Morre Leonel Brizola, presidente nacional do PDT

Antonio Sergio Ribeiro*
22/06/2004 19:47

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Leonel Brizola, presidente nacional do PDT<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/BRIZOLA 2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Morreu na noite de segunda feira, dia 21, no Rio de Janeiro, o presidente nacional do PDT Leonel Brizola, vítima de infarto agudo do miocárdio.

Leonel de Moura Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922, na localidade de Cruzinha, então pertencente a Passo Fundo e hoje a Carazinho. Filho de pequenos lavradores, seu pai José de Oliveira Brizola, maragato (partidário de Assis Brasil) morreu durante a Revolução Federalista de 1923. Com sua mãe, Onívia de Moura Brizola, começou a aprender a ler e escrever. Em 1931, foi matriculado na escola primária na cidade de Passo Fundo e, cinco anos depois, cursou o Instituto Agrícola de Viamão, perto de Porto Alegre, onde se formou técnico rural em 1939. Para se sustentar, trabalhava como graxeiro numa refinaria de Gravataí.

Aos 23 anos de idade, foi um dos fundadores do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado pelo presidente Getúlio Vargas. Em 19 de janeiro de 1947, foi eleito deputado estadual constituinte. Na Assembléia Legislativa gaúcha foi aprovada, com seu apoio, a instituição do regime parlamentarista no Estado, mas o Supremo Tribunal Federal decidiu que essa decisão era inconstitucional.

Ainda em 1945, ingressou na Universidade do Rio Grande do Sul, aonde se formou em Engenheiro Civil no ano de 1949. Em 1º de março de 1950, casou-se com Neuza Goulart, irmã de seu colega de bancada, o então deputado estadual João Goulart, tendo Getúlio Vargas, que meses depois seria eleito presidente da República, como padrinho de casamento. Nessa eleição de 3 de outubro de 1950, Brizola seria reeleito deputado estadual, tornando-se líder do PTB na Assembléia gaúcha.

Candidatou-se prefeito de Porto Alegre, em 1951, sendo derrotado por pouco mais de 1% dos votos. No ano seguinte, foi convidado pelo governador Ernesto Dornelles para assumir a secretaria de Obras do Estado do Rio Grande do Sul. No pleito de 3 de outubro de 1954, foi eleito deputado federal, mas permaceu pouco tempo na Câmara dos Deputados, já que, em outubro de 1955, foi eleito prefeito de Porto Alegre. Em sua gestão deu prioridade à construção de escolas primárias e à melhoria dos transportes coletivos.

Estatização

Nas eleições de 1958, foi eleito governador do Rio Grande do Sul, com mais de 55% dos votos. Durante sua gestão, ocorreu a estatização da Companhia Telefônica Rio Grandense, uma subsidiária da poderosa empresa norte-americana ITT. A educação também foi prioridade em seu governo, quando construiu 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios e escolas normais.

Na eleição de 3 de outubro de 1960, apoiou a candidatura do marechal Henrique Teixeira Lott à presidência da República e de João Goulart para vice. Saiu vitorioso no pleito o candidato Jânio Quadros João Goulart como vice-presidente.

Em 25 de agosto de 1961, com a renúncia do presidente Jânio Quadros e o veto militar à posse de Jango, Brizola, no governo do Rio Grande do Sul, insurgiu-se contra a quebra do preceito constitucional. Através da "Cadeia da Legalidade", uma rede de rádios, pregou a posse de Jango e o cumprimento da Constituição brasileira. Com o apoio do comandante do III Exército, general Machado Lopes, a população gaúcha se armou para defender o regime democrático. Após negociações, foi aprovada uma medida paliativa: o regime parlamentarista, que garantiu a posse de João Goulart.

O novo regime durou apenas um ano e meio e, por um plebiscito, foi restabelecido o presidencialismo, conferindo a Jango todos os poderes constitucionais. O descontentamento das classes conservadoras e dos militares, entretanto, desencadeou o golpe de 1º de abril de 1964.

Leonel Brizola, que havia sido eleito deputado federal pelo recém criado Estado da Guanabara, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos por dez anos, na primeira lista de punidos pela recém instalada ditadura, em 9 de abril de 1964.

Exílio rural

Exilado no Uruguai, Brizola se dedicou à propriedade rural que tinha naquele país. Anistiado, retornou ao Brasil em 1979, com a idéia de fundar novamente o PTB, que acabou nas mãos de Ivette Vargas. Resolve, então, fundar com outra sigla um partido trabalhista, e é criado o Partido Democrático Trabalhista, o PDT.

Em 1982, é eleito governador do Estado do Rio de Janeiro, em eleição tumultuada por denúncias de Brizola contra o sistema de apuração, a Proconsult e as organizações Globo, que acusou de manobrarem para impedir a sua eleição. Em 1983, no ano seguinte, foi um dos lideres do movimento pelas eleições diretas. Derrotada a proposta de eleição direta, apoiou o candidato da oposição, Tancredo Neves, que acabou sendo eleito pelo Colégio Eleitoral.

Deixou o governo em 1987 e, em 1989, saiu candidato a presidência da República na primeira eleição direta para o cargo depois da redemocratização do país. No segundo turno, apoiou o candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva, que acabou derrotado por Fernando Collor de Mello.

Eleito novamente governador do Rio de Janeiro, tomou posse em 1991. Com o escândalo envolvendo Collor, pregou o impeachment do presidente, que acabou sendo destituído constitucionalmente após campanha popular. Em 1993, apoiou em plebiscito a manutenção do presidencialismo no Brasil, que acabou vitorioso. Em 1994 renunciou ao governo fluminense e candidatou-se novamente à presidência, chegando em quinto lugar.

Nas eleições de 1998, resolveu aceitar a candidatura de vice-presidente na chapa de Lula, que acabou sendo derrotado novamente, desta vez pelo reeleito Fernando Henrique Cardoso. Nas eleições de 2000, foi candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro, ficando em 4º lugar e, em 2002, candidatou-se a senador, ficando na 6ª colocação.

Presidente nacional do PDT, o engenheiro Leonel de Moura Brizola tinha defeitos como todos os seres humanos, mas nunca, nem seus oponentes puderam acusá-lo de não ser um homem honesto.



*Antonio Sergio Ribeiro é advoga do e pesquisador.

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