Federação do Comércio doa réplica da escultura Caixeiro Viajante

(com foto)
30/08/2002 20:03

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DA REDAÇÃO

Obra pertencente ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa, "Caixeiro Viajante" é uma das esculturas do artista plástico Calabrone que passou a integrar o patrimônio cultural do Parlamento paulista a partir de doação feita pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Escultura idêntica à doada, de maiores dimensões, encontra-se exposta na sede da Federação.

Calabrone

Por Emanuel von Lauenstein Massarani

Concluir a grande obra da criação e acompanhar o processo formativo do mundo até fazê-lo coincidir consigo próprio é um dever exclusivo do homem-artista. Tal atividade requer, portanto, da parte do homem, a contínua atenção da sensibilidade artística nos confrontos do mundo, de maneira a conseguir manter contínuo o mútuo intercâmbio das solicitações entre homem e natureza.

A obra de Calabrone no que tange à figura humana é, pois, uma contínua transformação da forma, ininterrupta série de elaborações que testemunham a espera paciente e firme de uma nova relação homem - natureza.

A osmose homem - natureza é integral: relação orgânica que fixa de alguma maneira o metabolismo da estátua, as formas de seu corpo, sua atitude e sua postura.

As grandes figuras de Calabrone apresentam seres voluminosos perfeitamente integrados no espaço. Com o passar do tempo, percebe-se que sua opção corresponde à lógica de seu instinto pela estatuária. É combinando a força da linguagem expressionista ao mistério imaginativo de forma surrealista que o artista ítalo-brasileiro consegue transmitir tanto o drama quanto o sonho de sua época.

É exatamente entre o drama e o sonho que se situam os tipos caracteriais desta galeria de estátuas, uma série de personagens que vão do extremo humano ao extremo híbrido, do expressionismo "dechiré" ao fantástico delirante.

Com o passar dos anos verifica-se que Calabrone enfrentou o universo da simbologia com a mesma impetuosidade que o mundo das forças elementares. Ela traduz o fantástico em termos naturais e o mistério das estruturas compostas transforma-se em mimetismo de sua própria defesa. Os seres míticos são submetidos à lei dos seres reais: seu espaço imaginário é tão ameaçador, mordaz, desintegrador quanto o da natureza ambiental. Não nega o fantástico: aceita-o, como um componente essencial da vida; integra-o à sua própria sensibilidade e ao mundo sensível de sua percepção.

Estamos frente a um artista que, mesmo aceitando os limites formais da natureza como ponto de partida, traduz os dados percebidos do exterior e os concretiza em formas vitais ligadas indissoluvelmente à sua pessoal elaboração da forma. A exemplo de Henry Moore, Calabrone abandonou o ideal de beleza e o substituiu pelo da vitalidade.

alesp