31 DE OUTUBRO DE 2024
69ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AO MESTRE TADEU
Presidência: EDIANE MARIA
RESUMO
1 - EDIANE MARIA
Assume a Presidência e abre a sessão às 20h53min.
2 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia a composição da Mesa. Convida todos a ouvirem, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro", executado pelo cantor Thobias, da Vai-Vai.
3 - EDIANE MARIA
Informa que a Presidência efetiva convocou a presente sessão solene para a "Homenagem ao Mestre Tadeu", por solicitação desta deputada, na direção dos trabalhos. Agradece a todos os presentes. Ressalta os 50 anos de Mestre Tadeu frente à Bateria da Vai-Vai. Saúda as autoridades e entidades presentes. Destaca ser a primeira vez que alguém completa 50 anos à frente da mesma bateria, o que precisa ser prestigiado. Discorre sobre sua trajetória política, que considera não ter sido fácil. Cita a luta constante do seu mandato. Afirma que as homenagens devem ser feitas em vida. Diz que a maioria das mulheres do samba é negra e empregada doméstica e agradece a presença delas nesta Casa hoje. Enaltece a deputada Leci Brandão pelo apoio na realização desta homenagem, assim como sua ajuda desde a chegada nesta Casa.
4 - CLARÍCIO GONÇALVES
Presidente da Vai-Vai, faz pronunciamento.
5 - IZAURA PANFILI
Presidente da Associação dos Destaques das Escolas de Samba do Estado de São Paulo, faz pronunciamento.
6 - FERNANDO PENTEADO
Representando a Embaixada do Samba e a velha guarda da Vai-Vai, faz pronunciamento.
7 - SANDRA SUELI DE SOUZA
Sempre porta bandeira da Lava Pés, faz pronunciamento.
8 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia vídeo com mensagem da deputada estadual Leci Brandão para o homenageado e outro vídeo com a trajetória do Mestre Tadeu e homenagens de amigos próximos.
9 - ROZINA DE JESUS
Representando o mandato da deputada Leci Brandão, faz pronunciamento.
10 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia apresentação da Bateria da Vai-Vai.
11 - MESTRE TADEU
Homenageado, faz pronunciamento.
12 - MESTRE DE CERIMÔNIAS
Anuncia entrega de placa de honra e
buquê de flores para o homenageado e nova apresentação da Bateria da Vai-Vai.
13 - EDIANE MARIA
Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão às 21h54min.
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* *
- Assume a Presidência e abre a sessão
a Sra. Ediane Maria.
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A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Senhoras e senhores,
boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo.
Esta sessão solene tem a finalidade de
homenagear o Mestre Tadeu. Comunicamos aos presentes que esta sessão solene
está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelo Canal Alesp no YouTube.
Convido para que componham a Mesa
Diretora a deputada estadual Ediane Maria, proponente e presidente desta sessão
solene. (Palmas.) Mestre Tadeu, mestre de bateria e também o homenageado da
noite. (Palmas.) Clarício Gonçalves, presidente da Vai-Vai. (Palmas.)
Izaura Panfili, presidente da
Associação dos Destaques das Escolas de Samba do Estado de São Paulo. (Palmas.)
Fernando Penteado, neste ato, representando a Embaixada do Samba e a Velha
Guarda da Vai-Vai. (Palmas.) Rozina de Jesus, representando a deputada estadual
Leci Brandão. (Palmas.) Sandra Sueli de Souza, sempre porta-bandeira da Lavapés
e irmã do Mestre Tadeu. (Palmas.)
Convido a todas as pessoas presentes
para, em posição de respeito, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro executado
pelo cantor Thobias da Vai-Vai.
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- É executado o Hino Nacional
Brasileiro.
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Agradecemos a execução do Hino Nacional
Brasileiro pelo cantor Thobias da Vai-Vai. Passo a palavra à proponente desta
sessão solene, deputada estadual Ediane Maria.
A SRA. PRESIDENTE - EDIANE
MARIA - PSOL - Primeiro, boa noite. Abertura da
sessão solene. Iniciamos os nossos trabalhos nos termos regimentais. Senhores,
esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa de Leis, deputado
André do Prado, atendendo minha solicitação, com a finalidade de homenagear o
Mestre Tadeu, mestre de bateria da Vai-Vai.
