das letras e tal, ela tem convites maravilhosos, tanto dos movimentos sociais, das escolas, mas também da ONU, da ONU Internacional, da ONU Mulher, da Unicef, de pessoas que a gente nunca pensou que fôssemos acessar nesse nível.

Eu acho que ela tem um legado que é muito importante. A gente tem sempre o apoio, como eu falei, de todos vocês que estão aqui, dos fãs, de todo mundo, e é legal porque ela tem consciência disso. Ela sabe, ela sente. Ao mesmo tempo em que a Soffia... As pessoas falam: “Ah, você está ensinando, você está inspirando.”. Mas ela também está se inspirando, ela também está aprendendo.

Ela é uma jovem como qualquer outra jovem, ela está sempre errando e acertando e perguntando, querendo saber mais e também querendo passear e se divertir, porque é uma menina normal, mas ela entende que o trabalho dela, o rap, o rap nacional, principalmente, tem uma força muito importante. Então, ela faz jus a essa força, ela traz em suas letras.

As primeiras letras não era ela que escrevia, porque ela começou com seis, sete anos, mas, conforme ela foi crescendo e absorvendo isso e começou a escrever, hoje ela é uma letrista, uma compositora excepcional aos 17 anos. Ela tem as letras muito fortes, ela dá a cara dela para bater.

Ela é artista, a Soffia é artista. É uma ativista, mas é uma artista, uma artista que coloca a cara dela a tapa, vamos dizer assim, para o enfrentamento contra o racismo. Acho que só por isso, eu penso que é uma força muito grande, mas é uma força que ela dá e que ela recebe ao mesmo tempo.

Então a gente fica muito feliz. Ela está em livros de redes públicas, ela e outras pessoas negras importantes, porque a luta do movimento negro possibilitou que a gente conseguisse abrir essas possibilidades, inclusive de estar neste espaço.

Ela está em teses de mestrado, estão pesquisando. A gente acompanha algumas entrevistas, mas a gente até perde a conta. Então, ela está como referência, ela está sendo entrevistada. O que a Soffia está fazendo é abrindo caminhos.

O projeto “Ocupa Pretinha”, que, inclusive, já esteve na Aparelha, é um projeto onde ela traz... Por conta da Covid, ela acabou fazendo remoto, mas ela convida as pessoas, meninas principalmente, porque a gente tem que trabalhar muito forte com as nossas meninas negras, porque não é fácil para nós vivermos em um lugar onde a gente não é aceita em situação nenhuma. A gente tem que quebrar todas as barreiras todos os dias.

Então, fortalecendo essas meninas que querem um espaço, uma possibilidade, ela abre o feed dela do Instagram e todos os domingos tem uma menina lá, ou ela está cantando, ou recitando, ou desfilando, falando de química, de física. A gente pode ocupar todos os lugares.

A Soffia é uma artista, inclusive uma artista que já emprega várias pessoas. Eu mesmo sou uma, né? Emprega várias pessoas e vai empregar muito mais, vai abrir muito mais frentes de trabalho, mas ela não está sozinha, ela não chegou sozinha até aqui.

Ela teve junto dela, mais próximo, a família, tanto materna quanto paterna, mas ela também tem o apoio dos movimentos sociais, ela tem o apoio diferenciado de muitos representantes do rap, de mulheres do rap nacional, de homens do rap nacional.

Então, estou muito feliz de estar aqui. Parabéns, Soffia. A gente segue em luta. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Isso porque Soffia tem apenas 17 anos.

Quero fazer um agradecimento e registrar a presença de Clea Maria Ferreira Lima, presidente da Comissão Especial de Apoio ao Afroempreendedor do município de São Paulo; a Rose Menezes, do Conselho Municipal do Negro de Taboão da Serra, ao Adão Oliveira, do Movimento Negro Unificado; à Vera Lúcia Campos, do Kit Com Elas; a Iesami Gregório, avó paterna; a Heloisa Silva Brasilino, do Grupo de Mulheres do Brasil; ao pai, Francisco Borges, empresário, e Amanda Coelho, também empresária. 

