
11 DE ABRIL DE 2025
46ª SESSÃO ORDINÁRIA
Presidência: EDUARDO SUPLICY
RESUMO
PEQUENO EXPEDIENTE
1 - EDUARDO SUPLICY
Assume a Presidência e abre a sessão às 14h07min. Menciona presença em homenagem à deputada federal Luiza Erundina, hoje, na PUC/SP. Tece considerações sobre a trajetória política da homenageada. Discorre acerca da implementação da renda básica de cidadania na Alemanha. Exibe livro a respeito da biografia de Maria da Conceição Tavares. Comenta evento na Faculdade de Direito da USP, para defesa de plebiscito relativo a temas de interesse social. Critica rescisões unilaterais promovidas por planos de saúde. Cita julgamento da ADI 7265, no STF. Convoca os Srs. Deputados para a sessão ordinária do dia 14/04, à hora regimental, sem Ordem do Dia. Levanta a sessão às 14h31min.
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Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Eduardo Suplicy.
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Passa-se ao
PEQUENO EXPEDIENTE
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O
SR. PRESIDENTE - EDUARDO SUPLICY - PT - Presente o
número regimental de Sras. Deputadas e Srs. Deputados, sob a proteção de Deus,
iniciamos os nossos trabalhos. Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da
sessão anterior e recebe o expediente.
Eu, hoje, estou aguardando que outros
deputados venham participar da sessão, mas já aqui adianto algumas coisas que
considero importante falar, pois eu hoje tive a honra, o prazer de acompanhar a
sessão solene de outorga do título de doutor honoris causa à querida Luiza
Erundina de Sousa.
O evento ocorreu no Tuca Arena, na
Pontifícia Universidade Católica, com a presença, inclusive, de Dom Odilo, que
presidiu a sessão. E fui testemunha do caminho que centenas de pessoas têm tido
com a Luiza Erundina, hoje deputada federal.
Tem uma carreira brilhante na política
brasileira. Iniciou a sua vida pública em 1958, na cidade de Campina Grande, na
Paraíba, estado onde nasceu. Em 1974, Luiza mudou-se para São Paulo, foi
aprovada num concurso público para assistente social da prefeitura. Em 1980,
juntamente comigo e com tantos companheiros, fundou o Partido dos
Trabalhadores.
E foi justamente em 1985, quando eu fui
candidato a prefeito pelo PT e Luiza Erundina foi a minha companheira,
candidata a vice-prefeita. Ali, naquela ocasião, Jânio Quadros venceu com 37%
dos votos, Fernando Henrique 34% e eu tive 20%, estava crescendo, mas não
consegui.
Aconteceu que, em 1988, Luiza Erundina
foi eleita a primeira mulher prefeita de São Paulo. Teve uma gestão formidável,
um mandato com uma enorme participação popular e especialmente nas áreas da
Educação, Saúde, Moradia, com os importantes mutirões, Assistência Social,
Cultura e Transporte. Depois de ter sido prefeita foi, em 1998, eleita deputada
federal e hoje, quando completou 90 anos, está no seu sétimo mandato
consecutivo.
Luiza Erundina de Sousa foi aclamada
por todas as pessoas presentes, que ali encheram o Auditório da Apucarana, mais
que merecida essa homenagem recebida por minha grande amiga e companheira de
tantos objetivos em comum, sobre como fazer do Brasil uma sociedade justa,
livre, soberana, com democracia e com os instrumentos de política econômica e
social, que possam elevar o grau de justiça na sociedade.
Gostaria também de registrar a notícia
publicada pelo “UOL” a respeito das experiências da renda básica, que estão
sendo feitas em diversos países do mundo. “Pessoas que recebem a renda básica
universal, não trabalham menos”, diz o estudo publicado pela “UOL”, na data de
ontem, diz que: “As pessoas que recebem dinheiro suficiente para viver sem
condições, não são mais propensas a trabalhar menos horas e reportaram uma
melhor saúde mental, segundo um estudo alemão publicado nessa quarta-feira, dia
nove.
