A idade da sabedoria

OPINIÃO - Padre Afonso Lobato*
15/04/2003 14:33

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Ao ler a Bíblia, em vários trechos encontramos, principalmente no Antigo Testamento, a missão que Deus dá aos profetas e patriarcas. O que chama a atenção é que na maior parte dos casos os profetas já eram idosos, ou seja, na hora de incumbir alguém de uma missão muito importante, Deus delegava a uma pessoa que tinha a sabedoria dos anos.

Os grandes personagens bíblicos cumpriram a missão neste período da vida, como é o caso de Abraão, José, e Moisés que libertou o povo hebreu do Egito. Tal era a sua idade, que não conseguiu entrar na Terra Prometida. Morreu antes de concluir sua missão.

Isto mostra um triste contraste com o que observamos nos nossos dias. Se antes a velhice era admirada e respeitada e da experiência de vida era retirado o máximo, hoje constatamos que os idosos são relegados a segundo plano e sofrem preconceitos muitas vezes maiores que o racial.

Por este motivo é muito oportuno o tema da Campanha da Fraternidade da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos - para este ano: Fraternidade e pessoas idosas, "Vida, dignidade e esperança". Está na hora de debatermos mais abertamente esta fase da vida em nosso país, que hoje é uma "nação de jovens de cabelos brancos".

Hoje no Brasil já são 15 milhões de idosos, o que representa 8,6% da população total. Este número não vai parar de crescer e a previsão é de que, daqui a 20 anos, os idosos já somarão 15% da população.

As dificuldades que o idoso enfrenta no Brasil não são muito diferentes das que ocorrem no restante do mundo, pois a política neoliberal supervaloriza o consumismo e a juventude. Ou seja, o ser humano só vale pelo que produz, não pelo que é. Uma vez que alguém se afasta daquilo que dá sentido e prestígio na sociedade industrializada, quando se aposenta é condenado ao ostracismo e passa a ser visto como um peso para sociedade. Esquecem-se da colaboração que aquela pessoa deu à sociedade durante toda a vida.

No Brasil e nos países pobres a situação do idoso é mais crítica, porque nesta fase, que é a mais longa da vida, a pessoa está mais vulnerável e ainda enfrenta a precariedade dos serviços públicos e dos programas de saúde. Mesmo com as magras aposentadorias, são os idosos que estão mantendo muitas famílias em nosso país por conta do desemprego e subemprego. Está no Congresso Nacional o projeto de lei que cria o Estatuto do Idoso, de autoria do então deputado, hoje senador, Paulo Paim, que guarda, protege e defende os idosos.

O que devemos fazer de prático pela Terceira Idade é incentivar a criação de Conselhos Municipais envolvendo toda a sociedade através de abaixo-assinados, que trarão excelentes oportunidades para troca de experiências e para apresentar soluções.

Está na hora de debatermos seriamente esta fase da vida, pois se Deus nos permitir, todos chegaremos lá. Todos temem a velhice, mas ninguém quer morrer jovem.

O Papa João Paulo II nos diz que "os anciãos ajudam a contemplar os acontecimentos terrenos com mais sabedoria, porque as vicissitudes os tornam mais experimentados e amadurecidos. Eles são os guardiões da memória coletiva e, por isso, intérpretes privilegiados daquele conjunto de ideais e valores humanos que mantêm e guiam a convivência social. Excluí-los é como rejeitar o passado onde penetram as raízes do presente, em nome de uma modernidade sem memória".

Padre Afonso Lobato é deputado estadual pelo PV

alesp