28 DE MARÇO DE 2025

12ª SESSÃO SOLENE PARA ENTREGA DA MEDALHA THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO

        

Presidência: LECI BRANDÃO

        

RESUMO

        

1 - LECI BRANDÃO

Assume a Presidência e abre a sessão às 10h27min.

        

2 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Nomeia a Mesa e demais autoridades presentes. Convida o público para ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro".

        

3 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene para "Entrega da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro", por solicitação desta deputada. Defende o direito de realização de sonhos. Discorre sobre a vida de Ruth de Souza. Elogia as deputadas Ediane Maria e Paula da Bancada Feminista. Faz agradecimentos a membros do PCdoB.

        

4 - TAMYSIE CRISTINA DE MORAES RIBEIRO

Neta da Dra. Theodosina Rosário Ribeiro, faz pronunciamento.

        

5 - JULIA ROLAND

Secretária estadual de Mulheres do PCdoB, faz pronunciamento.

        

6 - EUNICE PRUDENTE

Assessora na Escola de Gestão e Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, faz pronunciamento.

        

7 - REGINA CÉLIA SANTANA

Secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania, faz pronunciamento.

        

8 - ORLANDO SILVA

Deputado federal, faz pronunciamento.

        

9 - EDIANE MARIA

Deputada estadual, faz pronunciamento.

        

10 - PAULA DA BANCADA FEMINISTA

Deputada estadual, faz pronunciamento.

        

11 - JOSÉ ANTÔNIO TOTÓ PARENTE

Secretário municipal de Cultura e Economia Criativa, faz pronunciamento.

        

12 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Exibe vídeo e faz relato sobre a trajetória de Ruth de Souza, “in memoriam”. Lê currículos e anuncia a entrega da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro às homenageadas.

        

13 - VERÔNICA BONFIM

Atriz homenageada, faz pronunciamento.

        

14 - PATRICIA VANZOLINI

Advogada homenageada, faz pronunciamento.

        

15 - TATIANA NASCIMENTO

Escritora homenageada, faz pronunciamento.

        

16 - MARIA DE FÁTIMA DUARTE

Médica homenageada, faz pronunciamento.

        

17 - NAJARA COSTA

Vereadora na Câmara Municipal de Taboão da Serra e homenageada, faz pronunciamento.

        

18 - JONISE SANT`ANA

Líder religiosa do Ilê Alaketu Asé Osun Emin L’Oya e homenageada, faz pronunciamento.

        

19 - JAIANE ESTEVAM

Professora de Filosofia homenageada, faz pronunciamento.

        

20 - LARISSA CAMARGO

Vereadora na Câmara Municipal de São Carlos e homenageada, faz pronunciamento.

        

21 - SARA ZARA

Ativista e influenciadora digital homenageada, faz pronunciamento.

        

22 - MIRAILDES MACIEL (FORMIGA)

Ex-jogadora de futebol homenageada, faz pronunciamento.

        

23 - SUELI APARECIDA RIÇA COSTA

Bailarina homenageada, faz pronunciamento.

        

24 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Anuncia apresentação da Roseira do Futuro, grupo mirim da Sociedade Rosas de Ouro, campeã do Carnaval de São Paulo em 2025.

        

25 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Valoriza a Cultura e a diversidade da população. Enaltece a igualdade e a liberdade religiosa. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão às 12h45min.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Leci Brandão.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Bom dia, senhoras e senhores. Bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para a sessão solene com a finalidade da entrega da Medalha Theodosina Ribeiro. Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp, Canal Alesp no YouTube.

Anunciamos, para compor a Mesa Principal, a Exma. Senhora Deputada Estadual Leci Brandão, proponente desta sessão solene. (Palmas.) A Exma. Senhora Deputada Estadual Ediane Maria. (Palmas.)

A Exma. Sra. Deputada Estadual Paula Nunes da Bancada Feminista. (Palmas.) A Exma. Secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Cidade de São Paulo, Sra. Dra. Regina Célia Santana. (Palmas.) A Exa. Membra do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, Sra. Dra. Eunice de Jesus Prudente. (Palmas.) A Sra. Secretária Estadual de Mulheres do PCdoB, Partido Comunista do Brasil, Sra. Julia Roland. (Palmas.) A neta da Dra. Theodosina Rosário Ribeiro, Sra. Tamysie Cristina de Moraes Ribeiro. (Palmas.)

Convido a todas as pessoas presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

- É reproduzido o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

Para dar início a nossa sessão solene, com a palavra a nobre deputada Leci Brandão.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Antes de mais nada, eu quero dar aqui uma satisfação obrigatória, porque é uma sexta-feira, última sexta-feira do mês de março. Todo mundo sabe que, nos dias de sexta-feira, eu estou totalmente de branco.

Mas eu pedi licença a meu pai Oxalá para que eu colocasse esse blazer de cor amarela, porque foi a última vez em que minha mãe esteve aqui nesta Casa, e na foto que eu tirei com ela eu estava com esse blazer. Por isso, eu quero dedicar a todas as Iabás, porque afinal de contas é um evento dedicado às mulheres. E saudar dona Oxum. Apenas isso.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Anunciamos, neste momento, as seguintes presenças: deputado Maurici, do PT, 1º secretário da Alesp; Sra. Vera Lúcia, Tia Vera, Cidadã do Samba 2025; Sr. Tarcísio Boaventura, representando o vereador Josias Ferreira, do PCdoB de Suzano; Sra. Marlene Maria de Oliveira Silva, representando a comunidade Vila Sílvia, da zona leste. (Palmas.)

Com a palavra a nobre deputada Leci Brandão.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Sras. Deputadas e Srs. Deputados, minhas senhoras, meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa, deputado André do Prado, atendendo à minha solicitação, com a finalidade de entregar a Medalha Theodosina Ribeiro. Que Deus proteja, abençoe a todas e todos que aqui estão.

Eu quero iniciar esta homenagem, este dia de homenagem, falando sobre uma coisa que considero fundamental na vida de todas as pessoas: o direito de sonhar. Falamos muito dos direitos básicos de Saúde, Educação, moradia, alimentação e tudo o que garanta a nossa sobrevivência. Mas, para muitas de nós que estamos aqui, e para aquelas que vieram antes de nós, o ato de sonhar sempre foi negado, até porque sonhar ainda é custoso.

Afinal, é difícil sonhar quando se está preocupado em sobreviver, em escapar das muitas violências que nos atingem. Sonhar parece ser remar contra a maré, é ser insubmissa diante da história que escreveram para nós.

Quantas vezes ouvimos que aquilo que desejamos não era possível por vários motivos, mas, principalmente, por sermos quem somos: mulheres negras, mulheres periféricas? E esse direito de sonhar é negado de muitas formas.

É negado quando não vemos nossos iguais nos espaços de poder, na direção de grandes empresas, nas propagandas ou em cargos importantes em diversas esferas. E por que estou falando de sonhos?

Porque esta edição da Medalha Theodosina Ribeiro presta uma homenagem à grandiosa Ruth de Souza, atriz de talento ímpar e imensurável, que, apesar das adversidades, ousou sonhar e construir sua carreira, uma carreira artística em um País racista, que não admite ver a nossa cara preta nos teatros, na TV e no cinema.

Ruth disse certa vez: “Digo que minha carreira foi um milagre por várias coisas que enfrentei e por tudo que vivi. Muitos riram de mim, se divertiram às minhas custas, dizendo que não havia artistas negros”.

E, de fato, quando Ruth de Souza sonhou em ser atriz, os papéis que deveriam ser representados por negros eram feitos por pessoas brancas pintadas de preto, mas Ruth foi pioneira e fez muita coisa durante sua longa carreira.

Cito aqui apenas uma delas. Nossa Ruth de Souza foi a primeira atriz brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema, o Festival de Veneza. E, certa vez, relembrando fatos importantes de sua carreira, ela disse: “Sempre lutei por meus sonhos, e isso me ajudou muito diante de todas as dificuldades. As pessoas não acreditavam que uma menina tivesse sonhos”.

Ruth não apenas sonhou e realizou, mas, com sua carreira e seu exemplo, ela ajudou muitas de nós a sonhar e a realizar como ela. Eu sou uma dessas mulheres inspiradas por Ruth e aqui quero lembrar do trecho de uma música que compus com Alceu Maia, que se chama “Talento de Verdade”, na qual eu digo: “Quer saber o que é ter talento de verdade? Se liga na Ruth de Souza”. (Palmas.)

Pois é. Muitas de nós ligamos nela. Ruth foi inspiração na arte e na vida, teve em sua mãe lavadeira um incentivo de ir atrás dos seus sonhos, assim como eu tive Dona Lecy, servente de escola, um incentivo para realizar tudo o que construí em minha vida, fosse nos palcos ou no Parlamento.

E, como estamos falando de exemplos, não posso deixar de mencionar que esta medalha recebe o nome de outra mulher extraordinária, Dra. Theodosina Rosário Ribeiro, que também ousou sonhar, realizar, e foi a pioneira ao ser eleita a primeira deputada negra desta Casa, tornando-se uma referência de vida, dedicada ao trabalho ético e aguerrida em favor das minorias.

Dra. Theodosina sempre foi uma luz inspiradora para que todas nós perseguíssemos o ideal de vermos os espaços de poder sendo ocupados por aqueles e aquelas que, de fato, representam a maioria do nosso povo. Portanto, inspirada em Ruth de Souza e na Dra. Theodosina Ribeiro, prestamos nossas homenagens a essas 11 mulheres celebradas aqui hoje, mulheres que nos fazem acreditar que nossos sonhos são possíveis.

São elas: a talentosa atriz, cantora e produtora cultural, Verônica Bonfim; a advogada criminalista e primeira mulher eleita presidente da OAB de São Paulo, Dra. Patricia Vanzolini; a artista, escritora e grande ativista pelos direitos da população LGBT+, Tatiana Nascimento; a Dra. Maria de Fátima Duarte, ginecologista, obstetra e sexóloga, que realiza um trabalho fantástico na área da Saúde da Mulher em nosso Estado. (Palmas.)

A vereadora Najara Costa, uma força política que nos enche de orgulho e admiração; a ialorixá Jô Sant’Ana, a quem peço a benção com todo o meu respeito; a professora Jaiane Estevam, que luta para que a educação e os professores sejam respeitados e valorizados em nosso estado. (Palmas.)

A vereadora Larissa Camargo, que representa a eletividade do nosso povo na Câmara Municipal de São Carlos; a jovem Sara Zara, influenciadora e ativista, que com humor e muito talento dá os recados que precisam ser dados; a nossa grande esportista, essa grande gigante do futebol feminino, inspiração para tantas mineiras, Miraildes Mota, a Formiga; a minha querida Sueli Riça Costa, sempre porta-bandeira da Escola de Samba Rosas de Ouro, personalidade fundamental do Carnaval de São Paulo. (Palmas.)

A todas, quero dizer muito obrigada por me fazerem, aos 80 anos de idade, continuar acreditando que nós temos o direito de sonhar. E eu quero apenas ressaltar que estão aqui ao meu lado a deputada Paula e a deputada Ediane, essas duas deputadas que, ao chegarem nesta Casa, demonstraram o respeito, o carinho, o reconhecimento à nossa caminhada anterior a delas, mas que somos de bandeiras diferentes, mas a ideologia é exatamente a mesma.

Nós temos tido aqui uma atuação que é exemplo para todas as meninas negras ou brancas que querem um dia ocupar um espaço neste Parlamento. Prestem atenção nessas duas histórias. São pessoas que têm me ajudado muito, que me dão força, e que, no momento em que eu estive com um problema sério de saúde e estava ausente desta Casa, elas comandaram e contribuíram para a minha assessoria para que os eventos fossem realizados. Muito obrigada, Paula, muito obrigada, minha querida. Muito obrigada, Ediane. Peço aplausos para as duas, por favor. (Palmas.)

Como eu sou uma pessoa que... Eu quebro realmente o protocolo, porque eu sou diferente, eu quero agradecer, do fundo do meu coração - é muito papel para a minha mão, mas tudo bem -, a algumas pessoas que eu citarei aqui: Rosina Conceição de Jesus, que foi a primeira pessoa que eu conheci dentro do PCdoB; Silvia Ariza, minha secretária, que foi trazida pela Rosina - a Rosina foi convidada, mas disse que não tinha condições. (Palmas.)

Eliege, também do Partido Comunista, antes de mim; Carla Nascimento, amazonense, que traz para a nossa história, para o nosso conhecimento o que é a questão da importância do povo indígena; Damase Lima, a menina que é uma pessoa importante na nossa pauta da religião de matriz africana, é uma menina de Oxóssi; Karina Franco, que também ajudou a fazer a nossa exposição aqui. (Palmas.)

 Michelle, que é a nossa pequena secretária, que está dando uma contribuição muito grande; e Márcia Cabral, uma pessoa que eu conheci antes de chegar a esta Casa, e que representa o segmento LGBT+ e muito obrigada pela contribuição que ela traz para a gente. (Palmas.)

A todas essas mulheres, eu quero dizer o seguinte: muito obrigada por me fazerem, aos 80 anos de idade, continuar acreditando que nós temos o direito de sonhar. Muito axé. E que Deus e que os nossos Orixás continuem abençoando a caminhada de vocês.

