31 DE MARÇO DE 2023
3ª SESSÃO SOLENE DE ENTREGA DO PRÊMIO THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO
Presidência: LECI BRANDÃO
RESUMO
1 - LECI BRANDÃO
Assume a Presidência e abre a sessão.
2 - CLÁUDIA LUNA
Mestre de cerimônias, nomeia a Mesa e demais autoridades presentes.
3 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO
Informa que a Presidência efetiva convocara a presente sessão solene para a "Entrega do Prêmio Theodosina Rosário Ribeiro", a pedido desta parlamentar. Convida o público para ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Discorre sobre a relevância desta solenidade.
4 - CLÁUDIA LUNA
Mestre de cerimônias, tece considerações acerca da história de Elza Soares. Anuncia a exibição de vídeo sobre a cantora.
5 - THAMYSIE
RIBEIRO
Neta da ex-deputada Theodosina Rosário Ribeiro, faz pronunciamento.
6 - PROFESSORA BEBEL
Deputada estadual, faz pronunciamento.
7 - EDIANE MARIA
Deputada estadual, faz pronunciamento.
8 - THAINARA FARIA
Deputada estadual, faz pronunciamento.
9 - MARINA HELOU
Deputada estadual, faz pronunciamento.
10 - RENATA ROSA
Representante do PCdoB, faz pronunciamento.
11 - CLÁUDIA LUNA
Mestre de cerimônias, lê currículos e anuncia a entrega de homenagens.
12 - VERONICA MACHADO
Fundadora da ONG Mensageiros da Esperança e do Centro de Capacitações, faz pronunciamento.
13 - NAZARÉ BATISTA BRAGA
Bacharel em Direito, faz pronunciamento.
14 - TAISE BRAZ
Vereadora à Câmara Municipal de Catanduva, faz pronunciamento.
15 - ELIANE PINHEIRO BELFORT MATTOS
Conselheira municipal dos Direitos da Mulher do Guarujá e da Coordenadoria dos Assuntos da População Negra, faz pronunciamento.
16 - FRANCISCA PEREIRA DA ROCHA SEIXAS
Professora de História na rede estadual e municipal de São Paulo, faz pronunciamento.
17 - LÍDIA CORREIA DA SILVA
Vice-presidente da CMB - Confederação das Mulheres do Brasil, faz pronunciamento.
18 - MARISA FERNANDES
Mestre em História Social, faz pronunciamento.
19 - ANDREA ROMAOLI GARCIA
Membro do Conselho dos Direitos Humanos na ONU, faz pronunciamento.
20 - ELIZABETE UMBELINO YA MONADEOSI
Doutora em Linguística e professora aposentada, faz pronunciamento.
21 - CELESTE DA SILVA GASTÃO
Secretária de Organização do Distrital PCdoB de São Miguel Paulista, faz pronunciamento.
22 - ELIZANDRA SOUZA
Criadora do Mjiba Fanzine de Poesia, faz pronunciamento.
23 - CAROLINE JANGO
Diretora-geral do IFSP - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, faz pronunciamento.
24 - ARLETE IZIDORO
Presidente da Associação Afro-Brasileira Ogban, faz pronunciamento.
25 - ROSA MARIA ANACLETO
Vice-presidente da União dos Negros e Negras pela Igualdade, faz pronunciamento.
26 - IYÁ MARISA DE OYÁ
Dirigente do Ilê Sacerdotal, ativista pelos direitos das mulheres negras, faz pronunciamento.
27 - CLÁUDIA LUNA
Mestre de cerimônias, anuncia a exibição de vídeo com pronunciamento de Clodd Dias, artista e militante feminista.
28 - GILDA BRASILEIRO
Representante da Associação Rosas Negras, faz pronunciamento.
29 - CRIS GAMBARÉ
Diretora de Futebol Feminino do Corinthians, faz pronunciamento.
30 - MAURA RITA DE OLIVEIRA
Coordenadora Estadual de Logística da Cufa - Central Única das Favelas, faz pronunciamento.
31 - CLÁUDIA LUNA
Mestre de cerimônias, anuncia a entrega de homenagem à deputada Leci Brandão e à Sra. Thamysie Ribeiro.
32 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO
Tece considerações sobre sua trajetória como cantora e parlamentar. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.
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- Assume a
Presidência e abre a sessão a Sra. Leci Brandão.
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A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Senhoras e senhores, bom dia. Solicitamos que ocupem os seus
lugares. Sejam todas e todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo.
Esta sessão solene destina-se à outorga da medalha
Theodosina Rosário Ribeiro. Comunicamos aos presentes que esta sessão solene
está sendo transmitida ao vivo pela TV Alesp e pelo canal Alesp no YouTube.
Convidamos, para compor a Mesa Diretora desta sessão solene,
a deputada estadual Bebel. (Palmas.) A deputada estadual Ediane. (Palmas.) A
deputada estadual Thainara Faria. (Palmas.)
A Sra. Thamysie Ribeiro. (Palmas.) A Sra. Renata Rosa, da
direção estadual do PCdoB. (Palmas.) E a deputada estadual Leci Brandão,
proponente desta sessão solene. (Palmas.) Convidamos para tomar assento a
deputada Marina Helou. (Palmas.)
Para a abertura desta sessão solene, ouviremos a deputada
estadual Leci Brandão. (Palmas.)
A SRA.
PRESIDENTE
- LECI BRANDÃO - PCdoB - Sob a proteção de Deus, iniciamos os
nossos trabalhos nos termos regimentais. Esta Presidência dispensa a leitura da
Ata da sessão anterior.
Sras. Deputadas, Srs. Deputados, minhas senhoras e meus
senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa de Leis
atendendo minha solicitação, com a finalidade de entregar a medalha Doutora
Theodosina Rosário Ribeiro.
Convido todos os presentes para, em posição de respeito,
ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.
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- É executado o
Hino Nacional Brasileiro.
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A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Registramos e agradecemos as ilustres presenças das
seguintes personalidades: o sempre deputado Nivaldo Santana, 15a
Legislatura. (Palmas.) O delegado Leandro Marafon, representando, neste ato, o
delegado-geral da Polícia Civil, delegado Artur Dian. (Palmas.) Rejane, esposa
do companheiro Duarte Pereira, diretor da ação popular que lutou contra a
ditadura, parabenizando a guerreira Celeste, que cuidou dele. (Palmas.)
Deputados e deputadas estaduais: Caio França, Professora
Bebel, Marina Helou, Ediane Maria e Thainara Faria. (Palmas.) Deputado federal
Gilberto Nascimento. (Palmas.) Sra. Tamysie Ribeiro, neta da homenageada de
hoje, que outorga o nome à medalha. (Palmas.)
Sra. Mariana Souza, codeputada da Bancada Feminista do PSOL.
(Palmas.) Najara Costa, codeputada estadual pelo Movimento Pretas. (Palmas.)
Renata Rosa, da direção estadual do PCdoB. Sempre deputado Alcides Amazonas,
presidente do diretório municipal do PCdoB. (Palmas.)
Eliana Fernandes, do PSD Afro. (Palmas.) Kátia Rodrigues,
diretora de assuntos da mulher e da juventude da Federação dos Sindicatos dos
Servidores Públicos. (Palmas.) Jessi Belfort, da Associação das Mulheres
Progressistas. (Palmas.)
Marcos Seixas, do Sindicato dos Advogados de São Paulo.
(Palmas.) Rita Vilela, representando o prefeito de Santa Rosa do Viterbo.
(Palmas.) Investigadora Beni Francis, representando a Dra. Daniela Branco,
delegada-titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância do
DHPP. (Palmas.)
Com a palavra, a presidente desta sessão solene, deputada
estadual Leci Brandão.
A SRA.
PRESIDENTE
- LECI BRANDÃO - PCdoB - Que Deus proteja, abençoe e ilumine
todas, todos e todes que estão aqui. Hoje é um dia de celebração. Essa medalha
leva o nome de Dra. Theodosina Rosário Ribeiro, que foi um exemplo de vida
dedicado ao trabalho ético e aguerrido em favor das minorias.
Primeira mulher negra a ser eleita deputada estadual por São
Paulo, ela sempre foi uma luz inspiradora para que todas nós perseguíssemos o
ideal de ocupar espaços de poder e representar maioria do nosso povo com
legitimidade. Ela fez sua passagem em 2020, mas deixou sua marca no mundo.
Esta solenidade também é um ato político, e como tal não
poderia deixar de dizer que esta edição dedicada à Elza Soares é uma forma de
homenageá-la. Em 2017, Elza afirmou em uma entrevista: “Ser mulher é difícil.
Negra, ainda muito mais. Mas se você parar porque é negra e é mulher, não chega
a lugar nenhum”.
Por ter essa postura, Elza Soares deixou um legado admirável
na música brasileira, na luta contra o racismo e o machismo também. Considerada
pela BBC de Londres “a voz do milênio”, ela sempre será uma referência para
todas nós. Com uma alma genuinamente generosa, para Elza, a frase “uma sobe e
puxa a outra” não é uma fala vazia. Afinal, ela sempre apoiou mulheres negras,
sobretudo artistas.
O período em que tivemos de nos afastar por conta da
pandemia escancarou o quanto o nosso povo está vulnerável. Parte da resistência
a situações de miserabilidade, pobreza e preconceito veio de mulheres que se
destacaram por serem extremamente conscientes das questões sociais e políticas.
São mulheres de fibra, mulheres que desempenham papel
fundamental na luta por moradia, emprego, comida na mesa, direitos sociais,
políticos e econômicos. Enfim, assim como fizeram Elza Soares e Dra.
Theodosina, celebramos a vida de 20 ativistas da luta por mais igualdade.
Celebramos, também, todas, todes e todos que transformam o mundo e mantêm viva
a nossa esperança.
Queria acrescentar que eu estou muito feliz depois que
tomamos posse nesta Casa, no dia 15 de março, porque esta Assembleia
Legislativa está diferente. E está diferente por quê? Primeiro, porque ela está
mais colorida, ela tem mulheres de todas as raças, ela tem mulheres de todos os
gêneros. (Palmas.) Ela tem mulheres que fazem com que essa Casa seja realmente
do povo, porque as mulheres do povo agora estão aqui no poder desta Assembleia.
Axé para todo mundo. (Palmas.)
A SRA. MESTRE DE
CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Dedicar esta edição a Elza Soares é uma forma de celebrar e
homenagear a sua sempre potente e preciosa existência. Elza Gomes da Conceição
nasceu na favela carioca Moça Bonita, hoje conhecida como Vila Vintém. Filha de
lavadeira e de operário, foi obrigada a se casar aos doze anos, virou mãe aos
treze e já era viúva aos 21.
Elza Soares, famosa por sua voz rouca, cantora, compositora,
um dos maiores nomes da MPB. Em 2000, Elza recebe em Londres o título de A
Melhor Cantora do Universo, dada pela emissora BBC.
Elza Soares, sua história de vida conta com tragédias,
reviravoltas, vitórias memoráveis. Elza Gomes da Conceição, nossa diva, Elza
Soares, nossa guerreira. Neste momento, assistiremos a um trecho do vídeo de
Elza Soares.
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- É exibido o
vídeo.
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A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Com a palavra, a Sra. Thamysie Ribeiro, neta da Dra.
Theodosina Ribeiro.
A SRA. THAMYSIE
RIBEIRO -
Bom dia, Exma. Deputada Leci Brandão. Bom dia à Mesa. Bom dia, Assembleia
Legislativa de São Paulo. Eu vou tentar, eu não sei se vou conseguir. (Pausa.)
Desculpa. (Pausa.) É que falar da minha avó, para mim, ainda pesa um pouquinho.
(Palmas.)
Eu sou a Tamysie, neta da deputada Theodosina Ribeiro, tenho
35 anos, sou a filha mais nova do Marcos, que é filho dela e da Nildes. Eu sou
casada, formada e pós-graduada em Relações Públicas e sou empresária. Mas, como
eu falei para vocês, para mim o mais importante é ser neta da minha avó.
(Palmas.)
Hoje estou aqui em nome da minha família, que não pôde estar
presente, para agradecer todo amor e carinho que todos sempre tiveram com ela e
para reafirmar que essa medalha foi muito importante na vida dela, porque ela
ser honrada e homenageada em vida... Como eu posso dizer? Eu até escrevi um
textinho, mas eu estou tentando não colar. Validou muito e honrou muito todo o
trabalho de luta que ela teve aqui por 14 anos.
Ela me contava que não era fácil entrar aqui naquela época,
mas com toda a batalha que ela teve, com toda a luta que ela teve, ela
conseguiu derrubar as barreiras e atingir os objetivos alcançados. Ela me
contava muitas coisas, e eu ficava tentando imaginar como era estar aqui e
passar por tudo pelo que ela passou. Mas ela conseguiu. E hoje para mim é uma
honra estar aqui e ver que o legado dela continua através de todas essas
mulheres guerreiras, fortes e empoderadas.
Muito obrigada por tudo o que a senhora fez.
Muito obrigada.
Obrigada a todos por estarem aqui hoje.
Bom dia e axé! (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Ouviremos, neste momento, as brevíssimas palavras das
autoridades presentes. Iniciamos com a deputada Bebel.
A SRA.
PROFESSORA BEBEL
- PT - Bom dia, minha querida Leci, que empreendeu esta grande
solenidade, para poder conceder uma medalha Theodosina Ribeiro - e é a nona
edição - sob o nome de Elza Soares.
Eu quero dizer para vocês o seguinte: eu me sinto honrada de
estar aqui. Honrada por também ter tido oportunidade de indicar outra
companheira, que é a Taise Braz, que é da cidade de Catanduva, que tem toda uma
história de recursos humanos e foi membro da Pastoral África. (Palmas.)
Ela fez um feito que nós não conseguimos na Casa. Ela é a
primeira mulher, ela está sendo a primeira mulher na primeira secretaria de
Catanduva. Aqui nós não conseguimos. E preta. (Palmas.) E foi e é a primeira
mulher a ocupar um cargo na Câmara de Vereadores de Catanduva, porque ela é a
primeira secretária na Mesa e a primeira negra a ocupar um cargo mandatário na
Câmara de Vereadores.
Então, eu quero dizer para vocês sem me alongar - até
porque, eu sei que solenidade cerimonial tem que ser rápida - que eu quero
cumprimentar a Tamysie, em nome de quem eu cumprimento toda a família. Que
orgulho, viu? A minha querida Leci, a nossa querida Ediane - agora acertei. A
Thainara, a Marina Helou e uma companheira que eu não vi o nome... A Renata.
E dizer para vocês o seguinte, que é muito importante: cada
momento desse que nós fazemos estamos fazendo um momento de resistência à
discriminação racial e a todo tipo de discriminação. Discriminação mata,
psicológica e fisicamente.
Um forte abraço, muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Deputada Ediane.
A SRA. EDIANE
MARIA
- PSOL - Eu quero me levantar, porque, assim, é um negócio, sabe? Eu
estou muito emocionada pelo convite da Leci, por estar aqui hoje representando
uma luta tão grande. Olhar esse prêmio, olhar duas mulheres tão fortes, que vêm
caminhando e carregando essa luta das mulheres negras.
E tenho certeza que a tua avó, ao pisar aqui sozinha...
Sozinha, assim, aqui dentro, mas lá fora com tanta gente olhando-a e
admirando-a. Tua avó é a minha avó, é a avó de todos nós. De todas as mulheres
negras, de toda a periferia, de todos que resistem.
Quem sou eu, gente? Eu sou Ediane Maria, uma migrante lá do
sertão de Pernambuco que vem aqui para trabalhar como doméstica e que não
entendia esses mecanismos desta cidade. E eu sempre a coloquei como uma selva
de pedras, que é um mecanismo...