Durante três anos, entre junho de 2021
e maio de 2024, 107 pessoas receberam 1.200 euros ou 8.025 reais por mês, sem
obrigação de trabalhar. O estudo, o maior realizado sobre a renda básica
universal na Alemanha, constatou que o grupo que recebia os pagamentos não era
mais propenso a se retirar do mercado de trabalho do que o grupo de controle,
formado por 1.580 pessoas que não receberam esse dinheiro.
Além disso, os beneficiários se
sentiram mais satisfeitos com as suas vidas e tinham maior sensação de controle
sobre a mesma, segundo o estudo publicado pelo Instituto Alemão de Pesquisa
Econômica - DIW, os participantes que receberam o dinheiro, dedicaram em média
quatro horas a mais para atividades sociais na semana do que os que não
receberam, e os pesquisadores indicaram que isso pode estar relacionado ao
dinheiro extra.
As atividades sociais costumam ser
acompanhadas de gastos, seja para ir ao restaurante, comprar ingresso de cinema
ou atividades de lazer conjuntas, apontam. As melhores se mantiveram durante
todo o estudo, segundo os pesquisadores, mas os participantes que receberam a
renda básica universal não mostraram mudanças quanto a suas convicções
políticas ou a traços psicológicos, como a disposição de assumir riscos.
“Os participantes do estudo atuaram de
forma diferente não porque mudaram a sua personalidade, mas sim porque mudaram
as suas possibilidades”, afirmou uma das autoras, a psicóloga Susann Fiedler,
da Universidade de Economia de Viena.
A renda universal, debatida há tempos
em diversos países, tem sido considerada mais seriamente como proposta política
nesses últimos anos, ante o temor de que o ápice da inteligência artificial
provoque um desemprego em massa. Eu quero ressaltar que mais e mais economistas
da melhor qualidade têm tratado do assunto da renda básica ou da garantia de
uma renda mínima.
Aliás, eu tive a oportunidade de
adquirir esse livro de Maria da Conceição Tavares, considerada por tantos
economistas e tudo. Nessa publicação, a organizadora desse livro sobre vida,
ideias, teorias e políticas é a Hildete Pereira de Melo.
O nome do livro é “Maria da Conceição
Tavares: Vida, ideias, teorias e políticas”, publicado pela Expressão Popular;
pela Fundação Perseu Abramo, que é ligada ao PT; e ao Centro Internacional
Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.
Acontece que justamente no seu capítulo
conclusivo eis que Maria da Conceição Tavares, que infelizmente nos deixou em
2013, escreve sobre a renda mínima. Ela diz que era uma época de campanha
presidencial.
Ela diz: “Causa-me espanto que nenhum
dos principais candidatos à presidência estejam tratando de uma questão
visceral como a renda mínima, proposta que sempre teve no ex-senador Eduardo
Suplicy o seu mais ferrenho defensor e propagandista no Brasil.
Suplicy foi ridicularizado, espezinhado
por muitos, chamado de ‘um político de uma nota só’. Não era, mas, ainda que
fosse, seria uma nota que daria um novo tom à mais trágica de nossas sinfonias
nacionais: a miséria e a desigualdade.”
“Mais uma vez estamos na contramão do
mundo, ao menos do mundo que se deve almejar. Se, no Brasil, a renda mínima é
apedrejada por muitos, mais e mais países centrais têm adotado a medida.
No Canadá, a província de Ontário deu a
partida no ano passado a um projeto piloto de renda mínima para todos os
cidadãos, empregados ou não. A Finlândia foi pelo mesmo caminho e começou a
testar um programa também em 2017”. Ao que se sabe, cerca de dois mil
finlandeses passaram a receber algo em torno de 500 euros por mês.