Muito axé. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Convidamos para compor esta Mesa a ilustre secretária municipal dos Direitos Humanos, Regina Célia Santana, e o ilustre deputado federal, Orlando Silva. Parabéns. Anunciamos a presença do Sr. Marco José Rosário Ribeiro, filho da deputada Dra. Theodosina Ribeiro.

E as ilustres presenças também de Arnaldo de Freitas, representando o deputado Itamar Borges; Sr. Maurício Nespeca, representante do Sindalesp; da Sra. Gabriele Evaristo, segunda princesa do Carnaval de São Paulo, ano 2025; Sr. Sandro Camargo, Rei Momo do Carnaval de São Paulo, de 2025; Sra. Edna Maria de Andrade, secretária da Mulher, do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de São Paulo; da Sra. Emília Ribeiro, da diretoria da União dos Amigos da Capela dos Aflitos.

Nossa sessão solene de hoje é dedicada a Ruth de Souza. Mas, antes disso, este Cerimonial, neste momento, passa a palavra para uma breve saudação de três minutos aos membros da Mesa.

Inicialmente, Sra. Tamysie Cristina de Moraes Ribeiro.

 

A SRA. TAMYSIE CRISTINA DE MORAES RIBEIRO - Bom dia. Bom dia, deputada. Obrigada, mais uma vez, pelo convite. Gente, eu vou tentar falar, porque eu choro, eu sou emocionada. Para quem não me conhece, eu sou a Tamysie, eu sou a neta mais nova da deputada Theodosina Rosário Ribeiro; eu sou filha do Marcos e da Nildes. Obrigada, viu. Olha lá, viu? É porque é muito gratificante estar aqui. (Palmas.) A minha avó fez história.

Eu vou falar muito rapidinho uma passagem. Outro dia eu estava na casa dos meus pais e eu estava vendo as fotos da minha avó aqui, ela era a única mulher e a única mulher negra deste lugar, por muito tempo. E aquilo me bateu... uma reflexão assim... ela me falava das coisas que já passou aqui dentro, mas a gente fica tentando imaginar. Hoje em 2025 olha como está, então imagina em 1968, 1970, não é?

Eu fico muito lisonjeada, orgulhosa, grata por ser neta - não por ter sido, porque eu sempre vou ser a neta dela - e por ter aprendido tanto com a minha avó, por ter uma premiação com o nome dela, não é? E não é menosprezando, mas eu conheci a minha avó como a minha avó, não como a deputada Theodosina Rosário Ribeiro.

Ela já não era mais política quando eu nasci, quando o meu irmão nasceu; meu irmão é mais velho, depois quando eu nasci. Então ver as pessoas, as homenagens. A minha avó recebeu muita homenagem em vida, e eu a acompanhei em algumas, não em todas, mas em algumas eu a acompanhei.

Ver que a senhora continua fazendo isso é uma honra. Muito obrigada por lembrar dela, por todo o carinho que a senhora sempre teve com ela; ninguém me contou, eu vi, eu via todo o apreço que a senhora tinha por ela.

Obrigada por continuar, por homenagear essas mulheres, pela importância de cada uma de vocês. Porque você homenagear uma pessoa famosa é fácil, mas quem faz a diferença de verdade na sociedade é que merece esse reconhecimento, merece ser famoso pelo que faz.

Então obrigada, mais uma vez, por estar aqui, toda vez que eu puder vou estar aqui, se a senhora continuar me chamando, me convidando, eu estou muito honrada. Eu falei que ia tentar não chorar, então vou parar, senão eu vou chorar.

Obrigada a todas por estarem aqui, é um prazer estar com vocês.

Então obrigada, gente, por tudo.

Bom dia. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada, Sra. Tamysie. E neste momento ouviremos a Sra. Julia Roland.

 

A SRA. JULIA ROLAND - Bom dia a todas e todos. Inicialmente, eu quero fazer uma saudação para a nossa querida Leci Brandão e estendê-la para todos os componentes da Mesa. Eu acho que a Leci tem uma trajetória que emociona e orgulha a todos nós.

Uma trajetória, tanto na música, na cultura, como na política também; uma deputada que é marcada pelo compromisso, coragem, autenticidade em sempre defender o que pensa, o que acha correto e sempre voltada para os que mais necessitam na nossa sociedade, no nosso Brasil.

Então parabéns à Leci, a todas as nossas deputadas, secretárias, ao nosso deputado federal, que tem também a mesma trajetória, o mesmo compromisso. A gente ouvir aqui a neta de Theodosina, é importante a gente lembrar e sempre reafirmar que a Theodosina continua sendo uma referência para luta, pela emancipação da mulher e pelo combate ao racismo.

Ela entrou na política em 1970, pelo MDB, em plena ditadura militar, então isso por si só já revela a coragem que a Theodosina teve e o compromisso em defender a democracia e os que mais necessitam na nossa sociedade.

 Nesta edição, a nossa querida Ruth de Souza, que merece também todas as nossas homenagens pelo pioneirismo e pelo talento que sempre demostrou, e que nos orgulha muito.

Eu acho que nós temos aqui 11 mulheres incríveis que serão homenageadas: a nossa Fátima Duarte, que eu conheço há muito tempo, feminista, médica, com grande compromisso com a luta das mulheres; a Formiga, que foi a capitã da seleção brasileira e um exemplo para tantas meninas.

A nossa ialorixá Jô Sant’Ana, que se destaca na valorização das tradições de matriz africana; a Jaiane Batista, professora e sindicalista; a Larissa Camargo e a Najara Costa, duas jovens, negras, mulheres, vereadoras em cidades importantes e vereadoras do meu partido; a Patricia Vanzolini, a primeira presidente mulher da OAB em São Paulo; a Sara Zara, influenciadora digital; a Sueli Aparecida, bailarina e professora; a Tatiana Nascimento, artista, escritora e liderança da comunidade LGBTQIA+; e a Verônica Bonfim, atriz, cantora e produtora cultural.

Eu acho que eu estou muito emocionada também, porque, nesta semana, o PCdoB, o meu partido e o de muitos que estão aqui, completou 103 anos, no dia 25 de março, e o PCdoB sempre na luta para combater as imensas desigualdades que persistem em nosso país, em especial as desigualdades de classes, gêneros e raça, que estruturam a construção histórica da nossa sociedade. (Palmas.)

Eu acho que já tivemos avanços, conquistas, mas o nosso Brasil precisa dar passos mais largos para pagar a dívida com a população negra, em especial com as mulheres, que ganham contornos novos com o crescimento do conservadorismo e da extrema-direita, aqui e no mundo todo.

Então eu acho que isso nos alerta, está certo? Porque nós temos que lutar mais, incorporar mais mulheres, jovens, trabalhadoras e trabalhadores nesta luta. Por isso, certos momentos, como este, têm um simbolismo muito importante. Então é importante que a Leci mantenha esta chama sempre acesa e sempre forte.

Essa dimensão ampla da luta por mais democracia, por mais diretos sociais e contra todo o retrocesso. Eu acho que as mulheres aqui hoje homenageadas, cada uma na sua área, representa muito essa combatividade e este compromisso que as mulheres têm, que cada vez mais tem que ser mais forte ainda.

Nós vamos ter muitos desafios pela frente e, como Leci diz: “precisamos continuar sonhando e fazendo com que mais mulheres, mais meninas ocupem espaços importantes na nossa sociedade, no nosso estado e no nosso Brasil”.

Parabéns a todas e todos e muito obrigada por esta oportunidade. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada, Sra. Julia Roland. Agora ouviremos a Dra. Eunice Prudente.

 

A SRA. EUNICE PRUDENTE - Bom dia a todas as pessoas. Quero cumprimentar, emocionada, a nossa deputada, representante de todos nós, Leci Brandão, pelo serviço público de excelência que desenvolve nos representando, e ela nos representa na arte, porque ela nos interpreta.

É só prestar muita atenção nas composições da deputada Leci Brandão, nós vamos ver como ela relata a vida, as experiências das famílias trabalhadoras, em especial das famílias negras, o samba que nos congrega e congrega brasileiros de todas as etnias é ali expressado pela Leci Brandão. Então, na sua pessoa, Leci, quero cumprimentar todas essas mulheres tão importantes, personalidades que compõem a Mesa e também ele, o deputado do PCdoB, o Orlando Silva, aqui presente.

Rapidamente aqui, eu estou no Tribunal de Contas do Município de São Paulo, com uma missão muito grave, porque na democracia há os controles, e eu olho ali a jovem tão bonita, Larissa Camargo, que é vereadora. Então o primeiro órgão controlador da Administração pública é o Legislativo - no caso do município, Câmara Municipal -, e ali está uma representante, é uma jovem negra.

Isto para a minha geração não era comum, não; agora estão aí, presentes e tão valiosas. Mas há um Tribunal de Contas Municipal, também, para exercer os devidos controles. Eu estou lá, justamente com a missão de levar, de trabalhar pela diversidade.

Na minha pesquisa, na Universidade de São Paulo, minha cara Leci, meus caros irmãos e irmãs negras presentes, na minha pesquisa, a primeira manifestação pela criminalização da discriminação racial adveio do teatro experimental do negro, e Ruth de Souza integrou esse teatro.

Então é um momento de muita emoção, mas quando eu era jovem, saindo da adolescência, tive a honra de conhecer a primeira vereadora, Theodosina Rosário Ribeiro, depois deputada.

Então, sempre que tenho a honra de encontrar a família dela, o Dr. Marcos Ribeiro e aqui está a Tamysie, sempre que encontro a família, lembro do 2140, que era o número da inscrição eleitoral da Theodosina Rosário Ribeiro no MDB, mais antigo e tal. Eu sei, porque naquela época a gente usava só santinho, não havia a transmissão eletrônica, e aí era um tal de distribuir santinho.

Imaginem os senhores explicarem nas famílias, nas ruas, a relevância de uma representatividade negra. Olho de novo, ali, a jovem Larissa e me emociono. Mas Theodosina Ribeiro expressou-nos, porque também, além de ser professora, advogada, era uma pessoa que advogava muito pela família negra.

Eu me lembro, em movimentos para creches das crianças e tal, o quanto o movimento negro de direita, de esquerda, todo mundo corria na Theodosina Rosário Ribeiro. Assisti muitas vezes a esses momentos históricos e graves.

Agora poder estar nesta Mesa, poder estar ao lado da secretária de Direitos Humanos da nossa cidade, que é a Dra. Regina Célia Santana, é um momento de muita emoção. Gratidão, Leci Brandão, pela amizade que nos une, pela religiosidade que nos une, pelos propósitos que nos unem.

Agradecida.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Grata por suas palavras, Dra. Eunice Prudente. E agora ouviremos a nossa secretária municipal de Direitos Humanos, Dra. Regina Santana.

 

A SRA. REGINA CÉLIA SANTANA - Bom dia a todos. Inicialmente, quero pedir desculpas pelo meu atraso, mas como estamos agora... Eu estou - gosto até de frisar muito bem - secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania na cidade de São Paulo, as atribuições são imensas, porque é uma pasta muito grande, e não podemos deixar, aí, um minuto sem estar à frente dos trabalhos.

Chegamos lá hoje por volta das oito horas da manhã, mas tivemos que estar aqui. Estar aqui, sim, para atender ao convite da nossa nobre, eu falo nobre e também falo nossa, porque ela é nossa deputada estadual, Leci Brandão. (Palmas.)

Quero saudar também a deputada estadual Ediane Maria; saúdo também a deputada estadual Paula da Bancada Feminista; quero saudar o nosso nobre deputado federal Orlando Silva; quero um cumprimento especial à Sra. Tamysie Cristina de Moraes Ribeiro, neta da nossa saudosa Dra. Theodosina Rosário Ribeiro. Em nome dela, quero fazer uma saudação a todos os familiares da Dra. Theodosina Ribeiro.

Quero saudar também a Sra. Julia Roland, secretária estadual de Mulheres do Partido Comunista do Brasil, do PCdoB; quero saudar também o Sr. Arnaldo Freitas, secretário-geral do MDB Afro; também a assessora especial do nosso deputado estadual Itamar Borges.

Quero saudar também a Dra. Eunice Prudente, que deixou... Nos deixou há poucos dias, mas não deixou, não é? Ela está hoje à frente da escola de Gestão e Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, mas ela sempre será a nossa secretária municipal de Justiça no município de São Paulo; também que foi a nossa secretária de Justiça e Cidadania no estado de São Paulo; e também sempre ressalto que é a única professora negra que é mestre e doutora pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. (Palmas.)

Quero saudar também a todas as pessoas aqui presentes nesta manhã de sexta-feira para que a gente possa sempre lembrar com muito carinho, com muito amor, a nossa Dra. Theodosina Ribeiro, porque ela é uma mulher ímpar, uma mulher impecável que sempre nos brindou com a sua fala de uma forma muito inteligente.

Então eu quero saudar a todas as pessoas aqui - não vou citar nomes, até porque fica desagradável falar o nome de uma pessoa e de outra não -, mas estou vendo muitas pessoas queridas, muitas pessoas conhecidas.

Que bom que vocês estão aqui a pedido da nossa deputada Leci Brandão e também para que a gente possa sempre, com esta medalha, homenagear várias mulheres guerreiras, mulheres lutadoras e, em especial, as nossas mulheres negras, as nossas mulheres pretas.