Eu sempre falo desse grande moedor de carne, moedor de
sonhos e de perspectivas, que nos engole e silencia o tempo inteiro. Então,
quando eu vejo histórias de mulheres que ocuparam a política, lá em 79...
Eu não era nem nascida. Nasci em 83, viu? Sou jovem. Até
outro dia, falavam assim: “Você vai fazer 40 anos esse ano, Ediane?”. Eu falei:
“Sim, 40 anos”. E ver essa referência de tantas mulheres que ocuparam, ver a
Leci, na nona edição, que vem, traz e mostra a importância das
mulheres negras de ocuparem vários lugares na música, na política. A Elza
Soares, quando a gente vê só aonde ela chegou, a gente tem que olhar sempre o
caminho pelo qual ela percorreu até chegar nesse lugar.
Por isso que eu sempre gosto de ouvir as histórias. Quem são
essas mulheres? Quem são essas mulheres que representam tanto para nós e que
são tão caro o tempo inteiro?
Sempre que eu subo ali para fazer uma fala, gente - é minha
primeira vez como deputada -, a gente sempre sente uma corrente. É
impressionante. Não sei se a Thainara sente. Sente-se uma corrente que vai te
puxando para um canto, e você olha e fala: “Não, essas correntes não vão mais
nos prender”.
São esses os desafios todos os dias. E eu imagino pelo que a
tua avó passou aqui, lá atrás. Não é um ambiente fácil. Falaram-me um dia que é
um lugar hostil. Falaram-me: “Ediane, é um lugar hostil”. Mas quando eu vi a
Leci, eu falei: “O quê?”. Quando vi essas mulheres aqui, eu falei: “O quê?”.
Não estamos sozinhas. Nós não estamos sós. Quando a Leci colocou que essa
última eleição coloriu o ambiente, mostrou toda uma pluralidade das mulheres.
Somos diversas.
É muito bom ver que a gente não está só. É muito bom ver que
a política está tomando outra engrenagem. A gente está girando, multiplicando e
colocando nossos corpos, a nossa história neste lugar. E fazendo história, para
que os próximos venham e que não seja tão dura a caminhada, que não seja tão
violenta, que a gente não sofra mais violência.
Então, gente, sou muito grata por estar aqui. Sou uma mãe
solo de quatro filhos que muitas vezes enxergava a cidade, mas ela não me
enxergava. Eu olhava para os problemas, porque é difícil, hoje, a gente falar
de mães que acordam ou às vezes nem dormem direito, porque não sabem se vão
conseguir o pão. Ele às vezes fica para depois. É pensar em um fubá, no angu.
É isso. A nossa luta é para mudar essas trajetórias. Para
trazer autoestima para o nosso povo. Para mostrar que é possível avançar
seguras. A nossa carne não será a carne mais barata do mercado. E essa é a
nossa luta. Só tenho a agradecer pelo convite, saudar esta Mesa maravilhosa e
todos que saíram de cada lugar de São Paulo para estar aqui hoje.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Com a palavra, a deputada estadual Thainara Faria.
A SRA. THAINARA
FARIA
- PT - Bom dia. Sexta-feira, gente. Bom dia.
TODOS - Bom dia.
A SRA. THAINARA
FARIA
- PT - Que alegria poder compartilhar a minha manhã de sexta-feira com
vocês. Eu quero iniciar saudando os servidores desta Casa, que, de forma
brilhante, dão acessibilidade a esta honraria que está acontecendo, e todas as
partes do nosso estado de São Paulo e do Brasil, para quem está acompanhando
pelo YouTube.
Quero saudar esta Mesa honrosa e honrada de mulheres e
majoritariamente de mulheres pretas. Nestes momentos, não nos sentimos
sozinhas. Saudando os que vieram antes e os que virão depois, em nome da querida
Tamysie Ribeiro. Que bom que você está aqui. Estamos porque sua voz esteve. E
continuaremos, para que seus filhos estejam também. (Palmas.) Saudar a querida
Renata Rosa.
Deputada Ediane, faço suas as minhas palavras. As correntes
são pesadas, mas as nossas pares nos ajudam a arrastá-las até que quebremos de
vez. Porque não seremos livres até que um preto ou uma preta esteja acorrentado
nas amarras do racismo.
Todos nós estamos aprisionados ainda. Querida Professora
Bebel, deputada desta Casa, grande representante da Educação. Deputada Marina
Helou, que alegria. Esteve na ONU há pouco defendendo as questões ambientais e
agora está aqui conosco.
E a minha admirável, respeitável, mulher honrosa a qual eu
peço uma salva de palmas, lutadora incansável, deputada Leci Brandão. (Palmas.)
Deputada Leci Brandão, que através da sua música, da sua arte, dedicou o seu
dia a dia a denunciar essas mazelas da sociedade e, não, de nenhuma forma, se
furtou ao debate nesta Casa. E vem trazendo. todas nós.
Eu vou contar rapidamente uma passagem. A deputada Leci
Brandão recebeu uma homenagem na minha cidade de Araraquara, e era de uma outra
figura política, uma outra figura pública. E ela quebra todos os protocolos,
sabendo que eu seria candidata a deputada estadual, dizendo, então, que ela
seria minha madrinha.
Ela nunca disputou com nenhuma mulher preta, com nenhuma
mulher, com nenhuma outra pessoa que não fosse com o racismo. E se eu estou
aqui, querida deputada Leci Brandão, artista, musicista, é porque você está e
porque você abriu as portas para mim. Então muito obrigada pela sua presença,
pela sua vida. Eu sou grata, porque você existe. Obrigada. Amém. (Palmas.)
Eu vou fazer uma fala muito breve. Mas como nós normalmente
somos só títulos daqueles e daquelas que foram assassinados, daqueles e
daquelas que são minoria na política, daqueles e daquelas que têm os menores
salários, os piores empregos, eu quero encher a minha boca para falar das
mulheres que serão homenageadas nesta manhã.
Maura Rita, representando a Cufa, Lídia Corrêa, Caroline
Jango, Jovita Moraes, Elisandra Souza, Gilda Ribeiro e esta, que é mãe, mas que
é minha irmã na política, que está segurando a Eleonora, Taise Braz,
representando as mães pretas na política. (Palmas.)
E eu olhei para a Eleonora, que ontem visitou o meu gabinete
- vem mostrar ela aqui para a gente enquanto eu falo -, e disse: “Que alegria
uma criança preta que vai crescer tendo mãe, tia e todos os parentes na
política fazendo leis, para que o País em que ela vai crescer seja mais justo
para ela”. Essa é a Eleonora, gente. (Palmas.) Eba, gosta de festa.
E eu vou encerrar minha fala tendo feito referência a todas
essas mulheres de luta, todas essas mulheres guerreiras. Todas essas pessoas
que muitas vezes chegaram no mercado e tiveram que escolher se iam levar o óleo
ou o arroz para alimentar seus filhos.
Todas aquelas que, mesmo trabalhando o mês inteiro, tiveram
que escolher se iam pagar o aluguel ou se iam comprar o gás. Todas as mulheres
que se levantam antes do sol nascer e que lutam.
As mulheres diversas, as mulheres do axé, as mulheres
intelectuais, as mulheres da luta social, todas aquelas que encabeçam este
País. Que não são só a base social, que se essas mulheres pararem, este País e
esse estado de São Paulo não andam. Mas aquelas que nos ensinaram que resistir
é necessário por todos aqueles que morreram afogados, por todos aqueles que
morreram escravizados e açoitados.
Eu quero dizer que hoje, não só essa diversidade nesta Mesa,
mas o colorido que enche este plenário, que normalmente está cheio de pessoas
de terno e gravata, que pouco falam sobre nós, hoje nos dá o combustível
necessário para fazer a defesa e o enfrentamento daquilo que é mais importante,
que são os direitos sociais. O direito à alimentação, o direito ao teto, o
direito a ter educação sem sofrer racismo ou sem que o professor chegue e tenha
medo de ser assassinado.
Nós precisamos nos livrar da sociedade do ódio. Nós
precisamos promover a sociedade do amor, e o amor como política pública, para
fazer o melhor para todas as pessoas. E dessa forma, eu reitero a fala dos meus
ancestrais: “Nada sobre nós sem nós”. Leci, obrigada por promover esse
encontro.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Ouviremos a deputada estadual Marina Helou.
A SRA. MARINA
HELOU
- REDE - Bom dia. Bom dia a todas e todos. É com uma responsabilidade
muito grande e com um sentimento de honra que eu estou aqui me dirigindo a
vocês nesta sexta-feira de manhã. Quero cumprimentar essa Mesa maravilhosa na
figura da Tamysie. É muito importante. Eu quero te agradecer em estar aqui
honrando a sua avó, honrando a sua história e, por meio disso, honrando a
história de tantas pessoas e de todas nós.
Porque se hoje a gente está aqui na Legislatura da
Assembleia Legislativa com o maior número de mulheres da história e com o maior
número de mulheres negras da história, é porque a sua avó deu o primeiro passo,
é porque a sua avó realmente trouxe essa luta para um espaço que é tão
importante para a luta de todas nós.
Mas a gente está aqui hoje, também, porque, ainda que a
gente celebre ser essa Legislatura com mais mulheres e mais negras, a gente
ainda é apenas 25% dos 94 deputados homens dessa Casa.
De 94 deputados, somos apenas 24 deputadas mulheres. Na Mesa
Diretora, não tem nenhuma mulher entre presidente, primeiro secretário, segundo
secretário, todos os vice-presidentes. Nosso Colégio de Líderes não tem as
mulheres representadas.
Então se a gente está aqui hoje honrando o caminho da sua
avó, eu também celebro esta Mesa incrível e todas essas pessoas aqui que se
comprometem a construir uma sociedade em que a Eleonora vai poder ver ter 52%
da população representada nos espaços de poder. E eu tenho certeza de que
estarmos aqui, sob a honra da sua avó e a de Elza Soares, representa que a
gente está no caminho certo e a gente vai chegar a ver isso.
Não apenas queria poder celebrar este momento, a sua avó e
todas as mulheres que vieram antes de nós, mas dizer que isso não seria
possível sem uma liderança como a Leci. Deputada, aqui peço licença para a
gente fazer um parêntese nesta celebração para homenagear a senhora. Uma grande
referência na minha vida, como... (Palmas.)
Porque a Leci tem uma coisa muito especial, que é um
compromisso inabalável com as lutas da vida dela: com as mulheres, com a
população negra, com a cultura, com quem mais precisa sempre. É inabalável. Mas
ela faz isso com gentileza e muita generosidade.
De trazer quanto mais pessoas para perto, melhor, quanto
mais pessoas ela puder realmente dar a voz e o poder, ela vai fazer. E ela faz
isso com respeito. A Leci é a deputada que mais tem respeito de todos os 94
deputados nesta Casa, porque ela respeita a todos. (Palmas.) E aqui, Leci, a
minha homenagem e o meu agradecimento em poder estar aprendendo todos os dias
com você.
Quero dizer, também, que esse prêmio tem um caráter muito
especial, que é a garantia de que a gente está celebrando mulheres que são
mães, professoras, ativistas, lideranças feministas de associações, sindicatos,
sindicalistas, advogadas, artistas, pedagogas, empreendedoras sociais,
mostrando que a gente está na sociedade como um todo.
E é muito importante que a gente tenha um prêmio que não
premie políticos, que não premie quem está nesses espaços, mas premie quem
constrói todo dia a diferença na vida de pessoas, em todos os espaços, porque
todos os espaços são políticos. Então, uma salva de palmas para todas vocês.
(Palmas.)
Por fim, quero aqui dizer e celebrar a Verônica Machado como
uma grande empreendedora social que faz isso todos os dias na vida dela. É uma
honra poder conhecê-la e ver o quanto que essa luta acontece de fato no dia a
dia em todos os espaços. E trazer um último abraço e uma última representação
da ministra Marina Silva, que comentei com ela que estaria aqui.
Ela ficou emocionada com a história. Cumprimenta a sua avó e
diz a importância das mulheres negras ocuparem esses espaço. Dizer o quanto que
a gente sabe que as mudanças climáticas são uma realidade e o racismo ambiental
transpassa toda a luta séria a partir da perspectiva socioambiental.
Porque a gente precisa garantir que os impactos não
aconteçam como no litoral norte, em que quem mais sofreu foi a população negra,
foi a população periférica, foram as mães e mulheres.
Quero aqui te parabenizar e pedir uma salva de palmas a
todas as mulheres que lutam, que estão trabalhando no litoral norte e em todos
os desastres ambientais desse País, e dizer que a nossa luta é junto. (Palmas.)
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Ouviremos neste momento as palavras da Sra. Renata Rosa,
representante do PCdoB. (Palmas.)
A SRA. RENATA
ROSA - Bom dia a todas e a todos aqui presentes. Motumbá, Mucuiú,
Kolofé, sua benção, Leci. Queria pedir a benção aqui também para todas as
minhas mais velhas e dizer que é uma honra imensa estar aqui hoje,
representando o PCdoB em mais um prêmio Theodosina Ribeiro.
Esse prêmio, como todo mundo já disse aqui, é um prêmio
muito importante, que homenageia essas mulheres que dedicaram a sua vida e que
têm seus feitos notáveis na sociedade, que se dedicam ao ativismo político,
social e cultural. Então acho que é muito importante a permanência deste prêmio
já há alguns anos, não é, Leci? A sua persistência em manter esse prêmio aqui
como um espaço importante para ressaltar a luta dessas mulheres.
Como a nossa homenageada é a Elza Soares, então eu vou
começar usando um trecho de uma música dela, que fala assim: “A minha voz eu
uso para dizer o que se cala. O meu País é o meu lugar de fala”. E eu uso esse
trecho porque esse prêmio acontece em um momento muito importante, também, para
o nosso País.
Depois de tantos anos que a gente viveu nas trevas, no
retrocesso, em um governo da morte, em um governo que tentava, buscou destruir
o nosso País, hoje a gente está aqui erguendo a nossa voz depois de um momento
em que tentaram nos calar.
Nós estamos aqui nesse processo que foi um momento de muita
luta para que a gente pudesse chegar aqui, e o momento em que as mulheres foram
fundamentais nesse momento de unidade, de resistência, para a construção desse
novo País. Então eu acho que a gente inicia esse prêmio Theodosina, também, em
um momento de muita esperança, em um momento de construção de um novo futuro
para toda a população brasileira.
Eu acho que, é óbvio, a gente ainda tem muito para avançar,
já foi dito aqui. Mas eu acho que nós estamos em um momento agora de
comemoração e de luta, mas também de muita felicidade, mesmo que aqui no estado
de São Paulo o retrocesso ainda impere. Acho que a gente inicia um momento
agora, um ano de muita felicidade para o nosso País.
E eu fiquei pensando, Leci, sobre os feitos notáveis das
mulheres na sociedade brasileira. E a gente poderia listar muitos. Mas são as
mulheres, hoje, que chefiam suas casas, trabalham, essas mulheres que lutam contra
a fome, que lutam contra o desemprego, contra o preconceito, que enfrentam o
medo e a violência cotidianamente e, ainda assim, têm força para lutar pelos
seus direitos, para fazer história e construir esse sonho intenso de Brasil do
qual o nosso Hino fala, para mudar o mundo.
Então, essa homenagem... Eu sou feliz. A Bebel falou sobre a
companheira que é a primeira em Catanduva, mas eu me orgulho muito da minha
geração não ser a primeira em muitos aspectos. Da gente conseguir estar
rompendo essas barreiras, para que a gente não tenha mais que ser sempre as
primeiras em todos os lugares. (Palmas.)
