19 DE SETEMBRO DE 2025

51ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AO 80º ANIVERSÁRIO DA VITÓRIA NA GUERRA DE RESISTÊNCIA DO POVO CHINÊS CONTRA A AGRESSÃO JAPONESA E NA GUERRA ANTIFASCISTA MUNDIAL

        

Presidência: MAURICI

        

RESUMO

        

1 - MAURICI

Assume a Presidência e abre a sessão às 20h12min.

        

2 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Nomeia a Mesa e demais autoridades presentes. Convida o público para ouvir, de pé, o "Hino Nacional Chinês" e o "Hino Nacional Brasileiro".

        

3 - PRESIDENTE MAURICI

Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene para "Comemoração do 80° Aniversário da Vitória na Guerra de Resistência do Povo Chinês Contra a Agressão Japonesa e na Guerra Antifascista Mundial", por solicitação deste deputado. Enaltece o valor da memória, da resistência e da coragem da China. Comenta trabalho na Comissão de Relações Internacionais.

        

4 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Anuncia a exibição de vídeo sobre a luta chinesa contra o império japonês.

        

5 - MELISSA CAROLINE CAMBUHY

Pesquisadora da Academia Chinesa de Ciências Sociais (Cass-Pequim), faz pronunciamento.

        

6 - ZHUANG SU

Chefe de Divisão dos Assuntos Bilaterais, faz pronunciamento.

        

7 - WANG WANRUI

Presidente do Conselho Fiscal da Associação Chinesa no Brasil, faz pronunciamento.

        

8 - ZHANG XI

Cônsul-geral interina da República Popular da China, faz pronunciamento.

        

9 - PRESIDENTE MAURICI

Endossa o pronunciamento de Zhang Xi, cônsul-geral interina da República Popular da China, a respeito de Taiwan. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão às 21h13min.

        

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ÍNTEGRA

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Maurici.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Senhoras e senhores, boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa de São Paulo.

Esta sessão solene tem a finalidade de celebrar e rememorar os 80 anos da vitória da China sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial - marco histórico que simboliza a resistência do povo chinês frente ao inimigo mais poderoso -, o fim de anos de sofrimento e contribuição decisiva da China para a derrota do fascismo no cenário mundial. Essa vitória não apenas garantiu a soberania nacional, mas também projetou a China ao cenário internacional como protagonista na construção da paz.

Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelo canal da Alesp no YouTube.

Convido agora para que componham a Mesa Diretora o deputado estadual Maurici, presidente e proponente desta solenidade (Palmas.); a Sra. Zhang Xi, cônsul-geral interina da República Popular da China em São Paulo (Palmas.); Xie Yancun, cônsul-geral adjunta da República Popular da China em São Paulo (Palmas.); e Wang Wanrui, presidente do Conselho Fiscal da Associação Chinesa do Brasil. (Palmas.)

Convido agora todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Chinês e, em seguida, o Hino Nacional Brasileiro.

 

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- É reproduzido o Hino Nacional Chinês.

 

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- É reproduzido o Hino Nacional Brasileiro.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Registramos agora e agradecemos a presença das seguintes personalidades: Rong Qiang, cônsul-chefe da Divisão dos Assuntos Consulares do Consulado da China em São Paulo; Suélen Xu, vice-cônsul da Divisão dos Assuntos Bilaterais; Janaína Ding, vice-cônsul da Divisão dos Assuntos Bilaterais; Lucas Zhuang, chefe de Divisão dos Assuntos Bilaterais; Xen Xeng, diretor de relações institucionais e comunicação da CPFL Energia; Jorge Vicentin Kellesli, Relações Governamentais e Institucionais do Grupo CPFL Energia; Li Jinhui, presidente de Associação Geral Promovedora de Unificação Pacífica da China no Brasil; José Tadeu, diretor do Partido da Causa Operária em São Paulo; Bárbara Aguiar, presidente do centro acadêmico de Relações Internacionais da Unifesp de Osasco. (Palmas.)

Passo a palavra agora ao proponente desta sessão solene, o deputado estadual Maurici.

 

O SR. PRESIDENTE - MAURICI - PT - Boa noite a todos e a todas. Vamos iniciar os nossos trabalhos, nos termos regimentais. Esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa de Leis, deputado André do Prado, atendendo à minha solicitação, para Celebrar e Rememorar os 80 anos da Vitória da China sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial.

