
19 DE SETEMBRO DE 2025
50ª SESSÃO SOLENE SOBRE A GREVE DE 1985: 40 ANOS DE RESISTÊNCIA E CONQUISTA
Presidência: LUIZ CLAUDIO MARCOLINO
RESUMO
1 - LUIZ CLAUDIO MARCOLINO
Assume a Presidência e abre a sessão às 10h31min.
2 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Faz leitura sobre a Greve de 1985. Anuncia a composição da Mesa. Convida o público para ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro".
3 - PRESIDENTE LUIZ CLAUDIO MARCOLINO
Informa que a Presidência efetiva convocara a presente solenidade para homenagear a "Greve de 1985: 40 anos de resistência e conquista", por solicitação deste deputado, na direção dos trabalhos. Discorre sobre a Greve de 1985. Diz ser esta uma solenidade para o reconhecimento desse momento que promoveu a união das categorias. Destaca a recuperação da dignidade, a valorização da categoria e a readequação salarial. Afirma ser uma honra realizar esta sessão solene e homenagear uma história de resistência e conquista. Ressalta o compromisso com o presente e o futuro. Diz que a Greve não é somente uma página do passado, mas um símbolo permanente. Agradece a todas as autoridades presentes.
4 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia a exibição de vídeo sobre a Greve de 1985.
5 - IVONE SILVA
Presidente do Instituto Lula e ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, faz pronunciamento.
6 - LUIZINHO AZEVEDO
Dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, faz pronunciamento.
7 - JOÃO VACCARI NETO
Presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região entre 2000 e 2005, faz pronunciamento.
8 - GILMAR CARNEIRO
Presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região entre 1991 e 1994, faz pronunciamento.
9 - ALINE MOLINA GOMES AMORIM
Diretora-presidente da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito de São Paulo, faz pronunciamento.
10 - NEIVA RIBEIRO
Presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, faz pronunciamento.
11 - JUVANDIA MOREIRA LEITE
Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro e vice-presidente da Direção Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores, faz pronunciamento.
12 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia a exibição de vídeo em homenagem aos companheiros, que já não estão mais aqui, que lutaram incansavelmente por justiça, dignidade e melhores condições de trabalho. Anuncia homenagem, com entrega de placa comemorativa, àqueles que foram protagonistas da Greve de 1985; e uma homenagem especial e reconhecimento público a João Vaccari Neto, Gilmar Carneiro e Luizinho Azevedo.
13 - DAVI ZAIA
Ex-deputado estadual e homenageado, faz pronunciamento.
14 - SONIA ESTELA DA SILVA
Homenageada, faz pronunciamento.
15 - ANTONIO CARLOS LOPES FERNANDES
Homenageado, faz pronunciamento.
16 - OLIVER SIMIONI
Homenageado, faz pronunciamento.
17 - JOSÉ CARLOS DA SILVA
Homenageado, faz pronunciamento.
18 - FRANCISCO ANTÔNIO CINQUAROLI
Homenageado, faz pronunciamento.
19 - PAULO OKAMOTTO
Homenageado, faz pronunciamento.
20 - PRESIDENTE LUIZ CLAUDIO MARCOLINO
Lembra que, durante a Greve de 1985, tinha 15 anos e que, mesmo assim, ajudou a Greve por ser do grêmio estudantil. Ressalta que a Greve teve a participação de diversas categorias, com a busca de dignidade e justiça social. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão às 12h38min.
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ÍNTEGRA
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-
Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Luiz Claudio
Marcolino.
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A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Senhoras e senhores,
muito bom dia. Sejam todos muito bem-vindos à Assembleia Legislativa de São
Paulo. Peço, por gentileza, que se acomodem aos seus lugares, porque estamos
iniciando a nossa sessão solene. Esta sessão solene tem a finalidade de
celebrar a resistência e conquistas da greve realizada pela categoria bancária
em 1985.
Em setembro de 1985, o Brasil vivia um
momento de grande transição. Saímos da sombra de uma ditadura de 20 anos e
víamos nascer, ainda com dores e incertezas, a democracia. Nesse contexto, os
bancários do Brasil, com coragem, criatividade e organização, paralisaram o
sistema financeiro em uma greve que entrou para a história da classe
trabalhadora.
A frase “Se não sacou, é bom sacar; os
bancários vão parar” ecoou nas ruas, nas filas dos bancos e nos corações de um
povo que se reconheceu na luta justa por direitos, por respeito e dignidade.
Hoje, 40 anos depois, celebramos não apenas uma greve, mas uma aula de
cidadania, de resistência e de transformação social.
Comunicamos aos presentes que esta
sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp, pelo canal do YouTube
da Alesp e do deputado Marcolino, como também em suas redes sociais, além dos
canais oficiais do Sindicato dos Bancários de São Paulo, como o SP Bancários.
Neste momento, convido com muita
satisfação para compor a Mesa Diretora o deputado estadual Luiz Claudio
Marcolino, presidente e proponente desta solenidade. (Palmas.) Convido também
Juvandia Moreira Leite, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores
do Ramo Financeiro e vice-presidenta da executiva nacional da Central Única dos
Trabalhadores, a CUT. (Palmas.)
Convido também, com muita satisfação,
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São
Paulo, Osasco e Região. (Palmas.) Faço o convite para Aline Molina Gomes
Amorim, diretora-presidenta da Federação dos Trabalhadores em Empresas de
Crédito de São Paulo. (Palmas.)
Convido também para compor a Mesa
Gilmar Carneiro, presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São
Paulo, Osasco e Região entre 1991 e 1994. (Palmas.) Convido também João Vaccari
Neto, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região entre
2000 e 2005. (Palmas.) E convido também Luiz Azevedo, dirigente do Sindicato
dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região de 1979 a 1990, e deputado estadual
de 1991 a 1995. (Palmas.)
Convido a todos os presentes para, em
posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.
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- É reproduzido o Hino Nacional Brasileiro.
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A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Registramos e
agradecemos a presença das seguintes personalidades: Ivone Silva, presidenta do
Instituto Lula. (Palmas.) Davi Zaia, sempre deputado estadual. (Palmas.)
Washington Carvalho, presidente do Sindicato dos Ex-Funcionários CMTC e
Trabalhadores de Transportes. (Palmas.) Marcelo Martins da Silva, presidente do
Sindicato dos Bancários de Barretos. (Palmas.)
Roberto Carlos Vicentin, presidente do
Sindicato dos Bancários de Catanduva. (Palmas.) Fábio Escobar, presidente do
Sindicato dos Bancários de Assis e Região. (Palmas.) Flavio Monteiro Moraes,
presidente da Bancredi. (Palmas.) Maria Rosani, presidente da Afubesp.
(Palmas.) Ana Lúcia de Camargo, diretora da Associação dos Bancários
Aposentados. (Palmas.)
Neste momento, passo a palavra ao
proponente desta sessão solene, o deputado estadual Luiz Claudio Marcolino.
(Palmas.)
O
SR. PRESIDENTE - LUIZ CLAUDIO MARCOLINO - PT -
Bom dia a todos, bom dia a todas. Iniciando os nossos trabalhos nos termos
regimentais, senhoras e senhores, esta sessão solene foi convocada pelo
presidente desta Casa de Leis, deputado André do Prado, atendendo à minha
solicitação, com a finalidade de celebrar as resistências e conquistas da greve
realizada pela categoria bancária em 1985.
Queria aproveitar este momento. É com enorme
alegria e profundo respeito que abrimos esta Sessão Solene em Homenagem Aos 40
Anos da Histórica Greve Nacional dos Bancários de 1985, que mobilizou mais de
500 mil trabalhadores e trabalhadoras, e parou o sistema financeiro brasileiro.
Hoje, esta Casa Legislativa se
transforma em um espaço de memória, de reconhecimento e de reafirmação da luta
da classe trabalhadora brasileira. Em setembro de 1985, homens e mulheres,
bancários e bancárias, tiveram a coragem de enfrentar um dos setores mais
poderosos do País e mostraram que quando a categoria se une, ela é capaz de
conquistar direitos e transformar realidades.
Aquela greve não foi apenas por
salários. Foi uma luta por dignidade, por democracia, por valorização do
trabalho. Com apoio da CUT, a Greve de 1985 ganhou apoio da opinião pública e
foi vitoriosa ao conquistar o reajuste salarial de 90,78% e antecipação de 25% diante
da inflação galopante, que na época corroía a renda dos trabalhadores em dez
por cento ao mês. Olha o desafio aqui da Juvandia e dos demais membros da
Comissão: 100% de reajuste; 98% da Greve de 1985.
Naquele contexto, a redemocratização do
Brasil ao final de uma ditadura militar de 20 anos, a greve dos bancários
ajudou a abrir caminhos, mostrou que a força organizada dos trabalhadores
poderia enfrentar banqueiros e governos, conquistar avanços e inspirar outras
categorias. Por isso, a Greve de 1985 foi um divisor de águas, não só para os
bancários, mas para todo o movimento sindical brasileiro.
Quero destacar que, embora eu ainda
fosse um estudante em 1985, aquele ambiente político-social inspirou a
trajetória que levou ao sindicalismo e à presidência do Sindicato dos Bancários
de Osasco, São Paulo e Região. Hoje, como deputado estadual, é uma honra imensa
poder realizar esta sessão em parceria com o Sindicato dos Bancários e trazer
para dentro da Assembleia Legislativa essa história de resistência e conquista.
Aqui estão dirigentes, bancários e
bancárias, funcionários e funcionárias dos sindicatos que fizeram parte daquele
momento, que enfrentaram riscos, desafios e repressão, mas também colheram
vitórias que repercutem até hoje. Reajustes, benefícios, como a convenção
coletiva nacional, a PLR, a jornada de seis horas, o vale-refeição, o
auxílio-creche e tantas outras conquistas que nasceram e se fortaleceram a
partir daquela greve.
Celebrar esses 40 anos é também
reafirmar nosso compromisso com o presente e com o futuro. Vivemos tempos em
que os direitos dos trabalhadores continuam sob ameaça. Lembrar da coragem de
1985 é renovar nossa disposição de luta, de organização e de unidade nacional.
Por isso, nesta abertura, quero lembrar
que a Greve de 1985 não é apenas uma página do passado. Ela é um símbolo
permanente daquilo que somos capazes de fazer quando estamos juntos: defender
empregos, ampliar direitos, fortalecer a democracia e manter viva a chama da
justiça social.
O meu muito obrigado a todos e todas
que participam desta sessão solene. (Palmas.)
E queria já agradecer aqui à Juvandia
Moreira Leite, que é a nossa presidenta da Confederação Nacional de
Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT; Aline Molina, nossa presidenta da
Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Estado de São Paulo;
Neiva Ribeiro, presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São
Paulo, Osasco e Região, com a qual nós temos a parceria desta sessão solene,
com o Sindicato, com a Federação e com a nossa Confederação.
Queria agradecer também a presença de
Gilmar Carneiro, que foi presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários
de São Paulo, Osasco e Região; João Vaccari Neto, também presidente do
Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, que
participaram desse processo ativamente, dessa Greve de 85; Luizinho Azevedo,
também sendo deputado foi diretor do Sindicato 79 a 90, também deputado
estadual e também participou dessa Greve de 85.
E quero aproveitar e já chamar Ivone
Silva, que também foi presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo,
Osasco e Região, também para compor a Mesa aqui junto com a gente.
Então seja bem-vinda, Ivone. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agradecemos o deputado
Luiz Claudio Marcolino e, neste momento, vamos assistir a um vídeo sobre a
Greve de 1985, produzido pela Secretaria de Comunicação e Imprensa do Sindicato
dos Bancários de São Paulo.
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* *
- É exibido o vídeo.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Neste momento,
convidamos a fazer o uso da palavra Ivone Silva, presidenta do Instituto Lula e
ex-presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo. (Palmas.)
A
SRA. IVONE SILVA - Bom dia. Bom, eu fico muito feliz
aqui com essa homenagem a todos que participaram da Greve de 1985. Queria dizer
que eu não participei, eu estava até falando com o pessoal aqui.
Eu entrei na categoria em 1989. E 1985,
eu tenho poucas lembranças dessa greve, mas já a de 1986 eu tenho, porque eu
estava comentando com o pessoal que eu fui demitida, fui sacar meu fundo de garantia
e os bancos todos em greve. Então eu vi toda aquela movimentação e aquela vida
política.
