Sociedade Desorganizada
O crescimento do número de condomínios fechados, dos muros de vários metros
de altura, das casas fortemente gradeadas, dos circuitos internos de
câmeras e das cercas eletrificadas, são fatos que há alguns anos têm feito
parte do nosso cotidiano. Com tanta força estão presentes, que incorporaram
um novo estilo de arquitetura à nossa realidade. Com semelhante
naturalidade, encaramos as prefeituras transformando seus municípios em
cidades-fortalezas. Assim como em Paulínia e Iracemápolis, é forte a
tendência de que um número cada vez maior de prefeituras cerquem seus
municípios e controlem suas entradas, para então, mais uma vez,
acostumarmo-nos com essas novas formas de organização, como se fosse a
única coisa que pudéssemos fazer diante da omissão das nossas autoridades
com relação ao sério problema da violência que assola o país.
As centenas de mortes de pais de família vitimados pelo terror da criminalidade, e a
execução estúpida de pessoas de bem, também é outro acontecimento que se
perde no dia a dia da nossa sociedade. Não existem mais lágrimas coletivas.
O sofrimento dos pais que perderam sua filha no tiroteio do metrô ou dos
familiares da jovem que não saiu com vida do circular, são dores
individuais. Só eles choram por elas. A sociedade já não se choca mais com
a subtração de vidas inocentes, e apesar de anestesiada à dor, vive
atemorizada. Não se trata de insensibilidade, mas da necessidade tácita de
ter que conviver com um quadro tenebroso diante do qual só resta o
sentimento de impotência. Um quadro que parecia condenado à estagnação
porque até pouco tempo só atingia a anônimos.
As notícias dos últimos dias trazem algo de novo a esta triste realidade.
As barbáries são as mesmas, os crimes são iguais, mas as vítimas ganharam
rostos. Uma grande pergunta paira no ar: será que também nos acostumaremos
com a intimidação da justiça? Logo ela, tão suprema e absoluta e sobre a
qual paira grande parte da responsabilidade de promover a mudança deste
sistema que tem dado sustentação à esta situação caótica? Sim, porque se
depende do legislativo a reformulação das leis e normas judiciárias, também
é verdade que o lobbe de juristas, seja entre a magistratura, seja entre os
advogados, tem responsabilidade por as coisas estarem como estão. São
grandes os interesses que cooperam para o protelar da reforma do judiciário
e para que leis que atingem a raiz da criminalidade não saiam das gavetas
dos gabinetes. O crime vitima as mais altas camadas e não existe sequer um
que esteja imune ao terror deste grave problema. As próprias instituições
responsáveis pela segurança e manutenção da ordem estão com medo. Juizes,
promotores, delegados, enfim, todos são vítimas, todos se sentem ameaçados.
O sangue de comuns tem clamado sem eco. A violência atingiu a prefeitos,
deputados, juizes, promotores e diretores de presídios. Também eles terão
embargados o timbre de seus clamores? É vergonhoso que só diante de fatos
como estes, se observe alguma mobilização contra o problema. Certamente
tudo estaria de outro modo se a mesma repercussão dada à morte de
excelentes tivesse alcançado o drama do cidadão comum. NÃO É O CRIME QUE
ESTÁ ORGANIZADO, mas A SOCIEDADE ESTÁ DESORGANIZADA e é isto o que precisa mudar. Em todas as esferas, todos os poderes têm que agir conjuntamente
para que os planos de combate à violência saiam do papel. Do contrário,
continuaremos abrindo presídios ao invés de escolas, continuaremos formando
doutores nos crimes, com PHD em marginalidade, ao invés de profissionais
competentes instruídos nas universidades oficiais. VERDADEIRAMENTE A
SOCIEDADE ESTÁ DESORGANIZADA. E de tão acostumada com a inversão da ordem
e valores, não repara que lhe faltam escolas equipadas, computadores nas
salas de aula, condições dignas de ensino. Não percebe que o máximo que o
Estado tem feito pelos seus jovens, é a criação de presídios de segurança
máxima os quais infelizmente hoje em dia, são tão necessários quanto os
quadros negros, se quisermos viver com um mínimo de segurança. A SOCIEDADE
VIVE DESORGANIZADA, e como a desordem parece natural não se dá conta de que
o primordial não muda e que nos acostumamos com o incomum. Se cada um de
nós cidadãos, alunos do ensino público, visitarmos a escola em que
estudamos, por exemplo, certamente pouco ou nada foi feito nela. No mesmo
prédio descuidado, se encontram as mesmas carteiras, a mesma ausência de
recursos a mesma disposição ignorante às inovações tecnológicas. Próximo à
ela, ou em algum lugar daquele bairro, certamente também haverá uma unidade
da FEBEM. Mais recente, é verdade, e também carente de recursos que
promovam reeducação efetiva e digna custódia dos menores que abriga. Porém,
melhor lembrada pelas autoridades em função do "perigo" que representa.
Assim também com os presídios, que hoje são mais presentes que as escolas,
senão em número, pelo menos em atenção. Atenção sumamente necessária, é
verdade, impossível de não se considerar. Mas fruto de uma SOCIEDADE NÃO
ORGANIZADA, que por não se importar com suas crianças, agora é obrigada a
lidar com jovens criminosos que se organizam no crime. FILHOS DA DESORDEM
que por assistirem impotentes o acaso para com os seus pais anônimos,
tornaram-se os agressores dos rostos conhecidos. Filhos que não receberam
escolas dignas mas que estão merecendo as melhores e mais fortificadas
prisões. Mas isto também tornou-se natural, a SOCIEDADE parece não notar. E
se nota, percebe apenas o presídio sem reparar a falta da escola. Por isso,
recebemos com pesar a notícia da construção de presídios. Lamentamos
profundamente que para os nosso jovens, eles necessitem ser de segurança
máxima. Imprescindíveis e por demais necessários, são símbolo do descaso
das autoridades em relação ao futuro, em relação aos seus jovens, em
relação à educação.
Precisamos reverter esta situação. Uma das vertentes dessa desorganização e
que prontamente pode ser atacada pelo legislativo, é a distorção que se faz
a cerca da excelência da nossa democracia. Concordo que por ela e em nome
dela, debatamos propostas, discutamos opiniões, promovamos debates. Contudo
a ação não deve se limitar ao debate, temos que ser unânimes na perseguição
dos problemas. A unanimidade não deve ser em prol desta ou daquela
administração, mas pela definitiva extinção do mal. Não podemos continuar
permitindo que divergências partidárias, procedência de propostas, slogans
deste ou daquele programa estejam à frente dos interesses da população que
tanto tem sofrido a espera de soluções que nunca chegam. Este seria um bom
começo para um momento em que tanto carecemos de organização.
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