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Convido
os casais de mestre-sala e porta-bandeira para trazer os pavilhões à frente.
Peço a todos uma salva de palmas ao pavilhão da Escola de Samba Vai-Vai. (Palmas.)
Pavilhão da Lavapés. (Palmas.) Estandarte dos Baluartes do Samba. (Palmas.) Pavilhão
da Adesp. (Palmas.) Estandarte Império dos Baluartes do Samba. (Palmas.) Estandarte
da Velha Guarda da Vai-Vai. (Palmas.)
Também registramos e agradecemos a
presença das seguintes personalidades. Deputada Paula da Bancada Feminista. (Palmas.)
Mestres de baterias, mestres-salas, porta-bandeiras, velha guarda, baianos,
baianas e amigas que aqui estão. (Palmas.) Zé Carlinhos, vice-presidente da Vai-Vai.
(Palmas.) Radamés Carricho, diretor-geral da Vai-Vai. (Palmas.) André Felipe
Meira da Silva, diretor cultural da Vai-Vai. (Palmas.) Madu Fraga, rainha da Bateria
da Vai-Vai. (Palmas.) Kaxitu, presidente da Fenasamba. (Palmas.)
Presidentes
de escolas de samba: Stellita Márcia de Oliveira, Império dos Baluartes do
Samba do Estado de São Paulo. (Palmas.) Embaixadores do
samba, Paulo Valentim. (Palmas.) Guinão. (Palmas.) Jorginho Saracura. (Palmas.)
Robson de Oliveira, ex-presidente da Liga das Escolas de Samba de São
Paulo.
(Palmas.)
Américo
Calandriello Júnior, vice-presidente de Relações Institucionais da Federação
Paulista de Futebol. (Palmas.) Comissão da Escola de Samba Lavapés. (Palmas.)
Harry de Castro, ator, cantor e sambista. (Palmas.)
Passo
a palavra à deputada Ediane Maria.
A SRA. PRESIDENTE - EDIANE
MARIA - PSOL - Olha, estou aqui querendo gritar, gente, mas não posso.
Primeiro,
eu quero agradecer a todas as pessoas presentes aqui neste espaço, que ouviram
esse chamado e que vieram até aqui. Dizer que é uma sessão solene em homenagem
ao Mestre Tadeu pelos seus 50 anos à frente da Bateria da Vai-Vai.
Mas
dizer que, para nós, enquanto mandato preto, que vem de movimento social, de
uma nordestina que chegou aqui no estado de São Paulo, há 22 anos, com o desafio
de conhecer esta cidade melhor...
Queria
saudar toda a Mesa e todas as entidades aqui presentes, saudar o Mestre Tadeu e
seus familiares. Eu quero uma salva de palmas para todos que estão aqui neste
momento. (Palmas.)
E
dizer que estamos, mais uma vez, fazendo história aqui na Alesp. Não é todo dia
que alguém comemora 50 anos à frente da mesma bateria. Aliás, essa é a primeira vez que isso
acontece na história. (Palmas.)
Hoje
estamos fazendo com que o estado de São Paulo reconheça oficialmente que
isso é um marco e que precisa ser prestigiado, porque o samba e o carnaval são
coisa séria.
Então,
queria, antes de tudo, pedir uma grande salva de palmas para este momento.
(Palmas.)
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS
- Agradecemos
à deputada Ediane Maria.
Neste
momento, convidamos a fazer uso da palavra o presidente da Vai-Vai, Clarício
Gonçalves.
A SRA. PRESIDENTE - EDIANE
MARIA - PSOL - Monica, acho que a gente pulou uma
parte. Demos um pulinho, rapidinho a gente já volta... Bom, gente, depois dessa
salva de palmas, lavamos a alma, isso é importante, inclusive para o
reconhecimento, aqui, do estado de São Paulo.
Quem sou eu? Quem está falando aqui com
vocês é a Ediane Maria, deputada estadual, primeiro mandato. A primeira
empregada doméstica eleita no estado de São Paulo. (Palmas.) E eu gostaria
muito de falar para vocês que eu estou me sentindo aqui muito aquilombada.
Estou me sentindo no Quilombo. Esse é o verdadeiro Quilombo, que precisa ser
representado neste espaço. Dizer que não foi fácil chegar aqui. Não é fácil permanecer
neste espaço. É uma luta constante.