Mas o Sindicato dos Bancários, assim
acho que como todo mundo na época, já havia toda essa movimentação de um
sindicato que não pensava para nós, que estávamos fora da categoria, não era
uma coisa que pensava só na categoria, porque quando a gente ia para...
Vendo a movimentação nas ruas, o que a
gente via era o seguinte, não eram só palavras de reivindicações para a sua
própria categoria, eram palavras também de democratização, de direitos, também
da eleição de candidatos que fizessem, vamos dizer assim, que fossem para o
Congresso com a pauta da classe trabalhadora.
Então, já era muito mais amplo, porque
a gente vinha de um final de uma ditadura, o nascimento de uma nova classe
trabalhadora. Vamos lembrar aí que o Partido dos Trabalhadores foi criado em
1980 por vários movimentos, depois foi criada a CUT, em 1983, então era muito
recente.
E quando eu entrei na categoria em
1989, já tinha todo esse movimento, que tinha sido organizado por quem veio
antes de mim, que enfrentou uma ditadura. Então vários que estão aqui hoje neste
plenário foram presos, foram perseguidos pela ditadura, sofreram muito.
E, quando eu cheguei na categoria, em
1989, já tínhamos uma categoria em que vários sindicatos já estavam filiados à
Central Única dos Trabalhadores, já estavam em uma organização nacional, o que
depois nos permitiu ter uma convenção coletiva nacional, depois ter as
conquistas de vários benefícios, porque nós conquistamos muito, fizemos muita
greve. Lembro aí quando eu entrei na categoria, não tinha ticket-refeição, não
tinha ticket-alimentação, não tinha PLR, várias das coisas que nós temos hoje.
Então, eu fico muito honrada de estar
aqui hoje, com várias pessoas que participaram dessa greve, que pavimentaram
todo o caminho para nós, para nós hoje termos no País um Partido dos
Trabalhadores que realmente faz a pauta para os trabalhadores, e uma Central
Única dos Trabalhadores que faz realmente toda a luta para que a classe
trabalhadora tenha seus direitos reconhecidos, tenha seus direitos ali fincados
realmente na nossa democracia.
E nós sabemos que todo esse movimento que
teve a categoria bancária e várias outras categorias, várias outras greves e
movimentos dos trabalhadores, permitiu que a gente tivesse uma constituinte e
que hoje nós temos vários direitos que estão ali na nossa Constituição - que
agora querem derrubar. Uma delas é a gente ter o SUS. Não vou citar todas, mas
hoje ter SUS, hoje os trabalhadores terem direito à greve, mas vários outros
trabalhadores ainda não têm.
Então eu fico muito orgulhosa de ter
presidido esse Sindicato de 2017 a 2023, mas já tendo pessoas lá atrás que
lutaram muito para a liberdade, para nós podermos fazer greve, para nós
podermos realmente ter uma negociação nacional. Então eu me sinto muito honrada
de estar aqui e muito agradecida por quem veio antes de mim e participou desse
grande movimento dos bancários de 1985.
Parabéns a todos que participaram e
parabéns a toda a categoria, que até hoje resiste e até hoje, realmente, não
faz só a luta para os bancários, faz uma luta hoje, principalmente nesse
momento, para um país democrático, um país com direitos realmente para a classe
trabalhadora e para todos os cidadãos.
Obrigada. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada,
Ivone, pelas suas palavras. E gostaríamos de registrar também a presença de
Wanderley Ramazzini, presidente do Sindicato dos Bancários de Guarulhos.
Neste momento, convido para fazer uso
da palavra Luizinho Azevedo, dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo,
Osasco e Região, de 1979 a 1990, deputado estadual de 1991 a 1995. Você tem
cinco minutos de fala.
O
SR. LUIZINHO AZEVEDO - Como eu fui deputado,
eu posso quebrar um pouco aqui o protocolo. Eu queria pedir para que todos
vocês ficassem de pé para nós fazermos um protesto. Por favor. E esse protesto
é um protesto e uma manifestação de apoio à presidente do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, à presidente da Federação e à presidente da Confederação,
para que eles, nessa luta, um protesto contra as demissões no Banco Itaú.
E, aproveitando que vocês estão de pé,
eu queria fazer uma homenagem àqueles camaradas que nos deixaram, que são
muitos, em nome de quatro pessoas - mas foram muitos que nos deixaram. Augusto
Campos, Luiz Gushiken, Nelson Silva e o ex-deputado Marcos Martins,
recentemente. Companheiros, muito obrigado.
Há 40 anos, bancários do Brasil inteiro
paralisaram os bancos e atenderam um chamado de uma voz rouca que, nas
passeatas que saíam da Praça Antônio Prado, seguiam pela Avenida São João,
ocupavam a Ipiranga e em direção à São Luís... Ouviam o Gilmar Carneiro dos
Santos, que está aqui junto conosco, que gritava: “Tem que dar, tem que dar,
senão vamos parar”. Quem se lembra disso?
Foi um movimento fenomenal, porque nós
conseguimos fazer a união, de contínuo a gerente, em um processo de mobilização
que tinha estratégia. Uma estratégia que foi combinada nos dias 6, 7 e 8 de
junho, no Rio de Janeiro, quando nós decidimos que, em face das experiências das
greves de 78, de 79 e da operação que nós fizemos de 80, que nós precisávamos
ter três coisas.
Primeiro, nós tínhamos que ter uma
bandeira fácil de ser assimilada pela categoria. Segundo, nós tínhamos que
conquistar a opinião pública. Terceiro, nós tínhamos que unir os setores
bancários todinhos e conquistar os comissionados. Luiz Gushiken queria que a
gente usasse terno e gravata, inclusive.
Naquela estratégia, nos dias 6, 7 e 8,
nós montamos um calendário que ia até o dia 10 de setembro, com datas para
assembleia, dados para passeata, dados para manifestações, para atos.
E esse conjunto todo armou a militância
do Banco do Brasil, do Banespa, do BNB, do Basa e dos bancos estaduais, Banerj,
Banestado, Banrisul, no País inteiro, que recebiam uma folha bancária, mandada
principalmente pelo Augusto Campos, via Direp, e armou todo mundo para que a
gente pudesse...
Aqueles dirigentes acomodados que não
seguissem o comando unitário, no qual tiveram destaque na sua atuação duas
pessoas que eu gostaria de citar, dentre outras, o próprio camarada que está
aqui, que é o deputado estadual Davi, e o Eribelto, se não me engano o nome,
que era da Federação, mas que teve um papel importante para a construção da
unidade.
Eu queria dizer a vocês que naquela greve nós
não conquistamos apenas a incorporação dos 25%, nós recuperamos a dignidade da
categoria bancária. Nós fizemos com que aquela juventude estudantil que
trabalhava nos bancos tivesse um momento de libertação da imensa opressão que
existia e que agora está redobrada nos bancos.
Porque a opressão de hoje não é direta
pelo chefe, ela é feita pelo computador, ela é feita no celular, porque a
opressão de hoje é imensa. Ser dirigente sindical hoje dos bancários - uma
categoria menor, mas tão importante e relevante quanto naquela época - é
difícil, e eu acho que nós temos que fazer uma homenagem a todos que são
dirigentes que estão na luta, militantes, lutando em defesa dessa categoria,
porque juntos construíram e sempre estiveram na luta da classe trabalhadora
como um todo.
Os bancários, naquela Greve de 1985,
revelaram uma forma de fazer sindicalismo que dava continuidade àquele
sindicalismo iniciado na greve da Saab-Scania, no ABC, e que Lula liderou junto
com Paulo Okamotto, que está aqui junto com a gente.
Aquela greve que fez com que nós fôssemos
avançando em 86, 87, 88, 89, e que colocou em postos relevantes deste país inúmeras
lideranças bancárias que eu encontrei por tudo quanto é canto.
Dali se projetou o Jorge Perez, lá de
Pernambuco, que está aqui entre nós. Dali se projetou o camarada, o Helton, que
hoje é ministro, que era bancário e que construiu a oposição. Ali se projetou o
Zé Pimentel, que foi senador depois. Projetou-se o Paulo Bernardo, que chegou a
ser ministro, o Olívio Dutra já era expoente importante.
Mas foi ali que José Fortunati virou
uma grande liderança, e muitos outros que se espalharam por esse país todo, e a
gente foi elegendo deputados, foi colocando prefeitos, governadores, como o
Zeca do PT do Mato Grosso.
A greve, ela teve um impacto, porque
ela foi muito além da categoria bancária, porque nós conseguimos dialogar com a
opinião pública. A nossa mensagem: “se você não sacou, é bom sacar; os
bancários vão parar”, tinha por objetivo três coisas. Primeiro: revelar para a
opinião pública que nós não queríamos prejudicar os clientes, que era bom eles
fazerem isso antes.
Segundo: usar o saque como um
instrumento de pressão sobre os banqueiros para forçá-los a negociar. E,
terceiro: conquistar de fato a opinião pública. Daí porque nós não usamos a
palavra “piquete”. Usamos “comissão de esclarecimento”, que era para que o
pessoal não visse que a gente estava forçando os bancários a ficarem do lado de
fora. Porque no piquete eles fizeram uma repressão violenta em 1979 e que
causou aquele quebra-quebra.
Naquela Greve de 1985, a gente já tinha
uma discussão no Banco do Brasil em que o governo já queria, naquela época,
acabar com a conta movimento no Banco do Brasil e, ao acabar com a conta
movimento, iniciou-se um processo privatista no Banco do Brasil que transformou
completamente o Banco.
Porque hoje nós temos um banco,
continua tendo o seu papel, mas infelizmente ainda está longe de ser o banco
público que nós sempre defendemos. E ali se consolidou uma estratégia de
privatização que atingiu os bancos estaduais por todo o País e que culminou na
privatização do Banespa, depois de uma histórica e heroica resistência dos
bancários do Banespa, que tem que ser registrada.
E aqui nós temos duas pessoas que eu
queria homenagear; três, na verdade. Em primeiro lugar, a grande liderança lá
de Catanduva, o nosso companheiro Chico Belo, que travou uma batalha. (Palmas.)
Em nome dele, eu quero homenagear todos os dirigentes sindicais do Banespa.
E quero homenagear também o companheiro
Oliver Simioni, que foi um bastião nessa luta, esteve junto com a gente na
batalha. E o camarada histórico João Vaccari Neto, que ajudou, por meio da CUT,
a espalhar oposições por todo o País.
Então, companheiros e companheiras,
para terminar no meu tempo, eu quero dizer uma coisa para vocês, muito simples.
Nós só temos que comemorar, apesar das nossas batalhas de hoje serem tão
grandes e muitas vezes mais difíceis. Mas a classe trabalhadora nunca teve
moleza. A classe trabalhadora sempre esteve no combate.
Nesse combate, a gente contou não só
com bancários, com dirigentes, mas também com funcionários dos sindicatos. E,
desses funcionários dos sindicatos, eu quero destacar duas pessoas, já que os
outros não estão aqui. Já homenageei o Nelson Mota, mas nós temos aqui a
companheira Madalena, que foi uma das guerreiras do nosso sindicato. (Palmas.)
E nós temos aqui a Fumacinha. A
Fumacinha foi fundamental. Eu gostaria muito de homenagear e falar de muito
mais gente, mas que todos se sintam homenageados nesse movimento fundamental.
Companheiro Luiz Marcolino, parabéns
pela iniciativa. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada,
Luizinho Azevedo, pelas palavras. Neste momento, convido para fazer o uso da
palavra João Vaccari Neto, presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários
de São Paulo, Osasco e Região entre 2000 e 2005.
O
SR. JOÃO VACCARI NETO - Bom dia,
companheiros e companheiras. Quero iniciar agradecendo o convite que o deputado
Luiz Claudio fez, cumprimentando todos da Mesa. Quero cumprimentar o
companheiro Paulo Okamotto, que também foi uma liderança forte, na época, do Sindicato
dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
Quero cumprimentar o Chico Belo, que
foi um dos primeiros sindicatos que nós conquistamos no interior, o Sindicato de
Catanduva, que foi uma luta dura para vencer as eleições. Também, cumprimentar
o companheiro Cacaio, que é aqui de Presidente Prudente, que foi também o
resultado da nossa organização no interior de São Paulo; o companheiro Helinho,
que é de Assis, que também foi um companheiro militante da época. (Palmas.)
