São Paulo 450 anos - OS FUNDADORES

Antônio Sérgio Ribeiro*
15/01/2004 16:36

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Cacique Tibiriçá, pai da índia Bartira, também conhecida como Potira.<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/cacique tibirica.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> João Ramalho<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/hist/Joao Ramalho.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Desde a vinda de Pedro Álvares Cabral, a Coroa Portuguesa se preocupou em colonizar o Brasil, mas somente 30 anos depois teve início efetivamente a conquista territorial, com a implantação das capitanias hereditárias. A partir de 1549, quando é determinada a vinda de um governador geral, diretamente subordinado ao rei de Portugal, finalmente o Brasil começa a ser povoado de modo mais sistemático. E assim vieram os primeiros jesuítas, chefiados pelo Padre Manoel de Nóbrega, como missionários para catequizar os indígenas e trazer a palavra da Igreja para os portugueses residentes na colônia. Em homenagem aos 450 anos de fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga, que marcou o início da grande metrópole de São Paulo, apresentamos a biografia dos participantes desse fato histórico.

JOÃO RAMALHO

Nasceu em Vouzela, distrito de Viseu em Portugal, entre 1485 e 1493 e faleceu em São Paulo, por volta de 1580.

Segundo suas palavras, teria chegado ao Brasil aproximadamente em 1512, não se sabendo se foi um náufrago ou um degredado. Porém, alguns estudiosos acreditam que poderia fazer parte das expedições de João Dias Solis ou de Fernando de Magalhães.

Foi o primeiro europeu a subir a serra, então chamada de Paranapiacaba (lugar de onde se vê o mar), em direção ao planalto, onde estabeleceu contato com os índios guaianases, sendo aceito pelo cacique dessa tribo, Tibiriçá, que, simpatizando com ele, oferece sua filha M´bicy (Flôr de Árvore), também conhecida por Bartira ou Portira, como esposa, presumivelmente em 1515, com quem teve inúmeros filhos.

Em 1532, sabedor da chegada de uma expedição estrangeira ao litoral, e de que os indígenas poderiam hostilizá-la, resolveu ir, juntamente com outro habitante português, Antonio Rodrigues, morador em Tumiaru (perto de Bertioga), casado com uma filha de Piquerobi (irmão de Tibiriçá), ao encontro dos recém- chegados, para assegurar o desembarque em paz e amizade.

A surpresa de serem recebidos por dois homens brancos foi enorme para os recém-chegados, que estavam sob o comando de Martim Afonso de Sousa, mandado pelo rei de Portugal D. João III para averiguar as terras do sul, até os limites fixados pelo Tratado de Tordesilhas.

João Ramalho, foi um grande colaborador de Martim Afonso, tendo auxiliado na fundação da Vila de São Vicente no dia 22-1-1532. Sua relação com o cacique Tibiriçá facilitou bastante o relacionamento entre colonos e indígenas. De porte agigantado, era respeitado por todos. Sobre ele escreveu Tomé de Sousa ao rei de Portugal D. João III: "tinha tantos filhos, netos e bisnetos que não ouso dizer a Vossa Alteza, ele tem mais de 70 anos, mas caminha nove léguas (a légua portuguesa equivalia a cinco quilômetros), antes de jantar e não tem um só fio branco na cabeça nem no rosto". Sua prole foi numerosa, contando com inúmeros filhos legítimos e bastardos; talvez desse fato provenha a designação de "povoador". Apesar de sua vida de polígamo, era religioso. Todos os seus filhos, legítimos ou não, foram batizados.

Em conversa com o Padre Manoel da Nóbrega, afirmou que fora casado em Portugal com Catarina Fernandes das Vacas, a quem jamais tornou a ver e que desconhecia se ainda vivia. Por esse motivo, em 1550 foi excomungado pelo jesuíta Simão de Lucena, por viver "amancebado" com Bartira. Nóbrega escreveu ao reino para saber da existência de Catarina e posteriormente efetuou o casamento de João Ramalho com Bartira, após uma vida em comum de quarenta anos, já com o nome de Izabel Dias, depois de convertida à religião católica.

João Ramalho acompanhou Martim Afonso de Souza ao planalto de Piratininga, recebendo uma sesmaria, em 1534, na qual fundou a povoação de Santo André da Borda do Campo, elevada a vila em 8-4-1553, pelo governador-geral Tomé de Sousa, sendo nomeado seu alcaide e guarda-mor do campo e, mais tarde, capitão (1-7-1553). Foi também vereador (1553 e 1558). Às suas custas fortificou a vila, com trincheira e quatro baluartes. Apesar de sua dedicação a Santo André, esta estava em franca decadência, e não chegava a contar com trinta moradores brancos. Assim, em 1560 não teve como evitar a ordem de Mem de Sá, novo governador-geral do Brasil, de transferir todos os moradores para São Paulo, e o pelourinho para defronte do Colégio de São Paulo e, por conseqüência, extinguir Santo André.

Contrariado, foi obrigado a transferir-se para São Paulo, onde serviu como vereador de 1562 a 1566. Ainda em 1562 foi nomeado pela Câmara Municipal e povo de São Paulo para o cargo de Capitão da Gente, a fim de combater os índios carijós, no vale do Paraíba, que tinham feito cerco e atacado a vila em 9-7-1562. Nesse combate, a vila foi salva por ele e por Tibiriçá. Em 1564, recusou-se a ser mais uma vez vereador, por contar com mais de 70 anos, mas em 1576, seu nome constava em ata da Câmara de São Paulo.

Já velho e cansado, foi viver no Vale do Paraíba entre os tupiniquins. Morreu por volta de 1580 em São Paulo, onde deixou diversos descendentes legítimos e ilegítimos. Era avô de quase toda a população nascida na vila de São Paulo de Piratininga e é considerado o principal tronco das famílias paulistas.

BARTIRA

Filha do cacique Tibiriçá. M´bicy (Flôr de Árvore), também conhecida por Bartira ou Potira. Casou-se com João Ramalho, presumivelmente em 1515, com quem viveu por mais de quarenta anos. Seu nome foi mudado para Izabel Dias, depois de batizada na religião católica pelos Jesuítas, no planalto de Piratininga. Tiveram nove filhos, e dessa união descendem inúmeras das mais tradicionais famílias paulistas.

*Antônio Sérgio Ribeiro é advogado, pesquisador e funcionário da Secretaria Geral Parlamentar da Assembléia legislativa

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