31 DE OUTUBRO DE 2024

69ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AO MESTRE TADEU

        

Presidência: EDIANE MARIA

        

RESUMO

        

1 - EDIANE MARIA

Assume a Presidência e abre a sessão às 20h53min.

        

2 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Anuncia a composição da Mesa. Convida todos a ouvirem, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro", executado pelo cantor Thobias, da Vai-Vai.

        

3 - EDIANE MARIA

Informa que a Presidência efetiva convocou a presente sessão solene para a "Homenagem ao Mestre Tadeu", por solicitação desta deputada, na direção dos trabalhos. Agradece a todos os presentes. Ressalta os 50 anos de Mestre Tadeu frente à Bateria da Vai-Vai. Saúda as autoridades e entidades presentes. Destaca ser a primeira vez que alguém completa 50 anos à frente da mesma bateria, o que precisa ser prestigiado. Discorre sobre sua trajetória política, que considera não ter sido fácil. Cita a luta constante do seu mandato. Afirma que as homenagens devem ser feitas em vida. Diz que a maioria das mulheres do samba é negra e empregada doméstica e agradece a presença delas nesta Casa hoje. Enaltece a deputada Leci Brandão pelo apoio na realização desta homenagem, assim como sua ajuda desde a chegada nesta Casa. 

        

4 - CLARÍCIO GONÇALVES

Presidente da Vai-Vai, faz pronunciamento.

        

5 - IZAURA PANFILI

Presidente da Associação dos Destaques das Escolas de Samba do Estado de São Paulo, faz pronunciamento.

        

6 - FERNANDO PENTEADO

Representando a Embaixada do Samba e a velha guarda da Vai-Vai, faz pronunciamento.

        

7 - SANDRA SUELI DE SOUZA

Sempre porta bandeira da Lava Pés, faz pronunciamento.

        

8 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Anuncia vídeo com mensagem da deputada estadual Leci Brandão para o homenageado e outro vídeo com a trajetória do Mestre Tadeu e homenagens de amigos próximos.

        

9 - ROZINA DE JESUS

Representando o mandato da deputada Leci Brandão, faz pronunciamento.

        

10 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Anuncia apresentação da Bateria da Vai-Vai.

        

11 - MESTRE TADEU

Homenageado, faz pronunciamento.

        

12 - MESTRE DE CERIMÔNIAS

Anuncia entrega de placa de honra e buquê de flores para o homenageado e nova apresentação da Bateria da Vai-Vai.

        

13 - EDIANE MARIA

Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão às 21h54min.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Ediane Maria.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Senhoras e senhores, boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Esta sessão solene tem a finalidade de homenagear o Mestre Tadeu. Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelo Canal Alesp no YouTube.

Convido para que componham a Mesa Diretora a deputada estadual Ediane Maria, proponente e presidente desta sessão solene. (Palmas.) Mestre Tadeu, mestre de bateria e também o homenageado da noite. (Palmas.) Clarício Gonçalves, presidente da Vai-Vai. (Palmas.)

Izaura Panfili, presidente da Associação dos Destaques das Escolas de Samba do Estado de São Paulo. (Palmas.) Fernando Penteado, neste ato, representando a Embaixada do Samba e a Velha Guarda da Vai-Vai. (Palmas.) Rozina de Jesus, representando a deputada estadual Leci Brandão. (Palmas.) Sandra Sueli de Souza, sempre porta-bandeira da Lavapés e irmã do Mestre Tadeu. (Palmas.)

Convido a todas as pessoas presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro executado pelo cantor Thobias da Vai-Vai.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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Agradecemos a execução do Hino Nacional Brasileiro pelo cantor Thobias da Vai-Vai. Passo a palavra à proponente desta sessão solene, deputada estadual Ediane Maria.

