Líder do PDT presta homenagem a Brizola


24/06/2004 16:38

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Leonel Brizola e deputado Geraldo Vinholi <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Vinholi Brizola.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Da Assessoria do deputado Geraldo Vinholi

Brizola: Esquerdista Apaixonado

Aos 82 anos, Leonel Brizola faleceu e o Brasil perdeu uma grande referência nacional contemporânea. Para mim, é difícil resumir em poucas palavras a trajetória deste grande estadista que dedicou seis décadas de sua vida à política. Graças à valentia, audácia e identificação com a classe trabalhadora, Brizola se tornou uma figura pública ímpar. Foi um homem que perseguiu o nacionalismo na sua vida política e sempre teve como prioridade as ambições nacionais.

Nascido em família humilde da cidade de Cruzinha, no Rio Grande do Sul, o pequeno Leonel começou a trabalhar bem cedo como engraxate e ascensorista para ajudar na renda familiar. Seu pai, José de Oliveira Brizola, morreu na Revolução Federalista de 1923, combatendo os republicanos. Quando jovem, participou da fundação do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) em 1945, do qual foi membro até a criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista) em 1980.

Com apenas 25 anos, Brizola assumiu seu primeiro cargo público como deputado estadual eleito pelo PTB gaúcho. Dois anos depois, casou-se com Neusa Goulart, irmã do então deputado estadual, João Goulart. Em 1954, ganha as eleições para deputado federal. No ano seguinte, vence as eleições municipais e passa a ser prefeito de Porto Alegre. Em 1958, torna-se governador do Rio Grande do Sul.

No ano de 1962, foi o deputado federal mais votado do país, tendo na época 269 mil votos no antigo Estado da Guanabara. Com o golpe militar, em 1964, Brizola se exilou no Uruguai, retornando ao país em 1979 com a anistia. Três anos depois, foi eleito governador do Rio de Janeiro, nas primeiras eleições diretas para os governos estaduais. Em 1990, foi eleito novamente. Como governador fluminense, Brizola reinventou a escola primária com a formação dos Centros Integrados de Educação Pública - CIEP's - que contribuíram em muito para melhorar, na época, a qualidade de vida das crianças do Estado do Rio de Janeiro.

Disputou duas eleições para a presidência. A primeira vez foi em 1989 quando chegou a ser favorito para a disputa do segundo turno, mas acabou perdendo para Lula e o apoiando contra Collor. Já em 1994, Brizola trabalhou bastante, mas não conseguiu chegar ao Palácio do Planalto. Em 1998, fez sua última tentativa e foi vice da candidatura de Lula para presidência.

Recentemente, em 2003, Brizola foi reeleito presidente nacional do PDT e indicado presidente de honra da Internacional Socialista, durante o 22º Congresso da Entidade, em São Paulo. Apesar da idade avançada, Brizola continuava sendo um homem dinâmico, influente e idealista.

Brizola em São Paulo

Como homem público, tive a felicidade de conhecer, conviver e aprender bastante com o saudoso Leonel Brizola. Sem dúvida, sou herdeiro do seu espírito crítico e combativo. A minha grande aproximação com Brizola e sua família, fez com que até nos seus últimos momentos, eu estivesse participando de forma indireta da sua partida. Na tarde de anteontem, fui procurado pelos familiares e informado do seu estado crítico de saúde. A pedido deles entrei em contato com o doutor Adib Jatene, que imediatamente conversou com a equipe médica do Hospital São Lucas, no Rio. Jatene posteriormente me informou que o estado do Brizola era irreversível.

A notícia do falecimento era esperada, mas nem por isso me causou menos dor. Desde que assumi a liderança do partido na Assembléia Legislativa de São Paulo e o cargo de secretário geral do partido no Estado, meu relacionamento com Brizola estreitou- se muito. Em todas as visitas do presidente nacional do PDT, eu pessoalmente o acompanhava em sua trajetória por São Paulo. Freqüentemente, buscava-o no aeroporto, levava-o ao hotel e principalmente participava com ele das reuniões e articulações políticas que comandava.

Em sua última vinda a cidade de São Paulo, no Encontro Nacional do Partido, entre o trajeto do aeroporto até a Força Sindical, solicitei orientação a Brizola sobre meus planos para me candidatar à prefeitura de Catanduva. Contei um pouco sobre a política local e as necessidades da população da cidade, inesperadamente ele me perguntou qual era a distância entre a capital e Catanduva. Após responder, ele me questionou se poderia ir fazer campanha comigo, finalizando com a frase "Estarei lá". Neste mesmo dia, após o evento, Brizola participou de uma reunião com o governador Geraldo Alckmin, os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo, José Serra e Paulinho Pereira (da Força Sindical), Aloísio Nunes (PSDB), além de mim. Durante quase todo o encontro, Brizola falou sobre os anos de exílio e contou algumas situações complicadas vividas no Chile em que ele safou Serra e Aloísio.

Neste bate-papo agradável, o ex-governador quase perdeu o vôo de volta para o Rio.

Era um homem duro e enérgico nas suas posições políticas, mas doce, humilde e muito respeitoso. Mesmo com esta idade, as garotas continuavam chamando sua atenção, já que era um homem de grande vitalidade. No entanto, era um homem de família, como pude constatar a um mês quando fui a sua casa no Rio. Em mais uma de nossas agradáveis conversas, ele me contou que a pedido de sua falecida esposa, ele tinha que cuidar bem dos netos, portanto sempre fazia algumas atividades pessoalmente.

Brizola parte daqui com a certeza de que se juntará aos grandes heróis, graças as suas ações em vida. Seus sonhos permanecerão em cada um dos que viverem e lutarem por uma política justa, honesta e saudável. Pedimos duas coisas a Deus, que Ele tenha Brizola perto de si e que nós consigamos perpetuar seu modo ético de fazer política.

Infelizmente, Brizola não estará mais entre nós. No entanto, suas lições serão eternas e nortearão a política nacional. Continuarei comprometido com as incumbências que Brizola havia me passado. Seu sonho era ver a modernização do PDT paulista e nacional e por este motivo me passou esta árdua missão. Ele gostaria que o partido em São Paulo fosse modelo para os outros Estados do país e se depender do meu empenho e trabalho, assim será. Entre o que aprendi com governantes frios e desumanos, às vezes também sem ética, fico com a lição deixada por este grande estadista que é a de cuidar da educação, saúde e assistência social deste país.

geraldovinholi@hotmail.com

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