Ano passado, no primeiro ano de
mandato, fizemos uma homenagem ao Sr. Carlão, o único baluarte vivo do samba.
Naquele momento, nós vimos a importância de trazer os nossos para serem
homenageados em vida. Naquele momento, também eu tive acesso às necessidades
reais do samba.
Eu estava agora, aqui, no Salão dos
Espelhos. Nós estávamos ali, neste momento de comemoração, de festejar um
pouco, porque é igual a um aniversario - viu, mestre? A gente estava ali
confraternizando, e eu vi de uma companheira, que ela diz o seguinte: “Ediane,
é tão importante você estar aqui dentro, porque se você não sabe, as mulheres
do samba, as mulheres negras, a maioria são empregadas domésticas”.
E eu quero falar para vocês, que honra
ter vocês, que se arrumam e vão para o samba, que vão lá fazer uma faxina, que muitas
vezes não podem colocar esse colar, esse brinco, a maquiagem, mas que nas
escolas de samba a gente se sente liberta. Muito obrigada. Eu quero uma salva
de palmas para vocês mais uma vez, porque essa é a luta que nós construímos na
cidade de São Paulo. (Palmas.)
A nossa sessão também, esta homenagem, teve
um apoio fundamental, porque eu, chegando aqui no primeiro mandato, mas a Leci
Brandão... E eu quero uma salva de palmas, muito axé para a Leci Brandão, que
me recebeu, que me acolheu nesta Casa, que me recebeu e me ensinou a caminhar
nesta Casa, que me trouxe o samba e me trouxe essa alegria. (Palmas.)
Essa mulher que tem a energia, a força,
o axé e que faz com que nós, mulheres negras que chegam a esta Casa, se sintam
muito felizes, porque uma de nós abriu o caminho, porque uma de nós continua
nos ensinando, nos guiando nesta Casa.
Então, Leci também é uma das mulheres
que estão construindo, junto comigo, dois mandatos, construindo esta sessão
solene, esta homenagem. Então eu não poderia deixar de homenagear a Leci, que
não pôde estar aqui hoje, vai viajar amanhã, tem o G20, a correria, então não
pôde estar aqui, mas fez uma homenagem também ao Mestre Tadeu, daqui a pouquinho
vamos passar o vídeo. Então isso é muito importante.
Bom, o processo de reparação, quando
nós ocupamos as urnas em 2022, em um processo muito duro da nossa história e da
nossa reconstrução de perda de direitos da classe trabalhadora, da Cultura
periférica, do nosso povo preto, nós fizemos uma campanha muito importante.
Todos nós, do campo progressista, queremos reparação. Então estar aqui, hoje, é
dizer que a reparação continua, não vai parar.
Então muito obrigada a todos vocês. E
muita gente, o Mestre Tadeu falou que está chegando, então quero ver o plenário
lotado.
Muito obrigada. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada, deputada
Ediane Maria. E agora, sim, convidamos a fazer o uso da palavra Clarício
Gonçalves, presidente da Vai-Vai.
O
SR. CLARÍCIO GONÇALVES - Boa noite, comunidade.
Eu, como representante da nossa querida e amada Vai-Vai... É muito gratificante,
uma entidade quilombola que está a caminho do centenário e está sentado ao meu
lado aqui, que é o Mestre Tadeu. Desse centenário que nós estamos a caminho,
ele praticamente chegou na metade e vai chegar até mais, se Deus permitir - e
Ele vai permitir.
Outra coisa maravilhosa que ele está
fazendo é preparando o caminho do nosso quilombola para que dê sequência,
através do nosso Mestre Beto e de todos esses componentes que estão aí que são
“chão de fábrica”, como fala meu diretor-geral. (Palmas.) Porque um bom líder é
aquele que prepara outro para dar sequência, porque ninguém se eterniza no
cargo.
Nós aqui da Vai-Vai estamos a caminho
do centenário, graças a Deus, a todos vocês, a toda essa comunidade que
resgatou a nossa entidade. Estar aqui representando, em um momento solene em
homenagem ao nosso Mestre Tadeu, para mim - e eu acredito que para vocês - é
uma grande satisfação.