 

A SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Primeiro, boa noite. Abertura da sessão solene. Iniciamos os nossos trabalhos nos termos regimentais. Senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa de Leis, deputado André do Prado, atendendo minha solicitação, com a finalidade de homenagear o Mestre Tadeu, mestre de bateria da Vai-Vai.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Convido os casais de mestre-sala e porta-bandeira para trazer os pavilhões à frente. Peço a todos uma salva de palmas ao pavilhão da Escola de Samba Vai-Vai. (Palmas.) Pavilhão da Lavapés. (Palmas.) Estandarte dos Baluartes do Samba. (Palmas.) Pavilhão da Adesp. (Palmas.) Estandarte Império dos Baluartes do Samba. (Palmas.) Estandarte da Velha Guarda da Vai-Vai. (Palmas.)

Também registramos e agradecemos a presença das seguintes personalidades. Deputada Paula da Bancada Feminista. (Palmas.) Mestres de baterias, mestres-salas, porta-bandeiras, velha guarda, baianos, baianas e amigas que aqui estão. (Palmas.) Zé Carlinhos, vice-presidente da Vai-Vai. (Palmas.) Radamés Carricho, diretor-geral da Vai-Vai. (Palmas.) André Felipe Meira da Silva, diretor cultural da Vai-Vai. (Palmas.) Madu Fraga, rainha da Bateria da Vai-Vai. (Palmas.) Kaxitu, presidente da Fenasamba. (Palmas.)

Presidentes de escolas de samba: Stellita Márcia de Oliveira, Império dos Baluartes do Samba do Estado de São Paulo. (Palmas.) Embaixadores do samba, Paulo Valentim. (Palmas.) Guinão. (Palmas.) Jorginho Saracura. (Palmas.) Robson de Oliveira, ex-presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo. (Palmas.)

Américo Calandriello Júnior, vice-presidente de Relações Institucionais da Federação Paulista de Futebol. (Palmas.) Comissão da Escola de Samba Lavapés. (Palmas.) Harry de Castro, ator, cantor e sambista. (Palmas.)

Passo a palavra à deputada Ediane Maria.

 

A SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Olha, estou aqui querendo gritar, gente, mas não posso.

Primeiro, eu quero agradecer a todas as pessoas presentes aqui neste espaço, que ouviram esse chamado e que vieram até aqui. Dizer que é uma sessão solene em homenagem ao Mestre Tadeu pelos seus 50 anos à frente da Bateria da Vai-Vai.

Mas dizer que, para nós, enquanto mandato preto, que vem de movimento social, de uma nordestina que chegou aqui no estado de São Paulo, há 22 anos, com o desafio de conhecer esta cidade melhor...

Queria saudar toda a Mesa e todas as entidades aqui presentes, saudar o Mestre Tadeu e seus familiares. Eu quero uma salva de palmas para todos que estão aqui neste momento. (Palmas.)

E dizer que estamos, mais uma vez, fazendo história aqui na Alesp. Não é todo dia que alguém comemora 50 anos à frente da mesma bateria.  Aliás, essa é a primeira vez que isso acontece na história. (Palmas.)

Hoje estamos fazendo com que o estado de São Paulo reconheça oficialmente que isso é um marco e que precisa ser prestigiado, porque o samba e o carnaval são coisa séria.

Então, queria, antes de tudo, pedir uma grande salva de palmas para este momento. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agradecemos à deputada Ediane Maria.

Neste momento, convidamos a fazer uso da palavra o presidente da Vai-Vai, Clarício Gonçalves.

 

A SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Monica, acho que a gente pulou uma parte. Demos um pulinho, rapidinho a gente já volta... Bom, gente, depois dessa salva de palmas, lavamos a alma, isso é importante, inclusive para o reconhecimento, aqui, do estado de São Paulo.

Quem sou eu? Quem está falando aqui com vocês é a Ediane Maria, deputada estadual, primeiro mandato. A primeira empregada doméstica eleita no estado de São Paulo. (Palmas.) E eu gostaria muito de falar para vocês que eu estou me sentindo aqui muito aquilombada. Estou me sentindo no Quilombo. Esse é o verdadeiro Quilombo, que precisa ser representado neste espaço. Dizer que não foi fácil chegar aqui. Não é fácil permanecer neste espaço. É uma luta constante.