  Agora, nós ouviremos a mãe, Kamilah Pimentel. 

 

  A SRA. KAMILAH PIMENTEL - Bom dia a todas e todos. Gente, eu nem sei muito o que eu vou falar. A minha mãe já falou bastante, mas vamos lá. Vou elaborar alguma coisa aqui.

  Mas, primeiro, eu gostaria de agradecer o convite e esse evento. Principalmente quando soube que ia acontecer da Erica, que sempre foi uma parceira, principalmente quando a gente idealizou esse projeto, o "Pretinha Rainha".

  Esse projeto começou no Aparelha Luzia porque ela abriu espaço para a gente, levou as meninas para gente começar todo esse trabalho lá. Então, a gente já tem uma relação de intimidade e tudo mais. 

  Então, quando isso aconteceu, e poder vir essa homenagem das suas mãos, para a gente foi muito positivo dentro de toda essa trajetória, para nós foi muito significativo. 

  Sobre a Soffia, eu acho que ela tem essa questão, como a minha mãe falou, da estrutura familiar, tanto paterna, quanto materna. Na verdade, ela chega até a ser muito mimadinha, mas... Isso é muito importante, essa estrutura familiar que dá força para ela e que faz ela acreditar nos sonhos dela e em tudo que ela pode fazer porque ela tem o apoio.

  Então, muitos jovens, muitas pessoas, muitos artistas, quando eles não têm esse apoio familiar, é algo que atrapalha muito na caminhada. Ele tem que esperar chegar na vida adulta para poder correr atrás dos sonhos e aí fica um trauma, fica uma coisa. Então, esse também é um lado positivo que a Soffia tem. 

  Também, assim, tanto na minha família, quanto na família paterna, a gente teve convívio com música. A Soffia conta que ela teve com a bisavó paterna dela muitas questões musicais. Ela tem tias também, uma é atriz, a outra também cantou. 

  Eu tive o meu avô que ele era da música, então ele inseriu música na nossa infância. Pelo menos eu lembro que, desde os dois anos, ele fazia eu cantar, me colocou na escola de música.

  Então, a gente já tinha muita música na família. Tinha a questão da música na família paterna, então juntou tudo e veio a Soffia misturinha, né? E veio a Soffia com toda essa musicalidade.

  A gente tem, também, a questão religiosa também muito forte de matriz ancestral, que é algo que nos protege, que nos guia. É muito importante a gente entender essa parte, quem veio antes de nós, quem nos segura até hoje e quem vai segurar a nossa caminhada até o nosso fim.

  Então, eu gostaria de agradecer, nesse momento, todas as pessoas que estão aqui. Queria conversar - depois eu vou passar e conversar melhor com todo mundo. Comecei a conversar e dispersar, porque eu falo bastante também.

  E é isso, né? A Soffia, eu falo que a Soffia me deu a minha profissão, porque eu fiz a faculdade de eventos, trabalhava em eventos culturais, aí um dia me falaram "ah, por que você não trabalha com artista?" e eu "ah, gente, artista é meio complicado". 

  Ainda acho artista meio complicado e aí eu falava "não, vou ficar trabalhando em evento geral" e aí a Soffia começou a despertar esse lado artístico e eu "ah, nossa", né? E comecei a procurar pessoas para me ajudarem e comecei a me especializar nessa área artística e continuo estudando até hoje, na verdade.

  Porque a gente optou a seguir um caminho independente, não ter amarras com grandes empresas, com grandes gravadoras e a gente sabe que quando a gente não tem essas amarras, o caminho é muito mais demorado. Porém, a gente consegue alcançar várias coisas que eu valorizo e fico muito feliz por isso também.

  Então, eu só tenho a agradecer mesmo. Acho que gratidão é a palavra mais forte que eu tenho a dizer e, principalmente, me entender como empresária, que demorou para entender essa palavra.

  Sim, eu sou empresária. Acho que é algo que nós, mulheres pretas... Não sei nós, mas eu tinha um pouco dessa dificuldade de me assumir enquanto empresária e, hoje sim, falar "sou empresária, sou empresária".

