20 DE SETEMBRO DE 2024
60ª SESSÃO SOLENE PARA ENTREGA DE COLAR DE HONRA AO MÉRITO LEGISLATIVO A EMÍLIO FONTANA
Presidência: DONATO
RESUMO
1 - DONATO
Assume a Presidência e abre a sessão às 20h06min.
2 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia a composição da Mesa.
3 - PRESIDENTE DONATO
Informa que a Presidência efetiva convocou a presente sessão solene para a "Entrega de Colar de Honra ao Mérito Legislativo a Emilio Fontana", por solicitação deste deputado, na direção dos trabalhos.
4 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Convida todos a ouvirem, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro", executado pela Camerata do Corpo Musical da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
5 - CRYS FONTANA
Esposa do homenageado, faz pronunciamento.
6 - MARCOS MENDONÇA
Ex-deputado, faz pronunciamento.
7 - CANDINHO NETO
Presidente da Banda do Candinho, faz pronunciamento.
8 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia a exibição de vídeo com uma mensagem do deputado Eduardo Suplicy para o homenageado.
9 - GUILHERME BONFIM
Integrante da Mesa, faz pronunciamento.
10 - RICARDO BARROS
Biólogo e ator, faz pronunciamento.
11 - ADRIANO DIOGO
Ex-deputado estadual, faz pronunciamento.
12 - JOÃO AMARAL
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, faz pronunciamento.
13 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Faz pronunciamento e leitura sobre o Colar de Honra ao Mérito Legislativo e o currículo do homenageado, Emilio Fontana.
14 - PRESIDENTE DONATO
Agradece às autoridades presentes. Diz ser uma honra prestar esta homenagem a Emilio Fontana. Considera esta uma homenagem merecida. Discorre sobre o significado de Emilio Fontana para a cultura brasileira. Ressalta que o homenageado é um dos responsáveis pela construção da identidade desta Nação.
15 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia a entrega do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo a Emilio Fontana.
16 - EMILIO FONTANA
Homenageado, faz pronunciamento.
17 - PRESIDENTE DONATO
Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão às 21h08min.
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* *
- Assume a
Presidência e abre a sessão o Sr. Donato.
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* *
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Boa noite a todos. Comunicamos que dentro de instantes daremos início à
solenidade. Peço a todos que ocupem os seus lugares, por favor. Deixem os seus
aparelhos no modo silencioso. Também informamos que, após a solenidade, o
espaço será liberado para a plateia fazer fotos, caso desejem.
Pedimos para que os profissionais de
fotografia e filmagem se mantenham a distância adequada para que todos possam
assistir a homenagem. Os fotógrafos da Casa também estão tirando fotos oficiais
da cerimônia e logo estarão disponíveis no Flickr da Alesp, logo após a
sessão.
Senhoras e senhores, boa noite.
Atenção, TV Alesp. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo. Esta sessão solene tem a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao
Mérito Legislativo do Estado de São Paulo ao diretor de teatro, cinema e TV,
Emilio Fontana. Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo
transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelo canal Alesp no Youtube.
Convido para que componham a mesa as
seguintes personalidades: o deputado Antonio Donato, proponente e presidente
desta sessão solene. (Palmas.) o homenageado, Sr. Emilio Fontana. (Palmas.) Um
minutinho que ele já está chegando. Mais palmas para o Emilio Fontana.
(Palmas.) Sr. João Amaral, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de
São Paulo, a entidade direcionada mais antiga do Brasil. (Palmas.)
Disseram para eu me manter sério, então
eu vou me manter sério, porque o Donato está de olho em mim. É muita
responsabilidade. Convido também o grande lutador, grande defensor das causas
culturais, o Sr. Adriano Diogo. (Palmas.) o biólogo, ator, Ricardo Barros.
(Palmas.) Ele está vindo. Pediram para eu manter a seriedade, não posso; Sr.
Guilherme Bonfim. (Palmas.).
Passo a palavra agora para o deputado
estadual Antonio Donato, para a abertura da sessão solene.
O SR. PRESIDENTE - DONATO - PT -
Boa noite a todos, iniciamos os nossos trabalhos nos termos regimentais. Esta
sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa de Leis, deputado André
do Prado, atendendo a minha solicitação, com a finalidade de outorgar o Colar
de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo a Emilio Fontana, diretor
de teatro, cinema e TV.
Está aberta a sessão. (Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Convido
a todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional
Brasileiro, executado pela Camerata do Corpo Musical da Polícia Militar do
Estado de São Paulo, sob a regência do maestro 1º Sargento PM Ivan Berg.
*
* *
- É executado o Hino Nacional
Brasileiro.
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* *
Muito obrigado, maravilhoso. Quero aqui
também registrar a presença e agradecer a Pablo Souza, diretor de marketing do “SP
em Retalhos”; Crys Fontana, a esposa do homenageado; aos familiares, Edson José
Machado, o primo; José Eduardo Vendramini, que ao homenageado de hoje manda
saudações.
O gabinete do vice-governador do estado
de São Paulo, em nome de Roberto Lucena, secretário de estado de Turismo e
Viagens, parabeniza o homenageado; e Luiz Flávio Borges D'Urso, membro
honorário vitalício da OAB.
Agora eu gostaria de chamar aqui a
esposa do homenageado, Crys Fontana, que será dada a palavra a ela.
A
SRA. CRYS FONTANA - Boa noite, Excelentíssimo Deputado Antonio Donato. Esta
homenagem realizada pelo Poder Legislativo ao homem de teatro Emilio Fontana
foi recebida por todos com muita alegria, é o reconhecimento pelos serviços
prestados à cultura brasileira.