Por quê? Porque a mulher preta tem história, ela tem luta, ela tem garra. E para falar de Dra. Theodosina Ribeiro, tenho muitas memórias, muitas lembranças, especialmente quando ela nos acolhia com aquele sorriso, com aquela elegância - não só Dra. Theodosina Ribeiro, mas o seu esposo também, nas manhãs de domingo, na Irmandade de São Benedito do Rosário dos Homens Pretos do Largo do Paissandú.

Eu tive a honra, também, de participar de muitas missas, em muitos eventos, por ser da Irmandade de São Benedito da Casa Verde, e Dra. Theodosina com o Dr. Ribeiro, sempre os dois juntos lá, nos brindando e sempre falando uma palavra de afeto, uma palavra de estímulo.

Assim que eu ingressei na faculdade de direito, ela foi uma das primeiras pessoas a nos cumprimentar, dar ânimo e falar palavras de resiliência para que a gente pudesse chegar aonde estamos hoje, como secretária de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo - onde eu sou a primeira mulher negra a estar naquela cadeira -, como a Dra. Eunice Prudente também foi a primeira mulher negra a se sentar na Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania e, posteriormente, a se sentar também na Secretaria de Justiça do Município de São Paulo.

Também não posso deixar de registrar que eu fui a primeira mulher negra a me sentar em Direitos Humanos, mas fui a segunda mulher negra no ano passado a me sentar na Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo, sendo a primeira a Aline Torres.

Então quero também fazer um registro do meu partido, o Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, porque, quando Dra. Theodosina Ribeiro esteve no partido, não foi muito bem olhada. Então quero registrar isso, porque tive esse conhecimento, porém, hoje, as mulheres pretas do MDB têm vez e voz.

Porque eu, enquanto mulher preta, tive a honra de ter um prefeito que olhou para as mulheres negras; olhou para a Cultura; olhou para os Direitos Humanos e Cidadania; olhou para a Justiça; olhou para a Assistência Social; olhou para que um homem preto estivesse hoje sentado em uma secretaria de Turismo; olhou para que também outros homens pudessem estar à frente de secretaria municipais e de presidências de empresas públicas.

Então eu só tenho a agradecer ao meu prefeito Ricardo Nunes e ao meu partido. Agradeço ao Baleia Rossi, presidente, que também olhou para mim e tem olhado para muitas mulheres pretas.

Mas como hoje é dia de a gente olhar e lembrar da Dra. Theodosina Ribeiro, eu só tenho que lembrá-la com alegria, como uma mulher que lutou e que está olhando por nós para que a gente possa olhar mais e, principalmente, ter um olhar político, porque a gente sabe que nós, negros e negras, ainda não estamos onde a gente quer chegar.

Por que eu digo que “ainda”? Porque não é um, dois, três ou dez; temos que ser muitos, porque se no Brasil nós temos um percentual de mais de 56% de negros e negras, precisamos, sim. Precisamos estar em todos os locais, e a gente sabe que a política é muito importante, porque através dela... ela abre portas para muitos outros e para muitas outras questões.

Então vamos lembrar, sim, com muita ternura, com muita gratidão, da Dra. Theodosina Ribeiro, mas também vamos estar juntos para que nós, negros e negras, possamos avançar cada vez mais. Além de estarmos na política, temos que que estar, sim, nas presidências das grandes empresas; temos que estar, sim, no poder Legislativo, no Executivo e no Judiciário, porque eu tenho sempre comigo uma frase: “a gente pode tudo quando se vai à luta”.

E meu muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada, secretária Regina Célia Santana. Ouviremos neste momento o ilustre deputado federal, Orlando Silva.

 

O SR. ORLANDO SILVA - Bom dia... Bom dia, pessoal. Alegria. Eu quero cumprimentar a minha querida deputada Leci Brandão e, ao saudá-la, me permitam cumprimentar todas as mulheres que compõe esta Mesa, bonito demais.

É a primeira vez que eu estou em uma Mesa em que eu sou o único homem. E é um sinal daquilo que a gente precisa construir na sociedade brasileira, respeitar o que nós temos na Constituição do nosso país.

A presença das mulheres é absolutamente essencial. Me permitam cumprimentar todas as homenageadas em nome da minha conterrânea Formiga, uma das mulheres mais importantes da história do futebol e do Esporte do nosso país. (Palmas.)

Peço permissão para cumprimentar todos e todas que participam deste encontro, desta homenagem, desta cerimônia, em nome da nossa ex-deputada Ana Martins, que está aqui conosco, sentadinha ali. (Palmas.)

Uma guerreira, batalhadora da luta democrática - liderança popular da zona leste, da zona sul, da cidade de São Paulo -, que foi deputada - não é, Leci? - aqui nesta Casa. Uma das mulheres que compõem a galeria de guerreiras que representaram o povo de São Paulo na Assembleia Legislativa.

Eu quero, em primeiro lugar, cumprimentar a deputada Leci Brandão pela criação deste prêmio, pela iniciativa de não apenas render justa homenagem à Dra. Theodosina Ribeiro, mas fazer disso uma medida de estímulo, de inspiração para a sociedade paulista e, em particular, para as mulheres. Em particular, me permitam assim falar também, para as mulheres pretas do estado de São Paulo.

Eu tive a honra, diria o privilégio, Leci, de poder assistir à primeira cerimônia de criação deste prêmio. A honra e o privilégio de observar a delicadeza, a inteligência e a elegância com que a Dra. Theodosina se dirigia a todos aqueles que assistiram àquele momento tão emocionante, que era um momento histórico, o viver a criação daquele prêmio.

Doutora Theodosina, mulher negra, como já dito aqui, vereadora, deputada, mas eu chamaria atenção para um aspecto, que foi o que me impactou quando eu a ouvi falar pela primeira vez: uma educadora.

Com palavras muito diretas, muito simples, muito objetivas, ela trazia história, ela comentava da vivência, da experiência e, de um modo muito simples e direto, educava as pessoas às quais ela se dirigia em momentos solenes e singelos. Isso me marcou muito.

Então, quando a Leci Brandão, nossa deputada Leci Brandão - tem que falar deputada Leci Brandão - traz a este instante não apenas uma homenagem à Dra. Theodosina, mas também à Ruth de Souza, é também a celebração da arte, a celebração da cultura, que é o perfil, a história, a trajetória da nossa deputada Leci Brandão.

Então, Leci, eu queria dizer que a Dra. Theodosina e a querida Ruth Cardoso, tenho certeza de que estão acompanhando este nosso momento aqui, felizes da vida, pelo que representa a homenagem que você faz.

E quero que todas as que são homenageadas hoje guardem no coração esta manhã, que é tão carregada de simbolismo quando homenageamos Ruth de Souza, quando homenageamos Theodosina Ribeiro, e a inspiração, o que vocês vão significar para outras gerações.

Eu sou de uma tradição de que a ancestralidade vale. O respeito aos mais antigos vale muito. O reconhecimento que vocês recebem nesta manhã, eu tenho certeza de que vai refletir-se em inspiração para a luta, para a construção de um país justo, verdadeiramente democrático, e que as oportunidades sejam garantidas para todos e para todas.

Particularmente para todas as mulheres pretas, que representam uma parcela que, historicamente e, também, no presente, ainda não tem o seu protagonismo devidamente reconhecido.

Uma vez mais, parabéns, deputada Leci Brandão, pela iniciativa e pela cerimônia da manhã de hoje.

Um grande abraço a todos e a todas. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agradecemos ao deputado federal Orlando Silva, e neste momento ouviremos a ilustre deputada estadual Ediane Maria.

 

A SRA. EDIANE MARIA - PSOL - Bom dia. Deixe-me levantar. Olha, Orlando Silva, eu gostei, viu. É a primeira vez que você senta em uma Mesa que é só você de homem? Nossa, está mudando muito, gente.

Primeiro eu quero saudar a nossa deputada Leci Brandão. E não seria diferente, não é, Leci? Não seria diferente. Você é a segunda mulher negra que ocupa esta Casa. Então a gente entrar neste espaço, a gente olhar e falar: “opa, calma aí, não vão esquecer uma das minhas que passou por esta Casa”, a gente fala de reparação, não é?

Então estar hoje, aqui, na 11ª edição deste prêmio de Theodosina, mostra para a gente que nossos passos vêm de muito longe. É meu primeiro mandato, também, que ocupo aqui este espaço, então eu também vou aprendendo.

Falo que ocupar política é aprender, porque parece que nós, mulheres negras, que estamos como secretárias, que estamos ocupando esses espaços, parece que a gente já chega sabendo de tudo, não é? E a estrutura, como a companheira mesmo falou, a Eunice, a gente chega em uma estrutura que foi organizada para que a gente não chegasse nela. E, se chegasse nela, não permanecesse.

Eu lembro, Leci, quando eu cheguei, você foi lá ao gabinete... Minha mãe até hoje fala: “Nossa, a Leci, como que ela está?” Minha mãe está aqui, ela vem uma vez por ano. Ela é de Pernambuco, vem uma vez por ano aqui no estado de São Paulo. E ela ficou muito feliz e honrada por pisar o pé nesta Casa.

Eu lembro da minha mãe subindo aquela rampa, Leci, e minha mãe foi se encurvando por medo desta estrutura. Ela olhou para esta estrutura e começou a se encurvar. Eu falei: “Mãe, levanta a cabeça e siga. Vamos subir essa rampa, vamos ocupar este espaço”.

Então a política está mudando. Quando as pessoas vão para as urnas, hoje, também veem que existem mulheres negras que estão ocupando esses espaços, que estão se colocando na disputa para ocupar esses espaços.

Quando a gente vê as nossas influenciadoras, mulheres negras, que estão ali também ocupando os espaços nas redes sociais. Quando a gente vê a Ruth de Souza também ocupando a arte em uma época, inclusive, que era só para homens, homens brancos, onde nosso lugar na sociedade era ser a dona de casa, a mãe de família, a trabalhadora doméstica.

E a gente se colocar... Olha a Ruth, a ousadia da Ruth. Olha a ousadia da Leci. Leci, você abriu portas. Theodosina abriu portas para todas nós chegarmos nesta Casa. Então eu quero saudar. Uma salva de palmas para vocês que estão sendo homenageadas hoje, graças ao olhar da Leci, que abriu também este espaço. (Palmas.)

Porque, quando a gente chega aqui, é isso. A gente fica cutucando esta Casa, quando chega, e ficamos assim: “Opa, calma aí, mas não tem tal prêmio; mas não estão falando de nós aqui neste espaço; não estamos sendo questionadas lá no Orçamento”.

Então a gente muda essa estrutura quando a gente chega. Ainda é muito pouco. O avanço ao longo do tempo ainda foi muito pouco. Ao longo da história, somos apenas seis. Seis. Mas seis que fazem muito barulho. Seis que estão trazendo muito mais para este espaço.

Então é uma honra estar aqui hoje, Leci. Mais uma vez, quero saudar esta Mesa maravilhosa, todo mundo com muitas contribuições. Imagina você, sendo neta da primeira vereadora, deputada, aqui no estado... No Brasil ou é no estado de São Paulo? No estado de São Paulo.

Então você imagina, tem que chorar mesmo, mas o choro é de orgulho por ter essa avó maravilhosa. Então mais uma vez eu quero saudar e dizer que é uma honra estar aqui hoje.

Vou ter que sair correndo daqui a pouco, não é, Leci? Já avisei para a Leci, vou ter que sair correndo daqui a pouquinho, porque eu vou lá para Guarulhos fazer um dia inteiro de agenda. A gente não para, porque fazer política é isso, não é, Orlando Silva? Fazer política, gente, é ocupar os espaços, é falar com os nossos. E olha, me surpreende bastante.

Quando a gente fala “A política está mudando”, ela está mudando, porque, antigamente, tem o primeiro mandato e as pessoas falavam assim: “Nossa, nunca tive acesso a um deputado”.

Realmente, eu também vim ter acesso a um deputado, isso foi... Eu falo para a Leci sempre, eu vim em uma atividade que a Leci me convidou, acho que foi em 2018 ou 2019. Já vou concluir, meu amor.

Eu entendo esta Casa aqui... Sou do MTST, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. A gente vinha aqui e se manifestava, ficava aqui na frente, “tensionando”, querendo ocupar este espaço, querendo entrar, e não deixavam a gente entrar, viu, Paula? Não deixavam. Aí teve uma vez que, eu acho que foi em 2018, Leci, que você me convidou, teve uma atividade de mulheres aqui, e aí fui convidada. Entrei.

Então falei que nosso espaço, gente, é este. É para as pessoas olharem e falarem: “Opa, tem uma deputada negra; tem uma vereadora negra, que vai lá ao meu bairro falar comigo, porque ela é do bairro. Ela vai falar da violência doméstica porque ela também sofreu, viveu; vai falar do racismo, não na perspectiva de quem não viveu, mas daquela de quem vive na pele todos os dias”.

Falar da fome é entender que nós mulheres negras somos as vítimas da fome. Falar de uma política de habitação, é porque nós precisamos. Ainda estamos em uma sociedade em que ainda precisamos pautar a política de habitação, gente. Ainda estamos falando da fome, da fila do osso. Ainda estamos falando de ocupar esses espaços, então que bom.