Ano passado, no primeiro ano de mandato, fizemos uma homenagem ao Sr. Carlão, o único baluarte vivo do samba. Naquele momento, nós vimos a importância de trazer os nossos para serem homenageados em vida. Naquele momento, também eu tive acesso às necessidades reais do samba.

Eu estava agora, aqui, no Salão dos Espelhos. Nós estávamos ali, neste momento de comemoração, de festejar um pouco, porque é igual a um aniversario - viu, mestre? A gente estava ali confraternizando, e eu vi de uma companheira, que ela diz o seguinte: “Ediane, é tão importante você estar aqui dentro, porque se você não sabe, as mulheres do samba, as mulheres negras, a maioria são empregadas domésticas”.

E eu quero falar para vocês, que honra ter vocês, que se arrumam e vão para o samba, que vão lá fazer uma faxina, que muitas vezes não podem colocar esse colar, esse brinco, a maquiagem, mas que nas escolas de samba a gente se sente liberta. Muito obrigada. Eu quero uma salva de palmas para vocês mais uma vez, porque essa é a luta que nós construímos na cidade de São Paulo. (Palmas.)

A nossa sessão também, esta homenagem, teve um apoio fundamental, porque eu, chegando aqui no primeiro mandato, mas a Leci Brandão... E eu quero uma salva de palmas, muito axé para a Leci Brandão, que me recebeu, que me acolheu nesta Casa, que me recebeu e me ensinou a caminhar nesta Casa, que me trouxe o samba e me trouxe essa alegria. (Palmas.)

Essa mulher que tem a energia, a força, o axé e que faz com que nós, mulheres negras que chegam a esta Casa, se sintam muito felizes, porque uma de nós abriu o caminho, porque uma de nós continua nos ensinando, nos guiando nesta Casa.

Então, Leci também é uma das mulheres que estão construindo, junto comigo, dois mandatos, construindo esta sessão solene, esta homenagem. Então eu não poderia deixar de homenagear a Leci, que não pôde estar aqui hoje, vai viajar amanhã, tem o G20, a correria, então não pôde estar aqui, mas fez uma homenagem também ao Mestre Tadeu, daqui a pouquinho vamos passar o vídeo. Então isso é muito importante.

Bom, o processo de reparação, quando nós ocupamos as urnas em 2022, em um processo muito duro da nossa história e da nossa reconstrução de perda de direitos da classe trabalhadora, da Cultura periférica, do nosso povo preto, nós fizemos uma campanha muito importante. Todos nós, do campo progressista, queremos reparação. Então estar aqui, hoje, é dizer que a reparação continua, não vai parar.

Então muito obrigada a todos vocês. E muita gente, o Mestre Tadeu falou que está chegando, então quero ver o plenário lotado.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada, deputada Ediane Maria. E agora, sim, convidamos a fazer o uso da palavra Clarício Gonçalves, presidente da Vai-Vai.

 

O SR. CLARÍCIO GONÇALVES - Boa noite, comunidade. Eu, como representante da nossa querida e amada Vai-Vai... É muito gratificante, uma entidade quilombola que está a caminho do centenário e está sentado ao meu lado aqui, que é o Mestre Tadeu. Desse centenário que nós estamos a caminho, ele praticamente chegou na metade e vai chegar até mais, se Deus permitir - e Ele vai permitir.

Outra coisa maravilhosa que ele está fazendo é preparando o caminho do nosso quilombola para que dê sequência, através do nosso Mestre Beto e de todos esses componentes que estão aí que são “chão de fábrica”, como fala meu diretor-geral. (Palmas.) Porque um bom líder é aquele que prepara outro para dar sequência, porque ninguém se eterniza no cargo.

Nós aqui da Vai-Vai estamos a caminho do centenário, graças a Deus, a todos vocês, a toda essa comunidade que resgatou a nossa entidade. Estar aqui representando, em um momento solene em homenagem ao nosso Mestre Tadeu, para mim - e eu acredito que para vocês - é uma grande satisfação.

Eu peço novamente a quem ofertou a homenagem e a todos que participaram, levantar - em pé... uma salva de palmas sarada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada. Agora, com a palavra Izaura Panfili, presidente da Associação dos Destaques das Escolas de Samba do Estado de São Paulo.

