60 ANOS DO FIM DA II GRANDE GUERRA MUNDIAL

A Batalha de Berlim: o fim do III Reich
11/05/2005 21:01

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Soldados russos colocam a bandeira vermelha no Reichtag<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/russos.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Vista de Berlim destruída após os ataques russos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Berlim.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Marechal Zhukov, após capturar Berlim, visita o prédio destruído do Reichtag<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Zhukov.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Última foto de Adolf Hitler no dia de seu aniversário, 20 de abril de 1945, entrega aos jovens membros da defesa de Berlim da medalha cruz de prata por bravura<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Hitler.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Passados 60 anos do término do maior conflito armado mundial, trazemos aos leitores a história dessa verdadeira tragédia que destruiu países e fez o maior número de vítimas na história da humanidade.



Vencidos pelo rigoroso inverno russo e após o contra-ataque das tropas de Stalin, em outubro de 1944, o exército alemão que cercava Leningrado foi obrigado a recuar e estava cercado. Em todas as frentes houve o recuo das tropas nazistas. Em sua fuga, destruíram tudo que ficava para trás, principalmente, ferrovias, pontes, estradas e fábricas.

Joseph Stalin há muito exigia dos Aliados uma na nova frente de batalha, para que suas tropas não combatessem sozinhas as tropas nazistas, e assim, em 6 de junho de 1944, a região da Normandia, na França, foi invadida por milhares de soldados por mar e ar, era o "Dia D". E assim o exército de Hitler foi obrigado a lutar em duas frentes distintas.

Na União Soviética, o Grupamento Central do Exército Vermelho lançou uma grande ofensiva no front oriental com o triplo de soldados dos alemães. As tropas comunistas avançaram rapidamente com apoio dos tanques, os famosos "T-34", o melhor blindado construído na II Grande Guerra. Em 1944, os operários de "Tankgrado" produziram dois mil chassis de tanques por mês, mais que a produção total alemã. Os tanques russos tiveram que lutar contra os "Tigers" alemães, após serem emboscados na Ucrânia. Depois de violentos combates, conseguiram avançar, libertando as cidades russas.

No verão de 1944, os russos chegaram na Europa Oriental, e o 6º Exército capturou a capital romena, Bucareste, sendo seus soldados recebidos com flores, como heróis, pela população. A ofensiva soviética seguinte foi na Polônia, em janeiro de 1945. Mais uma vez, os T-34 lideraram o avanço do Exército Vermelho, que chegava a 80 km por dia.

Em seis semanas, o exército de Moscou chegou à fronteira com a Alemanha, e esperou. No inicio da primavera de 1945, os russos se prepararam para o ataque final contra a capital alemã, Berlim. Dois grupamentos do exército soviético se concentraram ao longo de uma fronteira de 160 km, liderados pelos marechais George Zhukov e Ivan Konev, que competiam pela glória de capturar Berlim.

Divisão da Alemanha

Na Europa ocidental, os Aliados já tinham cruzado o rio Reno em direção à Alemanha, mas o general americano Dwight Eisenhower, comandante em chefe dos exércitos Aliados, resolveu deixar Berlim para os russos. Ele tinha bom motivo para deixar a capital alemã para as tropas vermelhas. Na conferência de Ialta, em fevereiro de 1945, os três líderes mundiais, Roosevelt, Churchill e Stalin haviam decidido sobre a divisão da Alemanha. A parte oriental, com Berlim dentro dela, seria dos russos, e, portanto, não fazia sentido perder vidas britânicas e americanas para capturar algo que seria entregue após a guerra. Em segundo lugar, Eisenhower sabia muito bem que seria muito difícil conquistar a capital da Alemanha.

Zhukov com o seu exercito da 1ª Frente Bielorussa iria atacar da ponte de Kustrin, do outro lado do rio Oder, atravessar uma colina conhecida como "Seelow Heights" e entrar em Berlim pelo norte. Ele havia recebido a honra por parte de Stalin de capturar a capital do Reich.

No sudeste, na confluência dos rios Oder e Neisse, estava a 1ª Frente Ucraniana do marechal Koniev, ela deveria cruzar a linha Oder-Neisse e avançar para oeste e, depois, virar para o norte, tomar Zossen, quartel-general militar alemão, mas não deveria entrar em Berlim.