Quero cumprimentar a Sra. Zhang Xi, cônsul-geral interina da República Popular da China em São Paulo; Xie Yancun, cônsul-geral adjunto; Wang Wanrui, presidente do Conselho Fiscal da Associação Chinesa do Brasil, com os quais tenho o prazer de compartilhar esta Mesa. E ao cumprimentá-los, quero cumprimentar a todas as pessoas aqui presentes que atenderam ao nosso convite.

Quero também cumprimentar a Dra. Melissa Caroline Cambuhy, coordenadora do projeto de Cooperação Brasil-China no Instituto Lula, que nos atendeu gentilmente para fazer sua palestra em seguida.

Hoje nós estamos aqui reunidos na Assembleia Legislativa de São Paulo para reafirmar a força da memória, a grandeza da resistência e a vitória da coragem sobre a barbárie. Comemoramos 80 anos da vitória do povo chinês contra a agressão japonesa durante a Segunda Guerra Mundial.

Foi ali, em meio ao terror e à destruição, que a China mostrou ao mundo uma verdade simples e poderosa. Não existe exército capaz de sufocar a vontade de um povo de ser livre.

Ao segurar parte significativa das forças japonesas, a resistência chinesa ajudou a mudar os rumos da Segunda Grande Guerra. Enquanto o mundo combatia o nazifascismo na Europa, milhões de chineses impediam a expansão do Eixo no Oriente.

Por que lembrar disso 80 anos depois? Porque a memória não é apenas uma homenagem ao passado. Ela é também um alerta para o presente e um compromisso com o futuro. A história nos mostra que quando a dignidade de um povo é atacada, não há força capaz de esmagar a sua vontade de resistir e ser soberano.

É uma honra estar aqui nesta sessão solene. Nos últimos dois anos tive a responsabilidade de presidir a Comissão de Relações Internacionais da Assembleia Legislativa.

Nesse período, pude estreitar laços com vários países, entre eles a China. A relação entre Brasil e China é um exemplo de como duas nações com histórias, línguas e culturas tão diferentes podem construir uma parceria sólida, baseada na complementariedade econômica, visão de futuro e, sobretudo, respeito mútuo.

Os 80 anos da vitória chinesa são um convite para resistirmos a toda forma de opressão, para denunciarmos toda agressão e para acreditarmos que a força de um povo unido pode mudar o rumo da história. Essa é uma lição muito atual em um mundo onde ainda vemos tantas guerras, ocupações, violações, ameaças e chantagens à soberania das nações.

Muito obrigado e uma excelente sessão solene a todas as pessoas presentes.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agradecemos ao deputado Maurici pela fala. Neste momento iremos exibir um vídeo que retrata a luta chinesa contra o Império Japonês.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Para dar uma perspectiva mais aprofundada a respeito do assunto, convidamos agora, para uma palestra, a Sra. Melissa Caroline Cambuhy, pesquisadora visitante da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Cass-Pequim; doutoranda em Relações Internacionais pela Uerj; mestra em Direito Econômico pelo Mackenzie; advogada-diretora do Think Tank iBRICS+.

Compõe os núcleos China e Brics+ do Partido dos Trabalhadores; foi coordenadora de Cooperação Brasil-China, no Instituto Lula. Atua em projetos de cooperação Brasil-China e participou de uma série de atos de cooperação e investimentos entre Brasil e China no último período.

Vou pedir para ela subir ao púlpito.

 

A SRA. MELISSA CAROLINE CAMBUHY - Olá, boa noite a todos e a todas presentes. Primeiro, eu gostaria de saudar os representantes do Consulado Geral da República Popular da China e também o deputado Maurici e toda sua assessoria por essa iniciativa tão importante de sessão solene. E também, claro, gostaria de saudar toda a comunidade chinesa aqui presente.

Também gostaria de manifestar os meus mais sinceros agradecimentos pela honra de hoje poder fazer essa intervenção nesta sessão em Homenagem aos 80 anos da Vitória na Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e na Guerra Mundial Antifascista, uma data que é tão marcante e importante para o povo chinês, mas não só. É muito importante também para todo o mundo.

Bem, é incontestável que a história da segunda guerra costuma ser contada no ocidente como se o sofrimento e destruição tivessem se concentrado apenas na Europa. Pouco se fala do que se passou na Ásia. A invasão da China pelo Japão, iniciada em 1931 e intensificada em 1937, provocou massacres sistemáticos, estupros em massa, experimentos biológicos em civis e milhões de mortes.