Eu peço novamente a quem ofertou a
homenagem e a todos que participaram, levantar - em pé... uma salva de palmas
sarada. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada. Agora, com a
palavra Izaura Panfili, presidente da Associação dos Destaques das Escolas de
Samba do Estado de São Paulo.
A
SRA. IZAURA PANFILI - Gente, que momento
histórico no samba. Eu quero saudar esta Mesa, saudar a nossa deputada Ediane
Maria pela nobre iniciativa, Leci Brandão, minha amiga Rosana. Não poderíamos
estar separadas neste momento, não é?
Eu gostaria de aclamar aqui o meu
louvor ao que a gente aprende no samba, que é o respeito, a fidelidade e o
comprometimento. Então, tudo isso nós conseguimos aprender com essa escola de
samba, que é um exemplo a ser seguido pela resistência do seu quilombo, que é a
Vai-Vai.
Eu tenho propriedade em dizer isso,
porque acompanho toda a luta de todas as escolas de samba que... Na verdade,
Ediane, as escolas de samba pedem, aclamam por um reconhecimento. Não é a nível
estadual, mas sim nacional.
O que nós estamos escrevendo hoje,
através de vocês que têm a legislação na mão, é entender que patrimônios, como
as baianas, as mães baianas do samba, velha guarda, embaixada, baluartes,
império do baluarte e demais segmentos do carnaval de São Paulo representam os
destaques das escolas de samba, que mais uma vez... Não é, Mestre?
Quem sempre esteve acompanhando a Adesp
é o nosso mentor, Fernando Penteado, e com ele - não só com ele, mas com muitos
baluartes do samba - eu aprendi ainda mais a ter comprometimento, respeito e
fidelidade, porque fidelidade a um só pavilhão é para poucos.
Hoje estamos escrevendo aqui a história
do Mestre Tadeu, o que muito me honra. Ele tomava café na minha casa, cafezinho
da dona Gê, lá na zona norte. Então, Mestre, eu tive a oportunidade também de,
nesta Casa, te homenagear como patrimônio histórico, cultural e imaterial do
Brasil.
E hoje, te ver aqui novamente, não tem
outro reconhecimento a não ser aplaudir não só esse quilombo, mas a você pela
sua fidelidade. Muito obrigado pela contribuição ao mundo do samba e por ser um
exemplo. E fidelidade não se compra, se adquire.
Parabéns, Mestre.
O
SR. MESTRE TADEU - Muito obrigado. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agora, com a palavra
Fernando Penteado, neste ato representando a Embaixada do Samba e a Velha
Guarda da Vai-Vai.
O
SR. FERNANDO PENTEADO - Boa noite a todos. Eu
vou cumprimentar um parceiro, amigo de muitos anos, que para muitos, para todos
nós, é o Mestre Tadeu, mas para mim, para o Zé Carlinho, é o Neguinho. Não é,
Neguinho? É o Neguinho, não é isso?
O Neguinho chegou no Vai-Vai, quer
dizer, quando o Vai-Vai virou Escola de Samba, nós que viemos do cordão não
tínhamos nada a ver, não sabíamos nada de bateria, não sabíamos nada de bateria
de escola de samba, nós éramos do cordão, não é, Zé Carlinho? Era o famoso
“gurugudum dundum, gurugudum dundum, gurugudum dundum”.
Aí veio um cidadão chamado Mestre Feijoada,
que na ocasião, Neguinho, estava no Fio de Ouro. Aí ele veio lá, conversou com
a gente e disse: “eu tenho um pessoal para trazer aqui, tem um neguinho lá que
faz um surdo...”, aí trouxe o Neguinho, trouxe o Didi, lembra? E ele ficou lá,
fez o trabalho dele, o Mestre Feijoada precisou se ausentar e a gente precisava
de alguém para tomar conta da bateria, para tomar conta do instrumento, que não
tínhamos onde guardar.
E precisava arrumar uma pessoa com
tempo, ele tinha um trabalho próximo: “eu arrumo, eu venho colaborar”, e ele
veio, começou a colaborar, começou a ancorar instrumento, começou a pegar uma
rapaziadinha que ficava por ali para ajudar ele, e aí começou aqui, começou ali
e hoje ele está há mais de 50 anos, na realidade são 53 anos, à frente de uma
única bateria.