O Roberto, de Jundiaí, que foi um dos
fundadores do Sindicato dos Bancários de Jundiaí e que na época era do Banco
Meridional, que participou da luta pelo fim da intervenção no Meridional, que
hoje - a história ficou, mas eles pertencem também ao Grupo Santander, tanto
quanto eu. (Palmas.) O companheiro Paiva, que fez parte na época do Sindicato de
Piracicaba, e o companheiro Davi. (Palmas.)
Eu tenho certeza de que eu esqueci um
monte de gente, mas pelo menos esses eu gostaria de citar. E também eu não
posso deixar de citar a Madalena, porque a Madalena era funcionária do Sindicato,
mas, acima de tudo, ela nos apoiava desde 1978, quando nós estávamos na
oposição. (Palmas.) Tinha no Sindicato a Madalena e o Carlão. Eles nos apoiavam
e ganhamos eleições e eles continuaram até que se aposentaram no Sindicato.
Eu queria falar um pouco para vocês,
que eu acho que é importante, da conjuntura que nós vivíamos naquele momento.
Nós vivíamos um momento de grandes mobilizações sociais. Era a greve dos
metalúrgicos do ABC, eram os movimentos pelo combate à carestia, por melhores
salários, por direitos. Havia manifestações de todos os tipos na cidade de São
Paulo.
E é nesse contexto que a gente vai
criando um sentimento de mobilização nos bancários. Nós já tínhamos feito uma
tentativa de greve aqui nos bancários de São Paulo em 1979, que acabou não
dando muito certo, porque não conseguimos fazer a greve e tudo virou um grande
conflito com a polícia nas ruas de São Paulo.
Mas já tinha tido experiência de fazer
greve também no Rio de Janeiro, que tinha sido uma greve com sucesso pelos sindicatos
dos bancários do Rio de Janeiro e pelos sindicatos dos bancários de Porto
Alegre. Mas em todos eles havia o mesmo problema: os banqueiros substituíam os
bancários com o pessoal de São Paulo ou de outra região de onde tinha greve,
porque os bancos são os mesmos, os serviços são os mesmos, era uma substituição
fácil.
Então, é daí que nós começamos o debate
de que tínhamos que fazer as campanhas nacionais, fazer uma campanha nacional
de bancários, com comando unificado, apesar de todas as dificuldades que nós tínhamos,
dada a quantidade de divergências que nós tínhamos dentro do movimento sindical
bancário.
O primeiro encontro nacional que nós
fizemos foi em Joinville, onde se decidiu que nós iríamos fazer a campanha
unificada com todos, negociando conjuntamente com os bancos nas várias regiões
do País, porque o contrato era diferente. Pernambuco era um, Sergipe era outro,
São Paulo era um, Rio era outro, Porto Alegre era outro, e fizemos a partir daí
o trabalho de unificação do contrato coletivo de trabalho.
Eu acho que essas coisas são
importantes porque foi isso que foi criando um caldo de cultura para a gente
fazer a Greve de 1985. Tivemos também as eleições diretas de 1982, em que nós
pegamos o compromisso do então candidato a governador André Franco Montoro de
que ele permitiria a participação dos trabalhadores na gestão das empresas
estatais.
No início houve uma dúvida, mas depois
ele honrou o compromisso e fez-se uma lei que permitia a participação dos
trabalhadores de todas as empresas estatais, que depois, com o tempo, foi se
diluindo e virando participação nos conselhos de administração dessas empresas
- que hoje existem, inclusive, nas empresas federais.
Foi fruto daquele momento. Tudo isso
conduzia a um grande processo de mobilização. Agora, teve outros movimentos
mais significativos também, que relatavam a questão da precisão do ponto de
vista de construir o movimento. Um dos grandes movimentos foi o fim da conta movimento
do Banco do Brasil.
O que é isso? Outrora, todo o dinheiro
do governo federal era movimentado pelo Banco do Brasil, e o governo, em 1985,
iniciou o debate e, em 1986, retirou essa conta movimento do Banco do Brasil,
que foi um grande debate, intenso, de que isso era errado, nós achávamos que
era errado, que ia trazer prejuízo ao conjunto do Banco do Brasil, mas, enfim,
foi feito pelo governo da época, que foi o governo Sarney, mas trouxe um grande
debate, que era a questão da mobilização política dos trabalhadores.
Eu acho que essas coisas são grandes
movimentações que nós fizemos, que resultaram na grande Greve de 1985. Fizemos
grandes passeatas, fizemos grandes atos e, depois disso, fizemos grandes
conquistas, mudamos a cara do sindicalismo bancário no Brasil e estamos
trabalhando ainda no mesmo sentido, que foi a conquista do contrato coletivo nacional,
em 1991.
Isso tudo foi resultado de um processo
de mobilização que se inicia, o grande momento é a Greve de 1985 e, a partir
daí, começa-se o debate sobre a unificação, as cláusulas e tudo isso que traz
hoje a gente até onde nós estamos hoje, que são as campanhas nacionais dos
bancários.
Então, eu estou colocando isso porque
eu acho que foi um movimento intenso, um movimento grande, que permitiu que a
gente crescesse a nossa participação em vários setores, não só na direção dos
bancos, como também uma coisa que nós não tínhamos, que era participar da
gestão dos nossos fundos de previdência, em que passamos a participar também,
fruto de toda essa mobilização.
Agora, lógico que nós tínhamos uma
categoria que tinha quase 200 mil trabalhadores e que, com as modificações da
informática, da tecnologia, isso foi se diminuindo, foi mudando o conceito de
trabalho bancário e hoje a gente vive uma realidade completamente diferente.
Mas, acima de tudo, eu quero registrar
a resistência que houve do conjunto dos trabalhadores bancários de forma
unitária, com todos os seus problemas, com todas as suas divergências, para
construir a unidade nacional e que é praticada até hoje, apesar de que ainda
continuamos com as divergências, mas continuamos fazendo as campanhas nacionais
que originaram e que deram motivação para a greve nacional.
Era isso, companheiros e companheiras,
um momento importante. E que fique registrado a nossa persistência na condução
dessas lutas, porque somos nós, os trabalhadores, que conduzimos essas lutas e
fazemos as transformações sociais.
Obrigado.
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada, João
Vaccari Neto, pelas palavras. Neste momento, convido para fazer o uso, Gilmar
Carneiro, presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo,
Osasco e Região entre 1991 e 1994.
O
SR. GILMAR CARNEIRO - Bom dia a todas e
todos. Na verdade, ser presidente do Sindicato é importante, mas não era
relevante. O que era relevante era que, desde quando nós fomos eleitos pela
primeira vez, em 1979, eram liberados todos os diretores e todos os diretores
podiam negociar com os seus bancos, podiam cuidar de base territorial, podiam
fazer o jornal e isso já foi uma revolução. Em vez de liberar sete pessoas,
liberava 24 pessoas, e ia liberando mais gente nos conselhos, Direp e Corep,
formando quadros.
Então, em uma das prisões nossas, o
delegado do Dops perguntou assim: “Sr. Augusto, o senhor é o presidente do Sindicato?”.
“Sou”. “Quem manda lá?” - o Augusto daquele jeitão dele: “Quem manda lá é a base”.
“E esses boletins, o senhor vê o boletim antes de fazer, o jornalista
escrever?”. “Eu, não”. “Quem é que vê?”. “Quem vê é a comissão de imprensa”. “E
o senhor faz o quê?”. “Eu boto o meu nome aí porque a lei diz que tem que ter
um responsável”. Aí o delegado fala: “Então o seu sindicato é uma zona”. Eu falei:
“A democracia é uma zona, mas funciona”. (Palmas.)
Então, esse era o Augusto. Então,
assim, quando o Gushiken veio falar comigo para ser candidato em 1979, nós
éramos colegas da GV. E a Bete era colega da minha mulher, a Tica. Era um
japonês com uma loira e um baiano com uma japonesa, não é? Aí nós começamos a
namorar juntos, na inauguração do apartamento em que o Luizinho morava, ali na
Avanhandava, ali naquela região. E aí... Eu falei, aí o Gushiken explicando
qual é o papel do sindicato.
“E não dá para derrubar a ditadura, não?”.
Aí ele falou: “Também dá para lutar contra a ditadura”. Aí eu falei: “Então eu
vou. Se for só para fazer campanha salarial, eu não vou”. Nós fizemos GV. Fazer
Administração de Empresas para administrar salário não é com a gente, não é? Aí
ganhamos e fomos, junto com isso, construindo o PT e a CUT. E ainda ontem eu
almoçava com uma jovem que faz doutorado de Comunicação.
E ela falava: “Conte aí como é que era
naquela época”. E eu ia contando e ela falava: “Mas é mesmo, é assim?”. Digo:
“Mas tem livro que já escreveu sobre isso”. O Luizinho está coordenando um
livro sobre os bancários de São Paulo, mas eu acho que tem que escrever sobre o
Brasil. Porque a nível de Brasil, a gente não tem ideia, mas o que acontece?
Eu conheço o Banco do Brasil desde
1963. Meu irmão prestou concurso e foi trabalhar no Banco do Brasil. E, graças
a esse meu irmão, nós passamos a ter fogão a gás, colchão de mola, que era só
colchão de palha. A gente era uma casa camponesa, embora morássemos em uma
cidade do interior da Bahia. O Banco do Brasil era a dignidade nacional da
cidade grande e da cidade pequena.
E estão destruindo o Banco do Brasil,
estão tentando destruir o Banco do Brasil. Estão tentando destruir a Previ, que
é o maior fundo de pensão da América Latina. Estão tentando destruir a Previ. Pior
ainda, estão tentando destruir a Cassi, que cuida da saúde do banco. Meu pai e
minha mãe usaram a Cassi.
Quando minha mãe estava internada no
hospital em Salvador, do lado, na enfermaria coletiva, a mulher falou para o
marido, que era fazendeiro: “Tem alguma coisa errada neste hospital. Eu estou
aqui no meio da enfermaria e a Celina”, que é minha mãe, “está no quarto
privado. E eu sou muito mais rica do que ela”. Aí o marido dela falou: “Mas ela
tem um filho que é do Banco do Brasil”.
O Banco do Brasil casava com filho de
prefeito. O funcionário do Banco do Brasil tinha uma dignidade, era um nome na
cidade. Ser funcionário do Banco do Brasil, da Petrobras, da Chesf, das
centrais elétricas, das estatais. O que eram as estatais? Era o Brasil do
pós-guerra, o Brasil da industrialização. E o Banco do Brasil é isso, o Banco
do Nordeste é isso, o Bndes é isso, os bancos estaduais são isso.
O maior crime das privatizações, que
fizeram até hoje, foi a privatização do Banespa. O Banespa era o segundo maior
negociador da agricultura, da exportação, dessas coisas todas. Tinha 25% da
exportação brasileira de grãos - era de São Paulo. E destruído, você tem um
monte de cidade hoje que não tem banco nenhum. No Brasil, você tem duas mil
cidades que não tem banco. O Brasil está travado.
E nós, governo, nós de esquerda,
estamos o quê? Travados juntos. Então, quando a gente fala do Augusto, a
comissão resolve, se estamos travados, como é que destrava? É fazendo reunião,
fazendo leitura, conhecendo a história, mudando a história. Então, assim, na
década de 80 - não vou começar lá com a Bíblia, vou começar na década de 80 -
nós tivemos alguns fatos que marcaram o País inteiro.
Nós tínhamos, a nível do Banco do
Brasil, e os bancos estaduais que acionam no federal, nós tínhamos gente no
Brasil inteiro. No Acre, tinha um rapaz chamado Jorge Streit, maravilhoso, uma
liderança extraordinária. O Jorge Peres, aqui, é um filósofo. O Banco do Brasil
era cheio de filósofos, gente de muita cultura, de muita vivência. O Banespa
também tinha.