Só tenho a saudar o estado de São Paulo por ter me colocado aqui dentro e por dizer que a gente está aprendendo muito. Hoje a gente está conseguindo se ver na nossa luta.

Muito obrigada, Leci, mais uma vez, por este prêmio. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Grata por suas palavras, deputada estadual Ediane Maria. E agora ouviremos a ilustre deputada estadual Paula Nunes da Bancada Feminista.

 

A SRA. PAULA DA BANCADA FEMINISTA - PSOL - Bom dia, bom dia a todas as pessoas presentes. Bom, o Orlando e a Ediane começaram a falar em pé, então eles vão me obrigar também a falar em pé. Bom que, como eu sou bem baixinha, ajuda.

Eu quero saudar todas as pessoas homenageadas, todas as mulheres homenageadas nesta manhã, em nome da Dra. Fátima Duarte. Assim como Ruth de Souza ajudou a realizar sonhos, a Dra. Fátima me ajudou a trazer ao mundo há exatos um ano e dois meses a minha filha Flora, que é o grande amor da minha vida.

Eu sei que a Dra. Fátima também segue lutando para transformar a vida de muitas e muitas mulheres, especialmente as mulheres com deficiência, para que tenham acesso a uma Saúde com dignidade. (Palmas.) Então quero saudar, em nome da Dra. Fátima, todas as mulheres homenageadas nesta manhã.

Dizer para vocês que esta medalha, criada pela deputada Leci Brandão, traz para a gente uma grande responsabilidade. Eu vou explicar por quê. O saudoso Nêgo Bispo tem uma frase, costumava dizer e escrever em oposição à ideia de começo, meio e fim, que, na verdade, o que existe é um começo, um meio e um começo.

Quando a Dra. Theodosina partiu, ela não deixou um fim, ela não pôs um fim. Nós temos, felizmente, um novo começo. A deputada Leci Brandão representou nesta Casa, décadas depois, um novo começo da ocupação das mulheres negras por aqui. E se Dra. Theodosina foi a primeira, a deputada Leci foi a segunda, no ano de 2010. Por oito anos, ela também esteve sozinha nesta Casa.

De 94 deputados eleitos, por oito anos, de 2010 a 2018, depois de uma ausência de décadas de uma mulher negra eleita, a Leci Brandão meteu o pé na porta desta Casa e ficou aqui, resistindo sozinha por oito anos, até que, em 2018, outras duas chegaram com ela. (Palmas.) Elas foram três no total. E agora, no ano de 2022, nós somos cinco, simultaneamente.

Ainda é pouco, pouquíssimo perto da nossa representação na sociedade, pouquíssimo perto da nossa representação como candidatas, pouquíssimo perto do que nós deveríamos ser em uma Casa que, infelizmente, ainda sustenta estruturas muito racistas de poder.

Então, quando eu vejo esta Mesa aqui, eu me emociono muito. Mas eu me emociono muito, gente, todos os dias, especialmente por pisar no mesmo chão que a Leci Brandão. Eu me emociono muito cada vez que eu me lembro que nós temos aqui a força que a Leci trouxe para a gente. Se a Dra. Theodosina abriu as portas, e a Leci Brandão representou esse novo começo, nós temos a responsabilidade de seguir com um novo começo.

Eu me emocionei muito quando a Tamysie disse que a Dra. Theodosina recebeu muitas homenagens em vida, porque, ano passado, a gente teve a oportunidade de entregar a mais alta honraria desta Casa, que é a Medalha de Honra ao Mérito Legislativo, para a Leci Brandão, reconhecendo tudo que ela contribuiu para o estado de São Paulo aos 80 anos.

Aos 80 anos de vida, nós conseguimos homenagear esta mulher que, felizmente, em vida, está recebendo todas as homenagens que ela merece. Mais do que isso, o nosso compromisso de continuidade.

Eu fico muito feliz e muito honrada de estar aqui hoje compartilhando esta Mesa com a Leci, de ser citada por ela, assim como as outras deputadas negras, toda vez que ela faz isso. Mas quero dizer para vocês que a Leci merece todas, todas e todas as nossas homenagens em vida. Eu fico muito feliz cada vez que a gente pode fazer isso.

Então eu quero encerrar pedindo uma salva de palmas muito forte para Leci Brandão, para que a gente nunca se esqueça, como nos ensinou o Nêgo Bispo, que nunca existe um fim; e, sim, um começo, um meio e um começo. A Leci representa este novo começo. (Palmas.)

Nós sempre seguiremos representando este novo começo. A ocupação das mulheres negras na política é um caminho sem volta. A gente meteu o pé na porta da Casa Legislativa, do maior Parlamento do estado de São Paulo, para nunca mais retroceder.

Obrigada, Leci, por tudo.

Obrigada, Theodosina, por tudo.

Vamos para cima, gente. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Grata por suas palavras, deputada estadual Paula Nunes. Agora ouviremos Totó Parente, ilustre secretário de Cultura e Economia Criativa do Município de São Paulo. (Palmas.)

 

O SR. JOSÉ ANTÔNIO TOTÓ PARENTE - Bom dia, eu queria rapidamente... Eu cheguei aqui de surpresa. Vim para outro evento, fiquei sabendo e fiz questão de passar aqui. Só saudar todos vocês. Queria saudar a deputada Leci Brandão pela sua história sempre de luta, como artista, como ativista.

Queria deixar aqui o meu abraço, saudar as minhas colegas de governo, Dra. Eunice Prudente, a secretária Regina Célia, saudar todos vocês e dizer que o prefeito Ricardo, quando me convidou, disse que eu seria secretário para capacidade de diálogo.

Então eu quero dizer que a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa está aberta a todas vocês, a todos os movimentos. Respeito o contraditório, respeito a diversidade, e é muito diálogo.

E só para dar uma boa notícia aqui, deputado, você que é um ativista desta luta, nós vamos fazer agora, no mês de abril, já o lançamento, o começo. Nós vamos transformar aquela rua em frente ao Memorial dos Aflitos, em frente à Capela dos Aflitos, em um bulevar. Nós vamos fazer já agora o bulevar, o prefeito autorizou. Nós vamos fazer antes. Enquanto não acontece o museu, nós vamos fazer a restauração da Capela Nossa Senhora dos Aflitos.

Eu sei que é uma luta sua. Nós já queremos agora, no mês de abril ou maio, começar também esse restauro. Muito obrigado, felicidades. E contem sempre com a Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada, secretário.

A nossa sessão solene de hoje é dedicada à Ruth de Souza, a grande dama do teatro brasileiro.

“Fiquei espantado e emocionado em ver que havia um talento capaz de fazer aquele papel aqui no Brasil. E esse talento foi o de Ruth de Souza. Orgulho nosso!”. Assim falou Abdias do Nascimento, fundador do Teatro Experimental do Negro, em depoimento sobre Ruth de Souza, quando iniciou sua carreira como atriz, em 1945.

Ruth se encantou com a arte de interpretar ainda menina, quando sua mãe a levava para assistir às operetas, peças teatrais e aos filmes no Cinema Internacional, futuro Cine Copacabana. Incentivada pela mãe, Ruth mergulhou no mundo mágico da interpretação.

A estreia de Ruth no cinema aconteceu em 1947, a partir da indicação de Jorge Amado para atuar no filme “Terra Violenta”. Seu talento permitiu que fosse estudar e estagiar na Karamu House, em Cleveland, no Estados Unidos, ocasião em que conheceu universidades, como Harvard e Howard, bem como a Academia Nacional de Teatro Americano, em Nova Iorque.

Em 1953, deu início à carreira na televisão, fez sua estreia em telenovelas com “A Deusa Vencida”, na antiga TV Excelsior, em 1965. No cinema, a participação de Ruth no elenco de “Sinhá Moça”, de Tom Payne, conferiu a ela projeção internacional, tendo sido indicada ao prêmio de “Melhor Atriz Coadjuvante” no Festival de Veneza, de 1954, concorrendo com atrizes como Katherine Hepburn e Michele Morgan.

Ruth de Souza não levou por apenas dois pontos para Lili Palmer. Por esse feito, Ruth foi a primeira atriz brasileira a ser indicada a um prêmio internacional de cinema. Esta indicação contribuiu para colocar o Brasil no radar do cinema internacional.

Neste momento, iniciaremos a “femenagem” a essas mulheres “maraviesplêndidas”, que se destacam na sociedade em razão da sua contribuição ao enfrentamento da discriminação racial, preconceitos, na defesa dos direitos das mulheres e cidadania no estado de São Paulo. Vale ressaltar que nossas “femenageadas” terão três minutos para sua saudação e agradecimentos, considerando o horário de término para realização desta sessão.

Agora, senhoras e senhores, aí sim nós vamos não quebrar, nós vamos fraturar todo o protocolo para iniciar a premiação destas mulheres constelares que fazem a diferença nesta sociedade, destas mulheres que são as homenageadas e receberão a outorga da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro, na edição Ruth de Souza.

Vamos começar com a nossa primeira “femenageada” do dia de hoje. Ela é mulher, negra, doutora na área socioambiental e artista brincante, multidisciplinar, cantora, compositora, atriz, dramaturga, produtora cultural e escritora de dois livros infantis, livro que lhe rendeu o prêmio de melhor espetáculo, Prêmio Escritas Pretas, de 2022, e prêmio APTR como melhor espetáculo infantil de 2021.

A nossa primeira “femenageada” recentemente foi indicada ao prêmio APTR 2024, por melhor atriz coadjuvante por “Leci Brandão - Na Palma da Mão”, musical. Ela é Verônica Bonfim. Venha, Verônica. Comece aí a sua saudação. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. VERÔNICA BONFIM - “A mãe da gente/ É um caso diferente/ Muito mais que comovente/ Que não dá pra comparar/ O que eu sei/ É que tudo que eu sou/ Simplesmente é o resultado das coisas/ Que dona Leci me ensinou/ Das coisas...” (Palmas.)

Esse texto é presente da dona Leci. Esta blusa é presente da dona Leci, assinada por ela. Coração do nosso pai Ogum. Bom dia a todos, todas e todes. Peço licença aos meus mais velhos, aos mais novos. Peço licença a todos que estão aqui hoje. Peço licença para, neste dia de Oxalá, nesta sexta-feira, também quebrar o protocolo e usar verde em homenagem ao Sr. Rei das Ervas, Axé, Okê.

Eu sou, para quem não está conseguindo me ver, eu sou uma mulher negra, de estatura alta, corpo esguio, estou usando um turbante, também verde, na cabeça, e um blazer verde, uma roupa toda branca e um brinco dourado com pérola. E na mão eu tenho um terço e uma blusa de Ogum, presente da dona Leci, que anda sempre, sempre, sempre onde eu vou, comigo, me protegendo.

Estou muito emocionada, eu peço perdão por isso, mas eu vou tentar, tá? Quero saudar a dona Leci Brandão e agradecer seu legado e sua caminhada, que justifica, ressignifica e reafirma todos os dias a minha.

Quero saudar a Mesa e o orgulho de ver tantas mulheres negras na política hoje, graças à Dra. Theodosina Ribeiro e a tantas outras que vieram antes. Quero saudar, em memória, a Dra. Theodosina e saudar a dona Ruth de Souza, que também é por causa dela que estou aqui hoje.

Sou uma artista negra e lésbica, uma “artivista” negra e lésbica em movimento, e, se estou aqui hoje, é porque a dona Leci veio antes, é porque muitas vieram antes e me permitiram o direito de sonhar.

O direito de sonhar me trouxe até aqui, e é por causa de uma mulher da envergadura de dona Leci, que é maior, talvez, do que o Brasil, este País de dimensão continental, que nós, mulheres negras, podemos sonhar também.

Há um tempo atrás, há uns anos atrás, eu cultivava o sonho de contar a história de dona Leci no teatro, mas, por falta de tempo, porque nós, mulheres negras, nunca recebemos nada de graça, somos herança.

Eu costumo dizer que não somos herdeiras de patrimônio monetário, somos herdeiras de um patrimônio absurdamente rico e vasto, que a gente doou a este País, mas não somos herdeiras de patrimônio monetário, a gente tem que arrombar a porta e meter o pé na porta para conquistar alguma coisa. Tudo é luta para a gente.

Então, nunca tive dinheiro, mas eis que fui presenteada, três anos atrás, com um espetáculo chamado “Na Palma da Mão Musical”, graças a Luiz Antônio Pilar, meu diretor, e Bruno Mariozz, produtor desse trabalho, que me convidaram para integrar, para fazer a mãe de dona Leci, a dona Lecy de Assumpção Brandão, dona Lecy com “Y”.

Então, há três anos, venho sendo abençoada por esse trabalho, e esse trabalho me possibilitou uma conexão mais profunda com a dona Leci e um carinho mútuo, recíproco, que a gente vem alimentando. Então, sou muito grata por isso.

Quero agradecer também a esta medalha e falar da importância do reconhecimento e valorização da nossa caminhada, que não é só minha. Quando subo até aqui, dona Leci - e muito obrigada por esta iniciativa -, não é sobre Verônica Bonfim e o que a gente vem movimentando.

É sobre muitas mulheres, muitas que vieram antes de mim, e tenho muito respeito por esse chão que piso. Tenho muito respeito a todas que vieram antes. Onde vão meus pés é honrando todas essas mulheres que vieram antes de mim e que pavimentaram esse caminho de que tenho tanto orgulho.

