Itapeva e Itapetininga: grandes distâncias, grandes dificuldades

Audiência Pública: Itapeva e Itapetininga
09/08/2005 21:46

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A audiência pública realizada pela Comissão de Finanças e Orçamento nesta segunda-feira, 8/8, na Câmara Municipal de Itapeva, para debater o orçamento estadual para 2006 mostrou que, antes de ver atendida qualquer demanda, os moradores de Itapeva e região querem que o sudoeste paulista deixe de ser conhecido como o "ramal da fome".

Afinal, o que é o ramal da fome? Paulo Roberto Saponga, morador de Itapeva, explica que nas décadas de 20 e 30, quando o trem era o principal meio de transporte no Estado de São Paulo, uma composição saia de São Paulo e, ao chegar a um determinado entroncamento de linhas, os vagões eram divididos. O carro-restaurante seguia no ramal rumo a Bauru, enquanto no trem que rumava em direção ao sudoeste do Estado era distribuído um "lanchinho" de mortadela e guaraná quente. Daí a definição: ramal da fome. Saponga disse que "o descaso com a região é muito antigo".

Outro participante da audiência, Paulo de La Rua, concordou que existe descaso. Para a população da região de Itapeva, ramal da fome é sinônimo de abandono pelo governo. Como exemplo de abandono, os participantes da audiência apontaram a falta de condições de quase a totalidade das estradas vicinais que atravessam a região de Itapeva. A SP-249, que liga Apiaí a Ribeirão Bonito, e a SP-258, principal acesso da região à capital, precisam de melhorias. A 249 sequer tem pavimentação, e para a 258 foi sugerida uma duplicação até Itararé, divisa com o Paraná.

A preocupação com o estado de conservação das estradas foi demonstrada pelo vereador de Itapeva, Avelino Peixe, e pelo secretário municipal de Geração de Emprego, Israel Almeida.

DIR em Itapeva

A longa distância entre Itapeva e a sede administrativa de Sorocaba (cerca de 200 km), onde se localizam a Direção Regional de Saúde e o único hospital regional, dificulta o atendimento médico aos moradores da primeira cidade.

A reivindicação de presidente em exercício da Câmara de Itapeva, Ulysses Tassinari, é de que a Santa Casa de Itapeva possa ser elevada à condição de hospital regional, receba maior aporte financeiro e possa assim bancar o custeio operacional. Jorge Sabino, de Guapiara, reforçou a idéia.

Essa proposta também foi feita pelo vereador de Itapeva, Paulo Tarzan, que falou sobre a criação da região administrativa de Itapeva e do fundo de desenvolvimento do Sudoeste paulista, que, a exemplo do fundo criado para o Pontal do Paranapanema, pode incentivar o turismo em Itapeva.

Outro que apoiou a instalação da DIR foi o prefeito interino de Ribeirão Branco, Marco Aurélio Teixeira, que ainda falou do Programa Pró-Lar. "Este programa deveria atender àqueles que se dedicam à agricultura familiar, para fixar a população no campo."

Também abordando a saúde, a vereadora Áurea Aparecida, de Itapeva, destacou a dificuldade por que passa o atendimento à mulher. "A fila de espera por um exame de mamografia pode levar um ano." Segundo a vereadora, não há estruturação na assistência à mulher, aos idosos e aos pacientes de oncologia (tratamento de câncer).

O prefeito de Itapeva, Luiz Antonio Cavani, sintetizou as reivindicações de todos e acrescentou a necessidade de fortalecer as escolas técnicas na região.

Parlamentares vão à região

Além dos deputados que fazem parte da Comissão de Finanças e Orçamento " José Caldini Crespo (PFL), presidente, Ênio Tatto (PT), vice-presidente, e Edmir Chedid (PFL), relator do orçamento ", compareceram à audiência pública de Itapeva mais três deputados: Hamilton Pereira (PT), este representante da região, José Zico Prado (PT) e Waldir Agnello (PTB).

Hamilton afirmou que a região tem potencial agrícola e produz diversificados bens. "Basta ter incentivo do governo para que ela alcance o desenvolvimento desejado."

Agnello lembrou a realização do Fórum Legislativo de Desenvolvimento Econômico Sustentado, com reuniões nas sedes das regiões administrativas, destacando que não se pode deixar de lado a cobrança dos repasses federais.