Adolf Hitler pretendia fazer de Berlim uma fortaleza. Em volta da cidade havia três estruturas que relembravam antigos castelos medievais, chamadas de torres antiaéreas. Tinham paredes tão espessas que nem mesmo os projéteis mais pesados conseguiam penetrar. Elas eram localizadas nas regiões norte, leste e sudeste da capital e serviam como plataformas antiaéreas para proteger a cidade dos freqüentes bombardeiros dos Aliados.

Entre 16 e 18 de abril, os russos deveriam vencer as defesas alemãs nos rios Oder e Neisse. Depois disso, a segunda fase era o avanço de blindados para cercar Berlim, o que ocorreu em 25 de abril. A terceira fase seria a destruição física das forças alemãs restantes na cidade.

Ataque a Berlim

Às quatro da manhã do dia 16 de abril de 1945, os russos iniciaram o ataque a Berlim com uma artilharia incessante, composta de mais de dez mil disparando contra a capital alemã, incluindo as baterias de foguetes Katyusha. Foi o ataque de artilharia mais concentrado na história. O primeiro objetivo era conquistar uma colina conhecida como "Seelow Heights", no vale do rio Oder, os T-34 aguardavam ordem para avançar. Foi uma difícil ação militar, em virtude de os tanques terem atolado na lama, retendo o exército de Zhukov por três dias. Só nesse dia, 30 mil soviéticos morreram. Ao mesmo tempo, as tropas do marechal Konev avançaram do sul até os subúrbios de Berlim.

Os berlinenses lutaram com enorme determinação temendo a vingança dos soviéticos pelas atrocidades que os alemães haviam cometido na Rússia. Eles lutavam bravamente, apesar de terem recebido pouca instrução militar. De cada telhado, de cada janela, eles atiravam nos soldados russos. Os nazistas haviam organizado os idosos e os jovens em uma milícia do povo - a Volkssturm. Eles possuíam duas poderosas armas antitanque, a Panzerfaust e a Panzersherk, que eram guardadas nos porões.

Os tanques russos estavam em desvantagem, podiam ser emboscados nas ruas estreitas e destruídos facilmente pelas bazucas dos alemães. Centenas de T-34 foram perdidos na batalha de Berlim.

Os soldados de Zhukov e de Konev, perto de um milhão de homens, contra 80 mil nazistas, tiveram de lutar em cada bairro, depois, em cada rua e, finalmente, em cada casa, inclusive utilizando lança-chamas para desalojar os francos atiradores. A cidade foi reduzida a escombros e, apesar de cercada pelas tropas soviéticas, Adolf Hitler se recusava a se render. Atrás da linha de frente a 30 km, o marechal Zhukov recebeu um ultimato do todo poderoso ditador Joseph Stalin, suas tropas deveriam hastear a bandeira comunista no antigo prédio do Parlamento alemão - o Reichtag, antes da parada de 1º de maio, dia do Trabalho.

Em um abrigo de concreto a 18 metros da superfície, com 30 salas escuras ligadas por uma rede de corredores, o conhecido Fuherbunker, naquele 13 de abril, não havia luz natural. Dentro do bunker, onde viviam menos de 20 assessores leais de Adolf Hitler, não era possível distinguir o dia da noite, e os sons dos canhões cada vez mais próximos. A atmosfera era sempre igual, tentavam conseguir notícias da batalha que se tratava e não sabiam de que lado vinha o som dos canhões e das bombas que caíam.

Hitler estava mais pálido que de costume. Após uma reunião com o comando militar realizada em 5 de abril, afirmou: "O exército me traiu. Meus generais são inúteis. Minhas ordens nunca são cumpridas. Acabou. O Nacional Socialismo está morto e nunca será ressuscitado... Senhores, o fim se aproxima, devo permanecer em Berlim e cometer suicídio quando o momento chegar."

Luta feroz

A negativa de Hitler a se render levou à morte de no mínimo 20 mil pessoas por dia. Apesar de numericamente inferiores, 1 para 10, os alemães ainda lutavam ferozmente quando os homens do marechal Zhukov chegaram no coração de Berlim, a algumas centenas de metros do Quartel General de Hitler.

Apenas um rádio ligava o bunker ao mundo exterior. Havia uma semana o líder nazista enviara pedidos desesperados aos 9º e 12º Exército, que responderam afirmando o primeiro, laconicamente, que não iria e o segundo que estava cercado pelas tropas russas. Apesar de não ter nenhuma chance de vitória, Hitler insistiu que continuassem lutando.