E isso só acontece porque diversas outras mulheres abriram
um caminho para que a gente hoje estivesse aqui. Assim como a Theodosina foi a
primeira mulher negra a ocupar a Assembleia como deputada estadual, assim como
a Leci, que retomou toda essa trajetória e abriu espaço para diversas outras
parlamentares negras no estado de São Paulo. Esta Mesa é prova disso, é prova
dessa resistência e da importância que têm essas que vieram antes de nós.
Então eu queria finalizar agradecendo a você, Leci, por toda
a sua coragem, por toda a sua força, que abriu caminhos na Alesp, mas que
representa os sonhos de milhares de jovens, de milhares de mulheres negras aqui
no nosso estado de São Paulo. Queria agradecer a todas as homenageadas de hoje
por não desistirem, mesmo diante de tantas adversidades que eu tenho certeza de
que todas enfrentaram para estar aqui hoje sendo homenageada.
Queria agradecer a todas as nossas iabás, a nossa
ancestralidade. Queria agradecer todas aquelas que vieram antes de nós e
abriram caminhos. E queria reafirmar um compromisso geracional aqui dizendo que
nós vamos seguir firmes e seguiremos resistindo para todas aquelas que ainda
virão depois de nós. E que este plenário da Alesp seja cada vez mais parecido
com a composição que está aqui hoje.
Axé e muito obrigada. Parabéns a todas. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Agradecemos as palavras das autoridades presentes e
aproveitamos a oportunidade para registrarmos as seguintes presenças: Ana
Martins, da União Brasileira de Mulheres. (Palmas.) Kelly Cristina, assessora
parlamentar representando o gabinete do deputado federal Orlando Silva, do
PCdoB São Paulo. (Palmas.) A Sra. Cleusa Aparecida, representando o PCdoB de
Ermelino, Ponte Rasa e Penha. (Palmas.) Iara Bento, coordenadora do SOS
Racismo. (Palmas.) André Alexandre, presidente estadual da Unegro. (Palmas.)
Neste momento, daremos início às homenagens dessas mulheres
maravilhosas, constelares, que se destacaram na sociedade pela sua contribuição
ao enfrentamento da discriminação e na defesa intransigente dos direitos das
mulheres no estado de São Paulo.
Chamamos à frente a primeira femenageada desta manhã, que é
uma mulher negra, periférica, PCD de 52 anos, casada, mãe, empreendedora e
ativista social, fundadora da ONG Mensageiros da Esperança e do Centro de
Capacitações e Instituto Inovação Sustentável, atuando como relações
institucionais e coordenadora de projetos em ambas as instituições.
Ela é educadora social e facilitadora de grupos de mulheres
pelo Brasil, com atuação em desenvolvimento humano e fomentando o
autoconhecimento e empreendedorismo. Verônica Machado, hoje você é a nossa
primeira femenageada.
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA. VERONICA
MACHADO - Bom
dia. Ouvindo esta Mesa, ouvindo as minhas pares - porque mulher é sempre par de
outra mulher -, percebendo esse processo que nós estamos vivendo, disruptivo,
graças a Deus, de muita luta, da gente não aceitar o que a gente não acredita,
da gente carregar outras com a gente. Eu estou aqui muito grata, grata pela
Leci nunca desistir desse processo, por estar sempre lutando, mas de uma forma
amorosa, como disse a Marina.
Grata pela deputada Marina Helou não me conhecer de nome, de
colocar assessoria para trabalhar um pouco comigo, para entender o meu
processo, para vir junto. Isso é muito importante. Porque não pode ser um
prêmio em que alguém indica uma pessoa que nunca viu, que não conhece, que não
sabe que o que faz. Então, isso também é resistência.
Ouvi muitas na Mesa falando da nossa ancestralidade. Ainda
tem muita corrente nos pés do social. O social é sempre visto como alguma coisa
paliativa. O social, gente, na pandemia, foi o que mudou a perspectiva do
governo do estado, porque ninguém chegava lá. E nós já estávamos lá socorrendo,
cuidando, zelando e fazendo com que as pessoas sobrevivessem. (Palmas.)
E isso despertou o olhar de pessoas para querer fazer um
trabalho. E muita gente fez um trabalho para falar que era seu, mas nunca
esteve lá. Nós precisamos sair no meio da pandemia, correndo todos os riscos,
porque as pessoas ainda estão ali passando fome. Nós colocamos de novo o País
na pior crise da pobreza, que é a fome. Então, Leci, isso não é só um prêmio,
isso é uma resistência, mas eu prefiro uma resistência amorosa.
E eu trago aqui um presente para você, que eu já tive a
oportunidade de dar para a deputada Marina, que é um livro de empreendedorismo
só de mulher preta. (Palmas.) São quatorze mulheres. Eu faço parte. O meu capítulo
é muito significativo para mim. Eu falo de resistência e superação, porque eu
só acredito em uma resistência amorosa e em uma transformação ativa.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E nesse momento anunciamos a nossa segunda femenageada desta
manhã. Ela é paraibana de Campina Grande, mãe, 43 anos, formada em Direito
desde 2018.
Aprimorou-se e apaixonou-se pela política com prioridade,
pois há mais de 20 anos tem como bandeira a defesa dos direitos das mulheres,
da não violência e da cultura da paz. Filiou-se ao PSB e concorreu na última
eleição. O foco e a garra é mais mulheres na política e nos espaços de decisão.
Achegue-se aqui, Nazaré Batista Braga. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
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* *
A SRA. NAZARÉ
BATISTA BRAGA - Quero
agradecer muito, muito, muito à deputada, pela indicação do deputado Caio
França, que fez essa indicação, às minhas amigas, ao meu esposo, que está aqui.
E dizer que eu sou muito, muito grata por tudo, e que todas
as mulheres que estejam aqui, não desistam de nada e lutem sempre, porque isso
é uma vitória. E a violência contra a mulher, eu acho que a gente tem esperança
de que isso possa acabar com a violência.
Eu estou muito nervosa. E como a deputada falou, também, eu
fui empregada doméstica e eu sei o que é o sofrimento, e hoje, olhem onde eu
estou. (Palmas.) E eu dedico essa medalha a todas as mulheres.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E a nossa terceira femenegeada de hoje é nascida em
Catanduva, tem 39 anos e é mãe recente, fresquinha. Moradora da periferia,
filha de mãe doméstica e pai caminhoneiro, oriunda do ensino público. Graduada
em Administração de Empresas, especialista em Recursos Humanos, professora e
estudante de Pedagogia. Membra-fundadora e militante do Movimento Negro de
Catanduva desde 2017, além da atuação em pautas voltadas para a diversidade.
Vereadora eleita em 2020, tornando-se a primeira mulher
preta a ocupar uma cadeira no Legislativo na cidade de Catanduva. Taise Braz,
hoje você é a nossa femenegeada e receba a medalha Theodosina Ribeiro.
(Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
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* *
A SRA. TAISE
BRAZ - Bom
dia a todas, todos e todes. Eu estava ali preparando o discurso, mas eu já
cheguei aqui emocionada, não deu tempo nem de pegar o celular. Primeiro, eu
quero agradecer à Oxum, à dona Sete, que são muito presentes na minha vida.
Agradecer à deputada Leci, que você é a ancestralidade em terra, então, muito
obrigada.
Agradecer a minha companheira, querida Professora Bebel,
pela indicação, e, em nome da Bebel, toda a bancada do Partido dos
Trabalhadores. Saudar a Thainara, representando todas as parlamentares pretas.
Saudar a Ediane. Sou filha de doméstica com muito orgulho,
que sempre proveu o sustento com muita dignidade. Então acho que venci, não é,
minha gente? Para mim, uma menina preta do interior, do ensino público, filha
de doméstica, caminhoneiro, estou aqui recebendo uma condecoração. Eu venci,
gente, eu venci. (Palmas.)
Saudar todas as autoridades da mesa, a Thamy. Muito obrigada
por você hoje estar representando a sua avó, essa figura emblemática para nós
mulheres parlamentares e pretas. Só nós sabemos as dores e os desafios que é
carregar os nossos mandatos, promover políticas públicas de igualdade, falar
sobre os nossos desafios e anseios no espaço institucional. É tão complexo, mas
é tão prazeroso.
E hoje poder estar aqui na Alesp, com mulheres tão potentes,
mulheres de várias representações e lideranças da sociedade, que honra a minha.
Eu saio daqui recarregada e reenergizada para seguir esse trabalho. Ninguém
chega aqui sozinho.
E eu não posso deixar de agradecer ao meu gabinete, que está
aqui comigo, agradecer ao Movimento Negro de Catanduva, agradecer à minha
família, ao meu esposo, aos meus pais e principalmente a você, minha filha, a
Eleonora. (Palmas.) É por você, é para você e é por todas as crianças e jovens,
principalmente jovens e crianças pretas, a nossa luta, para que vocês tenham
uma vida mais digna e mais tranquila.
E como disse a companheira Renata, a gente não tem que lutar
o tempo todo. A nossa resistência hoje é viver. Eu não quero mais sobreviver,
eu quero viver. E a partir deste encontro, a gente vai viver e de uma forma
melhor, mais esperançosa, com mais oportunidade e mais acesso. Sejam muito
felizes, mulheres.
Elza vive, muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - É muita emoção, não é? Só que temos mais ainda. E agora,
vamos chamar, para receber essa femenagem, ela, que é empresária e teve toda a
sua trajetória perpassada por atividades de representações municipal, estadual,
nacional e internacional.
Integrante da rede de mulheres brasileiras líderes pela
sustentabilidade, secretária de Desenvolvimento Econômico e Portuário do Guarujá,
diretora-titular do Comitê de Responsabilidade Social e vice-presidente do
Conselho Superior de Responsabilidade Social Fiesp. Conselheira municipal dos
Direitos da Mulher do Guarujá e da Coordenadoria dos Assuntos da População
Negra.
Fundou e preside a Associação Mulheres Progressistas, que
tem a missão de defender os direitos das mulheres e o empoderamento feminino,
visando desenvolver ações que impactam a sociedade e obrigam a discussão de
temas espinhosos como estupro, violência doméstica e outros.
Eu estou falando, aqui, de Eliane Pinheiro Belfort Mattos.
Venha, Eliane, e receba a medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA. ELIANE
PINHEIRO BELFORT MATTOS - Eu também trouxe cola, gente, para ser rápida, porque eu me
sinto aqui usurpando um lugar, como mulher branca e com privilégios no meio
dessas mulheres tão potentes, ocupando o seu lugar, um lugar que demorou tanto
para vocês alcançarem. (Palmas.)
Bom dia. E é realmente um bom dia quando se reúnem mulheres
como todas nós aqui. É um bom dia. Eu cumprimento as senhoras presentes
cumprimentando a nossa querida Leci. Cumprimento a todas. E cumprimento a todos
os senhores presentes, em nome do deputado da minha região - não sei se está
presente -, o deputado Caio França. (Palmas.)
E eu vou ocupar um pouquinho esse espaço para
agradecimentos. Eu só tenho a agradecer. Agradeço à deputada Leci pela criação
dessa medalha que homenageia uma mulher pioneira, e cumprimento especialmente a
neta dela. O meu pai dizia que o fruto não cai longe do pé. Certamente este
fruto também não caiu longe do pé. (Palmas.)
Agradeço a esta Casa, que entendeu a importância da
iniciativa da deputada Leci e tornou oficialmente parte do calendário anual.
Agradeço à deputada Adriana Borgo, que, reconhecendo o trabalho em prol da
mulher e pelo desenvolvimento e pela igualdade de gêneros, que sempre pautou a
minha vida, agraciou-me com essa indicação. Adriana Borgo é uma deputada da
Legislatura passada. (Palmas.)
Agradeço à presente e à passada Legislatura, na pessoa do
deputado presidente da Casa, André do Prado, pela aprovação do meu nome.
Agradeço à aventura de ser agraciada com essa tão significativa medalha, na
edição de uma mulher extraordinária, Elza Soares, que se tornou um ícone da luta
das mulheres contra todos os preconceitos: a invisibilidade, os apagamentos e a
desvalorização do gênero e da raça.
Agradeço ao meu companheiro de vida, Horácio Belfort, pela
parceria no trabalho conjunto de vida e na nossa associação, a AMP. Aproveito e
agradeço às mulheres progressistas. E olha, gente, nós somos progressistas de
verdade.
O nome foi usurpado, mas nós somos de verdade, e não
entregamos o Bernardo. (Palmas.) Meu companheiro, que na associação me ajuda e
está sempre como o meu escudeiro. Obrigada, meu querido companheiro.
Agradeço as minhas filhas que aqui estão, Gerse Eli, que
está na Austrália, e a Julie, pelas muitas vezes que tiveram que dividir o meu
tempo e atenção à causa das mulheres e dos direitos humanos, porque a
construção coletiva depende de sacrifícios individuais, não é verdade, Leci?
Agradeço por receber tão importante medalha junto a mulheres
como vocês, valorosas e pioneiras. Sim, pioneiras, pois em um mundo onde a
justiça social e a igualdade de direitos, de raça, de gênero ainda não foram
conquistadas, todas as ações em direção a elas são pioneiras em algum lugar,
para alguém que ainda não alcançou a libertação. Pioneira para quem empoderamos
com nossas ações e dedicação.
Aos 73 anos, ser reconhecida pelo trabalho, também pioneiro,
que desenvolvi para o empoderamento das mulheres, junto com essas mulheres
jovens, me faz feliz e esperançosa.
Mulher jovem como você me faz esperançosa. Como você,
acredito em dias melhores, pois caminhamos muito, não foi, Leci? E sei que
caminharemos com as novas gerações dessas mulheres valorosas que vocês
representam e dão continuidade. É uma honra e um privilégio estar com vocês
esta manhã.
E para encerrar, eu cito Guimarães Rosa quando diz: “O que a
vida quer de nós é coragem”. E acrescento: o que o nosso ser quer de nós é
ação. Então sigamos com coragem e com ação para alcançarmos a tão almejada
justiça social e tão necessária e pacificadora igualdade de direitos.
Obrigada, uma boa manhã. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E a nossa quinta femenegeada desta manhã é professora de
História da rede estadual e municipal de São Paulo e advogada, diretora São
Paulo para o Estado de São Paulo e secretária adjunta de finanças da CTB,
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.
Secretária de Saúde dos trabalhadores e trabalhadoras em
educação da CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação. É
também secretária de assuntos educacionais e culturais da Apeoesp, Sindicato
dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo. Dirigente estadual do
PCdoB, Partido Comunista do Brasil, chamamos Francisca Pereira da Rocha para
receber a medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA.
FRANCISCA PEREIRA DA ROCHA SEIXAS - Bom dia a todas e todos. Quero, em nome
de três mulheres dessa Mesa - a minha camarada Deputada Leci Brandão, a minha
companheira de Partido Comunista do Brasil, Renata Rosa, e a minha companheira
deputada Bebel, que é uma companheira de muitas lutas em defesa da educação
pública no Estado de São Paulo -, saudar todas as componentes da Mesa e do
plenário e a todos e todas que nos assistem pela TV Assembleia.
E quero começar agradecendo. Agradecendo à Theodosina, à
Elza Soares e à Leci Brandão por terem aberto esse caminho tão importante para
as mulheres e para as mulheres negras, porque sem dúvida nenhuma isso
representa a construção de um mundo melhor para todas as meninas. Porque entre
essas meninas se encontra a minha querida Sofia, que com certeza habitará um
mundo melhor graças à luta dessas mulheres. (Palmas.)