O relator do orçamento, Edmir Chedid, apontou que a comissão tem cumprido um cronograma que traduz as mudanças na Assembléia. "Por que, até agora, não se ouviu o que a população tem a dizer?" Questionou Chedid, informando que o Orçamento do Estado será de R$ 70 bilhões reais com um excedente previsto de R$ 5 bilhões.

Itapetininga

Após a audiência em Itapeva, os deputados seguiram para a Câmara Municipal de Itapetininga para prosseguir a discussão do orçamento. Igualmente ao auditório de Itapeva, o de Itapetininga também estava lotado, com mais de cem pessoas.

O vídeo ilustrativo com informações didáticas sobre o orçamento estadual foi exibido durante a audiência, aberta diretamente pelo presidente da CFO. Caldini Crespo destacou a importância de o orçamento ser regionalizado e o desejo da comissão de aprovaá-lo de forma que a opinião de um conjunto de cidades seja ouvida e as demandas atendidas no que for possível.

Ensino técnico e recapeamento

Os dois primeiros participantes abordaram a questão do ensino técnico. Renato Silva, de Itapetininga, e Neusa Alves, do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza, defenderam mais verbas para educação e para o ensino técnico agrícola. Criticaram o governador pelo veto a emendas que garantiam mais verbas para o setor. A professora aposentada Vilma Nogueira apoiou ambos.

As vicinais não deixaram de ser comentadas em Itapetininga. O vereador Airton Barros, de Guareí, pediu o recapeamento da SP-157. Mas esse não é o único problema de Guareí, que sofre com a falta de saneamento básico e com a poluição no rio Guareí.

Outra cidade representada foi Tatuí. O vereador José Manuel Correia Filho pontuou as dificuldades de sua cidade e solicitou mais recursos para o conservatório de música, para a Fatec, que inicia suas atividades em dezembro, para a recuperação da SP-141 (que liga Tatuí, Capela do Alto e Iperó) e para a Estação Experimental Agrícola, que está abandonada e poderia ser usada para pesquisa voltada à agricultura.

Horto e aeroporto

O prefeito de Itapetininga, Roberto Ramalho, afirmou que a dívida do governo com a população é antiga e que priorizar educação, saúde e transporte pode melhorar a qualidade de vida. Fernando Rosa é presidente da Câmara local e quer mais investimentos para o Horto Florestal e a Santa Casa de Itapetininga. Verbas para o Iamspe foi o pedido de Darci Figueira, presidente do PSC da cidade, e a contrapartida do governo no valor cobrado dos funcionários públicos foi pedida por Geraldo Martins.

O vereador de Itapetininga, Iran Ayres, quer que a implantação do aeroporto em sua cidade se concretize. Sugestão reforçada pelo colega Wilson Batista Jr. para que o agronegócio na região seja incentivado. Batista é bombeiro voluntário na cidade (não há destacamento militar) e pediu recursos para corporação que enfrenta dificuldades para trabalhar. Também vereador de Itapetininga, Oséas Rosa enfatizou que a última rebelião de presos provocou a queima de todas as viaturas policiais da cidade. "É preciso repor os veículos."

São Miguel Arcanjo

A cidade com vocação para o ecoturismo mandou mais de um representante para a audiência. A atividade foi ressaltada pelo vereador do município Eduardo Augusto dos Santos, que reivindicou apoio da Secretaria de Estado de Turismo para o setor que, segundo ele, mais emprega e menos polui. Luiz Carlos Pereira sugeriu a pavimentação da estrada que liga a cidade a Capão Bonito.

O presidente da Câmara de São Miguel Arcanjo, Paulo Ricardo, insistiu na necessidade de melhoria das vicinais, como a pavimentação das que ligam a cidade aos bairros do Turvinho e da Colônia Pinhal. "Desde 1990, a cidade não recebe verba da Secretaria de Transportes", lamentou o Paulo Ricardo.

Encerramento

O deputado José Zico Prado avaliou que as audiências são um anseio da Assembléia, por se tratar de um compromisso com o povo. "O governador vetou as emendas à LDO, mas vamos insistir e incluir novas reivindicações no orçamento, como as que se referem à malha viária, grave problema da região."

Ênio Tatto encerrou a segunda reunião do dia, afirmando que o contato direto com a população possibilita uma radiografia da situação das regiões do Estado. "Esse procedimento democratiza a discussão do orçamento."

alesp