A gente encontra pessoas aí que podem
ter 50 aqui, dez ali, tem dez anos de samba, mas passou por cinco, seis
baterias, passou por cinco, seis escolas de samba, e a fidelidade é tudo, é
tudo dentro de uma entidade, é tudo dentro de uma agremiação.
E o Neguinho, ninguém pode negar que
essa fidelidade ele não tem. É rara a bateria de hoje, de uma escola de samba,
que não tenha alguém que passou pela mão dele - e esse alguém, às vezes, é até
um mestre de bateria.
É rara uma passista, uma rainha de
bateria, pelo menos na nossa escola, que não teve o dedo dele: “ó, vamos levar
aquela ali para disputar a rainha”, e o dedo dele era um dedo bom, sempre que
nós levávamos a gente conseguia fazer a rainha de Carnaval.
Quer dizer, não é só ser batuqueiro,
não é só bater bumbo, é ter o olhar pelas pessoas, entendeu? É saber reconhecer
o valor daquela pessoa que está ali, como o meu próprio presidente disse, que
ele, dentro da sua humildade...
Quero dizer mais uma coisa, dentro da
sua humildade - eu estou aqui representando a embaixada, e o Tadeu é embaixador
-, pouca gente sabe disso, ele é embaixador do Samba, ele é embaixador, ele tem
essa faixa que nós temos, mas ele fala: “não, não, tudo bem, eu sou o Tadeu. Acabou,
acabou”, isso é uma humildade, entendeu?
Então, Neguinho, é um prazer estar
aqui, dentro desta homenagem com você, você pode olhar aqui a galeria, todos os
seus amigos estão aqui, grandes sambistas, nossas queridas baianas, nossa
querida velha guarda, casal de mestre-sala e porta-bandeira e nosso pavilhão
estão aqui.
Eu ainda me lembro, Neguinho, quando
nós fomos desfilar em 71, e nós tínhamos que voltar, porque lá não tinha onde
guardar os instrumentos. (Voz fora do microfone.) Eu acabei de desfilar, peguei
na mão da minha esposa hoje, ela disse: “não, nós temos que passar”. Aí fomos
lá na 14 de Julho, pegamos os instrumentos, trouxemos tudo para baixo.
E isso é o Neguinho, isso é o Tadeu,
Antônio Carlos Tadeu de Souza, Mestre Tadeu, que merece ir para o Guinness.
Deputada, vamos fazer um trabalho em cima disso?
A
SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Vamos.
O
SR. FERNANDO PENTEADO - Ele merece ir para o
Guinness, porque não tem outro à frente dele. Então, já faço um pedido aqui a
vocês e a ele mesmo, à irmã dele que está aí: pegar todos os recortes de jornal
que nós temos dele para nós fazermos um documento e ter o prazer de colocar o
nome do Neguinho dentro do Guinness, como direito, como o mestre de bateria
mais antigo do Brasil. Uma salva de palmas para esse Neguinho aí. (Palmas.)
Tem um final de um samba que o Betinho
Mulata fez, e eu lembro o finalzinho, que ele fala: “mestre, a nossa alegria é
ver a bateria sempre nota dez; você está na galeria dos menestréis em apogeu;
basta pensar em Vai-Vai para lembrar de Tadeu”.
É isso aí. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agora com a palavra
Sandra Sueli de Souza, sempre porta-bandeira da Lavapés.
A
SRA. SANDRA SUELI DE SOUZA - Boa noite a todos.
Não sempre, não é, meu último cargo foi em 76, na Lavapés, como porta-bandeira.
Certo? Lá eu fui tudo: nasci, cresci, fiz tudo a que tinha direito ali.
Agora, falar do Tadeu, meu Deus, o quê?
É meu irmão, meu mais velho. Para a gente, ele foi tudo. Nossa mãe nos deixou
muito pequenos, e ele foi o responsável por nós. E não sei o que falar dele.
Tudo de bom. Que Deus abençoe meu irmão, de manhã, de tarde e de noite, que ele
merece tudo isso e muito mais.
Muito obrigado a todos. (Palmas.)
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada. Agora
veremos uma mensagem muito especial desse ícone do samba e da política que
infelizmente não pôde estar aqui, que é a deputada estadual Leci Brandão.
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* *
- É exibido o vídeo.
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* *
O
SR. MESTRE TADEU - Muito obrigado.