Conversar com o Augusto, ele ia lá para
casa até duas horas da manhã, três horas da manhã, conversando, contando
história. Teve uma campanha salarial que tinha que fazer o gráfico para botar o
piso, 50 mais três mil para aumentar o piso. Quando nós tomamos posse no Sindicato,
o piso era um salário mínimo vírgula dois. Quando nós saímos da nossa geração,
eram quatro salários mínimos.
E bancário hoje ainda é classe média no
interior. Meu cunhado tinha supermercado em Araçatuba e em Birigui. Campanha
salarial, ele me ligava e dizia: “Gilmar, quando é que vão fechar acordos?” Eu
falava: “Por quê?”. “Porque eu tenho que aumentar o estoque no supermercado”.
Ele tinha rede de supermercado em
Birigui, em Penápolis, aquela região. Ele tinha que aumentar o estoque, porque
quando vinham os tickets atrasados, o pessoal lá comprava no supermercado para
a família inteira, churrasco. Era uma farra. Com os tickets dos bancários do
Brasil inteiro. Então, afetava a economia local.
E a gente foi para o sindicalismo para
construir a democracia com os bancos, no interior da cidade... O Banespa - não
acabou o Banespa? Tem o Santander. O Santander é fichinha perto do Banespa. A
importância que o Banespa tinha, o Santander não é nada. É um banco estrangeiro
para investimento, para ganhar dinheiro. E o Banespa, não; era um banco para
desenvolver o estado de São Paulo.
O Luiz Claudio está correndo o estado
inteiro discutindo o Orçamento do estado de São Paulo. Tem que ter orçamento
participativo, tem que discutir Orçamento com todo mundo, porque qual é a crise
econômica que a gente vive hoje, nós assalariados, principalmente? Dolarizaram
a economia e não dolarizaram os salários.
Então, assim, privatizaram as políticas
públicas e não dolarizaram o salário. Então, o que acontece? Até a década de
60, você ia no convênio médico na Santa Casa, a Santa Casa atendia. Você tomava
chá, isso, sarava de chá. Agora, você vai no hospital para tudo. O hospital
parece um hotel cinco estrelas, parece um resort e, muitas vezes, não cura.
A mulher fica grávida e falam: “A conta
do hospital é oito mil, mas o meu atendimento no parto é 20 mil”, e ela tem que
pagar por fora os 20 mil. E aí, meu sogro teve 11 filhos e os 11 filhos fizeram
faculdade e quatro são médicos lá do Rio de Janeiro, são oftalmologistas, com
doutorado, banca de... Com livro escrito e tudo.
Nós somos sete irmãos do interior da
Bahia, nós escolhemos o curso que iríamos fazer, a faculdade que queríamos
estudar. Meu irmão foi para o Japão estudar, fazer pós-graduação no Japão, de
física, física quântica. Defendeu a tese de doutorado, escreveu a tese em
inglês e defendeu a tese em japonês. Física quântica em japonês, esse negócio é
de doido.
E, quando o Mercadante e Gushiken iam
para o Japão, o meu irmão era intérprete deles lá na embaixada. Quando eu
estive lá, meu irmão era intérprete, porque ele trabalhava na embaixada com os decasséguis,
essa coisa. Então, assim, nós somos internacionais. Vaccari foi secretário
internacional da CUT, fez um trabalho maravilhoso.
E ser internacional é muito
interessante. O Luizinho foi no enterro do Tito, não foi? Olha que eu lembro, não
é? Na Iugoslávia. A Iugoslávia foi um marco na história da Europa. São seis
comunidades, fizeram um país. E foi quem mais combateu o Hitler com os
partisans, junto com a Itália. E quem viveu a Segunda Guerra não tem ideia do
que é isso. Já vou concluir.
Então, assim, se vocês pedirem para
contar a experiência do Oliver... O que foi ser preso dentro do banco com um
delegado, com a repressão dentro do Banespa para tirar o Oliver, a gente não
tem ideia. Então, assim, eu acho que essas convivências, nós precisamos ter
para contar.
E aí a fundação da CUT foi fundamental.
O primeiro marco quando nós fundamos da CUT: mataram o Chico Mendes. Até Chico
Mendes, qualquer trabalhador que morria ficava por isso mesmo. Quando morreu
Chico Mendes, deu repercussão internacional. Mataram o líder comunitário
brasileiro, Chico Mendes.
E aí os ruralistas entenderam, e a
ditadura também, que: mexeu com o trabalhador agora, mexeu com a classe
trabalhadora internacional. Isso é um aprendizado muito bonito. Quando uma
diretora nossa, seja a Rita, seja a Giovana, vai discutir a questão da mulher
internacionalmente, volta com uma experiência muito rica.
Então, assim, nós temos que ter tempo
para estudar, tempo para ler, tempo para refletir. Falar em tempo para ler e
refletir, o Paulo Freire nasceu no dia 19 de setembro, nasceu no dia de hoje. E
a coisa mais importante hoje em dia, mais do que saber economia - que está
cheio de economistas que não sabem de nada, mesmo no PT, fazem um monte de
interpretações malucas -, o que é mais importante hoje é a pedagogia.
É ter a paciência de aprender junto,
ter a paciência de ensinar e ter a paciência de tolerar. Então, a discussão de
agora é anistia. Aí vem o pessoal: “contra a anistia”. Eu acho um absurdo a
esquerda falar que é contra anistia. A esquerda é contra não condenar os
assassinos, os criminosos e os corruptos. Não é contra a anistia.
Então, essa confusão que nós estamos
vivendo agora com o PT, com tudo (Inaudível.), na verdade é: mantém a discussão
da anistia, tem que manter as condenações e negocia os dias de prisão. Em vez
de ficar cinco anos, vai ficar um ano, mas não se abre mão do processo, para
que todos sejam réus primários. Eles não vão deixar de ser réus.
A anistia normal é a pacificação.
Agora, tem pacificação com o Bolsonaro? Não tem. Nós temos, como sindicalistas
- mais do que sindicalistas, como cidadãos -, nós temos que continuar a luta. Então,
eu acho que a questão da greve nacional dos bancários mostrou isso.
Parou, do Acre ao Rio Grande do Sul. E
a coisa que eu mais me divertia com os meninos era, quando a gente fazia as
nossas greves, que paravam alguns estados, o Jornal Nacional começava assim:
“Fracassa a greve nacional dos bancários. Só parou São Paulo, Rio de Janeiro,
Porto Alegre, Pernambuco, Ceará, Bahia e Brasília”.
Parou 80%, mas não tinha o Acre parado,
a Amazônia parada, parado o Pará. Aí, nós nos especializamos em organizar para
parar o Brasil inteiro. Aí paramos tudo em 85. Então, assim, nós temos o
desafio, junto com São Bernardo...
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Desculpa, por
gentileza, Gilmar. Precisamos concluir o tempo.
O
SR. GILMAR CARNEIRO - Vou concluir. Junto
com São Bernardo, nós temos o desafio de avançar a democratização do Brasil.
Fazer um acordo, uma frente ampla na defesa da democracia, dos direitos e dos
deveres, não ficar discutindo só sindicalismo. Sindicalismo sem realização
social não existe.
Nós estamos de parabéns em reunir,
refletir direitinho, mas tem que resolver esse negócio desse impasse com o
Congresso Nacional, senão vai ter fechamento. A gata aqui está cobrando tempo,
mas não tem jeito. Se não alertar vocês... “Mas vocês que são velhos não
perceberam.” Então, a gente avisa. Igual quando a mãe fala: “Cuidado, que você
cai”. A criança cai. “Por que você caiu?” “Porque minha mãe reclamou.” A culpa
é da mãe.
Eu vou parar de falar, mas vou avisar
assim: quando vocês quiserem aprofundar essas coisas, vocês me chamem.
(Palmas.) Na parte da manhã e da tarde eu estou disponível. Na parte da noite,
não. Porque nove horas o Parkinson desliga o corpo. Eu não consigo ver
televisão, não consigo ler, não consigo fazer nada. Mas durante o dia eu tenho
condições de encher o saco de todo mundo. De dia. (Palmas.)
A
SRA. NEIVA RIBEIRO - Vamos chamar um
debate lá no Sindicato para a gente aprofundar isso. Já está convocado.
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada,
Gilmar, pelas belíssimas palavras. E, neste momento, convido para fazer o uso
da palavra Aline Molina Gomes Amorim, diretora-presidenta da Federação dos
Trabalhadores em Empresas de Crédito de São Paulo.
A
SRA. ALINE MOLINA GOMES AMORIM - Falar depois do
Vaccari, do Gilmar e da Ivone não é um exercício fácil. Meus óculos estão
embaçados aqui, viu, Gilmar? Porque você me emocionou muito. Então, tudo que eu
tinha combinado aqui comigo mesma vai dar um... Já não vai ser mais.
Primeiro, eu quero dizer para vocês que
uma das coisas mais importantes que eu fiz na minha vida foi tomar a decisão de
ser uma militante. E eu comecei a minha militância na Apeoesp, lá em Itaquera.
Para quem não sabe, Itaquera é o extremo do extremo do extremo da zona leste de
São Paulo. E eu sempre quis ser uma militante.
Quando eu conheci o Sindicato dos
Bancários, eu fiquei muito emocionada, porque eu achava tudo muito organizado
e, ao mesmo tempo, todo mundo muito solidário. E eu estou achando muito lindo
que a gente está fazendo isso aqui. Parabéns, Luiz Claudio. E eu já me adianto,
gente, eu não vou citar vocês todos, porque eu vou esquecer alguém e depois eu
nunca vou me perdoar.
Então, neste momento eu peço licença
para dar aqui a minha homenagem ao Chico Belo, porque eu sou presidenta da
Fetec, e a gente conta história do Chico Belo lá, dia e noite. Aproveito também
para fazer aqui uma saudação, esteja ele onde ele estiver, ao meu querido amigo
e grande liderança, Sebastião Geraldo Cardozo, um grande corintiano.
E uma grande... A minha homenagem
também ao Augustão, que sem ele também, sem o Chico Belo e sem o Augustão a
gente também não teria construído a nossa Federação, que vem no esteio, a
Fetec-SP vem no esteio dessa Greve de 1985. Essa greve, ela é o resultado de um
movimento que começa lá em 1978, que muita gente que está aqui nessa sala foi
preso, passou por interdito.
E aí eu cito aqui a minha amiga Fumaça,
que agora está em réu primário, que agora - mas cuida dele. Eu cito aqui a
minha amiga Fumaça, que eu conheci quando eu tinha 18 anos, e ela era
militante, já, e já tinha ajudado a construir.
Então, hoje é um momento muito
histórico, é um momento que nos emociona muito, porque aqui está o pavimento,
aquilo que pavimentou toda a nossa história, o que possibilita hoje que a gente
esteja em luta - porque estamos em luta, não é, companheiros? Seria um momento
diferente se o Estado Democrático de Direito não estivesse ameaçado, e ele
está.
Porque essa greve também nos
possibilitou formar grandes lideranças. Grandes lideranças que foram ao
Parlamento. Aqui, ainda não citado, Ricardo Berzoini, presidente do nosso Sindicato,
que foi deputado federal, foi ministro do governo Lula. E outros que eu vou
esquecer. Vocês sabem que tem um período para a mulher aí que chama
perimenopausa, que acaba com a memória, a gente vai estudar isso em breve.
E o Gushiken, que é uma pessoa com a
qual eu gostaria muito, muito, muito de ter convivido, mas que, lá na Fetec,
não há um momento que a gente vai estudar ou vá fazer alguma revista que alguém
não me conte uma história muito bonita do Gushiken, que alguém não me conte uma
história na qual o Gushiken ensinou uma lição.
E eu hoje, aos 50 anos, sei, viu, João
Vaccari, que muita coisa que, quando você me disse que era uma lição e eu não
entendi, eu entendo hoje. Então eu quero aqui também saudar o João, ser feliz
pra caramba que eu estou vivendo na mesma época que ele, que ele está aqui para
que eu possa fazer isso.
E uma grande saudação à Juvandia,
porque a Juvandia foi a primeira mulher a presidir o maior sindicato de
bancários da América Latina. (Palmas.) E a Juvandia, então, junto com muitas
outras mulheres, muitas outras companheiras que eu vi fazerem a luta no nosso Sindicato,
é a responsável por eu também poder estar aqui hoje, sendo presidenta de uma
entidade. Ela ajudou a pavimentar esse caminho.