Tenho o privilégio de conviver com o
mestre há 28 anos. Assim que nos casamos, fiz-lhe uma pergunta: "Mestre, e
o seu plano para o futuro?". Emilio respondeu: "Aceito
sugestões". Emilio é assim, aberto à escuta, disposto a dialogar com o
contemporâneo. Posso afirmar que Emilio Fontana é coerência, sempre viveu de
arte sem fazer concessão.
A obstinação e o amor ao teatro
motivaram o mestre a prosseguir atuante até os 94 anos. Esses mesmos
sentimentos que impulsionaram aquele jovem de 20 e poucos anos a criar
movimentos teatrais - como o Teatro de Arena, pequeno teatro popular - que
mudaram a dramaturgia e se tornaram parte da história teatral brasileira.
Na adolescência, eu fui aluna do Curso
Básico de Teatro Emilio Fontana. Uma música antecedia a sua entrada em cena,
maquiado, com figurino, microfone na lapela, apresentava a aula-show de forma
descontraída e divertida: “Primeiro sinal, segundo sinal e terceiro sinal!”.
Apagam-se as luzes, o palco é iluminado e ele dizia: "Bem-vindos ao mundo
do espetáculo". Sempre se referiu a encontro, aula nunca.
Jamais ouvimos de sua boca palavras
impositivas, "silêncio!" não. Ele dizia: "Criando condições,
criando condições" até conseguir uma plateia disposta a ver e a ouvir as
apresentações dos colegas. Jamais atribuiu a um mérito seu a evolução de um
aluno, de um ator. Ele transfere sempre o mérito ao colega de turma.
O mestre diz: "Nesse curso o
mestre não ensina nada. O seu colega é o seu mestre, é o seu espelho. Vendo e
aprendendo com o colega". Jamais fomos criticados ou elogiados pelo mestre
Emilio Fontana. Ele jamais comentou se estava certo ou errado. Não há nota no
curso Emilio Fontana, não há avaliação.
Só que, em poucas aulas, o método
"Teatro é Vida" provocou mudanças profundas no meu comportamento. Em
pouco tempo, eu desenvolvi o meu senso crítico através da prática no palco e
das técnicas oferecidas. A didática do mestre é espetacular. Com o mestre e o
seu método experimental, experimentei a libertação, a transformação da
realidade para torná-la melhor e mais humana.
A aula que mais me marcou foi sobre a
crítica. "Cuidado, vocês que estão começando a carreira, a crítica é
normalmente exercida por pessoas frustradas e, algumas vezes,
incompetentes." Nunca me esqueço desse discurso, ele profere esse discurso
sobre a crítica até hoje. Ele cita nesse discurso vários casos, um deles é a
história do Charles Chaplin.
Críticos importantes menosprezaram
Chaplin e, no final da vida, quando Chaplin estava idoso e doente, a Academia
de Arte de Hollywood decidiu correr atrás dele. Havia muito tempo que ele não
filmava, estava doente, morava na Suíça. Trouxeram Chaplin de cadeira de rodas,
levaram para a festa do Oscar e tacaram na mão dele um Oscar pelo conjunto da
obra. Essas são as palavras do mestre.
Então, gente, quando a crítica elogiar,
não acredite. Quando falarem mal de você, também não acredite. A crítica tem o
poder de abortar carreiras, muitas vezes a pessoa desiste, fica doente e morre
por causa da crítica.
Mestre Emilio Fontana, uma legião de
ex-alunos e artistas que estiveram com você durante essas décadas, estão tendo
a oportunidade aqui, hoje, na Alesp, dia 20 de setembro de 2024, de reverenciar
essa sua prodigiosa trajetória.
Parabéns, mestre Emilio Fontana
(Inaudível.) (Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigado,
Crys Fontana. Agora eu gostaria de chamar aqui para fazer uso da palavra o
sempre deputado Marcos Mendonça. (Palmas.)
O SR. MARCOS MENDONÇA -
Sr. Presidente Donato, é uma satisfação poder estar aqui nesta assembleia,
relembrar velhos tempos. Cumprimentar o Adriano, que foi deputado junto comigo,
foi vereador junto comigo durante muitos anos, companheiro de muitas e muitas
trajetórias e lutas, e meus amigos aqui presentes. É com muita satisfação que
eu venho aqui nesta noite para homenagear essa figura fantástica que é o Emilio
Fontana.
Eu tive o privilégio e a honra de ser
secretário de Cultura do estado de São Paulo e, no exercício dessas
atribuições, tive a possibilidade de convidar o Emilio para trabalhar comigo e
foi uma satisfação enorme. Nós conseguimos, sob o comando dele, desenvolver um
trabalho incrível.
Ele que já tinha toda uma trajetória no
mundo do teatro, que já tinha uma trajetória, como foi aqui muito bem narrado
pela Crys, de ser um mestre para futuros artistas, desempenhou um papel
importantíssimo na Secretaria de Cultura.
Ele foi diretor do departamento e
depois nós tivemos oportunidade de, junto ao Arquivo Público, fazer um trabalho
histórico, que foi recuperar a memória do teatro de São Paulo.
Esse trabalho foi um trabalho que o
Emilio comandou, coordenou e fez com que o teatro de São Paulo, que foi um
teatro que revolucionou o Brasil, foi um teatro que mudou esse País, que trouxe
uma nova vida para a cena cultural brasileira... Esse teatro foi todo
resgatado diante do trabalho que o Emilio desempenhou.
Eu queria, Emilio, deixar o meu
agradecimento público pelo que você fez pela Cultura de São Paulo, pelo que
você fez pelo teatro de São Paulo. Deixar o meu agradecimento, o meu
reconhecimento e a felicidade de poder estar aqui vivendo com você esse grande
momento.
Meus parabéns, muito obrigado.
(Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Obrigado, sempre deputado Marcos Mendonça. Donato, vai ter uma quebra rápida de
protocolo. É mais um que traz uma homenagem aqui. Vou pedir para ser breve nas
palavras, por favor, Candinho.
