Assembléia inaugura estátua de Gandhi

(com fotos)
15/08/2002 17:40

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DA REDAÇÃO

A cidade de São Paulo foi escolhida pelo governo da Índia para receber como presente a última estátua de Mahatma Gandhi doada a uma cidade que não seja capital de país. Esse fato marcou a criação do Espaço Gandhi, na manhã desta quinta-feira, 15/8, com a inauguração da estátua do líder pacifista indiano. De autoria de Gautam Pal, a obra está localizada na praça Túlio Fontoura, ao lado do Palácio 9 de Julho e do Parque do Ibirapuera.

Cerca de 350 pessoas compareceram à cerimônia. No palco, o músico Krucis, mestre em cítara, apresentou peças clássicas instrumentais daquele país, enquanto os convidados circulavam com flores que seriam depositadas no monumento. O descerramento foi feito pelo presidente da Assembléia Legislativa, em conjunto com Hélio Bicudo, vice-prefeito de São Paulo, e Amitava Tripathi, embaixador da Índia no Brasil.

Alunos de escolas municipais da periferia e da Casa dos Pandavas, mantida pela Associação Palas Athena, distribuíram tsurus, pequenos pássaros de origami (dobradura de papel), símbolo da paz. Lia Diskin, co-fundadora da Palas Athena, disse que espera que a estátua não seja apenas um pedaço de bronze, mas o símbolo de uma vida dedicada ao compromisso com a não-violência.

A criação do Espaço Ghandhi é fruto do esforço da Unesco, do Consulado Geral da Índia, da Administração Regional da Vila Mariana, que doou o local para a construção, da Assembléia Legislativa e da Associação Palas Athena. Ontem foi comemorado também o 55.º aniversário de Independência da Índia.

Para o cônsul-geral daquele país em São Paulo, Deepak Bhojwani, a criação do Espaço representa grande honra para seu país, selando a amizade entre Brasil e Índia, coroando mais de um ano de esforço, planejamento e trabalho conjunto. "Como a face da estátua está voltada para a sede da Assembléia Legislativa, espero que os ideais de Gandhi inspirem os parlamentares em seu trabalho pela fraternidade na capital", afirmou o cônsul.

Todas as autoridades lembraram o legado de Gandhi, que culminou com a libertação da Índia do jugo inglês, fruto do trabalho e do sacrifício do mais ilustre filho daquele país. Para Hélio Bicudo a mensagem do mártir da paz continua reverberando nos dias atuais. "São Paulo está muito carente de paz na economia, na política e no trânsito", declarou o vice-prefeito.

O presidente da Assembléia falou em nome dos demais membros da Mesa diretora, saudando as autoridades e demais presentes. Ele disse que o Ibirapuera, símbolo na capital do somatório de pessoas de todas as origens, tornou-se um local estratégico para a instalação da estátua de Gandhi, um dos homens que mais se destacaram no cultivo da tolerância, do diálogo e da paz. O presidente ainda homenageou o trabalho da Lia Diskin, citando-a como "exemplo de verdadeira cultura da paz".

Amitava Tripathi, embaixador da Índia no Brasil, declarou que deveria estar em Brasília para hastear a bandeira de seu país. "Mas, neste dia da Independência, estou aqui para presentear a cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo, com 18 milhões de habitantes e que, com todas as suas contradições, soube dedicar um espaço de sua paisagem à memória do grande mártir da paz."

Mahatma Karamchand Gandhi:

Nasceu em Porbandar em 1869 e morreu em Nova Delhi, em 1948. Estudou em Londres e tornou-se advogado em Bombaim. Viveu, entre 1893 e 1914, na África do Sul, onde defendeu os hindus emigrados contra o racismo.

A partir do massacre de Amritsar, em 1919, ficou contra os ingleses e induziu aos hindus à não cooperação, sem violência, reinvidicando a independência da Índia. Em pouco tempo tornou-se herói nacional e foi preso várias vezes. Prisioneiro, jejuava até o limite extremo de suas forças.

