Comissão da Verdade lança em livro denúncia de presos políticos

Documento, apelidado de Bagulhão, nomeia torturadores e presos políticos assassinados
16/06/2014 20:24 | Da Redação: Monica Ferrero Fotos: Roberto Navarro e Vera Massaro

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José Carlos Giannini, Chico Vieira, Artur Scavone, Manoel Cyrillo, Reinaldo Morano, Aton Fon Filho, Gilberto Beloque, Cesar Teles, André Ota e Pedro Rocha, alguns dos ex-presos políticos que assinaram o Bagulhão em 1975<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163770.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Denúncias de presos políticos são lançadas em livro na Comissão da Verdade<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163771.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Livro do Bagulhão - A voz dos presos políticos contra os torturadores<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163780.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163772.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ivan Seixas e Amelinha Teles <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163773.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reinaldo Morano concede entrevista <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163774.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reinaldo Morano <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163775.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Publicação <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163776.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Denúncias de presos políticos são lançadas em livro na Comissão da Verdade<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163777.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião da Comissão da Verdade desta  segunda-feira, 16/6<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163778.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo e Reinaldo Morano Filho <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2014/fg163779.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão estadual da Verdade Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), realizou nesta segunda-feira, 16/6, audiência pública para lançamento em livro do Bagulhão - A voz dos presos políticos contra os torturadores.

Bagulhão é o apelido de carta escrita em 1975 por presos políticos do presídio do Barro Branco, São Paulo, ao então presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Caio Mário da Silva Pereira, denunciando as torturas, mortes e desaparecimentos de presos políticos e dando nomes e codinomes de 233 torturadores.

A carta foi subscrita por 35 presos políticos, que então estavam no Presídio da Justiça Militar Federal de São Paulo, com base em informações colhidas entre eles durante os anos de 1969 e 1975. O documento traz primeiramente a descrição dos métodos e instrumentos de tortura comumente usados, com o nome e codinome os 233 torturadores; apresenta as irregularidades jurídicas cometidas contra os presos e, por fim, narra casos de presos políticos assassinados ou mutilados física e/ou psicologicamente em virtude de torturas.

Em um pós-escrito, o Bagulhão acrescenta o nome de Vladimir Herzog à lista dos mortos sob tortura. Seu "suicídio por enforcamento" no 2º Exército foi noticiado em 25/10/1975, e a carta critica ainda os peritos que assinaram o laudo de causa-mortis. Chama um deles, Harry Shibata, de "verdadeiro Mengele do Brasil de hoje".

Signatários

Vários dos signatários do Bagulhão estavam presentes, e todos consideraram de grande importância a impressão e divulgação do documento. Paulo de Tarso Vanucchi disse que o resgate de outros documentos da época da resistência é de grande importância para nortear os trabalhos das comissões da verdade. A carta fala das condições do cárcere e cita os nomes de torturadores que vitimaram pessoalmente os signatários, afirmou.

Reinaldo Morano Filho disse que o Bagulhão sempre foi um documento coletivo, que chegou a ter 30 páginas, que foram contrabandeadas para fora da prisão no interior de uma garrafa térmica com café, colocado entre o revestimento externo e a ampola de vidro. Quem o levou foi Luiz Eduardo Greenhalgh, que era advogado de um dos presos. A foto que ilustra a publicação foi tirada meses depois da divulgação do documento, mas mostra alguns dos seus signatários.

Manoel Cyrillo de Oliveira Netto, outro ex-preso político que assinou o Bagulhão, lembrou que o documento não foi contestado até hoje, mostrando que a impunidade ainda perdura. Ainda estavam presentes os signatários André Ota, Arthur Machado Scavone, Aton Fon Filho, César Augusto Teles, Francisco Carlos de Andrade, Gilberto Beloque, José Carlos Giannini e Pedro Rocha Filho.

Vidas em risco

Maria Amélia Teles, coor­denadora da Comissão da Verdade Rubens Paiva, ressaltou que o Bagulhão "foi a primeira denúncia pública", e que "os 35 signatários da carta puseram sua vida em risco ao assiná-la". Outras denúncias aconteceram, mas eram feitas através de abaixo-assinados entregues na Justiça Militar ou divulgadas por jornais clandestinos, lembrou.

Também coordenador da Comissão da Verdade, e citado no Bagulhão como vítima de arbitrariedades e de irregularidades jurídicas em sua prisão, Ivan Seixas considerou como vitória das comissões da verdade a abertura de alguns processos na Justiça, que antes não os aceitava evocando a Lei da Anistia.

Seixas defendeu que os torturadores citados sejam investigados e levados ao banco dos réus. Citou ainda a análise do Bagulhão, feita pelo Serviço Nacional de Inteligência (SNI), então chefiada pelo futuro presidente João Baptista Figueiredo, que o considerou, junto com instituições como a própria OAB, como oriundo do comunismo internacional.

O também ex-preso político Bernardo Kucinski falou sobre o Pau de Arara, que foi o primeiro documento sobre as prisões divulgado, em 1972, primeiramente na França e depois na Espanha. Quando da divulgação do Bagulhão, Kucinski era editor do jornal alternativo Em Tempo, que o publicou, com grande impacto popular, pois o jornal, em formato standard, chamou atenção nas bancas. O jurista Pádua Fernandes ressaltou o valor histórico e político da carta.

alesp