A estátua do Cristo Redentor, do Rio de Janeiro, completa neste 12 de outubro, 77 anos de existência. Localizada no Corcovado, um maciço de granito de 710 metros de altura, é sem dúvida nenhuma o cartão postal não só da Cidade Maravilhosa como também do Brasil. A primeira vez que se tem notícia que alguém conseguiu chegar oficialmente no topo do Corcovado foi em 22 de fevereiro de 1824, cabendo a primazia a ninguém menos que o Imperador do Brasil, D. Pedro I, que chefiou, com seu espírito aventureiro, uma expedição. A partir da construção de um caminho e posteriormente uma estrada bem íngreme, poucos eram os corajosos que se arriscavam na empreitada. Por iniciativa dos engenheiros Francisco Pereira Passos (que no início do século 20, seria prefeito do Rio) e João Teixeira Soares, teve início em 1882 a construção de uma estrada de ferro, desde o bairro carioca do Cosme Velho até o Hotel das Paineiras, localizado pouco antes do cume do morro. Em 9 de outubro de 1884, com a presença de D. Pedro II e da família imperial, foi festivamente inaugurada a Estrada de Ferro Corcovado. Por problemas financeiros, foi passada a concessão para outro grupo e, em 1906, assumiu o controle a poderosa empresa canadense Light and Power. A idéia da construção de um monumento no alto do Corcovado foi do padre Pedro Maria Bas, capelão do Colégio da Imaculada Conceição, localizado no bairro carioca do Botafogo, já em 1859. A iniciativa contou com o apoio da princesa Isabel, mas com o advento da República, em 15 de novembro de 1889, e o conseqüente exílio da família imperial, nada saiu do papel. A separação do Estado e da Igreja pela primeira Constituição Republicana do Brasil de 1891, seria outro complicador. Em 1921, a idéia da construção de um monumento no Corcovado para os festejos do Centenário da Independência, tomou corpo. Projetos começaram a ser elaborados, e o escolhido foi do engenheiro Heitor da Silva Costa. Quando esteve em Paris, em 1924, conversou sobre o seu plano com o escultor Maximilien Paul Landowski, que posteriormente seria o responsável pela construção da cabeça e das mãos do Cristo. Finalmente em 1926, teve início a construção do Cristo Redentor, no alto do Corcovado, após uma série de cálculos, plantas e algumas alterações no projeto, como a diminuição de sua altura de 42 para 38 metros. Todo o trabalho era dificultado pela localização e pelo transporte do material até o alto. Após mais de dois anos de obras, que estavam em ritmo lento, a revista O Cruzeiro, de propriedade do jornalista Assis Chateaubriand, para ajudar, abriu uma campanha de subscrição popular, conseguindo arrecadar a vultosa soma de 2.500 contos de réis. A população também colaborou voluntariamente, principalmente as mulheres, revestindo as placas de cimento com centenas de milhares de pedrinhas triangulares de esteatita (a conhecida pedra sabão, a mesma utilizada por Aleijadinho em suas obras de arte em Minas Gerais), com três centímetros de lado. Curiosamente, por trás de cada uma dessas pequeninas placas foram escritos pedidos, bênçãos, orações e nomes. Inauguração em 1931 No feriado nacional em homenagem à padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, 12 de outubro de 1931, o monumento foi solenemente inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas, então chefe do governo provisório, que se fez acompanhar pela sua esposa, dona Darcy, por seu ministério, pelo cardeal arcebispo do Rio, Dom Sebastião Leme " que procedeu a bênção do monumento ", por altos membros do clero brasileiro e poucos convidados, já que, pelo exíguo espaço existente, poucos foram os que receberam o convite para acompanhar a cerimônia do alto do Corcovado. Através de sinal de rádio, o famoso inventor Guglielmo Marconi, criador do telégrafo sem fio, acendeu os refletores que iluminaram o monumento de seu iate Electra, ancorado na baía de Gênova, na Itália. A estátua, que representa o Cristo com braços abertos em forma de cruz, tem 30 metros de altura e base de oito metros, totalizando 38 metros. A distância entre os dedos é de 30 metros e a cabeça mede 3,75 metros. O peso total do monumento é de 1.145 toneladas. No interior do pedestal, de mármore negro, existe uma pequena capela, e, por uma escada em caracol, pode-se subir à cabeça e aos braços. Reformas Em 1965, durante os festejos do 4º Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, uma nova iluminação foi instalada, com 44 refletores, sendo inaugurada pelo Papa Paulo VI, desde o Vaticano. Em 1973, todo o Parque Nacional da Tijuca " um dos maiores parques urbanos do Brasil ", incluindo o morro do Corcovado, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Nacional (Iphan) e, em 1980, a estátua foi reformada para receber a visita do Papa João Paulo II. Dez anos depois, o Cristo Redentor foi tombado pelo município do Rio de Janeiro. Amplas reformas no monumento foram iniciadas por um convênio entre empresas privadas, a Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) e a prefeitura do Rio de Janeiro. Desde o ano de 2000, quando recebeu nova iluminação, o monumento e seus acessos passaram por um processo de revitalização. O ponto alto foi a inauguração do acesso mecanizado, com elevadores panorâmicos e escadas rolantes, em 2003. Mas mesmo quem decide enfrentar os 220 degraus que levam à imagem ganha uma recompensa. No mirante, a vista de praticamente toda a cidade é de tirar o fôlego. Patrimônio nacional Em 2005, finalmente, a estátua foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), passando a ser patrimônio histórico e cultural dos brasileiros, tendo-se transformado em 2006 em santuário católico, com a permissão de se realizarem casamentos e batizados no local. Em 7 de julho de 2007, o Cristo Redentor foi eleito uma das sete maravilhas do mundo em uma eleição popular, na qual concorriam 21 candidatos. No resultado final, o Cristo ficou na terceira colocação, atrás da Muralha da China e do Monumento de Petra, na Jordânia. Ficando na frente de monumentos de grande projeção mundial, principalmente turísticos como Machu Picchu, no Peru; a pirâmide de Chichén Itzá, no México; o Coliseu de Roma; e o Taj Mahal, na Índia. O monumento do Cristo Redentor, a terceira maravilha do mundo, recebe a visita de cerca de um milhão e oitocentos mil turistas por ano, grande parte deles, estrangeiros. *Antônio Sérgio Ribeiro é advogado, pesquisador e funcionário da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. É pós-graduado pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).