DECRETO N. 1.479, DE 29 DE MAIO DE 1907
Concede ao sr Italo Spinardi,
licença para o estabelecimento, uso e goso ou
exploração de uma linha telephonica ligando a cidade de
Pitangueiras ás sédes dos municipios de
Sertãosinho e Ribeirão Preto.
O dr. Presidente do Estado de São Paulo,
Attendendo ao requerido pelo sr. Italo Spinardi e de accôrdo com
a auctorização do artigo 3.° da lei n. II, de 28 de
Outubro de 1891,
Decreta :
Artigo unico. - Fica
concedida ao sr. Italo Spinardi, para o
estabelecimento, uso e goso ou exploração de uma linha
telephonica, ligando a cidade, de Pitangueiras ás sédes
dos municipios de Sertãozinho e Ribeirão Preto, de
conformidade com as clausulas que com este baixam, assiguadas pelo dr.
secretario dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas.
Palacio do Governo do Estado de
São Paulo, 29 de Maio de 1907.
JORGE TIBIRIÇA
DR. CARLOS J. BOTELHO.
Secretaria da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, 31 de Maio de
1907.
Justino Lintz, pelo director-geral.
Clausulas a que se refere o decreto n. 1479, de 29 de Maio de 1907
I
Fica concedida ao sr. Italo Soinardi, por si ou empresa que organizar,
licença para o estabelecimento, uso e goso ou
exploração de uma linha telephonica ligando a cidade de
Pitangueiras ás sédes dos municipios de
Sertãozinho e Ribeirão Preto.
II
A presente concessão terá vigor pelo prazo de vinte e
cinco annos, contados desta data.
Poderá o Governo declarar a respectiva caducidade :
1. Si dentro de um anno não tiverem sido começados os
trabalhos para o estabelecimento da linha ;
2. Si, depois de iniciada a construcção, não
fôr inaugurado o serviço das communicações
telephonicas dentro de dois annos da presente data ;
3. Si, depois de estarem funccionando, forem as
communicações interrompidas por mais de tres mezes
consecutivos, tem motivo de força maior.
III
Nenhum monopolio ou privilegio ficará constituido pelo presente
licença em favor do concessionario, que respeitará os
direitos de outros, legalmente adquiridos.
O Governo poderá, em qualquer tempo, fazer novas
concessões para o serviço telephonico, ou executal-os por
si, entre os pontos designados na clausula I.
IV
A presente concessão comprehende sómente as linhas e
accessorios, os postos ou estações, extremas ou
intermedias, que tenham de servir para communicação
telephonica de um para outro municipio.
As communicações dentro de um mesmo municipio
deverão ser estabelecidas exclusivamente em virtude de
licença da camara municipal respectiva.
V
O concessionario gosará do direito de collocar linhas
telephonicas em todas as vias publicas comprehendidas entre os pontos a
que se refere a clausula I, e, para esse fim, deverá obter
licença prévia do poder competente.
Para o apoio dos fios ou implantação de postes em
propriedades particulares, deverá o concessionario conseguir por
si o consentimento dos proprietarios que se tornar necessario.
VI
O concessionario submetter-se-á a regulamentação
municipal dentro das raias de cada municipio percorrido pela
linha.
O
Governo prestará o seu apoio ao concessionario, afim de que seja
observada a disposição que véda ás
municipalidades
crear impostos ou condições prohibitivas contra a linha
do concessionario, e a favor das linhas municipaes.
VII
No assentamento das diversas linhas que o concessionario tiver de
estabelecer, serão sempre observadas as regras e os preceitos
da arte.
O Governo terá sempre o direito de impedir o estabelecimento
de linhas que não offereçam as devidas
condições de solidez ou de garantia contra accidentes,
assim como o de exigir que sejam retirados ou substituidos os
supportes, fios etc., que possam de qualquer fórma prejudicar a
segurança do transito publico.
