4 DE ABRIL DE 2025
41ª SESSÃO ORDINÁRIA
Presidência: EDUARDO SUPLICY
RESUMO
PEQUENO EXPEDIENTE
1 - EDUARDO SUPLICY
Assume a Presidência e abre a sessão às 14h14min. Lê e comenta artigo publicado no jornal "Folha de S.Paulo" contra o PL 778/25, em trâmite no Congresso Nacional. Defende a implementação da renda básica de cidadania. Convoca os Srs. Deputados para a sessão ordinária do dia 07/04, à hora regimental, sem Ordem do Dia. Levanta a sessão às 14h30min.
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Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Eduardo Suplicy.
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Passa-se ao
PEQUENO EXPEDIENTE
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O
SR. PRESIDENTE - EDUARDO SUPLICY - PT - Presente o
número regimental de Sras. Deputadas e Srs. Deputados, sob a proteção de Deus,
iniciamos os nossos trabalhos. Esta Presidência dispensa a leitura da Ata da
sessão anterior e recebe o expediente.
Como no plenário ainda não chegaram os
nossos colegas deputados e deputadas, então eu vou abrir a sessão com um
pronunciamento. Quero aqui hoje saudar e recomendar um excelente artigo da
nossa querida filósofa Djamila Ribeiro, mestre em filosofia política pela
Unifesp e coordenadora da coleção Livros Femininos Plurais, que costuma
escrever artigos regularmente na “Folha de S. Paulo” e que hoje escreveu sobre
um tema muito importante para as mulheres, denominado “a privatização dos
corpos femininos”, em que ela comenta o conteúdo do projeto do deputado federal
Kim Kataguiri, que criminaliza as prostitutas, mas se cala sobre quem lucra com
elas.
Eu trago ao plenário a reflexão sobre
esse Projeto de lei 778, de 2025, que prevê a contravenção penal de
prostituição em via pública. Eu soube do projeto de lei exatamente pelo artigo
publicado hoje, por Djamila Ribeiro. Aqui estão alguns trechos desse artigo de
muito boa qualidade.
“A proposta se apresenta como um ataque
direto às mulheres que vivem em situação de extrema vulnerabilidade. A maioria
da população, por conta de filmes que glamurizam a atividade, desconhece a
verdadeira realidade das mulheres em situação de prostituição nas ruas. A
grande parte delas faz programas de 10 reais, 15 reais e está há décadas sem
alternativas e escolhas.”
Djamila ainda traz relatos da Thamiris
Suellen dos Santos, diretora da ONG Mulheres da Luz, uma organização que eu
conheço há bastante tempo, que trabalha para oferecer cursos
profissionalizantes, projetos de geração de renda e alfabetização para mulheres
em situação de prostituição.
A ONG foi fundada pelas queridas irmãs
Regina Célia Coradin e Cleone Santos, uma liderança histórica que nos deixou em
2023 e com quem por diversas vezes me reuni para dialogarmos sobre as melhorias
e o aumento da qualidade de vida das mulheres em situação de prostituição.
Thamiris contou a Djamila sobre alguns
casos chocantes. Abrindo aspas para Thamiris: “Senhoras de todas as idades em
situação de miséria, que precisam negociar com cafetões para conseguir quartos
de hotéis no centro de São Paulo”. Inclusive falou de uma senhora de 78 anos
que, sim, ainda hoje, em 2025, enfrenta o peso da exploração masculina. “Há
quem diga que o problema está nelas, mas que tipo de civilização empurra
senhoras para negociar seus corpos com homens que exploram sua vulnerabilidade?
Isso sim é uma obscenidade.”
Thamiris ainda completa: “Esse projeto
não traz absolutamente nada de política pública que possa agregar algo à vida
dessas mulheres, que ofereça outras opções, que olhe de fato para elas. Em
questão de política pública, não existe voltada para mulheres em situação de
prostituição no Brasil”.
Djamila ainda completa: “É preciso ir
além do jogo retórico e encarar o que está sendo silenciado. Quando o deputado
Kim Kataguiri fala em privatização do espaço público, omite que o Brasil
naturalizou ao longo da história a privatização dos corpos femininos, sobretudo
os corpos de mulheres negras e pobres.
O incômodo do deputado se dirige
exclusivamente às mulheres que estão nas ruas, e não aos homens brancos
engravatados que lucram com os seus corpos e gerenciam ambientes fechados,
protegidos por muros e vistas grossas.”
Para finalizar,
trago aqui a reflexão de que a prostituição é um universo múltiplo, com várias
entidades organizadas em defesa dos direitos das mulheres em situação de
prostituição.
Todas as
entidades merecem ser ouvidas, como a já citada Mulheres da Luz; mas também as
organizações de mulheres que lutam pela regulamentação da profissão, como, por
exemplo, a Articulação Nacional das Profissionais do Sexo, a Anprosex, com a
qual, inclusive, me reuni em 2023.
A Anprosex objetiva assegurar a
descriminalização do trabalho sexual, desde que exercido por escolha própria,
por maiores de 18 anos, bem como propagar ações de saúde e assistência,
universalizando o controle social no enfrentamento às doenças sexualmente
transmissíveis, como a aids, o HIV, além da garantia dos direitos humanos
relacionados à cidadania e direitos sexuais da população de profissionais do
sexo no Brasil.
