Contadora de Lobão depõe na CPI da Pirataria


22/09/2003 20:53

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Marcelo Moura Cardoso em depoimento à CPI<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/piratardeC220903.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adelaide Rodrigues Santos Pereira, contadora de Roberto Eleutério da Silva, compareceu à CPI conduzida em cadeira de rodas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/piratardeE220903.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Depoimento da nora de Lobão, Michele Eleutério Cristiane da Silva<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/piratariaA220903.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Calma e sorridente, Michele disse não saber o motivo de ter sido chamada a depor na CPI<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/piratariaB220903.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Adelaide Rodrigues Santos Pereira disse que conhece Lobão desde que ele era adolescente<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/piratarde220903.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Da Redação

Adelaide Rodrigues Santos Pereira - contadora de Roberto Eleutério da Silva, o contrabandista Lobão - depôs como testemunha na CPI federal da Pirataria. A mulher chegou conduzida em uma cadeira de rodas, mas ao ser indagada pelo presidente da CPI, Luis Antônio de Medeiros, deixou claro que sua dificuldade de locomoção surgira havia muito pouco tempo, o que sugeriu um artifício para desarmar os deputados.

Sem fazer rodeios sobre o fato de conhecer Lobão, a contadora afirmou que o conhece desde que ele era adolescente e trabalhava na calçada em frente à Galeria Pajé, onde atraía os passantes para que fizessem compras nas lojas. "Fiquei muito tempo sem vê-lo. Só o encontrei por acaso há uns dez anos, no dentista". Adelaide Pereira afirmou que faz a declaração de IRPF de Lobão há vários anos, no qual ele declara cerca de R$ 60 mil mensais provenientes do aluguel de imóveis e de intermediação de negócios. A contabilista afirmou que Roberto Eleutério se utiliza do Carnê-Leão para recolher o tributo, uma vez que a identificação da fonte pagadora não é necessária em certos tipos de transação.

Ela é ainda a responsável pelo registro e movimentação das empresas Dinossauro, Búfalo Branco, PRT, Distribuidora de Gelo e Bebidas RL, Tomy, Top Rio, ABCDSL, Shopping SL, Shopping Inaraí e Transportadora Predileta.

Ao ser indagada, afirmou desconhecer o fato de que todas essas empresas são na verdade de Lobão e negou ter providenciado pessoalmente os 'laranjas' que figuram na escrituração. Ao ser informada de que os deputados tinham gravações de conversas suas com Tânia dos Santos, a contadora reconheceu que manteve com esta conversas esporádicas, mas disse não saber precisar em que empresa Tânia trabalhava. "Ela presta serviço a vários comerciantes", esquivou-se.

Testemunha-chave

Dos quatro policiais civis que compareceram para depor à CPI, foi ouvido apenas o investigador Marcelo Moura Cardoso, que trabalhava no 33º DP, em Pirituba, sob as ordens do então delegado titular Nicola Romanini. Cardoso é acusado, juntamente com o Romanini e mais cinco policiais do 33° DP, de prevaricação, receptação, tráfico de entorpecentes, concussão e corrupção passiva.

O investigador disse que sequer tinha ouvido falar do contrabandista Lobão até as denúncias chegarem aos jornais. Também negou conhecer os delegados Ettore Capalbo (SIG - Seccional Leste) e Mário Guilherme da Silveira Carvalho (10º DP), também suspeitos de envolvimento no esquema. O depoente não reconheceu ter nenhum tipo de relacionamento além do profissional com o investigador Ivan Raimundy Barbosa e Rodrigo, seu amigo, mesmo quando foi lida transcrição de conversa telefônica em que Cardoso marcava um encontro entre os três. Também ficou sem resposta o significado da frase "ele já era", dita por Cardoso quando, ao telefone, informava a Ivan Barbosa o paradeiro de determinado rapaz.

Em seguida, Luiz Antônio Medeiros fez com que entrassem o delegado Luiz Cláudio Ferreti e os investigadores Paulo Roberto da Silva e Eduardo Ferreira Bueno, que também haviam sido convocados a depor. Medeiros lhes informou que, por causa do surgimento de uma testemunha-chave, os policiais prestariam depoimento à Justiça Federal antes de instruir a CPI.

Manhã improdutiva

Medeiros disse estranhar a postura da Polícia Federal, cuja carceragem declarou não ter sido informada para providenciar o comparecimento dos depoentes Marcelo Stracieri Barbosa, gerente da transportadora Búfalo Branco, tido como braço direito de Lobão, e Tânia dos Santos, que também ocupa posto de confiança nas empresas da família.

Por causa da falha de comunicação, Tânia não foi trazida à reunião realizada da CPI na manhã da segunda-feira, 22/9, na Assembléia Legislativa, e Marcelo Barbosa foi apresentado com muito atraso.

Antes dele, foi ouvido o depoimento da nora de Lobão, Michele Eleutério Cristiane da Silva, casada com Tomy e sócia de três empresas da família, fato que negou. Michele também afirmou desconhecer todas as relações comerciais da família.

O presidente da CPI, deputado Luiz Antônio Medeiros (PL/SP), suspendeu a reunião afirmando: "o depoimento dela não esclareceu nada, acho que não ajudou em nada para o andamento dos trabalhos da CPI".

Michele, que esteve todo o tempo acompanhada por seu advogado, relatou apenas alguns fragmentos da prisão do marido, feita na casa deles. Com calma, sorridente, afirmou desconhecer o motivo de ter sido chamada a depor na CPI. Negou a sociedade nas empresas, o relacionamento do marido com o paraguaio, um dos membros da conexão dos cigarros falsificados e declarou que só tomou conhecimento dos fatos que envolvem a família do marido através da imprensa.

Trancrição das fitas

O deputado Júlio Semeghini (PSDB/SP) solicitou ao presidente da Comissão que seja requerido ao juiz Egydio de Matos Nogueira, da 6ª Vara Federal, a totalidade das transcrições das conversas telefônicas interceptadas, incluindo este assunto na pauta abordada pela CPI em 23/9, em Brasília, onde o deputado ainda pretende avaliar o que vem sendo feito pelos demais membros em outras regiões do país, além de traçar uma estratégia para prosseguir esta investigação. "Se necessário for, teremos que mudar a lei", afirmou ao referir-se à ausência de padrão na regulamentação dos vários setores de atividade. Além disso, o deputado observou existir um descompasso entre as autoridades. "Hoje se prende o culpado, e no dia seguinte ele é solto pela Justiça", afirmou o parlamentar, referindo-se a um dos entraves aos trabalhos da Comissão.

Também participaram dos trabalhos de hoje Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), Júlio Lopes (PP/RJ) - relator -, Josias Quintal (PMDB/RJ) e Bispo Wanderval (PL/SP). A CPI teve início em 8/7, com prazo de encerramento estipulado para outubro. Medeiros acredita que ela será prorrogada, tendo em vista a abrangência que os trabalhos vêm ganhando: máfia dos cigarros falsificados, contrabando de armas, cargas roubadas, falsificação de combustíveis, falhas na fiscalização portuária. Agrava a questão o forte esquema de proteção policial. "Só existe o crime organizado porque tem proteção policial", afirma o deputado.

Para o deputado Júlio Lopes, a desarticulação do esquema de Lobão é fundamental para desmantelar a máfia. No entanto, pondera que para a caracterização das práticas criminosas é necessária uma inspeção rigorosa da polícia, sob pena de esta contribuir para o fortalecimento das máfias ligadas ao tráfico de drogas, armas e de roubo de cargas, entre outras.

alesp