Agradecer a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil, porque é a principal responsável por essa indicação, e dizer que eu me
sinto muito honrada em estar aqui nesta tribuna.
E eu quero oferecer esta medalha aos trabalhadores e
trabalhadoras e em especial às professoras, aos professores e aos funcionários
de escola do estado de São Paulo que enfrentam todos os dias os baixos
salários, as más condições de trabalho e a violência.
Quero dedicar, também, a todos aqueles servidores da
educação pública de São Paulo que tombaram, vítimas do descaso de sucessivos
governos que abandonaram a educação pública no estado de São Paulo.
E tenho certeza absoluta de que dias melhores virão, porque
nós lutaremos e lutaremos muito. Primeiro, enfrentando a truculência desse
atual governo, que sem dúvida nenhuma esses casos de violência têm
responsáveis: são os governantes.
Mas nós não queremos ver nenhum professor, nenhuma
professora, nenhum funcionário tombando, morrendo vítimas da violência, como
nós vivemos essa semana, na Vila Sônia, para que a sociedade tome consciência
de que escola deve ser um lugar de segurança para quem nela trabalha e para
quem nela estuda.
E nós queremos conclamar a sociedade paulista a lutar por
uma escola... Primeiro, pela revogação do ensino médio, já. (Palmas.) Lutando
para que esse governo implemente a lei do piso salarial profissional nacional e
que desenvolva uma política de paz nas escolas, pelo fim da violência, que a
pesquisa que a Apeoesp lançou anteontem é uma demonstração de que a população
não tem segurança quando envia seu filho para as escolas. E só uma mãe sabe o
aperto que dá no coração quando manda seu filho, sua filha para a escola e não
tem certeza se habita em um lugar seguro.
Por isso eu quero agradecer muito à Leci Brandão por essa
homenagem, pela tua iniciativa com esse prêmio, porque, de fato, isso faz muita
diferença. Um grande abraço e muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E agora, dando continuidade à nossa lista de mulheres
“maravisplêndidas” e transformadoras, eu quero chamar aqui ela, cuja atuação
extensa vem desde 1974 e passa por fundações, associações, presidências de entidades
fundamentais para o fortalecimento feminino e luta por direitos à
não-violência, opressão e à discriminação.
Defendeu e participou da criação de associações femininas em
todo o País. É a maior presença da mulher na vida política profissional, social
e comunitária. Vice-presidente da CMB - Confederação das Mulheres do Brasil - e
Conselheira da FMP - Federação das Mulheres Paulistas. (Palmas.)
Vereadora em São Paulo por três mandatos. Pela Federação
Democrática Internacional das Mulheres. Participou ativamente de congressos e
atividades a nível internacional, como Cuba, Pequim, Iraque, França, Líbano e
Venezuela.
Quando vereadora, foi autora de diversos projetos de lei,
dos quais se destacam atendimento prioritário a gestantes e idosos nos serviços
públicos, proibição à veiculação de publicidade de armas de fogo, oficialização
do Hino à Negritude, reivindicações por construções de hospitais, melhorias das
Unidades Básicas de Saúde, mais creches, construção de habitações populares
para mães chefes de família e contra a violência à mulher e em defesa da
criação da Delegacia de Defesa da Mulher. Femenageamos você, Lídia Correia da
Silva, com a medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA. LÍDIA
CORREIA DA SILVA - Agora eu entendo porque todas as companheiras chegam aqui,
começam e choram. A gente vem para cá e vai ficando muito emocionada com o fato
de estar aqui nesse momento tão especial.
Eu quero agradecer, cumprimentar a deputada Leci Brandão,
dizer que é um orgulho poder chamá-la de nossa deputada, minha deputada. Uma
artista maravilhosa, uma deputada de luta e uma pessoa extraordinária. Para mim
é uma honra muito grande receber esta homenagem, a medalha Theodosina Ribeiro.
Eu tive o prazer de conhecê-la um pouco, a deputada
Theodosina Ribeiro, e a lembrança que me vem é uma mulher de muita dignidade,
muita força e de uma fala gentil.
Então, para mim, é uma grande satisfação. Essa que se tornou
uma referência na luta das mulheres todas, a nossa deputada Theodosina Ribeiro.
E receber esse prêmio, essa 9a medalha, com essa grande artista
brasileira, esse orgulho, essa fé, essa potência que é a Elza Soares.
Eu quero cumprimentar todas as mulheres que são... a todos
os companheiros da Mesa, em especial a deputada Bebel e a deputada Marina
Helou, que estava aqui há momentos. Cumprimentar todas as companheiras,
mulheres que são homenageadas aqui.
Mulheres lutadoras, mulheres guerreiras, competentes,
artistas, esportistas, religiosas, parlamentares, professoras, enfim, toda gama
de atividades humanas que essas mulheres desempenham na sua vida, contribuindo,
com isso, com a melhoria das condições de vida do nosso povo, em especial das
mulheres.
Nós, mulheres, temos enfrentado muitos problemas, muitas
dificuldades, muitas limitações, preconceitos e desafios. E temos crescido.
Crescemos com a nossa atuação na sociedade, crescemos com o nosso respeito,
temos adquirido cada vez mais e contribuindo com isso, com a nossa atuação,
para que a nossa sociedade possa avançar.
São desafios imensos que nós temos enfrentado. Têm lutas que
nós temos travado e que ainda precisam muito de serem fortalecidas, que é a
luta por emprego, por salário igual, por trabalho igual, por creche, para que a
gente possa ter condições de nossos filhos terem uma melhor educação e podermos
trabalhar com mais tranquilidade.
Destacamo-nos nos mais variados ramos de atividades, mas eu
não posso deixar de destacar, aqui, a nossa atuação, atuação das mulheres,
durante a pandemia, na área da Saúde.
Essas mulheres muitas vezes enfrentando risco de vida, sua e
de suas famílias, para defender a vida de muitos desconhecidos que elas nem
viam, porque tinham que ficar de máscara praticamente o tempo todo. Então,
essas mulheres da área da Saúde que revelaram a capacidade do ser humano, a
nosso potencial, a nossa força, o nosso amor.
Nós somos parcela grande na área da Educação, área
estratégica para o crescimento do nosso País, dos nossos filhos, para o
desenvolvimento. Na área social, a gente se destaca em todas os setores, haja
vista as companheiras que representam esse segmento do trabalho social
incansável.
É sábado, é domingo, é de noite, é atendendo, trabalhando,
lutando para a melhoria das condições de nossas vidas. E são essas lutas que
nós temos travado e que precisamos continuar travando muito para avançar, para
conquistar, e cada conquista, valorizada.
Eu aprendi muito, Leci, com o professor Eduardo de Oliveira,
que foi nosso amigo de muitos anos. Eu comecei a atuar também muito com o
professor Eduardo de Oliveira e ele sempre dizia que a gente tinha que
comemorar cada conquista que a gente tivesse, e ele comemorava cada conquista.
E a gente aprendeu isso.
É isso, nós temos que lutar muito por muitas conquistas, por
cada conquista, e comemorar muito essas conquistas. Mas lutar muito para que o
nosso País possa ter uma política de desenvolvimento, de investimento, emprego,
indústria, em salário, em condições de vida, para transformar a sociedade.
Uma luta contra esses juros abusivos que consomem recursos
da nação, recursos que poderiam estar indo para o social. Nós precisamos lutar
contra essa carestia. O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do
mundo, e nós pagamos o olho da cara por esses produtos fundamentais.
Então a nossa luta, para a gente virar esse País,
prosseguir... Vencemos agora a luta em defesa da democracia com grandes
dificuldades, enfrentando mil barreiras, mil problemas e nós vencemos. E agora
é lutar para que de fato a gente possa ter uma política de desenvolvimento do
nosso País, para gerar emprego, salário, creches, investir em educação,
investir em saúde, como poucas nações do mundo têm condição.
E esse trabalho, nós mulheres, temos muito papel a
desempenhar nessa luta. Já temos tido e podemos ter muito mais ainda. Vamos à
luta, companheiras, que nós vamos vencer por nós, pelos nossos filhos, pelo
nosso País e pelo desenvolvimento. (Palmas.)
Por último, eu queria só também fazer uma referência
especial à minha querida filha, que está junto aqui, que também participa de
toda luta, a Júlia. (Palmas.) E nosso partido, o PCdoB, que eu tenho orgulho de
participar e de estar junto, de ajudar a construir. A UBM, também, entidade com
a qual nós estamos trabalhando para unificar. A CMB e UBM, entidades de luta,
para ficar mais forte ainda, para conquistar muito mais.
E, em especial, as companheiras que eu tenho atuado muito
próxima, vocês sabem, muitas estão aqui, e que temos convivido muito junto
nessa luta toda e que têm dado tanta força.
Beijo para todos. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E a nossa próxima femenegeada é nascida da região do ABC,
filha de operários, mestre em História Social pela USP. Sua primeira ação foi
em 1975 ao participar da missa de Vladimir Herzog, que marcou a volta das
manifestações públicas no Brasil. Em 1979, já na faculdade, em São Paulo, surge
o Grupo Somos de afirmação homossexual, no qual foi ativista e cofundadora do
Grupo Lésbico Feminista, o LF, e posteriormente o Grupo de Atuação Lésbico
Feminista.
Também atuou com a população carcerária feminina, integrou a
comissão organizadora do II Congresso da Mulher Paulista, travando a luta no
combate à homolesbitransfobia contra todo tipo de violência e opressão, contra
o racismo institucionalizado, pela legalização do aborto, pelos direitos
humanos, pela liberdade, pela democracia.
Dentre suas femenagens, o reconhecimento na Conferência
Estadual De Políticas Públicas no movimento LGBTQI+ na Alesp, com a SOS Racismo
na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e da Cidadania e na
comemoração ao Dia do Orgulho LGBT. E é ela a nossa femenegeada, Marisa
Fernandes, que recebe das mãos da deputada Leci Brandão a medalha Theodosina
Ribeiro. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA. MARISA
FERNANDES - Vamos
lá, eu fiz uma cola aqui. Eu quero desejar um bom dia, uma boa sexta-feira. Que
Deus, Oxalá, nos proteja, nos abençoe.
Neste momento, é impossível não recordar tudo o que me
conduziu aqui e não ficar emocionada. Vocês viram, pelo meu histórico aqui, que
são 44 anos de lutas diversas. Não foi apenas... Foram as primeiras, por óbvio,
44 anos ali lutando pelos direitos de pessoas LGBTQIA+, porque era direito
nenhum.
Se você convivia com uma pessoa, um homem com um homem, uma
mulher com uma mulher, e um deles morresse e a família achasse que você não ia
lá se despedir, ver o seu ente com quem você viveu 30 anos, construíram
residência e tudo, não, não podia. E muito menos voltar para sua residência,
porque já tinham trocado a chave. Não importa que você comprou junto. Era nada,
nada.
Tivemos avanços? Sim, muitos. Porém, o Brasil ainda é o País
que mais mata, sobretudo transexuais, as travestis, de forma extremamente
violenta, os lesbocídios também são. Não é um tirozinho, é seguido de muita
violência primeiro. Então temos muito que lutar.
Mas
a luta não ficou só dirigida a LGBTs. Nesses anos todos, foram muitas as
populações, principalmente as mulheres, porque o primeiro grupo, já em 1979,
que nós montamos dentro do Somos, Grupo de Afirmação Homossexual, que foi o
primeiro grupo no Brasil, já se chamava lésbico feminista. Perante o II
Congresso da Mulher Paulista, que foi o primeiro que nós atuamos, muito
difícil.
Também
tivemos que ganhar as feministas para as nossas lutas, também tivemos que
trazer para os nossos direitos, respeito, o movimento negro para as nossas
lutas. Então eu tenho orgulho, muito
orgulho de ter trabalhado com as populações mais vulneráveis, sempre por lutas
de respeito, de dignidade, sempre pela defesa dos direitos humanos. Foi muito difícil.
Só um parêntese agora. Eu fiz 70 anos agora em fevereiro.
Somos parceiras, talvez as duas mais velhinhas homenageadas aqui. (Aplausos.)
Mas quando eu me descobri lésbica, eu era apenas uma menina, uma adolescente
que deixou de se apaixonar pelos menininhos e se apaixonou por uma amiguinha da
escola. Mas não sabia que nome tinha não. Era amor, sim, era paixão. Não sabia
que nome tinha não.
Dentro de uma família de operários, muito simples, isso lá
atrás, nem a sua família te quer. Porque mesmo as crianças negras, as crianças
com problemas... Mas quando se é lésbica, minha família não quer não. Então a
luta, primeiro, foi lá dentro, que eu só fui vencer quando tinha 18 anos. Foi
luta até dentro de casa. (Palmas.)
Eu quero agradecer esse momento. Eu quero dizer a todas e
todos aqui presentes que nós temos muita luta ainda pela frente. Não é possível
um País que comete tanto feminicídio. Nós estamos aqui há mais de uma hora.
Quantas mulheres já partiram nesse instante? São muitas. Quatro mulheres, ela
está me dizendo. São muitas as lutas, é todo dia, é toda hora, então não para.
As três mulheres que eu agradeço, foram muito referenciadas
aqui com justíssima causa, são as três divas das duas primeiras divas,
Theodosina Ribeiro, Leci Brandão, Elza Soares, as divas que nós temos.
A Leci Brandão está, felizmente para nós aqui, paulistas, há
13 anos com a gente dentro dessa Casa, motivo de maior orgulho. A deputada que
não tem gabinete: ela tem um quilombo da diversidade ali instalado. (Palmas.)
Enfim, não é uma parlamentar, é a parlamentar ativista.
E a gente fala muito da Leci como uma parlamentar ativista,
mas e as canções de Leci? Porque a gente sabe que ela foi a “prima donna”,
porque ela foi a primeira mulher na ala dos compositores da escola de samba.
A “prima donna”, sim. Agora a gente fala, sim, mas que
cantora Leci Brandão, nada. E as canções dela? Para ela é que foi concedido o
prêmio de melhor cantora de samba, do Prêmio da Música Popular Brasileira, não
é, Leci? A gente procura, a gente acha Leci na música.
Para a gente poder falar da nossa terceira diva, é simples.
Foi uma mulher que veio do fim do mundo, do planeta fome, uma mulher que sabia
que a carne negra era mais barata do mercado, que recebeu o título da melhor
cantora do universo e que em 2018 nomeou o álbum dela de “Deus é Mulher”.
Apenas isso.
Então eu agradeço a essas três divas, eu agradeço às
colaboradoras da Leci, que foram super atenciosas. Eu agradeço a todas as
premiadas aqui e às três musas citadas. Agradeço a toda essa plateia presente
aqui.
E o que eu sinto diante de todas nós, deste cenário que é
composto, é que nós somos uma família. Nós formamos uma família e nós sempre
seremos uma família, com as mesmas lutas.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Dando prosseguimento às constelares e magníficas,
“maravincríveis” mulheres que recebem hoje a medalha Theodosina Ribeiro, eu
chamo aquela que é advogada-titular com mandato no Conselho de Direitos Humanos
nas Nações Unidas, representando o Brasil na defesa do direito dos povos
africanos e caribenhos.
A liderança incorpora ações para promover, proteger,
capacitar e trabalhar ao lado de governos e injetar perspectivas de direitos em
todos os programas das nações. Dessa forma, colabora com o Brasil, promovendo a
justiça desde a sua origem nos tratados internacionais através da via
diplomática, auxiliando países em desenvolvimento com foco na promoção de
direitos humanos e liberdade estabelecidos na Declaração Universal.