  E é isso. Vestir a camisa. Também estou na faculdade de direito, quem sabe um dia eu termino. Um dia, né? Falaram para mim que eu tenho dez anos para terminar e eu falei "então ok, beleza. Então vou ficar tranquila".

  E é isso. Porque eu quero me especializar na área da propriedade intelectual, entendendo que o artista do hip hop, os artistas pretos não sabem ainda trabalhar com a questão do registro, que a gente tem como herança a nossa arte e essa nossa arte a gente tem que aprender a registrar, tem que aprender a receber com ela e tentar passar um pouco desse conhecimento para as pessoas que eu conheço.

  Então, a Soffia meu... nem sei o que dizer. Eu olho para ela e começo a rir, a gente tem uma relação muito específica, né, gente? Mas é isso, ela é maravilhosa, é uma menina muito esperta e inteligente. Ela consegue ouvir muito o que a gente tem a dizer e ela veio com muitas habilidades mesmo, musicais.

Apesar de que ela tenha muita ansiedade, porque a gente vive num mundo em que as pessoas pregam muito que tem que ter muitos números, tem que ter clipes bombados. E às vezes não é isso, gente. Às vezes, todo esse reconhecimento que ela tem, pessoas com milhões de seguidores, pessoas com milhões de plays nem chegam a ter tudo o que ela tem.

Então, acho que a gente também tem que valorizar muito isso: as pessoas que realmente gostam de verdade, que realmente apoiam de verdade, e tudo o que ela está conquistando, inclusive este momento em que estamos todos aqui.

Então, muito obrigada. É isso. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Obrigada, Kamilah. E tem uma questão também, né, Kamilah, que é a questão da qualidade, a mensagem que está sendo dada em cada música.

Às vezes, muitas coisas são bombadas, são muito vendidas, mas não trazem nenhum conteúdo relevante e que movimente a vida das pessoas, como a Soffia tem construído no decorrer da sua carreira. 

Agora a gente vai assistir a um outro vídeo, que traz depoimentos da tia e assistente-geral de Soffia, a Potira Caruana, e da amiga Amanda Silva de Oliveira, de 15 anos, participante do Ocupa Preteenha, esse importante projeto liderado por MC Soffia.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Acho que esta Casa nunca ouviu tanto a palavra “negra” na vida. Agora eu vou chamar Iesami Gregório, avó paterna de MC Soffia. 

 

A SRA. IESAMI GREGÓRIO - Bom dia. Acho que eu posso tirar a máscara, né? Vacinada, revacinada. Depois eu coloco, tá bom? Bom dia a todos. Eu não sou de falar muito, mas não poderia deixar passar essa oportunidade.

Eu quero agradecer esta Casa, uma Casa nova, da qual temos que participar e estar mais presentes, né. E que isso seja uma coisa comum: nós, pessoas pretas, nós, pessoas do outro mundo - como diz a professora Rosane Borges - temos que estar e ocupar todos os espaços que são de todos.

Eu agradeço à deputada Erica por esse olhar, essa gentileza, generosidade e entendimento dessa importância de nos trazer aqui, numa sexta-feira, em São Paulo, nesse horário da manhã, com tudo parado - é difícil. Então, uma gratidão.

Eu esqueci de falar: eu sou Iesami, a vó paterna. E a gente está muito junto nessa caminhada da Soffia. Ela, como profissional, acho que é a profissional mais comprometida que eu conheço. Soffia tem um compromisso com ela mesma, um compromisso com os projetos dela. Soffia canta derrubada na cólica, passando mal, vomita um pouco antes, vai, porque ela tem um olhar da responsabilidade, do compromisso mesmo com o outro, e um coração gigante.

Soffia nunca quis estar sozinha. Ela fala assim: “Não, eu vou. Não, chama aquele. Não, olha para aquela. Foi difícil, é complicado para mim, então eu também quero que outros venham comigo”, né, Soffia?

Isso é muito importante, porque ela só tem 17 anos e ela tem um olhar geral. Soffia não é só uma artista, não é só uma cantora: é uma artista multimídia. Soffia desfila, Soffia escreve, Soffia compõe, Soffia faz os programas na internet, na TV.

