NO ANIVERSÁRIO DE MORTE DO POETA DANTE ALIGHIERI, O ILP ABORDA A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA IDEIAS POLÍTICAS QUE ECOAM ATÉ OS DIAS DE HOJE.

A professora Doris Nátia Cavallari foi a responsável pela exposição, seguida de um rico debate.
23/08/2021 13:20 | on-line | Rafael Ferreira de Sousa

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O conceito de laicidade é definido, pelo Dicionário de Conceitos Políticos do ILP, como a disciplina institucional das relações entre o estado e as confissões religiosas - incluindo o respeito por aqueles que não manifestam qualquer crença -, que estabelece um distanciamento do poder estatal, considerado salutar nos padrões contemporâneos civilizatórios, no que tange às pretensões dos credos religiosos, da consciência das pessoas. Por mais contemporânea que essa ideia de distinção entre igreja e estado possa parecer, ela passou por um intenso processo afunilamento até chegar ao modo como hoje a conhecemos. Dante Alighieri, poeta e intelectual político nascido em 1265 no território que hoje conhecemos por Itália, já pregava tal separação dentro de um contexto monárquico. Para melhor abordar este assunto, o Instituto do Legislativo Paulista contou, na última quinta-feira, dia 19 de agosto, com a participação de Doris Nátia Cavallari, especialista na obra de Alighieri.

Após a contextualização e apresentação da analista legislativa do ILP, Paula Schneider, a palavra foi passada para os organizadores, Julio de Souza Comparini e Silvio Gabriel Serrano Nunes, que falaram brevemente sobre a importância de Dante, que ultrapassa o campo da clássica literatura italiana e universal. Em seguida, a professora Doris pôde dar início a sua exposição.

Em um primeiro momento, Cavallari apresentou um panorama da cidade de Florença à época do poeta. Segundo seu relato, a cidade era dominada por um violento e polarizado contexto político. A professora relatou a presença de dois partidos que dominavam a cena política da época: de um lado os Gibelinos, que se apoiavam nos antigos valores feudais, e do outro, os Guelfos, que, por sua vez, representavam os até então recentes valores burgueses. Seguindo a conferencista, o partido Gibelino foi expulso de Florença em 1266. Contudo, o partido Guelfo, que se tornou dominante, se subdividia em dois eixos: os Guelfos Brancos, que propunham uma participação do povo (ou dos que assim eram reconhecidos) na administração pública, e os Guelfos Negros, que defendiam uma participação da elite diretamente ligada ao poder papal. Tal divisão também era motivo de violentos embates.

Dante, de acordo com a professora, era partidário dos Guelfos Brancos, que dominaram a cenário político até 1301, quando, por meio de um golpe de estado, os Guelfos Negros tomam o poder. Após este evento, Dante é condenado à fogueira, acusado, junto com seus colegas de partido, de improbidade administrativa. No entanto, seguindo o que foi dito pela palestrante, o poeta, em 1315 recebe uma proposta de anistia que é imediatamente recusada. Tal proposta exigia, basicamente, que ele assumisse a culpa dos crimes pelos quais foi acusado.

A professora apontou que foi durante este tempo de exílio que Alighieri compôs as suas principais obras: Convívio, Monarquia e a Divina comédia. Perpassando por essas obras, a professora pôde explicar o processo de construção do ideal de separação entre poder temporal e igreja defendido pelo poeta. Muito foi mencionado que Dante não defendia uma hierarquização dos poderes, mas sim trabalhos paralelos que possuíssem a mesma importância. A especialista também pontuou que, no contexto da época, não havia espaço para oposição de ideias, ou seja, era sempre um único partido regendo o todo. A professora disse acreditar que, caso o poeta tivesse saído do exílio, provavelmente voltaria à Florença com um ideal de respeito à pluralidade de ideias.

Após a exposição, a palestrante pôde se juntar aos debatedores para responder dúvidas e comentar as observações que Julio Comparini e Gabriel Serrano expuseram.

Para conferir, basta acessar o link https://www.youtube.com/watch?v=btgKJEwrrW8.

Dicionário de Conceitos Políticos do ILP: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/bibliotecaDigital/24369_arquivo.pdf.