Elaborou a I Convenção Internacional de Combate ao Uso de
Tecnologias Informação e Comunicação para Fins Criminais, incluindo na pauta a
necessidade de estabelecer esses crimes como “cibercrime hediondo” quando a
vítima é mulher, agravando-se quando mulher negra, pessoas com deficiência e
crianças, garantindo direitos de comunicação na internet de forma aberta,
igualitária, acessível e inclusiva.
Também é mentora de funcionários da ONU e
professora-auxiliar no setor acadêmico da Nasa, contribuindo no empoderamento
de mulheres e meninas contra a escravidão do trabalho infantil, crimes
transnacionais, corrupção, tráfico humano e casamento infantil. Sua frase é:
“Eu só posso ser feliz em um mundo onde todos tenham esse mesmo direito”.
Andrea Romaoli Garcia, receba a medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA. ANDREA
ROMAOLI GARCIA - Bom
dia a todos os presentes, as autoridades, aos meus colegas, a todos que estão
aqui. Eu digo a vocês que é com grande honra e emoção que eu recebo esta
honraria, esta medalha Theodosina Ribeiro, concedida pela Assembleia
Legislativa de São Paulo, pelo reconhecimento do meu trabalho de defesa do
direito das mulheres e da promoção da igualdade de gênero.
Sou imensamente grata à Leci Brandão, porque ela não é só a
pessoa que está aqui entregando a medalha para mim, ela é a minha musa
inspiradora desde sempre, sempre por seu pioneirismo em tudo que ela faz.
E por esta iniciativa, que é muito importante para poder
conscientizar a população desse trabalho que deve ser feito por todos nós,
homens e mulheres aqui presentes.
Agradeço também ao meu filho Pedro e à minha nora Taimara,
porque são eles que me dão suporte para os momentos difíceis, que todos nós
sabemos que essa carreira implica. Dedico este prêmio à minha mãe, porque a
minha mãe era uma roceira, fruto da miscigenação de negros e índios com filhos
brancos, que tinha pavor do preconceito.
Então esse assunto era um tabu dentro da minha casa. Então,
a minha mãe não morreu sem poder sentir orgulho dela, sentir orgulho da cor
dela, sentir orgulho da família que ela construiu.
Então, todo esse trabalho que eu faço, é só por isso, é por
todos nós, porque nós somos mulheres, mães, pais, irmãos desses homens todos
que estão aqui hoje, nos dando esse lugar. Nós somos responsáveis, de certa
forma. E tenho um pesar por Marielle Franco, que enfrentou o que nós
enfrentamos diariamente, só que ela enfrentou isso de uma forma tão massiva.
E eu queria, para terminar, parabenizar a todas vocês que
foram homenageadas aqui hoje e dizer que vocês fazem parte dessa luta, que tem
um nome. Eu luto contra a necropolítica de gênero, que vem campando todo o
planeta, então por isso eu acho importante mais mulheres ainda nesse trabalho
de escopo internacional também.
Então vocês podem sempre contar comigo para qualquer
momento, mesmo aquelas que estão me vendo pela primeira vez. Só passar um
e-mail para mim que eu vou responder.
Obrigada, gente.
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E a nossa próxima femenegeada é doutora em Linguística pela
Universidade de São Paulo e professora aposentada da rede municipal, e hoje se
dedica a investigar as línguas africanas transplantadas para o Brasil,
coletando textos orais e escritos nas comunidades tradicionais de Candomblé.
Na atualidade, ela profere palestras em conferências,
oficinas e vivências sobre as línguas e culturas de povos africanos. Ela é a
Ialorixá do Ilê Axé lya Oloxum. Seu nome religioso é Ya Monadeosi. Coordenadora
do grupo Liremarp - Liderança das Religiões de Matrizes Africanas de Ribeirão Pires.
Venha receber a medalha Theodosina Ribeiro Elizabete Umbelino Ya Monadeosi,
hoje você é a femenegeada. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA.
ELIZABETE UMBELINO YA MONADEOSI - Kobá Laroyê Exu Kewa (Inaudível.)
TODOS - Laroyê.
A SRA.
ELIZABETE UMBELINO YA MONADEOSI - Bom dia a todas, a todos, a todes. Eu quero agradecer muito
à nossa querida deputada Leci Brandão pela indicação e por essa homenagem da
qual todas nós que estamos subindo aqui nessa tribuna nos sentimos muito honradas.
E, através dela, homenagear essa Mesa, seleta Mesa de
vereadoras do PCdoB, e as mulheres que estão conduzindo com tanta maestria essa
solenidade. E todas e todos que estão aqui presentes.
Eu estou absolutamente contemplada com todas as falas das
mulheres que me antecederam. Mas, como ialorixá, eu não podia deixar de dizer
que, a neta da doutora Theodosina Ribeiro, toda essa história de pioneirismo,
como ialorixá eu tenho que te dizer que as nossas yabás têm histórias de luta e
de luta feminista.
E a nossa primeira feminista, a nossa yabá que é a nossa
primeira feminista, é Oxum. E Oxum... Ora yeyê ô. Vou rapidamente falar, bem
resumidamente, o itan que leva Oxum à condição de primeira feminista nossa, de
todas as mulheres.
O Aiê tinha sido formado, a Terra. Então todos os orixás
vieram para a Terra. Quando aqui eles chegaram, resolveram organizar a Terra,
organizar o espaço do Aiê. Nessa organização, o que eles fizeram? Somente foram
chamados os homens.
Veja como tem a ver com a nossa história aqui dessa Casa de
Leis. Somente os homens ocupavam aquele lugar. E eles estavam decidindo tudo:
onde vai ficar tal coisa, onde vai ficar o outro, como é que vai ser a
organização desse planeta, dessa terra, do Aiê.
Então as mulheres ficaram revoltadas. Elas foram até Oxum,
se reuniram e disseram: “olha, como é que fica isso? Então quer dizer que nós
opinamos em nada? Como é que a gente vai fazer? Nós temos que fazer alguma
coisa”. Então Oxum disse: “Calma, meninas” - com toda essa calma que Oxum tem -
“Calma, meninas, não tem problema não, deixe que eu resolvo”.
O tempo passou e a terra ficou estéril. Nenhuma mulher dava
à luz, nenhuma fêmea reproduzia mais, as árvores não davam mais frutos. Então o
que aconteceu? A terra ficou infértil.
Então os homens se desesperaram: “Mas o que está
acontecendo? Não tem mais, não nasce mais nenhum bicho, não nasce mais nenhuma
planta, as mulheres não têm mais filhos.
Como é que a gente vai fazer?”. “Vamos falar com o
Olodumarê”. “Não, vamos pedir a Exu”. Por que saúdam Exu primeiro? Porque Exu é
aquele que leva as mensagens. É o comunicador. Exu não é o diabo. Diabo não
existe para nós, povos tradicionais de matrizes africanas.
Então Exu foi e aí Olodumarê disse: “Olha, vocês chamaram
Oxum para essa reunião?”. “Não, nós não chamamos Oxum”. “Ah, tá. Então voltem
lá e conversem com Oxum”. Aí os homens chamaram Oxum e foram falar com ela:
“Oxum, por favor, a fertilidade precisa voltar”.
Oxum é a dona das águas doces, é a dona da fertilidade.
Então, Oxum se fingiu de rogada, ficou penteando os cabelos com o seu espelho -
que é um espelho mágico: quando vira para você, tem que abaixar a cabeça.
Oxum, então, passou um tempinho, deixou que eles ficassem
bem preocupados e aí voltou a fertilidade na Terra. De tantos itans que Oxum
possui, esse é o itan que mostra que ela é a nossa primeira feminista. Ela fez
com que os homens abaixassem a cabeça e dissessem: “Não”. (Palmas.)
Para encerrar, nós somos mulheres-água. Através do nosso
útero, com o líquido amniótico, vem para a Terra todos os espíritos que
precisam vir, que precisam cumprir suas missões e ter a sua vida até o momento
em que devem partir. Então nós, mulheres, somos mulheres-água, somos
fertilidade e nós somos muito importantes.
E eu faço minhas palavras de todas as outras mulheres que
por aqui passaram e quero dedicar esta linda, maravilhosa homenagem, que eu
estou muito emocionada, à minha comunidade, ao meu Ilê Axé lya Oloxum, aos
orixás do Ilê Axé lya Oloxum, todas e todos do meu terreiro, da minha casa.
Não puderam vir todos porque muitos estão trabalhando. E
quero também dedicar essa homenagem linda a todas as ialorixás do Brasil, todas
as mães. Não é, mãe? (Palmas.)
Estamos aqui em Ubuntu: sou porque nós somos.
Axé! (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E dando prosseguimento à nossa galeria de mulheres
“maravigníficas”, vamos chamá-la, a nossa décima femenegeada de hoje, que é
cuidadora de idosos, secretária de Organização Distrital do PCdoB de São Miguel
Paulista, diretora executiva e coordenadora da União Brasileira de Mulheres, na
zona leste de São Paulo e está conselheira participativa municipal.
Ela que tem sido referência em sua comunidade e na cidade
por diversos trabalhos voltados à população, em especial às mulheres com
formação do empoderamento feminino e na luta contra a violência doméstica e
familiar.
Temos a honra de receber Celeste da Silva Gastão. Parabéns,
Celeste! Receba a medalha Theodosina Ribeiro pelo conjunto de todas as suas
significativas lutas. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA. CELESTE
DA SILVA GASTÃO - Bom
dia ou boa tarde, eu nem sei que horas são ainda. Hoje, estar aqui... Primeiro
eu quero cumprimentar, em nome da Leci e da neta maravilhosa, a Mesa toda, e
parabenizar - não só cumprimentar - por toda essa luta e esse grande evento em
que todas nós somos homenageadas através de vocês pelas nossas lutas. Eu sou
baixinha, né?
E segundo, eu quero agradecer a Deus e à família, às duas
famílias que eu tenho, minha família biológica e minha família partidária.
Porque se não fosse minha família biológica eu não estaria aqui, então
agradecer a luta da minha família. Agradecer à minha irmã, que me filiou ao
PCdoB, a minha filha que me acompanha em toda a minha luta, que me ajuda muito.
Porque assim, fazer a luta depende às vezes muito um pouco
do estudo, e eu não tive. Então muita coisa ela me ajuda a mandar para as
pessoas, e-mails. Se não fosse ela para me ajudar, a minha luta talvez não
fosse tanto quanto é hoje, embora que eu fale que a minha faculdade é a de rua,
é a do pé na lama. A minha faculdade é da Leste.
Eu, mulher preta, periférica da zona leste, do fundão da
leste. Hoje eu tenho um orgulho enorme, estou muito grata por estar aqui,
porque na minha adolescência nós não podíamos nem passar em frente a um lugar
desses.
Nós não podíamos nem passar em frente a uma loja. E hoje nós
temos o espaço para nós podermos estar aqui, pondo os pés dentro de um lugar
tão importante de muitas conquistas e de muitas lutas.
Venho aqui agradecer a identificação, a União Brasileira de
Mulheres, que me deu esse suporte, esse apoio, me pôs para a rua para que eu
fosse uma mulher empoderada hoje. (Palmas.) À Unegro, que eu faço lá fora a
fala também da Unegro como mulher preta, periférica, que nós não podemos baixar
a cabeça.
E ao meu partido, PCdoB, que eu tenho orgulho em nome de ser
uma mulher filiada ao PCdoB. (Palmas.) Ser comunista para mim é ser vida. E
melhor do que nunca, no 100º do PCdoB eu estar recebendo essa medalha. Gente,
vocês não têm ideia de como eu estou me sentindo. Vou parar aqui.
Muito obrigada. Um bom dia a todos. (Palmas.) Eu ofereço
essa medalha a todas as mulheres periféricas da Zona Leste. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Muito obrigada, Celeste.
A SRA. CELESTE
DA SILVA GASTÃO - Principalmente
as mulheres pretas, tá, gente? As mulheres pretas em primeiro lugar. Todas as
mulheres pretas, da zona leste, mas as nossas mulheres pretas sempre junto e
sempre lutando contra o preconceito e o racismo. E vamos à luta.
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Isso aí, muito obrigada, Celeste!
E agora nós vamos convidar a nossa 11a
femenegeada desta... Que já é à tarde. Ela que é poeta, periférica, jornalista,
escritora da zona sul e que é criadora do Mjiba Fanzini de Poesia. Participou
do Jornal Experimental Becos e Vielas, que tem como objetivo dar voz e
visibilidade à cultura periférica.
E a poesia, para a nossa femenegeada, tem como ponto de
partida a vontade de revelar sua condição étnica e de gênero sem que necessite
se utilizar de tais palavras. Vamos chamar Elizandra Souza, ela que agora
recebe a medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA.
ELIZANDRA SOUZA - Gostaria
de saudar a todas as pessoas, a todas as mulheres negras que foram silenciadas.
Gostaria de saudar ao meu pai Xangô - Kaô Kabecilê, a minha mãe Oyá - Eparrei.
Comecei falando de Xangô, gostaria de saudar Exu também. Eu tinha preparado um
monte de coisa, mas eu cheguei aqui e fui esquecendo. E eu estou muito
emocionada.
Queria saudar minha primeira casa, que foi o ventre da minha
mãe, que está aqui presente, Amélia. (Palmas.) Queria saudar a minha família, a
minha irmã Elisângela, a minha irmã Elidvânia, que não está presente, ao meu
sobrinho (Inaudível.), ao meu cunhado Juliano. Primeiro saudar as pessoas que
estão ali no dia a dia preparando o arroz e o feijão, preparando as coisas para
a gente sair para a rua.
E eu trouxe aqui a publicação da Maria Firmina dos Reis.
Maria Firmina dos Reis foi a primeira escritora negra a publicar um livro no
Brasil, há 163 anos. Recentemente ela tem sido lembrada. E eu estou muito
honrada que eu estou viva e sendo homenageada.
E eu sou feliz, porque eu não fui a primeira escritora negra
a publicar um livro, porque tinha Maria Firmina dos Reis, que há 163 anos
capinou o terreno para que eu pudesse também publicar um livro. Esse é o meu
livro comemorativo de 20 anos da minha trajetória literária. E como eu estou muito
nervosa, eu vou fazer um poema.
“Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta? Quem
pode prender essa ventania que mora em mim? Essa fertilidade de espalhar boas
sementes, de unir elementos contraditórios dentro de si. Tempo que se fecha sem
chover, poeiras do meu indizível. Fogo que alastra indomável pelo caminho.
Águas que recuam e voltam com intensidade.
Nessa estabilidade de nascer tempestade e dissipar-se fogo,
fecho o meu ponto fraco nas espirais dos meus ventos. Movimento o meu corpo para
que ele não morra. Movimento o meu corpo para que ele não morra. Quem pode
acalmar esse redemoinho de ser mulher preta? Esse racismo que nos desumaniza e
nos torna vazia? O invisível de todos os meus passos desfeitos.
Sabe quando o mar desfaz as escritas na areia? Sabe quando o
dia vai virando noite e tudo se torna mistério? Tem dias que a loucura mescla
com a solidão. E eu me vi várias vezes vagando sem destino certo.
Eu tenho medo de que não se lembrem. Nossos passos vêm de
longe e precisamos prosseguir. Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher
preta? Movimento o meu corpo para que ele não morra. Movimento o meu corpo para
que ele não morra”.
Axé para nós e é isso. (Palmas.) As nossas lutas, a gente
sabe que não é fácil. Muitas das vezes a gente está aí fazendo com que o
racismo e o machismo sejam os principais protagonistas das nossas histórias,
mas eles não são.
E por ser tanta luta, às vezes a gente não consegue
celebrar. E hoje eu estou muito honrada de poder celebrar em vida essa
homenagem. Tantas homenageadas que passaram por aqui, que são forjadas na luta.