Então, Soffia tem um olhar geral. Essa totalidade, que a constrói e que a faz construir-se cada vez melhor e maior, é muito importante. A gente agradece por todos os canais, todos os espaços que têm esse olhar para com ela, porque a gente sabe o quanto é complicado, a gente sabe o quanto é difícil.

Ela poderia estar em outros espaços e nós sabemos por que ela não está nos outros espaços, ou em todos os espaços. Isso, nós sabemos. Então, essa importância desse prêmio é enorme, enorme.

A deputada Erica, nesse olhar grandioso, é um presente para a Soffia, é um presente para nós da família e é um presente para todos nós, porque nos trazer a esta Casa, isto é extremamente grande e importante.

Eu espero, não como a Soffia disse, “Meus tataranetos continuarem na luta”; eu espero que os tataranetos dela já não lutem para nada que seja de sobrevivência, direitos civis e direitos de estado ou não. Eu quero que os tataranetos dela já tenham tudo isso muito igual a todos, que seja direito para todos.

Então, eu espero, porque nós estamos ouvindo já de muito tempo, que o povo que venha depois já esteja muito melhor, cuidando de outras coisas, não lutando por espaço.

Então, estarmos aqui trazidos por esse prêmio oferecido pela deputada Erica Malunguinho é muito importante. Eu agradeço a presença de todos. Todos, porque eu sei o que foi o caminho para todo mundo estar aqui neste horário.

Mais uma vez, obrigada, deputada, obrigada a esta casa e a todos. Um bom dia e que possamos compartilhar. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Se esta é a Casa do povo, façamos jus a isso. Quero chamar também, para subir ao plenário, Adão Oliveira, do Movimento Negro Unificado. (Palmas.)

 

O SR. ADÃO OLIVEIRA - Bom dia a todos. Eu poderia simplesmente dizer: “Alegremente, faço das palavras da Iesami Gregório as minhas palavras” e ir embora. Muito bom, muito forte.

Eu lembrei da pessoa que foi a ministra da Promoção da Igualdade Racial, a Luiza Bairros, que, em 2012, quando foi do lançamento do Estatuto da Igualdade Racial, período de todo o ministério da presidente Dilma, ela indagou como estariam os estudantes negros em 2030.

No vídeo que apareceu, nas várias atividades da MC Soffia, estava colocado daqui a 40 anos como que vão estar as coisas, e a MC Soffia compartilhou alguns dos seus sonhos.

Mas, se tiver pessoas como MC Soffia, como a Kamilah Pimentel, como Iesami Gregório, como nossa querida artesã participante de seminários e congressos, Lucia Makena, estaremos bem em 2030.

E aí eu me lembro que em agosto de 2013, quando foi feito um evento em celebração aos 50 anos do discurso de Martin Luther King, foi no CEU Butantã, um evento organizado pela Palas Athena.

O meu amigo e cofundador do Movimento Negro Unificado, Toninho Crespo, fez a parte artística, e ele convidou MC Soffia para fazer a abertura. Naquele dia ela estava um pouquinho sonolenta porque o evento era à noite, e pelo que vocês veem a questão da Educação é muito importante na família dela.

Então ela deve ter pegado aquele dia de escola, e chegou lá. Mas quando pegou o microfone, levantou geral. Levantou geral o auditório do CEU Butantã, isso em agosto de 2013, celebrando os 50 anos do discurso de Martin Luther King, eu tenho um sonho.

, em outubro do mesmo ano é realizado o evento Festa do Saci, lá na Cohab Raposo Tavares, no Parque Juliana Torres. E aí teve muitas crianças que participam. Participam as crianças da Escola Maria Alice Ghion, declamando poesias, tal, e assim por diante; e, no final da tarde, MC Soffia foi convidada a contribuir com sua música, e ela cantou brilhantemente no encerramento da Festa do Saci em 2013.