Participou das negociações que antecederam a proclamação da independência em 15 de agosto de 1947. Foi assassinado por um brâmane fanático.

Índia - o país

Área: 3 287 263 Km2

Capital: Nova Deli

População: 920 000 000

Línguas: Hindi, Inglês, muitas línguas locais

Moeda: Rupia

A Índia, para seu povo, é vista como uma mulher. Seus cabelos nascem no Himalaia, os braços se abrem do Paquistão a Bangladesh, sua barriga é fértil e seus pés se banham no oceano.

Segundo país mais populoso do mundo depois da China, a Índia possui uma civilização muito antiga, em que sucessivos invasores deixaram marcas profundas. A Índia moderna surgiu como Estado independente em 1947, com o fim do domínio Britânico, que levou à divisão do sub-continente: o Paquistão Muçulmano e a Índia Hindu.

Na Índia todas as escalas numéricas são expressivas. Com mais de 900 milhões de pessoas, um em cada seis habitantes da terra é indiano. Existem 25 idiomas e 2.500 dialetos, a cada 100 quilômetros mudam-se as castas, os idiomas, os deuses e os costumes. Oitenta por cento da população é hindu e há 330 milhões de divindades. Os principais deuses hindus são Brama, deus da criação, Vishnu, deus da preservação, e Shiva, a deusa da destruição. Outra divindade muito popular é Ganhesh, com cabeça de elefante e corpo de homem.

Quase tudo no país é sagrado, desde as vacas até rios. O rio Ganges, o mais sagrado, corta o país levando consigo misticismo e religiosidade fluente.

Varanasi é a cidade que os hindus elegeram como mortuária, garantia certa de reencarnação. Durante anos, quando um homem morria seu corpo era cremado junto com o da esposa, viva, em sacrifício à Deusa Sati. Hoje, raramente esta pratica conjunta acontece.

Outra característica religiosa da índia é o Budismo. Em todo o mundo essa é considerado uma religião à parte mas, na Índia, Buda é considerado uma reencarnação de Vishnu, o deus da preservação.

Deuses inferiores possuem centenas de templos de adoração, enquanto Brama, um dos mais importantes, tem somente um templo, em Pushkar. A cidade cresceu em torno de um lago, que é o mais sagrado do país e que também é usado como esgoto. De acordo com a lenda, Brama caminhava pela região e deixou cair no chão uma flor de Lótus, que deu origem ao lago.

Outros monumentos e edifícios marcam a tradição indiana. O mais famoso é o Taj Mahal, mandado construir no Século XVII pelo Imperador mogol Shah Jahan.

Cidades

A Índia tem uma longa história urbana e, atualmente, várias cidades ultrapassam os 9 milhões de habitantes. Nas grandes cidades indianas, como a capital Nova Delhi, os problemas de moradia fazem com que milhares de pessoas adotem as ruas como casa.

O país possui um grande setor industrial, que inclui várias indústrias avançadas, tais como centrais nucleares para produção de eletricidade e a pesquisa aeronáutica e espacial. Com a recente abertura ao investimento exterior, novas indústrias se instalaram no país. A Índia tem uma vasta gama de recursos naturais, incluindo petróleo, carvão e minério de ferro, o que a torna, em grande parte, auto-suficiente.

Apesar da abolição legal do sistema de castas, estas são ainda um fator dominante na vida dos indianos, determinando os parceiros de casamento, os amigos e os empregos. A mais notável realização da Índia tem sido a manutenção ininterrupta da democracia parlamentar desde a obtenção da independência.

A Independência

Desde o século XVI, portugueses, ingleses, holandeses e franceses exploraram o país. Em 1690, os ingleses fundam Calcutá, mas só depois de uma guerra contra a França (1756-1763) o domínio do Reino Unido consolida-se na região. Oficialmente, a dominação britânica começa em 1857, após um motim de soldados, seguido por uma rebelião da população civil em diversas partes da Índia.