A menos de 100 metros do bunker um hospital improvisado atendia homens idosos e adolescentes, a maioria com menos de 16 anos. Os dois médicos que atendiam foram chamados à presença do Furher, eles observaram que o homem estava tremendo, seu braço esquerdo tinha espasmos contínuos, sua pele era cinza e ele pareceu ter 70 e não 55 anos. O olhar perdido e os tremores pareciam de uma doença degenerativa, possivelmente mal de Parkinson, talvez acelerado pelas gotas de cocaína que aplicava nos olhos todas as manhãs.

Os dois médicos observaram ainda que no outrora impecável uniforme do líder nazista havia manchas de sopa e gotas de mostarda. Ele não conseguia permanecer ereto e seu andar era trôpego. Hitler agradeceu aos médicos e lhes disse adeus. Na saída, eles viram que diversos membros do bunker estavam bêbados em um alojamento com mulheres.

O secretário de Adolf Hitler, Martin Bormann, era um dos envolvidos na diversão. Depois, já sóbrio, ele enviou uma mensagem em nome do Furher, via rádio, para que as tropas continuassem lutando na defesa de Berlim e que os traidores fossem punidos. Membros da SS pichavam os muros e paredes da cidade ainda em pé, incentivando os soldados a lutar até a morte. Aqueles que se recusavam eram executados sumariamente, havia centenas de cadáveres espalhados pelas ruas enforcados por deserção.

Bormann controlava tudo no bunker e, se aproveitando da situação, conseguiu que Hitler determinasse a prisão de outro antigo auxiliar, o tenebroso Heinrich Himmler, chefe da temível SS, por traição.

No dia 22 de abril Berlim foi cercada, após a derrota do 11º Exército alemão, em uma transmissão radiofônica, foi informado que Adolf Hitler permaneceria na capital até o fim. Também nesse dia 22, o casal Joseph e Magda Goebbels, com seus 6 filhos, todos com nomes que começavam com H, em homenagem a Hitler: Helga, Holda, Hilda, Hylde, Heda e Helmuth, entravam no bunker para nunca mais sair. As crianças sabiam que teriam que tomar uma injeção para que não ficassem doentes, mas todos os demais sabiam que era letal.

O general comandante que defendia o centro de Berlim esteve às 18h com o Furher. E ao ser perguntado quanto tempo poderia agüentar na defesa, respondeu que por não mais de 20 horas. Não longe dali, a 300 metros do Reichtag, a artilharia vermelha abriu fogo com mais de 90 canhões, e o bunker chacoalhava com as explosões de bombas e foguetes.

Batalhas pelas torres

O ataque final foi no dia 26 de abril, precedido de um pesado bombardeiro aéreo e de outro grande ataque de artilharia. Começava também a batalha pelas torres antiaéreas.

Na noite do dia 28, Eva Braun, amante de Hitler, concordou em casar com ele. O local do casamento foi a chamada sala dos mapas, o celebrante foi Walter Wagner, Bormann e Goebbels foram as testemunhas. Ao assinar o documento, Eva escreveu a letra B, de Braun, riscou e escreveu Hitler. O "banquete" consistiu em algumas garrafas de champagne e sanduíches. Todos ficaram em torno da mesa e brindaram aos noivos, mas ninguém falou nada. Após a cerimônia, Adolf Hitler escreveu seu testamento, defendendo o Nazismo e fazendo o último ataque aos judeus.

O comandante militar de Berlim, general Helmuth Weidling, tentou mais uma vez persuadir Hitler a sair do bunker, mas este reiterou a sua recusa em entregar Berlim. Após a saída do militar, o ajudante de ordens Otto Gunsche foi chamado à presença do Furher e informado de que os russos se aproximavam. Hitler lhe disse que não queria seu corpo exibido como um troféu, em referência ao ocorrido com Benito Mussolini, dias antes, quanto o líder fascista e sua amante Clara Petacci foram assassinados pelos guerrilheiros e pendurados pelos pés em um posto de gasolina, para que cuspissem em seus corpos. Hitler instruiu para que encontrassem toda a gasolina disponível e advertiu que ele seria pessoalmente responsável pela queima do seu cadáver. Otto concordou e saiu para cumprir a sua macabra tarefa.

Nos últimos seis meses, Adolf Hitler almoçava diariamente com suas secretárias. Naquele dia, no horário marcado, 13h, foi servido spaghetti e salada. Durante a refeição, nada foi dito de novo. Seria seu último almoço, e todos sabiam disso. A conversa na mesa foi a mesma de sempre, as opiniões de Hitler sobre o cruzamento adequado de cachorros e a sua convicção de que o batom francês era feito com gordura dos esgotos.