 

A SRA. IZAURA PANFILI - Gente, que momento histórico no samba. Eu quero saudar esta Mesa, saudar a nossa deputada Ediane Maria pela nobre iniciativa, Leci Brandão, minha amiga Rosana. Não poderíamos estar separadas neste momento, não é?

Eu gostaria de aclamar aqui o meu louvor ao que a gente aprende no samba, que é o respeito, a fidelidade e o comprometimento. Então, tudo isso nós conseguimos aprender com essa escola de samba, que é um exemplo a ser seguido pela resistência do seu quilombo, que é a Vai-Vai.

Eu tenho propriedade em dizer isso, porque acompanho toda a luta de todas as escolas de samba que... Na verdade, Ediane, as escolas de samba pedem, aclamam por um reconhecimento. Não é a nível estadual, mas sim nacional.

O que nós estamos escrevendo hoje, através de vocês que têm a legislação na mão, é entender que patrimônios, como as baianas, as mães baianas do samba, velha guarda, embaixada, baluartes, império do baluarte e demais segmentos do carnaval de São Paulo representam os destaques das escolas de samba, que mais uma vez... Não é, Mestre?

Quem sempre esteve acompanhando a Adesp é o nosso mentor, Fernando Penteado, e com ele - não só com ele, mas com muitos baluartes do samba - eu aprendi ainda mais a ter comprometimento, respeito e fidelidade, porque fidelidade a um só pavilhão é para poucos.

Hoje estamos escrevendo aqui a história do Mestre Tadeu, o que muito me honra. Ele tomava café na minha casa, cafezinho da dona Gê, lá na zona norte. Então, Mestre, eu tive a oportunidade também de, nesta Casa, te homenagear como patrimônio histórico, cultural e imaterial do Brasil.

E hoje, te ver aqui novamente, não tem outro reconhecimento a não ser aplaudir não só esse quilombo, mas a você pela sua fidelidade. Muito obrigado pela contribuição ao mundo do samba e por ser um exemplo. E fidelidade não se compra, se adquire.

Parabéns, Mestre.

 

O SR. MESTRE TADEU - Muito obrigado. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agora, com a palavra Fernando Penteado, neste ato representando a Embaixada do Samba e a Velha Guarda da Vai-Vai.

 

O SR. FERNANDO PENTEADO - Boa noite a todos. Eu vou cumprimentar um parceiro, amigo de muitos anos, que para muitos, para todos nós, é o Mestre Tadeu, mas para mim, para o Zé Carlinho, é o Neguinho. Não é, Neguinho? É o Neguinho, não é isso?

O Neguinho chegou no Vai-Vai, quer dizer, quando o Vai-Vai virou Escola de Samba, nós que viemos do cordão não tínhamos nada a ver, não sabíamos nada de bateria, não sabíamos nada de bateria de escola de samba, nós éramos do cordão, não é, Zé Carlinho? Era o famoso “gurugudum dundum, gurugudum dundum, gurugudum dundum”.

Aí veio um cidadão chamado Mestre Feijoada, que na ocasião, Neguinho, estava no Fio de Ouro. Aí ele veio lá, conversou com a gente e disse: “eu tenho um pessoal para trazer aqui, tem um neguinho lá que faz um surdo...”, aí trouxe o Neguinho, trouxe o Didi, lembra? E ele ficou lá, fez o trabalho dele, o Mestre Feijoada precisou se ausentar e a gente precisava de alguém para tomar conta da bateria, para tomar conta do instrumento, que não tínhamos onde guardar.

E precisava arrumar uma pessoa com tempo, ele tinha um trabalho próximo: “eu arrumo, eu venho colaborar”, e ele veio, começou a colaborar, começou a ancorar instrumento, começou a pegar uma rapaziadinha que ficava por ali para ajudar ele, e aí começou aqui, começou ali e hoje ele está há mais de 50 anos, na realidade são 53 anos, à frente de uma única bateria.

A gente encontra pessoas aí que podem ter 50 aqui, dez ali, tem dez anos de samba, mas passou por cinco, seis baterias, passou por cinco, seis escolas de samba, e a fidelidade é tudo, é tudo dentro de uma entidade, é tudo dentro de uma agremiação.