VIII
Antes do começo dos trabalhos de construcção, e
para que se possa exercer a faculdade a qua allude a clausula
precedente, o concessinario remetterá ao Governo uma planta do
traçado das linhas tronco, na qual sejam figurados os postos ou
estações extremas on intermedias, os desenhos dos typos
da linha aéria ou subterranea (supportes, reguas, fios
etc.), juntando tambem indicação sobre os materiaes e
apparelhos a empregar ou sobre precauções a tomar ra
proximidade ou cruzamento de outros conductores de electricidade que
existirem ou na travessia das linhas ferreas
Depois de ultimados os trabalhos, o concessionario apresentará
ao Governo informação exacta sobre : -traçado e
extenção das linhas, feita a discriminação
conveniente das ramificações ; numero de
estaçôes extremas e intermedias, postos publicos e de
assignantes.
Para o mesmo fim acima expresso, o concessionario communicará,
com antecedencia conveniente, todas as modificações que
forem sendo adoptadas com referencia ao traçado, typos de linha
e meios de protecção.
IX
O concessionario obriga-se a observar o regulamento que for expedido
para a bôa e fiel execução da lei n. 11, de 28 de
Outubro de 1891, e as instrucções que determinarem as
condições de utilização das vias publicas,
em vista da segurança do transito tanto nas mesmas como nas
estradas de ferro que a linha telephonica seguir ou atravessar, ou que
tiverem por objectivo pôr ao abrigo de accidentes todos os que se
utilizarem do serviço telephonico.
X
O Governo poderá exigir, para as communicações de
municipio a municipio que existam dois circuitos inteiramente
metallicos, pelo menos, para as communicações que tiverem
de ser feitas dos escriptorios centraes e postos publicos.
Poderá tambem o Governo impôr o emprego de
canalização subterranea, ou ainda de uma
canalização aérea de typo especial nos trechos da
Iinna telephonica inter-municipal, em cidades cujas
condições reclamem taes melhoramentos.
XI
Os postes, reguas, fios e quaesquer accessorios da linha do
concessionario serão collocados de maneira que não
prejudiquem ou não perturbem as linhas e apparelhos
telegraphicos ou telephonicos que já funccionarem, cumprindo
tambem que nào se faça sentir nos apparelhos
estabelecidos pelo concessionario a influencia dos conductores de
electricidade que já existirem.
O concessionario evitará sempre, o mais que fôr possivel,
tanto a collocação dos fios parallelos aos de outras
linhas, quanto o cruzamento com as mesmas, devendo este ser feito de
preferencia em angulo recto.
O Governo poderá impôr o emprego de dispositivos especiaes
para protecção ou segurança, nos casos em que
houver riscos de accidontes.
XII
O Governo exigirá de outros concessionarios de linhas
telephonicas, ou para o transporte de energia, que façam o
respectivo estabelecimento, de modo que não impeçam ou
perturbem o trafego da linha do concessionario.
XIII
O concessionario communicará ao Governo a data do começo
do trafego na sua linha, quer para o serviço de assignantes,
quer nas estações ou postos publicos, e nessa
occasião juntará um exemplar das tarifas que tiver
estabelecido.
Todos os preços serão cobrados de um modo geral e sem
excepções, devendo assim os abatimentos nas assignaturas
applicar-se a todos os assignantes da mesma cathegoria.
As modificações de preços serão sempre
trazidas ao conhecimento do Governo.
XIV
O concessionario manterá em bom estado de
conservação a linha e todos os apparelhos accessorios, a
bem da continuidade e regularidade do respectivo serviço, em
todos os pontos em que se façam as communicações
telephonicas,
Nos contractos ou apolices dos assignantes serão incluidas
disposições garantidoras de interesses destes, ficando
expressas as restituições ou indemnizações
e possibilidades de rescisào, dados os casos de
interrupção continuada das communicações.
XV
Nas povoações onde vá ter ou por onde passar linha
que ponha esse mesmo ponto em communicação com outro ou
outros de municipio differente, o concessionario estabelecerá
escriptorios centraes ou estações publicas, para onde
convergirão as linhas dos assignantes e onde possam ser feitas,
por qualquer pessôa que não seja assignante,
communicações telephonicas.
