DA REDAÇÃO "Precisamos ter competência para explorar a grande via aberta pela missão que foi à China", disse o secretário de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, João Carlos de Souza Meirelles. Ele esteve na Assembléia Legislativa nesta terça-feira, 22/6, para participar de reunião conjunta das Comissões de Assuntos Internacionais, de Economia e Planejamento e de Finanças e Orçamento, com a finalidade de relatar os resultados da viagem à China realizada no mês de maio. Meirelles acompanhou a comitiva brasileira, da qual fizeram parte o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e mais outros três governadores, além de 400 empresários de diversos setores da economia nacional.Meirelles fez uma avaliação das atividades próprias do governo do Estado durante a visita à China. Ele destacou a inauguração de um escritório da BM&F em Xangai. Para o secretário, a geração de trabalho e renda em São Paulo depende muito da dinamização do comércio externo. "O que estamos vendo na China é uma verdadeira ebulição econômica. Os chineses são absolutamente fascinados por dinheiro. O país asiático comporta, portanto, qualquer setor de atividade. O que pode significar, para nós brasileiros, boas possibilidades de gerarmos saldo positivo em nossa balança comercial", avaliou.A exposição de Meirelles aos parlamentares das três comissões situou alguns pontos importantes das relações comerciais com a China. O principal objetivo da aproximação do Brasil e do Estado de São Paulo com o gigante do Oriente é a geração de emprego e renda no front interno. Entretanto, algumas barreiras precisam ser superadas. O secretário sublinhou as especificidades culturais e as dificuldades relacionadas com as diferenças. As escolas de língua teriam, assim, um importante papel ao introduzirem em grande escala no país o ensino do mandarim, língua predominante na China. No campo econômico, Meirelles destacou o recente ingresso da economia socialista de mercado chinesa na Organização Mundial de Comércio. Apesar da milenar experiência no comércio internacional, a China ainda não está totalmente adequada às normas e regras da OMC. Dessa forma, o desenvolvimento das relações Brasil-China têm um grande potencial a ser explorado, particularmente no que diz respeito aos novos mercados. O comércio bilateral entre os dois países cresceu de U$ 1,2 bilhão, em 1994, para U$ 6,6 bilhões, em 2003. Meirelles avalia que as exportações brasileiras, centradas hoje em produtos como ferro e aço, celulose, produtos automotores, couro e peles e madeira serrada, podem evoluir muito nos setores de alimento, móveis e construção civil. Um outro setor com amplas perspectivas é o de álcool combustível. Até 2001, a China era um país exportador de petróleo. Desde 2002, passou a importar o produto e tem restrições para utilizar o milho como base para a produção de álcool, em função da ampla utilização do grão para alimentação e produção de ração animal.No campo do turismo, Meirelles identifica outra grande frente de negócios. A China, que controla a saída de seus cidadãos, acaba de aprovar o Brasil como destino aos turistas chineses. Uma das grandes empresas de aviação brasileira já tem planos de operar linha direta para Xangai.O secretário, depois de ir à China, visitou também o Japão e o Canadá, com o objetivo de explorar relações comerciais com esses países.Gargalos e saídasO deputado Vitor Sapienza (PPS) advertiu que a evolução das exportações no Estado de São Paulo enfrenta pontos de estrangulamento, como o padrão das calhas dos portos, as deficiências das ligações férreas e rodoviárias, além da falta de silos.O secretário Meirelles concordou com a avaliação de Sapienza e acrescentou que vivemos a iminência de um colapso anunciado. Os gargalos do porto de Santos dependem de ações de emergência, disse o secretário. Em resposta ao deputado Enio Tatto (PT), que pediu informações sobre eventuais negociações para atrair investimentos chineses nos projetos das parcerias público-privadas, Meirelles disse que a China anunciou uma soma de U$ 5 bilhões para investimentos em infra-estrutura voltada ao setor exportador. O governo do Estado quer atrair os chineses para desenvolver parcerias em projetos como o ramo sul do Rodoanel e do Ferroanel, além dos voltados à modernização e ampliação da malha que liga os aeroportos.Já a preocupação do deputado Mário Reali (PT) diz respeito aos tipos de ações que podem ser desenvolvidas pelo Estado para elevar o valor agregado dos produtos de exportação. Meirelles disse que os esforços do governo do Estado estão dirigidos para a incorporação de valor agregado aos produtos de exportação. Segundo ele, é preciso criar porteiras virtuais, isto é, promover indústrias que aproveitem a grande quantidade de produtos do agronegócio para promover a máxima agregação de valor. O secretário apontou os arranjos produtivos organizados como uma boa estratégia para atingir essa finalidade. Falou também da dinamização dos quatro pólos de tecnologia do Estado. Financiamento adequado e isenção às microempresas são outras frentes a serem perseguidas para os objetivos de exportação.O deputado Arnaldo Jardim (PPS) questionou o papel estratégico para o Brasil de um acesso ao oceano Pacífico. Meirelles disse que apesar de a saída do Atlântico ser ainda prioridade, deve-se avaliar opções para o país ter acesso ao Pacífico. Essas opções ligariam as economias regionais do sudeste e do norte e centro-oeste aos portos do Chile e do Peru.A presidente da Comissão de Assuntos Internacionais, deputada Célia Leão (PSDB), atendendo a solicitação de Vitor Sapienza, fará novo convite ao secretário João Carlos de Souza Meirelles com a finalidade de ouvir sua avaliação sobre os gargalos e estrangulamentos nas áreas de infra-estrutura e logística.