No entanto, essa tragédia, que já foi considerada o pior crime de guerra do século XX em extensão e crueldade, foi relegada a meras notas de rodapé. A historiografia dominante construiu uma narrativa que enaltece alguns vencedores e silencia o martírio de milhões de chineses e outros povos asiáticos.

Essa omissão é também uma forma de falsificação histórica. No Brasil, conhecemos bem esse tipo de omissão. Apesar de nossas baixas estarem muito aquém do sacrifício empenhado pelo povo chinês, o Brasil foi a única nação latino-americana a mandar tropas para combater o eixo durante a guerra mundial antifascista.

Nossos pracinhas das Forças Expedicionárias Brasileiras tiveram grandes contribuições para superar esse capítulo brutal da história da humanidade, para vencer a guerra mundial antifascista e a besta nazifascista. E essa história precisa ser lembrada. A luta pela memória é uma luta que segue viva até hoje.

Então que hoje, neste momento, possamos prestar homenagem aos mais de 20 milhões de chineses que tombaram entre 1931 e 1945 na guerra de resistência do povo chinês contra a agressão japonesa e a guerra mundial antifascista. Que possamos relembrar os enormes sacrifícios e os esforços chineses na defesa da paz mundial, mas, sobretudo, saber que relembrar a história é essencial para preservar a paz e para criar um futuro melhor.

Eu fiquei com a grata tarefa de compartilhar um pouco do que eu aprendi nos últimos dez anos em que venho me debruçando academicamente sobre a economia política chinesa e seu processo de desenvolvimento nacional, e, na prática, atuando na cooperação entre Brasil e China.

Mas, para tanto, eu preciso nos situar historicamente e categoricamente dizer que somos hoje testemunhas oculares de um intransigente retorno da história, sem sombra de dúvidas, inaugurado pela ascensão da República Popular da China. Na década de 90, nos fizeram reféns do fim da história, expressão que foi consagrada por Francis Fukuyama no imediato pós-Guerra Fria.

Naquela época, a tendência imposta pelo capitalismo central, mais especificamente pelos Estados Unidos, era, nacionalmente, um receituário neoliberal e, internacionalmente, a globalização financeira e a unipolaridade. Ou seja, diante das investidas militares, políticas e financeiras estadunidenses, não havia alternativa senão render-se.

Eis que a ascensão chinesa, ou melhor dizendo, o socialismo com características chinesas, deu sua primeira grande lição e contribuição para a luta pelo desenvolvimento do sul global. Embora a reboque das tendências externas, é possível fazer algo a partir delas.

A China negou o receituário neoliberal e desafiou a globalização financeira, a instrumentalizando para o seu próprio processo de desenvolvimento. Sabemos que, com a queda da União Soviética e do horizonte alternativo que a Revolução Russa apresentava aos trabalhadores do mundo, os Estados Unidos monopolizaram os sonhos, roubaram os horizontes dos países subdesenvolvidos, em desenvolvimento, para os quais olhávamos e pensávamos: um dia eu posso chegar lá. Isso o economista alemão List chamou: “Chutar a escada”.

Embora cientes do caminho que haviam traçado para chegar ao desenvolvimento econômico, o capitalismo central chutou a escada para que o sul global não pudesse subir por ali, impondo um receituário pautado pela negação do papel central do Estado e do planejamento no processo de desenvolvimento nacional, pelo ajuste fiscal, pelas privatizações, pela desregulamentação dos setores econômicos do mercado de trabalho e pela abertura comercial e financeira irrestrita.

Receituário esse que, é muito importante destacar, nunca foi adotado pelas grandes potências. Com o processo revolucionário de 1949, a República Popular da China levantou-se, exterminou as interferências externas e pôde realizar o que chamamos de endogenização dos seus centros decisórios.

Foi a partir dali, sob a liderança do Partido Comunista da China, que foi possível criar seu próprio caminho de desenvolvimento. De país agrário, a China tornou-se uma potência científica em três gerações. Em 1949, cerca de 80% da população era analfabeta.

Hoje, a taxa de alfabetização é superior a 96%. A China tornou-se líder mundial em engenharia, matemática e inteligência artificial, com milhões de graduados por ano. Em 1949, a expectativa de vida média era de 35 anos; hoje, ultrapassa 79 anos. Em menos de 80 anos, a população ganhou mais de 40 anos de vida, um dos maiores saltos da humanidade.