Candinho, presidente da Banda do
Candinho, faça o favor. (Palmas.)
O SR. CANDINHO NETO -
Muito obrigado, para mim é uma honra estar aqui diante de pessoas que a gente
convive e conviveu durante muitas décadas. Graças a Deus já tenho 74 anos, por isso
posso dizer muitas décadas. Está ali o Bonfim, o Adriano Diogo, o nosso Emilio
Fontana. Os demais me permitam que não...
O Emilio Fontana foi aquele que
realmente me deu condições de achar que a Banda do Candinho era cultural, eu
fazia a banda. O Marcos Mendonça já esteve aqui falando sobre o Emilio e eu me
lembro de que eu também trabalhei nessa época. Eu era do Governo do Estado e da
Secretaria do Trabalho, onde a gente fazia cultura e lazer para
trabalhadores.
É claro que todo governo pega aqueles
departamentos afins e eu tive a oportunidade de colaborar com o Antonio Rezk,
que também já faleceu, um grande amigo nosso. Eu era jovem quando o conheci, o
Marcos Mendonça também.
Toda vez que eu encontro o Marcos
Mendonça eu brinco com ele, eu falo: "Você vai botar a gente na
Cracolândia?", para ver a notoriedade da obra. Porque quando você bota na
Avenida Paulista é uma coisa fácil, mas ali não. Então, muito obrigado.
Está aqui também o Antonio Donato,
proponente desta sessão, que tive a felicidade no governo Haddad... Hoje nós
estamos... Não sei, a gente não vai fazer campanha, mas cada um tem o seu
candidato e na época eu estava com Haddad.
Encontrei com o Antonio Donato na porta
da Câmara, que eu moro ali no Bixiga, Brigadeiro e tal, entreguei para ele um
cartão e falei: "Olha, vamos colocar esse carnaval de rua para andar. Quem
assumir isso vai ser vitorioso".
Eu cobro toda hora do meu amigo aqui e
falo que o Donato deveria, como o Haddad, colocar uma placa: "Quem colocou
esse carnaval de rua para valer em São Paulo foi Fernando Haddad".
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - E
você trouxe presentes.
O SR. CANDINHO NETO -
Eu trouxe aqui uma lembrança. Esse aqui é justamente para o deputado Antonio
Haddad.
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - É
Antonio Donato.
O SR. CANDINHO NETO -
É Antonio Donato. Esse aqui é "aos amigos teatrólogos, Emilio e Crys
Fontana, com carinho do jornalista Candinho Neto". Para não ficarem
curiosos, é o seguinte: aqui é o Emilio Fontana, quando nós homenageamos a
Banda do Candinho - "nunca é tarde para ser feliz" é o tema que nós
fizemos com a Crys - e aqui com o saudoso e eterno Carlos Costa, perfeito?
(Palmas.)
Esse aqui vai para o nosso amigo Junior
do Peruche, um entusiasta entusiasmado em perpetuar a história de quem fez o
Carnaval de São Paulo. Eu tive a oportunidade de trabalhar no Diário Popular,
no Popular da Tarde do "Estadão", do "Agora São Paulo" e o
pouco que teve naquela época dos anos 80, 90 na mídia deveu-se ao impresso, à
era analógica. Hoje se fala no celular e nas redes sociais.
Muito obrigado e felicidades Emilio e
Crys Fontana, também ao meu amigo Níveo Diegues. (Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Obrigado, Candinho. A gente que é do samba, da música, de vez em quando quebra
uns protocolos, mas são protocolos bem quebrados, não é? Agora, eu vou
pedir para que possa ser transmitido através do vídeo uma mensagem para o
Emilio Fontana.
Podemos assistir a esse vídeo? Cadê a
diretora aqui, Renata? Pode? Então, vamos lá.
*
* *
- É exibido o vídeo.
*
* *
Agora eu passo a palavra ao Guilherme
Bonfim.
O SR. GUILHERME BONFIM -
Boa noite a todos. Eu fui pego de surpresa. Não estava preparado para falar,
porque falar do Emilio é muito difícil, é muito tempo. Mas a trajetória dele eu
passei a conhecer no começo dos anos 80, se não me falha a memória. Eu fiz um
curso de cinema e vou contar essa historinha porque eu acho que é importante.
Esse curso foi organizado pela
Associação de Cineastas de São Paulo. Quando terminou o curso, Francisco
Ramalho Jr., que era o produtor do Héctor Babenco, me ligou e disse:
"Guilherme, quer fazer o seu primeiro filme? A gente tem um curta para
rodar nas Faculdades Oswaldo Cruz, quem vai dirigir é o diretor Emilio
Fontana".
Eu já o conhecia de nome nos anos 80, o
Emilio é dos anos 50, um grande professor, a gente já sabia da existência
do Emilio enquanto professor e diretor de teatro, mas eu não o conhecia na área
de cinema.
Quando cheguei lá no corredor da
faculdade, me apresentei e ele disse: "Você é o Ferreira que vai me
ajudar?", na época eu não tinha o Bonfim no nome. Eu falei: "Foi
assim que me chamaram, para ajudar você aqui na produção".
Ele me pediu imediatamente um serviço.
Eu fui lá na secretaria pedir autorização para filmar numa sala e de rabo de
ouvido, pé de orelha, eu o escutei dizer para o cameraman: "Metade, 50% é
competência, os outros 50% é vontade de fazer." Era exatamente assim que
eu me sentia no início da carreira.
Alguns anos depois, muitos anos depois,
eu fui cruzar com o Emilio Fontana quando eu dirigi a Casa de Cultura do
Butantã. Ali eu cruzei com o Emilio Fontana e com outro grande nome do cinema
chamado Anselmo Duarte. (Palmas.) Para a minha alegria, estavam lá presentes
Emilio Fontana e Anselmo Duarte. Eu fazia ali uma singela homenagem ao Anselmo
Duarte e ele foi lá colaborar com essa homenagem, foi nos prestigiar.
