Comissão da Verdade faz pré-lançamento do livro "A Casa da Vovó"

O autor é o jornalista Marcelo Godoy, repórter de O Estado de S. Paulo
12/12/2014 19:48 | Da Redação: Keiko Bailone - Foto: Marcia Yamamoto

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Marcelo Godoy<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166574.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Haroldo Ceravolo, Adriano Diogo e Marcelo Godoy<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166575.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Publico acompanha depoimentos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166576.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Comissão da Verdade realizou o pré-lançamento do livro "A Casa da Vovó"<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2014/fg166577.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Comissão estadual da Verdade Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), realizou nesta sexta-feira, 12/12, o pré-lançamento do livro "A Casa da Vovó", de autoria do jornalista Marcelo Godoy. O título é alusivo ao Doi-Codi-Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Internas de São Paulo. O livro foi feito a partir de depoimentos de agentes " homens e mulheres " que atuaram diretamente no sequestro, tortura e morte de militantes dos grupos Molipo e ALN, além de integrantes do Partido Comunista Brasileiro.

Godoy ouviu 20 agentes, cruzando as declarações deles com informações do arquivo do Estado, inquéritos na Justiça. Apurou que, em 66 mortes dentre um total de 69, a ação do Doi foi preponderante. Desses, 37 foram casos em que as pessoas foram presas e mortas sob tortura; 29 casos foram de pessoas mortas em supostos "tiroteios", mas que, na realidade, não passavam de emboscadas ou execuções.

A preocupação de Godoy foi a de não apresentar casos como meros relatos, sem significados, mas histórias sempre com a preocupação de citar nomes de militares que participaram ativamente de alguma ação. Nesse contexto, Godoy citou o capitão Ênio Pimentel da Silveira como "o Fleury do Doi", responsável direto pela morte de 40 militantes da esquerda; Laerte Calandra, ou Capitão Ubirajara, como ativo interrogador, que gostava tanto do que fazia, a ponto de constranger seus colegas; dr. José, oficial do exército que trabalhava no interrogatório e tinha interesse particular no perfil psicológico dos militantes; Dirceu Gravina, atualmente delegado de polícia, que participou diretamente da morte de dois militantes do Molipo.

Foram mencionados ainda a 1ª. tenente Neuza, condecorada em 1973 com a Medalha do Pacificador do Exército por envolvimento em ações armadas em que morreram seis militantes; o tenente Chico (nome fictício porque a fonte pediu anonimato); os investigadores João de Sá Cavalcante Neto e Roberto Artoni. Este último disse a Godoy que era comum a aplicação da "pena de Talião", ou seja, "matou um dos nossos tem de ser morto também". Assim, a morte do delegado Otávio Gonçalve Moreira, em um confronto com integrantes da ALN, teria resultado na morte de um militante dessa organização.

Segundo Godoy, 70% do efetivo do Doi era composto por policiais militares. Alguns deles foram posteriormente trabalhar na Rota entre 1976 e 1978, para onde levaram o método de sequestro, tortura e morte usado contra os militantes. Godoy contou também que todos os que trabalhavam no Doi o praticavam voluntariamente, já que tinham a oportunidade de ficar ou não nesse setor. Os designados poderiam alegar falta de entrosamento com o trabalho e serem deslocados para outra área.

Antonio Benetazzo

A história desse militante, morto em 27 de junho de 1972, está bem detalhada no livro de Godoy, pelo depoimento de um agente que só deu seu nome e telefone numa terceira entrevista. Em duas ocasiões anteriores, chegou a falar durante cinco horas sem se identificar. Benetazzo foi torturado em um sítio onde simularam um atropelamento. Após passarem por cima da cabeça dele, o militante não morreu e resolveram matá-lo a pedradas para simular uma lesão.

Participaram dessa ação quatro agentes: um policial civil, um PM e dois militares do exército. Segundo o relato, um dos participantes enlouqueceu e a fonte de Godoy convive com o fantasma desse morto.

Após os depoimentos, Godoy observou dois tipos de comportamento por parte dos agentes: primeiro, orgulho e convicção de que fariam tudo de novo e não tinham nada do que se arrepender; segundo, tormento que os acompanha. Sobre o que levou esses agentes a depor, Godoy contou que alguns procuravam justificativa para seus atos e para deixar registrada uma memória, ainda que criminosa.

Tanto Adriano Diogo quanto o editor do livro, o jornalista Haroldo Ceravolo, declararam que a importância do livro de Godoy está no fato de a "Casa da Vovó" - como os agentes do destacamento se referiam ao Doi -, ser um título histórico e documental.

alesp