21 DE AGOSTO DE 2025
107ª SESSÃO ORDINÁRIA
Presidência: EDUARDO SUPLICY
RESUMO
PEQUENO EXPEDIENTE
1 - EDUARDO SUPLICY
Assume a Presidência e abre a sessão às 14h10min. Comenta sobre a reintegração de posse do Teatro de Contêiner. Exibe vídeo da atriz Marieta Severo acerca do tema. Lê cartas de Fernanda Montenegro e Marcos Freire em defesa da permanência do Teatro de Contêiner em seu local atual. Discorre sobre a sua agenda de encontros para o 24° Congresso da Rede Mundial de Renda Básica, Basic Income Earth Network - BIEN. Convoca os Srs. Deputados para a sessão ordinária do dia 22/08, à hora regimental, sem Ordem do Dia. Levanta a sessão às 14h38min.
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ÍNTEGRA
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Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Eduardo Suplicy.
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Passa-se ao
PEQUENO EXPEDIENTE
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O
SR. PRESIDENTE - EDUARDO SUPLICY - PT - Presente o
número regimental de Sras. Deputadas e Srs. Deputados, sob a proteção de Deus,
iniciamos os nossos trabalhos. Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da
sessão anterior e recebe o expediente.
Passemos agora à lista de oradores do
Pequeno Expediente. Deputado Bruno Zambelli. (Pausa.) Agente Federal Danilo
Balas. (Pausa.) Luiz Claudio Marcolino. (Pausa.) Delegado Olim. (Pausa.) Rafa
Zimbaldi. (Pausa.) Dr. Jorge do Carmo. (Pausa.) Mauro Bragato. (Pausa.) Dr.
Elton. (Pausa.)
Valdomiro Lopes. (Pausa.) Beth Sahão.
(Pausa.) Alex Madureira. (Pausa.) Reis. (Pausa.) Rogério Santos. (Pausa.)
Carlão Pignatari. (Pausa.) Donato. (Pausa.) Thainara Faria. (Pausa.) Caio
França. (Pausa.) Dani Alonso. (Pausa.) Luiz Fernando Ferreira. (Pausa.) Ediane
Maria. (Pausa.) Fábio Faria de Sá. (Pausa.) Carla Morando. (Pausa.) Edson
Giriboni. (Pausa.)
Sebastião Santos. (Pausa.) Marcelo
Aguiar. (Pausa.) Maria Lúcia Amary. (Pausa.) Jorge Wilson Xerife do Consumidor.
(Pausa.) Itamar Borges. (Pausa.) Rômulo Fernandes. (Pausa.) Capitão Telhada.
(Pausa.) Jorge Caruso. (Pausa.) Delegada Graciela. (Pausa.) Gil Diniz. (Pausa.)
Letícia Aguiar. (Pausa.) Solange Freitas. (Pausa.) Lucas Bove. (Pausa.) Fabiana
Bolsonaro. (Pausa.)
Carlos Cezar. (Pausa.) Conte Lopes.
(Pausa.) Prof.ª Camila Godoi. (Pausa.) Guilherme Cortez. (Pausa.) Danilo
Campetti. (Pausa.) Paulo Mansur. (Pausa.) Major Mecca. (Pausa.) Thiago
Auricchio. (Pausa.) Paulo Fiorilo. (Pausa.) Enio Tatto. (Pausa.) Marcos
Damasio. (Pausa.) Rafael Saraiva. (Pausa.)
Agora vamos à Lista Suplementar.
Deputada Beth Sahão. (Pausa.) Danilo Campetti. (Pausa.) Dra. Damaris Moura.
(Pausa.) Eduardo Suplicy, que está inscrito por duas vezes.
Então, estando, por enquanto, apenas eu
presente, vou iniciar a minha fala, que tem como primeiro tema o Teatro de
Contêiner.
Hoje, não apenas como parlamentar, mas
como cidadão que aprecia as artes, estou profundamente consternado para falar
de um ato ocorrido na última terça-feira em São Paulo. Refiro-me à tentativa de
reintegração de posse do Teatro de Contêiner Mungunzá, localizado na região da
Luz, aqui na Capital.
Este não é um espaço qualquer. Em um
terreno municipal abandonado por anos, artistas, sonhadores e transformadores
sociais construíram com suas próprias mãos um espaço de esperança para o centro
da cidade. Onze contêineres se tornaram palco de vida, cultura e dignidade.