Quando, então, eu comecei a saber da
história verdadeira de Emilio Fontana. O Emilio Fontana não é só o fundador, um
dos fundadores do Teatro de Arena, com o Zé Renato e outros tantos. Ele é
diretor de cinema e de teatro, eu fui percebendo vendo a obra dele...
Depois, logicamente, eu fui conhecendo
a obra dele: "Nenê Bandalho", "O Condor", todos os outros
filmes e as peças de teatro. Nada era feito com facilidade, nada. Tudo com
muito sacrifício, não é, Emilio? Tudo com muito sacrifício, sem recurso e mesmo
assim ele mostrava a genialidade dele.
"Nenê Bandalho" tem uma cena
que sai de uma delegacia, alguma coisa assim, várias viaturas para capturar o
Nenê Bandalho, uma atrás da outra. Quando terminou o filme, ele nos disse:
"Era uma só". Então, essa forma, esse poder que ele tinha, essa
genialidade que ele tinha de fazer as suas obras, tanto no cinema como no
teatro, é que faz com que ele mereça essa honra que ele está recebendo agora.
Então, Emilio Fontana, muito obrigado.
Obrigado por ser seu amigo, por você me dar a honra de ser seu amigo. Isso é
Emilio Fontana.
Obrigado, Emilio.
Obrigado a todos. (Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
É isso aí, Guilherme Bonfim. Agora, se eu estiver enganado, vocês me corrijam,
mas a vez da fala é do filho do Nenê Bandalho. É isso mesmo? Ou tem alguma
coisa a ver? É o Ricardo Barros, não é? Deixe-me explicar para eles, é filho de
Plínio Marcos. Por favor, Ricardo Barros. Pode falar aí mesmo, Ricardo.
Ricardo, pode usar o microfone da mesa.
O SR. RICARDO BARROS -
Senhoras e senhores, deputado, Emilio, boa noite. É mais do que explicar quem
eu sou, que eu sou filho do Plínio e isso não é culpa minha, filho da Walderez
também, e não é culpa minha também.
Hoje eu me sinto aqui como um
representante da classe artística, porque vai muito além do Plínio, muito além
do ator, do escritor, do autor do "Nenê Bandalho", que foi mencionado
agora, o grande Plínio Marcos, mas é muito mais falando do amigo. (Palmas.)
O Plínio, quando veio para São Paulo,
no começo dos anos 60, veio escorraçado de Santos, porque de gênio passou a ser
analfabeto folgado, vamos dizer assim. Quando chegou em São Paulo, encontrou o
Emilio, uma das pessoas mais icônicas que meu pai encontrou nesse trajeto todo,
um grande amigo.
O Emilio foi um grande parceiro
artístico, dirigiu várias peças do meu pai, deu espaço para o meu pai. Quando
ninguém dava espaço para ele, o Emilio o acolheu na escola, no teatro.
Várias vezes meu pai chegava lá e
falava: "Emilio, vamos fazer um showzinho". E ele respondia:
"Vamos, vamos", já pensava, já acrescentava, já colocava todo o seu
talento nessa parceria. Foi assim também no "Nenê Bandalho". O Emilio
conversando com o Plínio, o Plínio escreveu um roteiro, um argumento, entregou
na mão do Emilio e virou uma obra de arte.
Mas mais do que isso, o Emilio, na sua
trajetória toda, foi também um grande defensor da liberdade de expressão. O
"Nenê Bandalho" foi lançado em 71 para 72, mas na verdade não foi
lançado porque a censura não deixou.
Nessa época, o Emilio já vinha numa
batalha pela liberdade junto com o Plínio em outras necessidades e sempre foi
assim. Sempre foi uma luta ardente, ferrenha e sempre colocando o talento, o
teatro, o cinema na frente e ganhando essa liberdade de um jeito ou de outro.
"Nenê Bandalho" é uma
obra-prima. Hoje mesmo eu estava lendo uma crônica que meu pai publicou em
1972, em março de 1972, comentando que ele esteve em Belo Horizonte levando
"Quando as máquinas param", e levaram também o filme para ser
apresentado na Universidade Federal de Minas Gerais, porque infelizmente o
filme não podia ser assistido nos cinemas.
Nessa época, o meu pai fazia uma luta
muito grande contra a invasão cultural que acontecia no País durante uma
ditadura monstruosa e o Emilio sempre foi um parceiro, inclusive, fazendo
filmes - o "Nenê Bandalho" -, mas com várias peças e sempre encarando
de frente essa luta desproporcional, a luta pela liberdade de expressão, pela
força do teatro.
Antes de tudo, antes de mais nada, foi
um grande amigo que acolheu o ser humano Plínio Marcos. Antes de ver quem era o
Plínio Marcos, que era genial etc., antes de tantas parcerias na banda - a
Banda Bandalha, depois Banda Redonda -, sempre estiveram juntos, com muito
respeito e uma grande amizade. É o teatro que sai ganhando, todos nós saímos
ganhando com a presença do Emilio, do Plinião e os dois dando risada e fazendo
as coisas acontecerem.
Para mim, é uma grande honra ser filho
do Plínio e muito também é uma grande honra pelos amigos que a vida, por ser
filho do Plínio, me apresentou. O Emilio é um caso e a Crys junto, mas o Emilio
várias vezes nos encontramos na banda com toda a energia, com toda a alegria.
Enfim, para mim é uma grande honra
estar aqui hoje e poder falar, em nome da classe artística, a força do teatro
Emilio Fontana.
Muito obrigado, muita gratidão.
Viva Emilio Fontana sempre! Viva o
teatro brasileiro! Viva a liberdade!