Queria aproveitar e agradecer os espaços periféricos, dos
saraus periféricos. Saudar o pessoal do Quilombo Hoje, do Cadernos Negros,
pessoas que forjaram também toda essa luta da literatura negra feminina. Saudar
a minha família literária, que é a Cooperifa, que está aí há mais de 20 anos
também nessa luta de levar, trazer e protagonizar a literatura dentro das
periferias.
Então axé e vida longa! Saudar todas as que já vieram e as
que virão.
E a gente está vivo e a gente vai continuar. Axé. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E agora a nossa 12a femenegeada, que é pedagoga,
mestre e doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, com
estágio doutoral no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Atualmente está diretora-geral do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo - IFSP -, campus Hortolândia, sendo a única mulher
negra eleita nessa posição entre os 37 campi da instituição.
Ela que compõe a comissão especial de estudos sobre a Lei
n.º10.639, da Câmara Municipal de Campinas. Vamos chamar Caroline Jango, nossa
femenegeada que receberá a medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
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* *
A SRA. CAROLINE
JANGO - Bom
dia a todas as pessoas. Eu escrevi aqui para manter o tempo e controlar a
emoção. Primeiramente, eu queria agradecer a todas as pessoas presentes, muito
especialmente à Leci, que é a nossa inspiração, como todas aqui já reiteraram.
E dizer que é uma grande honra, uma grande alegria receber
essa medalha. Este é aquele momento raro em que a gente para e olha para trás
para compreender que toda árdua luta para a promoção de uma sociedade mais
justa vale a pena.
Então, nesse momento eu tenho 37 anos de idade, sou moradora
da cidade de Hortolândia, interior de São Paulo, estudei minha vida inteira em
escolas públicas e há 17 anos eu venho me dedicando profissional e
academicamente à luta antirracista. E o que mais valeu a pena nessa trajetória
foram, com certeza, as pessoas com as quais eu lutei lado a lado.
A luta pela garantia dos direitos humanos é essencialmente
coletiva. E isso foi algo que eu aprendi muito cedo. A gente não faz nada
sozinho. E por isso, então, que eu dedico esse prêmio à minha família,
representada aqui pelo meu pai e pela minha sogra. (Palmas.)
Porque minha mãe, meu companheiro e minha irmã não puderam
vir, mas todos estão presentes, com certeza. E são meu alicerce, a minha raiz e
o meu porto seguro, sem os quais seria impossível lutar por algo tão difícil.
Dedico também à minha eterna orientadora, a Ângela Soligo,
que confiou em mim muito antes de eu saber que eu podia fazer tudo que eu
consegui fazer até então. Eu dedico também às minhas colegas profissionais da
Educação que já trabalharam comigo durante toda essa trajetória e às que
trabalham hoje, que também vieram aqui me prestigiar, nesses 17 anos de serviço
público em que a gente se dedica a construir uma educação de qualidade. São
essas pessoas que trabalham comigo e que me motivam a ir além.
Eu dedico, por fim, essa medalha a todas as crianças e
jovens negros do estado de São Paulo e reafirmo, aqui, com isso, o meu
compromisso de continuar lutando pela dignidade, pelo acesso à educação com
igualdade de condições.
Por uma escola antirracista, antissexista e anticapacitista,
continuarei nessa luta coletiva e agradeço esse reconhecimento.
Muito obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E a nossa 13ª femenegeada da tarde de hoje é auxiliar de
enfermagem aposentada pela prefeitura de São Paulo, presidenta da Associação
Afro-brasileira OGBAN, fundadora da Associação da Aliança da População Negra e
atua como facilitadora formada pelo Núcleo de Educação Permanente da Prefeitura
Municipal da Saúde de São Paulo.
É militante na área da saúde da população negra, no combate
ao racismo e todas as formas de discriminação e preconceito. Atuou na luta pela
inclusão do quesito “cor” na saúde, pela igualdade, com equidade para todes.
Pela OGBAM, tem centrado esforços em atender a população preta e de baixa renda
na luta por moradia, por direitos, com palestras e seminários.
Ela, que já fora femenegeada com a medalha Nelson Mandela,
hoje é femenegeada com a nossa medalha Dra. Theodosina Ribeiro. Sra. Arlete
Izidoro, receba toda a nossa gratidão simbolizada pela outorga desta medalha.
(Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA. ARLETE
IZIDORO - Bom
dia - acho que ainda é de dia - a todos e todas. Eu estou emocionada e quero
aqui agradecer à minha rainha... Permitam-me ser exclusivista, porque a nossa
vida, de mulheres simples e de liderança comunitária foi embalada pela música
que nos acompanhou de Leci Brandão e Elza Soares, entre outras. E quero
agradecer aqui à minha família, que está representada pela minha irmã Adriana e
pela minha filha Fabiana. (Palmas.)
Gente, eu sou líder comunitária. Eu pertenço àquelas
classificadas como “pé no chão”, que falavam o que bem entendiam e que hoje
estão quase extintas, mas que fizeram muito e que muitas pessoas que hoje estão
como cabeça pensante, didática, devem muito a essas mulheres e homens que
calçaram o caminho para que pudessem estar percorrendo no dia de hoje.
São os seus filhos e seus netos que hoje estão no caminho
mais suave, porque aquelas mulheres conseguiram fazer essa caminhada, para que
todos hoje possam passar. Mas parabéns para aqueles que conseguiram, entenderam
e agradecem por aquele caminho que foi feito.
Também, eu quero aqui homenagear essa homenagem, essa
medalha maravilhosa que estou recebendo. Uma coisa eu falo: ainda em vida, isso
é o mais importante, porque ser homenageada após não vale a pena. Mas eu tive
essa graça.
Quero também parabenizar aqueles que chegam em condições
adversas e não param. Graças a Deus e a todos os orixás, a toda divindade que
nos rege, nós estamos fazendo a entrega de 192 contratos de apartamentos do
Joamirim para família de baixa renda. (Palmas.) Uma das lutas mais ferrenhas e
mais difíceis que se têm das comunidades é a moradia. A moradia é a base de
tudo, é a dignidade da pessoa. Então ela tem que ser vista pelos parlamentares.
Eu aqui estou ao lado da minha rainha - minha rainha, é só a
minha - e eu já peço a ela que abra os olhos. Eu sei que ela tem um trabalho
maravilhoso, porque eu sigo o caminho dela nessa trajetória e já seguia da
música.
Então são dois trabalhos que eu tenho para seguir, continuo
na música. E ela é uma deputada maravilhosa que pega os postos-chaves da
população, da sua necessidade. Então, já que eu estou aqui, tem também na Mesa
a deputada, para que abram os olhos para a necessidade da população periférica
e a moradia à população de rua. (Palmas.)
Ontem eu passei na Praça da Sé, minha rainha, e os homens e
as mulheres nos deixam muito tristes, mas eu vi muitas crianças, infelizmente
algumas já com as características de estarem usando os efeitos que são nocivos.
Então, nós temos que abrir os olhos também para a questão das drogadição,
principalmente àquela que afeta os jovens.
Nós temos um trabalho muito duro, e permita-me falar “nós”,
porque nós, como lideranças, parlamentares, os centros dos terreiros, que são o
Messias de agora estarem nessa missão. Há muito, não é de hoje, nós temos que
estar olhando às nossas crianças, aos nossos jovens, que nós estamos perdendo
para a droga. E tudo isso é nosso dever.
Então acho que é isso, não tenho mais o que falar, a não ser
que o meu propósito é mexer na consciência de cada um que diz que faz. Comece a
fazer realmente, praticável (Inaudível.). (Palmas.)
Muito obrigada, parabéns para todos nós que estamos aqui.
Leci, Deus que te abençoe sempre. Como eu falo, que te proteja e que esteja
sempre entre nós. Eu te amo, mulher. Te amo muito, viu? (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E a nossa 15a femenageada é mulher negra, mãe e
avó. Assim como a maioria de nós, também iniciou seu trabalho ainda criança como
doméstica, e, com muita garra e vontade, concluiu seus estudos e se formou em
Administração de Empresas.
Ela, que é presidenta estadual da Unegro, de 2014 a 2018, e
vice-presidenta na atual gestão da Unegro, entidade nacional que atua com total
dedicação e luta pela não-violência, no combate ao racismo, machismo, opressão
de classe, intolerância religiosa, LGBTfobia e todo tipo de opressão e
preconceito.
É sindicalista, diretora, de 2018 a 2022, na luta por
direitos trabalhistas pelo sindicato e na Federação dos Metroviários de São
Paulo. Nós estamos falando aqui de Rosa Maria Anacleto. Venha, Rosa, e receba a
medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.)
*
* *
- É entregue a
homenagem.
*
* *
A SRA. ROSA
MARIA ANACLETO - Boa
tarde a todas, todos e todes. É muita emoção, e eu entendo por que cada uma das
mulheres que por aqui passou se sentiu assim, tão contagiada por esse momento
de afeto, por esse momento de reconhecimento, por esse momento em que a
instituição dessa medalha Theodosina Ribeiro, pela nossa deputada Leci Brandão,
traz, neste plenário, reconhecimento da luta das mulheres, principalmente das
parlamentares.
Leci foi a segunda mulher negra nesta Casa, Theodosina foi a
primeira. Leci ficou muitos anos só nesse espaço. Sofreu muita violência, inclusive
violência religiosa. E ao mesmo tempo trazia junto com ela várias mulheres que
ela apadrinhou, trouxe pelas mãos e disse: “Nós, mulheres, especialmente
mulheres negras, precisamos estar aqui. Esse espaço é nosso”. Então, Leci, esta
medalha é muito pouco do que você fez pela nossa comunidade negra.
Essa medalha é um legado para as mulheres, é um legado para
nós, população negra, que vai continuar, porque nós não vamos deixar morrer
nunca essa homenagem às mulheres que lutam, como a Arlete, que acabou de sair
daqui, que é, digamos assim, a precursora de todo esse trabalho.
Eu sou uma mulher de população periférica, mulher negra e
que tem mulheres como a Theodosina, que eu cumprimento através da sua neta, que
é a sua continuidade, a Leci Brandão e a Elza Soares, para ter a oportunidade
de estar aqui e de falar do nosso povo. “Nada de nós sem nós”. E é isso que nós
estamos fazendo aqui.
Eu sou sindicalista também. Durante muitos anos eu estive no
Sindicato dos Metroviários. E foi lá que eu, digamos, adquiri o meu compromisso
político em defesa da luta pelo socialismo e pelo comunismo. Mas foi a Unegro
que me trouxe até aqui nesta homenagem. Essa entidade de mais de 35 anos, em
que eu estou há 32, me mostrou o caminho de lutar por dignidade, de lutar para que
o nosso povo tivesse avanços, porque é isso que acontece aqui.
A gente está falando de dignidade para 54% da população.
Estamos falando de mulheres como a Arlete, que acabou de sair daqui, que foi a
precursora e que estava lá na base falando para o nosso povo do direito que tem
à cidadania, à educação, enfim, a todos os direitos humanos que nos são
negados.
Eu fico muito feliz de receber essa medalha em vida, porque
eu já não sou tão jovem assim. Então ter esse reconhecimento de uma luta de
mais de 32 anos me faz muito feliz. E sei que é possível, porque teve uma
parlamentar como você que pensou em introduzir um legado para todas as jovens
parlamentares, inclusive as que estão na Mesa, que estiveram na Mesa, para dar
continuidade.
Porque a nossa história precisa ser contada sempre, porque a
nossa história é de luta, é de resistência, mas nós não queremos continuar
sempre resistindo, mas a gente quer, com certeza, que a nossa história esteja
sempre em todos os espaços contada. Senão, a história que não é contada é
esquecida, e a luta contra o racismo não pode jamais cair em um patamar de
comum, porque essa luta é, na verdade, uma luta pela civilidade.
Então, Leci, obrigada por tudo, mas eu não posso deixar de
homenagear aqui a minha família. Estão aqui meu irmão, minha irmã, minha
cunhada, meu filho, meu sobrinho, os meus amigos do sindicato, os meus amigos
“unegrinos” e “unegrinas”, que me acompanham e fazem a minha trajetória ser uma
trajetória em que eu me vejo, me enxergo e me sinto realizada e feliz como ser
humano.
Essa medalha na verdade é uma medalha nossa. Essa medalha é
uma medalha, na verdade, nossa. Eu sou o resultado de várias lutas e conquistas
que a gente travou ao longo desses anos.
Obrigada. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E tem mais, viu, gente? E a nossa 16a femenegeada
é sucessora de sua avó materna, ialorixá Sinandeoy Dazambi, primeira dirigente
do Ilê Sacerdotal, ativista pelos direitos das mulheres negras. Doutora Honoris
Causa, conselheira da Ocupação Cultural Jeholu, faz parte da Coalizão Negra do
Coletivo Akilombamento, Mulheres Negras do Estado de São Paulo, Mulheres de Asé
Brasil, Fórum de Inclusão Social de Diadema e do MNU - Movimento Negro
Unificado.
Participou do projeto Cabaça da Unifesp voltado à economia
solidária para o povo de terreiro. Ela que é idealizadora do Ateliê Oyasiná e
receberá essa femenagem e receberá agora a outorga da medalha Theodosina
Ribeiro, Iyá Marisa de Oyá. (Palmas.)
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- É entregue a
homenagem.
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A SRA. IYÁ
MARISA DE OYÁ - Eu
quero agradecer, quero saudar a minha ancestral Senadêi Idea Zambi, porque a
gente é continuidade, o candomblé é continuidade.
E aprendi com ela que o terreiro é um espaço político, é
onde a gente cuida de todos, independentemente do seu gênero, raça e cor. É
onde a gente vai cuidar, vai amparar, vai dar comida, vai ser psicólogo, vai
cuidar da parte espiritual.
E com essa força dessa minha ancestral, com a força de Oyá,
de todos, eu saúdo o Ori de cada uma de vocês, pela luta de cada uma de vocês.
(Palmas.) Saúdo Leci Brandão. E não sei se a minha prima conseguiu, mas ela te
ama. Minha prima disse que canta seu samba em tudo quanto é lugar. Ela se sente
a Leci no microfone. Falei para ela: “Acessa aí, que eu estou aqui”.
Através da minha avó, eu pude entender que ser mulher preta
e estar no espaço onde eu estou. Trabalho nesses diversos espaços políticos e
entendo a emoção da neta da dona Theodosina, porque a gente tá carregando o que
eles nos ensinaram, mostrando e deixando.
Agora eu vou ser avó e aí eu estou vendo o que eu tenho que
deixar para o mundo, para que o meu neto ou minha neta - ou os gêmeos, sei lá -
possam carregar e deixar o que há de melhor.
Por isso que eu saúdo o Ori, a cabeça de cada um de vocês, o
modo de pensar de cada um de vocês, a luta que cada um desenvolve no espaço em
que vocês estão. É importante saudar o Ori. Ele é a cabeça, é ele que vai nos
fortificar. Aí virão os orixás, os inquice, os voduns, que é a nossa crença que
o povo preto trouxe.
A gente só pede respeito. A gente não vai bater na porta de
ninguém para pedir para que venham ao nosso espaço, mas eu já estou ali. Eu
estou em um espaço na zona sul, na Vila Mariana, onde era terra quando a minha
avó chegou. Hoje é um bairro de classe média, e o terreiro continua lá, entre
prédios. Hoje a rua é asfaltada. (Palmas.)
O que eu tenho ali são pedras no meu telhado do povo
querendo que eu saia de lá. Mas, opa, eu cheguei primeiro. Eu me via andando na
rua outro dia, e as pessoas me medindo. Eu cheguei primeiro. Então é com a
força dessa ancestral e de todas as ancestrais, de Oyá e de todo mundo que me
trouxe aqui...