As estações publicas acima alludidas poderão ser
dispensadas por um acto especial do Governo, quando a pequena
extensão da linha, ligando os dois pontos em municipios diversos
permitta considerar as linhas dos assignantes como
ramificações do centro telephonico ou rêde urbana
existente em um dos extremos.
Será, entretanto, obrigatoria a sua abertura, quando
funccionarem nos dous extremos rêdes urbanas ligadas á
linhas intermunicipal ou independentes della.
XVI
Nas estações publicas para a csmmunicação
intermunicipal deverá o concessionario estabelecer os meios
usuaes para garantia do segredo da correspondencia telephonica.
As communicações serão dadas pela ordem dos
pedidos.
Serão affixados nas mesmas estações os
preços, regulamentos, horarios etc., do respectivo
serviço.
XVII
O registro por escripto e a distribuição de mensagens
telephonicas sómente poderão ser feitos com
auctorização expressa do Governo, deixando porém,
de ser permittidos quando já houver, ou se estabelecer
serviço telegraphico entre os pontos da linha do concessionario.
XVIII
A presente concessão tem por objecto o serviço de
communicações telephonicas.
Si o concessionario, pelo uso das suas linhas ou por uma entrega por
escripto de mensagens telephonicas não auctorizadas, fizer
concorrencia indebita ao serviço telegraphico, será
annullada a concessão e o Governo providenciará para que
se torne effectiva essa aunullação, caso isso seja
necessario.
XIX
O Governo, por motivo de ordem publica, poderá pôr
limitações ao serviço telephonico ou utilizar-se
delle exclusivamente, mediante indemnização que se
estabelecer por accôrdo, ou, na falta delle, por decisão
de arbitros, na fórma da clausula XXIII.
XX
O concessionario obrigar-se-á :
1.° a dar preferencia ás comnunicações
officiaes ;
2.° a ceder suas linhas ao Governo do Estado, medinte
indemnização quando este julgar conveniente a
expropriação que será feita de accôrdo com a
lei então em vigor.
XXI
A' Socretaria da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, ou á
repartição por ella designda, deverá o
concessionario dirigir as communicações que tiver de
fazer ao Governo, e por aquellas repartiçães
serão expedidos os actos officiaes referentes no serviço
a cargo do concessionario.
XXII
O corcessionario ou quem o substituir, communicará ao Governo as
alterações que se tiverem, realizado em virtude de
cessão, trarsferencia, etc. O concessionario apresentará,
ao Governo, dentro de dois primeiros mezes de cada anno, dados
estatisticos sob a extensão das linhas, numero de apparelhos em
serviço, de assignantes, receita e despesa, obras novas e
melhoramento, com relação ao anno anterior.
Quando o
serviço estiver a cargo de uma companhia, serão enviados
ao Governo a relação dos administradores e um exemplar do
relatorio apresentado aos accionistas.
XXIII
As questões que se suscitarem entre o Governo e o concessionario
serão sempre decididas por um juizo arbitral, formado
do seguinte modo :
Cada uma das partes nomeará para juiz um arbitro. Si os dois
nomeados divergirem em seus laudos, um terceiro será escolhido
por ambas as partes ; si não houver accôrdo nesta escolha,
cada parte nomeará o seu, e, dentre os dois, o que fôr
designado pela sorte, decidirá a questão.
XXIV
Si estiver em trafego a linha, sem que tenham sido apresentados a
planta do tronco e os demais dados a que se referem a primeira e a
segunda parte da clausula 8.ª, marcará o Governo um prazo
razoavel para effectuar-se aquella apresentação, podendo
applicar multa, sempre que houver excesso do periodo marcado.
XXV
O fôro do Estado será obrigatorio para o concessionario ou
empresa que explorar o serviço telephonico, qualquer que seja a
respectiva séde.
XXVI
Pela inobservancia de qualquer das clausulas acima, ficará o
concessionario sujeito á applicação de multa de
100$000 a... 1:000$0000.
Secretaria da Agricultura, Commercio e Obras Publicas, 22 de Maio de
1907.
DR. CARLOS J. BOTELHO.