E o Neguinho, ninguém pode negar que essa fidelidade ele não tem. É rara a bateria de hoje, de uma escola de samba, que não tenha alguém que passou pela mão dele - e esse alguém, às vezes, é até um mestre de bateria.

É rara uma passista, uma rainha de bateria, pelo menos na nossa escola, que não teve o dedo dele: “ó, vamos levar aquela ali para disputar a rainha”, e o dedo dele era um dedo bom, sempre que nós levávamos a gente conseguia fazer a rainha de Carnaval.

Quer dizer, não é só ser batuqueiro, não é só bater bumbo, é ter o olhar pelas pessoas, entendeu? É saber reconhecer o valor daquela pessoa que está ali, como o meu próprio presidente disse, que ele, dentro da sua humildade...

Quero dizer mais uma coisa, dentro da sua humildade - eu estou aqui representando a embaixada, e o Tadeu é embaixador -, pouca gente sabe disso, ele é embaixador do Samba, ele é embaixador, ele tem essa faixa que nós temos, mas ele fala: “não, não, tudo bem, eu sou o Tadeu. Acabou, acabou”, isso é uma humildade, entendeu?

Então, Neguinho, é um prazer estar aqui, dentro desta homenagem com você, você pode olhar aqui a galeria, todos os seus amigos estão aqui, grandes sambistas, nossas queridas baianas, nossa querida velha guarda, casal de mestre-sala e porta-bandeira e nosso pavilhão estão aqui.

Eu ainda me lembro, Neguinho, quando nós fomos desfilar em 71, e nós tínhamos que voltar, porque lá não tinha onde guardar os instrumentos. (Voz fora do microfone.) Eu acabei de desfilar, peguei na mão da minha esposa hoje, ela disse: “não, nós temos que passar”. Aí fomos lá na 14 de Julho, pegamos os instrumentos, trouxemos tudo para baixo.

E isso é o Neguinho, isso é o Tadeu, Antônio Carlos Tadeu de Souza, Mestre Tadeu, que merece ir para o Guinness. Deputada, vamos fazer um trabalho em cima disso?

 

A SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Vamos.

 

O SR. FERNANDO PENTEADO - Ele merece ir para o Guinness, porque não tem outro à frente dele. Então, já faço um pedido aqui a vocês e a ele mesmo, à irmã dele que está aí: pegar todos os recortes de jornal que nós temos dele para nós fazermos um documento e ter o prazer de colocar o nome do Neguinho dentro do Guinness, como direito, como o mestre de bateria mais antigo do Brasil. Uma salva de palmas para esse Neguinho aí. (Palmas.)

Tem um final de um samba que o Betinho Mulata fez, e eu lembro o finalzinho, que ele fala: “mestre, a nossa alegria é ver a bateria sempre nota dez; você está na galeria dos menestréis em apogeu; basta pensar em Vai-Vai para lembrar de Tadeu”.

É isso aí. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agora com a palavra Sandra Sueli de Souza, sempre porta-bandeira da Lavapés.

 

A SRA. SANDRA SUELI DE SOUZA - Boa noite a todos. Não sempre, não é, meu último cargo foi em 76, na Lavapés, como porta-bandeira. Certo? Lá eu fui tudo: nasci, cresci, fiz tudo a que tinha direito ali.

Agora, falar do Tadeu, meu Deus, o quê? É meu irmão, meu mais velho. Para a gente, ele foi tudo. Nossa mãe nos deixou muito pequenos, e ele foi o responsável por nós. E não sei o que falar dele. Tudo de bom. Que Deus abençoe meu irmão, de manhã, de tarde e de noite, que ele merece tudo isso e muito mais.

Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada. Agora veremos uma mensagem muito especial desse ícone do samba e da política que infelizmente não pôde estar aqui, que é a deputada estadual Leci Brandão.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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O SR. MESTRE TADEU - Muito obrigado.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agradecemos pelas palavras dos membros da Mesa e da deputada estadual Leci Brandão, que não pôde estar presente neste momento. E assistiremos a um vídeo sobre a trajetória do Mestre Tadeu e algumas homenagens de amigos próximos ao homenageado.