Em nove anos, mais de quatro mil
atividades artísticas, prêmios e, o mais importante, a transformação real no
cotidiano de uma região marcada pela extrema vulnerabilidade, o Teatro Mungunzá
nasceu com a preocupação em lidar com as questões do seu entorno. Buscou,
através da Cultura, oferecer uma saída para a Cracolândia. É uma ferramenta
legítima de transformação social, um exemplo de como a arte pode ressignificar
espaços e salvar vidas.
No entanto, estamos acompanhando a
força bruta substituir o diálogo, pois imagens mostram a Guarda Civil
Metropolitana usando de violência e spray de pimenta, tratando artistas como
criminosos. Uma ação desmedida, covarde e apressada.
Aparentemente, a reintegração foi
acelerada para limpar o terreno para um evento oficial que ocorreria na
quarta-feira, onde o governador e o prefeito desejariam mostrar que a
Cracolândia acabou. Mas acabar com a Cracolândia não é esconder a pobreza
debaixo do tapete ou demolir centros culturais. É investir em Saúde, em
Habitação, em emprego e também em Cultura.
Ressalto que o processo judicial está
em curso. Havia uma notificação com prazo que venceria apenas hoje, às 23 horas
e 59 minutos. A companhia tentava negociar, com apoio da Defensoria Pública,
uma extensão do prazo de saída. A própria ministra da Cultura, Margareth
Menezes, havia solicitado oficialmente um prazo de 120 a 180 dias para uma
transição adequada.
Entretanto, o que presenciamos foi uma
ação antecipada, sem diálogo e extremamente violenta. E qual é a justificativa
para tamanho absurdo? A prefeitura alega que o local é estratégico para um novo
programa habitacional municipal.
Ora, todos nós apoiamos a habitação
popular, mas é de se perguntar por que um programa que visa abrigar pessoas
precisa começar demolindo um espaço que já abriga e dignifica pessoas através
da arte. Não seria possível integrar esse equipamento cultural já consolidado
ao projeto?
A partir de pedido feito pelo nosso
querido colega, deputado Guilherme Cortez, ontem, o Ministério Público de São
Paulo pediu para o Ricardo Nunes, o prefeito, explicar essa ação truculenta da
GCM. O Ministério Público de São Paulo também instaurou inquérito civil para
investigar o prefeito Nunes por possível improbidade administrativa por conta
da ordem de despejo.
Concluo a minha fala com um apelo:
apelo ao prefeito Ricardo Nunes e ao governador Tarcísio de Freitas que
reconsiderem essa decisão, que parem com a violência contra a Cultura, que
respeitem a negociação, que ouçam o Ministério da Cultura e a sociedade civil,
inclusive a extraordinária atriz Fernanda Montenegro, que escreveu também uma
carta ao prefeito.
Quero dizer que o Teatro Mungunzá não é
uma invasão, é uma conquista social. Sua demolição não é um progresso, é um
retrocesso. Um espaço que floresce dignidade e cidadania. Sigo com a esperança
de que um outro mundo é possível, onde a cultura prevaleça sobre a truculência,
onde o diálogo supere a força e onde a cidade possa ser acessada por todos os
seus cidadãos.
Eu agradeço se o Machado puder
transmitir a apreciação que fez a extraordinária atriz Marieta Severo, que
também faz um apelo ao prefeito para que preserve o Teatro de Contêiner
Mungunzá.
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- É exibido o vídeo.
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Vejam só a
qualidade das palavras da atriz extraordinária Marieta Severo, que também se
soma aos apelos que fizeram a atriz Fernanda Montenegro e sua filha, a atriz
Fernanda Torres, que na sua carta ao prefeito diz: “Antes de mais nada, quero
celebrar a iniciativa da Prefeitura de São Paulo de reurbanizar a praça entre
as ruas dos Gusmões e a dos Protestantes, prevendo, para o local, prédios de
moradia popular, centro de atendimento de Saúde e de recreação.
Há quase uma década, quando a região se
encontrava em estado de profundo abandono, o grupo de teatro Contêiner Mungunzá
começou a desenvolver um projeto cultural no local. As raízes deste projeto
estão ligadas ao lugar em que ele se desenvolveu. É um teatro de praça, aberto
ao público, e, apesar do cuidado da Prefeitura de encontrar um outro espaço
para que as atividades da trupe continuem, este lugar não atende às
características do trabalho desenvolvido no teatro da Rua dos Gusmões.