As secretárias não deixavam de pensar nas tropas russas que chegavam. A única opção era fugir, elas sabiam que a segunda onda das tropas russas trazia o maior temor para a população feminina de Berlim. Com a intenção de se vingar após anos de guerra, soldados russos pouco disciplinados deram início a uma verdadeira epidemia de estupros, que iam de meninas às avós. Ao menos 100 mil mulheres foram violentadas, quando da invasão do exército vermelho, cerca de 10% morreram como resultado da violência praticada, a maioria por suicídio.

Após o término da ação da artilharia soviética, a infantaria iniciou a invasão do prédio destruído do Reichtag. Com o Exército Vermelho nas portas do bunker, Hitler convocou seus últimos seguidores, que estavam planejando como escapar do bunker. Não houve discursos, apenas agradecimentos e apertos de mão e um murmúrio de adeus, todos sabiam que o Furher possuía em seu quarto duas pistolas e duas cápsulas de cianureto. Antes da partida, Magda Goebbels apelou novamente para que ele reconsiderasse e saísse de Berlim, mas ele mais uma vez recusou.

Com a morte de Adolf Hitler, ela cumpriria com seu marido a promessa de suicidar-se, e matando seus filhos antes de por termo a sua vida.

Otto Gunsche se posicionou em frente à porta do aposento de Hitler, para que o duplo suicídio não fosse interrompido. Pelas ruas, as tropas de Zukov avançavam em direção ao prédio do Reichtag, cujas portas e janelas haviam sido fechadas com tijolos. O confronto foi em cada cômodo, os russos sofreram grandes baixas, mas graças à sua superioridade numérica, os soldados conseguiram invadir o prédio e capturaram alguns soldados alemães no porão. Mas quando tentavam alcançar o 1º andar, foram recebidos à bala pela fanática guarnição das SS, que ocupava os andares superiores. Sete horas após o suicídio de Hitler, os homens do 115º Regimento de Rifles do Exército Soviético faziam a última tentativa de chegar ao topo do destruído edifício do Parlamento alemão. Em um combate brutal e com enormes baixas, os russos conseguiram cumprir seu objetivo. Os sargentos Iagorof e Kataria fincaram a bandeira vermelha, que finalmente adornaria de forma triunfante o Reichtag.

Cenas finais

Embora os russos forjassem as imagens dois dias depois, os soldados de Zukov conseguiram cumprir as ordens de Stalin às 22h15 de 30 de abril de 1945, no mesmo dia do suicídio de Adolf Hitler.

Otto estava aguardando há 15 minutos, ele não ouviu nenhum baralho de tiro. Mas Heinz Linge, assistente de Hitler, e Bormann resolveram abrir a porta. A determinação de Hitler tinha de ser cumprida rapidamente. Ao entrarem, viram Eva Braun deitada no sofá, o corpo totalmente imóvel, com os olhos abertos. Hitler estava sentado em uma poltrona, tinha sangue na cabeça e uma macha escura. Os corpos foram retirados e levados para fora, e em uma vala, recém cavada, foi derramada gasolina sobre eles. Linge torceu uma folha de papel e Bormann a acendeu. Quando a gasolina pegou fogo, uma enorme chama foi produzida, os presentes pela última vez fizeram a saudação nazista.

Mas a batalha ainda não tinha terminado, o Batalhão de Panzers 503, composto com os poderosos tanques "Kind Tyger", combateu nas ruas de Berlim, conjuntamente com as SS e soldados noruegueses, além de um batalhão de voluntários composto de 300 franceses, que faziam parte da divisão "Carlos Magno", fazendo a defesa dos prédios do governo no centro da cidade.

O marechal Konev, em suas memórias, afirmou que na tomada de Berlim os russos perderam 800 tanques. E o número de soldados soviéticos mortos chegou a 400 mil.

A morte do Furher do III Reich significou que a Alemanha podia finalmente se render, a população colocou pano branco em todas as janelas dos prédios que ainda restavam em pé em Berlim. No dia 7 de maio de 1945, foi assinado o termo no qual todas as forças alemãs deporiam suas armas a partir do início do dia seguinte, quando se daria fim à guerra, considerado o dia da vitória pelos Aliados.

A Batalha de Berlim foi a última na Europa, mas a guerra ainda continuava no Pacifico, com o Japão enfrentando as tropas norte-americanas. Apenas em 15 de agosto, após o lançamento de duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, é que a II Grande Guerra Mundial chegaria ao fim, custando ao mundo mais de 50 milhões de mortos.

alesp