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Agora com a palavra uma pessoa que a gente já conhece há muito tempo e é um
grande incentivador do teatro, da Cultura, Adriano Diogo. (Palmas.)
O SR. ADRIANO DIOGO
- Fui convidado... Fica um pouquinho aqui ao meu lado, você que propôs a
cerimônia, organizou. Eu queria falar... (Inaudível.) um pouco para frente. Eu
estou muito... Donato, parabéns, parabéns mesmo, que beleza de homenagem.
Emilio Fontana, eu queria só te falar uma coisa... Pedir até para o filho da
Walderez e do Plínio ficar aqui.
Marcos Mendonça, você que fez a Sala
São Paulo, você que fez tanta coisa pela cultura, transformou aquela delegacia
de polícia em Memorial da Resistência, você que é um gigante da democracia.
Aqui nesta homenagem, que o Donato está organizando, queria dizer rapidamente o
seguinte... Está o Candinho, está o Dorberto aqui, está o pessoal daquele
pedaço do Teatro de Arena, da Banda Redonda, do Carlão, do Sr. Antonio.
Eu era como se fosse um irmão do Plínio
Marcos, tudo, tudo, tudo que o Plínio fez na Arena eu acompanhava. Mas como o
Emilio foi importante... Porque talvez as pessoas não entendam, quando o Emilio
fundou o Teatro de Arena com o Zé Renato - depois o Zé Renato foi para o
Uruguai, foi exilado, para o Teatro Galpão -, o Teatro de Arena era uma das
poucas formas da resistência, antes do Boal, do Guarnieri virem com a
"Arena conta Zumbi", "Arena conta Tiradentes".
Quando o golpe foi dado, eu me lembro
naquela noite, que até o Taiguara veio para o teatro, abrir o teatro. Bom, quem
foi Emilio Fontana? Era dessa geração, que veio da década de 50, com Maria
Della Costa, todo aquele pessoal do TBC, e fundou o teatro brasileiro, fundou a
dramaturgia brasileira, a direção brasileira.
Lógico que veio gente do exterior,
trazia o teatro Stanislavski, o Zé Celso ainda... Nem se falava de Zé Celso. Então,
esse grupo que Emilio... E fundaram a Escola de Arte Dramática.
Mas a maior escola de teatro desse país
foi esse senhor que fundou, o Teatro de Arena. Naquela pequena sala na
(Inaudível.), naqueles dois andares, eles criaram a maior forma da resistência
brasileira, a maior leitura da dramaturgia brasileira. Daquela forma rococó, do
palco italiano, eles fizeram a ruptura e criaram a dramaturgia brasileira. Esse
senhor é o percursor.
Quando ele acolhe o Plínio, porque o Plínio
veio de Santos... O Plínio era um gênio, um personagem da humanidade. Um dia
nós vamos ter que falar da obra do Plínio Marcos, dessa pessoa,
esse Dostoiévski brasileiro. Mas esse senhor é que criou o templo da
resistência e da revolução teatral brasileira.
Viva todas essas pessoas, esses
revolucionários, esses artistas. Desse senhor precisa desenvolver a biografia,
contar a história dele. Quantas gerações eles formaram? Quantas gerações?
Muito obrigado por você estar vivo,
existir e ser eterno.
Parabéns, deputado Antonio Donato.
(Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
E viva a Saracura/Vai-Vai.
O SR. ADRIANO DIOGO
- Viva a Saracura/Vai-Vai.
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Mas quem quiser desfilar, pode desfilar no Peruche que será bem-vindo.
Agradecer a presença do Marcus Marmelo, diretor do “SP em Retalhos” e também do
Bendito Samba Clube.
Agora vamos ouvir o presidente do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, professor João Amaral. De onde o
senhor achar melhor, é o senhor quem manda. Se o Donato falou para você vir, eu
aconselho que venha. João Amaral. (Palmas.) Diz que foi professor do Osvaldinho
da Cuíca. Quantos anos, professor, ou não pode falar?
O SR. JOÃO AMARAL -
Faz a conta com o Osvaldinho. Boa noite a todos e a todas também. É um prazer
enorme que a vida tem me dado em poder estar representando, ocupando o cargo de
presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo nesse momento.
É um momento mágico da minha vida
pessoal e profissional poder participar de um evento como esse, principalmente
fazendo homenagens presenciais, homenagens em vida, é bastante
significativo.
O Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo é a primeira instituição cívico-cultural criada na cidade por
pessoas altamente referenciais, num momento da história da cidade, do estado e
do País bastante significativo. O Instituto só perde, em termos de
temporalidade, para o Instituto dos Advogados de São Paulo, que é de 1874.
Praticamente todos os fundadores e
vários membros do Instituto hoje são nomes de rua na cidade, alguns têm nome
fora da cidade, fora do estado. Lembrar que, em 1903, Santos Dumont foi membro
do Instituto Histórico e Geográfico antes de voar em Paris. Ele voava com um
balão e ele foi admitido no Instituto por ter descoberto, criado a
dirigibilidade dos aviões.
Essa homenagem presencial para o Emilio
Fontana é realmente uma coisa bastante significativa para todos nós. O
Instituto Histórico sempre acolheu as mais variadas formações e a classe
artística também, não vou nomear, mas sempre esteve de forma muito presente
dentro do Instituto.
Hoje o Instituto continua firme e
forte, estamos lá na Rua Benjamin Constant, no número 158 - não sei quantos
conhecem. Nós estamos naquele local há 120 anos.
Eu quero dizer que foi um prazer
bastante significativo poder ouvir todos que se pronunciaram aqui. Eu já tinha
anotado algumas questões... A esposa do Emilio Fontana comentou, traçou um
perfil bastante intenso a respeito do Emilio Fontana, não tenho o que
acrescentar depois das palavras da Crys.
