Centro econômico do país, o estado de São Paulo também se destaca como o maior mercado musical do país da atualidade. A influência da música, seja na economia ou na cultura paulistas, é valorizada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo há mais de 70 anos. Prova disso é a Lei 2.245, de autoria parlamentar e sancionada em 1953, que instituiu o Dia da Música no estado. Com isso, a forma de arte que une e transforma São Paulo passou a ser celebrada em 22 de novembro.

Quando esta Lei nasceu, a carioca e hoje deputada estadual de São Paulo, Leci Brandão (PCdoB), era apenas uma criança com nove anos de idade que ajudava a mãe, servente de escola pública, a varrer salas de aula. "O estado de São Paulo tem de tudo. Todos os gêneros musicais passam por aqui", declara a cantora, compositora e percussionista que é uma das maiores intérpretes do samba e da música popular brasileira.

Essa diversidade musical paulista é a trilha sonora que inspira e move São Paulo. Conforme levantamento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), o estado responde por 52% de toda a riqueza monetária gerada com direitos autorais de execução pública de música no Brasil. "Desde o ano de 2015, o estado ocupa a 1ª posição entre os maiores arrecadadores no país", informa o Escritório por meio de nota.

Em 2023, por exemplo, São Paulo teve uma arrecadação, via Ecad, de aproximadamente R$ 850 milhões com licenciamento musical. Esse montante foi pago por canais, espaços e eventos que utilizaram música publicamente, como emissoras de rádio e TV, shows, eventos, estabelecimentos comerciais, cinemas e plataformas de streaming.

Dos valores pagos pelos canais e espaços ao Ecad, a título de direitos autorais, 85% são repassados aos autores, cantores e demais titulares; 6%, às sociedades de gestão coletiva; e os 9% restantes para o próprio Ecad.

Potencial e transversalidade

O potencial econômico do mercado musical paulista é favorecido pelo fato de a cidade de São Paulo concentrar a maior parte de gravadoras, estúdios, produtoras de shows e festivais, como o Lollapalooza, a Virada Cultural, The Town e o Nômade Festival. Além disso, a música conecta-se com vários setores econômicos do estado, como o agronegócio, na Festa do Peão de Barretos, e o turismo, no Festival de Inverno de Campos do Jordão.

"O papel da Alesp é sensibilizar o Executivo estadual para que abra os olhos. Música também é economia, é desenvolvimento", reforça Leci Brandão do alto de seus 50 anos de carreira musical. "A cultura como um todo é muito atacada do ponto de vista de priorização de investimentos e a música é diretamente afetada por isso", complementa.

A Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas ressalta "o compromisso de fomentar e promover as diversas expressões culturais existentes, com investimentos contínuos". Falando de música, a pasta elenca iniciativas para a formação musical no Conservatório de Tatuí, Orquestra Sinfônica de São Paulo e no programa Guri, que já beneficiou mais de um milhão de crianças, adolescentes e jovens.

Conservatório de Tatuí

Antes de instituir o Dia da Música, a Alesp já havia aprovado a Lei 997/1951, de iniciativa parlamentar, criando o Conservatório Dramático e Musical na cidade de Tatuí, a 130 km da Capital. A escola, cuja missão é formar instrumentistas, cantores, atores, educadores e luthiers (fabricante de instrumentos musicais), hoje atende mais de três mil estudantes por ano, vindos de 200 municípios do Brasil e do exterior.

Leci defende mais recursos orçamentários para o equipamento reconhecido, no país inteiro, como um polo de excelência na formação de grandes musicistas. "Não conseguiram fechar de uma vez porque a mobilização do povo é muito forte, mas cortam dormitório, bolsas, funcionários. Estão deixando a escola à míngua. Isso é muito triste", lamenta a deputada.

Formador cultural

Além do fator econômico, os deputados estaduais reconheceram, por diversas vezes ao longo dos anos, o papel fundamental da música na formação da identidade cultural paulista. Isso foi demonstrado, por exemplo, com a criação do Prêmio Inezita Barroso, que homenageia artistas da música caipira, e a elevação do Samba e do Hip-Hop a patrimônios culturais imateriais do Povo paulista, respectivamente, com as Leis 15690/15 e 17.896/24.

Para a deputada Leci Brandão, a música é uma força unificadora que conecta diferentes classes sociais e modela a alma cultural paulista e brasileiro. "Um país que não compreende a importância de fortalecer a própria cultura tende a perder a perspectiva de si mesmo, ou seja, fica sem personalidade. Há quem construa prédios e carros, a música constrói a alegria de viver", finaliza a parlamentar.

Data católica

A escolha da data 22 de novembro para celebrar o Dia da Música está associada ao martírio de Santa Cecília, declarada padroeira dos músicos pela Igreja Católica. A tradição cristã atribui à santa um vínculo com a música, porque relatos históricos indicam que, no casamento de Cecília, ela teria cantado hinos religiosos em louvor a Deus, mesmo diante de condenação e martírio.

Etimologia

O vocábulo música tem uma origem que estabelece um elo entre a inspiração divina e a criatividade humana. Derivada do grego mousiké, que significa "a arte das musas", a música estava intrinsecamente conectada a outras expressões artísticas como a poesia e a dança, compondo o ideal de harmonia estética na Grécia Antiga.