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Agradecemos pelas
palavras dos membros da Mesa e da deputada estadual Leci Brandão, que não pôde
estar presente neste momento. E assistiremos a um vídeo sobre a trajetória do
Mestre Tadeu e algumas homenagens de amigos próximos ao homenageado.
*
* *
- É exibido o vídeo.
*
* *
Com a palavra Rozina de Jesus,
representando a deputada estadual Leci Brandão.
A
SRA. ROZINA DE JESUS - Boa noite, boa
noite a todos e todas. Vou me apresentar rapidamente. Sou Rozina de Jesus, do
mandato da deputada Leci Brandão, junto com o Jorginho Saracura, que ali está,
também do mandato da Leci.
Como disse aqui a nossa deputada Ediane
Maria, a Leci é esse ícone da música brasileira, do samba. Nossa segunda mulher
preta a entrar nesta Casa, em 2010, 2011, e, como disse a deputada, abrindo as
portas para outras mulheres e outras mulheres negras neste Parlamento, que,
infelizmente, ainda é um Parlamento branco, masculino, e que não nos cabe. Mas hoje
aqui é uma honra a gente ver o nosso povo adentrando esta Casa, que é a Casa do
povo.
Então, dizer para vocês, como disse a Leci ali
no vídeo, é muito importante a gente homenagear os nossos, principalmente em
vida, aqueles que abnegaram da sua vida por uma ideologia; no caso do Mestre
Tadeu, pela ideologia da questão do Carnaval, do samba, da nossa Cultura.
Então é fundamental que a gente faça
esta homenagem, faça esta sessão solene junto com essa mulher que é tão
aguerrida, que é a deputada Ediane Maria, e que a gente possa aqui, juntos,
esses mandatos populares de mulheres, de negros e negras, fazer outros grandes
eventos aqui nesta Casa, para continuar resistindo e dizendo: “este lugar é
nosso. Esta terra é de povo preto, indígena e, portanto, temos que ocupar”.
Mestre Tadeu, meus parabéns e um grande abraço da deputada Leci
Brandão. Conte com a gente, e esta Casa é de vocês. Sintam-se à vontade.
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada. Solicitamos que
a Mesa fique em pé, se posicionando para as fotos.
*
* *
- É feita a apresentação musical.
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* *
A
SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Uma salva de
palmas para a Bateria da Vai-Vai.
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Mestre Tadeu, esta
bela homenagem feita pela bateria pelo senhor. E a gente gostaria de aproveitar
esse momento para ouvir suas palavras.
O
SR. MESTRE TADEU - Boa noite, boa noite, boa
noite. Em primeiro lugar, eu quero agradecer, lá em cima, que é a Deus. Em
segundo lugar, aos nossos orixás, porque nós somos da pele preta, da nossa raça
negra, e nós temos nossos orixás.
Em terceiro lugar, agradecendo também a
comunidade branca que faz parte da Escola de Samba Vai-Vai. É por causa disso
que a escola se chama Vai-Vai: é preto e branco, é a mistura que nós temos na
nossa escola. Isso vem desde lá de 1930, quando foi fundada a escola. É o preto
e o branco. Na nossa escola, nós aceitamos todo mundo, ok?
Em quarto lugar, eu acho que a minha
mãe está muito feliz lá em cima. Nós perdemos a nossa mãe cedo. Nós somos três
irmãos, filhos de mãe solteira e tal. Minha mãe era da ala das baianas da
Lavapés, costureira, que naquela época não tinha... As próprias baianas faziam
as roupas.
Ficavam semanas e semanas costurando
naquelas máquinas de pedal. Ficavam com as pernas inchadas para fazer as roupas
das baianas. Mas era com muito orgulho. Então, ela está feliz por mim, pela
minha irmã, nós estamos vivos aqui, graças a Deus.
Em quinto lugar, quero agradecer ao meu
presidente, ao meu diretor-geral de carnaval, que está presente ali. Quero agradecer
à nossa velha guarda, que é muito importante. (Palmas.) Quero agradecer às
nossas baianas, porque escola de samba sem baiana não é escola de samba, essa é
a realidade. Escola de samba que não tem baiana não é escola de samba.
Quero agradecer a todos os
departamentos da nossa Escola de Samba Vai-Vai, a nossa comunidade, porque a
nossa comunidade é forte. O que nós estamos passando, estamos lutando, sem
quadra, mas vamos chegar lá. Antes de morrer eu quero ver a nossa quadra para a
gente fundar o nosso quartinho de bateria. (Palmas.) Se Deus quiser.