Desde então eu acompanho sempre que possível, logicamente pela internet, em atos públicos. A participação de MC Soffia é sempre marcante. E alguns atos da Marcha das Mulheres Negras ali, estava ali junto, solidarizando. Então é uma alegria imensa eu estar aqui enquanto Movimento Negro Unificado, com essas mulheres brilhantes, e ao mesmo tempo alegre por ver que o futuro da juventude negra está sendo construído de uma forma brilhante.

Eu fecho a minha fala solicitando o apoio de todos para que estudantes de nove a 14 anos participem da Conferência Nacional de Educação em 2022, porque em 2017 o Fórum Municipal de Educação, a pedido nosso, do MNU, e do Conselho de Representantes de Escolas, junto com a Ação Educativa, fez oficina e levou estudantes de nove a 14 anos que participaram da conferência regional, municipal, estadual e nacional, em Brasília.

Lá eles participaram falando, colocando cartaz, colocando o que eles queriam na Educação. Então, se eu vi MC Soffia aos nove anos, em 2013, cantando, já se expressando, imagina o que ela faria agora com 17 anos.

Então se estudantes com nove anos em 2018 participaram da Conferência, agora estão com 17 anos; imagina o que eles falarão pela qualidade da Educação. Então a indagação que a ministra Luiza Bairros fez em 2012 nós temos que refletir: como que estarão os estudantes negros em 2030? Eu espero que todos estejam próximos ao que está MC Soffia.

Obrigado. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Obrigada, Adão, guerreiro querido.

O Colar de Honra ao Mérito Legislativo é a mais alta honraria conferida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, foi criado em 2015, e é concedido a pessoas naturais ou jurídicas brasileiras ou estrangeiras, civis ou militares, que tenham atuado de maneira a contribuir para o nosso desenvolvimento social, cultural e econômico.

Como forma de prestar-lhes pública e solenemente uma justa homenagem, a "feminageada" Soffia Gomes da Rocha Gregório Correia, conhecida popularmente por MC Soffia, começou carreira artística aos sete anos.

Nascida e criada da periferia da zona oeste de São Paulo, hoje, com 17 anos, é referência para jovens do estado por sua ampla consciência política, refletida nas suas produções musicais focadas no empoderamento feminino e no empoderamento negro.

Com músicas como Menina Pretinha, Minha Rapunzel Tem Dread e Barbie Black, MC Soffia vem difundindo a ideia de que mulheres, pessoas negras e, particularmente, meninas negras são capazes de conquistar o domínio da própria trajetória.

Há dez anos, diante do público, a imagem dessa menina negra, de cabelo black power e roupas multicoloridas, rodando o Brasil ao cantar composições próprias de rap, com letras de complexo entendimento de mundo para uma criança, tem sido de grande impacto não só para a sociedade paulista, mas para as meninas e jovens negras na periferia de todo o Brasil.

Felizmente, é crescente e pujante o debate público não apenas em torno do racismo, mas também de ações afirmativas da diversidade que somos como sociedade, até mesmo da diversidade geracional.

A trajetória de MC Soffia representa o que há de mais orgânico em termos de engajamento social de crianças e jovens negros e negras que se preocupam com o bem-estar coletivo e que se interessam por política, apresentando potencial para a sua renovação. Há anos Soffia percorre particularmente escolas públicas com seu trabalho com crianças e jovens, discutindo a realidade periférica por meio da arte.

A indicação para que MC Soffia receba o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo justifica-se, portanto, não meramente em função do seu talento e de sua arte, mas sobretudo em razão da natureza transformadora que o seu trabalho tem para crianças e jovens de São Paulo e de todo o País, com representatividade geracional de gênero e raça, com estímulos para consciência de si e, ao mesmo tempo, com estímulo para uma atuação cidadã na sociedade.

MC Soffia é exemplo de uma juventude atuante, que pratica uma política viva e em movimento. Por essa razão, chamamos à frente a feminageada MC Soffia, para que ela seja outorgada com Colar de Honra ao Mérito do Estado de São Paulo. (Palmas.)

 

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- É entregue o Colar de Honra ao Mérito Legislativo.

