Acervo da Assembleia mantém documentos sobre a Escola Politécnica da USP

Lei 191/1893 criou a Poli com cursos de engenharia civil, industrial e agrícola
16/09/2013 17:59 | Da Redação

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Prédio Escola Politécnica<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129846.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Paula Souza<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129847.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ramos Azevedo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129849.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Projeto do Prédio da Escola Politécnica<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129850.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Regulamento 17 de agosto de 1892<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2013/fg129872.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo completou 120 anos no dia 26 de agosto. A diretoria da Escola Politécnica celebrou a data de fundação com o lançamento de dois livros: Os 120 anos da Escola Politécnica e Fazendo história, que conta a trajetória de 75 professores da instituição.

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo também promoveu sessão solene comemorativa, no dia 12 de agosto, por iniciativa da deputada Rita Passos (PSD). O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) realizou evento para lembrar a data e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo fez um concerto, no dia 17 de agosto, dedicado a Poli. O Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (Seesp) e a Câmara dos Vereadores de São Paulo já haviam feito suas homenagens no primeiro semestre de 2013.

A Escola Politécnica da USP foi fundada em 24 de agosto de 1893, pela Lei Estadual 191, aprovada pelo Congresso Legislativo de São Paulo e promulgada pelo então presidente do Estado, Bernardino de Campos. Em 1934, ela foi incorporada à Universidade de São Paulo. Destacada pelo ensino de engenharia e pela realização de pesquisas científicas e tecnológicas, a Poli formou várias gerações de engenheiros. Alguns de seus alunos destacaram-se na vida política do Estado e do País e na administração de empresas e de órgãos públicos.

Uma parte significativa da história da Escola Politécnica pode ser conhecida por meio da documentação mantida pelo Acervo Histórico da Assembleia Legislativa de São Paulo. Pesquisadores e interessados podem acessar o regulamento que organizou a Escola Politécnica de São Paulo em 1893, as diversas reorganizações pelas quais passou a escola, atos de criação de novos cursos, autorizações de reforma da Escola Politécnica, nomeação de docentes e política salarial, diversas cartas, cartões, ofícios e telegramas da época.

Há ainda uma série de discursos parlamentares sobre a instituição, entre os quais se encontram pronunciamentos de André Franco Montoro e Rogê Ferreira na década de 1950. Em 1993, nas comemorações dos 100 anos da Escola Politécnica, vários depoimentos foram feitos na tribuna do Legislativo estadual. Entre eles, destacam-se os de Mario Covas e Paulo Maluf, dois engenheiros formados pela instituição e que vieram a ocupar o principal cargo de comando do Estado de São Paulo.

Todos esses documentos podem ser consultados pelos cidadãos. Parte deles, está digitalizada e pode ser acessada por meio do site da Assembleia. Outra parte pode ser compulsada em consultas presenciais ao acervo.



Origem republicana

A Poli, como é amplamente conhecida a Escola Politécnica, é uma instituição genuinamente republicana. Sua origem está intimamente vinculada às transformações ocorridas no país com o advento da República e seu projeto de modernização, baseado no progresso material impulsionado pelo desenvolvimento técnico e pela reorganização social.

A Constituição de 1891 ampliou os poderes e atribuições da esfera estadual. As unidades da federação ganharam autonomia política, econômica e fiscal e grande parte das obras urbanas passou a ser prerrogativa dos Estados, principalmente as obras de saneamento e prédios institucionais.

Nesse contexto, os engenheiros ganharam grande relevância no espaço público e na vida política do país. Antonio Francisco de Paula Souza (1843-1917) foi um expoente dessa época. Com origem na aristocracia agrária paulista, filho e neto de políticos liberais da época do império, formou-se na Escola Técnica de Zurique e na Politécnica de Karlsruhe. Depois de formado, voltou ao Brasil em 1867 com o sonho do desenvolvimento material do país por meio das obras de engenharia. Em 1868, assumiu a direção da Repartição de Oras Públicas da província. Também trabalhou em empresas ferroviárias como as Companhias Ituana, Paulista e Rio-Clarense.

