Acervo Artístico: O concretismo de Valdeir Maciel animado de espirituais ressonâncias

Emanuel von Lauenstein Massarani
28/02/2003 18:46

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O artista plástico Valdeir Maciel<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/valdeir.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Intérprete crítico, Valdeir Maciel está entre os artistas que deram uma consciência às intenções, vigor de análise e severidade ao movimento abstrato em São Paulo. O seu abstracionismo é neo-plástico: a ele se consagrou no momento em que descobriu a inutilidade de "conservar" as figuras e as imagens dos objetos, considerados supérfluos, que os cubistas não desejaram ou ousaram suprimir.

Ele buscou o equilíbrio espiritual no interior dessa problemática. Entre os próprios sentidos e a sua espiritualidade, Valdeir Maciel enfrentou também o problema do espaço. Enquanto a razão indagou sobre os equilíbrios interiores da obra, é sobre a superfície que encontramos a tensão das massas, das linhas e das cores que fazem vibrar os sentidos.

O artista permaneceu sempre fiel a essa visão. Suas obras oferecem ao olhar do espectador, constantemente, novas alternativas: as formas e partes da obra que, em certo momento, podem parecer planas, no instante sucessivo, são vistas no sentido espacial e vice-versa.

Empregando simples elementos formais, estritamente geométricos, Valdeir Maciel sentiu sempre a necessidade de uma ordem transparente na complicada realidade de nossos dias. A intensidade de sua percepção se manifestou num vigor projetado, que insere o seu trabalho no horizonte de um concretismo animado de espirituais ressonâncias e líricas pulsações.

Em Geométrica I, obra doada pela família Maciel ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, está evidenciada a concepção "metafísica" do seu conhecimento perceptivo. Theon Spanoudis, o grande crítico de arte que o descobriu, destacava com ênfase a originalidade, o ineditismo e o grande valor plástico de sua obra.

"Seus complexos formais colocados no meio da tela, sugerem símbolos de objetos sacrais e litúrgicos, símbolos de objetos significativos e transcendentes, algo de místico e revelatório. São como emblemas de uma religião desconhecida, lapidados com carinho, decisão e sutileza" - assim se referia ao artista aquele professor. O seu colorido, também, sutil e decidido ao mesmo tempo, participa de e intensifica esse caráter litúrgico, misterioso, revelatório. Trata-se de uma pintura originalíssima, que soube explorar a nitidez e a pureza das formas elementares geométricas a serviço de uma religiosidade profunda, misteriosa e transcendente.





O Artista

Valdeir Maciel nasceu em Bacabal, Maranhão, no ano de 1937. Faleceu em São Paulo no ano de 2001. Autoditada, dedicou-se às artes desde 1961. Participou de muitas exposições coletivas e individuais, destacando-se as: I Salão do Trabalho (1962); II Bienal da Bahia; XI e XVII Salão de Arte Moderna de São Paulo (1962 e 1968); Galeria Novas Tendências (1964); I Salão de Arte Contemporânea de Campinas (1965); I Salão de Abril no Rio de Janeiro (1966); IX e X Bienais de São Paulo (1967 e 1969); Galeria F. Domingo (1967); VII Salão de Arte Contemporânea de São Paulo (1979).

Valdeir Maciel ganhou vários prêmios, incluindo medalhas de bronze no XII e XIV Salão de Arte Moderna de São Paulo, e Menção Honrosa no I Salão de Arte Contemporânea de Campinas.

Suas obras estão em importantes acervos particulares e oficiais no Brasil, Alemanha e Estados Unidos.

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