 

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A SRA. MC SOFFIA - Vou ter que esconder as flores, que as minhas avós já vão querer. Gente, queria, em primeira mão, agradecer a todos que compareceram aqui. Está de manhã, eu também estaria com um pouquinho de sono, mas muito obrigada de verdade. Erica, muito obrigada por esta honra. Isto aqui é um troféu e, assim, Oscar nem precisa mais, já tenho isto daqui. Muito obrigada de verdade por isto.

Gente, eu queria agradecer à minha família também. Eu acho que a família é muito importante, sim, para a vida de um artista, as amizades também. Cada cabelo já, hum, essa Fulana, essa Cicrana, meus primos que compareceram, tiveram pessoas que não conseguiram comparecer, mas estão aí, sempre comigo, Potira, meu pai, minha mãe, minhas avós.

Eu era muito mimada, como diz a minha mãe. Isso foi muito importante, tá? Muito bom. Tive uma família muito grande, então se todos fossem falar ia dar um pouquinho mais de horas.

No começo da minha carreira eu não tratava isso como "hum é uma carreira", sabe? Eu via um modo de brincar, de me divertir, então eu cantava, chegava nos eventos que a minha avó fazia, que a minha mãe ia, chegava e cantava uma música. "Posso cantar?" e cantava.

Queria agradecer muito à Vivian Marques por ter aberto o projeto "Futuro do Hip Hop". Foi uma das minhas maiores inspirações de lá, que eu tenho esse nome de MC Soffia, que vem do elemento MC, Mestre de Cerimônia.

Eu, durante esta pandemia, pensei muito, muito, muito, fiquei pensando o tempo inteiro, escrevendo músicas novas, e sempre todo o trabalho que eu vejo que alcança escolas, os professores passando minhas músicas, os alunos: “Ah, estudei sobre suas músicas”. Ficam felizes por aprenderem e eu também fico muito feliz.

A música do empoderamento, às vezes as pessoas perguntam: “por que você faz música de empoderamento, por que não faz uma música chiclete, uma música aí para estourar?”

E eu faço, sou cantora livre, poderia, sim, mas eu acho que todo o nosso trabalho começa desde tão cedo. E a partir do momento que o racismo teve contato comigo onde eu nasci, o racismo teve contato, nós meninas pretas.

Eu já pensei que a música pudesse me livrar dessa dor, porque é uma coisa muito pesada, a falta de autoestima é muito forte, a gente se olhar no espelho e não se sentir bonita, e a minha família falava: “você é linda, você é poderosa, você pode ser o que você quiser.”

Então pude brincar de tudo, pude me divertir de tudo, só que eu saía do ambiente familiar e eu ia, tinha contato com as pessoas, com a escola, aí com o Estado, com a sociedade. Então falava: “alguma coisa está errada, eu sou bonita para a minha família e não sou?”

Então a questão da aceitação foi muito importante. A minha avó, Lúcia Makena, fazia muitas bonecas, ainda faz. Ela sempre fala: “não fala no passado, que eu ainda faço boneca.”

Ela ainda faz bonecas pretas, que foram as bonecas que eu mais tive na minha vida. Minha outra avó, Iesami, a gente sempre cantou antes de dormir, quando eu acordava, todo momento a gente cantava. E eu: “vovó, está fora do ritmo”. Mas a gente continuava cantando, mas enfim…

Meu pai, meu melhor amigo está assistindo, não conseguiu estar presente, mas também me dá muita força. A minha família, Laila, sempre nos primeiros shows aí, Potira, e principalmente minha mãe, minha empresária, que foi à luta mesmo comigo.

Eu acho que ela deixou de fazer muitas coisas para seguir esse sonho e falar, ela me perguntava: “é isso mesmo que você quer?” E eu pequena: “sim, mãe, quero ser cantora”. “Então você vai ter que ter uma responsabilidade e começar a saber que esse é o seu papel, vamos nos divertir, antes do show brinque; quando der a hora do show, cante”, e assim a gente foi e estamos aqui até hoje.

Ela sempre falou a importância que eu tive, sempre deixou muito claro, e eu, com a minha cabeça muito fechada, sempre achei que o ser famosa era ter os números, era ser estourada.