De Leci Brandão, porque se não fosse ela, a gente também não
estaria. Das mulheres, que eu faço parte do partido do PSOL, dessas mulheres aí
que estão chegando. Força, galera, força! Que a gente está contando é com elas.
O mundo tem que ser das mulheres e dos homens. Mas o mundo
com a mulher é um pouquinho mais amor, né? É um pouco mais olhado com carinho.
Quando está uma mulher à frente, as pessoas não vão passar fome. Não vão estar
aí na rua, como estão.
Então, por isso, mais uma vez eu saúdo o Ori, a cabeça de
cada pessoa que está aqui e foi homenageada, das que não estão, das
parlamentares que estão assumindo. Força, coragem e vamos em frente, porque a
gente vai mudar o mundo sim.
Orí a perê, Ori a perê ô. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E a nossa 17a femenegeada é de Itapetininga,
interior de São Paulo. Foi vendedora de sanduíche, atendente de telemarketing,
garçonete, cozinheira, tecladista, arte-educadora, professora e preparadora de
interpretação para agência de modelos negros. Cursou Direito por dois anos e
Gastronomia por seis.
Mulher trans, militante feminista, poeta, artista, atriz de
teatro e cinema, intérprete e membra do coletivo Amigas do Samba. Clodd Dias,
receba a medalha Theodosina Ribeiro. Por motivo de força maior, não pode estar
presencialmente aqui conosco, mas traz um vídeo de agradecimento para saudar
todas as pessoas presentes e a nossa ilustre deputada Leci Brandão. (Palmas.)
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- É exibido o vídeo.
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A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E a medalha Theodosina Ribeiro também reconhece o trabalho
desenvolvido por associações ou organizações não governamentais.
E a organização não governamental agora femenageada é
oriunda de entidades organizadas na defesa da igualdade de direitos e participação
feminina. Assistencialista e artística, surge a Associação Rosas Negras com o
intuito de resgatar o trabalho e femenagear nossas ancestrais que tanto
contribuíram para a história dos movimentos sociais.
A Associação Rosas Negras é formada por mulheres negras do
litoral norte de São Paulo e procura fortalecer e emancipar outras mulheres,
além de promover ações antirracistas através da educação, cultura e da
ancestralidade. Então, nesse momento, a sua representante, Gilda Brasileiro,
recebe, pela Rosas Negras, a medalha Theodosina Ribeiro, edição de 2023.
(Palmas.)
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- É entregue a
homenagem.
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A SRA. GILDA
BRASILEIRO - Boa
tarde a todos, todas e todes. Boa tarde à Mesa e às autoridades da Mesa,
representados pela deputada Leci. Eu trouxe cola, mas eu vou dizer por que.
Porque eu sou professora, e professor tem um péssimo
defeito. Carioca, professora, tá? É melhor trazer um papelzinho, porque se não
vocês vão sair daqui tarde e ainda vai ter assunto.
Sinto-me muito honrada por ter sido escolhida pela deputada
Leci Brandão para receber este presente. E gostaria de frisar que eu, Gilda
Brasileiro, represento a Associação Rosas Negras. Resumindo: é um grupo de
mulheres pretas que se reuniram para empoderar outras mulheres através da
educação, ancestralidade, cultura, antirracismo, entre outras metas que a gente
tem.
Nosso objetivo perpassa pelo acolhimento às mães solo, às
famílias com criança com deficiência, mulheres do axé, famílias de LGBTQIA+. Nossa
ação pretérita foi ajudar as famílias desalojadas e famílias em situação de
risco que perderam absolutamente tudo no litoral norte paulista.
E as Rosas Negras rapidamente mapearam aquelas que não foram
assistidas pela mídia e por outros órgãos, que a gente sabe. Mais de trezentas
famílias, já, que são da costa de São Sebastião e costa sul de Caraguatatuba,
onde criamos o nosso espaço físico, distribuímos cestas básicas, colchões,
fogões, roupas, fraldas, leite, fórmulas, água, entre tantos outros itens.
Inclusive, comida, quentinhas, marmitex.
Semana que vem teremos oficina de ovos de Páscoa e
artesanato em feltro. Maio será outro evento pontual com beleza para todas, com
confecção de lembranças para o Dia das Mães. Nós estamos empoderando, estamos
juntos com a vara, o peixe, a isca, estamos todos juntos. É um Ilê.
E para encerrar, essa semana tivemos a oficina de
ancestralidade, fazendo o acarajé, que é comer pão, que é o nosso acarajé com
todo o contexto de Oyá ou Iansã, que foi tão bem falada hoje aqui que eu acho
que a minha Oxum deve estar preocupada, falou: “Não, espera aí, deixa eu...”.
Mas tudo bem. Como é esse orixá o mais conhecido, né?
Nossos agradecimentos e orgulho. Muito obrigada, Theodosina,
Elza Soares. Muito obrigada, Leci Brandão. Olha, estou extremamente honrada e
feliz. Eu vou oferecer essa medalha maravilhosa, que realmente me deixa
emocionada, às Rosas Negras. E rosas são rosas amarelas, azuis, brancas, cor de
abóbora, o que for. Somos todas rosas lindas e florescendo.
E queria oferecer, também, à Shirley, que está aqui, que é uma
das nossas componentes da nossa associação, à minha filha, que representa até
meu bisneto, meu neto Joseph, meu bisneto Noah.
E assim, com todo carinho, muito obrigada, Rosas Negras.
(Palmas.)
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA
LUNA - Antes
de passarmos à próxima femenageada, anunciamos as seguintes presenças: Dra.
Heloísa Alves, conselheira seccional da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional
São Paulo e presidenta da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da
entidade. (Palmas.)
Sr.
Marcivan Barreto, presidente da Cufa - Central Única das Favelas. (Palmas.)
Sempre deputado Antônio Goulart, diretor de Relações Institucionais do Sport
Club Corinthians. (Palmas.) E a Sra. Márvia Scárdua, chefe de gabinete do
deputado Orlando Silva. (Palmas.)
E a nossa próxima femenegeada é conselheira da equipe para
diretora do time de futebol feminino. Cris é uma das
grandes responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento da equipe.
Jogadora de
futsal, começou a criar boas relações, e logo foi convidada para compor o cargo
de conselheira do clube, na época, presidido por Alberto Dualib. Por lá se
passaram 11 anos.
Paralelamente
manteve-se integrada com o futebol e passou a fazer parte da gestão própria do
time feminino. Então nós convidamos agora a nossa querida femenageada Cris
Gambaré para receber a medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.) Diretora do futebol feminino
do Corinthians, claro, o Timão.
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- É entregue a
homenagem.
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A SRA. CRIS
GAMBARÉ - Vai, Timão, né? Bom dia a todos,
obrigada pelo convite. Obrigada, deputada. Obrigada a todas as nossas
personalidades de mulheres que estão compondo a Mesa, a vocês todas que estão
aqui. É uma alegria. E, realmente, com tanta informação que recebi ao longo
dessas homenagens, eu não poderia, também, deixar de homenagear todas vocês.
E um homem que
veio comigo e me acompanhou também, que é o Goulart. Hoje ele é o diretor de Relações Institucionais do
clube. Então nós precisamos não só de mulheres, mas de homens apoiando o nosso
empenho, a nossa campanha.
Como bem falou,
hoje estou como diretora do futebol feminino do Corinthians, iniciei o projeto
no oitavo ano e estamos abrindo os espaços para as mulheres dentro de campo e
fora de campo, que isso realmente é uma conquista muito grande.
Dentro da nossa
cultura mundial - não vamos dizer que é só dentro do Brasil -, as mulheres
sempre se colocaram em condições menores em profissão, menores em qualificação.
Então, é uma cultura nossa, infelizmente é isso. Nós estamos buscando melhorar
a cada ano.
Hoje eu vi
apresentarem mulheres aqui que eu fiquei muito emocionada. E obrigada por tanta
lição de vida que vocês me deram nessas últimas horas aqui desta homenagem,
porque realmente eu coloquei novamente os pés no chão e falei: “O quanto me
motiva, o quanto vocês me motivam e o quanto nós vamos motivar outras
mulheres”. E foi o que a própria Leci falou e falaram no início: uma mulher vai
puxando as outras, da melhor forma.
E hoje me sinto
realmente grande dentro de uma instituição, dentro do Corinthians, representando
o futebol de mulheres, em um cenário nacional, onde mulheres podem se expor,
virou uma profissão e essas mulheres podem fazer o trabalho que elas sempre
quiseram fazer e foram, infelizmente, negadas durante 40 anos dentro do nosso
Brasil.
E agora nós
retomamos essa liderança na modalidade, e que não é só para o Corinthians, mas
é para as mulheres a nível nacional. Então são para as mulheres a nível América
do Sul.
E hoje o
Corinthians já mostrou que o mundo já nos vê como uma referência dentro da
modalidade, uma referência dentro do trabalho do futebol. E eu só tenho uma
gratidão, porque quando eu vejo que hoje nós temos 14 troféus dentro de sete
anos, não é só porque é uma sorte. Foi muito trabalho.
Não foi só o
meu trabalho, foi do Corinthians, foi do coletivo, foi da comissão, que também
tem homens. Mas as nossas meninas que desempenharam o seu melhor dentro do
campo, respeitando o que se tinha, respeitando a sua estrutura e ganhando o seu
espaço a cada momento, isso daí é uma gratidão.
A gente olha
para trás e vê que todo esse trabalho não foi em vão. É um trabalho que está
vindo com muita recompensa. E hoje nós miramos o futuro, que não é só para o
Corinthians ou grandes clubes.
Nós temos hoje
instituições, nós temos associações, nós temos comunidade. Hoje as meninas
podem, sim, virar e ter uma profissão diferente, sendo atleta, sendo gestora,
sendo médica, sem virar realmente voltada para o esporte. E isso é muito
importante.
Que vocês não
desistam, que vão ter várias mulheres em qualquer função, ramo, profissão, mas
que elas tenham a melhor orientação. E nós somos quem tem que passar isso para
elas. Então, hoje eu tenho uma grande gratidão de estar representando um grande
clube, de estar representando várias mulheres dentro de campo, que hoje eu sou
a porta-voz delas dentro dessa modalidade.
Mas o que mais
me favorece, o que mais me engrandece é que outras mulheres estão fazendo a
mesma coisa em outros ramos. E isso é uma gratidão eterna, uma gratidão enorme
para que a gente conquiste o nosso espaço, que conquiste sim onde nós queremos
ficar, com respeito.
Eu sempre falo,
quando vou palestrar, que eu sou eterna resistente, insistente e persistente.
Foi só assim que nós conseguimos serviço, com muito respeito, não só dentro do
clube, mas acho que agora para o mundo. E é dessa forma que todos vocês estão
aqui fazendo, pedindo respeito, oportunidade para que se mostre da sua forma e
o seu melhor, para que a gente traga isso para a sociedade.
Então agradeço
muito. Leci. Muito obrigada por toda a sua história. Eu acho que o que vocês
fizeram aqui, essa homenagem para as mulheres, independentemente da classe, da
cor, da religião, do partidário, do partido. É importante que todo mundo saiba
que existem pessoas que realmente impulsionam outras pessoas para fazer o
melhor. E aí é uma gratidão eterna para vocês, mulheres resistentes,
insistentes e persistentes. Como eu, vocês estão aqui.
E batam
aplausos. (Palmas.)
A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E
encerrando nosso ciclo de mulheres “maravisplêndidas”, vamos chamar ela, que é
majestade, definitivamente majestade. Ela que é mulher negra, periférica, mãe,
companheira, segurança e coordenadora estadual de Logística da Cufa - Central
Única das Favelas.
Nascida
no bairro de Santo Amaro, na Capital paulista, com dois anos de idade mudou-se
para a favela de Heliópolis e desde sempre mora, luta e vive lá. São 36 anos
criada e vivida entre os becos e vielas, sempre com muito respeito por cada
morador e por cada história que viveu.
Criada
por mãe solo, ela e seus quatro irmãos tiveram uma infância e adolescência muito
difícil em todos os aspectos. Quando adolescente, participou de projetos
sociais desenvolvidos por uma organização social da favela de Heliópolis, e
nesse tempo teve a oportunidade de aprender muito sobre as lutas sociais: lutas
por moradia, solidariedade e sobre justiça social.
Sua
jornada continua nos trabalhos dentro da favela de Heliópolis, atuando à frente
de várias atividades e organizando eventos culturais e esportivos. E nós te
chamamos, Maura Rita de Oliveira, para receber, nesta oportunidade, a medalha
Theodosina Ribeiro, edição 2023. (Palmas.)
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- É entregue a
homenagem.
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A SRA. MAURA RITA DE OLIVEIRA - Boa
tarde a todos e a todas. Estou muito nervosa, gente. Em primeiro lugar, quero
agradecer à nossa rainha Leci Brandão, por me homenagear com esta medalha muito
linda que eu vou levar para o resto da minha vida.
Tenho
muito orgulho. Ela já fez muita gente lá dentro de Heliópolis rir, chorar, mas
a felicidade foi muito grande. Nossa rainha, muito obrigada. Que Deus abençoe
muito a senhora. (Palmas.)
Hoje
aqui eu sou diretora de Logística da Cufa do estado de São Paulo. A gente atua
dentro de Heliópolis, das cinco mil favelas. Chega caminhão, nós descarregamos,
e a gente entrega para as famílias mais necessitadas, mães solos, mães solteiras,
todas. É uma luta triste, mas é muito gostosa.
Eu
pego peso, eu pego duas ou três cestas, eu não sinto um pingo de dor, um pingo
de peso. Eu me sinto muito honrada por carregar e entregar para essas famílias
que necessitam muito.
Na
Cufa, eu tive a oportunidade de estar lá com o Marcivan Barreto, que é o
presidente da Cufa. (Palmas.) Ele me chamou, e hoje estou lá, graças a Deus.
Ajudo muitas famílias de São Paulo inteira e do Brasil por ele.
E
hoje houve muitas coisas do litoral norte. A gente foi uma das primeiras ONGs a
chegar lá naquele momento muito triste. Conseguimos. Voltei ontem de lá para eu
receber essa medalha, que é muito importante para mim. Muito obrigada.
Quero
agradecer à minha família que está aqui, a minha mãe guerreira, que me ajudou
muito. (Palmas.) Eu sei quem eu sou, sou forte por causa dela, por tudo que a
gente passou na nossa vida. E hoje estou aqui de pé, recebendo uma medalha que
ofereço a ela, essa medalha, porque eu sou sua filha, minha mãe. (Palmas.)
Venho
aqui também agradecer, porque têm umas famílias aqui que bateram na porta da
Cufa, eu bati na porta dela, e necessitavam. Muito obrigada por vocês terem
vindo. Minha família, minhas senhoras, minhas velhas. (Palmas.) Gente, muito
obrigada. Não sou de falar, não. Só tenho o que agradecer.
Gratidão
a todos e muito obrigada a todo mundo que está aqui nesse local.
Deus
abençoe. (Palmas.)
A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - Neste momento, a Sra. Tamysie fará a entrega de um buquê de
flores para a deputada Leci Brandão. (Palmas.)
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* *
- É entregue a
homenagem.
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A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E agora é a vez da Sra. Tamysie receber, da deputada Leci
Brandão, as flores também. (Palmas.)
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- É entregue a
homenagem.
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A SRA. MESTRE
DE CERIMÔNIAS - CLÁUDIA LUNA - E neste momento passo a palavra à deputada Leci Brandão, que
fará o encerramento da edição 2023 da medalha Theodosina Ribeiro, que
femenageou a mulher do milênio Elza Soares. Com a palavra, nossa ilustre
deputada Leci Brandão. (Palmas.)