Indicado para dirigir o setor de obras do Estado, assumiu em 1890 a Superintendência de Obras Estadual, subordinada à Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Como o ensino e a educação pública constituíam uma das prioridades do regime republicano, Paula Souza assumiu estrutura de ensino público. Ele foi responsável pela articulação de um programa de construção de prédios escolares.

Nessa época a cidade de São Paulo conheceu um conjunto de obras propostas pela comissão de saneamento, como as obras do rio Tamanduateí, as pontes metálicas da avenida Tiradentes (ponte pequena), das ruas João Teodoro e São Caetano, a passagem do aterro do Gasômetro e o início dos estudos sobre a retificação do rio Tietê.

Uma segunda frente de intervenções do Estado envolvia a construção dos edifícios públicos que abrigariam as principais instituições republicanas. Nessa vertente, a figura de destaque foi o engenheiro-arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928). Formado em Grand, Bélgica, Ramos de Azevedo foi responsável pelos projetos dos principais prédios construídos pela administração estadual ao longo da República Velha. Os prédios da Tesouraria da Fazenda, da Secretaria da Agricultura, do Quartel da Polícia, da Escola Normal na Praça da República e do Pavilhão do Jardim da Infância, da Escola Prudente de Morais e do Liceu de Artes e Ofícios (hoje, Pinacoteca do Estado). O engenheiro realizou também viagens a Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos com o intuito de aprimorar e ampliar seus conhecimentos de engenheiro-arquiteto.



A fundação

A ligação entre Paula Souza e Ramos de Azevedo foi essencial para a formação da Escola Politécnica. Segundo o arquiteto e urbanista brasileiro Candido Malta Campos Filho, "o movimento modernizador levado adiante pelo regime republicano em São Paulo envolvia a formação de quadros especializados nas técnicas necessárias ao aparelhamento material do Estado. Essa intenção se enquadrava na política estadual de ensino público e levou à criação de uma instituição de engenharia, a Escola Politécnica, destacando disciplinas aplicadas, ligadas às novas exigências econômicas - construção civil, agricultura, eletricidade, ferrovias - às quais se acrescentariam as referentes à transformação das cidades - saneamento, infraestrutura urbana e obras viárias. A figura central dessa iniciativa foi o ex-superintendente de Obras Públicas, Paula Souza".

Paula Souza foi eleito deputado estadual na primeira legislatura republicana. Tornou-se presidente do Congresso Estadual em 1892. Entre suas principais preocupações estava a criação de uma instituição estadual de ensino técnico superior. O congresso paulista chegou a autorizar a fundação de duas escolas superiores, a de agricultura e a de engenharia. Sendo que a primeira recebia dotação orçamentária três vezes superior segunda, refletindo a prioridade dada ao setor agrário.

Paula Souza conseguiu aprovar, em meados de 1892, lei referente à criação do Instituto Politécnico, uma escola superior de matemáticas e ciências aplicadas à indústria. Mas foi somente em 1893 que foi aprovada a criação da Escola Politécnica, concebida por uma comissão formada pelos engenheiros Francisco Sales de Oliveira e Teodoro Sampaio. A escola era uma fusão das preocupações integrantes das leis anteriores de um instituto politécnico com cursos de engenharia civil e industrial e curso de engenharia agrícola.

Dessa forma, por meio da Lei 191, de 24 de agosto de 1893, foi criada a Escola Politécnica de São Paulo. "Fica creada na cidade de S. Paulo uma escola superior de mathematicas e sciencias applicadas às artes e industrias, que se denominará Escola Polytechnica de S. Paulo", dizia o artigo 1° da lei. No Artigo 2.°, estipulava-se: "a Escola Polytechnica compor-se-á dos cursos especiaes que forem creados por lei, opportunamente, alem dos seguintes: Curso de engenharia civil; Curso de engenharia industrial; Curso de engenharia agrícola e Curso annexo de artes mechanicas."

O presidente do Estado Bernardino de Campos nomeou para ser o primeiro diretor da escola, instalada em 15 de fevereiro de 1894, o engenheiro Paula Souza, que ocuparia o cargo por 23 anos seguidos, até sua morte em 1917.