O deputado Marcos Mendonça também
acrescentando com toda a sua referência de quem já trabalhou em prol da Cultura
de São Paulo de maneira fortemente significativa.
O Candinho, com as suas palavras,
trouxe uma pessoa significativa para a minha vida. Você citou o Antonio Rezk.
(Palmas.) O Antonio Rezk é muito significativo na minha vida porque, quando
adolescente, ele foi meu professor. Estudei no Colégio comercial de Vila
Gustavo, que é uma das primeiras entidades particulares da zona norte, em que
para ali convergiam vários políticos referenciais da cidade de São Paulo.
Era um polo político extremamente
importante, ia para lá Ruy Codo, muitas pessoas. Então, trazer a lembrança do
professor Antonio Rezk realmente é uma coisa bastante significativa para mim.
Participei de uma homenagem a ele na Câmara Municipal de São Paulo, a dona Elza
me convidou. Fui aluno dele e depois os netos do Antonio Rezk foram meus
alunos.
Eu tinha anotado aqui para falar do Plínio
Marcos, falando da questão que o envolve, porque falar do Emilio Fontana... Eu
estou nesse momento falando como admirador e como fã, porque quando aluno,
quando cursava o cursinho no Anglo-Latino, eu ia depois do final da aula... Às
vezes tinha alguma peça no horário que eu tinha que voltar para a zona norte e
eu ia assistir.
Eu estou falando aqui como espectador,
como fã tanto do Teatro de Arena quanto do TBC, por conta de ter passado boa parte
da minha juventude ali. Encontrei com o Ricardo, nós nos encontramos ali pela
entrada secundária e, curiosamente, depois fui saber que o Ricardo é filho do Plínio
Marcos e eu tinha separado.
No TBC ou no Teatro de Arena, não me
lembro agora, assisti uma peça do Plínio Marcos que, após a apresentação da
peça... Ele terminava a peça e depois saia por entre o público fazendo
brincadeiras, fazendo provocações e explorando toda a parte da criatividade do
público que estava ali.
Eu comentei com o Ricardo que uma das
coisas que eu presenciei do Plínio Marcos em uma dessas peças foi que, ao
término de uma peça, nesse final, mexendo com essa criatividade, todo mundo
aplaudindo em pé, - não sei qual foi a circunstância, se falou de filho -
alguém falou que estava grávida ou que queria engravidar.
O Plínio Marcos pergunta para uma
senhora assim: "Você gosta de criança?". Ela falou: "Eu
gosto". E ele: "Eu sei fazer", e o teatro veio abaixo. É de uma
genialidade incrível aproveitando o momento, era um momento político
extremamente significativo.
Então, eu quero dizer o seguinte: não
tenho muito o que acrescentar, muito pelo contrário, simplesmente quero
agradecer a oportunidade e o convite do Juninho de poder fazer com que o
Instituto Histórico estivesse presente neste momento, neste ato, nesta
homenagem a essa grande referência do teatro, da cultura paulista e da cultura
brasileira, no teatro e no cinema. Ele inovou na parte pedagógica criando
cursos, trabalhando e criando a possibilidade de nós termos tantos outros
artistas referenciais.
Então, eu estou aqui com o Dr. Fábio
Siqueira, que também pertence à diretoria do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo... É trazer a nossa homenagem ao deputado Antonio Donato, por ter
abraçado esta homenagem.
Também aproveitar para homenagear todos
os integrantes da Mesa, que tem essa proximidade com o homenageado desta noite,
que merece todo nosso aplauso. Também, agradecer a todos vocês que estão
presentes nesta noite.
Muito obrigado e viva Emilio Fontana!
(Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Muito bom. Eu ia falar agora, o Fábio Siqueira, representando o Museu da TV
Brasileira aqui na... Aplausos para o Fábio Siqueira. (Palmas.) Paulo Silva,
que é diretor do “SP em Retalhos”, também é conhecido como Paulinho Cuíca. (Palmas.)
Pedir aqui para a minha diretora só um
segundinho e para o presidente da Mesa, que é o Antonio Donato, eu vou quebrar
o protocolo bem rápido, porque vocês falaram de Plínio Marcos e não dá para a
gente falar de Plínio sem falar do samba de São Paulo.
Então, eu entrei em contato com o
Emilio Fontana, porque eu havia pedido que ele desse um depoimento para o
documentário do Geraldo Filme, que ano que vem completa 30 anos de morte, em
janeiro. Nós estamos escrevendo o livro e preparando o documentário do Geraldo
Filme, um dos maiores nomes do samba e da cultura caipira do estado de São
Paulo.
Claro, não dá para falar do samba de
São Paulo se não passar por Plínio Marcos, que muito ajudou, e Emilio Fontana,
que acreditou na peça "Balbina de Iansã" - é isso, Ricardo? Se eu
estiver errado, você me corrija. Era para ter sido feita essa peça no Teatro
Célia Helena, ali na Barão de Iguape, na baixada do Glicério, e era para a peça
ter ficado apenas uma semana ou duas, mas acabou ficando oito meses. Oito meses
que a peça ficou em cartaz com direção do Emilio Fontana.
Então, dizer assim, que eu também
agradeço muito, agradeço ao Antonio Donato por ter abraçado essa ideia de
homenagearmos o Emilio Fontana, que merece. E dizer o seguinte: O “SP em
Retalhos” é muito grato a tudo que Plínio Marcos fez e muitos outros também
fizeram, eu poderia falar aqui uma lista enorme.
Henricão, que foi o primeiro Rei Momo
negro da cidade de São Paulo e fez mais de 28 filmes, quatro minisséries,
quatro novelas; Geraldo Filme, como eu já citei; Xangô de Vila Maria, fundador
da Escola de Samba Vila Maria, que fez 14 filmes, fez 12 peças de teatro, entre
elas "A Cabana do pai Tomás", que é famosa. Fez um filme muito famoso
chamado "Macumba na alta", que Xangô de Vila Maria participou.