 

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- É exibido o vídeo.

 

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Com a palavra Rozina de Jesus, representando a deputada estadual Leci Brandão.

 

A SRA. ROZINA DE JESUS - Boa noite, boa noite a todos e todas. Vou me apresentar rapidamente. Sou Rozina de Jesus, do mandato da deputada Leci Brandão, junto com o Jorginho Saracura, que ali está, também do mandato da Leci.

Como disse aqui a nossa deputada Ediane Maria, a Leci é esse ícone da música brasileira, do samba. Nossa segunda mulher preta a entrar nesta Casa, em 2010, 2011, e, como disse a deputada, abrindo as portas para outras mulheres e outras mulheres negras neste Parlamento, que, infelizmente, ainda é um Parlamento branco, masculino, e que não nos cabe. Mas hoje aqui é uma honra a gente ver o nosso povo adentrando esta Casa, que é a Casa do povo.

 Então, dizer para vocês, como disse a Leci ali no vídeo, é muito importante a gente homenagear os nossos, principalmente em vida, aqueles que abnegaram da sua vida por uma ideologia; no caso do Mestre Tadeu, pela ideologia da questão do Carnaval, do samba, da nossa Cultura.

Então é fundamental que a gente faça esta homenagem, faça esta sessão solene junto com essa mulher que é tão aguerrida, que é a deputada Ediane Maria, e que a gente possa aqui, juntos, esses mandatos populares de mulheres, de negros e negras, fazer outros grandes eventos aqui nesta Casa, para continuar resistindo e dizendo: “este lugar é nosso. Esta terra é de povo preto, indígena e, portanto, temos que ocupar”.

 Mestre Tadeu, meus parabéns e um grande abraço da deputada Leci Brandão. Conte com a gente, e esta Casa é de vocês. Sintam-se à vontade.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada. Solicitamos que a Mesa fique em pé, se posicionando para as fotos.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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A SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Uma salva de palmas para a Bateria da Vai-Vai.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Mestre Tadeu, esta bela homenagem feita pela bateria pelo senhor. E a gente gostaria de aproveitar esse momento para ouvir suas palavras.

 

O SR. MESTRE TADEU - Boa noite, boa noite, boa noite. Em primeiro lugar, eu quero agradecer, lá em cima, que é a Deus. Em segundo lugar, aos nossos orixás, porque nós somos da pele preta, da nossa raça negra, e nós temos nossos orixás.

Em terceiro lugar, agradecendo também a comunidade branca que faz parte da Escola de Samba Vai-Vai. É por causa disso que a escola se chama Vai-Vai: é preto e branco, é a mistura que nós temos na nossa escola. Isso vem desde lá de 1930, quando foi fundada a escola. É o preto e o branco. Na nossa escola, nós aceitamos todo mundo, ok?

Em quarto lugar, eu acho que a minha mãe está muito feliz lá em cima. Nós perdemos a nossa mãe cedo. Nós somos três irmãos, filhos de mãe solteira e tal. Minha mãe era da ala das baianas da Lavapés, costureira, que naquela época não tinha... As próprias baianas faziam as roupas.

Ficavam semanas e semanas costurando naquelas máquinas de pedal. Ficavam com as pernas inchadas para fazer as roupas das baianas. Mas era com muito orgulho. Então, ela está feliz por mim, pela minha irmã, nós estamos vivos aqui, graças a Deus.

Em quinto lugar, quero agradecer ao meu presidente, ao meu diretor-geral de carnaval, que está presente ali. Quero agradecer à nossa velha guarda, que é muito importante. (Palmas.) Quero agradecer às nossas baianas, porque escola de samba sem baiana não é escola de samba, essa é a realidade. Escola de samba que não tem baiana não é escola de samba.

Quero agradecer a todos os departamentos da nossa Escola de Samba Vai-Vai, a nossa comunidade, porque a nossa comunidade é forte. O que nós estamos passando, estamos lutando, sem quadra, mas vamos chegar lá. Antes de morrer eu quero ver a nossa quadra para a gente fundar o nosso quartinho de bateria. (Palmas.) Se Deus quiser.