E muitas vezes todas essas homenagens são bem mais relevantes. Eu nunca imaginei receber esse prêmio, então sou muito grata a isso, muitas premiações que eu já recebi também, nunca caiu minha ficha, porque eu sempre soube que, sim, vou ser cantora, então vou receber prêmios, vou cantar com fulano, vou cantar com sicrano, mas tem muitos sonhos que, e conquistas do meu sonho que eu nunca imaginei, e esse é um deles.

Eu sempre usei minha voz para poder lutar, para poder me expressar. Então a partir do movimento hip hop, que foi a base de onde eu vim, a base do empoderamento onde a gente se expressa, a gente canta.

Minha família: “agora faz um rap com samba, faz um rap com samba rock”, onde todos os ritmos feitos por pessoas pretas, se a gente for pegar todos os ritmos, vieram da nossa Sof. Então eu sou livre, posso cantar tudo e me divertir.

A minha irmãzinha está ali fervendo, correndo para um lado, para o outro, mas eu também era assim quando eu ia aos eventos mias fechados. Minha mãe: “preste atenção no que o povo está falando”. E eu ficava desenhando e brincando. Enfim, o ser criança é muito importante. Eu tenho uma coisa muito forte com crianças. Por muito tempo eu tentei passar: “ah, eu quero logo alcançar o público jovem, quero logo ser jovem”. Mas eu aproveitei muito a minha infância, e as crianças são muito fortes comigo.

Então eu tenho muito a agradecer a esse público incrível onde eu comecei com a minha música “Menina Pretinha”. Eu queria agradecer aos autores dessa música, uma música que eu não tive nem noção do percurso que ela teve, alcançou muitos lugares, muitas meninas pretinhas, salvei muitas vidas sem eu perceber.

Mas muitas me falaram que não se gostavam, que não se amavam e que essa música fez começarem a se aceitar. E aí usava laços, as meninas começaram a usar laço, então eu fui essa referência, onde antigamente a nossa referência era sempre um padrão só de beleza e nós nunca tínhamos uma referência.

Então eu pude ser essa para as meninas, e pretendo que cada vez apareçam mais, porque uma só não salva milhares de pessoas. A nossa luta tem que sempre cada vez aparecer mais, daí que eu criei o Ocupa Pretinha, onde as meninas mostram o seu talento, mostram que elas também têm sonhos.

Eu tive o apoio da minha família, mas muitas pessoas não têm, só que a gente tem que, em primeiro lugar, colocar que o sonho é nosso. Então nós temos que ir atrás, nós temos que lutar. É muito clichê falar: “todos os sonhos vão dar certo”, mas a gente precisa acreditar que ele vai dar, porque eu acreditei e estou aqui hoje.

E ano que vem vai começar tudo de novo e todo ano vou estar começando, como diz a Elsa Soares, “comecei agora”. Eu escrevi como "my name is now", porque todo ano a gente começa de novo, a gente alcança um público novo, a gente cria músicas novas.

Então eu pretendo continuar, e sou muito grata a todos vocês que estão aqui, meus fãs, que vêm e falam: “Nossa, como você cresceu, lembro de você pequenininha”. E eu: “Meu Deus do Céu, gente, é importante crescer também, né?”. Já falo: quando eu tiver uns 30, 35, vamos acompanhar também, que é muito importante ter o público nessa fase.

Fátima, está todo mundo aqui também, minha equipe presente. Queria até perguntar se minha maquiagem borrou, amigo, qualquer coisa você vem dar um toque aqui só para não aparecer, né, toda borrada, porque eu chorei muito por todas essas homenagens incríveis. E eu pequena falava: “Eu não vou chorar quando minha família me fizer uma homenagem não, vou ficar de boa”.

E gente, eu já subi a escada chorando, mostrou o vídeo de mim falando e eu vejo que, sim, meu trabalho é muito importante e eu pretendo continuar assim para sempre e com vocês e minha família sempre ao meu lado.