Desde 1949, a China saiu de uma das economias mais pobres do planeta para se tornar uma potência incontestável em inovação, infraestrutura e energia limpa. Em 2023, a China concentrava aproximadamente 45,9% de todas as patentes concedidas no mundo. Sua rede de ferrovias de alta velocidade atingiu cerca de 45 mil quilômetros operacionais ao final de 2023, um marco que a coloca como a maior malha do planeta.

No mesmo ano, o investimento em energias renováveis - solar, eólica e etc. - respondeu por 41% do total global destinado ao setor renovável. E hoje seu PIB nominal ultrapassa os 17,7 trilhões de dólares, valor incomparavelmente maior do que qualquer cifra disponível nos primórdios da República Popular, o que mostra que a economia chinesa se multiplicou muitas dezenas de vezes desde 1949.

Prova do vetor socializante dessa experiência de desenvolvimento que subordinou o mercado aos mais sofisticados mecanismos de planejamento estatal, a China retirou cerca de 850 milhões de pessoas da pobreza extrema, marco único na história da humanidade e que expressa em ação as ideias de prosperidade comum presentes na teoria de Mao Tsé-Tung a Xi Jinping.

Já internacionalmente, a China oferta uma alternativa pacífica, estável e alicerçada no desenvolvimento comum e na multipolaridade, ao caos geopolítico fabricado pela globalização neoliberal e pelo imperialismo.

A China, por meio de seu próprio processo de desenvolvimento e pela sua inserção internacional, ofertou à humanidade um horizonte outro, tão mais amplo que a hegemonia estadunidense, portanto, ofereceu.

A partir de 2000, a inserção internacional chinesa, feita pela via produtiva, desafia e questiona a naturalizada globalização financeira. E, politicamente, o léxico do ganha-ganha e da multipolaridade foi, aos poucos, se colocando como uma alternativa ao “modus operandi” hegemonista dos Estados Unidos. Novas tendências internacionais vão eclodindo, tanto economicamente quanto institucionalmente.

A China tornou-se o maior parceiro comercial de mais de 140 países, inclusive o Brasil, com um intercâmbio bilateral que superou os 170 bilhões de dólares em 2023. Iniciativas como a Nova Rota da Seda já reúnem mais de 150 nações e 30 organizações internacionais, mobilizando trilhões em infraestrutura, energia limpa e tecnologia, sempre com a proposta de desenvolvimento mútuo e ganhos compartilhados.

Esses números revelam que a China não atua isoladamente. Ao investir em portos, ferrovias, telecomunicações e pesquisa, ela amplia mercados, transfere conhecimento e cria empregos em todo o mundo, reforçando a ideia de uma globalização mais equilibrada e multipolar, na qual a cooperação substitui a lógica da dependência.

Eu concluo a minha intervenção com a cena que pode ter passado despercebida pelos olhos politicamente distraídos no desfile de 3 de setembro. As bandeiras que abrem o grande desfile militar de 3 de setembro de 2025 são bandeiras do Partido Comunista da China, deixando claro que, sob a liderança do partido, o povo chinês se levantou e, sob a liderança do partido, segue seu caminho em busca do rejuvenescimento da nação chinesa.

Viva o povo chinês e a República Popular da China, viva o Brasil, o povo brasileiro e a sólida e longeva amizade sino-brasileira.

Obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agradecemos à Sra. Melissa Caroline pela brilhante palestra. E, neste momento, convidamos a fazer uso da palavra Zhuang Su, chefe de Divisão dos Assuntos Bilaterais. (Palmas.)

 

O SR. ZHUANG SU - Boa noite a todos. Eu queria, primeiro, cumprimentar o deputado Maurici. Também cumprimentar a consulesa interina geral Zhang Xi, o cônsul-geral adjunto Xie Yancun e o presidente do Conselho Wang Wanrui, e a todos os presentes nesta sessão solene.

E, antes de mais nada, eu gostaria de agradecer mais uma vez ao deputado Maurici pela realização deste evento tão significativo e parabenizar a criação do Grupo da Amizade China-Brasil. É uma honra representar o Consulado-Geral da China para falar sobre a questão de Taiwan neste ano tão comemorativo.