E dizer que o samba de São Paulo tem
muito essa ligação com o teatro e com o cinema em São Paulo. O samba de São
Paulo é grato a Emilio Fontana, a Plínio Marcos, ao Carlos Costa e a todos
aqueles que colaboram para o samba de São Paulo.
Agora eu vou dar andamento, porque
olhou feio para mim, eu entendo o recado. Estou brincando. Sambista é um
problema, porque a gente gosta de quebrar protocolo, fazer piada e dizem que
aqui não pode. Neste momento daremos início à outorga do Colar de Honra ao
Mérito Legislativo a Emilio Fontana.
O Colar de Honra ao Mérito Legislativo
é a mais alta honraria conferida pela Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo. Foi criado em 2015 e é concedido a pessoas naturais ou jurídicas,
brasileiras ou estrangeiras, civis ou militares, que tenham atuado de maneira a
contribuir para o desenvolvimento social, cultural e econômico de nosso Estado,
como forma de prestar-lhes, pública e solenemente, uma justa homenagem.
Esta sessão solene homenageia com a
outorga do Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo a Emilio
Fontana, diretor de teatro, cinema e TV. (Palmas.)
O homem de teatro Emilio Fontana é
cidadão paulistano. Nasceu no dia 25 de junho de 1930, na Maternidade de São
Paulo, a poucos metros da Avenida Paulista. Morou no centro de São Paulo e na
Bela Vista. Seu pai, Fontana, era italiano de Génova, e sua mãe descendente de
indígena, família Trigo de Iguape. O rádio foi seu companheiro de infância. As
radionovelas e programas musicais foram as primeiras centelhas para a
construção de um sonho: ser artista.
Aos 15 anos, na Colmeia, dirigiu o seu
primeiro espetáculo, "Conto de Natal", de Charles Dickens, uma
escolha certeira para quem um dia viria trabalhar com o teatro social. Nesse
texto, a avareza e a ganância são substituídas pela compaixão e generosidade.
Cursou a EAD ECA USP no período da noite e ia à Faculdade de Direito pela manhã
no Largo São Francisco.
A convite do governo brasileiro, em
1961, cursou em Harvard a sua extensão universitária, apresentando em língua
inglesa o projeto intitulado "Um teatro popular na América Latina".
Apartidário e pacifista, desenvolve o seu ativismo no palco. É ali, como
operário do seu ofício, que escolhe as obras que irá trabalhar para um mundo
melhor.
O seu método de ensino "Teatro é Vida"
tem a sua origem na Escola de Arte Dramática e no Pequeno teatro popular,
método pautado na orientação da cidadania, autoconhecimento e o respeito ao
sagrado do ofício interpretação. Logo descobriu que dificilmente viveria de
arte sendo somente diretor, por essa razão criou seu método próprio
"Teatro é Vida" de ensino de comunicação e teatro para adultos.
É chamado amorosamente de mestre Emilio
Fontana. Uma legião de ex-alunos exerce a profissão em arte, tendo dado os
primeiros passos no seu tradicional curso básico. O Curso Emilio Fontana é o
primeiro curso não eventual de teatro de São Paulo.
A didática é constantemente atualizada.
Hoje, o curso é aplicado também na modalidade online. Desde 2009, conta com o
novo método Fontaninha Kids, ensino de cidadania, teatro e TV para a infância e
juventude.
Desde sempre, foi conhecido como mestre
do teatro dos excluídos. Na década de 50, fundou com seus companheiros o Teatro
de Arena. Jovenzinho, foi procurar um espaço para locar e ser a sede da
companhia. O local escolhido por ele foi o Teatro de Arena, que existe até os
dias atuais na Rua Dr. Teodoro Baima, 94. Posteriormente, fundou o Pequeno
teatro popular, um formato inédito de movimento teatral raro para a época.
Emilio montava clássicos da dramaturgia
e trazia os operários aos grandes centros para assistir. Percorria os
sindicatos levando as filipetas com descontos exclusivos à classe trabalhadora.
A monografia registrada de Crys Fontana é uma rara pesquisa que aprofunda a
dimensão social do Pequeno teatro popular à época.
Emilio Fontana criou um formato
inovador de fomento à Cultura, incluía teatro, artes plásticas, literatura e
cinema em um só evento. Percorria as cidades do interior levando seus
espetáculos populares em uma arena desmontável.
Como curador, levava as obras de arte
de pintores importantes de São Paulo, edições de livros recentes de autores
nacionais e ainda projeções de cinema de documentários de 16 milímetros.
Por ocasião de doença na família,
contou com um grande amigo. Ofereceu o formato e a carteira de contato para
Osmar Rodrigues Cruz para dar prosseguimento ao teatro social popular junto ao
Sesi, Teatro de Arena e Pequeno teatro popular. Mudaram a maneira de se fazer
teatro no Brasil, uma mudança profunda da relação público e plateia.
Emilio Fontana esteve, a convite do
falecido governador Dr. Mario Covas, na Secretaria de Estado da Cultura.
Realizou dezenas de projetos socioculturais, dentre eles "Música e poesia
no presídio", "O teatro do negro para sempre", "Clássicos
do teatro aos moradores periféricos do CDHU" e o Centro de Estudo e
Memória do Teatro Paulista no Arquivo do Estado, projetos potentes de inclusão.
Realizou dezenas de espetáculos
teatrais e longas-metragens em cinema. Seu primeiro filme realizado, em 1971, o
clássico "Nenê Bandalho" e o último "joanadarc1920rouen.com".
Recentemente foi consultor de filmagem do filme "Segredo da galera",
que estreou ano passado, em 2023, no Sesc Vila Mariana.