E nós, nós aqui todos, temos hoje a
responsabilidade de consolidar a democracia no Brasil. E eu dizia ali para o
Vaccari: “tristemente a gente continua tendo de lutar pela democracia, e pela
democracia burguesa, porque a democracia verdadeira para o trabalhador vai ser
outra luta”.
Eu tenho certeza que, lá naquele ano de
2001, no qual nós elegemos um torneiro mecânico, Luiz Inácio Lula da Silva,
presidente da República, a gente achava que a democracia seria consolidada...
Aliás, era um torneiro mecânico, era um trabalhador, era o fundador do maior
partido de massa da América Latina, o Partido dos Trabalhadores, que é o meu
partido, de que eu me orgulho muito.
Infelizmente, os golpistas não
dormiram, não é Ivone? Eles não dormiram um dia, um minuto e um segundo, e eles
continuam tentando dar o golpe. E, infelizmente, muitos deles estão vivos e
tentando dar o golpe também, e tentaram dar o golpe. E, se o golpe que foi
tentado em 2023 tivesse tido êxito, nós não estaríamos aqui, Luiz Claudio.
Você não seria deputado, eu não estaria
aqui. Nós estaríamos presos, porque somos de luta. A militância está na nossa
veia e a gente ia estar preso. Ia ter gente solta lutando, mas a gente estaria.
Então, o meu orgulho é muito grande, muito enorme... Mandaram concluir, aí a
gente já fica nervosa.
Mas eu quero falar de um outro orgulho
muito grande que eu tenho, que é oriundo da nossa organização, que é a nossa
minuta. Nós somos a única categoria no Brasil que tem uma minuta nacional, que
é oriunda de uma organização que é nacional, dos trabalhadores. Os bancários
têm uma minuta nacional, que é a nossa... Minuta não, desculpa, a minuta é onde
eu queria morar, não é, gente?
Na verdade, a gente tem uma convenção
coletiva de trabalho que é nacional. E só a gente tem. E não é porque nós somos
melhores, mas é porque a nossa luta teve uma organização tanta, tamanha, que a
gente conseguiu ter a nossa CCT, que é o nosso maior patrimônio, pelo qual, no
ano que vem, a gente vai lutar com unhas e dentes, organizados no nosso Comando
Nacional, que é o nosso segundo maior patrimônio, é a nossa unidade. Sem a
nossa unidade no Comando Nacional, a gente não teria essa minuta e nem ela
consolidada.
Mas eu quero usar um pouquinho mais do
meu tempo para dizer de dois desafios. A categoria nossa mudou. Mas não foi só
a nossa categoria, o mundo mudou. A tecnologia está aí para dizer para a gente
que o novo mundo do trabalho está aí. Uma dúvida que eu não tenho: os
trabalhadores estarão organizados e irão à luta, e nós estaremos nessa luta.
Nós não sabemos como ela será, ainda não sabemos.
E à nossa geração coube construir essa
luta, construir essas alternativas, como à geração do João e de tantos outros
que estão aqui coube organizar a luta que culminou em a gente ter essa CCT.
Esse é um grande desafio, que eu tenho certeza que todo mundo que está nessa
sala está disposto a cumprir, e nós vamos fazer e nós vamos ver.
E a gente vai vir aqui dizer: “A gente
fez. Os trabalhadores estão organizados”. Porque enquanto houver trabalhador
explorado vai ter organização dos trabalhadores. Sempre teve. Desde a história
do mundo teve organização. E o outro nosso grande desafio é lutar bravamente
contra a tentativa de retrocesso na nossa sociedade. Esse talvez seja o nosso
grande desafio.
Estaremos na rua lutando contra a
anistia e contra outras aberrações que vimos nesta semana. E eu tenho certeza
que encontrarei todos vocês, como sempre encontro nessas lutas. Eu tenho um
orgulho muito grande de lutar ao lado de todos vocês que estão nesta sala, de
todos vocês que estão nesta Mesa, de todos vocês que não puderam vir aqui, que
estão nos assistindo.
E eu quero fazer um agradecimento muito
grande, especial, ao meu Sindicato e à direção toda da Fetec São Paulo, que é
uma federação muito importante para a organização da classe trabalhadora bancária.
Muito obrigada e desculpa me exagerar
no tempo. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada,
Aline, pelas belas palavras. Gostaríamos de registrar a presença dos diretores
eleitos da Caixa de Previdência do Banco do Brasil (Previ): Márcio de Souza,
Paula Goto e Wagner Nascimento. (Palmas.)
E agora, neste momento, vamos convidar
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São
Paulo, Osasco e Região, para fazer o uso da palavra. (Palmas.)
A
SRA. NEIVA RIBEIRO - Bom dia a todos e a
todas. Quero cumprimentar primeiro a Mesa. Saudar aqui a iniciativa do deputado
Luiz Claudio Marcolino por fazer este chamado tão importante, fazer este ato
político tão emocionante.
Eu, como militante do Sindicato,
como... eu também não estava na greve de 85 como a ivone e tantos outros aqui,
mas eu fico muito emocionada toda vez que ouço as histórias do nosso Sindicato,
da nossa luta. E eu prezo muito por trazer essas histórias, de fazer essas
homenagens, de participar dessas homenagens. Fico encantada de ouvir o Gilmar.
Se eu pudesse, ficava horas ouvindo-o.
Por isso a gente já fez algumas
homenagens. Esse ano já fizemos uma homenagem aqui nos nossos 102 anos da
entidade. Vamos fazer uma... Produzimos um documentário que vai sair agora, no
dia 1º de outubro - espero que depois todos vão ver -, sobre uma homenagem à
nossa convenção coletiva de trabalho. A Contraf fez uma homenagem muito bonita
durante a conferência, a nossa 27ª Conferência, sobre a greve dos 40 anos.
E é sempre muito bom ouvir essas
histórias para saber de onde nós viemos, como a gente construiu a nossa luta e
celebrar as nossas lideranças, celebrar... A gente fez um vídeo, a TVT fez um
vídeo lindo sobre um pedacinho da história da Fumaça, que neste ano conseguiu a
anistia. (Palmas.) Anistia no sentido verdadeiro. Esse sentido verdadeiro, que
o Gilmar falou.
Não a anistia para quem conspira golpe
de Estado, para quem vai para fora do País tramar contra a soberania nacional,
contra os direitos dos trabalhadores, contra a Economia do País. Não é essa,
não é dessa que a gente está falando, mas a verdadeira, de quem lutou para
defender o País, defender direitos, para construir esse sindicalismo que o
Gilmar falou, que não era um sindicalismo só para defender a questão corporativa
- que a gente defende também.
A gente sabe que a nossa base quer que
a gente defenda o interesse corporativo da PLR, da melhor condição de trabalho,
mas, o tempo todo, a gente quer discutir como os trabalhadores se inserem no
debate político nacional, como a gente discute uma democracia de fato. Como a
Aline falou, a gente está lutando por uma democracia burguesa, para manter as
instituições como elas se constituíram, para além da forma como nós nem fomos
consultados para ser.
A gente luta por outra democracia, uma
democracia onde a centralidade do trabalho seja respeitada. Mas, para nós, é
muito importante celebrar a história, porque estamos no momento de discutir... Nós
estamos discutindo a reconfiguração do Sistema Financeiro Nacional: um sistema
que tem menos agências, mais agências digitais, menos trabalhadores
tradicionais do jeito que a gente conhece e mais especialistas na área de TI.
Nós estamos vivendo o boom da
inteligência artificial generativa. A gente teve, nessa questão do Itaú que o
Luizinho começou aqui fazendo esse protesto, e a gente agradece muito, porque
os trabalhadores do Itaú estão lá no Sindicato organizando plenárias, estão lá
com a gente fazendo protesto. Fizemos uma paralisação no Ceic aqui que foi
brilhante.
Aliás, eu quero pedir uma salva de
palmas para todo mundo que esteve lá no Ceic, no Sindicato. (Palmas.) Nós
arrasamos, os trabalhadores estão felizes, estão do lado do Sindicato. Era uma
paralisação parcial até meio-dia, ficamos até as quatro da tarde. Vamos voltar,
porque a luta vai ser árdua, a luta vai ser difícil. O Itaú está intransigente.
E essa discussão do Itaú abriu debate
para muitas outras lutas. Estão vigiando os trabalhadores. A inteligência
artificial está fazendo a vigilância, o monitoramento dos trabalhadores dentro
de casa, e uma série de outras questões que estão nesse contexto da
reconfiguração do Sistema Financeiro Nacional, das relações de trabalho. Nós
estamos no centro disso.
E, para a gente fazer as lutas do
futuro, a gente precisa entender o passado, de onde a gente veio, quem foram as
pessoas que pavimentaram esses caminhos. Essas pessoas lutaram para construir
essa convenção coletiva nacional que nós temos, o comando nacional que nós
temos, a forma como nós organizamos a nossa Federação, o nosso Sindicato, os
nossos fóruns de decisão, que nem sempre são fáceis, não é, Ivone? Aliás, não
são nada fáceis.
Mas tudo dentro de uma discussão que
eles começaram em uma época de ditadura. Se hoje a gente está sofrendo com os
ataques da extrema-direita que dominam as redes sociais, dominam as big techs,
conseguem fazer um debate em que a gente está debatendo narrativa o tempo todo,
imagine você debater na época da ditadura, que um dia você estava reunido e, no
outro dia, você tinha sumido e não sabia onde estava seu companheiro.
Então, tenho muito orgulho de estar à
frente desta entidade neste momento, que já foi presidida pela Ivone, pela
Juvandia, que tem tantas mulheres brilhantes junto comigo, liderando. Tem
homens brilhantes também, mas a gente sempre fala muito das mulheres, porque a
gente tem muito orgulho de ser uma entidade feminina, feminista, de mulheres
guerreiras que prezam muito pela tradição dos companheiros que nos antecederam.
A gente aprende muito, a gente traz
muito para as novas gerações, porque a gente sabe que a gente renova muito no Sindicato.
O Luiz sabe, o Vaccari sabe, o Gilmar sabe.
Na nossa celebração dos 102 anos, a
gente fez questão de juntar as gerações antigas com as novas, para mostrar que
a gente celebra a antiguidade, os nossos anciãos, com todo respeito, mas a
gente tem uma juventude grande vindo para o Sindicato, querendo fazer as
transformações, a resistência, mas sempre lembrando de onde nós viemos.
Lembrando, sabendo de onde nós viemos,
as lutas que nós fizemos, sabendo que essa luta é permanente. Não tem um dia de
descanso nessa luta de construção da democracia, de defesa da democracia. Quero
dizer para vocês, jovens, que estão chegando: não tem um dia de descanso, não
tem um dia de folga.
Eles debateram na época da ditadura, a
gente está agora debatendo numa época em que o Trump está ameaçando vir para
cima do Banco do Brasil, vir para cima com tarifaço e com outras armas para
cima de nós. Mas nós estamos firmes, fortes, defendendo a democracia.
Defendendo os princípios pelos quais a
gente foi formado, pelos quais a gente construiu os nossos métodos
democráticos, na nossa visão classista de lutar por direitos, de lutar por
melhores condições de trabalho, por acordos coletivos discutidos com a classe
trabalhadora, mas também discutindo que a gente quer um mundo melhor, com mais
dignidade, um mundo sem machismo, sem racismo, sem homofobia, onde os
trabalhadores tenham voz, onde a gente um dia construa uma democracia de fato.
E todo esse debate passou por essa
greve, passou pelos militantes que estão aqui sendo homenageados hoje, por
muitos que não estão, mas que estão presentes na nossa memória.
Muito obrigada.
Parabéns, Luiz Claudio.
Parabéns a todos nós.
Parabéns a todos que participaram dessa
Greve de 1985. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada pelas
palavras, Neiva. E, neste momento, convido para fazer o uso da palavra Juvandia
Moreira Leite, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo
Financeiro e vice-presidenta da direção executiva da Central Única dos
Trabalhadores. (Palmas.)
A
SRA. JUVANDIA MOREIRA LEITE - Bom dia, companheiros
e companheiras. Quero cumprimentar o nosso companheiro Paulo Okamotto, presidente
da Fundação Perseu Abramo, metalúrgico do ABC, que faz parte dessa história de
luta da classe trabalhadora, um sindicato extremamente importante para o
Brasil, para os brasileiros, para esta história que a gente está comentando
aqui.