Quero agradecer aqui ao nosso vice-presidente. Quando eu cheguei no Vai-Vai ele já estava, que era o Zé Carlinhos. Cheguei, ele já estava. Depois, eu fui para a ala de surdos, que era eu, ele, o Branca de Neve, que andava conosco, que já faleceu muito cedo. Lembra, Zé? Tudo isso aí. A nossa comunidade, também já falei que é muito importante, e todos os departamentos, todo o chefe de ala, a nossa rainha de bateria, a nossa princesa de bateria, está aqui.

Isso é muito importante para nós, eu estou muito satisfeito no dia de hoje. Quero, não posso deixar também, não falhar, não posso deixar de agradecer a meu mestre de bateria, que está aqui. Chama-se Roberto Lopes, vocês conhecem ele? (Palmas.)

Quero agradecer aos meus diretores de bateria, que estão todos aqui, olha, cada um com seu instrumento tocando. Todos os diretores, certo? É muito importante, muito importante. (Palmas.)

Quero agradecer a todos os ritmistas dessa escola de samba. Todos. (Palmas.) Quem? Quero agradecer à pessoa que mudou o carnaval de São Paulo quando ele chegou, não podemos esquecer: Robson de Oliveira. Estamos juntos.

Quero agradecer ao meu amigo Praxedes. Thiago Praxedes, que trouxe a proposta para a deputada Ediane, não é isso? E a deputada aceitou. Isso é muito importante para nós, principalmente da Escola de Samba Vai-Vai.

E eu já estou há 52 ou 53, vai fazer. Tem o meu sucessor, que eu acredito que na hora que eu “pá”, é ele que vai tomar conta dessa bateria, até porque muitas pessoas me questionam, muitas pessoas falam mal de mim, porque eu sou conservador.

A Escola de Samba Vai-Vai não contrata ninguém. Quando eu parar, nós temos o Mestre Beto. Quando o Mestre Beto parar, ele tem outros diretores com capacidade. A nossa escola de samba é de tradição, é de raiz, e temos que respeitar a raiz. Escola de samba que não tem raiz, tem vida curta. Pode ter certeza disso. Nós temos raiz.

Olha o que nós estamos passando, esses momentos que nós estamos passando, que nós vamos conseguir inverter, mas nós temos raiz. Nós temos povo, nós temos comunidade, nós temos gente que gosta da nossa escola de samba, que adora a nossa escola. Isso que é muito importante em uma escola de samba, é você gostar, fazer aquilo por amor.

Quando eu cheguei, que eu peguei a bateria - acho que eu sou o único mestre que foi mestre do mestre, que já faleceu, que é o Mestre Feijoada. Ele foi meu mestre e depois eu fui mestre dele. Quando ele voltou, ele saiu como ritmista.

Isso é muito importante, tem coisa que as pessoas não sabem. E, às vezes, eu falo muito nessa bateria, porque essa bateria decidiu três, quatro carnavais no item “bateria”. Essa bateria aqui é a quinta geração que está sob meu comando, agora junto com o Mestre Beto. O Mestre Beto não tem dez anos de Vai-Vai, ele está há quase 30 aqui já.

 

A SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Mas nem parece, hein?

 

O SR. MESTRE TADEU - É, mas já é velhinho, tem quarenta e sete. Vai pensando, já está com quarenta e sete. E hoje não tem “dindin”, não tem cachê. Entendeu? Então, é o seguinte, isso é muito importante. Para vocês, ritmistas, que são mais jovens, são mais... Entendeu? Tem que gostar do que faz.

Bateria é o coração dessa entidade. Sabe por que ela é o coração? Porque ela vai tocar para quatro, cinco mil pessoas na avenida. Ela não pode falhar, ela não pode errar. De acordo com o ritmo da bateria é que a escola vai desfilar, é que a escola vai dançar, é que a escola vai cantar. É o ritmo da nossa bateria aqui.