Este ano marca o 80º aniversário da vitória do povo chinês na guerra de resistência contra a agressão japonesa, da vitória mundial na guerra antifascista, bem como o 80º aniversário da fundação da ONU e da restauração de Taiwan.

A ordem internacional do pós-guerra, baseada na Carta das Nações Unidas, é um resultado da vitória na guerra antifascista. O retorno de Taiwan à China é uma parte importante dos resultados da vitória na Segunda Guerra Mundial e da ordem internacional do pós-guerra.

Há quase quatro anos que vivo e trabalho em São Paulo e, muitas vezes, ao conversar com os amigos locais sobre a questão de Taiwan, eles sempre mencionam que o Brasil apoia firmemente a posição da China sobre Taiwan e adere consistentemente ao Princípio de Uma Só China.

No entanto, também me dizem que, embora saibam que o Princípio de Uma Só China é o fundamento das relações China-Brasil e que a questão de Taiwan está no centro dos interesses centrais da China, muitas vezes não compreendem plenamente o seu significado exato e gostariam de conhecer mais detalhes.

Por isso, eu gostaria de compartilhar com os presentes, a partir de três aspectos - histórico, factual e jurídico - a evolução histórica da questão de Taiwan e o Princípio de Uma Só China.

Taiwan é a maior ilha da China. Está localizada na margem ocidental do Oceano Pacífico, separada da província de Fujian pelo Estreito de Taiwan. Os compatriotas de ambos os lados do estreito compartilham as mesmas raízes, a mesma língua, a mesma cultura, com profundas ligações históricas e culturais. São uma família unida por laços de sangue, com uma identidade nacional cultural comum que faz parte da sua gênese.

Do ponto de vista histórico, existe apenas uma China no mundo e Taiwan tem sido, desde tempos remotos, uma parte inalienável da China. Já no ano 230 d.C., durante o período dos Três Reinos, o trabalho “Registro das Condições da Terra e do Povo de Linhai”, de Shen Ying, continha os primeiros registros sobre Taiwan.

A partir de então, os sucessivos governos centrais da China começaram a estabelecer administrações em Penghu e Taiwan, exercendo jurisdição administrativa. Em 1684, o governo da Dinastia Qing estabeleceu a Prefeitura de Taiwan, sob a jurisdição da província de Fujian.

Em 1885, Taiwan foi elevada à categoria de província, tornando-se a 20ª província da China na época. Em 1894, o Japão desencadeou uma guerra sino-japonesa, forçando o então governo da Qing a assinar o Tratado de Shimonoseki, que cederia Taiwan.

A partir de então, os compatriotas de Taiwan travaram uma luta incansável contra os invasores japoneses. Após a vitória na guerra de resistência contra a invasão japonesa, Taiwan foi restaurada e regressou ao seio da pátria chinesa.

Em primeiro de dezembro de 1943, China, Estados Unidos e Reino Unido assinaram a Declaração do Cairo, que estipulava: "todos os territórios que o Japão roubou dos chineses, como a Manchúria, Formosa e as Ilhas Pescadores, deverão ser devolvidos à China".

Em 26 de julho de 1945, China, Estados Unidos e Reino Unido assinaram a Declaração de Potsdam, que reiterava: "as condições da Declaração do Cairo serão cumpridas". Em 15 de agosto do mesmo ano, o Japão rendeu-se e aceitou a Declaração de Potsdam. Taiwan voltou à jurisdição soberana da China.

No entanto, devido à guerra civil na China e à interferência dos Estados Unidos, Taiwan continuou separada do continente. Em 1949, foi proclamado o governo da República Popular da China, que substituiu o governo da República da China como o único governo legítimo representante de toda a China.

Embora os dois lados do estreito ainda não estejam reunificados, a soberania e o território da China nunca foram divididos. A realidade jurídica factual de que o continente e Taiwan pertencem a uma só China nunca mudou. Do ponto de vista jurídico, existe apenas uma China no mundo.

O governo da República Popular da China é o único governo legítimo que representa toda a China. Em 1971, a 26ª Sessão da Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução nº 2.758, que decide restaurar todos os direitos da República Popular da China e reconhecer os representantes do seu governo como os únicos representantes legítimos da China na ONU.