Quero parabenizar todas as mulheres homenageadas aqui hoje e dedicar a todas que vieram antes, a todas que estão e as que ainda virão. Tantas crianças lindas aqui. A todas que ainda virão. Quero saudar e parabenizar todas elas.

Receber esta homenagem é honrar minhas ancestrais, é honrar minhas avós, dona Leci, minha vovó Domingas, uma mulher preta, filha de pessoas africanas escravizadas neste País e que lavava roupas no Engenho Velho da Federação para alimentar oito bocas. Sendo que a primeira delas, o mais velho, meu pai, o primeiro médico na família, o primeiro homem negro da família a romper um ciclo de subalternidade.

É honrar minha vovó Tomásia, que foi uma mulher cabocla, do sertão da Bahia, filha de mulheres indígenas estupradas e escravizadas neste País também, lavradeira de terra, semeava, cultivava, plantava para sustentar 16 bocas, sendo que a primeira delas, minha mãe.

Então, é honrar todas essas mulheres e é honrar minha mãe, Dona Zio Bonfim, que é para quem eu faço tudo também. Assim como a senhora faz tudo em homenagem à sua mãe, dona Leci, tudo o que eu faço é por ela. E, inclusive, quero encerrar falando da minha...

Fui presenteada com o espetáculo, mas o meu sonho de te homenagear - eu, pessoalmente - seguiu. Então, este ano, agora, lanço um livro infantil para homenagear a dona Leci. Eu sou escritora de dois livros infantis, e o terceiro vai ser “Juju e as Coisas que a Mamãe lhe Ensinou” para homenagear a minha mãe, com os ensinamentos que ela me deu, e a senhora, com tudo que a senhora tem entregado e doado para este País.

Eu vou também, com muita fé em Deus e nos Orixás, estou tentando um projeto para aprovar um musical infantil a partir deste livro, para contar para as crianças o nosso legado, porque não tem nada mais importante do que a gente homenagear os nossos mais velhos e mais velhas em vida, celebrar a nossa existência em vida.

Então, eu te celebro todos os dias. Eu agradeço a Deus, aos meus Orixás e à dona Lecy, com “Y”, porque eu tenho absoluta certeza, dona Leci, de que nesses três anos de espetáculo não teve um dia em que eu não pisei naquele palco sem pedir licença à senhora e a ela, para contar a sua história e cantar a sua história, o que me honra imensamente.

E agora, com este livro infantil e este espetáculo que vai vir aí, a minha oferenda pessoal à sua trajetória, à sua história, que, graças a ela, eu estou aqui. Minha mãe te manda um beijo, e eu também.

Muito obrigada.

Muito axé. (Palmas.)

Obrigada, gente.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Dando continuidade à nossa constelação de mulheres “femenageadas”, eu quero chamar ela, que é advogada, professora, doutora pela PUC de São Paulo, sócia do escritório Brito e Vanzolini Advogados, mas, mais do que isso, rompeu uma história de 93 anos e foi a primeira presidenta da Seccional Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, a maior entidade da advocacia das Américas.

Eu quero chamar essa mulher, que, como primeiro ato, criou a paridade de gênero e raça para que a advocacia de mulheres e advocacia negra pudesse sonhar e ingressar nos quadros do Quinto Constitucional no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Eu chamo Patricia Vanzolini. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. PATRICIA VANZOLINI - Bom dia a todas as pessoas, cumprimento aqui a todos os presentes, na pessoa da deputada Leci Brandão.

Vou começar também com a minha autodescrição, eu sou uma mulher branca, baixinha, cabelos brancos, presos, um vestido verde também - não combinamos, mas estamos na paleta - e me sinto muito emocionada aqui neste ambiente e com este evento e com este cenário

 Estive, durante a minha gestão, várias vezes aqui na Alesp, e eu tenho que dizer, deputada Paula, deputada Ediane, que esse clima, esse ambiente de fato torna tudo diferente e torna o clima tão caloroso, tão acolhedor. Eu fico realmente muito, muito emocionada, sentindo esse poder, sentindo essa força, essa força, deputada Leci, que é a força do sonhar, é a força do se permitir sonhar.

Portanto, a minha palavra aqui é de gratidão e fico muito feliz de estarmos aqui, mais uma vez, deputada Paula, deputada Ediane, deputada Leci, no lugar em que o mundo pode mudar. Claro que nós podemos mudar o mundo lá fora, mas aqui é que se constroem as regras que depois vão ser aplicadas pelo Executivo, pelo Judiciário.

Então saber que nós estamos aqui acalentando e alimentando sonhos, alimentando projetos, alimentando esperança de um mundo melhor e mais justo, de fato enche meu coração de esperança.

Para aqui ficar em algo propositivo, eu acho que aqui nesta Casa, se a gente focar em combate à violência, à violência contra a mulher e ao racismo, como uma prioridade, aliás, a primeira vez na minha gestão que eu estive nesta Casa foi justamente para trazer a proposição de cassação de um deputado que havia praticado uma conduta machista, misógina, e nós tivemos a adesão de todas as deputadas, de todas as bancadas, de todos os espectros em torno dessa pauta.

Também a promoção e o fomento de ações afirmativas, Cláudia Luna, como nós fizemos ali na OAB, porque nós sabemos que o mundo não é igual, a igualdade é diferente de equidade, e é preciso promover condições igualitárias para que as pessoas possam participar nos espaços de poder. E combate a toda forma de desigualdade.

Hoje eu tenho muita convicção de que a distribuição desigual da política e da promoção do cuidado, do cuidado doméstico, por exemplo, é uma das bases mais importantes para a desigualdade, depois salarial, desigualdade das mulheres na política.

Isso tem que ser combatido através, deputada Leci, de políticas públicas, através de orçamento. Não adianta a gente ficar falando de combate à violência contra a mulher se o Orçamento é esvaziado para esse tipo de política. Não adianta a gente falar de combate ao racismo se a gente não tem dinheiro e política pública para fazer isso.

E aqui são vocês que vão controlar e determinar - junto, obviamente, com o restante dos deputados e deputadas - as políticas públicas que vão poder, de fato, mudar o mundo.

Então, com essa esperança e com esse compromisso reafirmado de que tenham em mim, agora conselheira federal da OAB, representante da OAB, no Conselho Nacional também do Ministério Público, no CNMP, tenham em mim uma aliada e a minha eterna gratidão.

A todas e todos que aqui estão; à deputada Leci, à minha querida amiga Cláudia Luna, que fez essa generosidade aqui de trazer meu nome; à Rozina, que teve toda a paciência comigo, minha agenda aí complicada, mas que me acolheu de braços abertos; aos meus pais, e eu preciso também falar deles, porque foram pessoas que me ensinaram a sonhar, foram as pessoas que aos 23 anos, deputada, tiveram que sair do País, porque ousaram sonhar com um país democrático que não havia naquele momento, e por isso eu nasci em Santiago do Chile.

Porque meus pais, a eles não foi dado ficarem no Brasil naquele momento, e lutaram por uma democracia que parece que não, mas ainda está em risco e tem que ser defendida todos os dias. (Palmas.)

Mas o que a gente sabe hoje é que, embora coisas tão básicas como a democracia, o funcionamento das casas congressuais, o funcionamento do Supremo, tudo isso esteja e tem estado num risco muito grave, essa democracia é imprescindível, mas ela não basta, porque não há democracia se não for para todo mundo; não tem liberdade, não tem democracia se houver uma parcela da população excluída, subjugada, alijada. Democracia tem que ser para todas e todos; senão, não é democracia.

Então, muito obrigada e gratidão. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - E agora a nossa terceira “femenageada”, ela que é médica, ela que é mãe da Irê, não-binária, compositora, escritora, tradutora e editora na Padê Editorial, livros pretes, LGBTQIAP+, mergulha, sentido, melodia, silêncio, ruído em looping, numa reengenharia de sonhos, pensamentos, afeto, negritudes.

Ela que tem 17 livros publicados, foi finalista do Jabuti de poesia em 2022, foi vencedora do Prêmio Pallas de 2024, idealizadora do primeiro Slam das Minas e da primeira formação sobre privilégio branco no Brasil e, como fundadora da Editora Padê, publicou a maior coleção de literatura LGBTQIAP+, publicada até então por uma editora brasileira na coleção Escrevivências.

Eu convido para receber a medalha Dra. Theodosina Rosário Ribeiro, a Sra. Tatiana Nascimento. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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SRA. TATIANA NASCIMENTO - Tem uma história que diz que Otin teve um sonho, e foi por causa desse sonho que Otin não passou fome, não passou frio, não passou solidão; e foi por causa desse sonho que Otin foi reconhecido como quem era, e não a partir do que as pessoas liam de seu corpo e de sua genitália. Otin foi encontrado na mata. Estava perdido e foi acolhido por Oxóssi, que ensinou a ele o ofício de caçador e nunca questionou sua identidade de gênero.

Esse “itan”, essa história, ensina para a gente que os sonhos de autodeterminação das pessoas pretas são ancestrais, assim como as nossas existências. Por isso, achei muito emocionante ouvir da própria Leci Brandão uma defesa que afirma o nosso direito humano e, portanto, o nosso direito preto de sonhar.

Assim como o orixá Otin, eu e outras pessoas negras não-binárias e trans sonhamos em ser reconhecides e respeitades como somos, pessoas. Então, eu recebo esta medalha com muita gratidão à Leci Brandão pelo seu legado, aos movimentos de mulheres negras, de feministas negras, de lésbicas sapatonas negras, que são as nossas abasas, nossas mais velhas, nossas ancestrais, na negação das imposições e limites do binarismo colonial de gênero. Foram elas que primeiro disseram assim: “ué, gente, mulher não é igual à branquitude, não, e também mulher não é igual à heterossexualidade”. Que interessante, né?

É esse legado que permite a gente, pessoas negras não-binárias e trans, poder viver a partir do sonho da autoafirmação da nossa existência.

Gratidão e bom dia.

Sem anistia para fascista! (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - E agora, dando continuidade às nossas mulheres magníficas, “femenageadas” do dia de hoje, nós vamos receber agora ela que é médica ginecologista, obstetra, sexóloga, médica com título de especialista em ginecologia, obstetrícia e sexologia, e que desenvolveu um trabalho magnífico na Saúde, retirando da invisibilidade as mulheres gestantes e mães com deficiência.

Vamos receber ela, que foi a Medalha Ruth Cardoso de 2018, Dra. Maria de Fátima Duarte. (Palmas.) Ela que criou a Roda, o Ambulatório Sábado Sem Barreiras, o primeiro, o primeiro ambulatório público para atendimento a mulheres com deficiência. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. MARIA DE FÁTIMA DUARTE - Muito bom dia, muito obrigada. Queria cumprimentar a Leci Brandão e, em seu nome, todas essas mulheres maravilhosas.

Eu sou filha de um pedreiro e de uma mulher que nunca foi à escola, que atravessaram o Oceano Atlântico, saindo de uma ditadura, procurando para os seus filhos liberdade e estudo. Todos os dias eu atendo mulheres que têm medo de ter nascido, vergonha de viver e são tristes, porque não sabem morrer.

Mas essas mulheres que eu atendo também são altivas, corajosas, capazes de formar pontes, e, se nós formarmos pontes, nós atravessaremos quaisquer rios. Todo dia eu atendo mulheres que se perdem no labirinto da mamografia, que morrem de morte matada, que morrem de morte evitada, principalmente quando o serviço de saúde falha quando elas mais precisam. Principalmente as mulheres negras, periféricas, porque os túmulos da cidade de São Paulo não são democráticos. Os túmulos não são democráticos. (Palmas.)

Nós, mulheres; eu quero atender mulheres, mulheres brancas, negras, quilombolas, indígenas, de todas as orientações sexuais, mulheres jovens, mulheres idosas, com consultas que não durem dois minutos, com consultas que olhem nos olhos, com consultas que atendam com o coração, que abram os ouvidos.

Que entendam o quê? Que essa mulher tem cabelo diferente, tem boca diferente, tem cor diferente, essa mulher tem deficiência, essa mulher com deficiência tem que ser atendida muito mais do que a sua deficiência, com equipamentos sociais. (Palmas.)

Que entendam que ela não precisa ser carregada, ela tem que ser atendida com equipamentos, e nós tivemos esse equipamento por mais de 12 anos. Esse equipamento deixou de existir, e nós queremos que ele volte, porque aí essas mulheres podem ser entendidas para além das suas diversidades.

Eu acredito que se dobrar sobre si mesma é a maior forma de ficar doente. E a mulher precisa ser atendida em todas as fases da vida, porque a planta é a planta inteira, a flor é a flor inteira, e a mulher, mesmo quando não tem mais perfume, ela mantém as suas pétalas.

Nós, mulheres, queremos ser atendidas, queremos ter direito a dizer “sim”, direito a dizer “não”, ao prazer, à liberdade sexual, porque mulher, liberdade, direito, democracia, são palavras sagradas demais para serem ditas só com a boca. Precisam ser ditas com gestos, com políticas públicas.

E é nisso que eu acredito, é nisso que eu confio e é por isso que eu luto.