“Na Holanda, cerca de 300 moradores da
região de Utrecht passaram a receber 900 a 1.300 euros por mês. O nome do
programa holandês é sugestivo, ‘Weten Wat Werkt’, Saber o Que Funciona.
Funcionaria para o Brasil, tenho certeza”, diz Maria da Conceição Tavares.
O modelo encontrou acolhida até nos
Estados Unidos, pois desde a década de 80 o Alasca paga a cada um de seus 700
mil habitantes um rendimento mínimo, chamado “Alaska Permanent Fundamental”,
que começou com cerca de 300 dólares mensais em 1982. Nesses últimos anos, o
rendimento pago pelo “Alaska Permanent Fundamental” vem sendo superior a dois
mil dólares por ano, por pessoa.
Os recursos vêm de um fundo de
investimento lastreado nos royalties do petróleo. E é bom que se diga que dois
dos fundamentalistas do liberalismo, os economistas Friedrich Hayek e Milton
Friedman, eram defensores da renda básica e até disputavam a primazia pela
paternidade da ideia. Friedman dizia que a medida substituiria outras ações
assistencialistas dispersas.
No Brasil, o debate sobre a renda
básica prima pela sua circularidade. O “Bolsa Família” foi o proxy de uma
construção que não avançou. Segundo o Fundo Monetário Internacional, a
distribuição de 4,6% do PIB reduziria a pobreza brasileira em espetaculares 11
por cento. Essa é uma ideia que precisa ser resgatada, uma bandeira à espera de
uma mão.
Entre os candidatos à Presidência, só
consigo enxergar o Lula como alguém identificado com a proposta. Se bem que a
coisa está tão ruim que, mesmo que ele possa se candidatar e seja eleito, teria
enorme dificuldade de emplacar projetos realmente transformadores. O PT não tem
força suficiente e os outros partidos de esquerda não reagem.
Lula sempre foi um grande conciliador,
mas um conciliador perde o seu maior poder quando não há conflitos, e uma das
raízes de nossa pasmaceira, desta letargia, é justamente a ausência de
conflitos, de contrapontos. Não tem nada para conciliar. Mais do que
conflitiva, a sociedade está anestesiada, quase em coma induzido. O que faz um
pacificador quando não há o que pacificar?”
Pois bem, eu gostaria de informar que
anteontem eu estive em um ato que foi realizado no Salão Nobre da Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo, com o espaço inteiramente lotado, quando
foi lançado o dia do plebiscito.
As diversas organizações populares,
como o Povo sem Medo, o MTST, o MST e outros, estão apoiando que, em setembro
próximo, haja o dia do plebiscito, em que a população poderá ser arguida a
respeito de, basicamente, em que medida somos, brasileiros e brasileiras, a
favor de que não haja imposto para aqueles que ganham menos de cinco mil reais
por mês. E também que haja medidas para efetivamente melhorar os programas
“Minha Casa, Minha Vida”. E outra medida que é a defesa da democracia.
Então eu estive lá para dar o apoio a
este plebiscito, mas sugeri que pudessem as pessoas estar participando mais e
mais da campanha, para que possamos ter uma renda básica universal.
Havendo acordo entre as lideranças,
esta Presidência, antes de dar por levantados os trabalhos, convoca V. Exas.
para a sessão ordinária de segunda-feira, à hora regimental.
Eu gostaria, ainda, se me permitem, de
acrescentar a seguinte informação. No dia 10 de abril, ontem, o Supremo
Tribunal Federal começou a examinar a ação direta de inconstitucionalidade, a
ADI 7265, pedida pela União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde,
Unidas, referentes à Lei 14.454/22, que alterou a Lei nº 956/98, que regula os
planos de saúde privados.
Essa nova lei, proposta por
especialistas e famílias que se organizaram para salvar vidas, passou a
considerar o rol da ANS exemplificativo, permitindo a cobertura de tratamentos
e exames que não estejam incluídos nele.
