"Quem é? Que guarda a memória do Samba? Quem é? Que faz do Samba o seu viver? Quem é? Que o Samba é seu sobrenome? Quem faz o Samba germinar? Quem é? Quem é? Quem é?" Carlos Alberto Caetano, ou apenas Seo Carlão do Peruche, pode ser uma resposta para as perguntas feitas nesse samba, chamado "Tributo à Velha Guarda", da Vai-Vai. Um dos fundadores da escola de samba paulistana Unidos do Peruche, Carlão foi homenageado, na tarde do último sábado (9), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em evento solicitado pela deputada Ediane Maria (Psol). "Baluarte"; "cardeal"; "ícone"; "um dos primeiros a levantar a bandeira do samba". Essas foram algumas das formas como os colegas definiram Carlão, um sambista de 93 anos de vida e 80 de samba. "Organizamos essa solenidade para homenagear uma pessoa que foi fundamental, responsável por tudo que temos em relação ao Carnaval hoje em dia. Se estamos aqui [na Alesp], é graças ao trabalho de Seo Carlão e de outros baluartes do samba de São Paulo. Estamos celebrando o samba, reumanizando essa Casa e ressignificando esse espaço que é do povo", afirmou o sociólogo e pesquisador Tadeu Kaçula. História Carlão do Peruche nasceu em 1930, na Barra Funda, bairro na Zona Norte de São Paulo. Aos 26 anos, ao lado de alguns colegas, fundou a escola de samba Unidos do Peruche, na mesma região da Capital paulista. "Ele foi um dos primeiros a levantar a bandeira do samba. Quando o samba apanhava a cada minuto, tinha seus instrumentos destruídos e tínhamos que começar tudo de novo na semana seguinte. Foi assim que o samba começou. Com muito custo, o Carnaval chegou onde chegou", explicou Ricardo Americano, diretor de harmonia da Unidos do Peruche. Na época em que Seo Carlão fundou a, hoje, tricampeã do samba paulistano, ainda havia muita repressão contra manifestações deste tipo na Capital. O historiador e autor do livro "Cardeal do Samba: Memórias de Seu Carlão do Peruche", Bruno Baronetti, contou que o sambista chegou a sofrer agressões físicas enquanto tentava levar o Carnaval para a rua. "A história do povo preto no Brasil é de resistência. A história do Seo Carlão representa isso também. Seu corpo sempre foi resistência, contra a opressão e o Estado", disse Bruno. O historiador ainda pontuou que, apesar da homenagem ser direcionada a Carlão, ela é, na verdade, para todo um povo que construiu as escolas e o samba no século passado. "A história dele se confunde com a do samba e da cidade de São Paulo. Nós estamos homenageando essa liderança, mas a luta é coletiva. Só o povo organizado produz luta social, transforma a sociedade. Essa foi a luta do Seo Carlão", concluiu. Memória Proponente do evento, a deputada Ediane Maria ressaltou a importância de realizar homenagens a figuras do samba paulista, para que seu legado e história não caiam em esquecimento. "É importante que o samba não morra jamais e que os mais novos saibam toda a trajetória que nos fez chegar até aqui", afirmou ela. "Quando uma pessoa mais velha morre, morre toda uma história, se ela não foi passada para frente. Por isso, gosto de ouvir e contar essas histórias, porque é assim que a gente constrói o futuro do nosso país", comentou a deputada. Apesar dessa tentativa de resgate feita por Ediane, um dos colegas mais antigos de Carlão, o Mestre Gabi, da Velha Guarda da Camisa Verde e Branco, lamentou que poucos jovens compareceram ao evento na Assembleia. "Seo Carlão está sendo esquecido. Não por nós que temos amizade, mas fico muito nervoso quando ele chega em uma quadra e as pessoas não o conhecem. Essa juventude de hoje deveria estar aqui para saber quem é o Carlão", defendeu. "Isto aqui é tradição, nós respeitamos nossa ancestralidade e o Seo Carlão é ancestralidade para nós. Os meninos que estão começando deveriam estar aqui para saber o que esse senhor passou para hoje nós estarmos nessa Casa", finalizou o sambista.