E viva as mulheres, e viva as mulheres brasileiras. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - E a nossa quinta “femenageada” é autora do livro “Quem é Negra/o no Brasil?”, editado pela Dandara.

Ela é doutoranda em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, pelo Diversitas. Ela é socióloga pela Universidade Federal Fluminense e, além disso, ela tem a sua atuação especialmente na análise dos métodos e processos de heteroidentificação que conduzem às políticas públicas com recorte racial e seus impactos.

Ela, que foi vereadora eleita em 2024 por Taboão da Serra, pelo Partido Comunista do Brasil, PCdoB, foi a mulher mais bem votada para o Legislativo daquele município. Convidamos neste momento, para receber a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro, a vereadora Profª. Najara Costa. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. NAJARA COSTA - Uma honra, Leci, estar aqui. É uma honra retornar a esta Casa depois de ter sido codeputada estadual aqui num coletivo, eleita com mais de 100 mil votos. Abdiquei deste espaço, porque acredito que a gente precisa, sim, fazer política na periferia. Fui à cidade onde nasci e fui criada para fazer campanha, e estou vereadora em Taboão da Serra, a mulher mais bem votada da cidade.

E uma construção política que a gente tem base olhando para isso, para a construção que a gente quer para a nossa vida. Eu sou filha de um pai analfabeto, que morreu também pelo sistema de saúde, por negligência; de uma mãe que foi até a terceira série do Ensino Médio, porque teve que cuidar da família, dos mais velhos, dos mais novos - mas pessoas que sempre me orientaram a estudar.

Por isso que eu sou uma obcecada pelo estudo. E o estudo e a importância de sonharmos fizeram com que estivéssemos aqui e rompêssemos algumas barreiras, sendo também a primeira negra, como tantos aqui, a entrar na universidade, e a primeira mulher negra também da periferia a estar como vereadora em Taboão da Serra.

Dizer, Leci Brandão, que esta Medalha Theodosina Ribeiro, que a gente acompanha há tanto tempo, a Theodosina tendo sido vereadora eleita, mulher negra, a primeira em São Paulo, e depois a primeira mulher negra eleita como deputada estadual aqui na Alesp, sempre é uma grande referência no quesito de que você, Leci Brandão, foi a segunda mulher negra eleita aqui e sempre foi essa referência, tanto com relação à Cultura quanto com relação à política.

E nós estarmos juntas neste espaço por um ano e hoje estarmos no mesmo partido - o PCdoB, que fez 103 anos esta semana, e que tem uma construção política que se confunde com a própria história da democracia brasileira - é uma honra imensa. E eu me emociono em muitos momentos em estar presente aqui com tantas mulheres que têm tantas construções fundamentais para a nossa vida.

A gente está com uma luta muito grande na cidade de Taboão da Serra contra a escola cívico-militar. Essa luta começou aqui na Alesp, com estudante sendo preso, com professor também sendo aí combatido por lutar pelos direitos. E essa luta se remete ao nosso povo preto, que tem morrido na periferia, que tem sido negligenciado, uma luta pela Educação, uma luta pela valorização.

Então, a gente hoje se remete a tantas políticas que são importantes na base e que a gente precisa consolidar essas políticas também pelo estado de São Paulo, pela esfera federal.

E pensar também como a gente aglutina em tempos tão sombrios, em tempos onde a extrema-direita tem feito tanto desserviço no âmbito das periferias, a gente organizar o nosso povo para que estejamos presentes aqui neste espaço, para fazermos a política que precisa ser feita.

A política nessa convivência que também é uma convivência cidadã a partir da sua música, a partir da sua história, das suas letras e daquilo que você constitui enquanto ser humano representativo, representando aquilo que a gente tem mais de orgulho que é estarmos juntas em contextos tão adversos e em espaços onde somos negligenciadas e em que a gente precisa se organizar.

Então, agradeço muito por estar presente neste espaço, agradeço por esta medalha, honro esta medalha e todas as pessoas que vieram antes e que construíram isso, para que possamos também abrir caminhos para as novas que virão e que vão constituir também este espaço.

Muito, muito, muito obrigada, madrinha, deputada Leci Brandão. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Parabéns, professora e vereadora Najara Costa. E agora, dando segmento a esse grupo de mulheres “maravisplêndidas”, nós teremos agora a nossa sexta “femenageada”, ela que é líder religiosa do Ilê Alaketu Asé Osun Emin L’Oya, falei corretamente?

Filha de Iemanjá, ela - está escrito de Iemanjá aqui, então Oxum Iemanjá, me desculpe - filha de Oxum. Ela, que é idealizadora do projeto Vestindo com Amor, que arrecada e distribui roupas para pessoas em vulnerabilidade social, e do projeto da Cufa, onde ela é parceira da Central Única de Favelas.

Ela que é membra fundadora do Fórum de Religiões de Matriz Africana, no município de Suzano, onde realiza, enquanto influencer, para combate à discriminação e intolerância religiosa, ela faz essa sua luta. E, para receber o prêmio, a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro, na edição Ruth de Souza, chamamos a ialorixá Jô Sant’Ana, a Sra. Jonise Santana.

Vai que é sua, vamos lá. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. JONISE SANT’ANA - A benção para quem é de benção, a todos que estão aqui. Sou péssima com palavras, com falar em público. Sou boa em dar ebó, gente, nisso eu sou boa, agora em falar com muita gente assim, é difícil. Peço desculpa então pela minha imaturidade, nas falas aqui, pessoas tão experientes, com palavras tão calorosas.

Mas primeiramente eu queria dizer assim que é indizível a minha emoção de estar aqui hoje. Quando eu recebi o comunicado de que eu seria homenageada, eu parei assim, passou um filme na minha vida, sabe? Passou um filme na minha mente, o que me traz até aqui, o que me trouxe até este momento?

Eu sou uma mulher, eu sou uma mulher de terreiro, sou uma líder religiosa, e a minha luta é gritante. Quem sabe, quem convive, quem vive no mundo, sabe a luta que é, não só por ser mulher, mas por ser uma mulher de terreiro. E eu, gente, eu vou ler, porque eu sei que está aqui hoje a minha luta diária, a minha luta para ter voz, para exercer o direito de professar a minha fé. E eu pensando, sabe, eu só... Remete-me sempre ao governo anterior.

Eu acho que, dentro da minha geração, a pior fase para o povo de terreiro foi o governo anterior. Um governo que respaldava as pessoas a nos atacar, respaldava as pessoas a nos ferir, a nos matar.

Pessoas chegavam até o povo preto, o povo de santo, achando que estavam no direito de nos apagar, nos violentar, porque eles estavam respaldados, baseados nas palavras de um governante fascista, que não governava para uma nação, governava só para os próprios interesses.

E, sentindo este momento, sentindo na minha pele, sentindo na minha alma o dever de gritar, o dever de lutar para que eu não fosse resumida a nada, para que nossa história não se apagasse. O que o Ilê Alaketu Asé Osun Emin L’Oya, do qual eu sou a Mãe de Santo... a gente entendeu que precisamos não lutar só pelo povo preto, só pelo povo de terreiro.

Existem pessoas na sociedade que precisam também ser vistas, pessoas em situação de vulnerabilidade social, que elas são “morríveis” aos olhos do governante, pessoas que são invisíveis. Então, todos os projetos que o meu Ilê idealiza e realiza são voltados para isso, para dar dignidade àquelas pessoas que estão excluídas da sociedade. E todos os meus projetos, todos os projetos da nossa casa, eles levam o nome de Rubi.

Rubi, ela é uma criança ancestral, é a minha criança ancestral. Quem é da religião entende, é uma erêzinha que me ensina muito, todos os dias, o que é amar ao próximo.

A Rubi me ensinou uma frase que não é dela, mas através dela eu aprendi que “as mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam”. E eu levo isso para a minha filosofia de vida.

E é a ela, à Rubi, que eu quero dedicar esta medalha. A Rubi é a minha criança interior, a minha criança exterior, ela é o que me ensina e o que me dá força todos os dias para lutar pela minha religião, para lutar pelos projetos sociais, para estar diante de uma sociedade que o tempo todo é virada contra nós, contra mim, contra o povo de terreiro.

E esta medalha eu quero dedicar a ela, porque fazer o que eu faço todos os dias é extremamente difícil, é extremamente complicado, a gente não tem base, a gente não tem ajuda mínima. Eu venho de uma cidade que não é nem voltada, nem lembra que existe o povo de terreiro. Outro dia o pessoal foi ver o censo, e são milhares de casas de axé na minha cidade, milhares.

Suzano não é uma cidade muito grande, mas é uma cidade do interior, e as casas de axé sempre se localizam em cidades do interior. E lá no censo do IBGE tem 13 casas registradas, gente, como se só tivessem 13 terreiros em Suzano. Isso é uma vergonha, porque todo mundo tenta apagar a gente o tempo todo.

E a Rubi, ela me... A vontade de ser quem eu sou, a vontade, ela é minha, a vontade de ser quem eu sou, ela é minha, mas a coragem vem toda dela. Leci, eu preciso agradecer à senhora, ao seu mandato, por dar voz e dar visibilidade ao povo de terreiro e eu peço, rogo a mãe Oxum, a mãe Iansã, que ela ilumine a sua caminhada, que ela sempre inspire pessoas a ser como a senhora. 

Eu sou muito grata também ao Sagrado Ancestral por fazer parte de um mundo com mulheres maravilhosas, que estão aqui para agregar, para nos dar as mãos e nos fazer crescer todos juntos.

Gratidão, Leci. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - A nossa próxima “femenageada” é mãe atípica solo, mulher guerreira, professora de filosofia da rede pública estadual, pedagoga, que tem se dedicado como ativista dos movimentos sociais e culturais há quase duas décadas e está à frente da luta pela implantação de um Instituto Federal no Jardim Ângela. 

Ela compõe a coordenação do Café Filosófico da Periferia junto à Comitiva da Casa Popular de Cultura do M’Boi Mirim e compõe a coordenação do Núcleo de Educação Popular 14 de Novembro com cursinhos populares para jovens da periferia da zona sul de São Paulo. 

Nós estamos falando da professora Jaiane Estevam, que neste momento recebe a Medalha Dra. Theodosina Ribeiro. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. JAIANE ESTEVAM - Eita, que encrenca. Eu estava dizendo à minha mãe agora, assim: eu não sei nem o que falar, porque toda vez que eu vim aqui foi para brigar. Como é que eu vou fazer para agradecer?

Então, mas eu vou dar um jeitinho. Leci inventou, eu estava olhando aqui a Mesa, olhando para Leci, olhando para o Orlando, pensando assim: meu Deus, só me lembro deles na rua, sabe?

Lá na nossa quebrada, lá na nossa favela, visitando o povo, ajudando a comunidade, fazendo política de base. E é muito raro ter político assim no Brasil hoje. Em 2025, político que sai fora de campanha eleitoral para ver o povo, para ir em favela, para ir em quebrada.

É uma honra a gente ter gente assim na nossa frente falando por nós. Então, são glórias e palmas só para eles, mesmo, hoje, porque nós estamos aqui graças a essas políticas que eles seguram. Obrigada, Leci. (Palmas.)

Bom, eu vim da zona sul de São Paulo, do distrito do Jardim Ângela, da região considerada a mais perigosa do mundo. Por muitos anos, para chegar na escola, a gente tinha que passar por cima de corpos assassinados todos os dias na nossa região.

O famoso “triângulo da morte”: o Jardim Ângela, o Capão Redondo, o São Luís. Capão, a terra dos Racionais, que todo mundo se deslumbra com o que eles cantam, mas era a nossa realidade, era o nosso dia a dia.

Não há fantasia, não há eu-lírico. Era o que nós vivíamos e o que, na última gestão presidencial, nós voltamos a viver. Eu lutei durante muitos anos ao lado do Padre Jaime Crowe, que liderou muitas lutas pacifistas no nosso território, teve a ousadia de atravessar a ponte para chegar na periferia e fazer política para o povo. O local que ninguém pisava, médico não queria ir, deputado não queria ir, professor não queria ir, mas ele estava lá lutando ao nosso lado.

Faleceu recentemente e ainda é o percursor de muitas lutas que nós travamos para o nosso território. Eu represento as famílias atípicas, sou mãe da criança mais fabulosa do mundo, o amor da minha vida, o Miguel, cinco aninhos. Uma criança autista tão invisibilizada na nossa cidade, no nosso estado, no nosso país, com tantas lutas que travamos para os direitos dos autistas.

Represento os trabalhadores da assistência. Hoje faço parte do Núcleo de Crianças e Adolescentes, o CCA Santa Dulce, no nosso território. Trabalhadores da assistência de São Paulo que lutam tanto para salvar vidas todos os dias, às custas de duras penas da invisibilização do nosso município e das autoridades que fazem questão de deteriorar o trabalho que a Assistência Social faz hoje.

Represento famílias periféricas, sou filha de uma nordestina que veio para São Paulo do interior da Paraíba, de um mineiro que chegou aqui para ajudar a construir esta cidade, fazer ela ser o que é. Famílias pobres, descendentes de negros, de indígenas, que todos os dias levantamos para dizer: não, nós não vamos morrer hoje! Mais um dia de vida é mais um dia de luta.

