Copo meio cheio ou vazio?

2005 deve ser lembrado como um dos anos mais conturbados da nossa recente democracia. Estarrecidos, acompanhamos a queda de ministros, do presidente da Câmara, de senador, deputados e diretores de importantes estatais " todos, sem exceção, envolvidos em algum esquema de corrupção. Como se não bastasse, nosso espetáculo de crescimento foi um vôo de galinha, deixando um rastro de incerteza quanto à capacidade de crescimento sustentado do País.
Em meio a tantas desilusões, possibilidades de "acordões e pizzas", não quero me valer deste espaço para esgarçar ainda mais a desesperança, proponho um contraponto, uma leitura dos acontecimentos. Para isso, é necessário distinguir a crise política da questão econômica, apesar de estarem ligadas intrinsecamente.
O estopim da crise surgiu da relação de simbiose entre o Governo e o Partido dos Trabalhadores (PT), onde questões de governo se confundiram com assuntos partidários. No passado, enquanto estava na oposição, o PT sempre se caracterizou como um partido capaz de agregar correntes diversas, desde os mais radicais até os centro-esquerda, que conviviam sob o guarda-chuva da oposição ao neoliberalismo, mas nunca se condensaram.
As três derrotas sucessivas na campanha presidencial fizeram com que a ala centro-esquerda ganhasse espaço, com um discurso que aliava o populismo ao pragmatismo econômico. Foi um terreno fértil para o "projeto de poder" de um partido hegemônico, onde os fins justificam os meios, em detrimento da elaboração de um Projeto Nacional para o País.
Já no poder, resolveu-se pelo mais simples e ortodoxo, aprofundar um modelo econômico que já dava sinais de exaustão. Com isso, o Governo Lula perdeu a oportunidade de realizar as reformas estruturais necessárias " como do Estado, Fiscal e Tributária, Política, Trabalhista e do Judiciário " para criar alicerces para um desenvolvimento sustentável duradouro. O que culminou em um governo engessado, refém de uma política de alianças frágil, escorada pela distribuição de cargos, a liberação de verbas, chegando a ponto da cooptação, pura e simples. Em meio a interesses escusos, na primeira oportunidade a base aliada ruiu diante do próprio "fogo amigo".
O resultado desta simbiose entre interesses de partido e de governo todos conhecemos. Está no ajuste fiscal sem critérios, com o contingenciamento linear dos investimentos públicos, na adoção de uma taxa de juros absurda para conter a inflação e no aumento da sanha arrecadatória. Um quadro que só beneficia os detentores da dívida pública, o capital especulativo do qual nos tornamos financistas. Para completar, na melhor reedição da política do pão e circo, os tão aclamados "programas sociais" revelaram sua face compensatória, meramente assistencialista.
Enquanto isso, a boa onda do mercado internacional vai passando, com todos os países emergentes de carona, e nós continuamos presos a um aumento pífio de 3,5% do PIB no ano. O Indicador de Competitividade, elaborado pela Fiesp, coloca o Brasil na 39º posição de um ranking de 43 países. Nossas exportações estão arrefecendo, diante da valorização excessiva do Real, da falta de investimentos em infra-estrutura e na inovação tecnológica, além da excessiva carga tributária. Em meio à estagnação, a indústria não investe em tecnologia, não agrega valor às nossas exportações, o custo Brasil afugenta novos investidores, não empregamos mais mão-de-obra " entramos em um círculo vicioso.
O setor produtivo urge por um Projeto Nacional de Desenvolvimento, calcado por um choque de gestão na administração pública, por meio do combate sistemático a gargalos como a corrupção e a burocracia, pela definição de diretrizes orçamentárias em setores estratégicos como o de infra-estrutura; um melhor controle da inflação, escorado pela ampliação da oferta, fruto da desoneração do setor produtivo e da otimização do parque industrial; o fortalecimento do mercado interno, impulsionado pela retomada do poder aquisitivo da população e da redução pragmática da taxa básica de juros; aliado a uma política comercial ambiciosa, com adequação do câmbio, abertura de novos mercados e consolidação dos parceiros tradicionais.
Em 2006, acontecerão eleições. Que os embates não se restrinjam a trocas de acusações, este é seja um momento de reflexão e participação dos eleitores nas discussões sobre os rumos do País nos próximos quatro anos. Se não crescemos o que poderíamos, o copo está só pela metade, que esteja meio cheio.
Arnaldo Jardim* é deputado estadual e líder do PPS
arnaldojardim@arnaldojardim.com.br
www.arnaldojardim.com.br
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