O massacre dos armênios, como é chamada a matança e deportação forçada de centenas de milhares ou até mais de um milhão de pessoas de origem armênia que viviam no Império Otomano, foi relembrada nesta sexta-feira, 23/4, em ato solene na Assembleia Legislativa. A cerimônia foi conduzida pelo deputado Vitor Sapienza (PPS), com a presença de diversas autoridades e membros da comunidade armênia em São Paulo. Com cerca de 25 mil integrantes, entre armênios e descendentes, a comunidade é empreendedora e ganhou bastante influência em diversos setores da sociedade paulista. Os primeiros imigrantes chegaram em meados de 1880, mas entre os anos de 1918 e 1926 sobreviventes e fugitivos do genocídio de 1915 constituiram uma grande leva migratória para o Brasil. Os armênios em São Paulo começaram dedicando-se à fabricação de calçados e atividades comerciais e se organizaram em torno de suas igrejas e escolas. Há comunidades armênias importantes também em Osasco e no Rio de Janeiro. "Em 1915, os armênios foram perseguidos pelos chamados jovens turcos, assassinados ou expulsos de suas terras, morrendo de fome e de doenças durante o êxodo. Nós, descendentes daqueles que sobreviveram e se viram forçados a deixar a Armênia, nos espalhamos por diversos países, dentre os quais o Brasil, que muito bem nos acolheu", explicou Carlos Garabet Giovoglanian, da Associação Cultural Armênia de São Paulo. Ao todo, 1,5 milhão de armênios foram mortos, e doze milhões deixaram o país. O presidente do Conselho Representativo da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil, Antranik Manissadjian, disse que não conheceu seus avós, mortos durante o massacre de 1915 pelo Império Otomano. "Tais fatos, que são um crime contra a humanidade, jamais foram julgados, como aconteceu com o massacre dos judeus na 2ª Guerra. O genocídio armênio foi o primeiro do século 20, numa campanha otomana contra minorias cristãs, mas, apesar das evidências, continua a ser veementemente negado pelos turcos", disse Antranik. Khatchik Der Ghougassian, presidente do Conselho Nacional Armênio da América do Sul, com sede em Buenos Aires, Argentina, afirmou que o Estado de São Paulo, num ato de coragem, reconheceu o genocídio armênio: "Saúdo aqueles que publicamente admitem os fatos ocorridos em 1915. O crime cometido contra nosso povo pede uma reparação, um reconhecimento. Não podemos negar os fatos. Negar mata a memória. Que o Brasil, neste século 21, lidere um movimento contra os genocídios, para que não mais ocorram massacres como os dos povos armênio, judeu, e outros". "Este evento é um marco, um marco do que podia ter sido feito e não foi", disse Vitor Sapienza. "O poder econômico prevaleceu e a história foi esquecida. Precisamos não só lembrar, mas criar um símbolo que represente esse holocausto. Precisamos incentivar aqueles que lutam pela preservação da memória a desenvolver ações para que não só a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheça o genocídio armênio, mas também a Turquia. Quem tem história, faz história; o povo armênio tem história e faz história".