Represento professoras e professores do estado de São Paulo que têm sofrido uma verdadeira guerra contra as políticas educacionais deste estado, que têm nos colocado em uma trincheira para lutar todos os dias para salvar a Educação pública digna e de qualidade deste estado, onde o sucateamento das escolas públicas tem virado criminoso. Saúdo os meus colegas professores, professoras, meus estudantes.

Ontem eu dava aula de Revolução Francesa na minha sala e, no meio da aula da Revolução Francesa, coloquei ali a nossa letra dos Racionais MC’s, para eles entenderem como que nós dialogamos com o movimento de resistência e de luta, e o que nós somos à frente de tudo isso.

Represento a Frente Jardim Ângela Pela Implantação do Instituto Federal no território considerado o mais perigoso do mundo, onde clamamos, em todos os níveis das autoridades deste país, para que seja implementada uma universidade na quebrada mais pobre, vulnerabilizada e esquecida do nosso território. (Palmas.)

Represento os educadores de cursinhos populares que tanto lutaram neste país para conseguir tirar jovens lá do meio da quebrada, da favela, e colocar dentro da universidade, o local que foi feito para eles nunca pisarem.

Cursinhos populares que estão aqui lutando por educação superior para os pretos, pobres, afrodescendentes, periféricos. Antes de Enem, antes de Prouni, antes de Fies, antes de todos os programas de inclusão, nós estávamos lá e vamos continuar estando. (Palmas.)

Queria convidar aqui para chegar mais pertinho de mim, porque eu estou num espaço onde eu nunca estive antes, de fortalecimento, uma Mesa majoritariamente formada por mulheres pretas, um corpo majoritariamente formado por mulheres de linha de frente de todas as lutas que sustentam este país como ele é.

Então, eu queria chamar, um “cadinho” dos meus minutos aqui, algumas mulheres que vão ajudar a gente a conseguir sentir esse corpo de fortalecimento. Queria chamar Nilda Neves, do nosso território, lutadora do movimento de moradia e habitação. Ainda agora ela escapou, foi pegar ali uma autoridade e chamá-la aqui para resolver. (Palmas.)

Queria chamar Rayane Braga, trabalhadora da assistência, que atua no nosso território todos os dias para salvar a vida daquela população. Professora Flávia Cristina, representante da Educação municipal de São Paulo, que não tem uma paralisação, uma greve que essa mulher não esteja lá de frente.

E queria chamar a minha mãe, que é tudo para mim, cuida do meu filho, cuida de mim, da nossa família. Venha, Dona Gil, paraibana não se esconde, não. Chegue aqui. Um buquê desse aí é nosso? Cadê um? Dê um aí para mim? Vamos antecipar que nós quebramos o protocolo todo dia?

Já tem um aqui? “Oxê”, a carreira é lá no final, olha. E aqui a gente faz uma representação. (Palmas.) Eu estou tremendo, mas vou falando, que é três minutos. Não é 30, não é, Jaiane? Porque eu sou acostumada a falar os 30 mesmo.

A minha mãe quebradora-de-protocolo-mor; lá na Paraíba nós não temos dessas coisas, não. Agradeço a todas e a todos, aos professores que trabalham comigo, aos educadores, aos trabalhadores do CCA Santa Dulce, em nome do Padre Ivaldo, fundador da entidade, e a todas vocês que estão aqui.

 

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- São entregues as homenagens.

 

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É muito lindo ver um púlpito formado, ver um corpo, um pleno formado por mulheres, muitas donas de casa, muitas pessoas que possivelmente nunca estiveram aqui na Alesp. Eu sou, porque muitas foram, e nós vamos continuar sendo. “Tamo junta”. Todo o poder às mulheres deste país.

Muito obrigada, gente. Vocês estão tirando um retrato aí, né? Que eu tenho que levar lá para a minha cidade. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Aproveitamos a oportunidade para anunciar as ilustres presenças de Maura Soares Barbosa, secretária adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de Guarujá; do Sr. Rovilson Britto, presidente estadual do PCdoB; do Sr. Cristovam Cardoso Júnior, presidente da Associação das Baianas de Acarajé do Estado de São Paulo; da Sra. Elaine Sabino do Nascimento, presidente da Associação Mulheres e Amigos Neide Sabino e mãe da Cufa Zona Leste Jardim Arizona Pantanal; da Sra. Izaura Panfili, presidente da Associação dos Destaques das Escolas de Samba do Estado de São Paulo. (Palmas.) Obrigada a você, orgulho. Então agradecemos à Profª. Jaiane Estevam.

E chamamos agora ela, que é a nossa oitava “femenageada”, que é mulher, negra, mãe, educadora, formada em comunicação social, com habilitação em publicidade e propaganda, mas não parou por aí.

É graduanda em serviço social e faz da sua maternidade um motor político para promover a defesa de políticas voltadas para crianças, adolescentes e jovens, e assume o seu compromisso de vida com o futuro das novas gerações, fazendo do seu lema luta por igualdade e melhorias pelo bem de toda gente, e pautada no diálogo com a comunidade.

Ela, que foi eleita vereadora em 2024 pelo PCdoB, foi a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira no Parlamento municipal de São Carlos. Quero chamar a vereadora Larissa Camargo, para ser “femenageada” pela Medalha Theodosina Rosário Ribeiro, na edição Ruth de Souza. Com a palavra, a ilustre vereadora Larissa Camargo. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. LARISSA CAMARGO - Bom dia a todas as pessoas presentes, todos os que nos assistem também. Que honra estar aqui e que difícil falar com esta voz embargada, com uma vontade de chorar, emoção. Eu sou chorona mesmo, o Beto até fala que eu choro fácil.

Mas eu quero, primeiramente, agradecer por esta honra, por este convite. Até brinquei, gente, mas juro, eu mesma? Tanta gente com trajetória, com caminhada muito maior que a minha, mas era a minha hora, não é?

Estou aqui para agradecer, estou extremamente honrada. E honrada também por aqui estar comigo os meus pais, a minha família, porque não tem sentido receber uma honraria desta se eles não estivessem aqui. E aí eu brinquei que a gente veio de balde, de comitiva, e viemos mesmo. Os meus amigos também estão aqui, os meus colegas de partido.

E quero dizer que acho... que honra também poder, as minhas filhas aqui, com seis e três anos, ouvirem falar de Ruth, ouvirem falar de Abdias, nessa idade ainda da infância. E eu só fui conhecê-los na vida adulta e ainda depois da faculdade, porque sempre nos foi furtada a nossa verdadeira história.

O que nos contaram era que nós tínhamos ali uma herança de escravização, que tinham descoberto o Brasil, e nunca contaram quem foram, na verdade, os verdadeiros heróis da nossa história.

E aí Ruth tem essa responsabilidade de trazer a arte, de desmitificar padrões de beleza, padrão daquilo que é aceitável dentro de uma sociedade racista, fascista e desumanizada; e, Theodosina, a responsabilidade de quebrar paradigmas dos espaços de poder.

E aí, dentro dessa perspectiva, São Carlos, depois de 159 anos, vou eu chutar a porta, como disse aqui a nossa deputada, e me colocar à disposição para ser, sim, a primeira mulher negra eleita na Câmara Municipal de São Carlos, a penúltima cidade do estado a abolir as práticas escravagistas.

E todos os dias temos essa responsabilidade, de lembrar o nosso povo de qual é a verdadeira história da nossa cidade. Quero dizer também... e agradecer fielmente o apoio do gabinete da Leci. Eles não soltam a nossa mão.

E eu peço sempre paciência comigo, que estamos ali começando, tudo novo para o nosso partido, mas um carinho imenso por todos eles que estão ali no dia a dia conosco, Damaze, Beto, Carina, Rozina, Julião. E é uma equipe que tem, extremamente, um compromisso com o partido e com a história de luta da nossa cidade também.

Quero dizer que as emendas que a Leci destinou para São Carlos têm um papel importante e que me trazem aqui também por conta disso, que é dizer para crianças pretas de uma escola da periferia que eles podem continuar sonhando, que eles inauguraram, através do recurso recebido do gabinete da Leci, a Sala Carolina Jesus, em uma homenagem linda, linda e emocionante, que a escola hoje tem uniformes, graças ao apoio do gabinete. (Palmas.)

E isso faz toda a diferença em uma comunidade que tem índices de violência altíssimos.

E o apoio também do gabinete traz para São Carlos uma perspectiva do serviço de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. E quem são essas crianças e quem são essas famílias? São famílias de mães e mulheres negras.

Então, é imprescindível para mim, neste momento, dizer deste apoio, desta honra de poder estar aqui e dizer que quero em São Carlos continuar sendo uma extensão do mandato da Leci, para que as pessoas nos reconheçam neste lugar de companheirismo, de parceria.

Viva as mulheres e viva o PCdoB! (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÕNIAS - Anuncio, neste momento, as ilustres presenças de Gil Marcos Clarindo dos Santos, presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de São Paulo; do Sr. João Carlos Teixeira, presidente do Conselho da Comunidade Negra de São Carlos; do Sr. Jorginho Saracura, cidadão do samba de 2025, e a Sra. Patricia, representando o deputado estadual Dirceu Dalben.

E a nossa nona “femenageada”, até agora, preparem, continuem preparando os vossos corações, que ainda temos mulheres aí magníficas que estão aí coroando com as suas atividades, com as suas atuações e transformando a sociedade.

E agora nós vamos chamar ela, que é mulher negra, que já foi frentista, faxineira, atendente de call center, mas foi com ofício, com herança ancestral, enquanto trancista, que ela conduziu diversas meninas e mulheres, inclusive mulheres privadas de liberdade, a trançar e a seguir esse caminho de forma profissionalizada.

Ela que hoje é consultora, influenciadora digital, palestrante, apresentadora de monólogos, e ela tem transitado tranquilamente entre públicos de diversas classes, etnias e religiões, com a sua forma original de se comunicar, e ela tem conquistado cada vez mais audiência.

Convidamos a Sra. Sara Zara para receber a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. SARA ZARA - Oi, gente, bom dia. Não sei conversar bonito igual às meninas. Só sei de uma coisa: traz a urna, porque tem presidente aqui, meu Deus do céu, como pode? Em minha autodescrição, sou uma mulher negra alta, 1,69 metros de pura felicidade.

Tenho os olhos bem grandes, porque estão mais abertos hoje, porque estou muito, muito feliz. Estou muito, muito mesmo, tentando digerir. Acho que vai cair a ficha daqui uns dois, três dias ainda, porque tenho um certo “delay” para algumas coisas.

Mas, para mim, isso aqui é um motivo de honra muito grande. Estava contando esses dias, depois que recebi o convite e a informação de que ia receber a medalha. Começou a passar um filme na minha mente, porque sou filha de um senhor pedreiro, que é pastor, e antigamente a igreja era muito rígida. Não podíamos ouvir samba na nossa casa, então tínhamos que ouvir bem rapidinho, quando ele não estava.

Lembro que um dia estava ouvindo samba, e ele chegou mais cedo do culto e me pegou ouvindo o Zé do Caroço, que era de Leci. E aí o Caroço comeu, porque levei uma surra junto, uma peia.

Mas, hoje, não imagino, nem nos meus sonhos mais distantes, nem pelos buracos da mão de Cristo, que Leci iria me dar esta, como é que se fala? (Voz fora do microfone.) “Femenagem”, isso, menino! Gostei dessa palavra. Vou aderir a esta “femenagem”, porque não era esperado mesmo na minha vida, não.

E aí é mais para validar o que é minha luta, o que eu considero trabalho, depois de tantas pessoas falarem que é importante, que, para mim, era só uma questão de aprendendo e passando para a frente. Porque quando a gente começa a admirar as pessoas que fazem o melhor para nós, fica um pouquinho mais fácil dar continuidade ao trabalho.

Então, acredito que, por causa de Leci, Theodosina e de, já esqueci aqui...Ruth, de dona Ruth, nós vamos poder mudar o discurso. Não seremos mais as primeiras nem as únicas de ocupar espaços, mas vamos dar continuidade a tudo isso, a esse trabalho. Então, muito obrigada.

Vou colocar a tatuagem nova aqui, da data de hoje, que vai precisar de comemorar todo ano, celebrar. Estou muito feliz, gente. Não vou vender nunca isso aqui, viu? Não vou vender, não. Vou guardar.

Obrigada, obrigada, muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Muito obrigada. E agora nós vamos falar dela, da nossa décima “femenageada”. Ela, mulher negra de origem humilde, que, a partir do seu ofício, foi driblando, foi caminhando, foi defendendo, foi driblando o racismo, o machismo, os preconceitos. Ela que, com seu exercício enquanto futebolista, treinadora, capitã, dentro e fora dos campos, num esporte enraizado pela cultura do machismo.

Ela, que foi derrubando todas as barreiras e driblando todas as dificuldades, e que hoje tornou-se referência para muitas meninas no futebol feminino, que é jogadora profissional com o maior número de jogos pela seleção brasileira, duas vezes vice-campeã olímpica, uma vez vice-campeã mundial, participou de sete edições de Jogos Olímpicos e a única a participar de sete Copas do Mundo. Isso entre homens e mulheres. (Palmas.)

Nós estamos falando aqui da nossa querida Miraildes Maciel, a nossa querida Formiga. Formiga, a bola é sua, e receba agora a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro. Vamos levantar sua bola? Você já levantou a bola do Brasil inteiro.

