Corrupção e omissão

Opinião
20/06/2005 17:11

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Já se disse que o mundo não era tão ruim por causa das ações dos homens maus, mas pela omissão dos bons. A atual crise política demonstra este princípio com grande precisão e aponta os desafios da sociedade que devem ser vencidos para que novos escândalos não ocorram no futuro.

Para além das agendas eleitorais, a crise exige uma resposta de todos os homens públicos preocupados com o destino do país; requer uma agenda de estadista. Deve-se evitar que a credibilidade das instituições desapareça no ralo junto com a água suja. A noção de que os políticos são todos iguais, que o governo é apenas uma máquina destinada a enriquecer velhacos e não a atender aos cidadãos, é deletéria para o país.

Este tipo de visão só estimula o processo de degradação, pois afasta as pessoas sérias da política, dando vantagem nos processos eleitorais para aqueles que em vez de defender idéias apenas saem comprando votos com dinheiro saído não se sabe de onde. Já o deputado sério, que busca honrar seu nome e o mandato que recebeu da população, aquele que conta apenas com a sua folha de serviços prestados e suas propostas, acaba sendo jogado no mesmo tacho e rotulado de forma injusta.

Poderia buscar fazer demagogia, postar-me, como fez o partido que hoje está no centro da crise, como guardiã da moralidade, membro do monopólio da virtude. Mas prefiro apontar para outra direção, afirmando que, ao contrário do que as pessoas possam pensar frente à enxurrada de denúncias de que "O Brasil não tem mais jeito", esta avalanche aponta para o contrário: a situação está melhorando porque menos coisas permanecem ocultas, a corrupção deixa de ficar impune, começa a destacar-se e ser punida.

Muitos tentam apontar-se como a solução para estes problemas. O PT, a despeito de estar no próprio centro da crise, chegou a dizer que a razão da corrupção é fato de o partido não ter obtido maioria parlamentar, obrigando o presidente a fazer alianças. Ou seja, mesmo se a alegação fosse verdadeira, para eles a sociedade está entre a cruz e a espada, tendo de escolher entre a corrupção e o partido único.

De minha parte, acho que a solução definitiva para esta crise não virá dos gabinetes de Brasília, mas da própria sociedade. A melhor defesa contra a corrupção não é ficar nas esquinas dizendo que o país está perdido. É, pelo contrário, acompanhar os fatos, votar com consciência, acompanhar o mandato dos seus deputados.

É com tristeza que vejo que mesmo pessoas próximas a mim, amigos de longa data sequer saibam ao certo se sou deputada estadual ou federal. Ou, ainda, que pessoas nem se lembrem em quem votaram, ou que votaram em troca de favores ou em nomes escolhidos pelo acaso. As pessoas que não separam o joio do trigo, pondo todos os políticos no mesmo tacho dos envolvidos em casos de corrupção, fazem exatamente o contrário do que pretendem, porque estimulam a desesperança e cometem grave injustiça contra os que exercem seus mandatos de forma honrada.

O caminho é os cidadãos redescobrirem que o que é público pertence a todos. Exigir, sim, a punição severa dos culpados de corrupção, mas distinguir entre os que fazem de seus mandatos um pé-de-cabra para assaltar os cofres públicos daqueles que buscam estar à altura da grande tarefa confiada a eles pelos eleitores. Não diferenciar um do outro é premiar aqueles que se envolvem em escândalos e punir as pessoas sérias, desvalorizando seu trabalho e jogando seu nome na lama apenas porque tiveram a preocupação de colocar-se à serviço da comunidade.

É, por vezes, cômodo rotular a todos em vez de buscar informar-se, estudar a história de cada um antes de votar, examinar as propostas, acompanhar o noticiário para discernir entre pessoas sérias e malandros. É certamente confortável anular o voto e assim iludir-se achando que está eximido de qualquer responsabilidade pelo que ocorre; ou vender o voto com a desculpa de que, como "político nenhum presta", mais vale obter alguma vantagem instantânea.

Mas quem adota estas posturas " felizmente uma minoria " não pode esquecer que é por causa da sua omissão que se criam os escândalos, que o dinheiro utilizado na compra do seu voto será pago por ele mesmo através do desvio de dinheiro público. Enfim, o cidadão que não participa e não se informa é cúmplice de toda a crise que ocorre no país. A solução não virá do distanciamento da população, mas justamente do aumento da sua participação.

*Rosmary Corrêa (PSDB), Delegada Rose, é deputada estadual e membro da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de São Paulo.

alesp