Cumprimentar o companheiro Helinho, o Cacaio,
o Davi Zaia, a Fumaça, a Madalena. Quando eu presidi o Sindicato, a Madalena
ainda estava conosco na ativa, e a Madalena é um patrimônio para o nosso Sindicato.
E eu, homenageando a Madalena e lembrando o nosso saudoso Nelson Silva, eu
homenageio todos os funcionários que fizeram parte dessa história, que ajudaram
a construir essa bonita história nossa. (Palmas.)
Cumprimentar o Oliver. Eu lembro que,
quando eu entrei no Sindicato, eu via o Oliver lá nas lutas, e ele sempre teve
um topete, assim bem marcante, não é? Fazia parte da personalidade dele. E eu
vi que ele perdeu muito cabelo, mas o topete continua aí. E há histórias de
luta dele, não é? Então, desculpa a brincadeira, mas é com carinho.
O Nelson Canesin, outro funcionário
nosso aí, que está sempre nas lutas. O Paiva, o Chico Belo, o companheiro Jorge
Peres. Bom, eu queria também cumprimentar meus companheiros aqui da Mesa,
Luizinho Azevedo, grande orgulho dessa história, da sua contribuição. Gilmar
Carneiro, é sempre muito bonito te ouvir. Um poço de sabedoria que tem a
história viva, que construiu, não só conta, mas ele viveu.
Companheira Neiva, nossa presidenta.
Aline, minha presidenta da Federação. Companheiro João Vaccari Neto também, que
eu já convivi um pouco mais, que eu entrei no Sindicato quando ele era
presidente, eu estava lá enchendo o saco dele ali, porque a democracia dá
trabalho, não é? A gente diverge, a gente converge. E eu aprendi com quem eu
aprendi muito, muito mesmo.
A minha grande companheira Ivone Silva,
entramos juntas no Sindicato e conhecemos essa trajetória daí para frente,
passamos por momentos difíceis também. Vivemos o golpe que tirou a presidenta
Dilma, o governo Bolsonaro com o fascismo que esse governo tentou implementar
aqui no Brasil, com os ataques à democracia, com os ataques ao movimento
sindical.
E, pensando na Greve de 1985, eu pensei
em começar dizendo o seguinte: hoje nós temos 171 cláusulas na Convenção
Coletiva dos Bancários. Em 1992, nós tínhamos quarenta e sete. Hoje, nós temos
161 entidades que fazem parte do Comando Nacional dos Bancários e das
Bancárias. Olha que história bonita que vocês construíram. Vocês e tantos
anônimos que a gente não cita aqui, mas que participaram dessa história.
Hoje, nós negociamos não só o aumento
salarial, nós negociamos a participação nos lucros, hoje nós negociamos as
condições de trabalho, a saúde, a igualdade de oportunidades. Hoje, nós
discutimos onde estão as mulheres nos bancos, o empoderamento das mulheres, o
encarreiramento das mulheres.
Hoje, nós brigamos para que as mulheres
estejam em espaços de poder. Hoje, nós temos uma mesa de negociação nacional da
igualdade de oportunidades, pensando no gênero, raça, orientação sexual, nas
pessoas com deficiência. Então, hoje, nós pensamos na inclusão, nós temos
cláusulas que garantem isso.
Nós negociamos no ano passado um curso
de formação e capacitação de três mil mulheres no Brasil. A partir da nossa
mesa de negociação em tecnologia, em cursos básicos, nós formamos, ajudamos a
formar 3.000 mulheres no Brasil e 100 mulheres especialistas em tecnologia para
serem contratadas pelos bancos.
Hoje, nós discutimos onde elas estão,
como elas estão, o encarreiramento das mulheres, porque as mulheres, nessa
história toda, elas sempre estiveram relegadas, sempre tiveram um papel
privado, da vida privada, e hoje a gente discute o lugar de mulher em qualquer
lugar, onde ela quiser. Isso é muito importante, é resultado dessa história,
dessa Greve de 1985.
A Greve de 1985 resultou numa categoria
que tem uma convenção coletiva nacional, que discute vários temas, que
influencia na legislação. Nós começamos a campanha pela licença-maternidade,
seis meses antes de vir a lei. Nós fomos importantíssimos para mobilizar a
sociedade, para que isso se tornasse um direito de todas as mulheres, de todas
as crianças.
Nós dizemos que a licença-maternidade
não é um direito das mulheres, é um direito da sociedade, é um direito das
crianças, as crianças são da sociedade. Nós conquistamos a licença-paternidade
de 20 dias. Nós temos hoje temas e discutimos temas que vão muito além da
relação de trabalho direta. Nós discutimos a sociedade, que Brasil que a gente
quer.
E isso vem dessa história bonita de
vocês, que sempre discutiram, que nasceram lutando contra a ditadura. Lá nas
greves do ABC, nas greves dos bancários, naquela greve de 1979, que no primeiro
momento até pode ter parecido frustrada, mas não foi, foi uma grande vitória,
porque ela foi ali o embrião de uma grande luta que ia culminar em uma
organização, uma unidade nacional, numa capacidade de mobilizar o Brasil.
Hoje nós estamos discutindo, na mesa de
negociação, inteligência artificial. Nós temos uma mesa para discutir os
impactos da inteligência artificial no mundo do trabalho e na sociedade, com os
bancos. Hoje nós estamos discutindo a regulação do sistema financeiro, na mesa
de negociação nacional. Daqui a alguns dias nós teremos uma negociação para
discutir a regulação do setor financeiro.
E isso tudo é resultado dessa luta de
vocês, dessa luta de tantos que construíram o Partido dos Trabalhadores, que
construíram a CUT. A CUT completou 42 anos de existência. Hoje nós... E a nossa
história nessa Greve de 1985, ela vem desse processo de mobilização e de
consciência de que sem democracia não tem direitos. Sem democracia, os
trabalhadores perdem.
E é importante dizer nesse momento, no
dia de hoje, é importante dizer, é importante relembrar, é importante olhar
para trás, ver a nossa história, para entender por que nós precisamos ir para a
rua para dizer que não pode ter anistia para golpista, para aqueles que
tentaram acabar com a democracia. (Palmas.)
Porque esses que tentam acabar com a
democracia, eles tentam acabar com os direitos dos trabalhadores, eles tentam
acabar com as empresas públicas, com o projeto de país, com a soberania
nacional.
Esses que estão aqui pedindo anistia, é
porque cometeram um crime contra os interesses da população brasileira,
diferentemente da nossa companheira Fumaça, que lutou, que foi agredida pelo
Estado, porque estava lutando e defendendo o Estado, porque estava lutando e
defendendo a democracia. (Palmas.)
Isso que o Estado cometeu contra ela
foi um crime, que cometeu contra vários militantes, assassinato, tortura. Isso
sim é um crime que precisa ser punido e que não foi punido devidamente. Por
isso que eles tentaram repetir esse crime agora, com tentativa de assassinato,
planejamento de assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do presidente da
República, do vice-presidente.
Esse crime tem que ser punido, e
anistia é um absurdo. Anistia é dizer que o crime compensa, que o crime pode ser
cometido. Anistia é dizer que o trabalhador não tem direito de se organizar, de
se mobilizar, porque é isso que acontecia na ditadura. As pessoas não podiam se
mobilizar, porque elas eram assassinadas.
Então,
eu queria prestar aqui minha grande homenagem a Augusto Campos, a Luiz Gushiken
e a todos os militantes e as militantes que, nessa história bonita, nos fizeram
chegar até aqui: uma convenção coletiva com 171 cláusulas, de 161 entidades
organizadas em todo o Brasil, podendo lutar, Flavio, lutar por direitos. Podendo
lutar, podendo fazer greve, podendo lutar, podendo se organizar, podendo falar
o que querem.
E
é importante dizer isso. Neste momento da história é importante dizer, é
importante lembrar, para saber por que nós temos que ir para a rua; por que nós
temos que defender a democracia; por que nós temos que defender a soberania;
por que nós temos que defender a classe trabalhadora; por que que nós fizemos,
por que vocês fizeram a Greve de 1985.
Para
que a gente hoje tivesse todos esses direitos e para que a gente hoje tenha
essa consciência de que nós não podemos parar de lutar pela classe
trabalhadora, pelo povo brasileiro, pelos bancários e pelas bancárias, mas por
um mundo melhor, um mundo feliz, porque hoje essa luta se trava no mundo
inteiro.
O
crescimento do fascismo acontece no mundo inteiro, e nós não podemos calar, o
povo precisa de nós. O mundo, a classe trabalhadora no mundo tem que se unir,
tem que lutar pela democracia, porque, de verdade, mais do que nunca, a gente precisa
defender nosso país, a gente precisa defender nossos direitos, a gente precisa
defender a democracia em todo o mundo.
E
acho que o Brasil está dando exemplo quando pune os golpistas, e a gente não
pode admitir que o Congresso Nacional vá lá e dê anistia a esses golpistas,
porque significa dizer sim a todos esses assassinatos, às torturas, aos
absurdos, à censura que foi feita durante todos esses anos de ditadura que o
Brasil viveu.
E
outra coisa que eu queria também encerrar aqui a minha fala dizendo, que a
gente aprende com a nossa história: que nós precisamos falar contra uma PEC que
foi aprovada no Congresso Nacional, que é a PEC da Blindagem. A PEC da Blindagem
é outro absurdo que foi aprovado agora no Congresso Nacional e que a gente
precisa combater, porque significa dizer que o crime organizado pode tomar
conta do Legislativo.
Significa
dizer que o crime compensa; significa dizer que uma pessoa pode cometer um
crime hediondo, pode ser pega em flagrante cometendo um crime e não será punida
a não ser que o Congresso autorize. Então, a gente tem que combater a PEC da Blindagem
e a gente tem que combater a anistia. Sem anistia.
Viva
a classe trabalhadora, viva o povo brasileiro, viva os bancários e bancárias e
viva todos os militantes e as militantes que lutaram pela democracia e que
continuam lutando. (Palmas.)
A SRA. MESTRE DE
CERIMÔNIAS
- Muito obrigada, Juvandia, pelas palavras.
E,
antes de darmos início às homenagens desta manhã, vamos dedicar um momento
especial à memória daqueles que já partiram, mas que deixaram um legado
inestimável na história do movimento sindical.
Através
desse vídeo, prestamos nossa homenagem aos companheiros que lutaram
incansavelmente por justiça, dignidade e melhores condições de trabalho. Entre
eles, destacamos os ex-presidentes do Sindicato dos Bancários de São Paulo,
Augusto Campos e Luiz Gushiken, este último, responsável por conduzir a
histórica Greve de 1985.
Também
lembramos com carinho e respeito os dirigentes bancários Dirceu Travesso,
Raquel Kacelnikas e Glória Abdo, que marcaram suas trajetórias com coragem e
compromisso com a classe trabalhadora. Que esse vídeo seja um tributo à memória
e à luta desses companheiros que jamais serão esquecidos.
* * *
-
É exibido o vídeo.
* * *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - (Palmas.) Convidamos
para vir à frente, juntamente com os membros da Mesa Diretora, Neiva Ribeiro e
Luiz Claudio Marcolino, aqueles e aquelas que foram protagonistas de uma das
mais emblemáticas páginas da história do movimento sindical brasileiro, a Greve
dos Bancários de 1985. Quatro décadas se passaram, mas a coragem, a resistência
e o compromisso com a justiça social, demonstrados naquela luta, permanecem
vivos na memória e na conquista da classe trabalhadora.
Hoje, na sessão solene “Greve de 1985 -
40 Anos de Resistência e Conquistas”, reconhecemos a contribuição inestimável
de lideranças sindicais, trabalhadoras e trabalhadores que estiveram na linha
de frente daquele movimento. São homens e mulheres que enfrentaram adversidades
com dignidade e que ajudaram a construir as bases de uma sociedade mais justa e
democrática.