Como sua formação se deu em Zurique e Karlsruhe, Paula Souza fez prevalecer no instituto a influência germânica, embora partilhasse princípios da École Polytechinque de Paris. Desse modo, reuniu na mesma instituição os cursos básicos (três anos de curso fundamental) e os cursos especializados de engenharia (engenharia civil, industrial etc.). Os alunos podiam, se quisessem, acumular mais de uma especialidade. A prioridade da formação era a aplicação prática dos conhecimentos à esfera produtiva.

A Escola Politécnica estabeleceu-se na avenida Tiradentes, no antigo solar do marquês de Três Rios, até que um novo prédio fosse construído junto ao primeiro. Esse novo edifício foi encomendado a Ramos de Azevedo em 1895 e concluído em 1899.

Um regulamento de 1894 acrescentou a opção da formação de engenheiro-arquiteto. Diferentemente do que se dava em Paris e no Rio de Janeiro, onde os arquitetos se formavam nas escolas de Belas Artes, em São Paulo, o ensino de arquitetura passou a ser uma especialidade da engenharia. Essa inclusão refletia a influência de Ramos de Azevedo coautor do novo regulamento e catedrático da Seção de Arquitetura.



Ramos de Azevedo

Ramos de Azevedo foi vice-diretor da Escola Politécnica de São Paulo entre os anos de 1900 e 1917. Após a morte do engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza, ele assumiu o cargo de diretor. Ocupante da cadeira de Construções Civis e Higiene das Habitações, Azevedo era caracterizado por muitos como austero e disciplinador, mantinha o bom humor e achava tempo livre para encontrar e conversar com os colegas. "Da mesma forma que Paula Souza, ele zelava pelo comportamento dos estudantes, repreendendo-os quando necessário, como no caso de durante os intervalos não estarem usando chapéus. Além disso, com maestria, associava o cuidado para com a Escola e as obras de engenharia e arquitetura que executava paralelamente no cenário urbano da São Paulo do início do século 20" (site da poli).

Segundo o site da Poli, Ramos de Azevedo era antes de tudo um amante do ofício. O diretor da Escola Politécnica chegou, algumas vezes, a investir seu próprio dinheiro em novas tecnologias - o aparelhamento do Laboratório Tecnológico, hoje IPT. "Seu olhar profissional no que se refere às construções de edifícios públicos centrava-se na funcionalidade e praticidade que estas poderiam oferecer. Já nas residências, procurava manter maior liberdade de forma e estilo, observando o conforto e a racionalidade dos espaços internos. Desse modo, Ramos de Azevedo conseguia conjugar harmoniosamente suas habilidades como engenheiro e arquiteto." Ramos de Azevedo permaneceu na direção da Escola Politécnica até seu falecimento, em 1928.



Incorporação à USP

O desenvolvimento industrial e o crescimento urbano de São Paulo na segunda década do Século 20 significaram o incremento da demanda por profissões técnicas. Em razão disso, assistiu-se ao crescimento do número de alunos e professores e à contratação de alguns dos grandes nomes internacionais da engenharia para integrar os quadros da escola. Isso exigiu também a ampliação das instalações, para abrigar laboratórios de pesquisa e as oficinas didáticas.

No âmbito da Poli, começaram a funcionar os primeiros cursos de Astronomia - que deram origem ao Instituto de Astrofísica e Geofísica -, Arquitetura, Belas Artes, Física, Química e até Zootecnia, que posteriormente se transformaram em faculdades autônomas. Desde sua fundação, a Poli foi celeiro de alunos e professores ilustres, dentre os quais alguns dos maiores nomes da engenharia e da ciência do País, como Adolfo Lutz, Vital Brasil, Francisco Ramos de Azevedo, Luiz de Anhaia Mello, Luiz Cintra do Prado, Telêmaco Van Langendock, entre outros.

A escola também viria a ser envolvida pelos movimentos sociais que sacudiram o país na década de 1930. O engajamento de alguns de seus quadros na Revolução de 1932 ensejou uma outra dimensão prática da instituição, que ofereceu seu apoio técnico e intelectual aos combatentes paulistas. Na esteira desse engajamento, o destino da escola se uniu inescapavelmente ao projeto da criação da USP.