Em 2022, o Supremo Tribunal de Justiça
decidiu que um tratamento que não estava no rol da ANS, a Agência Nacional de
Saúde - que é uma lista que a Agência faz, mas que é mal atualizada -, um plano
de saúde não precisaria cumprir.
Isso causou um impacto imenso, porque
reverteu um entendimento jurídico de mais de 20 anos, de que o rol da ANS era
exemplificativo, não taxativo. Ou seja, não era uma questão de fornecer só
exclusivamente o que estava lá, e sim que o que estava lá era uma base, que, a
depender das necessidades dos pacientes e da indicação dos médicos, poderia ser
ampliada.
Do dia para a noite, milhares de
famílias viram seus entes queridos perdendo acesso a tratamentos. Eram
pacientes oncológicos, pessoas com deficiência, pessoas com doenças raras,
deixadas completamente desamparadas. Chegou ao ponto de uma operadora mandar um
e-mail para seus funcionários comemorando que não iam mais precisar dar terapias
para crianças e autistas, mas as famílias e as organizações se organizaram.
Mães foram para Brasília,
acorrentaram-se no portão do Supremo Tribunal de Justiça, em protesto. Uma
delas, inclusive, foi a, hoje, nossa colega Andrea Werner, que é uma mulher autista,
mãe de um rapaz autista. Esse grupo conseguiu, com o Senado e com a Câmara, que
a Lei nº 14.454 fosse aprovada. Por essa lei, se um tratamento tiver evidência
científica e indicação médica, um plano de saúde é obrigado a fornecer.
Mas o setor de plano de saúde não
aceitou isso democraticamente. Logo depois da sanção, a Unidas entrou com essa
ADI para tentar reverter essa importante conquista da população. Os planos
contam uma história de terror de que vão quebrar, que algumas pessoas estão
usando muito e que isso vai fazer outras pessoas ficarem sem.
Enquanto contam uma história de colapso
iminente, os planos registram lucros de mais de dez bilhões de reais. Todos os
dias a gente vê reportagens de pessoas que têm o seu plano cortado
unilateralmente, deixando pessoas sem planos. Em outros casos, os planos de
saúde vão para a Justiça, vencem mais de dois em cada três casos, de acordo com
um estudo da FGV.
Isso prova que as empresas seguem
práticas ilegais de forma proposital, porque sabem que nem todo mundo tem
dinheiro ou tempo para processar. E fica pior, algumas empresas não cumprem as
liminares. Além disso, a FenaSaúde está pedindo que seja considerado um tema do
STJ como referência para futuras decisões.
Torna-se irregular processar um plano
de saúde por qualquer coisa não explicitamente descrita no rol da ANS. Isso é
extremamente grave, pois Saúde é um direito. A deputada Andréa Werner já
organizou um abaixo assinado em defesa da Lei nº 14.454, no site dela.
É importante que todos nós
venhamos a nos mobilizar para apoiar esse movimento. O julgamento da
ADI 7265 iniciou ontem, e a sessão foi dedicada à leitura do resumo do
caso e às manifestações orais das partes envolvidas e de 11 entidades
admitidas no processo. O relator ministro Luís Roberto Barroso, após a
sessão de ontem, suspendeu o julgamento, que será retomado em data ainda
indefinida.
Quando o processo voltar à pauta, o
plenário ouvirá a manifestação da Procuradoria Geral da República, seguida
dos votos dos 11 ministros. Seguiremos acompanhando e defendendo esta
importante luta da população. Obrigado, então, por essa oportunidade.
Havendo acordo de lideranças, esta
Presidência, antes de dar por levantados os trabalhos, convoca V. Exas.
para a sessão ordinária de segunda-feira, à hora regimental, sem Ordem do
Dia.
Está levantada a sessão.
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- Levanta-se a
sessão às 14 horas e 31 minutos.
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