Gostaria de pedir encarecidamente que o
Sr. Prefeito Ricardo Nunes repensasse o projeto e encontrasse alguma forma de
reconhecer o trabalho feito pelo Teatro de Contêiner Mungunzá ao longo desta
década, numa região até então marginalizada pelo poder público, e que
considerasse, além de todas as melhorias previstas para a praça, a
possibilidade de reservar um espaço para manter o Teatro de Contêiner Mungunzá
onde ele se encontra.
Quero também transmitir o apelo de
Marcos Freire, que é do grupo do Teatro Mungunzá, que publicou na “Folha” o
artigo: “Por que o Teatro de Contêiner deve permanecer?” “Começamos defendendo
a existência de teatros.
Os moradores de São Paulo reclamam,
diuturnamente, de como viver na cidade é ardo, corrido, um confronto contínuo
com a desigualdade e a violência. Mas vamos aos poucos deixando de nos perguntar
o que poderia produzir respiro, brincadeira e sonho em nossas vidas.
Todo mundo fala que o futuro está em
xeque por conta das questões climáticas e geopolíticas, mas pouca gente pensa
onde a gente exercita a imaginação para poder projetar futuros possíveis.
Questiono a solidão, mas é raro quem defenda um lugar de encontro e
convivência.
Os teatros são lugares para tudo isso,
mais ainda quando são produzidos coletivamente, quando são acessíveis a
diferentes camadas da população. Diria Arnaldo Antunes, ‘a gente não quer só
comida’, porque comida é essencial, mas não é o que nos torna humanos. Matar um
teatro é sempre matar mais um pouco da humanidade de uma cidade.
Quando nós ocupamos um terreno público
na região da Luz, em São Paulo, em 2016, somando-nos a outros equipamentos
culturais, nossa intenção era produzir uma janela de travessia em um espaço
muito embrutecido pela realidade. Nós a abraçamos.
Nosso teatro é casa de espetáculos, estúdio,
sala de reunião para inúmeros projetos artísticos e sociais. Abriga o ‘Tem
Sentimento’, projeto de geração de renda para mulheres trans oriundas de
situações de rua e vulnerabilidade.
Foi ponto de distribuição de comida
durante a pandemia. E é ponto de encontro e convivência para todos que habitam
o bairro, independentemente de sua condição social ou psíquica. É um lugar
democrático e, inclusive, que reconhece na cultura local a sua legitimidade e a
traz para dentro das salas de espetáculo.
Somos reconhecidos por produzir
tecnologia social e nossas ações são constantemente estudadas por pesquisadores
de diferentes áreas do conhecimento. Temos as contas em dia, a programação
quase diária, sempre a preços populares ou gratuita - o calendário está fechado
até dezembro de 2025.
Ao longo dos anos, nos mantivemos em acordo
com a Prefeitura sobre a ocupação: na medida em que cumpríamos uma função
pública, com uma gestão responsável, fomos vistos como parceiros por diferentes
mandatos.
Cremos que moradias sejam importantes,
essenciais. Mas não compreendemos por que não é possível usar os outros muitos
terrenos e prédios vazios do centro para ofertá-las, antes de desapropriar o
que funciona. Também não temos confiança de que a Prefeitura vá destinar a
moradia construída a quem precisa e vive no bairro em condições precárias.
Não é o que tem acontecido. As
populações mais necessitadas seguem sendo expulsas da região central, em um
processo já analisado por muitos especialistas como higienista e em favor de
interesses econômicos privados. Por fim, um bairro não se faz só de casas. Se
ele será habitado por pessoas, elas precisarão de praças, lazer e cultura.
As conversas cordiais com a Prefeitura
nunca foram acompanhadas de alternativas viáveis para nossa saída. Nós pedimos
um terreno adequado em tamanho, forma e acessibilidade à população a que somos
vinculados e o tempo necessário para honrar a programação já contratada - parte
dela com verba pública de convênios e editais - e nunca fomos atendidos.
Informações falsas foram divulgadas na mídia. Houve truculência, documentada em
vídeos, contra pessoas desarmadas.
O Teatro de Contêiner deve ficar porque
acreditamos ter descoberto modos de sonhar e fazer acontecer onde parecia
impossível. Não é algo de que deveríamos abrir mão”, conclui Marcos Freire, em
nome de todos aqueles que têm trabalhado e continuam a trabalhar no Teatro de
Contêiner.
Também gostaria
de, nesta tarde, registrar aqui um acontecimento tão importante que vai
acontecer na próxima semana, o 24º Congresso Internacional da Rede Mundial da
Renda Básica, da Basic Income Earth Network, com todo o apoio da Rede
Brasileira da Renda Básica e de mais de 400 pessoas que já estão inscritas.