A Universidade de São Paulo foi criada por ato de Armando de Salles Oliveira, em 25 de janeiro de 1934, por ocasião das comemorações dos 380 anos da fundação da cidade. O projeto havia sido elaborado por uma comissão composta por Julio de Mesquita Filho, Fernando Azevedo, Antonio de Almeida Jr., A. de Sampaio Dória, Agesilau A. Bittencourt, Vicente Rao, F. A. da Fonseca Telles, Cristiano Altenfelder Silva e Henrique Rocha Lima. Pretendia-se então promover o reaparelhamento do Estado para sua reconstrução após a Revolução de 1932.

Vencidas pelas armas, as lideranças paulistas compreenderam que só por meio da ciência e do conhecimento voltariam a exercer a hegemonia desfrutada ao longo de décadas. Para desenvolver esse projeto, entenderam a necessidade da formação de uma elite composta por especialistas de todos os ramos da cultura e de técnicos e profissionais em todas as profissões de base científica e artística.

Para realizar esses fins, foi criada Universidade de São Paulo, composta originariamente por alguns institutos oficiais do Estado: a Faculdade de Medicina, a Faculdade de Direito, a Escola de Farmácia e Odontologia, a Escola Politécnica, o Instituto de Educação, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, o Instituto de Ciências Econômicas e Sociais, a Escola de Medicina Veterinária, a Escola Superior de Agricultura e a Escola de Belas Artes.

A incorporação de diversas unidades de ensino superior, entre as quais a Escola Politécnica, concentrou professores e profissionais de alto nível em uma universidade pública que tinha o objetivo de produzir conhecimento acadêmico, formar novos quadros docentes e desenvolver uma sólida instituição de pesquisa científica, visando à melhoria e a democratização da educação.

A partir dos anos 1930, as ações empreendidas para promover o crescimento da atividade industrial aumentaram ainda mais a importância da participação dos engenheiros no processo de modernização. O surgimento da metrópole e o papel central da economia paulista no contexto do desenvolvimento capitalista brasileiro posicionaram a Escola Politécnica da USP em um patamar de exigências e desafios crescentes, que se estenderam ao fio de várias décadas.



A Poli hoje

Um conjunto de fatores exigiu uma nova mudança da sede da Poli. Com a expansão do conjunto Politécnico, próximo à Estação da Luz, onde permaneceu até a década de 1960, houve outra mudança para a Cidade Universitária. Um campus com grandes dimensões físicas, com aproximadamente 10 mil m². A Universidade de São Paulo abriga em seu campus uma população de cerca de 6 mil professores, 15 mil funcionários e 56 mil alunos distribuídos por 229 cursos de graduação.

As instalações atuais da Escola Politécnica representam cerca de 7% da área total da USP, onde se localizam nove edificações com uma área construída total de mais que 140 mil m², que inclui salas de aulas, bibliotecas, laboratórios acadêmicos e de pesquisa, além de setores administrativos.

Com 457 professores, 478 funcionários, 4.500 alunos de graduação e 2.500 alunos de pós-graduação, a Escola Politécnica está organizada em 15 departamentos, responsáveis pelas atividades de ensino, de pesquisa e de extensão de serviços à comunidade.

A graduação oferece 17 cursos, agrupados em quatro grandes áreas da engenharia: Civil, Elétrica, Mecânica e Química. Na pós-graduação, a Poli oferece dez cursos de mestrado, nove de doutorado e um de mestrado profissionalizante. Mais de 80% de seus 457 professores têm titulação mínima de doutor. Seus mais de 30 cursos de mestrado e doutorado contam com cerca de 5 mil alunos, além de atividades de educação continuada, com centenas de cursos que promovem reciclagem para egressos, qualificando anualmente quase 8 mil profissionais para o mercado de trabalho.

Várias gerações de engenheiros foram geradas pela instituição, que é considerada um dos maiores celeiros de dirigentes, não somente no que se refere à área técnica, mas também em empresas, funções públicas e cargos eletivos da maior relevância tanto para São Paulo quanto para o Brasil.

alesp