No fundo da inspiração de Ana Rita Ramos está o encanto inexaurível da natureza. O seu naturalismo mágico e fantástico é sempre um naturalismo, um fiel e apaixonado amor pela mãe-terra. Ao perceber na pintura um modo de se exprimir, ainda antes da temática, a si própria, a artista projeta em suas aquarelas, os próprios sentimentos. Ela conserva dessa experiência uma lembrança fabulosa, da qual emerge reconstruída a imagem, recriada a olhos fechados, de uma paisagem.Assim, se a artista se coloca frente à concreta realidade da paisagem, ela não descreve, mas conta: a luz da lua ou o cinza de uma tempestade constituem a parte essencial. É também verdade que ao recuperar a realidade sonhada, a ajuda externa que recebe das próprias paisagens aparece constante. No calor de uma tensão interior absorve um panorama cromático de eficaz valor psicológico, que não é mais figurativo mas que como tal se torna.Tendo em vista que cada componente lingüístico é definido em razão exclusiva de uma mensagem, é de se notar, por exemplo, que num espaço indeterminado, estranho às modalidades do espaço físico, se escrevam linhas acentuadas, realçadas de cores fortes e variadas, entre as quais emergem zonas de luz.Ana Rita Ramos escava na substância da própria pintura, liga cada traço e gesto do pincel às razões e aos dados do figurativo para mudar a ordem visualizada, que se torna transparência e ritmo, consistência interior da paisagem. O elo do seu interior com o mundo exterior, estende-se sobre o plano real, através de espessuras profundas e escondidas.Na obra "Mutações", doada ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, a pintora projeta uma ação espiritual que atua na obra, como um gesto alternado de revolta e angústia em favor da preservação da natureza.A ArtistaAna Rita Neves Ramos nasceu em Uruçuca, Bahia, em 1953. Formou-se em administração de empresas, na Universidade Católica de Salvador (1978), e realizou o curso de pós-graduação na Faculdade Santa Marcelina (2000 e 2001).Freqüentou diversos cursos artísticos: pintura com o artista plástico Elón Brasil; desenho, com modelo ao vivo, com o professor Antonio Valentim de O. Lino (1999); história da arte, com o artista plástico Rubens Matuck (2001 e 2003).Integrou o núcleo de aquarelistas da Faculdade Santa Marcelina (2002 e 2003) e é pesquisadora de arte contemporânea da mesma faculdade.Participou de diversas exposições destacando-se entre elas: "A Seda na Arte Contemporânea", Fundação Mokiti Okada (1998); "Arte Abstrata", Espaço Cultural Prodam (2002); "Aquarela", Espaço Cultural do Banco HSBC, "Arte Contemporânea", Faculdade Santa Marcelina; "Labor II", antiga fábrica da Moóca; "1ª Quadrienal Internacional de Aquarela", Faculdade Santa Marcelina (2003); "Águacor Aquarelas", Espaço Cultural Banco Central do Brasil (2004 ).