Com muita honra e gratidão,
homenageamos Hélio Paiva Matos, secretário de Assuntos Jurídicos Individuais e
Coletivos do Sindicato dos Bancários de Assis e Região. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a homenagem.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Convidamos também
Antonio Carlos Lopes Fernandes, o Cacaio. Funcionário aposentado da Caixa
Econômica Federal, foi presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de
Presidente Prudente e Região. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a homenagem.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Convidamos também
Davi Zaia, presidente da Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários
dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Presidiu o Sindicato dos
Bancários de Campinas e Região e foi deputado estadual por três mandatos, de
2007 a 2019. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a homenagem.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Convidamos também
Sônia Estela da Silva, a Fumaça, funcionária do Sindicato dos Bancários de São
Paulo, Osasco e Região. Convidamos também Maria Madalena Garcia Miranda,
funcionária do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
Convidamos também Oliver Simioni,
aposentado do Banespa, diretor da Afubesp, integrante da Comissão Nacional dos
Aposentados Banespa. Foi diretor representante dos funcionários do Banespa.
(Palmas.)
*
* *
- São entregues as homenagens.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Neste momento,
também uma homenagem para a Aci Aparecida Diniz Rangel, assessora de imprensa
do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, que infelizmente ela
não pôde estar com a gente. (Palmas.) Passamos para o próximo, que é Nelson
Jandir Canesin, que foi assessor do Sindicato dos Bancários de São Paulo,
Osasco e Região.
Também convidamos José Antonio
Fernandes Paiva, presidente do Sindicato dos Bancários de Piracicaba e Região e
diretor financeiro da Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários
dos Estados de São Paulo e Mato Grosso. Na sequência, convidamos Francisco
Antônio Cinquaroli, Chico Belo. Aposentado do Banespa, foi presidente do
Sindicato dos Bancários de Catanduva. (Palmas.)
*
* *
- São entregues as homenagens.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Convidamos também,
para vir à frente, Paulo Okamotto. Foi metalúrgico e sindicalista, e hoje
presidente da Fundação Perseu Abramo. Convidamos também, para vir à frente,
José Carlos da Silva. Foi diretor executivo do Sindicato dos Condutores de São
Paulo e vice-presidente do Departamento de Transportes da CUT São Paulo.
E convidamos também Roberto Rodrigues,
diretor do Sindicato dos Bancários de Jundiaí e diretor de Administração e
Finanças da Fetec CUT São Paulo. (Palmas.)
*
* *
- São entregues as homenagens.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Neste momento,
agradecemos a presença de todos vocês. Podem se acomodar, por gentileza, os
homenageados. Neste momento, faremos um destaque especial, em reconhecimento
público à resistência e às participações fundamentais para as conquistas
advindas da Greve de 1985, aos senhores João Vaccari Neto, Gilmar Carneiro e
Luizinho Azevedo. (Palmas.) Vocês podem aguardar aqui, por gentileza. (Palmas.)
*
* *
- São entregues as homenagens.
*
* *
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - E agora, para falar
em nome dos homenageados, convidamos para vir à frente Davi Zaia, Chico Belo,
Cacaio, Paulo Okamotto, Fumaça, Zé Carlos e Oliver. Bom, vocês têm até dois
minutos de fala, cada um. Por favor, vamos respeitar.
O
SR. DAVI ZAIA - Bom dia a todos. Satisfação estar
aqui. Belíssima homenagem, Luiz Claudio. Cumprimentar a todos aqui.
Greve de 1985, Luizinho, Gilmar,
Vaccari historiaram aqui. Momento importante. Nós lutávamos pela democracia,
tínhamos tido em 1984 a grande campanha das Diretas Já, tínhamos eleito o
Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, porque não passou a Diretas Já e estávamos
construindo a greve.
Tínhamos experiência de anos
anteriores, desde 1980 os encontros nacionais. Muitos desses encontros não
passavam da discussão do regimento, acabavam na discussão do regimento. Em 1985,
nesse encontro do Rio de Janeiro, conseguimos, como disse o Luizinho, construir
um calendário e juntar todo mundo, passar confiança para todos os dirigentes de
que era importante a campanha nacional.
Não era tarefa fácil, todo mundo estava
acostumado a fazer a sua negociação no seu estado, tinha os advogados, que eram
os especialistas em qual TRT era melhor julgar primeiro, e é claro que, do
outro lado, os banqueiros também enrolavam a negociação para depois conseguir o
julgamento onde era mais fácil para eles e, com isso, não permitia que a
categoria nacionalmente entrasse em greve.
Então a grande conquista de 1985 foi
juntar todo mundo em um calendário único, construir esse calendário que foi
cumprido. Tínhamos como grande comandante disso Eribelto Manoel Reino, que era
o presidente da Federação dos Bancários de São Paulo, e o Gushiken, que era o
presidente do Sindicato aqui de São Paulo. Viviam lá na federação, juntando
todo mundo, se articulando.
Falamos com todas as autoridades do
Estado, do general do 2º Exército ao Dom Paulo Evaristo Arns, ao governador
Franco Montoro. Em Campinas, realizamos o grande encontro, que tivemos a
oportunidade de sediar como presidente do Sindicato que eu era na época, no
ginásio do Guarani. Saímos de lá, vocês viram aqui no vídeo, aquela passeata
que puxou com o Olívio Dutra, o Gushiken, e todos nós puxando aquela passeata
lá, e fizemos a grande greve.
Então o ensinamento: unidade da
categoria, unindo todos e construindo uma grande vitória, que foi a organização
dos trabalhadores, que, de lá para cá, só aprimorou, avançou e continuou
construindo. Parabéns a todos vocês que estão aqui hoje e a todos aqueles que
ajudaram a construir essa grande luta que foi, em 1985, a grande greve nacional
dos bancários.
Obrigado. (Palmas.)
A
SRA. SONIA ESTELA DA SILVA - Bom dia a todos, a
todas. A todas as mulheres que aqui estão. Eu estou aqui representando não só a
minha luta, mas a luta de todas essas mulheres que estão aqui e são muito
guerreiras, a Ivone, a Aline, a Juvandia, a Neiva.
Eu tenho um agradecimento especial para
fazer ao Nelson Silva, que me trouxe a esta Casa. (Palmas.) Eu agradeço muito a
ele e ao Augusto Campos, que foi com ele que eu comecei a minha luta.
Eu carrego a marca de quem nunca
aceitou viver de cabeça baixa. Fui presa pela ditadura porque não ousei ficar
calada, porque não aceitei o silêncio que tentaram nos impor. Foram muitas
lutas, foram muitas guerras, foram muitas pauladas, foram muitos... A gente
apanhou muito para estar aqui hoje representando e tendo essa liberdade de
expressão que nós temos aqui. Eu tenho o prazer e a honra de estar aqui.
Agradeço ao Luiz Claudio Marcolino e ao
Luizinho Azevedo, com quem eu puxei cadeia. Foi esse Luizinho. Nós fomos presos
juntos, não é, Luizinho? E o Augusto Campos, a Tita Dias, que também foi presa
com a gente. Estou aqui representando, honrada. Muito obrigada por tudo.
A minha luta só continua, porque essa
luta não é só minha, essa luta é de todos nós. Até onde eu puder, eu vou
seguir, porque a minha fé é a minha cultura, e também é o meu jogo de cintura.
E eu não vou parar enquanto eu estiver aqui, porque eu ainda estou aqui.
Estamos todos aqui. (Palmas.)
Obrigada.
O
SR. ANTONIO CARLOS LOPES FERNANDES - Vou ser bem
breve, como me foi solicitado. Primeiro, quero parabenizar a você, Luiz
Claudio, por essa iniciativa, e declarar que a Greve de 1985 teve uma
importância principal para os sindicatos do interior.
Ali, quando os sindicatos começaram a
nascer como oposição, como sindicatos de luta da categoria, foi na Greve de
1985. Eu queria agradecer a você. E também esse momento servir para a gente
conseguir reunir todo esse povo aqui, que fez história com a gente em tudo o
que foi canto.
Obrigado, gente, por a gente estar aqui
junto. (Palmas)
O
SR. OLIVER SIMIONI - Em primeiro lugar, eu
quero agradecer aqui à Mesa, em nome do Luiz Claudio Marcolino, por esta
homenagem, e também ao Sindicato dos Bancários, que chamou o pessoal aqui
daquela época para ser homenageado.
Queria também passar essa homenagem
para os meus colegas da participação ativa. Esse registro eu não posso deixar
de fazer, que combatemos durante a ditadura pesada, lá em 68, e que, na
participação ativa, todos foram dispersos daquela luta. Pode ser que tenha
alguém vivendo ainda; então, estamos transmitindo tanto aos mortos como aos
vivos daquela época.
E outra coisa que eu queria falar para
vocês, pessoal, é o seguinte. Um grande professor historiador, com quem eu tive
o prazer de conviver durante três anos, que fui liderado por ele, dizia o
seguinte, que a luta pela democracia, a luta pelos nossos direitos é o ar que
respiramos durante 24 horas por dia. Eu acredito, modéstia à parte, que desde
os 14 anos eu respiro esse ar, por muitas participações.
Queria dizer a vocês também o seguinte:
que o acontecimento da Greve de 1985 está no bojo de uma porção de movimentos,
inclusive a tomada do Sindicato dos Bancários em 1978 - e tomou posse em 1979
-, que deu uma nova direção para o sindicato naquela época.
Talvez os outros estivessem ali meio
represados pela ditadura, e a gente conseguiu, naquela abertura, entrar ali
também, depois de muita luta, e dar uma direção ao Sindicato. É claro que eu
vou não deixar aqui de estender também essa homenagem ao Augusto Campos e ao
Gushiken também, que foram meus grandes companheiros naquela época.
Queria dizer também uma coisa, pessoal:
que a Greve de 1985 foi facilitada, também, sem tirar, por exemplo, a luta dos
bancários, pelos movimentos que aconteceram. Por exemplo, em 1983, o Sindicato foi
interditado, teve intervenção do governo federal.
Então, o que aconteceu no Sindicato?
Nós fizemos um trabalho, aqui na cidade de São Paulo, paralelo, utilizando os
recursos que a gente podia arrancar do Sindicato sob intervenção. Então, essa
luta continuou ali. Depois, veio a eleição de 1985 também, que estava no bojo
das Diretas Já, em 84, e também no bojo do Colégio Eleitoral que elegeu o
Tancredo Neves e o Sarney. Então, pessoal, esta luta foi muito importante.
E vou dizer uma coisa, modestamente
também, para vocês, pessoal: foi meu primeiro ano, em 1985, de diretor sindical
dos bancários da capital. E tive a oportunidade e o prazer de, naquela passeata
enorme e naquela tomada lá que nós fizemos na Praça da Sé, com mais de 30 mil
pessoas, utilizar da minha palavra lá, na defesa dos nossos direitos e na
defesa, também, das liberdades democráticas.
Um abraço a todos vocês. (Palmas.)
O
SR. JOSÉ CARLOS DA SILVA - Senhoras e senhores,
quero cumprimentar a Mesa, em nome do deputado Luiz Claudio Marcolino. Senhoras
e senhores, é uma grande satisfação receber essa homenagem aqui. Primeiro,
quero pedir licença por conta do tremor que eu tenho. Eu fico ansioso, e treme
mais o braço, por causa do Parkinson. O Parkinson incomoda, de uma certa forma.
Mas eu quero falar: que 40 anos, não é?
Quarenta anos importantes para a categoria dos bancários e também para todas as
categorias, que se inspiraram naquele grande movimento feito em 1985. Eu, por
exemplo, na época, era motorista de ônibus da empresa pública da cidade de São
Paulo - CMTC.
E eu fazia a linha de transporte da
CMTC do Jaçanã à USP. E passava pelo centro da cidade no dia do movimento que
ocorria em setembro. E vários... A pessoa que falou aqui falou uma - não falava
“grevista”, falava “esclarecimento”, não é? Vários... O “pessoal do
esclarecimento” pegava o ônibus, com faixa, e descia ali no Largo do Paissandú
para ir para a porta do banco.
Ali tinha Banco do Brasil, Caixa
Econômica etc. E eu, observando aquele movimento, eu era recente em São Paulo,
mesmo sendo funcionário da empresa pública, quando eu terminei a minha jornada,
eu trocava de motorista ali na Praça do Correio, e eu fiquei observando aquela
luta dos bancários e me despertou uma vontade de lutar pela minha categoria.
(Palmas.)