Então, é o seguinte: eu tenho muito orgulho de chegar nesse ponto de 50 anos, estar aqui, junto com os mais jovens, que são vocês. Tem pessoas aqui que nem pensavam em desfilar em escola de samba. Hoje estão aqui, com o maior respeito.

Dou valor, nossas porta-bandeira e mestre-sala, que eu esqueci, são da casa. Graças a Deus, a gente consegue fazer o mestre-sala, a gente consegue fazer uma porta-bandeira, a gente consegue fazer passista. Porque, às vezes, eu era muito criticado: “não, o Tadeu é duro, o Tadeu não sei o quê”, mas conseguimos fazer vários sambistas.

Nós fizemos acho que oito ou nove rainhas do carnaval dentro da Vai-Vai, porque eu era duro, eu brigava com elas: “Você tem que sambar, você tem que olhar para frente”.

Sambista não pode estar dançando olhando para o chão. Passista tem que olhar para o alto, para a frente, aquela elegância. Passista tem que ser elegante. Rainha de bateria tem que ser elegante.

A turma fala: “o que é rainha de bateria?”. Está até dizendo no nome: “rainha de bateria”. Tem que ser mulher bonita, mulher exuberante, mulher que samba, que é para chamar a atenção. Ela vem na frente de uma bateria com 300 ritmistas. Então, ela já leva o nome rainha. Depois vem a princesa.

Então, a gente tem que continuar esse trabalho. A Vai-Vai tem muita gente boa. A Vai-Vai está cheia de sambistas, que estão escondidos, porque não dão uma oportunidade. Não que não dão oportunidade; às vezes, a pessoa também não... Entendeu? É tímida. Mas nós temos, não é, presidente? Nós temos. Nós temos raiz. E se nós fizermos um trabalho, nós vamos descobrir aqui um monte de passista boa, de sambista mesmo de raiz.

Então é o seguinte, hoje é um dia que eu estou muito orgulhoso. Venho agradecer a vocês, porque, em uma quinta-feira, sete horas da noite, este monte de gente que está aqui... Eu sou oriundo da Escola de Samba Lavapés. Nunca neguei para ninguém. Eu nasci lá, eu fui criado lá.

Então eu tenho o maior orgulho, porque a Lavapés é encostada com o Bixiga. É só você atravessar a Brigadeiro e você já está no Bixiga. Saiu do Bixiga, você está na Lavapés. É isso aí.

Então é o seguinte, eu estou muito satisfeito, muito orgulhoso pela oportunidade que a nossa deputada está dando, porque não é fácil você homenagear o povo preto aqui dentro da sua Casa; eu sei que não é brincadeira. E o povo preto nosso, preto ou negro, cada um tem uma palavra diferente, mas no fundo é tudo a mesma coisa. Olha, compareceu. Compareceu. (Palmas.)

E, para encerrar o meu discurso, eu quero dizer o seguinte: a Escola de Samba Vai-Vai não tem preconceito. Graças a Deus. Lá é a escola do povo, lá é a escola da comunidade, certo? Lá é a escola do branco, do preto, do amarelo, do índio, de todo mundo. E isso nós somos felizes.

Salve Vai-Vai!

 

TODOS - Salve!

 

O SR. MESTRE TADEU - Muito obrigado. Estou muito satisfeito.

Muito obrigado. Ok?

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada. Oficializamos a homenagem com a entrega da placa de honra e o ramalhete de flores ao Mestre Tadeu.

 

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- É entregue a homenagem.

 

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A SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - A gente vai fazer assim, Mestre: pode continuar, porque aí tem aquela saudação, que é norma da Casa, e aí encerra a sessão. Mas continua. Daqui a pouco eu vou saudar todo mundo, e a gente encerra a sessão solene, porque se deixar vai até de manhã. Aqui o samba...

Vamos encerrar então. Eu quero agradecer aos mestres de Bateria da Vai-Vai, Lavapés, mestres-salas, porta-bandeiras, velha guarda, as baianas, a Lavapés, Vai-Vai, e a todos os amigos que estão aqui presentes.

Bom, esgotado aqui o objetivo da presente sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 54 minutos.

 

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