Sim, o mestre Emilio Fontana, aos 94
anos, permanece em atividade, são 79 anos de atividades ininterruptas, uma vida
dedicada à arte e ao ensino de comunicação e humanidades. Emilio Fontana é uma
personalidade valiosa para a cultura nacional.
É isso aí, Emilio Fontana. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE - DONATO - PT -
O Junior quebrou tanto protocolo que esqueceu e pulou a minha fala, mas eu vou
ser bastante breve antes de entregar o colar.
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Prometo, deputado, me perdoa.
O SR. PRESIDENTE - DONATO - PT -
Bem rapidamente, primeiro agradecer aqui ao deputado Marcos Mendonça, deputado
Adriano Diogo, que honraram esta Casa, honraram a Câmara de Vereadores.
Em breve, a gente vai ter o Adriano
Diogo honrando, novamente, a Câmara de Vereadores. A gente torce muito por
isso. (Palmas.) Agradecer ao Candinho, à Crys Fontana, ao Guilherme Bonfim, ao
Ricardo Barros, ao João Amaral e dizer a honra que é poder homenagear o mestre
Emilio Fontana.
Não posso deixar de dizer - o Junior
foi muito persistente nisso - que, infelizmente, os ritmos desta Casa são mais
lentos do que a gente gostaria. Mas, enfim, a homenagem está aqui e ela é muito
merecida para alguém, como todos já falaram e sempre falar por último tem esse
problema de não poder ser repetitivo... Mas tudo que significou Emilio Fontana
para a cultura brasileira.
Eu sempre digo, essas homenagens às
vezes parecem... Aqui se homenageia perfis dos mais amplos espectros, porque os
deputados aqui representam um amplo espectro da sociedade brasileira. Mas
quando a gente homenageia Cultura, alguém que fez tanto pela Cultura no Brasil,
a gente está fazendo uma reverência à civilização.
A gente tem a barbárie espreitando no
mundo todo e aqui no Brasil nesses tempos tão estranhos. Então, a gente
reverenciar alguém que contribuiu tanto com a cultura brasileira, com essa
construção da nossa identidade enquanto nação, enquanto povo, é uma honra.
Eu fico muito agradecido de poder
participar deste momento e ser o proponente desta homenagem tão significativa e
que tem esse conteúdo de homenagear um mestre, mas através dele homenagear toda
a cultura brasileira.
Viva Emilio Fontana! Viva a cultura
brasileira! (Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Vou pedir para a Mesa se posicionar para o homenageado receber a outorga, por
favor.
*
* *
- É feita a outorga do Colar de Honra
ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo.
*
* *
Vamos passar a palavra ao homenageado,
Emilio Fontana.
O SR. EMILIO FONTANA - Excelentíssimo
deputado Antonio Donato, que no momento preside esta sessão solene e que, ao
mesmo tempo, é o parlamentar que teve a iniciativa de fazer esta homenagem à
minha pessoa, portanto, adiante a minha expressão de agradecimento que eu vou
consignar aqui formalmente.
Pela importância vultosa e estatura
desta Casa, sinto-me no dever irrefutável de neste momento depositar os meus
mais profundos sentimentos de agradecimento pela outorga desta láurea a mim,
Emilio Fontana, concedida: o Colar de Honra ao Mérito Legislativo pela
contribuição que dei ao teatro, à arte e à Cultura de nossa gente ao longo da
minha vida.
Peço vênia para estender esses
agradecimentos desta homenagem em nome da classe artística de nossa terra, e
mais, em nome de minha esposa, Crystiane Maria Fischer Fontana, em arte Crys
Fontana, com quem neste momento divido esta homenagem.
Muito obrigado. (Palmas.)
Queria agradecer a presença de
todos.
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Como eu sou o quebrador de protocolo... Olha, quando vocês precisarem fazer
qualquer cerimônia me convidem, eu sou ótimo para quebrar protocolo. Mas quando
o parlamentar é experiente, bom naquilo que faz em todos os trabalhos que
exerce...
Vou dar uma demonstração, porque a
palavra em seguida era dele. Agora, novamente, eu passo a palavra ao Exmo. Sr.
Deputado Antonio Donato para que proceda com o encerramento desta sessão.
O SR. EMILIO FONTANA - Permita-me
romper o protocolo. Neste momento, eu quero agradecer a presença das pessoas
que vieram colocar a sua disposição, o seu interesse, a sua honra para que este
evento realmente tivesse a beleza, o encanto e a força que teve pela Cultura e
para que esse velho guerreiro, Emilio Fontana, com 94 anos, se sinta honrado
extremamente.
São essas figuras importantes que aqui
estão: Marcos, Zé, Helena, Emilio, meu filho, enfim... Coisas também são... A
miúdo do dia a dia que vieram encher o nosso coração de tanta força e tanta
alegria. É alguém que lutou pela Cultura, ainda luta quando pode, e que se
sente reconhecido e agradecido.
Muito, muito, muito obrigado a todos vocês
que aqui estão.
Estou enaltecido, emocionado e muito
feliz. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE - DONATO - PT -
Depois dessas palavras...
O SR. EMILIO FONTANA -
Mais uma coisa. E aquela coisa que eu te pedi? Está aí?
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS -
Não, Emilio, não foi possível. Mas será entregue, Emilio. Está para ser
entregue em sua residência. Olha aí, as quebras de protocolo são um problema.
As quebras de protocolo... Fica despreocupado, Emilio.
O SR. EMILIO FONTANA -
Está bom.
Obrigado a todos.
O SR. PRESIDENTE - DONATO - PT -
Diante do mestre e das palavras que ele proferiu agora, só me cabe agradecer a
presença de todos e declarar encerrada a sessão.
*
* *
- Encerra-se a
sessão às 21 horas e 8 minutos.
*
* *