Expulsar imediatamente os representantes de Chiang Kai-shek do lugar que ilegitimamente ocupam na ONU e em todas as organizações a elas ligadas. Uma vez que a República da China já não era um governo legítimo na época e Taiwan era governada pelo grupo de Chiang Kai-shek, a resolução utilizou a expressão rigorosa, representantes de Chiang Kai-shek. 

Isto resolveu completa e definitivamente, a nível político, jurídico, processual, a questão da representação de toda a China, incluindo Taiwan na ONU, deixando claro que existe apenas um lugar para China na ONU, não existindo lugar para duas Chinas, ou uma China, um Taiwan.

Do ponto de vista factual, existe apenas uma China no mundo. A designação utilizada pela ONU para Taiwan é “Taiwan, província da China”. O Princípio de Uma só China é uma norma das relações internacionais e um consenso universal da comunidade internacional, sendo também a base política para o estabelecimento e desenvolvimento das relações diplomáticas entre China e 183 países, incluindo o Brasil e os Estados Unidos. É uma linha vermelha, limite intransponível.

Na prática, o governo da República Popular da China não permite que os países estabeleçam relações diplomáticas com a China mantenham contatos, quaisquer, oficiais com as autoridades de Taiwan. Qualquer país que estabeleça relações diplomáticas com a República Popular da China deve romper as chamadas relações diplomáticas com as autoridades de Taiwan.

É por isso que, nos últimos anos, os chamados aliados diplomáticos de Taiwan, como Panamá, República Dominicana, El Salvador, Nicarágua, Honduras, se juntaram a grandes famílias do Princípio de Uma só China, cortando relações com Taiwan, estabelecendo ou restabelecendo relações diplomáticas com a República Popular da China.

Além disso, mais de 100 países e organizações internacionais reiteraram publicamente a sua adesão ao Princípio de Uma só China, apoiando firmemente a causa da reunificação da China, opondo-se veementemente a qualquer interferência externa nos assuntos internos da China.

Isto demonstra plenamente que a adesão ao Princípio de Uma só China é uma obrigação moral internacional, reflete a vontade das pessoas, é uma tendência irresistível da época, sendo uma norma básica das relações internacionais que não pode ser desafiada.

A China e o Brasil são parceiros estratégicos globais, apoiando-se sempre firmemente nas questões relativas aos seus respectivos interesses centrais. Na declaração conjunta publicada durante a visita do presidente Lula à China em maio deste ano, o Brasil reiterou a sua adesão ao Princípio de Uma só China, reconhecendo que existe apenas uma China no mundo, que Taiwan é uma parte inalienável do território chinês e que o governo da República Popular da China é o único governo legítimo representante de toda a China.

O Brasil apoia os esforços da China para alcançar a reunificação pacífica do país. Os governos, parlamentos locais, incluindo São Paulo, também aderem rigorosamente o Princípio de Uma só China.

Espero que hoje a minha apresentação ajude todos a compreenderem de forma abrangente, aprofundada, a questão de Taiwan, e apelo aos amigos de todos os setores da jurisdição consular que estejam vigilantes, rejeitem palavras, ações que violem o Princípio de Uma só China, não dando qualquer oportunidade às forças separatistas de independência de Taiwan, apoiando firmemente, como sempre, a justa causa da reunificação pacífica da China.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Eu gostaria de dar a palavra agora ao Wang Wanrui, presidente do Conselho Fiscal da Associação Chinesa do Brasil.

 

O SR. WANG WANRUI - (Pronunciamento em língua estrangeira.) (Palmas.)

 

A SRA. TRADUTORA - Excelentíssimo deputado estadual, Sr. Maurici, excelentíssima Sra. Zhang Xi, consulesa-geral interina e demais cônsules. Ilustres convidados, líderes da comunidade chinesa e da empresa chinesa. Senhoras e senhores, boa noite.

 

O SR. WANG WANRUI - (Pronunciamento em língua estrangeira.)

 

A SRA. TRADUTORA - É uma grande honra participar da sessão solene para a Comemoração dos 80 anos da Vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e na Guerra Antifascista Mundial, aqui na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Agradeço em nome da Associação Chinesa do Brasil e da comunidade chinesa em São Paulo à Assembleia Legislativa de São Paulo e ao Consulado-Geral da China em São Paulo e presto homenagem a todos os heróis que lutaram pela vitória antifascista.

 

O SR. WANG WANRUI - (Pronunciamento em língua estrangeira.)