E comecei a militar. A partir dali eu
comecei a militar. Inspirado nessa situação, eu entrei para a oposição como
várias categorias que faziam a oposição naquele momento, naquele tempo. Várias
categorias faziam a oposição e eu entrei na oposição que fazia parte do mesmo sindicato
da minha categoria e me tornei dirigente sindical, fiquei dez anos no Sindicato.
Nesses dez anos em que eu fiquei no Sindicato,
no Sindicato filiado à CUT - e a CUT que agrupava os bancários, sempre agrupava
os bancários, agrupava os metalúrgicos e mais outras categorias -, foi a época
em que a minha categoria dos motoristas de ônibus de São Paulo, filiada à CUT,
teve mais conquistas.
As maiores conquistas que tivemos foram
com a pretensão de mudar, a gente tinha uma diretoria da época que tinha a
pretensão de mudar a crítica que sofria dos passageiros de ônibus, que eram
críticas de que está prejudicando os passageiros porque fazia o movimento.
Eu tenho aqui alguns companheiros da
época que estavam comigo, que a gente iniciou uma luta em uma empresa de ônibus
chamada Gatusa para fazer o movimento para prejudicar o sistema financeiro, não
os passageiros. Fazíamos um movimento de catraca livre, e isso eu sempre
defendi, que era uma forma de luta que tinha que ser encaminhada para trazer a
população para perto do Sindicato.
Então eu quero finalizar dizendo aqui
para vocês que o Sindicato dos Bancários, na época em que eu tive como
professor o meu companheiro Gilmar Carneiro, que sempre deu apoio, através da
CUT, à nossa luta no Sindicato. Fico muito grato, Marcolino, Ivone e toda a
diretoria aqui que passou pelo Sindicato, por esta homenagem de hoje.
Muito obrigado. (Palmas.)
O
SR. FRANCISCO ANTÔNIO CINQUAROLLI - Eu quero
falar... Eu quero resgatar alguma coisa que o João Vaccari falou aqui. Em 1983,
teve a intervenção no Sindicato dos Bancários de São Paulo e o Augusto Campos,
que era presidente, foi deposto, praticamente, e teve a intervenção.
Também foi dito aqui, já mencionado, a
questão da abertura do governo Montoro nas estatais, então nós podíamos, eu que
sou “banespiano”, como o Augusto, como o Lucas, como o João... Teve a eleição
do Direp e da Corep, que era o diretor... Nós poderíamos eleger o diretor
representante e os conselheiros por região.
O Augusto encabeçou essa luta, fez uma
chapa, montou uma chapa com ele como diretor e um grupo de participantes pelo
conselho, tinha bastantes candidatos. A nossa chapa praticamente foi a
vencedora, com o Augusto na liderança, ele que tinha uma experiência muito
grande sindical, nos orientou muito e a gente aprendeu muito com ele. Quero
resgatar muito por causa do Augusto mesmo, certo?
Só que nessa época também tinha muita
gente experiente aqui que tinha... Nós tínhamos João Vaccari, Lucas Buzato,
Oliver Simioni, o Laranjeira. E que todos nós fomos para o Corep. A gente
também, como “corepiano”, visitava a nossa região e discutia dentro do banco
essas questões do Sindicato, dos direitos, do que a gente poderia conquistar.
Também naquela mesma época eu já fazia
oposição ao Sindicato de Catanduva, já estava montando uma chapa, isso ajudou
muito. A questão do Augusto, que sempre nos apoiou também, ajudou muito. Então
a gente conseguiu... Acho que isso ajudou muito também lá na frente na greve,
porque a gente tinha setores organizados, o Banespa estava muito preparado para
isso, certo?
Outros bancos também já tinham uma
preparação, inclusive o Banco do Brasil, e eram os bancos da linha de frente.
Então quando a gente foi para a greve eles foram fazer piquete, eles foram
ajudar a parar, certo? Então a gente já tinha uma criação anterior que vem de
lá da pregação do próprio Augusto, certo?
Vou contar um dado para vocês, que nós
estamos também resgatando o meu amigo Luiz Gushiken. O Luiz Gushiken foi... Ele
era o articulador da nossa chapa, ele não foi candidato para nos apoiar para
fazer a articulação da nossa chapa no Corep.
Mas a gente estava depois, um dia,
dentro ainda do período do Corep - que eu fiz dois mandatos de dois anos junto
com o Augusto, que também fez a mesma coisa -, e a gente estava reunido entre
nós, até em uma festinha, na verdade, no meu rancho lá perto de Olímpia, e estavam
presentes: João Vaccari, Oliver Simioni, Augusto Campos, Lucas Buzato.
Alguém teve que comprar um leite em
Olímpia, voltou de lá com um jornal e estava lá que tinha acabado a intervenção
do Sindicato dos Bancários de São Paulo. De lá foi discutido e foi indicado por
todo mundo que estava lá, que eram todos... O Luiz Gushiken para a presidência do
Sindicato dos Bancários de São Paulo, aconteceu lá e eu gostaria de resgatar
isso. Já me pediram que meu tempo acabou e eu sei que passei dos limites.
Parabéns a todos vocês que organizaram.
(Palmas.)
O
SR. PAULO OKAMOTTO - Bom, primeiro boa
tarde a todos e a todas. Obrigado, Marcolino, por esse convite. Como vocês
devem saber, eu era metalúrgico, hoje sou presidente da Fundação Perseu Abramo,
a fundação do Partido dos Trabalhadores.
Mas fiquei muito emocionado com esta
homenagem, Marcolino, porque, na verdade, é o seguinte, a gente muitas vezes
não tem tempo de refletir sobre como é que tem evoluído a luta da classe
trabalhadora.
Sou militante, fui militante sindical
desde a época de 1980, de 1978, 1979 - estou ficando velho, acho que já estou
ficando meio velho - e uma das coisas bacanas que tinha naquele momento, acho
que a gente precisa resgatar mais ainda, é a solidariedade, a gente tinha muito
isso.
Nós, lá dos sindicatos, a gente apoiava
muitos movimentos populares, a gente andava muito por este Brasil fazendo
oposição, e foi aí que teve muita relação entre os metalúrgicos e os bancários.
Ia, muitas vezes, no Sindicato dos Bancários conversar com o velho do rio -
naquela época era Velho do Rio, lembra do Velho do Rio? O Augustão.
Discutia com ele sobre: “como é que
deveria ser a CUT? Como é que deveriam ser as comissões de bancos? Como é que
deveriam ser as comissões de fábrica? Como apoiar mais os movimentos populares?
Como apoiar mais as oposições sindicais? Como fazer um partido político mais
exitoso?”.
Esse Gilmar, como vocês percebem,
gostava de dar aulas para a gente, perguntava para ele e ele dava uma aula. E o
Luizinho, então, com essa fleuma toda, toda vez que batia uma oportunidade de
discutir alguma coisa, era essa a nossa pegada, a pegada de tentar a todo tempo
discutir como fazer avançar a classe trabalhadora, como fazer avançar a luta do
povo brasileiro e como conquistar a democracia.
Acho que a gente precisa discutir
sempre isso, porque, acho que de uma certa forma, o movimento sindical hoje
está muito para dentro, está muito cooperativista, e a gente tinha uma pegada
mais geralzona. Então lembro da solidariedade porque, assim, quando nós fomos
cassados, lá em 1981, foi o Sindicato dos Bancários que rodava toda tribuna
metalúrgica.
Falo porque vinha buscar, levava toda
tribuna, e os caras ficavam rodando, rodando, rodando e rodando. Quando vocês
foram cassados, a gente teve que fazer o quê? Retribuir. Rodamos a folha
bancária, rodamos a folha bancária. Essa era a pegada: a solidariedade entre a
classe trabalhadora. E nós precisamos continuar fazendo isso.
Para encerrar, que sei que vocês estão
com fome, acho que é o espírito daquela época, Luizinho, se estivesse vivo até
hoje, porque acho que precisa resgatar este espírito da construção do partido,
da construção de centrais sindicais mais fortes, de movimento sindical mais
forte, certamente, não é? Se você estivesse aqui, se tivesse a oportunidade de
quebrar o protocolo, e eu posso quebrar porque também não sou deputado, a gente
deveria colocar em votação aqui, porque ia acontecer isso.
Nós fomos cassados, porque o Sr. Lula,
lá na greve dos petroleiros, estava, quando cheguei lá, o Sr. Lula aprovou o
diabo da greve nacional. Lembra da greve nacional? Foi a vez que fui cassado.
Mas se tivesse aquele espírito hoje a
gente ia colocar aqui o seguinte: os companheiros bancários estão dispostos a
lutar contra a PEC da impunidade e da bandidagem? Os companheiros bancários
estão dispostos a lutar contra a anistia desses caras que quiseram dar golpe
neste país? Quem estiver a favor dessa proposta de lutar, levanta a mão.
(Manifestações nas galerias.)
Está aprovada por unanimidade a nossa
luta até a vitória. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada a
todos pelas belas histórias e palavras emocionantes aqui nesta solenidade.
Neste momento, passo a palavra ao deputado Luiz Claudio Marcolino para que
proceda o encerramento desta solenidade.
O
SR. PRESIDENTE - LUIZ CLAUDIO MARCOLINO - PT -
Viu, Okamotto, viu, Okamotto, mas não posso quebrar o protocolo, mas muito bom.
Pedir para o pessoal que está lá em cima, nós estamos já indo para o
encerramento, vamos descer para cá, para tirar uma foto coletiva com todos os
companheiros que participaram desse processo. Então vai descendo o pessoal lá
do fundo para a gente poder tirar uma foto com todo mundo.
Acho que é importante neste processo
desta homenagem e, quebrando um pouco o protocolo, a gente não pode, o
cerimonial está me cobrando já o horário de encerrar aqui e entregar o nosso
plenário, mas queria comentar rapidamente, Okamotto. Em 1985, eu tinha 15 anos,
estava no primeiro colegial, estudava no Alberto Conte em Santo Amaro, Vaccari.
E naquela greve a gente tinha ali um
pró-grêmio, depois fui presidente do grêmio do Alberto Conte e a gente, já como
estudante, ajudou as greves dos bancários. Lá em Santo Amaro, o local onde os
bancários se reuniram para fazer a greve era uma subsede dos Químicos.
Então tinha a subsede dos Químicos,
tinha a subsede da Apeoesp, e como estudante do Grêmio Estudantil do Alberto
Conte, já ajudei na Greve de 1985. Para mostrar que, quando a CUT foi criada,
em 1983, tinha essa preocupação, unificava o conjunto dos sindicatos e, quando
tinha uma greve dos bancários, todos estavam juntos.
Então, por isso que nós convidamos aqui
o Paulo Okamotto, como metalúrgico, o Zé Carlos com o pessoal do Sindicato dos
Condutores. Porque, quando nós falamos da Greve de 85, a greve foi dos
bancários, mas teve uma participação e envolvimento de todos os sindicatos e as
categorias filiadas em nome dos trabalhadores também dos movimentos sociais.
Então essa é a grande marca que ficou na Greve de 1985.
Gostaria que todos os convidados e
convidadas para a homenagem pudessem falar, mas o período de tempo não deu para
falar todo mundo, a Ana Lúcia que está aqui, que já estava na categoria
bancária em 1985, muitos outros que estão aqui que não puderam falar, não
puderam ser homenageados, mas se sintam homenageados, porque nós pudemos fazer
o convite para o dia de hoje.
Ao encerrar esta sessão solene,
reafirmo o meu compromisso com a valorização da história da luta dos
trabalhadores brasileiros, em especial da categoria bancária, cuja coragem em
1985 ajudou a moldar o Brasil democrático que hoje buscamos fortalecer. Que a
memória dessa greve siga inspirando novas gerações de trabalhadores e
trabalhadoras na busca por justiça social, dignidade e igualdade.
Esgotado o objeto da presente sessão,
agradeço a todos os envolvidos na realização desta solenidade, assim como
agradeço a presença de todos e todas, da TV Alesp, do cerimonial, das nossas
assessorias, do nosso mandato e do Sindicato dos Bancários, que nos ajudou na
articulação para que esta sessão solene pudesse se transformar em realidade.
Então o meu muito obrigado a todos e
todas.
Está encerrada esta sessão. (Palmas.)
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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 38
minutos.
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