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Fonte
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Dissertação (Mestrado em Linguística) - Universidade de Brasília, Instituto de Letras, Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Brasília, 2015.
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Resumo
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A presente dissertação tem por objetivo analisar linguisticamente e discursivamente a representação do povo em discursos parlamentares a respeito das grandes manifestações populares ocorridas no mês de junho de 2013 no Brasil. Tais protestos tiveram repercussão mundial tornando-se manchete em jornais de vários países. Trata-se de uma pesquisa documental com abordagem qualitativa. E, no sentido de compreender o fenômeno linguístico-discursivo estudado, apoio-me na Análise de Discurso Crítica de Fairclough (1999, 2001, 2003) que considera a linguagem como prática social e na Linguística Sistêmico-Funcional de Halliday (2014) que estuda a linguagem a partir da situação de uso. Com base nesse aporte teórico que, por sua natureza propicia o entendimento das ideologias, discursos de Deputados Federais serão analisados a respeito dos acontecimentos daqueles dias. Assim, as categorias gramaticais das Metafunções Ideacional e Interpessoal serão investigadas no sentido de compreender de que forma esses elementos podem revelar o posicionamento dos políticos. Analiso ainda, com base na Representação dos Atores Sociais de van Leeuwen (2008), a maneira como manifestantes e parlamentares aparecem ou são apagados dos discursos e o que isso pode significar. Os conceitos de confiança e risco apresentados por Giddens (1991) também podem ser úteis na busca da compreensão de tal fenômeno. Além disso, a contribuição de Bauman (1999, 2001) sobre identidade e mudanças ocorridas na humanidade a partir da modernidade me auxiliará no entendimento desses acontecimentos. O corpus desta pesquisa constitui-se de dezesseis discursos de líderes partidários, do líder do governo e do líder da minoria. Dessas falas foram extraídos excertos que tratam do povo e das manifestações. O estudo permitiu constatar a presença de vários modalizadores indicando obrigação, principalmente a necessidade de os governantes ouvirem a população. Há também muitas marcas de imprecisão e incerteza, que demonstraram pouca disposição dos políticos em se comprometerem com que estava sendo falado. Outro recurso linguístico aplicado foi o uso do verbo querer em locução verbal para tornar as assertivas menos firmes e o parlamentar menos compromissado com o que era dito. Constatou-se a predominância de processos mentais e relacionais, o que demonstra que em seus pronunciamentos, os oradores buscavam caracterizar e ao mesmo tempo refletir sobre os acontecimentos. Verifiquei que havia diferença quanto à representação de alguns atores sociais nos discursos, em algumas falas ocorriam com destaque, em outras nem eram mencionados, conforme o enfoque que o parlamentar escolhia dar. O resultado da descrição e da análise dos dados mostrou que os participantes relacionados ao governo ocorreram mais vezes em posição de agência, enquanto o povo apareceu como paciente e beneficiário de ações, numa situação secundária. A principal reação da população, segundo os discursos, é desejar alguma coisa, enquanto para os políticos é pensar e refletir sobre os acontecimentos. Há uma perplexidade dos parlamentares, de maneira geral, diante dos protestos, por isso eles conclamam seus pares a ouvirem a povo e refletir sobre seus anseios. Verificamos que algumas reivindicações foram atendidas, mas é necessário que os cidadãos continuem atentos e acompanhem os processos decisórios no Congresso Nacional.
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