 

A SRA. TRADUTORA - Há 80 anos a China, após 14 anos de resistência e com imensos sacrifícios, abriu o principal campo de batalha oriental da guerra, contribuindo, de forma decisiva, para a vitória mundial.

O Brasil, por sua vez, também seguiu ao lado da justiça, enviando tropas expedicionárias e apoiando os Aliados. Os chineses que moram no Brasil acompanharam a pátria, oferecendo ajuda e reforçando a luta contra os fascistas, demonstrando que a justiça e a paz sempre prevalecem.

 

O SR. WANG WANRUI - (Pronunciamento em língua estrangeira.)

 

A SRA. TRADUTORA - Gostaria de afirmar, de maneira clara, que Taiwan é uma parte inalienável da China. Durante a guerra, os compatriotas de Taiwan participaram ativamente da resistência, provando o vínculo indissolúvel entre os dois lados do estreito.

Nesse momento de repatriação de Taiwan, de 80 anos, a comunidade chinesa no Brasil apoia firmemente o Princípio de Uma só China, em defesa de soberania, integridade territorial. Admiramos a posição da Alesp, de uma só China. E a relação diplomática de China e Brasil terá um desenvolvimento duradouro.

 

O SR. WANG WANRUI - (Pronunciamento em língua estrangeira.)

 

A SRA. TRADUTORA - Hoje, ao recordar essa vitória, reafirmamos que a paz deve ser valorizada e defendida. A China e o Brasil são parceiros estratégicos, com resultados frutíferos em várias áreas. Os chineses em São Paulo continuarão a ser uma ponte de amizade, promovendo intercâmbio econômico-cultural entre o Brasil e a China e defendendo os interesses da pátria.

 

O SR. WANG WANRUI - (Pronunciamento em língua estrangeira.)

 

A SRA. TRADUTORA - A realização desta sessão solene da Alesp reflete o respeito mútuo pela história e pela paz entre o Brasil e a China. Que possamos seguir juntos, unindo forças em defesa da justiça e da amizade.

 

O SR. WANG WANRUI - (Pronunciamento em língua estrangeira.) (Palmas.)

 

A SRA. TRADUTORA - Que a amizade entre a China e o Brasil seja eterna, e que juntos possamos contribuir para a unificação da pátria e para a construção de uma unidade de destino compartilhada para a humanidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agora eu passo a palavra à Sra. Zhang Xi, cônsul-geral interina da República Popular da China em São Paulo.

 

A SRA. ZHANG XI - Prezado deputado estadual Maurici, prezada professora Melissa Caroline Cambuhy. (Pronunciamento em língua estrangeira.) (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Passo a palavra agora ao deputado Maurici, para que proceda o encerramento desta solenidade.

 

O SR. PRESIDENTE - MAURICI - PT - Antes, porém, de proceder ao encerramento desta sessão solene, gostaria aqui de registrar o nosso pleno acordo com o entendimento que a nossa cônsul-geral adjunta e os demais cônsules manifestaram em relação à questão de Taiwan.

Esse nosso entendimento, no entanto, não é partilhado por alguns dos deputados e deputadas desta Casa, que insistem em tratar a província de Taiwan como um estado soberano, afrontando não apenas as leis internacionais, a soberania do Estado e do povo chinês, mas também desrespeitando a legislação e o entendimento brasileiro sobre esta questão.

Por isso quero dizer que nós estamos somando esforços. Tenho que reconhecer que o Consulado Geral da China tem promovido uma aproximação maior com os deputados e deputadas desta Casa na linha do convencimento sobre o seu posicionamento, que é o seu posicionamento, mas é também o do Brasil, e que nós estamos aqui também pressionando a direção da Casa para que faça valer as diretrizes internacionais aprovadas pelo Estado brasileiro.

Esgotado o objeto da presente sessão, agradeço a todos os envolvidos na realização desta solenidade, agradeço ao cerimonial desta Casa, agradeço às entidades da comunidades chinesas que prontamente atenderam o nosso convite e o do Consulado Geral da China, agradeço aos colegas do meu gabinete, agradeço ao Consulado Geral da China e agradeço a presença dos estudantes de Relações Internacionais da Unifesp, Campus Osasco, e da UFABC. Serão sempre muito bem-vindos e bem-vindas a esta Casa.

Agradeço, então, a presença de todas as pessoas.

Está encerrada esta sessão solene. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 13 minutos.

 

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