Muitas apresentaram trabalhos de
natureza acadêmica sobre o tema da renda básica e, inclusive, tem uma comissão
que está estudando, analisando todos os trabalhos apresentados, que chegam a
mais de 200 e escolheram as três melhores teses de mestrado, e as três melhores
teses de doutoramento. E vai ser chamado, em homenagem à minha pessoa, por ter
sido o autor da lei que institui a Renda Básica de Cidadania.
Já na última terça-feira, dia 19,
participei, na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São
Paulo, juntamente com meus queridos amigos Philippe Van Parys, Luiz Carlos
Bresser Pereira e muitos estudantes que ali compareceram.
Nós repetimos o debate ocorrido 31 anos
atrás, em uma palestra cercada de estudantes atentos e engajados. Eu fiquei
extremamente contente em poder reviver o momento histórico de 1941. Foi
emocionante sentir a energia de tantas mentes curiosas, refletindo sobre a
importância da renda básica.
Tivemos, ainda, a honra de contar com a
presença do presidente da Bien, professor Sarath Davala, da Índia, e também da
vice-presidente, senhora Hilde Latour, que é da Holanda, o que tornou o
encontro ainda mais especial e inspirador. Agradeço a direção e o Centro
Acadêmico Visconde Cairu, da FEA, pela recepção e organização do evento.
Na manhã seguinte, houve o encontro no
Cebrap para um debate sobre a renda básica e a igualdade racial, com a presença
da ex-vereadora de São Paulo, Claudete Alves, que fez uma apresentação brilhante,
e também com o Philippe Van Parys e Sarath Davala.
A mediação foi de Henrique Moreira, do
Afrocebrap. O encontro foi extremamente rico. Pudemos aprofundar nas formas que
a RBC, Renda Básica de Cidadania, pode colaborar com o combate à desigualdade racial.
E, na tarde seguinte, nós estivemos na Universidade Estadual de Campinas, em
mais uma edição do “Café e Pesquisa” do Instituto de Economia, para debater
projetos de transferência de renda como instrumentos de transformação social.
Me acompanharam no debate Philippe Van
Parys e o pesquisador Zamokuhle Mabandua, da Durban University of Technology,
da África do Sul. Também participou do debate Leandro Ferreira, da Rede
Brasileira da Renda Básica, e o mediador, o professor Marcelo Manzano, da
Unicamp.
Ainda na sexta-feira, estive na PUC de
São Paulo para um debate sobre a renda básica e a proteção social - aliás, isso
vai se dar hoje à noite -, lições globais para o Brasil, com a presença também
do professor Sarath Davala e do deputado da Assembleia Nacional Portuguesa,
Jorge Pinto, a partir das 19 horas. Será mais uma oportunidade para refletirmos
sobre as experiências internacionais e caminhos para o Brasil. Convido a todos
os deputados e demais cidadãos e cidadãs para nos acompanharem pela Rede Alesp e
estarem lá presentes na Pontifícia Universitária Católica, hoje, às 19 horas.
Trago novamente o convite muito
especial para que cada pessoa que esteja acompanhando os nossos trabalhos
compareça, participe do 24º Congresso Internacional da Bien, que será realizado
na semana que vem, de 25 a 29, em Maricá e Niterói, cidades escolhidas em razão
do sucesso nas experiências que têm desenvolvido de renda básica de cidadania
associada a iniciativas de economia solidária e moedas sociais no Brasil.
Este Congresso terá como tema central o
debate da renda básica e da economia solidária, novos horizontes para a
proteção social. Contará com a presença dos maiores intelectuais sobre o tema
como Guy Standing, Philippe Van Parijs, Ugo Gentilini, Neil Coleman, Sarath Davala
e tantos outros que estarão lá comparecendo.
As inscrições estão abertas no site
www.bien2025.com.br. Uma oportunidade ímpar para aprofundarmos os
conhecimentos, compartilharmos a experiência, fornecermos a luta, fortalecermos
a luta por uma renda básica no Brasil e em todo o planeta Terra.
Havendo acordo de lideranças, esta
Presidência, antes de dar por levantados os trabalhos, convoca V. Exas. para a
sessão ordinária de amanhã, à hora regimental, sem ordem do dia.
Está levantada a sessão.
Muito obrigado.
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- Levanta-se a sessão às 14 horas e 38
minutos.
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