Para aquelas mulheres que entraram na
prostituição por questões de sobrevivência e que desejam sair, eu quero lhes
dizer que quando estiver colocada em prática a renda básica de cidadania
universal e incondicional, haverá aí um caminho adequado, tendo em vista que
proporciona maior autonomia e liberdade real para as mulheres refazerem suas
vidas de acordo com os seus desejos.
Eu gostaria aqui de relembrar que eu
era vereador e, certo dia, recebi a visita de uma ex-prostituta, acompanhada da
irmã Regina Célia Corardin, e que então me convidaram para que eu fosse ao
Parque da Luz conversar com as inúmeras prostitutas que lá frequentam. Eu aceitei
e, com o maior prazer, tive um diálogo ali na casa de chá do Parque da Luz com
inúmeras mulheres em situação de prostituição.
E eis que ali ouvi depoimentos como de
uma mãe que disse: “olha, eu não estava com recursos para dar de comer em casa
para as minhas crianças e, por isso, vim aqui no Parque da Luz me prostituir”.
Isso foi, pra mim, uma síntese daquilo
que pode ser enfrentado, exatamente, pelo direito de todas as pessoas poderem
partilhar da riqueza comum de nossa Nação, através de uma renda suficiente para
atender às necessidades vitais de cada um.
Assim como também para aquele rapaz
que, não tendo alternativa para completar o orçamento da sua família, resolve
se tornar um aviãozinho da quadrilha de narcotraficantes - como o personagem de
“O Homem na Estrada”, de meu amigo Mano Brown, dos Racionais MCs, quando ele diz
que “um homem na estrada/ recomeça sua vida/ sua finalidade, a sua liberdade/
que foi perdida, subtraída/ e quer provar a si mesmo que realmente mudou/ que
se recuperou e quer viver em paz/ dizer ao crime ‘nunca mais!’” -, esta pessoa,
no dia em que tiver uma renda básica para si, cada membro da sua família...
Ou, no caso daquela mãe que hoje está
reportada no artigo de Djamila Ribeiro, que, muitas vezes, não tendo
alternativa, resolve vender o seu corpo, o dia em que houver, para si e cada
membro da sua família, uma renda básica de cidadania, este rapaz, aquela mãe,
vão poder dizer: “Não, agora eu não preciso aceitar essa única alternativa que,
infelizmente, é a que sobrou para que eu pudesse prover à minha família com
alimentos e outras necessidades.
Agora eu vou poder, graças à renda
básica, que corresponde à minha necessidade de sobrevivência, não apenas para
mim, mas para cada membro da minha família, eu agora posso aguardar um tempo”.
Quem sabe fazer um curso numa
instituição com uma querida professora que possa dar elementos para que essa
pessoa, inclusive, esteja preparada profissionalmente para conseguir algum
trabalho que venha a dignificá-la. Então, do ponto de vista da dignidade, da
liberdade do ser humano, é que nós encontramos a maior vantagem da renda básica
de cidadania.
E, portanto, eu quero aqui cumprimentar
mais uma vez a nossa querida filósofa Djamila Ribeiro, que tem escrito muitos
artigos e livros que justamente são em defesa da mulher, das condições das
mulheres, e esse artigo hoje veio muito a calhar e está publicado com o devido
destaque na “Folha de S. Paulo” de hoje, na contracapa da Folha Ilustrada,
página B16: “A Privatização dos Corpos Femininos”.
E me disponho, junto ao deputado
federal Kim Kataguiri, de debater o seu projeto de lei, seja na Câmara
Municipal de São Paulo ou onde escolher, mas com o maior prazer podemos fazer
um debate a respeito desse assunto.
Quem sabe, veio aqui à mente,
poderíamos combinar um debate a respeito do seu projeto de lei e da lei que eu
já consegui estar aprovada no Brasil há 21 anos, que institui a renda básica
universal e incondicional, começando pelos mais necessitados, diz a lei, como
faz o “Bolsa Família”.
Mas eu quero lhes transmitir, ainda
ontem, conversei com aquele que estava como secretário executivo do Conselhão,
do chamado Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e de Sustentabilidade,
o Sr. Nicolau Beltrão, e ele me disse que, como está transferido para o
Ministério da Saúde, porque ele acompanhou o ministro Alexandre Padilha, que
foi designado pelo presidente Lula para ser o ministro da Saúde, então que ele
acompanhou e deixou a secretaria executiva do Conselhão, e que agora houve a
designação de um novo secretário executivo, com o qual eu estarei em contato
nos próximos dias.
Porque haverá a continuação do grupo de
trabalho que está estudando como será a gradual passagem, a gradual
implementação da renda básica universal e incondicional, a partir do programa
“Bolsa Família”.
Então, havendo acordo de lideranças,
esta Presidência, antes de dar por levantados os trabalhos, convoca V. Exas. para
a sessão ordinária de segunda-feira, à hora regimental, sem Ordem do Dia.
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- Levanta-se a sessão às 14 horas e 30
minutos.
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