Casos de violações na USP são tratados em nova audiência

Diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto fala sobre denúncias nessa instituição
25/11/2014 21:04 | Da Redação: Monica Ferrero - Foto: Roberto Navarro

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Beth Sahão e Alfredo Giacomo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2014/fg166161.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Carlos Carlotti<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2014/fg166162.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adriano Diogo, presidente da Comissão  Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2014/fg166163.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Parlamentares e educadores debatem abusos em trotes na FMUSP<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2014/fg166164.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Alunos e educadores acompanham debate<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-11-2014/fg166165.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Realizou-se nesta terça-feira, 25/11, a segunda audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais (CDH) sobre as violações aos direitos humanos na Faculdade de Medicina da USP. O presidente da comissão, deputado Adriano Diogo (PT), informou que o pedido de instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para apurar as denúncias já conta com 39 assinaturas de parlamentares, mas ainda não tem prazo para ser instalada.

Assim como o presidente da CDH, a deputada Beth Sahão (PT) lamentou a ausência na reunião do reitor da USP e do diretor e vice da FMUSP e dos representantes da Atlética e dos centros acadêmicos de ambas as faculdades. Lamentou "a vulgarização da figura feminina e demais atos de violência, sexismo, racismo e homofobia" que ocorrem e que devem ser punidos, ainda mais porque são realizados no âmbito de uma universidade pública. Afirmou que, mesmo que essas festas ocorram fora do campus, devem ser controladas, pois levam o nome das instituições.

Leci Brandão (PCdoB) também questionou a ausência de convidados, e disse ser "inadmissível que tudo isso aconteça entre estudantes de medicina, que um dia atenderão a população". Defendeu a realização e a importância da CPI, que irá "mexer com gente graúda, com certeza". Marco Aurélio de Souza (PT) disse ser fundamental tornar visível esses casos de abuso.

O primeiro a ser ouvido foi o diretor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP), professor-doutor Carlos Gilberto Carlotti Júnior, que lembrou que no dia 26/11 haverá reunião extraordinária da Congregação sobre medidas para coibir futuros abusos. Informou que foram denunciados dois casos de assédio sexual na faculdade, sendo um deles ocorrido fora do campus, que por isso não está sendo apurado, embora haja investigação policial, que deverá determinar o que realmente aconteceu.

A vítima do caso ocorrido no interior da faculdade está sendo apoiada pela direção e passou por atendimento médico e psicológico. Foi instaurada sindicância para apurar os fatos e determinar responsabilidades, disse Carlotti.

Para que tais fatos não voltem a ocorrer, o diretor afirmou que têm sido feitas palestras educativas para os alunos sobre bullying e assédio sexual, e foi criado um canal para recebimento de denúncias. Na formação dos alunos, ressaltou Carlotti, há um eixo de disciplinas de humanidades para os alunos do 1º ao 4º ano. São temas, por exemplo, bioética, direitos humanos, e solidariedade. Ele leu ainda texto com recomendações sobre o trote, sugerindo que as ações configurem um acolhimento aos calouros, sem violência.

Cancioneiro

As músicas do repertório da Bateria da Medicina da USP Ribeirão, a Batesão, constam de um cancioneiro que é distribuído de forma não oficial aos calouros, afirmou Carlotti. Uma dessas músicas tem teor altamente racista e sexista, sendo uma "infeliz coleção de palavras inadequadas", segundo o diretor. Mas há informação de que essa canção específica existe há 25 anos, sem que seu conteúdo fosse questionado. Também não há registro de que tenha sido executada. "Acredito que hoje ninguém teria coragem de cantá-la, pois é muito grosseira", falou.

Carlotti disse que nunca teve conhecimento desse cancioneiro, nem em sua época de aluno. A a estudante de Pedagogia Laura Daltro disse que neste cancioneiro do Batesão há outras músicas tão preconceituosas quanto a denunciada. Falou ainda que quem denuncia violações está sujeito a retaliações, ameaças e até agressões físicas.

O presidente Adriano Diogo cobrou o envio para a CDH de uma cópia do cancioneiro e das duas sindicâncias sobre os casos de violência sexual para análise, e falou sobre a festa Saideira, que deve acontecer no dia 26/11. Após pesquisa em redes sociais na internet durante a reunião, descobriu-se que não é citado o local da realização do evento, que já tem cerca de 1,4 mil confirmações.

O diretor afirmou que essa festa, promovida pela Atlética, se ocorrer dentro do campus, será fiscalizada. Essas festas, garantiu Carlotti, não têm financiamento ou patrocínio da faculdade. Ele disse ainda que há problemas de abusos em festas universitárias em geral, citando como exemplo preocupação no Canadá, onde a violência nestes eventos está sendo considerada epidêmica.

Carlotti falou ainda sobre a Intermed, afirmando que o evento não é vinculado às faculdades. Trata-se de competição esportiva que ocorre entre faculdades de medicina de todo Estado, e que são conhecidas pela sua violência e vandalismo nas instalações, tanto que algumas cidades se recusam a sediar o evento.

Adriano Diogo defendeu medidas preventivas nas festas, além da proibição do "open bar". Há probabilidade séria de acontecer adulteração de bebidas com substâncias como anfetamina ou quelene, disse. O deputado falou ainda do Show Medicina, evento que ocorre há 70 anos e que tem financiamento da faculdade, como informou o estudante da FMUSP Felipe Scalisa.

Representando o reitor da USP, o professor-doutor Alfredo Luiz Jacomo disse que, em 30 anos de atividade, 20 deles lecionando na FMUSP, nunca recebeu denúncias como as que têm sido veiculadas pela mídia nos últimos meses, que considerou assustadoras. Crê que a direção da faculdade tomará providências na reunião da Congregação, no dia 26/11.

Mais denúncias

O presidente Adriano Diogo divulgou carta recebida do Coletivo Geni e do Núcleo de Estudos em Gênero, Saúde e Sexualidade (NEGSS) discordando de artigo publicado no dia 14/11 no jornal Folha de S. Paulo pelo diretor da FMUSP José Otávio Corte Auler Jr., e acusando-o de omissão e de realizar apurações lenientes. Na carta é ainda denunciado o grupo Pinheiros do Facebook, onde são veiculadas mensagens de ódio e preconceito e atacando a atuação dos coletivos.

Representante do DCE da USP, Gabriel Regensteiner informou que desde que começaram a ser divulgadas as de violações dos direitos humanos, a entidade começou a receber diversas denúncias de sexismo, racismo institucional e contra a população LGBT. Disse que há tendência de se ocultar os problemas, e que só proibir festas não adianta, pois é preciso mudar a estrutura de poder autoritária existente.

Estudante de Ciências Sociais, Letícia Pinto referiu-se à manifestação havida nesta terça-feira na porta da FMUSP, promovida pela Frente Feminista da USP. Elogiou a coragem das denunciantes de violência sexual e reclamou que a USP não dá qualquer amparo às vítimas, tanto mulheres quanto LGBT.

Felipe Pessoa, aluno de pós-graduação, disse que as violações aos direitos humanos são uma cultura corrente em todas as faculdades. Na pós-graduação continuam, ainda mais porque há relação de poder e proximidade entre orientador e orientado, o que possibilita assédio moral e sexual.

alesp