A SRA.
PRESIDENTE
- LECI BRANDÃO - PCdoB - É o momento mais difícil da minha vida
quando a gente consegue realizar esse evento abençoado, esse evento que, na
verdade, tem que ter um deputado, um parlamentar para fazer qualquer evento de
homenagens nessa Casa.
Mas a primeira coisa que eu tenho que falar é a minha
gratidão a todo o quilombo, a todos os componentes, participantes desse
quilombo da diversidade. Os meus queridos assessores e as minhas assessoras, ou
seja, a minha família parlamentar, foram os que fizeram com que a gente
chegasse a este momento, que já é o nono encontro que a gente realiza.
E para mim é muito difícil falar de coisas que nós não
estamos mais acostumados a ver tanto. Agora a gente começou a ter uma
esperança, a esperança chegou, e Deus está olhando para o Brasil, voltou a
olhar para o Brasil. (Palmas.)
Quando passa pela nossa cabeça a nossa história de vida, não
dá para chorar, porque se eu chorar eu não vou parar, meu pranto não para
nunca. Porque é uma coisa especialíssima, é uma coisa abençoada, é uma coisa
espiritual, é uma coisa de respeito.
Eu tenho sempre que lembrar da dona Leci de Assunção
Brandão, que partiu no dia 26 de julho de 2019, mas ela teve a oportunidade de
ver eu chegar aqui nessa Casa em 2010. A eleição foi em 2010. Foi 3 de outubro
de 2010? Pois é, ela teve a oportunidade de me ver chegar aqui. E veio, esteve
aqui nesta Casa quando da minha posse.
Só que eu não tinha dimensão de que era uma continuidade de
um caminho que Deus e os orixás escreveram para a minha vida. Eu poderia
imaginar tudo, menos que, depois de cantar por tantos anos, fazer tantas
músicas com letras sociais, letras difíceis de serem mostradas, porque eu tenho
um amigo que diz o seguinte: “Leci, você vive reclamando da vida, mas você só
fica pegando encrenca, você só quer cantar para preto, para pobre, para morro,
para favela, para cadeia”. Não é nada disso.
Hoje eu fiquei muito feliz quando a Marisa chegou ali e
falou da nossa história, como movimento LGBTQIA+, que agora tem várias letras,
mas quando a gente teve a coragem de falar desse público, foi nos anos 70.
E eu me lembro que houve muita surpresa, porque, sendo
compositora de uma escola de samba tradicional como a Estação Primeira de
Mangueira, como é que eu vou fazer música para um povo que ninguém nunca deu
atenção, que as pessoas sempre tiveram preconceito?
Tanto é que, no meu tempo, era “gay people”. Não tinha isso
de LGBTQIA+, esse nome todo, era nada disso, era “gay people”. E a gente sempre
construiu coisas que a nossa emoção, o nosso sentimento, acreditaram.
Eu nunca deixei de escrever coisas que eu acreditasse. Então
era muito complicado eu ser filha de uma servente de escola, neta de cozinheira
de casa de patrão, porque a minha vó era empregada, mas era cozinheira de mão
cheia, inclusive.
Uma mãe servente de escola. Tivemos que morar em três
escolas públicas no Rio de Janeiro, e as escolas existem até hoje: escola
Equador, em Vila Isabel, escola Arthur Azevedo, lá na Pavuna, e a última escola
foi a Nicarágua, no bairro de Realengo.
Então a minha construção foi feita com muita poeira, muita
vassoura, muito rodo, muito pano de chão. A gente limpava. A gente era
servente-morador sabe como é que é, a limpeza é maior.
Então, o meu respeito, talvez, pela educação já vem do tempo
em que a minha mãe trabalhava em escola como servente. E eu fico observando até
o comportamento das pessoas da Assembleia Legislativa diante do pessoal dos
serviços gerais, porque eu olho para essas pessoas e vejo minha mãe. E falo com
todo mundo, faço questão de falar com todos, todas e todes - que também tem
todes aqui, aqui tem tudo, um pouco de tudo.
É muito triste você ver que as pessoas às vezes tratam as
outras com uma certa alegria, com um sorriso, com a simpatia, dependendo da
função daquela pessoa, dependendo da condição social daquela pessoa.
Então é assim, talvez eu me aproxime mais de algumas
deputadas e alguns deputados que têm a ver, têm a sintonia com a minha vida,
com a minha criação. Que a primeira palavra que eu aprendi com a dona Leci foi
respeito. Eu respeito todas as pessoas. (Palmas.)
E quando eu vi o que aconteceu aqui, essa celebração de
mulheres que têm na sua vida uma coisa chamada solidariedade, respeito também,
elegância... Mas elegância de educação, a coisa da simplicidade, da humildade,
que é uma coisa que falta em muita gente: humildade, simplicidade.
Você tem que entender que, primeiro, nós somos todos iguais,
nós somos todos filhos e filhas de Deus, a gente vai acabar essa passagem aqui
uma hora que a gente não sabe, não é? E tem gente que acha que vai ficar aqui a
vida inteira.
Todo mundo vai embora. Só que antes da gente ir embora, é
bom que a gente deixe alguma coisa, para que ninguém esqueça da gente, para que
a gente seja lembrada com carinho, sabe?
Não é riqueza, não é condição social de ter uma conta
bancária maravilhosa ou ter o melhor carro, a melhor casa, o melhor
apartamento, fazer a melhor viagem, nada disso, nada disso importa. O que
importa é que a gente tem que passar por aqui e cumprir a nossa missão com
humildade.
Cumprir essa missão sabendo que tem alguém acima de nós que
comanda tudo. E quando eu digo isso, eu digo com muita tranquilidade, porque
aqui neste mesmo lugar onde nós estamos, houve uma pessoa que disse um dia o
seguinte: que nós, da esquerda, nós, progressistas, não iríamos vencer mais,
que nunca mais a gente iria ocupar esse lugar.
Eu sou obrigada a falar nisso, não gosto muito de falar em
política quando a gente está comemorando, mas assim, você não pode dizer:
“Nunca mais isso vai acontecer”. Quem sabe é lá em cima. É Deus. São os orixás.
E eu fico muito contente de ver que circularam por aqui,
passaram por aqui pessoas de todas as religiões, de todos os credos, e é para
isso que a gente se propõe mesmo. Todas as mulheres que passaram aqui são
importantes, corajosas, trabalhadoras, são mulheres que têm uma história bonita
para contar. E eu estou no meio delas.
A minha assessoria, as minhas amigas, as minhas companheiras
trouxeram a ideia de fazer esse prêmio, que é a medalha Theodosina Ribeiro, que
foi a primeira mulher negra deputada dessa Casa e também foi a primeira
vereadora aqui da Câmara Municipal, e eu não tinha ideia de nada. Então quando
você junta as forças, quando você dá oportunidade às pessoas de te ajudar...
Porque todo parlamentar, todos os 94 aqui têm assessoria,
eles têm os seus auxiliares, os seus assessores, mas nem todo mundo dá a eles a
atenção, o carinho que eles merecem, porque eles trabalham. Tem gente que tem
mania de dizer: “Não, quem trabalha na Assembleia Legislativa...”. Não, todo
mundo trabalha, são todos trabalhadores.
Temos trabalhadores aqui de todos os caminhos, de todas as
ideias, de tudo quanto é coisa de que o ser humano precisa. Todo mundo aqui
trabalha muito, trabalha muito.
E por isso eu quero dizer que eu, sozinha, não faria nada.
Eu não sou responsável por nada que tem no nosso mandato. Os responsáveis são
eles, que, junto comigo, criam. Eu tenho muita ideia maluca e tal, mas eles
chegam e consertam, e as coisas acontecem.
Então o que eu quero dizer para vocês é o seguinte: eu sou
uma carioca de Madureira, nascida na estrada da Portela. Compositora da
Mangueira, que é o Morro da Mangueira lá. Todo mundo gosta muito de mim. Mas
agradeço a Deus todos os dias por ele ter mudado o meu caminho para o estado de
São Paulo.
Eu vim parar aqui. Para quê? Para transformar a minha vida,
para conhecer pessoas fantásticas que me ensinaram tudo. Tudo o que eu sei, a
sabedoria que eu tenho, a primeira foi dona Leci que me deu. O resto foi as
pessoas que eu conheci aqui em São Paulo.
Quero agradecer a cada assessor meu, a todo mundo que
trabalha comigo, que me suporta... Gostam de mim, mas tem gente que suporta, a
gente sabe disso. É verdade, a gente sabe, mas na verdade nós somos uma
família.
Eu sou uma pessoa que não trata mal ninguém, não ofendo quem
quer que seja. nunca ofendi ninguém nessa Casa, que aqui na legislatura passada
o negócio foi fogo, estava “brabo”. Mas nunca ninguém me tratou mal. Eu sempre
procurei entender o meu lugar, o meu limite e que eu estou aqui para servir. Eu
vim para cá para servir.
Deputados têm que se lembrar disto: quem põe a gente aqui é
o povo, é o povo de São Paulo, entendeu? É o povo. (Palmas.) E qualquer coisa que a gente faça não é nada
demais, é nossa obrigação.
Talvez eu tenha me aproximado mais anteriormente da
Professora Bebel, porque eu a conheci como presidente da Apeoesp, lutava pela
educação, pelos professores, pelas professoras. E eu cansei de ir à Apeoesp não
para fazer discurso, não, mas para cantar, fazer show, que meu negócio é a
música.
Toquei meu pandeiro e toquei tantan para muita gente aqui em
São Paulo. Muitas comunidades, zona leste, sul, oeste, quebrada, favela e tal.
Estou aqui, mas sou a mesma Leci. A única coisa que mudou é que eu tenho que
estudar mais. Eu não tenho mais quase tempo, a minha cabeça está meio cansada
também, mas tem muita gente que me ensina.
A muita gente aqui nesta Casa eu devo muita coisa, porque me
ensinaram. Como tem muita gente aqui nessa plateia que me ensinou um monte de
coisa. E eu quero dizer muito obrigada por tudo que vocês mostraram para mim,
pelas aulas que vocês me deram. A política vocês não me ensinaram: a política
eu aprendi caminhando na rua. (Palmas.)
Política é o seguinte: você tem que saber o que é bom, o que
é justo, quem presta e quem não presta. E a política tem que ser focada em você
fazer bem para as pessoas, procurar dar às pessoas condições de vida melhor,
educação, saúde. É isso que você tem que fazer. Não é nada demais. Não tem
invenção aqui.
E dizer também que muita gente me olhou de lado aqui nessa
Casa quando eu cheguei aqui, porque toda sexta-feira eu sempre vim de branco,
porque sexta-feira é dia de Oxalá, e eu respeito Oxalá, como respeito também os
outros orixás.
Mas agradeço a religião de matriz africana por tudo que ela
me ensinou, por tudo que ela me ajudou, por tudo que ela construiu para mim, e
dizer que eu respeito toda e qualquer religião, respeito todas elas. Por isso
que nós fizemos aqui também um projeto que pune administrativamente quem
atingir qualquer pessoa por questão religiosa.
O Brasil não pode ter uma guerra religiosa, porque, afinal
de contas, nós somos todos iguais. É um povo querido, é um povo que tem
felicidade, é um povo que gosta de alegria, é um povo que gosta de Carnaval, é
um povo que gosta de samba, é um povo que gosta de ser alegre, mas é um povo
que quer ser, acima de tudo, respeitado. É um povo que não pode mais ter
preconceito, de forma alguma. (Palmas.)
Então, Professora Bebel, quero aqui publicamente dizer o
seguinte: muito obrigada por tudo que você me proporcionou, que você me
ensinou, que você me ajudou, que você me defendeu.
Quero agradecer à Thainara, porque é uma pessoa que eu
conheci em Araraquara e que graças a Deus nos deu, assim, muito orgulho, porque
é minha afilhada. Afilhada assim, não fui à pia batismal, nada disso, é minha
afilhada. E é uma pessoa que me trata com muito carinho.
E quero também dizer o seguinte, é um problema, é um negócio
meio delicado: eu sou do PCdoB, mas o PT me ensinou muita coisa. E quero
agradecer ao PSOL. (Palmas.) Por que eu agradeço ao PSOL? Porque o PSOL trouxe
as meninas negras que estão hoje aqui nessa Assembleia.
Essa Assembleia está diferente, está maravilhosa. Meninas
que são jovens - porque eu já sou uma senhora, elas são jovens - cheias de
ideias, cheias de ensinamento.
É um pessoal alegre, um pessoal que, sabe, não tem diferença
por ser de outro partido, não existe isso. O que existe é a nossa finalidade, é
o nosso compromisso. Nós temos compromisso de quê?
Aumentar cada vez mais a diversidade nesta Casa. (Palmas.)
Essa Casa não pode ser só da elite, só de famílias ricas. Não é assim. Aqui é a
Casa do povo, e porque é a Casa do povo, tem que ter um pouco de tudo.
E agradecer também aos homens, não é, gente? Porque o homem
é importante. Porque tem gente que acha que a gente não suporta os homes. Eu
nunca falei isso, não. Nunca falei isso.
Até porque, têm homens também no meu mandato, senão não
teria. Entendeu? Todo mundo está lá, se eu tiver que falar qualquer coisa eu
falo mesmo, porque o que eu falo para mulher eu falo para homem, não sinto medo
de ninguém, porque eu tenho respeito pelas pessoas. Respeito é uma coisa, medo
é outra.
Quero pedir agora também um aplauso para todas as religiões
que estão aqui, todas. (Palmas.) E dizer para o meu povo: Motumbá, Kolofé,
Mucuiú. E muito obrigada por vocês estarem aqui nesses assentos aí para trazer
mais axé para a gente. Porque quando o povo do santo vem aqui, a gente sabe que
vamos ficar mais protegidos ainda.
Porque temos que ter isso aí, não pode faltar não. Usem seus
fios de conta, vistam branco o dia que vocês acharem que tem que vestir e não
liguem para quem é preconceituoso em relação à nossa religião. Viva Deus, viva
Oxalá, viva essa gente. (Palmas.)
Esgotado o
objeto da presente sessão, eu agradeço às autoridades, à minha equipe - que
está aí espalhada -, aos funcionários do serviço de som - muito obrigada -, da taquigrafia,
da fotografia, do serviço de atas, do Cerimonial, da Secretaria Geral
Parlamentar, da imprensa da Casa, da TV Alesp e das assessorias policiais
Militar e Civil, bem como a todos que, com suas presenças, colaboraram para o
pleno êxito desta solenidade.
À galera que veio da favela, porque tem muita gente da
favela aqui, muito obrigada. (Palmas.) Porque a gente sabe que vocês não
mediram esforços e chegaram até aqui. Muito obrigada. Convido todos e todas
para um coffee no Hall Monumental. Ou seja, tem um lanchinho no Hall
Monumental.
Não é almoço, não é jantar, mas a gente tem que ter
“mastigo” que é para poder ficar legal, senão o estômago fica... Né? Tem que
falar no popular. Vamos comer uma coisinha ali, beber alguma coisa. Não é
cerveja, porque não pode, nós estamos dentro da Assembleia Legislativa. E
agradecer a todos.
Desculpa se alguma coisa que eu falei não agradou aos
senhores e as senhoras. Mas vocês são abençoados por Deus. E gratidão, gratidão
por terem me reconduzido a esta Casa.
Muito obrigada mesmo.
Obrigada, de coração. (Palmas.)
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- Encerra-se a
sessão às 13 horas e 38 minutos.
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