Quero agradecer aqui ao nosso
vice-presidente. Quando eu cheguei no Vai-Vai ele já estava, que era o Zé Carlinhos.
Cheguei, ele já estava. Depois, eu fui para a ala de surdos, que era eu, ele, o
Branca de Neve, que andava conosco, que já faleceu muito cedo. Lembra, Zé? Tudo
isso aí. A nossa comunidade, também já falei que é muito importante, e todos os
departamentos, todo o chefe de ala, a nossa rainha de bateria, a nossa princesa
de bateria, está aqui.
Isso é muito importante para nós, eu
estou muito satisfeito no dia de hoje. Quero, não posso deixar também, não
falhar, não posso deixar de agradecer a meu mestre de bateria, que está aqui.
Chama-se Roberto Lopes, vocês conhecem ele? (Palmas.)
Quero agradecer aos meus diretores de
bateria, que estão todos aqui, olha, cada um com seu instrumento tocando. Todos
os diretores, certo? É muito importante, muito importante. (Palmas.)
Quero agradecer a todos os ritmistas
dessa escola de samba. Todos. (Palmas.) Quem? Quero agradecer à pessoa que
mudou o carnaval de São Paulo quando ele chegou, não podemos esquecer: Robson
de Oliveira. Estamos juntos.
Quero agradecer ao meu amigo Praxedes.
Thiago Praxedes, que trouxe a proposta para a deputada Ediane, não é isso? E a
deputada aceitou. Isso é muito importante para nós, principalmente da Escola de
Samba Vai-Vai.
E eu já estou há 52 ou 53, vai fazer.
Tem o meu sucessor, que eu acredito que na hora que eu “pá”, é ele que vai
tomar conta dessa bateria, até porque muitas pessoas me questionam, muitas
pessoas falam mal de mim, porque eu sou conservador.
A Escola de Samba Vai-Vai não contrata
ninguém. Quando eu parar, nós temos o Mestre Beto. Quando o Mestre Beto parar,
ele tem outros diretores com capacidade. A nossa escola de samba é de tradição,
é de raiz, e temos que respeitar a raiz. Escola de samba que não tem raiz, tem
vida curta. Pode ter certeza disso. Nós temos raiz.
Olha o que nós estamos passando, esses
momentos que nós estamos passando, que nós vamos conseguir inverter, mas nós
temos raiz. Nós temos povo, nós temos comunidade, nós temos gente que gosta da
nossa escola de samba, que adora a nossa escola. Isso que é muito importante em
uma escola de samba, é você gostar, fazer aquilo por amor.
Quando eu cheguei, que eu peguei a
bateria - acho que eu sou o único mestre que foi mestre do mestre, que já
faleceu, que é o Mestre Feijoada. Ele foi meu mestre e depois eu fui mestre
dele. Quando ele voltou, ele saiu como ritmista.
Isso é muito importante, tem coisa que
as pessoas não sabem. E, às vezes, eu falo muito nessa bateria, porque essa
bateria decidiu três, quatro carnavais no item “bateria”. Essa bateria aqui é a
quinta geração que está sob meu comando, agora junto com o Mestre Beto. O
Mestre Beto não tem dez anos de Vai-Vai, ele está há quase 30 aqui já.
A
SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - Mas nem
parece, hein?
O
SR. MESTRE TADEU - É, mas já é velhinho, tem quarenta
e sete. Vai pensando, já está com quarenta e sete. E hoje não tem “dindin”, não
tem cachê. Entendeu? Então, é o seguinte, isso é muito importante. Para vocês,
ritmistas, que são mais jovens, são mais... Entendeu? Tem que gostar do que
faz.
Bateria é o coração dessa entidade.
Sabe por que ela é o coração? Porque ela vai tocar para quatro, cinco mil
pessoas na avenida. Ela não pode falhar, ela não pode errar. De acordo com o
ritmo da bateria é que a escola vai desfilar, é que a escola vai dançar, é que
a escola vai cantar. É o ritmo da nossa bateria aqui.