Muito obrigada, Erica, e muito obrigado a todas e todos. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Gente, aproveitem que está todo mundo de pé e vamos ouvir a nossa feminageada fazendo uma das coisas que ela faz de melhor, né, que é cantar.

Então vamos aqui ouvir MC Soffia cantando. Aproveitem que estão de pé e já fiquem aqui de pé mesmo.

 

A SRA. MC SOFFIA - Som. A gente cantar chorando é difícil, hein? Mas vai dar certo. Bora animar aí para que a nossa sexta-feira seja muito próspera, de muita luz para todos vocês, e solta o som, DJ, né, gente, como diz o movimento hip-hop.

 

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- É feita a apresentação.

 

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A SRA. MC SOFFIA - E a gente se vê no Aparelha Luzia, né, gente? A dona. Mais uma? Eita, qual, senhor? Então, vamos. Eita, senhor, vamos no “Menina Pretinha”.

Vou à capela. Vamos na palma da mão, né, gente? Vocês estão aí, todos aquecidos, assim, ó: tchá, tchá, tchá, tchá. Vai, Erica. Dançarina também, Erica. Quem sabe, canta comigo.

 

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- É feita a apresentação.

 

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A SRA. MC SOFFIA - Muito obrigada, gente. Salva de palmas para minha equipe aqui, galera. (Palmas.) Muito obrigada. Boa tarde.

 

A SRA. ERICA MALUNGUINHO - PSOL - Gente, que emoção, não é? Eu quero agradecer as músicas e a "todes". Quero comunicar que após o encerramento da sessão a gente vai fazer um atendimento aqui fora, na Sala dos Espelhos, para cumprimentar as pessoas. Quero lembrar que a gente está vivendo ainda um momento muito tenso da história deste país.

Nós estamos em um momento em que mais de 80% da população está em insegurança alimentar. Nós estamos vivendo um momento que perdemos mais de 600 mil pessoas por conta da pandemia. Estamos em um momento em que a fome e a pobreza, a tragédia têm se intensificado.

A gente sabe que nesse conjunto de violência, de dores, nesse momento tão difícil,  a cultura foi um dos setores mais prejudicados, e fazer esta entrega deste colar a uma artista, a uma profissional da cultura, é também trazer essa vitalidade, de reafirmar que a cultura nos humaniza, que a cultura é essencial, e que o que o MC faz na sua música, no seu trabalho, diz respeito a essas dores, a essas vulnerabilidades, mas não diz respeito a ficar vivendo essas dores, que muitos ainda esperam que nós vivamos. Diz respeito à superação dessas dores.

O racismo estrutural existe, ele é um fato. O machismo existe, ele é um fato. A LGBTfobia existe, é um fato. O classismo existe, e é um fato, mas nós não nos reduzimos a isso. Nós vamos criticar essas violências, e vamos, como as vozes de Soffia, gritar pela emancipação coletiva. Por isso que aqui estamos. Estou emocionadíssima. 

Esgotado o objeto da presente sessão, eu agradeço as autoridades, a minha equipe, Ana Flor Fernandes, Débora Mota, Erica Zeviste, Felipe Barreiras, Felipe Brito, Gabriele Cristine, Grabriela Gomes, Gabriele Nascimento - três Gabrieles -, Jefferson Araújo, Lígia de Barros, Juliana Gonçalves, Maria Clara Araújo, Marcia Iso, Naiara Calli, Pedro Santana, Rafael Correia, Sandra Silva, Silvane Silva, Thales Santos, Ian Lima, Everton Carvalho e Raoni Diniz Lemos, sem os quais, as quais, nada disso seria possível.

Aos funcionários. Quero também agradecer aos funcionários do Serviço de Som da Alesp, da Taquigrafia, da Fotografia, do Serviço de Atas, do Cerimonial, da Secretaria Geral Parlamentar, da Imprensa da Casa, da TV Alesp e das Assessorias Policiais, Militar e Civil, bem como a todos que com as suas presenças colaboraram para o pleno êxito desta solenidade, e que venha um novo mundo.

Axé. (Palmas.)  

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 16 minutos.

 

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