DA REDAÇÃO Em continuidade ao III Seminário Regional Interlegis, que aconteceu nesta quarta-feira, 24/9, na Assembléia Legislativa, o professor Marco Aurélio Nogueira, doutor em ciência política pela USP e livre-docente pela UNESP, apresentou nesta quarta-feira, 24/9, a palestra "O poder legislativo numa democracia em transformação". Ao fazer um diagnóstico sobre o atual quadro social e a imagem do poder legislativo, Nogueira afirmou que assistimos uma mudança dramática do papel do Estado e de seus poderes constituídos. "Sabemos que a sociedade não vê com clareza o papel que o legislativo exerce na garantia da democracia e tem uma visão negativa deste poder", diz. O especialista afirmou que apesar de as Assembléias serem em alguma medida "câmara de eco da sociedade", por vivermos em um período de fragmentação social, pouca coesão e de um corporativismo exacerbado não se consegue dar uma resposta rápida aos anseios desta sociedade multifacetada e que muda com rapidez suas áreas de interesse. "O Estado, como entidade reguladora das relações sociais, está sofrendo uma modificação que ninguém sabe com certeza para onde caminha. E esta incerteza permeia toda a sociedade. As análises apontam para duas configurações possíveis de sociedade no futuro, uma sem lei e regras e outra que quer se regulamentar mas ainda não encontrou o modelo a ser seguido", afirmou Nogueira.Ambições individuais + interesses coletivosA saída para o caos instalado, segundo o professor, passa por três ações inadiáveis e concomitantes: a disseminação de uma educação política, com o objetivo de aumentar a politização da sociedade, o que possibilitaria a construção de um pacto que compatibilizasse as ambições individuais e os interesses coletivos. "Uma mudança de paradigma, com o abandono da lei de mercado como único regulador da vida social", afirmou. A reforma política é outro apoio deste tripé proposto por Nogueira. Segundo ele, ela deverá contemplar mudanças na lei eleitoral, na lei partidária e no próprio caráter dos partidos. A outra ênfase é a qualificação e formação dos quadros integrantes do poder legislativo. "Esta qualificação tem que se dar em todos os níveis, parlamentares, assessores e os corpos administrativos. Só com um legislativo capaz e ágil será possível reverter o conceito hoje presente na sociedade", concluiu.Boa formação garanta assessoria de qualidadeA palestra seguinte foi proferida pelo analista legislativo do Senado Federal Marcos Vieira que enfocou sua fala na necessidade de que haja especialização específica em administração legislativa. Para ele, o servidor do Poder Legislativo é o coadjuvante do processo legislativo o qual, sem ele, sequer existiria. "Uma boa formação resultará num assessoramento técnico de qualidade para dar o apoio necessário, competente e eficiente ao parlamentar", afirmou.A especialização tem que ter conceito próprio, singularidades, técnicas e procedimentos definidos. Deve estar ligada ao debate de idéias, à fiscalização e controle do Poder Executivo. Além disso, tem que levar em consideração o fato de que o legislativo tem terminologia própria, transitoriedade dos integrantes, alterações freqüentes na composição de partidos e comissões, está sujeito a pressões, à pluralidade e diversidade cultural, à variedade de assuntos; tem que ser flexível e manter relação constante com a mídia. Segundo Vieira, o exercício pleno da atividade legislativa demanda conhecimentos políticos da realidade e científicos em todas as áreas do conhecimento humano. "Lidamos com a prática da democracia das idéias; para tanto, é necessário desenvolver criatividade, arte de observação, arte de formulação de perguntas, arte da dúvida, arte da crítica", observou.Falta de estímulo gera funcionários analfabetos"As escolas legislativas têm enorme responsabilidade; nelas, circula uma imensa quantidade de informações, que têm que ser acompanhadas por uma visão holística, multicultural e multifocal", disse.Na opinião de Vieira, as organizações podem se desestabilizar quando desestimulam seus funcionários, não investem em formação, enxugam quadros e optam pela terceirização. "Quando isso acontece, surgem vários tipos de analfabetos no ambiente interno", ressaltou.