No século XIX, os britânicos esmagam várias rebeliões anticolonialistas. A cultura britânica conformou a união entre os indianos. Com o inglês, os indianos adquirem uma língua comum. A organização política que governaria a Índia independente, o Partido do Congresso (I), foi criada em 1885 por uma elite nativa de educação ocidental e funcionou como um fórum para a atividade política de caráter nacionalista em toda a Índia.

A implantação do estilo ocidental de educação superior começa em 1817 em Calcutá, com a criação do Colégio Hindu. As classes médias atingidas pela educação ocidental são atraídas pela ideologia do nacionalismo e da democracia liberal. Inicialmente entusiastas em relação ao domínio britânico, tais classes tornam-se cada vez mais críticas.

O governo estipulou limitações às associações representativas dos indianos nas legislaturas dos Atos do Conselho de 1909. Prometeu efetuar o que chamou de "realização progressiva de um governo responsável" em 1917 e transferiu algumas responsabilidades aos ministros eleitos nas províncias pelo Ato de Governo da Índia, de 1919.

Nos anos 20, inicia-se a luta nacionalista sob a liderança do advogado Mohandas Gandhi, do Partido do Congresso. Pregando a resistência pacífica, Gandhi desencadeia um amplo movimento de desobediência civil que inclui o boicote aos produtos britânicos e a recusa ao pagamento de impostos. Juntamente com o líder político Nehru, Gandhi consegue abalar a estrutura da dominação britânica através de campanhas sucessivas contra o pagamento de impostos e contra o consumo de produtos manufaturados ingleses, entre outros.

Protestos organizados por Gandhi contra a lei da repressão levam ao massacre de Amritsar. A campanha de não-cooperação deslanchada por Gandhi almejava conquistar o autogoverno (swaraj), obtendo o apoio do movimento Khilafat (muçulmano, contra o tratamento severo dispensado aos califas e ao império otomano após a I Guerra Mundial). Em 1930, Gandhi lidera seguidores numa marcha de 300 quilômetros até o mar, onde tomam em mãos o sal, desafiando as leis britânicas que proíbem a posse do produto não adquirido do monopólio governamental. O Movimento de Desobediência Civil (1930-34), que exigia a independência, e o Movimento Saiam da Índia, que se seguiu ao encarceramento de Gandhi e de outros líderes em 1942, consolidaram o apoio popular ao Congresso.

Após a II Guerra Mundial, os britânicos abrem negociações para a transferência do poder, e prepararam a independência com a criação de uma Assembléia Constituinte e a formação de um governo de transição indiano, que preservasse a unidade do território e assegurasse os inúmeros interesses econômicos do Reino Unido na região.

Entretanto, as lutas internas entre muçulmanos e hindus levam ao rompimento de sua unidade. Desde 1880, os muçulmanos politizados esperam proteger seus interesses contra a possível usurpação do poder pela maioria hindu. Os muçulmanos representavam 24% da população e entram em choques constantes com os hindus. A rivalidade foi incentivada pelos colonizadores britânicos, como forma de dividir a população e enfraquecer os movimentos de desobediência civil. A exigência da criação do Paquistão como Estado autônomo, compreendendo as áreas de maioria muçulmana no noroeste e leste da Índia, foi satisfeita em 1947. Em 15 de agosto desse ano, a Índia foi declarada independente e dividida em dois Estados soberanos: a União Indiana e o Paquistão. A partilha, baseada em critérios religiosos, provocou o deslocamento de mais de 12 milhões de pessoas. Choques entre hindus e muçulmanos deixaram 200 mil mortos.

O Paquistão, de população muçulmana, é formado por dois territórios separados por cerca de 2 mil quilômetros de distância: o Paquistão Oriental e o Paquistão Ocidental. Em 1971, o Paquistão Oriental tornou-se um novo Estado independente, com o nome de Bangladesh.

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