O verdadeiro esquema da pirâmide

Opinião
18/05/2005 18:57

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O escritor albanês Ismail Kadaré constrói em seu livro "A pirâmide" uma outra teoria, preocupada mais com política do que com arqueologia para explicar a origem dos monumentos egípcios. Na sua versão, o faraó Queops comunica à sua corte que não irá construir uma pirâmide, como fizeram seus ancestrais, a menos que os escribas expliquem qual seria a finalidade da construção.

Depois de muita pesquisa nos arquivos finalmente os sábios da corte descobrem para que serve a pirâmide: se não houvesse todo o desperdício de recursos, mão-de-obra e tempo necessário à construção das pirâmides o nível de vida da população seria muito elevado. Como os cidadãos enriquecidos dependeriam menos do Estado e seriam mais fortes, a autoridade dos faraós estaria diminuída e a tendência era a eliminação. Assim as pirâmides eram necessárias, sobretudo, para drenar os recursos do país, fortalecendo a autoridade política do faraó.

A imprensa revelou esta semana o único lugar para a qual o "espetáculo do crescimento" não é um mero slogan vazio, mas uma realidade concreta e objetiva: as finanças petistas. O crescimento das contribuições compulsórias dos membros do partido que ocupam cargos de confiança cresceu assustadores 730%, alimentados pelo aparelhamento da máquina administrativa e pela fúria na criação de cargos, em sua maioria ocupados pelos "companheiros" no governo federal.

A situação inusitada revela um dos motivos pelos quais o PT jamais conseguirá tirar do papel qualquer projeto de desenvolvimento do Brasil. Esta impossibilidade não se deve à incompetência, desconhecimento ou incapacidade " ainda que todos estes fatores possam pesar para agravar o problema " mas está ligada a um fator estrutural do próprio PT que o incapacita enquanto instituição para enfrentar a raiz do grande problema nacional: o déficit público.

O PT sofre da mesma síndrome da pirâmide que os escribas do faraó. Não pode combater o empreguismo, vício que impede a modernização do Estado, porque se alimenta dele. Suas presas estão profundamente cravadas na jugular do orçamento público: se diminuir o fluxo de recursos públicos para os companheiros instalados na máquina pública, morre de inanição. Assim não é estranho, mas coerente que o PT tenha ocupado 80% dos cargos federais e tenha criado mais de 3 mil cargos de confiança para seus militantes. Estranho seria se não fizesse isto, porque está em sua natureza.

Antes de estar encastelado no poder o PT já praticava esta "política da pirâmide", por exemplo ao defender os interesses corporativos dos funcionários das estatais, tentando assim evitar que os recursos públicos fossem utilizados nas atividades-fim do Estado " como saúde, educação e promoção social " para garantir os privilégios de uma elite corporativa que contribuia de forma generosa com o financiamento da máquina petista. A política empreguista apenas deu um caráter mais profissional e "industrial" à tática de drenagem de recursos públicos para fundos partidários.

Todos sabem que os grandes males que impedem o desenvolvimento prometido " como os altos juros e a carga tributária hipertrofiada " tem sua raiz na falta de controle dos gastos públicos. Durante o governo de Fernando Henrique o PT e seus aliados " em especial os setores corporativistas " esforçaram-se ao máximo para impedir todas as reformas que poderiam sanar a raíz dos males e modernizar o Estado. Durante seu próprio governo o PT decidiu levar a extremos faraônicos a política de se manter no poder às custas do empobrecimento da nação.

A redução dos impostos sobre a produção que desestimulam investimentos e sufocam a economia e o rebaixamento dos juros que criam uma concorrência desleal por recursos entre o voraz governo e a desamparada iniciativa privada, iriam permitir ao país aproveitar o momento favorável para gerar empregos, recursos e riquezas, melhorando o nível de vida da população como um todo mais do que alguns bilhões gastos com assistencialismo. Mas esta outra alternativa prejudica os planos políticos e eleitoreiros de falar em nome dos miseráveis, assim como para o faraó: mais vale drenar recursos e permanecer no poder do que melhorar a vida das pessoas e tornar-se desnecessário.

*Vaz de Lima (PSDB), advogado e sociólogo, é deputado estadual.

alesp