Vamos lá, Formiga. A bola é sua. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. MIRAILDES MACIEL (FORMIGA) - Obrigada. Bom dia a todas e todos. Esperava você falar que a bola é sua, eu já estava preparada para dominar aqui.

Para mim, é uma honra poder estar aqui recebendo esta grande homenagem através de uma pessoa que sempre admirei, e vou continuar admirando muito, pela sua luta, a deputada Leci Brandão. Meu muito obrigada.

Portanto, são pessoas como você, como tantas outras mulheres negras, a nossa Ruth, que fez muito para que todas nós aqui hoje pudéssemos estar neste espaço. Claro, eu vim do futebol, também não foi fácil a minha caminhada. O meu primeiro desafio foi dentro de casa, aos sete anos, aos dez anos, onde meus próprios irmãos não acreditavam no meu potencial e me proibiam de jogar futebol.

Uma menina que sempre sonhou, sempre buscou algo na vida, mas o maior prêmio que eu sempre desejei ter não foram medalhas, muito menos fama. E sem oportunidade de ocupar esses espaços que eram destinados só aos homens, sem referência para que todas as outras meninas de periferia, assim como eu vim, não sofressem preconceito, machismo e muito menos serem destratadas, serem chamadas de faveladas e sem condições alguma de ter a chance na vida.

Sou muito grata a Deus por hoje ter virado uma referência para tantas outras meninas, e que elas consigam ocupar esses espaços, e que nós mulheres, não só a partir de hoje, mas de muitos anos atrás, possamos ter o respeito merecido, porque somos mulheres de garra, de força, determinação.

E que esse respeito venha da parte masculina, que é algo que eu sempre bato nessa tecla, porque mulher é um tesouro, e poucos deles conseguem enxergar o tesouro que têm em casa. E que, a partir de hoje, todos possam enxergar tantas Rubis que têm na mão. E por mais espaço.

E para terminar, o meu nome é Mulher Preta e sobrenome Resistência. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - E agora nós vamos anunciar a nossa 11ª e última, mas não menos importante, “femenageada” desta edição da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro, edição Ruth de Souza, ela que foi - olha só que interessante - por 11 anos porta-bandeira. Isso mesmo, a Escola de Samba Rosas de Ouro, por 11 anos, teve uma porta-bandeira bailarina.

Olha só que interessante. Ela que é bailarina de formação, professora de dança, arte-educadora, por 11 anos ostentou o Pavilhão Azul e Rosa, estando à frente como primeira porta-bandeira na Sociedade Rosas de Ouro. Nesse período, nos brindou com o seu jeito leve e encantador de bailar, o estilo consagrado por vários prêmios.

Então, um dos mais belos cisnes do nosso carnaval e veterana da passarela, também ensinou que escola de samba é também espaço de criação de valores humanos e de aprendizado. E ela criou projetos sociais como Barracão, Samba se Aprende na Escola, projetos da Associação Cisne do Amanhã e Roseira do Futuro, projeto esse com mais de 100 crianças e adolescentes no aprendizado do balé, dança, técnicas de mestre-sala e porta-bandeira, oratória e bateria, mantendo a tradição, preservação e perpetuação da cultura.

Nós vamos convidar, neste momento, para receber a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro, a Sra. Sueli Aparecida Riça Costa. (Palmas.)

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. SUELI APARECIDA RIÇA COSTA - Bom dia! Não sei nem o que dizer, gente, diante de tantas mulheres que passaram por aqui. E eu quero dizer uma coisa apenas, que, na realidade, fui porta-bandeira da Sociedade Rosas de Ouro e, de lá, sempre quis e gostei de trabalhar com crianças.

Eu amo crianças e elas, como diz meu marido, o vice-presidente Osmar Costa, são o nosso futuro. E ele pediu - aliás, foi um sonho dele com o nosso mestre Ricardo Tripa - que nós pudéssemos ter também, além do que eu faço lá, que é dar aula de balé, eu dou aula de mestre-sala e porta-bandeira, e tem a passista com outros professores, tem passista mirim, enfim, é a ideia de criar a primeira bateria mirim de São Paulo, Roseira do Futuro. (Palmas.) Aqui está um pedacinho. Um sonho de Tripa e Osmar Costa. (Palmas.)

E, agora, antes de continuar, eu esqueci de uma coisa importante, agradecer a Deus por tanto, gente, por tanto mesmo, por esta medalha, que, por eu fazer parte da vida, que aqui ela é deputada, lá fora ela é artista, e, para mim, ela é família.

Estamos juntas há 27 anos, e eu a vejo sempre dar esta medalhinha. E eu pensava: “Ai, que sonho receber uma medalha, que, aliás, hoje eu tive a honra também de sentar ao lado do filho dela, de Theodosina Ribeiro”.

E é isso, gente. Eu fiquei muito feliz mesmo, porque eu tinha esse sonho - acredita, Leci? - de receber esta medalha, porque eu sei que é uma medalha de uma mulher muito importante, que foi importante numa época difícil para uma mulher chegar onde ela chegou.

E eu quero também aproveitar e agradecer, primeiro, ao meu pavilhão, que é super bem representado, à nossa porta-bandeira, que veio também. Muito obrigada, Isabel Casagrande, por estar aqui neste momento. (Palmas.)

Agradecer à nossa diretora Ana e à nossa diretora Vanessa, que também cuida da nossa ala da inclusão na Sociedade Rosas de Ouro. E agradecer a elas, a quem eu amo muito, minhas crianças e ao Tripa. (Palmas.)

Muito obrigada, gente. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Bom, e agora, depois de termos encerrado o grupo dessas mulheres espetaculares, constelares, nós vamos fechar aqui, não só com chave de ouro, nós vamos fechar com a Roseira do Futuro, que é o grupo mirim da Escola Campeã do Carnaval de São Paulo de 2025, da Sociedade Rosas de Ouro.

Com vocês, apresentação cultural da Roseira do Futuro.

 

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- É feita a apresentação.

 

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É a Roseira no Futuro, na avenida da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, no Prêmio Theodosina Rosário Ribeiro. Com a palavra a nobre deputada Leci Brandão, para o discurso de encerramento.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Que Deus abençoe, proteja, ilumine a todas, todos e todes que estão aqui. Peço para esta plateia que está ocupando hoje os lugares dos parlamentares - como aqui é a Casa do povo, não é nada de mais que todo mundo esteja sentado no nosso Plenário Juscelino - um aplauso para essa criançada da Rosas de Ouro, aplauso para a porta-bandeira mirim, para o mestre-sala, aplauso para a cultura de São Paulo.

A gente não tem nada preparado quando encerra a Medalha Theodosina, porque é uma coisa tão emocionante que acontece, o depoimento de cada homenageada é uma coisa extremamente comovente, cada uma discorre aqui do coração, da ideia, da sua formação intelectual, da formação popular. Cada mulher que esteve aqui trouxe a representação do que é o nosso país.

São Paulo é um estado que reúne pessoas de todos os lugares desta Nação. É uma pena que a gente ainda encontre situações em que há pessoas que acham que têm que fazer diferenças. A gente não pode ser diferente. Nós temos que ser todos amigos, temos que nos respeitar, nós somos todas iguais, todas e todos somos iguais, porque somos filhos de Deus.

Perante Deus nós somos todos iguais. Eu respeito absolutamente todas as religiões, respeito todas as orientações que as pessoas têm. Fico muito grata a Deus e aos meus Orixás, porque jamais poderia imaginar que, com 80 anos de idade, eu pudesse ter a oportunidade de fazer tanta coisa, sabe, de forma tão simples, para tantas pessoas importantes.

Essas mulheres todas que estiveram aqui neste púlpito e que fizeram - olha a água, a água está abençoando - para a gente, são pessoas que nunca fizeram nada que pudesse envergonhá-las, são pessoas que não têm nenhum registro na sua história de que elas pudessem ter, sabe, algum constrangimento por terem feito alguma coisa.

Muito pelo contrário, cada uma na sua função, na sua profissão, na sua escolaridade, demonstrou que são mulheres que fizeram muitas pessoas felizes, são mulheres que são felizes, graças a Deus, porque tiveram a sua conquista com trabalho, com respeito ao outro.

Eu quero, mais uma vez, agradecer a todas as mulheres que são do nosso gabinete, que é o Quilombo da Diversidade, porque, eu volto a repetir, se não fosse a minha assessoria, se não fossem os meus companheiros de trabalho, os meus companheiros de partido e de outros partidos, porque nesta Casa aqui eu sou do Partido Comunista do Brasil, mas tenho respeito por cada deputado, por cada deputada que ocupa essas cadeiras deste plenário. Peço um aplauso para todos eles, porque sem eles eu não seria nada, absolutamente nada. (Palmas.)

Não posso me esquecer também das assessorias, porque se eu sou o que sou, se conseguir fazer alguma coisa que o povo de São Paulo achou que era importante, e por isso eu agradeço ao povo de São Paulo, nem só quem nasceu aqui, mas quem vive aqui.

Este é o quarto mandato que eu exerço, porque todo mundo sabe da minha formação, é muito limitada, mas o que eu já aprendi aqui com as pessoas, com as mulheres e com os homens, vocês não têm noção, que eu entrei aqui de um jeito, e hoje eu me sinto uma pessoa diferente. Não porque, enfim, consegui quatro mandatos, não é por isso, é pelo carinho, é pelo respeito que as pessoas têm por mim.

Principalmente para quem eu vou pedir muitos aplausos agora, para todas as mulheres e os homens que trabalham nos serviços gerais da Assembleia Legislativa. (Palmas.) Sabe, as pessoas que trabalham aqui, quem varre, quem limpa, quem lava, eu tenho, assim, muita admiração.

Por quê? Porque eu sou filha de uma mulher que fez tudo isso, eu sou filha de uma mulher que foi servente de escola, entendeu? Então não pode haver nenhum tipo de discriminação nesta Casa.

Tem pessoas que acham que ser deputado, ser deputada é uma coisa importante, é diferente, é melhor que os outros. Não é não, é exatamente igual, porque quem coloca os parlamentares aqui dentro é o povo.

É o povo que vai votar, é o povo que enfrenta tudo, é o povo que apanha da polícia, é o povo que passa fome, é o povo que não tem moradia e é o povo que, sabe, nos sustenta. Porque a gente recebe dinheiro de quê? Do orçamento, mas esse orçamento é de quem? É do povo, é o povo que paga imposto, é o povo que paga imposto.

Por isso que eu digo, eu não sou deputada, eu estou deputada. Eu sou uma cantora popular, que gosta de cantar coisas que às vezes nem sempre agradam as pessoas, porque a gente fala de coisas que são delicadas, mas eu não me importo com isso não, eu quero merecer sempre de vocês o respeito, o carinho.

E dizer que eu espero em Deus que cada pessoinha que está aqui neste plenário - que hoje não são os parlamentares, são pessoas de bem, pessoas que trabalham, pessoas que têm dificuldades, pessoas que têm problemas de saúde, educação, de tudo, estão aqui hoje - dizer que Deus dê a vocês muita paz, muita saúde, muita prosperidade e que nada de mau possa acontecer na vida de vocês.

Continuem orando, não importa a religião, pode ser católico, evangélico, messiânico, protestante. Vamos aplaudir as religiões, as crenças e as pessoas que acreditam que é possível ser feliz, é possível a gente viver em paz.

Isto aqui não é uma Casa para se digladiar, não, aqui é para se cooperar, é para se entender, todo mundo aqui tem que escutar o outro, tem que entender o outro. Não importa qual é a sigla partidária, o que importa é que todo mundo que está aqui, cada um dos 94 que estão aqui foram eleitos de forma democrática pelo povo de São Paulo.

Eu agradeço, mais uma vez, a paciência de vocês, porque são 15 para uma, e a gente está aqui ainda. Mas me parece que tem um “breakfast”, não sei como é que chama. É isso? Um lanchinho, um negócio qualquer.

Não tem feijoada, porque não tem condição de ter, mas tem um mastigo, tem um tira-gosto, tem um cafezinho, tem uma coisinha para vocês. Já estão falando um monte de coisa aqui atrás de mim, eu estou até... Mas ninguém vai passar fome, não.

E um aplauso maior para essa criançada que está aqui. (Palmas.) Vieram aqui. Parabéns à Rosas de Ouro pelo campeonato. É o seguinte, viva o samba também, né? A gente tem que dar um aplauso para o samba de São Paulo, todo ele, viva a liga, viva! (Palmas.) Bom, deixe eu ver aqui, porque a água molhou tudo aqui.

Esgotado o objeto da presente sessão, agradeço às autoridades, aos funcionários da Casa, à assessoria, aos parceiros, a todo o pessoal do grupo militar, do grupo civil, de todos os setores desta Casa Legislativa.

E quero também registrar - por gentileza, Rosana -, nós temos aqui uma secretária também, municipal, de direitos humanos do Guarujá, que nos deu a honra de vir até aqui, conseguiu chegar ainda a tempo, e aplaudir também a filha da Dra., a neta da Dra. Theodosina.

Muitos aplausos para todos eles, tá?

Muito obrigada. (Palmas.)

Quero convidar todas, todos e todes para o buffet que está sendo servido no Hall Monumental da Casa.

Declaro encerrada a sessão.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 45 minutos.

 

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