Então, é o seguinte: eu tenho muito
orgulho de chegar nesse ponto de 50 anos, estar aqui, junto com os mais jovens,
que são vocês. Tem pessoas aqui que nem pensavam em desfilar em escola de
samba. Hoje estão aqui, com o maior respeito.
Dou valor, nossas porta-bandeira e
mestre-sala, que eu esqueci, são da casa. Graças a Deus, a gente consegue fazer
o mestre-sala, a gente consegue fazer uma porta-bandeira, a gente consegue
fazer passista. Porque, às vezes, eu era muito criticado: “não, o Tadeu é duro,
o Tadeu não sei o quê”, mas conseguimos fazer vários sambistas.
Nós fizemos acho que oito ou nove
rainhas do carnaval dentro da Vai-Vai, porque eu era duro, eu brigava com elas:
“Você tem que sambar, você tem que olhar para frente”.
Sambista não pode estar dançando
olhando para o chão. Passista tem que olhar para o alto, para a frente, aquela
elegância. Passista tem que ser elegante. Rainha de bateria tem que ser
elegante.
A turma fala: “o que é rainha de
bateria?”. Está até dizendo no nome: “rainha de bateria”. Tem que ser mulher
bonita, mulher exuberante, mulher que samba, que é para chamar a atenção. Ela
vem na frente de uma bateria com 300 ritmistas. Então, ela já leva o nome rainha.
Depois vem a princesa.
Então, a gente tem que continuar esse
trabalho. A Vai-Vai tem muita gente boa. A Vai-Vai está cheia de sambistas, que
estão escondidos, porque não dão uma oportunidade. Não que não dão oportunidade;
às vezes, a pessoa também não... Entendeu? É tímida. Mas nós temos, não é,
presidente? Nós temos. Nós temos raiz. E se nós fizermos um trabalho, nós vamos
descobrir aqui um monte de passista boa, de sambista mesmo de raiz.
Então é o seguinte, hoje é um dia que
eu estou muito orgulhoso. Venho agradecer a vocês, porque, em uma quinta-feira,
sete horas da noite, este monte de gente que está aqui... Eu sou oriundo da Escola
de Samba Lavapés. Nunca neguei para ninguém. Eu nasci lá, eu fui criado lá.
Então eu tenho o maior orgulho, porque
a Lavapés é encostada com o Bixiga. É só você atravessar a Brigadeiro e você já
está no Bixiga. Saiu do Bixiga, você está na Lavapés. É isso aí.
Então é o seguinte, eu estou muito
satisfeito, muito orgulhoso pela oportunidade que a nossa deputada está dando,
porque não é fácil você homenagear o povo preto aqui dentro da sua Casa; eu sei
que não é brincadeira. E o povo preto nosso, preto ou negro, cada um tem uma
palavra diferente, mas no fundo é tudo a mesma coisa. Olha, compareceu.
Compareceu. (Palmas.)
E, para encerrar o meu discurso, eu
quero dizer o seguinte: a Escola de Samba Vai-Vai não tem preconceito. Graças a
Deus. Lá é a escola do povo, lá é a escola da comunidade, certo? Lá é a escola
do branco, do preto, do amarelo, do índio, de todo mundo. E isso nós somos
felizes.
Salve Vai-Vai!
TODOS
- Salve!
O
SR. MESTRE TADEU - Muito obrigado. Estou muito
satisfeito.
Muito obrigado. Ok?
A
SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Obrigada. Oficializamos
a homenagem com a entrega da placa de honra e o ramalhete de flores ao Mestre Tadeu.
*
* *
- É entregue a homenagem.
*
* *
A
SRA. PRESIDENTE - EDIANE MARIA - PSOL - A gente vai
fazer assim, Mestre: pode continuar, porque aí tem aquela saudação, que é norma
da Casa, e aí encerra a sessão. Mas continua. Daqui a pouco eu vou saudar todo
mundo, e a gente encerra a sessão solene, porque se deixar vai até de manhã.
Aqui o samba...
Vamos encerrar então. Eu quero
agradecer aos mestres de Bateria da Vai-Vai, Lavapés, mestres-salas,
porta-bandeiras, velha guarda, as baianas, a Lavapés, Vai-Vai, e a todos os
amigos que estão aqui presentes.
Bom, esgotado aqui o objetivo da
presente sessão.
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* *
- Encerra-se a sessão às 21 horas e 54
minutos.
*
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